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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Quem pode ter a visão intuitiva?

N: Quem tem essa visão intuitiva?

K: "Quem", não. Simplesmente, ocorre uma visão intuitiva.

N: Ocorre uma visão intuitiva e então a consciência fica vazia de seu conteúdo...

K: Não, senhor. Não.

N: Você está querendo dizer que o próprio esvaziamento de conteúdo é a visão intuitiva?

K: Não. Estamos dizendo que o tempo é um fator que formou o conteúdo. Ele o construiu, e também pensa a respeito dele. Todo esse fardo é o resultado do tempo. A visão intuitiva de todo esse movimento, que não é "minha" visão intuitiva, provoca transformações no cérebro, pois ela não está ligada ao tempo.

DB: Você está dizendo que esse conteúdo psicológico é uma certa estrutura, que existe fisicamente no cérebro? E que, para esse conteúdo psicológico existir, o cérebro formou durante muitos anos, muitas ligações entre as células, que constituem esse conteúdo?

K: Exatamente.

DB: E há então um lampejo de visão intuitiva, que percebe tudo isso e que não é necessário. Conseqüentemente, tudo isso começa a se dissipar, e quando se dissipou, não há mais conteúdo. Depois, qualquer coisa que o cérebro faça será algo diferente.

K: Vamos um pouco mais adiante. Haverá então um vazio total.

DB: Bem, vazio do conteúdo. Mas quando você diz vazio total, quer dizer vazio de todo esse conteúdo interior?

K: Exatamente. E esse vazio possui uma tremenda energia. Ele é energia. 

DB: Poderíamos dizer então que o cérebro, com todas essas ligações entrelaçadas, prendeu grande quantidade de energia?

K: Isso mesmo. Desperdício de energia.

DB: E quando tudo isso começa a se dissipar, essa energia está ali.

K: Sim.

DB: Você diria que ela é uma energia tão física quanto qualquer outro tipo?

K: Naturalmente. Agora podemos entrar em maiores detalhes, mas esse princípio, a raiz da coisa, é uma ideia ou um fato? Ouço tudo isso fisicamente com o ouvido, mas posso torná-lo uma ideia. Se eu escuto isso, não apenas com o ouvido, mas em meu ser, na minha própria estrutura, o que acontece então? Se esse tipo de audição não ocorrer, tudo isso se toma apenas uma ideia, e eu sigo girando pelo resto da minha vida brincando com idéias. Se houvesse um cientista aqui, especialista em bio-feedback ou outro tipo de estudo do cérebro, será que ele aceitaria tudo isso? Ele ao menos escutaria?

DB: Alguns escutariam, mas evidentemente a maior parte não o faria. 

K: Não. Mas como podemos então atingir o cérebro humano?

DB: Tudo isso soaria bastante abstrato para a maior parte dos cientistas, entende? Eles diriam que talvez seja assim; que é uma bonita teoria, mas que não há qualquer prova de que ela seja verdadeira.

K: Naturalmente. Eles diriam que ela não os instiga muito porque não percebem nenhuma prova.

DB: Diriam que se aparecer mais alguma evidência, eles voltarão mais tarde e ficarão muito interessados. Veja bem, você não pode fornecer qualquer prova, porque não importa o que esteja acontecendo, ninguém poderá vê-la com os próprios olhos.

K: Compreendo. Mas estou perguntando: o que faremos? O cérebro humano — não o "meu " cérebro ou o "seu", mas o cérebro — evoluiu ao longo de um milhão de anos. Uma "aberração" biológica poderá escapar disso, mas como se poderá fazer com que a mente humana em geral perceba tudo isso?

DB: Penso que temos de comunicar a necessidade, a inevitabilidade do que você está dizendo. Como quando uma pessoa vê uma coisa acontecendo diante dos seus olhos e diz: "É assim." Certo?

K: Mas isso requer que uma pessoa escute, que uma pessoa diga: "Quero captar isso, quero compreender isso, quero descobrir isso." Entende o que estou dizendo? Aparentemente, essa é uma das coisas mais difíceis da vida.

