Percepção é observar em silêncio e sem
escolha
“Percepção é observar em silêncio e sem escolha “o que é”. Nessa percepção, o problema se desdobra e se compreende então em sua totalidade”.
Como
eu posso...?
Compreende?
Estou
cego e quero ver a luz; você me diz: "Perceba sua cegueira", e eu
respondo: "Sim, mas o que significa perceber?"
R:
Perceber, consciência, atenção: que é a diferença?
K:
Na percepção a qual me refiro, não há escolha; há simplesmente uma percepção.
No
momento em que a escolha aparece, a percepção deixa de ser.
R:
Compreendo.
K:
A escolha é medida, é divisão e, portanto, não tem lugar na percepção.
Nessa
simples percepção, o dizer que este quarto me agrada ou não me agrada, se
acaba.
R:
Sim.
K:
Na atenção, no atender, não há divisão.
R:
O que significa que não há escolha.
K:
Deixe isso por um momento. Atenção significa que não há divisão, que não há um
"eu" que atende. Não há divisão e, portanto, não há medida nem
limites.
K:
Eu vejo como você vê, e digo: "Eu gosto" ou "Eu não gosto",
mas o perceber-me disso põe fim à escolha; percebe-se isso, isso é tudo. Agora,
na atenção não há alguém que atende, então não há divisão.
R:
Mas o ensinamento do Buda é que, na prática desta meditação, não há
discriminação alguma, não há nenhum julgamento de valor, preferência ou rejeição,
mas simplesmente se vê.
K:
Se se atende com todo o seu ser, com os ouvidos, os olhos, o corpo, os nervos, com
a totalidade da mente e o coração, isto é, com afeto, com amor, com compaixão,
nessa atenção total, o que acontece?
R:
O que acontece então, claro, é uma revolução interna absoluta e completa.
K:
Não, eu pergunto qual é o estado dessa mente cuja atenção é total.
Olhe,
essa mente não tem qualidade, não tem centro e ao não ter um centro, não tem
fronteiras. Isto é uma realidade, não adianta imaginá-lo.
Brockwood,
1979, segunda palestra com budistas
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