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segunda-feira, 26 de março de 2018

A matriz da tradição


A MATRIZ DA TRADIÇÃO

Interlocutor B: No budismo se mencionam três categorias de pessoas no mundo: o homem vulgar e mundano que tem seus prazeres, penas, etc.; o que está “no bom caminho” pois vislumbra a direção; e logo, o arhat. O homem mundano poderá praticar rituais, mas segue sendo um homem mundano até que tenha uma experiência, um resplendor da direção. O que está no bom caminho se extravia, mas sempre regressa, até um momento em que já não há mais um voltar ao primeiro estado.

KRISHNAMURTI: Um homem mundano tem um vislumbre do caminho — como o teve? E uma vez que está no bom caminho, pode andar à deriva para trás e para frente, extraviar-se e voltar ao caminho, e finalmente estabelecer-se e alcançar o estado de arhat. Sua pergunta é como o homem mundano poderá ter um vislumbre, não é isso?

B: Sadhana é o meio para obter Siddhi. Siddhi significa meta.

KRISHNAMURTI: Isso através do qual você alcança a meta — um sistema, um método, um processo —, implica tempo.

C: Implica tempo? Não necessariamente...

KRISHNAMURTI: SE eu tenho que passar por uma porta para chegar a alguma parte, isso é um processo de tempo. A sadhana implica um processo de tempo.

C: A tradição também diz que as sadhanas são inúteis.

KRISHNAMURTI: A maioria das pessoas insistem na sadhana, ainda que digam eu não é necessário, se tornou uma parte da tradição.

B: Elas dizem que é melhor passar pelo sadhana, mas não garantem que você chegará através dele.

KRISHNAMURTI: A palavra sadhana indica um processo, e o processo significa acumulação de coisas, o que por sua vez significa tempo. Inclusive o conceito mais cientifico de tempo, é o das coisas reunidas em uma posição horizontal ou vertical. Portanto, sadhana quer dizer tempo. Qual é então a pergunta, senhor? O que diz a tradição?

B: A tradição budista diz que um que homem sofre, tem um vislumbre do caminho. Então, ele está “no bom caminho”. E assim, empreende sua salvação e chega a ser um arhat. Que tipo de operação ou movimento está envolvido no segundo estado?

C: Eles dizem que quando se penetra no estado de não-dualidade, já não há um voltar atrás.

KRISHNAMURTI: Como você chega a esse estado?

C: Visto que não é um processo, eles nos dizem como chegar a ele. Dizem que não se pode alcançá-lo mediante o escutar as pessoas ou por meio do estudo, dos rituais e a sadhana. Eles o levantam negativamente.

KRISHNAMURTI: è uma questão de dualidade. Estar no mundo implica dualidade; então, há um vislumbre de um estado não-dual e uma regressão ao estado dual, não é assim?

C: Eles dizem que a dualidade não existe em absoluto, mas que por causa do processo intelectual cria-se a dualidade. Uma vez que se compreende a não-dualidade, já ao há problema de que o mundano se deslize nisso.

KRISHNAMURTI:  Vivendo em um estado de dualidade como o fazem os seres humanos, o fato de negar os rituais, lhe fará alcançar o estado não-dual? Você poderá dizer que não há um molde ou um nível dualístico, que há uma dimensão na qual a dualidade não existe em absoluto. O que diz a tradição? Que a mente presa no estado dualístico chegará “ao outro” negando as crenças, os rituais, etc.? Abordaremos este problema de modo simples. Vive-se em um estado dualístico. Esse é um fato. Nesse estado há pensa, dor, conflito e tudo isso. E o homem diz: “Como ei de sair disso?” O estado não-dualístico é meramente uma teoria. O homem não o conhece. Pode ter lido sobre ele, mas essa é uma informação de segunda mão. Carece de valor. Não faça caso do que os outros tenham dito a respeito.

Eu só conheço um estado dualístico em que há dor, infortúnio. Isso é um fato. É daí de onde começo.

C: Algumas pessoas, através do conflito e a infelicidade, se dão conta de que o estado dualístico é a causa do mal. Então querem se livrar desse estado. Algumas não partem disto, mas se sentem descontentes e leem; uma vez que leram, começam a imaginar o estado não-dual.

KRISHNAMURTI: Essa é uma teoria. O fato é uma coisa e a ideia a respeito do fato é outra. Não nos interessa o homem que sustenta uma conclusão derivada de um especialista. Nós só estamos discutindo a respeito de um homem que se acha em conflito e está descontente com esse conflito. Como se livra dele?

C: O modo tradicional consiste em explorar através dos livros. O homem compreende mediante a negação, e resolve o conflito por meio do conhecimento.

KRISHNAMURTI: Proceda passo a passo. Eu estou em conflito. Bem, agora, como resolvê-lo? Você diz que por meio do conhecimento. O que é o conhecimento?

C: A compreensão do conflito é conhecimento.

KRISHNAMURTI: Eu não tenho que compreendê-lo, estou em conflito. Sei que estou em conflito, que estou agoniado, que sofro. O que você entende por conhecimento e que entende por conflito? É conhecimento saber que estou em conflito? ...você chama conhecimento o saber o que devo fazer com relação a esse conflito? Quando você emprega a palavra “conhecimento”, o que quer dizer com ela? Qual é o equivalente sânscrito dessa palavra?

C: Jnana.

KRISHNAMURTI: O que significa isso? Conhecimento a respeito de que? Conhecimento com relação à causa do conflito?

C: Jnana se aplica também a natureza do conflito e ao modo em que surge.

KRISHNAMURTI: Como nasce o conflito e qual o modo em que opera? Qual é sua natureza e estrutura? Conhecer a causa é conhecer a estrutura e natureza da dor. Você chama isso de conhecimento?

C: Senhor, jnana está dividido naquilo que pertence ao mundo fenomenal, e ao que se refere ao mundo não-fenomenal.

KRISHNAMURTI: O que você entende por conflito?

C: Conflito é dualidade.

KRISHNAMURTI: Sabemos o que é a palavra “conhecimento”. O que você quer dizer com a palavra “conflito”?

C: Dwandva: conflito entre os dois — quente e frio, prazer e dor, felicidade e infelicidade...

KRISHNAMURTI: Prossigamos então. Ei estou em conflito. Quero sair dele e quero permanecer aqui; sou infeliz e quero fazer algo que me proporcione felicidade. Adquiro conhecimento a respeito mediante o ver a causa, a natureza, a estrutura desse conflito; a compreensão da causa, a natureza e estrutura deste conflito, é conhecimento. E o saber isso, o ter este conhecimento, libertará a mente do conflito? Você diz, pois, que o conhecimento libertará a mente do conflito, correto senhor?

Bem, agora, eu sei que estou enciumado porque minha mulher olha para outro homem ou porque você tem um emprego melhor que o meu. Sei por que estou enciumado. Conheço a estrutura do ciúmes: eu gostaria de estar em seu lugar, gostaria que minha mulher não olhasse para você; conheço a causa, conheço o efeito; a reação disso é que estou enciumado. Vejo a estrutura completa disso, do mesmo modo em que um engenheiro vê uma estrutura. O conhecer essa estrutura, me liberta dela? Obviamente, não o faz.

C: O conhecimento que dissolverá o conflito é o tipo de conhecimento em que não há dualidade.

KRISHNAMURTI: Como você o sabe? Porque algum outro o tem dito?

C: Averiguado por que surge o ciúmes. Por que se tem que estar enciumado?

KRISHNAMURTI: Isso é análise. A análise liberta a mente do conflito?

C: Só a análise não o fará.

KRISHNAMURTI:O conhecimento é resultado de análise. Eu analiso, vejo que estou enciumado. Fiquei com raiva da minha mulher, etc. Ela me abandonou. O conhecimento me libertará do medo que sinto de viver só, sem ela?

C: O sentimento de ciúmes se encerra.

KRISHNAMURTI: Como você propõe terminar com o ciúmes? Tenho me analisado até a raiva, e o minuto seguinte estou novamente com ciúmes.

C: Isso significa que através da análise você não terminou com o ciúme.

KRISHNAMURTI: A análise faz parte do conhecimento. Eu tenho acumulado conhecimento porque tenho analisado. Estou enciumado dela porque tenho tratado de possuí-la. O dar-me conta disto é conhecimento; e eu trato de possuí-la porque tenho medo de viver só — e isto é parte do conhecimento. Você diz que mediante a análise há acumulação de conhecimento, e que esse conhecimento vai libertar-me do ciúme. O fará?

C: Não senhor. Eu posso analisar todo ciúme quando minha mulher sai com outro homem. Também posso dizer: o que importa se ela se for? Tudo depende do indivíduo.

KRISHNAMURTI: Tudo isso é intelectualismo. O intelectualismo faz parte da análise. Enquanto o intelecto interferir, o conhecimento, você não é livre. Todo conhecimento é intelectual.

C: Jnana não é esse processo intelectual. O processo intelectual termina com manas e buddhi.

KRISHNAMURTI: Então você está dizendo que existe outro fator que está mais além do intelecto, do conhecimento. Disse que a análise, a acumulação de conhecimento através da análise, é um tipo de conhecimento. E que fora disso, existe algum outro fator.

C: ...que permite ao buddhi ver, discernir.

B: Como se adquire conhecimento? Demos o primeiro passo.

KRISHNAMURTI: Tenho estado muitas vezes nessa estrada, e tenho adquirido conhecimento com ela. Tenho visto com frequência essa pessoa e tenho com ela conversado; ela tem sido amistosa ou não amistosa. Tudo isso é conhecimento. Tenho acumulado informação através da experiência, da análise, dos incidentes, e isso se chama conhecimento.

C: O que é que torna possível o conhecimento? O que é que torna possível a experiência?

KRISHNAMURTI: A experiência só é possível quando existe o experimentador. Você disse algo que não me agrada, que me ofende; essa é uma experiência. Essa experiência logo se converte em conhecimento. Esse conhecimento terminar com o conflito?

C: Não.

KRISHNAMURTI: Então, o que colocará fim ao conflito? Dizem eles que é essa entidade que compreende o experimentador, o qual tem reunido este conhecimento que haverá de terminar com o conflito? Se é assim, então existe uma entidade superior.

C: Há um princípio através do qual são possíveis todas estas variadas e diferentes experiências. Como sei que sou o experimentador?

KRISHNAMURTI: Porque o experimentei antes. Sei que sou o experimentador porque você me ofendeu antes. O conhecimento, o conhecimento prévio me converte no experimentador.

B: Eu vejo o amanhecer, sito que essa é minha experiência de haver visto o sol...

KRISHNAMURTI: Tendo visto o amanhecer uma vez e vendo-o dia atrás dia, a acumulação desse conhecimento faz com que eu seja o experimentador.

C: Eles postulam a uma entidade que não experimenta.

KRISHNAMURTI: A entidade postulada é outra opinião que se adquiriu de algum outro.

Isso é bastante simples e claro. Primeiro me dou conta, tomo conhecimento de que estou em conflito. O analiso. Por meio da análise tenho adquirido o conhecimento de que estou enciumado, isso é simples. A análise, a observação, a vigilância do processo, tem me proporcionado a informação a respeito do porque estou enciumado; essa informação é conhecimento. E esse conhecimento aparentemente não pode libertar-me do ciúme. O que então me livrará dele? Não invente outro eu superior. Não conheço nada a respeito disso. Eu só conheço o conflito, a análise, o conhecimento, e vejo que o conhecimento não libera do conflito.

B: Qual é o substrato de toda experiência? O que é aquilo a partir do qual surgem todas as experiências? Qual é a matriz?

KRISHNAMURTI: É uma acumulação de experiências? A matriz consiste em coisas acumuladas. A matriz di carpete é sua trama e urdidura. A matriz da experiência é experiência. Senhor, você pergunta qual é a vertente que produz a experiência? Ou pergunta qual é a matéria sobre a qual a experiência deixa um molde formado?

C: Os tradicionalistas consideram que o conhecimento como depósito de experiência, recordações, pertence ao reino de manas e buddhi, e que isto é possível graças ao atman que projeta luz; que sem o atman, o manas não pode funcionar.

KRISHNAMURTI: Qual é o material sobre o que a experiência deixou sua pegada? Existe tal material?

Obviamente se trata do cérebro. De fato, o cérebro é o material; as células são o material sobre o que cada incidente, cada experiência — consciente ou inconsciente —, deixa sua pegada. O cérebro está recebendo constantemente. Eu vejo essa flor, e já se registrou; vejo a você e isso já se registrou. Há em marcha um constante processo de registrar. Aí está a herança racial, a herança pessoal, tudo isto vai deixando sua pegada sobre o cérebro.

B: A função da mente é a energia.

KRISHNAMURTI: O registro do cérebro é parte da energia. Tudo é energia. De modo que o cérebro é o depósito de todos os registros — sensoriais e não sensoriais —. Este é a “fita” que tem se acumulado por séculos. Esse é o conhecimento. Se você não soubesse onde mora, não poderia chegar até lá. Devido a ter estado aqui antes, você o sabe.

O conhecimento não necessariamente liberta a mente do conflito, concorda? Isso o vemos. O que é então que há de libertá-la sem introduzir o atman, que faz parte da tradição, do conhecimento que se tem adquirido? Ainda que eu possa chamá-lo atman, isso é o mesmo campo do conhecimento.

C: Como ele penetra no campo do conhecimento?

KRISHNAMURTI: A menos que eu pense no atman, não há atman.

C: Pensar nele não é realizá-lo. O atman não está dentro do alcance do pensamento.

KRISHNAMURTI: O conceber algo está ainda dentro do campo do pensamento. Um homem que pensa no atman segue estando dentro do campo do pensamento.

C: O homem que falou do atman não pensava a respeito disso, o realizava. A única analogia que eles citam, é a de quem tem um sono profundo e se desperta. Como você sabe que tenha tido um sonho profundo, se nele a mente não trabalha?

KRISHNAMURTI: Como você sabe quando ela não trabalha? As células cerebrais trabalham dia e noite. Só quando você se levanta na manhã seguinte, sabe se está cansado ou se dormiu bem, etc. Todas essas são funções do cérebro. É assim que o atman está dentro do campo do pensamento. Tem que estar. De outro modo você não usaria essa palavra. Nós dizemos que o atman faz parte do cérebro. O pensamento disse que não pode resolver o problema por meio do pensamento, e que, portanto, deve existir um atman.

C: Mas eles têm dito que o atman está fora da experiência.

B: Explique-nos, por favor, em que consiste o material da experiência.

KRISHNAMURTI: Eu vejo a flor, a nomeio. Há o nomeá-la, a forma, a verbalização; a verbalização é a memória, porque o cérebro a viu e disse que isso é uma flor.

B: O cérebro opera se fecho os olhos?

KRISHNAMURTI: Certamente. Feche os olhos, tape os ouvidos e, todavia, poderá pensar. No momento em que digo que há Deus, o concebido está dentro do pensamento. Se um homem não tem absolutamente pensamentos, para ele, Deus não existe. Os antigos, pensando em algo superior, desejando algo maior, disseram que havia um Deus. Isso foi o produto do pensamento. Portanto, estava dentro do campo do conhecimento.

C: Nos Upanishads, a Deu não é concedido muita importância. De acordo com a concepção deles, Deus e brahmán são a mesma coisa.

KRISHNAMURTI: Veja, vem alguém que não é Hindu e diz: Deus, Jesus. Qual é a diferença? Ele tem sido educado em sua cultura particular, e você nesta cultura que diz atman.

C: Nós dizemos ambas as coisas. Deus é pessoal, o atman não é pessoal.

KRISHNAMURTI: Tudo isso é um produto do pensamento. Observe os enganos em que a mente tem se voltado, presa em palavras. Eu tenho acumulado conhecimentos a respeito da dor, e a dor não cessa; e ao não saber como colocá-la fim, o pensamento diz que deve haver algum outro fator. É assim que inventa o atman. Pensa a respeito disso. Do contrário, o atman não haveria surgido à existência. Portanto, o atman tampouco termina com a dor porque faz parte do conhecimento. O conhecimento a respeito da dor não tem colocado fim na dor. Tampouco o atman termina com a dor.