DB: Bem, é a função desse cérebro ocupado - que está ocupado consigo mesmo e não escuta.

N: Aliás, uma das coisas é que essa ocupação começa muito cedo. Quando somos jovens ela é muito poderosa, e continua por toda nossa vida, Como podemos tornar isso claro através da educação?

K: No momento em que percebemos a importância de o cérebro não estar ocupado — em que percebemos isso como uma tremenda verdade — descobrimos maneiras e métodos de ajuda por meio da educação, criativamente. Ninguém pode ser ensinado, nem deve copiar ou imitar, senão estará perdido.

DB: Então o problema é este: "Como é possível comunicar isso ao cérebro, que rejeita, que não escuta?" Existe alguma maneira?

K: Não, se eu me recuso a escutar. Veja, acho que a meditação é um fator muito importante nisso tudo. Sinto que estivemos meditando, embora as pessoas comuns não considerem isso como meditação.

DB: Elas usam essa palavra com tanta freqüência...

K: ...que seu significado está realmente perdido. A verdadeira meditação, porém, é esta: esvaziamento da consciência. Você está me seguindo?

DB: Sim, mas sejamos claros. Antes, você disse que isso ocorreria através da visão intuitiva. Agora você está dizendo que a meditação propicia a visão intuitiva?

K: Meditação é visão intuitiva.

DB: Ela já é visão intuitiva. Então é uma espécie de trabalho que fazemos? Considera-se usualmente a visão intuitiva como um lampejo, mas a meditação é mais constante.

K: Temos de ser cuidadosos. O que entendemos por meditação? Podemos rejeitar os sistemas, métodos e autoridades reconhecidas, porque são normalmente apenas repetições tradicionais — bobagens vinculadas ao tempo.

N: Você acha que alguns deles puderam ser originais, puderam ter uma verdadeira visão intuitiva, no passado?

K: Quem sabe? Agora, meditação é essa penetração, essa sensação de se mover sem qualquer passado.

DB: O único ponto a ser esclarecido é que quando você usa a palavra meditação, refere-se a algo mais que visão intuitiva, entende?

K: Muito mais. A visão intuitiva libertou o cérebro do passado, do tempo. Essa é uma declaração imensa...

DB: Você está querendo dizer que precisamos ter visão intuitiva se quisermos meditar?

K: Sim, exatamente. Meditar sem ter qualquer percepção de vir a ser. 

DB: Não podemos meditar sem a visão intuitiva. Não podemos encarar a meditação como um procedimento graças ao qual atingiremos a visão intuitiva.

K: Não. Isso imediatamente implica o tempo. Seguir um procedimento, um sistema, um método, para se alcançar a visão intuitiva é um absurdo. Ter uma visão intuitiva da ganância ou do medo liberta a mente desses últimos. A meditação, portanto, tem uma qualidade muito diferente. Não tem nada a ver com todas as meditações dos gurus. Poderíamos dizer então que para ocorrer a visão intuitiva tem de haver o silêncio?

DB: Bem, isso é a mesma coisa; parece que estamos andando em círculos.

K: No momento.

DB: Sim, minha mente tem o silêncio.

K: Então o silêncio da visão intuitiva limpou, purificou tudo isso. 

DB: Toda essa estrutura da ocupação.

K: Sim. Não há então nenhum movimento como nós o conhecemos; nenhum movimento de tempo.

DB: Existe movimento de algum outro tipo?

K: Não vejo como podemos medir isso com palavras, essa sensação de um estado ilimitado.

DB: Mas você estava dizendo antes que, apesar disso, precisamos encontrar alguma linguagem, mesmo que seja indizível.

K: Sim — nós encontraremos essa linguagem.


Jiddu Krishnamurti e David Bohm - 1° de junho de 1980, Brockwood Park, Hampshire
Do livro: A Eliminação do Tempo Psicológico

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill