Interrogante: Por que razão dividiu o homem a sua existência em compartimentos diferentes — o intelecto e as emoções?(...)
Krishnamurti: (...) Esta é uma situação verdadeiramente complexa: o interior a dividir-se em compartimentos e, além disso, a separar-se do ambiente. E, mais ainda, a dividir o ambiente, a que chama "sociedade", em classes, raças e grupos econômicos, nacionais, geográficos. É isto, de fato, o que se observa no mundo; e chamamos isso "viver". Não tendo possibilidade de resolver este problema, inventamos uma superentidade, uma força atuante que, assim esperamos, criará harmonia, a coesão, dentro em nós e entre nós. Esse fator de coesão, a que chamamos religião, cria, por sua vez, mais um fator de divisão. Por conseguinte, a questão se torna esta: o que poderá criar uma harmonia completa no viver, na qual não haja divisões, mas, sim, um estado em que o intelecto e o coração sejam, juntos, a expressão de uma entidade total? Essa entidade não é um fragmento.
Interrogante: Concordo com você, mas como realizar isso? Essa é a harmonia a que o homem sempre aspirou e que sempre buscou em todas as religiões e todas as utopias políticas e sociais.
Krishnamurti: Você está perguntado "como"? O "como" é o grande erro. É o fator segregador. Existe o meu "como", o seu "como", e o "como" de outros. Assim, se nunca empregássemos essa palavra, estaríamos investigando verdadeiramente e não a buscar por um método para alcançarmos determinado resultado. Você pode, pois, afastar de todo essa ideia de "receita" e de resultado? Se você pode definir um resultado, já o conhece e, por conseguinte, ele é condicionado e não livre. Se jogarmos fora a "receita", seremos então capazes de investigar se há alguma possibilidade de estabelecer-se um todo harmônico, sem inventarmos nenhum agente exterior, porque todos os agentes exteriores, existentes no ambiente ou acima do ambiente, só servem para aumentar o problema.
Em primeiro lugar, é a mente que se divide em sentimento, intelecto e ambiente; é a mente que inventa o agente exterior; é a mente que cria o problema.
Interrogante: Essa divisão não se encontra apenas na mente. Ela é mais forte ainda nos sentimentos. Os muçulmanos e os hinduístas não se creem separados: sentem-se separados — e é esse sentimento que, com efeito, os separa e os faz destruir-se uns aos outros.
Krishnamurti: Exatamente: o pensar e o sentir são uma só coisa; sempre, desde o começo, foram uma só coisa, e é isso, precisamente, o que estou dizendo. Nosso problema, por conseguinte, não é a integração dos diferentes fragmentos, mas, sim, a compreensão da mente e deste coração que são uma só coisa. Nosso problema não é o de como acabarmos com as classes, ou como construir melhores utopias, ou formar melhores líderes políticos ou novos instrutores religiosos. Nosso problema é a mente. Chegar a este ponto, não teoricamente, porém vê-lo realmente, é a maior forma de inteligência. Porque, então, você não pertence a nenhuma classe ou grupo religioso; não é então muçulmano, hinduísta, judeu ou cristão. Temos, portanto, agora, um só problema: Porque a mente divide? Ela não só divide suas próprias funções em sentimentos e pensamentos, mas também separa a si própria como "eu", do "você", e separa o "nós" do "eles". A mente e o coração são uma só unidade. Não o esqueçamos. Lembre-se disso, sempre que usar a palavra "mente". Nosso problema é: "Por que a mente divide?"
Interrogante: Sim, é este.
Krishnamurti: A mente é pensamento. Toda atividade do pensamento é de separação, fragmentação. O pensamento é reação da memória, que é o cérebro. O cérebro tem de "reagir" quando percebe um perigo. Isso é inteligência; mas esse mesmo cérebro foi, de alguma maneira, condicionado para não perceber o perigo da divisão. Suas ações são válidas e necessárias no domínio dos fatos. Do mesmo modo, ele atuará quando perceber o fato de que a divisão e a fragmentação lhe são perigosas. isto não é uma ideia, ideologia, princípio ou conceito — coisas absurdas e "separativas": é um fato. Para ver o perigo, o cérebro deve ser muito desperto e vigilante — todo ele, e não apenas um segmento dele.
Interrogante: Como manter desperto o cérebro inteiro?
Krishnamurti: Já dissemos que não há "como", porém, tão só, ver o perigo; é este o ponto que precisa ser compreendido. O ver não é um resultado do condicionamento ou de propaganda; o ver se verifica com o cérebro inteiro. Quando o cérebro está completamente desperto, a mente se torna silenciosa. Se o cérebro está completamente desperto, não há fragmentação, nem separação, nem dualidade. A natureza desse silêncio e sobremodo importante. Pode-se silenciar a mente por meio de drogas e artifícios de toda espécie, mas tais artifícios geram várias outras formas de ilusão e de contradição. Esse silêncio é a mais alta forma de inteligência, que não é pessoal, nem interpessoal, nem sua, nem minha. Anônimo, é ele integral, imaculado. Não pode ser descrito porque não tem nenhuma qualidade. Ele é percebimento, ele é atenção, ele é amor, ele é o Supremo. O cérebro deve estar de todo desperto; só isso. Assim, como um homem perdido na floresta deve conserva-se alertado a fim de sobreviver, assim também o homem que se vê perdido na floresta do mundo deve manter-se sumamente vigilante, para viver completamente.
Jiddu Krishnamurti em, A Luz Que Não Se Apaga
Em primeiro lugar, é a mente que se divide em sentimento, intelecto e ambiente; é a mente que inventa o agente exterior; é a mente que cria o problema.
Interrogante: Essa divisão não se encontra apenas na mente. Ela é mais forte ainda nos sentimentos. Os muçulmanos e os hinduístas não se creem separados: sentem-se separados — e é esse sentimento que, com efeito, os separa e os faz destruir-se uns aos outros.
Krishnamurti: Exatamente: o pensar e o sentir são uma só coisa; sempre, desde o começo, foram uma só coisa, e é isso, precisamente, o que estou dizendo. Nosso problema, por conseguinte, não é a integração dos diferentes fragmentos, mas, sim, a compreensão da mente e deste coração que são uma só coisa. Nosso problema não é o de como acabarmos com as classes, ou como construir melhores utopias, ou formar melhores líderes políticos ou novos instrutores religiosos. Nosso problema é a mente. Chegar a este ponto, não teoricamente, porém vê-lo realmente, é a maior forma de inteligência. Porque, então, você não pertence a nenhuma classe ou grupo religioso; não é então muçulmano, hinduísta, judeu ou cristão. Temos, portanto, agora, um só problema: Porque a mente divide? Ela não só divide suas próprias funções em sentimentos e pensamentos, mas também separa a si própria como "eu", do "você", e separa o "nós" do "eles". A mente e o coração são uma só unidade. Não o esqueçamos. Lembre-se disso, sempre que usar a palavra "mente". Nosso problema é: "Por que a mente divide?"
Interrogante: Sim, é este.
Krishnamurti: A mente é pensamento. Toda atividade do pensamento é de separação, fragmentação. O pensamento é reação da memória, que é o cérebro. O cérebro tem de "reagir" quando percebe um perigo. Isso é inteligência; mas esse mesmo cérebro foi, de alguma maneira, condicionado para não perceber o perigo da divisão. Suas ações são válidas e necessárias no domínio dos fatos. Do mesmo modo, ele atuará quando perceber o fato de que a divisão e a fragmentação lhe são perigosas. isto não é uma ideia, ideologia, princípio ou conceito — coisas absurdas e "separativas": é um fato. Para ver o perigo, o cérebro deve ser muito desperto e vigilante — todo ele, e não apenas um segmento dele.
Interrogante: Como manter desperto o cérebro inteiro?
Krishnamurti: Já dissemos que não há "como", porém, tão só, ver o perigo; é este o ponto que precisa ser compreendido. O ver não é um resultado do condicionamento ou de propaganda; o ver se verifica com o cérebro inteiro. Quando o cérebro está completamente desperto, a mente se torna silenciosa. Se o cérebro está completamente desperto, não há fragmentação, nem separação, nem dualidade. A natureza desse silêncio e sobremodo importante. Pode-se silenciar a mente por meio de drogas e artifícios de toda espécie, mas tais artifícios geram várias outras formas de ilusão e de contradição. Esse silêncio é a mais alta forma de inteligência, que não é pessoal, nem interpessoal, nem sua, nem minha. Anônimo, é ele integral, imaculado. Não pode ser descrito porque não tem nenhuma qualidade. Ele é percebimento, ele é atenção, ele é amor, ele é o Supremo. O cérebro deve estar de todo desperto; só isso. Assim, como um homem perdido na floresta deve conserva-se alertado a fim de sobreviver, assim também o homem que se vê perdido na floresta do mundo deve manter-se sumamente vigilante, para viver completamente.
Jiddu Krishnamurti em, A Luz Que Não Se Apaga