C: Mas eles mesmos têm dito que o pensamento resolverá o problema.

KRISHNAMURTI: Mas o atman é um produto do pensamento.

C: Sem dúvida, o atman é experimentado por eles. É uma experiência pessoal que lhes pertence.

KRISHNAMURTI: Quando eles dizem que experimentam o atman, o que isso significa?

C: Dizem que isso não pode ser descrito.

KRISHNAMURTI: Certamente que não pode, mas faz parte do pensamento.

C: Para eles não era parte do pensamento. Eles o fizeram real.

KRISHNAMURTI: Como eu noto qualquer coisa? Como me dou conta dela devo reconhecê-la, não é assim? O que é que reconheço?

C: Reconhecer significa ver uma coisa sem o processo do pensamento.

KRISHNAMURTI: Eu reconheço você porque ontem nos encontramos. Se não fosse assim, eu não o reconheceria.

C: Esse não é o processo pelo qual você reconhece o Brahman.

KRISHNAMURTI: Sejamos simples. Falemos logicamente. Eu devo reconhecer uma nova experiência. Qual é o processo de reconhecimento? Tenho que ter conhecido isso antes de agora — como a flor, a flor amarela —; não poderia reconhecê-la sem que a tivesse visto antes. De modo que o reconhecer uma experiência implica que isso foi experimentado anteriormente. Em consequência, o atman já foi experimentado para que possa reconhecê-lo. Portanto, está dentro do campo da experiência. O que é então que eles querem dizer quando afirmam que não se pode experimentá-lo? O fato é que eu sofro. Digo: “quero terminar com o sofrimento”. Por que, pois, introduzo o atman? Isso carece em absoluto de valor. É como um homem que está faminto e você lhe descreve a comida.

C: Estou de acordo em que tudo quanto eles têm dito não ajuda.

KRISHNAMURTI: Ao contrário, eles têm destruído a mente ao introduzir um fator que não ajuda.

C: Sim.

KRISHNAMURTI: Ao contrário, eles têm destruído a mente ao introduzir um fator que não ajuda.

C: Sim.

KRISHNAMURTI: Veja-o. Diga: nunca falarei a respeito do atman, ele não significa absolutamente nada. Como encaro isto então? Como resolverá a mente o fato da dor? Não pode meio do atman. Isso é por demais infantil. Ela não pode resolvê-lo mediante o conhecimento; somente pode fazê-lo olhando a dor, sem o conhecimento.

C: Isto é possível?

KRISHNAMURTI: Não introduza o atman. Prove, examine-o. O outro você não pode examiná-lo. Esqueça-o completamente. O que acontece então? Como olho a dor? Com o conhecimento ou sem ele?

Olho a dor com olhos que estão cheios do passado, e, por conseguinte, traduzo tudo em termos do passado?

B: Não podemos utilizar o passado como um meio para libertar-nos do sofrimento.

KRISHNAMURTI: Quando você disse que vê o que é o sofrimento, está em relação direta com ele, não como observador que observa o sofrimento. Eu olho o sofrimento sem a imagem, a imagem é o passado. A imagem do passado pode ser o atman; desde já, assim é. Examine-o. Examine a imagem como se a examinasse no laboratório. Do mesmo modo você pode examinar isto. O outro não pode examinar. O atman que eu vejo é parte do pensamento. Aí não há exame, absolutamente, aqui sim o há. Quando olho esta dor com a experiência passada, há dualidade. O presente é dor, e olho o presente através do passado; assim, o traduzo em termos do passado. Se a mente parece olhar a dor sem o passado, tem que haver um significado completamente diferente. Portanto, tenho de examiná-lo. Pode a mente olhar sem a recordação do passado? Posso mirar essa flor sem o conhecimento de ontem? Examine-o, verá se pode fazê-lo ou não.

Rishi Vale, 21 de janeiro de 1971
Tradição e Revolução

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill