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terça-feira, 4 de junho de 2013

Abrindo mão da dependência de gurus

Pergunta: Não admitis a necessidade da orientação dada por um guia? Se, como dizeis, não deve mais haver nem tradição nem autoridade, nesse caso todos terão de lançar novas bases para a sua existência. Assim como o corpo físico teve um começo, não deve haver também um começo para o nosso corpo espiritual e mental e não deve este ascender de cada degrau para o degrau superior, imediato? Assim como nosso pensamento se inflama, quando vos ouvimos, não é necessário despertá-lo, pelo contacto com os grandes espíritos do passado?

KRISHNAMURTI: Senhor, este é um problema velho como o mundo. Pensamos que necessitamos de um guru, um instrutor, para nos despertar a mente. Pois bem. Que implica isso? Implica, de um lado, o homem que sabe, de outro lado, o homem que não sabe. Continuemos devagar, sem nos deixarmos influir por preconceitos. "O homem que sabe" se torna a autoridade, e "o homem que não sabe" se torna seu discípulo. E o discípulo vai sempre seguindo o mestre, na esperança de alcançá-lo, de se colocar no mesmo nível que ele. Agora, prestai atenção! Quando o guru diz que sabe, já não é guru. Porque o homem que diz que sabe, não sabe. E vede porque não sabe: porque a Verdade, a Realidade, ou "o outro estado", não se acha num ponto fixo, não se pode alcançar por um certo caminho, e temos de descobrí-la momento por momento. Se está num ponto fixo, nesse caso esse ponto se acha dentro dos limites do tempo. Para um ponto fixo pode haver caminho, como há um caminho para vossa casa; mas para uma coisa viva que não tem pouso fixo, que não tem começo nem fim, não pode haver caminho algum.

Ora, um guru que se oferece para ajudar-vos a conhecer a Realidade só poderá ajudar-vos a reconhecer o que já conheceis; porque o que se pode reconhecer, experimentar, tem de ser reconhecível, não achais? Quando o reconheceis, dizeis: "Experimentei" — mas o que é reconhecível, não pode ser aquele outro estado. O outro estado não é reconhecível, pois nunca foi conhecido; não é uma coisa que já experimentastes e que sois capaz de reconhecer. O "outro estado" é uma coisa que tem de ser descoberta momento por momento; e para descobrí-la, a mente tem de ser livre. Senhor; a mente tem de estar livre para descobrir qualquer coisa; e a mente agrilhoada pela tradição, antiga ou moderna, a mente que leva a carga da crença, dos dogmas, dos ritos, não é livre, evidentemente. Para mim, a ideia de que um outro pode despertar-vos, não tem validade alguma. Isto não é uma opinião; é um fato. Se um outro vos desperta, ficais sob sua influência, dependente dele; por conseguinte não sois livre; e só a mente livre pode descobrir.

É este, portanto, o problema, não achais?

Aspiramos àquele outro estado, e uma vez que não sabemos como alcançá-lo, passamos invariavelmente a depender de alguém, a quem chamamos instrutor, guru, ou a depender de um livro, ou de nossa própria experiência. E está criada, assim, a dependência, e onde há dependência há também autoridade. A mente se torna, por conseguinte, escrava da autoridade, escrava da tradição, e essa mente, de toda evidência, não é livre. Só a mente que é livre, pode descobrir; e contar com a ajuda de outro para o despertar da mente, é o mesmo que recorrer a uma droga que vos fará ver as coisas com muita nitidez, muita clareza. Há drogas que podem fazer a vida parecer, momentaneamente, muito mais "vital", de modo que todas as coisas assumem um relevo, um brilho extraordinário — as cores que vedes todos os dias, sem lhes dar atenção, se tornam extraordinariamente belas, etc. Tal poderá ser o vosso "despertar" da mente, mas estareis então na dependência da droga, como dependeis agora de vosso guru ou de um certo livro sagrado. E quando se torna dependente, a mente se embota. Da dependência provém o temor — o temor de não realizar o que se quer, o temor de não ganhar. Quando dependemos de outro, seja o Salvador, seja outro qualquer, isso significa que a mente está em busca de um resultado feliz, um fim satisfatório. Podeis chamá-lo Deus, a Verdade, ou como quiserdes — mas é sempre uma coisa que se quer ganhar. E, assim, a mente fica aprisionada, se torna escrava e, não importa o que faça — sacrificar-se, disciplinar-se, torturar-se — essa mente nunca descobrirá o outro estado.

O problema, pois, não é quem seja o instrutor correto, mas sim descobrir se a mente pode manter-se desperta. E isso só se pode descobrir quando todas as relações se tornam um espelho, em que ela se vê exatamente como é. Mas a mente não pode ver-se como é, quando há condenação ou justificação daquilo que vê, ou se há qualquer forma de identificação. Todas essas coisas tornam a mente embotada e, embotados que estamos, desejamos ser despertados. Por essa razão amparamo-nos em outro, para que nos desperte. Mas, em virtude do próprio desejo de ser despertada, a mente embotada se torna mais embotada ainda, porquanto não percebe a causa do seu embotamento. É só quando a mente percebe e compreende todo esse processo, e não depende de explicações de ninguém, é só então que ela é capaz de libertar-se.

Mas, como é fácil nos satisfazermos com palavras, com explicações! São muitos poucos os que rompem a barreira das explicações, ultrapassando as palavras e descobrindo por si mesmos o que é verdadeiro. A capacidade é produto da aplicação, não é? Mas nós não nos aplicamos, porque nos satisfazemos com palavras, com especulações, com as tradicionais respostas e explicações com que fomos criados.

Krishnamurti — Da solidão à Plenitude Humana

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Onde há o seguir, há medo


Para compreenderem a causa da autoridade, precisam seguir o processo mental e emocional que a cria.
Para mim, o homem que está limitado por uma lei externa ou interna está confinado numa prisão, está preso numa ilusão. Desse modo, tal homem não pode compreender a ação espontânea, natural e sã.
(...)
Se um homem deseja obedecer e seguir a um outro, ninguém o pode impedir; porém é o superlativo da falta de inteligência e leva a grande infelicidade e frustração.

Se aqueles de vocês que estão me ouvindo, começarem a pensar real e profundamente a respeito da autoridade, não mais seguirão a ninguém, inclusive a mim mesmo. Como disse, porém, é muito mais fácil seguir e imitar do que, realmente, libertar o pensamento da limitação do medo, e bem assim, da compulsão e da autoridade. Admitir a autoridade é se abandonar à influência de outro, o que implica sempre o propósito, o desejo de se obter algo em retorno; ao passo que na outra há absoluta insegurança; e como as pessoas preferem a ilusão do conforto, da segurança, seguem a autoridade com sua frustração. Se, porém, a mente discerne a ilusão de conforto ou da segurança, nasce a inteligência, o desconhecido, a essência da vida.
(...)
O seguir a outrem não é aconselhável, nem tão pouco o é a aceitação da autoridade, pois que nestas coisas há medo; e o medo destrói todo o discernimento.
(...)
Quase todas as pessoas são inconscientes tanto da inteligência como da estupidez que a cerca. Porém, como poderá cada indivíduo averiguar o que é estupidez e o que é inteligência, se seu pensamento e ação estão baseados no medo e na autoridade? Individualmente, temos de nos tornar percebidos, conscientes dessas condições de limitadoras.
(...)
Por meio da ansiedade, do desejo, gera-se o medo, e deste surge a busca de conforto e segurança, encontrados na autoridade da experiência.
(...)
Esta autoridade em suas várias formas sustenta o processo do "eu", que se baseia no medo.

Considerai os pensamentos, atividades e a natureza da moral de vocês, e verão que estão baseados no medo que se quer proteger a si próprio com suas autoridades sutis e confortadoras. Deste modo, a ação nascida do medo está sempre limitando a si própria e, portanto, esse processo do "eu" é mantenedor de si mesmo, por meio de suas atividades desejantes.
(...)
Se a autoridade deve existir ou não, na escola ou na família, é coisa que terá resposta, quando vocês próprios compreenderem o inteiro significado da autoridade.

O que eu entendo por autoridade é a conformação, pelo medo, a um molde particular, seja o padrão do ambiente, o da tradição, o do ideal ou o da memória. Tomai a religião tal qual ela é. Nela observam que, por meio da fé e da crença, o homem foi aprisionado numa prisão de autoridade, porque cada um está buscando a sua própria segurança, através daquilo que ele chama imortalidade. Isto nada mais é que egoísta ânsia de continuidade, e o homem que afirma existir a imortalidade proporciona uma garantia à sua segurança.

Assim, gradualmente, por meio do medo, ele chega a aceitar a autoridade, a autoridade das ameaças religiosas, dos temores, das superstições, das esperanças e das crenças. Ou então, rejeita as autoridades externas e desenvolve os seus próprios ideias pessoais, que se tornam autoridades próprias, apegando-se a elas, na esperança de não ser ferido pela vida. Assim, a autoridade torna-se um meio de própria defesa contra a vida, contra a inteligência.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

segunda-feira, 25 de março de 2013

Na meditação não há espaço para a vontade


O processo mecânico dos sistemas produz insensibilidade, gera repressão ou a resistência ao que realmente vocês são, o querer sobrepor ao que são o que pensam que deveriam ser; isso envolve conflito, batalha. Querendo controlar, reprimir, disciplinar a vocês mesmos, se forçam a ficar sentado, imóvel, respirando "corretamente", tudo isso na esperança de, no fim de certo tempo, alcançarem uma coisa a cujo respeito não sabem absolutamente nada. Por conseguinte, o homem sensato rejeita toda e qualquer ideia de sistema ou método, compreendendo que eles não o levarão a parte alguma. Mas, lhes inculcaram a ideia de que são capazes de "experimentar" a Verdade, de alcançar a "iluminação", de descobrir a Realidade. Já não ouviram seus gurus, as pessoas que lhes instruem sobre "como meditar", já não os ouviram dizer que "experimentaram" a Verdade, a Realidade? Há dias alguém veio nos dizer: "Experimentei a Realidade, sei o que é a Verdade"; não se pode enunciar maior absurdo.

Escute, senhor: Quando um homem diz "sei", que é que ele sabe? Ao dizer "sei", isso significa que sei de algo já acabado. Certo? Eu só sei o que já acabou, que está no passado; portanto, estou vivendo no passado. Observem isso, por favor, em sua própria vida. Se digo "lhe conheço", só conheço a imagem que tenho de você, e essa imagem é o passado. Portanto, o homem que diz que sabe o que é a Verdade, não sabe. Ele sabe de algo já morto, acabado.

Já refletiram sobre a palavra "experiência"? Ela significa "atravessar" (um certo estado). Depois de "atravessarem" qualquer estado, ele está acabado; mas, se não se completa o movimento, ele se registra na mente como "memória", e o que se experimenta é o passado. No justo momento em que experimentarem qualquer coisa — cólera, sexo, violência — não há nenhuma "experimentador". Já notaram isso? Quando você está muito enraivecido, quando sente muita inveja, nesse momento está totalmente ausente o "eu", o "você" — o "experimentador". Este último só chega um instante após e você diz, então: "Estive com raiva" Portanto, os que dizem que sabem não sabem. Os que dizem ter experimentado a Realidade jamais a experimentaram, porque "experimentar" não significa apenas "passar por uma coisa", mas também reconhecê-la. Do contrário, não há experiência. Se eu já não lhe conhecesse, não poderia lhe reconhecer (e "lhe reconhecer" é experiência). Assim, a palavra "experiência" implica reconhecimento. Reconhecer implica que já conhecem; e o que já conhecem não pode ser o Real. Portanto, rejeitem completamente todos os sistemas. Tenham cautela com os que dizem "experimentei" e dos que dizem "sei". Não se deixem cair nessa armadilha. Esse é o meio de que eles se servem para explorar vocês.

Disseram que vocês devem se concentrar, que devem aprender a concentração. Vocês já investigaram o que implica a concentração? Implica ação da vontade, ou seja resistir a qualquer outro pensamento e focalizar toda a energia, todo o pensamento numa certa coisa, numa sentença, palavra ou frase, na recitação de mantras... repetir, repetir, repetir. Concentração implica resistência. Vocês resistem à infiltração de qualquer outro pensamento, ou controlam os seus pensamentos, para que não se ponham a divagar. A concentração pois, é vontade, na forma de resistência ou repressão, quando necessitamos de uma mente livre, uma mente viva, cheia de energia. A mente em constante conflito desperdiça energia, e vocês necessitam dessa energia. Assim, se puderem se desfazer de seus sistemas favoritos, se puderem ver como um fato verdadeiro que a concentração é meramente resistência e, por conseguinte, incessante conflito e desperdício de energia, estarão aptos a descobrir por si mesmos os requisitos necessários ao estado de meditação.

Podemos agora investigar juntos — não, "meditar juntos"? Este é um dos expedientes em uso: meditação coletiva: juntar-se uma porção de gente e todos de olhos fechados para meditar sobre isto ou aquilo. Nós estamos investigando em comum o que é meditação; não estamos "meditando em comum", pois vocês não sabem o que é meditação, só sabem o que os outros lhes disseram. Tenham cuidado com o que dizem os outros, inclusive este orador, pois vocês se deixam persuadir muito facilmente. E vocês se deixam persuadir porque estão muito ansiosos por experimentar algo que pensam ser maravilhoso. Portanto, não se deixem influenciar por este orador.

Averiguemos o que significa "a mente em meditação". Já dissemos que vocês tem de rejeitar todos os sistemas e métodos, todo desejo de experiência, e explicamos o que significa esse desejo, ou seja o "motivo" existente atrás do desejo de experiência. Assim, devem rejeitar todas essas e também tudo o que anda por aí com o nome de "meditação" — respirar de certa maneira, dançar, tornar-se emotivo, sentimental. Que é, pois, essa coisa chamada "meditação"? Vocês vão descobrir; não descobrir "como meditar", porém, a natureza e estrutura da mente que se acha totalmente livre, sem funcionar, sem nenhum movimento da vontade, porque vontade significa resistência. Vocês não estão aprendendo nada deste orador. Vocês são seu próprio guru e seu próprio discípulo, porque vocês é que precisam descobrir isso. Precisam aprender, em vez de imitarem ou seguirem autoridades.

Dessa forma, o principal é compreenderem a si mesmos, porque, sem essa compreensão, vocês não tem uma base racional para nenhum pensamento, nenhuma estrutura. Se não se compreendem, como podem compreender outra coisa qualquer, e muito menos uma coisa que talvez não exista? O primeiro movimento, pois, é compreenderem a si mesmos, verem-se exatamente como são e não como gostariam de ser. Compreendam-se. Malevolência, brutalidade, violência, avidez, inveja, torturante solidão e desespero — eis o que são vocês. E, por não terem sido capazes de compreender e ultrapassar o que são, inventaram o "eu superior", o "Atman" — um dos maiores artifícios com que se iludem. Deste modo, vocês tem o conflito entre o que são e o que pensam ser, ou como o Atman de vocês diz que "devem ser". Estão, pois, fazendo um jogo que não lhes ajuda a se compreenderem. Para compreenderem o que são, precisam olhar para si mesmos. Se quero conhecer aquela árvore ou aquele pássaro, tenho de olhá-lo. Cumpre-me olhar a mim mesmo, porque não sei o que sou. Devo aprender sobre o que sou, sem a ajuda de nenhum filósofo ou psicólogo, de nenhum livro, guia ou guru.

Averiguemos o que somos. Nós somos o dinheiro depositado no banco, somos invejosos, ambiciosos, corruptos, dizemos uma coisa e fazemos outra, somos hipócritas, nos mascaramos, nos dissimulamos; e, de permeio com tudo isso, há o sentimento de tristeza, de dor, de ansiedade, há lágrimas, há os tormentos da solidão. Eis o que somo; e, se não o compreenderem e ultrapassarem, como poderão algo de sumamente belo? Cabe a vocês, pois, compreenderem o que são; e surge aqui uma grande dificuldade: porque o que sois é um movimento constante, uma contínua mutação; não são permanente ávido, ou permanentemente violento, ou permanentemente "sexual": há mutação, movimento constante — viver. Compete a vocês compreender essa coisa viva e, para compreende-la, precisam observá-la, em cada minuto, como coisa nova. Percebem a dificuldade? Para compreender o que sou — uma entidade viva, e não uma coisa morta — tenho de me observar, e o que observo num minuto, tenho de largá-lo, para tornar a observá-lo no próximo instante. Estou, assim, observando em cada minuto, como coisa nova, uma entidade viva; não levo para o próximo minuto o que aprendi, a fim de, com este conhecimento, observar aquela coisa sempre nova. Se assim fizerem, verão que essa é uma das coisas mais fascinantes, porque, então, a mente retém muito pouco, conservando apenas o conhecimento técnico essencial, e nada mais. Desta maneira, ela esta apta a observar o movimento do "eu" — essa entidade tão complexa — não só no nível superficial, mas também profundamente.

(...) No nível superficial, e estando atento, vocês podem se observar, em cada minuto, de maneira nova. Mas, como irão observar os segredos de suas mentes, os ocultos "motivos", a complexa herança de vocês? Tudo isso existe, de forma oculta. Como vocês observarão? Observar não é analisar, mas, sim, estar vigilante durante o dia, percebendo todo o movimento, as mensagens indiretas e sugestões dos desejos secretos. Observem com o espírito aberto, para descobrirem os "motivos", as intenções, a tradição, o fundo hereditário.

Assim, observando todas essas coisas durante o dia, ao chegar a noite, irão dormir com a mente completamente quieta. Não terão, então, sonhos, porque os sonhos são a continuação, em forma simbólica, dos conflitos do dia; pois, compreendendo o movimento diário da vida de vocês, suas ambições, suas invejas, irritações, etc., estarão esvaziando a mente de todo o passado. Dessa forma, devem aprender sobre vocês mesmo, constantemente. Aprender é presente ativo. Há, então, disciplina. Vivemos a reprimir, a controlar, a ajustar, a imitar, e a isso chamamos "disciplina"; mas essa é a disciplina do soldado... Nessa espécie de disciplina que vocês tem, praticada pelo guru  de vocês e por todos os outros, não há liberdade nenhuma. Há decomposição, deterioração, ao passo que, no aprender sobre nós mesmos a todas as horas, e não "após ter aprendido", cria-se a ordem própria desse aprender.  Se estou aprendendo acerca do processo do viver, esse mesmo aprender traz sua ordem própria e, portanto, sua peculiar virtude. A virtude que se cultiva não é virtude. Há, pois, necessidade de conhecer a si mesmos, necessidade dessa ordem que é disciplina, e não deve haver nenhuma ação da vontade.

(...) Na ação da vontade há escolha — não quero fazer isto, quero fazer aquilo. Estão compreendendo?  Compreendam isso, por favor, porque, se não aprenderem tudo isso sobre vocês mesmos, terão uma vida de aflição. Dessa aflição poderão fugir, lutando. E só estas duas cosias vocês conhecem: resistir, fugir. Resistência significa luta. E, quanto à fuga, há toda uma cadeia de fugas: os templos, os gurus, as drogas, o beber, o sexo... E em tudo isso está implicada a vontade. Pode a pessoa viver, cada dia, sem o movimento e a ação da vontade, quer dizer, viver uma vida em que não haja escolha de espécie alguma?

Havendo escolha, há contradição. Só há escolha quando estão confusos, não? Quando não sei o que fazer, estou confuso; dessa confusão vem a escolha e, da escolha, a ação da vontade. Por que vocês estão confusos? A maioria das pessoas está; por que? Isso acontece porque não aceitam o que realmente é. Vocês querem mudá-lo noutra coisa. E, no momento em que o fazem, há conflito e, por causa desse conflito, confusão. A ação da vontade, pois, é produto da confusão.

A meditação é um movimento em que não existe nenhuma ação da vontade... Vocês necessitam de uma mente são, lógica, racional, e não de uma mente entorpecida. Se vocês têm luz, não precisam de mais nada, não há necessidade de se criarem esses centros chamados chakras  e kundalinis, que nunca alcançará aquele estado em que não existe o tempo, aquele estado de beleza, verdade, e amor.
Por conseguinte, rejeitem as velas os gurus e os livros que lhes oferecem. Não repitam nunca uma palavra que não tenha sido compreendida por vocês mesmos, que vocês mesmos não tenham provado e achado verdadeira.

Krishnamurti — Bombaim, 17 de fevereiro de 1971 

terça-feira, 12 de março de 2013

A autoridade espiritual impede a busca da verdade

Pergunta: Todos nós, os teosofistas, estamos fundamentalmente interessados na Verdade e no Amor, tanto como vós estais. Não podíeis ter ficado na nossa Sociedade, ajudando-nos, em vez vos separardes de nós e fazer-nos acusações?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, muitos de vós estais achando isso divertido; outros estão um tanto ou quanto agitados, outros apreensivos. Não o estais sentindo? Vamos investigar.

Fundamentalmente, estamos, vós e eu, procurando a mesma coisa? Pode-se procurar a verdade no seio de uma organização qualquer? Podeis colocar um rótulo em vós mesmos, e procurar a verdade? Podeis ser hinduísta e dizer "Estou procurando a verdade"? Porque, então, o que estais procurando não é a verdade, mas a confirmação de uma crença. Podeis pertencer a qualquer organização, a qualquer grupo espiritual, e procurar a verdade? Pode-se achar a verdade coletivamente? Conheceis o amor, quando credes? Não sabeis que quando credes fortemente numa coisa e eu creio no contrário, não existe amor entre nós? Quando credes em certos princípios hierárquicos e em certas autoridades, e eu não creio, pensais que existe comunhão entre nós? Quando toda estrutura do vosso pensar é o futuro, o vir-a-ser por meio da virtude, quando ides ser alguém no futuro, quando o processo do vosso pensar está baseado na autoridade e em princípios hierárquicos, pensais que existe amor entre nós? Podeis servir-vos de mim, por conveniência, e eu servir-vos de vós, por conveniência. Mas isso não é amor. Vejamos com clareza. Não vos agiteis a respeito destas questões. Não as compreendereis, se vos agitais por causa delas.

Para descobrir se realmente estais em busca da verdade e do amor, deveis investigar, não achais? Se investigásseis, se descobrísseis, interiormente, e, portanto, agísseis exteriormente, que aconteceria? Ficaríeis fora (da vossa sociedade) não é verdade? Se duvidásseis de vossas crenças, não estaríeis de fora? — Enquanto houver sociedades e organizações, — as chamadas organizações espirituais, com direitos adquiridos", na propriedade, na crença, no saber — as pessoas a elas pertencentes, evidentemente não estão em busca da verdade. Podem dizer que estão. Cabe-vos, pois, averiguar se estamos fundamentalmente, buscando a mesma coisa. Podeis ver a verdade por intermédio de um Mestre, por intermédio de um guru? Pensai bem nisso, senhores. É problema vosso. Pode-se descobrir a verdade por intermédio do Mestre, do discípulo, do guru? Que podem eles dizer-vos, fundamentalmente? Só podem aconselhar-vos a dissolver o "eu". Estais fazendo isso? Se não estais, então, evidentemente, não estais procurando a verdade. Não sou eu que vos estou dizendo que não estais procurando a verdade, mas o fato é que se dizeis: "Vou ser alguém", se ocupais uma posição de autoridade espiritual, não podeis estar em busca da verdade. Sou muito claro, a respeito desses assuntos e não procurando persuadir-vos a aceitar ou rejeitar — o que seria estupidez. Não posso fazer-vos acusações, como diz o interrogante. Apesar de me ouvir há vinte anos, continuais com as vossas crenças; porque é uma coisa muito reconfortante sabermos que temos quem cuide de nós, que temos mensageiros especiais para o futuro, que ides ser algo belo, agora, no final dos tempos. Assim continuareis, porque tendes os vossos "direitos adquiridos", em vossa propriedade, vosso emprego, crença, saber. Não duvidais deles. A mesma coisa acontece no mundo inteiro. Não é só este ou aquele grupo de indivíduos, mas todos os grupos — católicos, protestantes, comunistas, capitalistas — se acham nas mesmas condições. Todos têm os seus direitos adquiridos. O homem que é deveras revolucionário, que interiormente está percebendo a verdade sobre todas essas coisas, esse homem achará a verdade. Saberá o que é o amor, não numa data futura, porque isso nenhum valor tem. Quando um homem tem fome, quer comer agora e não amanhã. Mas vós tendes cômodas teorias, sobre o tempo, sobre o correr do tempo, a que estais presos. Por conseguinte, onde há ligação, onde há relação entre vós e mim, ou entre vós e aquilo que estais tentando descobrir? E, no entanto, todos falais de amor, de fraternidade, e tudo o que fazeis é o contrário. É um fato evidente, senhores, que no momento em que há organização, há necessariamente intrigas para a conquista de postos, de autoridade; conheceis muito bem tudo isso.

Assim, o necessário não é que eu vos acuse ou que vós me acuseis e me expulseis. O problema não é este. É claro que tendes de repelir um homem que vos diz que o que credes, o que fazeis é errado; ou, interiormente, deveríeis fazê-lo, porque eu digo que me oponho aquilo que desejais. Se realmente desejais procurar, se realmente desejais achar a verdade e o amor, deve haver uma unidade de propósitos, abandono completo de todos os vossos direitos adquiridos; o que significa que deveis ficar interiormente vazios, pobres, sem estar buscando, sem estar conquistando posições de autoridade, como expoentes ou portadores de mensagens dos Mestres. Precisais estar despojados de tudo. Como, entretanto, não desejais isso, naturalmente adquiris rótulos, crenças e várias formas de segurança. Senhores, não rejeiteis o que digo; averiguai se de fato estais — como dizeis — fundamentalmente em busca da verdade. Tenho minhas dúvidas. Duvido, realmente, quando vos ouço dizer "estou em busca da verdade". Não podeis procurar a verdade, porque a vossa busca é uma projeção de vós mesmos, de vossos próprios desejos; vosso "experimentar" dessa projeção é uma experiência que desejais. Mas quando não estais a buscar, quando a mente se acha quieta e serena, sem nenhum desejo, nenhum motivo, nenhuma compulsão, vereis então que vem o êxtase. Para que o êxtase venha, precisais estar despojados de tudo, vazios, sós. A maioria das pessoas ingressa em tais organizações porque são gregárias, porque elas são grêmios e o ingressar em grêmios tem suas vantagens, socialmente falando. Pensais que ides achar a verdade, enquanto estais em busca de conforto, de satisfação, de segurança social? Não, senhores; deveis ficar sós, sem arrimo algum, sem amigos, sem guru, sem esperança, de todos desnudos, e vazios, interiormente. Só então, assim como se pode encher uma taça vazia, pode o vazio interior encher-se com aquilo que é eterno.

Krishnamurti — 20 de janeiro de 1952
Quando o pensamento cessa - ICK  

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Você tem que ser o seu próprio mestre

O orador não é de todo importante; o que é importante é que você descubra essas coisas por você mesmo, para que seja um ser humano livre e não de segunda-mão. Você tem que olhar para descobrir, descobrir se é ou não é possível para a mente ficar completa e totalmente livre dessa violência, orgulho e arrogância, e assim se deparar com um estado completamente diferente. E para descobrir, você tem que olhar muito intimamente e descobrir por si mesmo; então isso é seu, não de outra pessoa, não algo que lhe disseram, pois não há nenhum mestre e nenhum seguidor. Infelizmente a palavra “guru” tem sido recentemente difundida neste país; a palavra em sânscrito significa “aquele que aponta”, como uma placa na beira da estrada. No entanto, você não adora essa placa, não pendura guirlandas em torno dela, nem a segue e realiza todas as misteriosas ordens que um guru supostamente dá; ele é somente uma placa de sinalização na beira da estrada, você a lê e passa por ela.

Portanto você tem que ser o seu próprio mestre e seu próprio discípulo, e lá fora não existe nenhum instrutor, nenhum salvador, nenhum mestre; você mesmo tem que mudar, e por isso tem que aprender a observar para se conhecer. Este aprendizado sobre si mesmo é um assunto fascinante e alegre.…

Krishnamurti. Talks with American Students, p 98

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Você tem que ser o seu próprio mestre

O orador não é de todo importante; o que é importante é que você descubra essas coisas por você mesmo, para que seja um ser humano livre e não de segunda-mão. Você tem que olhar para descobrir, descobrir se é ou não é possível para a mente ficar completa e totalmente livre dessa violência, orgulho e arrogância, e assim se deparar com um estado completamente diferente. E para descobrir, você tem que olhar muito intimamente e descobrir por si mesmo; então isso é seu, não de outra pessoa, não algo que lhe disseram, pois não há nenhum mestre e nenhum seguidor. Infelizmente a palavra “guru” tem sido recentemente difundida neste país; a palavra em sânscrito significa “aquele que aponta”, como uma placa na beira da estrada. No entanto, você não adora essa placa, não pendura guirlandas em torno dela, nem a segue e realiza todas as misteriosas ordens que um guru supostamente dá; ele é somente uma placa de sinalização na beira da estrada, você a lê e passa por ela.

Portanto você tem que ser o seu próprio mestre e seu próprio discípulo, e lá fora não existe nenhum instrutor, nenhum salvador, nenhum mestre; você mesmo tem que mudar, e por isso tem que aprender a observar para se conhecer. Este aprendizado sobre si mesmo é um assunto fascinante e alegre.…

Krishnamurti. Talks with American Students, p 98

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Você mesmo não é um guru?

Pergunta: Apesar de sua enfática negação da necessidade de um guru, você mesmo não é um guru? Qual é a diferença?

Krishnamurti: Senhor, o que você quer dizer com guru? Por que você precisa de um guru? Se você me transforma em um ou não, eu não estou me fazendo de guru para você. Por isso um seguidor é uma maldição. O seguidor é o destruidor, o seguidor é o explorador. (Riso) Não ria, pense nisso muito seriamente e veja a consequência disto. Vamos examinar esta questão. O que você quer dizer com guru? Geralmente você quer dizer – não é? – aquele que vai levá-lo à realidade. Seu guru não é o homem a quem você pode perguntar a direção da estação. Você não chamaria o professor de guru, o homem que lhe ensina piano. Obviamente, você quer dizer com guru aquele que vai levá-lo à verdade, lhe dar um modo de conduta, aquele que lhe dará a chave ou abrirá a porta, lhe dará nutrição, sustento e coragem – isto é, alguém que vai gratificá-lo profundamente. Você já conhece as gratificações superficiais, e quer uma gratificação mais profunda, uma satisfação profunda, então se volta para alguém que irá ajudá-lo; você busca um guru porque você mesmo está confuso, e quer direção, quer que lhe digam como agir e o que fazer. Então todas essas coisas estão envolvidas nisto; mas por guru queremos dizer, principalmente, aquele que vai nos ajudar a elucidar os problemas da vida – não os problemas técnicos, mas os problemas psicológicos mais sutis, ocultos. Agora, tem a verdade um lugar permanente? Tem a verdade um ponto fixo? Tem a verdade domicílio fixo, ou a verdade é dinâmica, uma coisa viva, e, portanto sem lugar de repouso? A verdade está em constante movimento; mas se você diz que ela é um ponto fixo, então terá que encontrar um guru que levará você até ela, e o guru se torna necessário como indicador. Significa que você e o guru devem saber que a verdade está lá, num lugar fixo, como a estação. Então você pode perguntar o caminho, então pode chegar ao ponto fixo; e para conseguir isso, precisa de um guru que vai guiá-lo e levá-lo àquela coisa fixa. Mas a verdade é uma coisa fixa? E se é fixa, é verdadeira? Também, se você quer a verdade e vai a um guru, deve saber o que a verdade é, não deve? Quando você vai até um guru, não diz “Eu quero descobrir a realidade”, ao contrário, você diz “Ajude-me a perceber a verdade”. Portanto, você já tem uma ideia do que ela é, já conhece seu conteúdo, sua beleza, seu encanto, sua fragrância. Você sabe o que ela é? Como pode um homem confuso conhecer a clareza? Ele só pode conhecer a confusão, ou pensa em clareza com o oposto do que é.

Krishnamurti - Poona India 6th Public Talk 3rd October, 1948

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A exposição de brilhantismo apenas cega

Pergunta: Em vez de dirigir-se a multidões heterogêneas em vários lugares e deslumbrá-las e confundi-las com seu brilhantismo e sutileza, por que não dá início a uma comunidade ou colônia e cria uma referência para seu modo de pensar? Você receia que isso nunca possa ser feito?

Krishnamurti: Senhor, brilhantismo e sutiliza deveriam ser sempre mantidos encobertos porque muita exposição de brilhantismo apenas cega. Não é minha intenção cegar ou demonstrar inteligência, isso é muito estúpido, mas quando a pessoa vê as coisas muito claramente não pode evitar de expô-las muito claramente. Você pode pensar que isto é brilhante e sutil. Para mim o que estou dizendo não é brilhante: é óbvio. Esse é um fato. O outro é, você quer que eu funde um 'ashram' ou uma comunidade. Ora, por quê? Por que quer que eu funde uma comunidade? Você diz que isso atuará como uma referência, ou seja, uma coisa que pode ser apontada como uma experiência bem sucedida. É isso que implica uma referência, não é? - uma comunidade onde todas estas coisas são levadas a cabo. É isso que você quer. Eu não quero fundar um 'ashram' ou comunidade, mas você quer. Ora, por que você quer tal comunidade? Eu lhe direi por quê. É muito interessante, não é? Você quer porque gostaria de juntar-se a outras pessoas e criar uma comunidade, mas não quer começar uma comunidade com você mesmo, quer alguma outra pessoa para fazê-lo, e quando estiver pronta, você se juntará a ela. Em outras palavras, senhor, você tem medo de começar por sua conta portanto quer uma referência. Ou seja, você quer uma coisa que lhe dará autoridade de um tipo que pode ser levada a cabo. Em outras palavras, você mesmo não é confiante e daí diz, “Funde uma comunidade e me juntarei a ela.”. Senhor, onde você está pode fundar uma comunidade mas só pode fundar a comunidade quando tiver confiança. O problema é que você não tem confiança. Por que você não é confiante? O que quero dizer com confiança? O homem que quer obter um resultado, que consegue o que quer, está cheio de confiança – o homem de negócios, o advogado, o policial, o general, todos são cheios de confiança. Ora, aqui você não tem confiança. Por que? Pela simples razão que você não experimentou. No momento em que experimentar isso, terá confiança. Ninguém mais pode lhe dar confiança. Nem livro, nem professor podem lhe dar confiança. Encorajamento não é confiança; o encorajamento é meramente superficial, infantil, imaturo. A confiança vem quando você experimenta e quando você experimenta com nacionalismo, com a mínima coisa, então experimentando terá confiança, porque sua mente estará viva, flexível; e então onde você estiver haverá um 'ashram', você mesmo fundará a comunidade. Está claro, não está? Você é mais importante que qualquer comunidade. Se você aderir a uma comunidade, será como você é – terá alguém para chefiá-lo, terá leis, regulamentos e disciplina, será um outro senhor Smith ou senhor Rao nesta comunidade desagradável. Você quer uma comunidade apenas quando quer ser dirigido, que lhe digam o que fazer. O homem que quer ser dirigido está cônscio de sua falta de confiança em si mesmo. Você pode ter confiança, não falando sobre autoconfiança, mas só quando você experimente, quando tenta. Senhor, a referência é você, então, experimente, quem quer que seja você, em qualquer nível de pensamento. Você é a única referência, não a comunidade; e quando a comunidade se torna a referência, você está perdido. Espero que haja muitas pessoas se juntando e experimentando, tendo completa confiança e portanto, ficando juntas, mas você sentar do lado de fora e dizer, “Por que você não forma uma comunidade para eu aderir?”, é obviamente uma pergunta tola.

J. Krishnamurti The Collected Works, Vol. V

domingo, 30 de dezembro de 2012

O aprendizado espiritual não pode vir das palavras

Eu não posso dar a você o meu entendimento. Eu posso falar acerca dele, mas não posso dá-lo a você. Você terá que encontrá-lo. Você terá que entrar na vida. Você terá que errar; você terá que falhar; você terá que passar por muitas frustrações. Mas somente através das falhas, dos erros, das frustrações, somente através do encontro do real viver, você chegará à meditação. Este é o motivo pelo qual eu digo que meditação é crescimento.

Algo pode ser compreendido, mas o entendimento que vem através do outro nunca pode ser mais do que intelectual. Eis porque Krishnamurti pede o impossível. Ele diz: "Não me entenda intelectualmente" — mas nada, exceto o entendimento intelectual, "pode vir de outro alguém". Eis porque o esforço de Krishnamurti tem sido absurdo. O que ele está dizendo é autêntico, mas quando exige mais do que compreensão intelectual do ouvinte, é impossível. Nada mais pode vir de alguém, nada mais pode ser entregue.

Mas o entendimento intelectual pode ser o bastante. Se você entender o que estou dizendo intelectualmente, você pode também entender o que não foi dito. Você pode também entender os vazios; o que eu não estou dizendo, o que eu não posso dizer. O primeiro entendimento tende a ser intelectual, porque o intelecto é a porta. Nunca pode ser espiritual. A espiritualidade é a luz interior.

Eu posso comunicar-me com você apenas intelectualmente. Se você pode realmente entender, então o que não foi dito pode ser sentido. Eu não posso me comunicar sem palavras, mas quando estou usando palavras, estou também usando silêncios. Você terá de estar consciente de ambos. Se somente as palavras estão sendo entendidas, então é uma comunicação; mas se você pode estar consciente dos vazios também, então é uma comunhão.

O indivíduo tem de começar em algum lugar. Todo começo tende a ser um falso começo, mas o indivíduo tem de começar. Através do falso, através do apalpar, a porta é encontrada. O indivíduo que pensa que começará apenas quando o começo correto estiver ali, nunca começará. Mesmo um passo falso é um passo na direção correta. Por que é um passo, um começo. Você começa a apalpar no escuro e através do apalpar a porta é encontrada.

Eis porque eu disse para estar consciente do processo linguístico — o processo das palavras — e para buscar uma consciência dos vazios, dos intervalos. Haverá momentos em que não haverá esforço consciente de sua parte e você se tornará consciente dos vazios. Este é o encontro com o Divino, o encontro com o existencial.

Quando quer que haja um encontro, não fuja dele. Esteja com ele. Será assustador em princípio; é propenso a ser. Quando quer que o desconhecido é encontrado, o medo se cria, porque para nós o desconhecido é morte. Assim, quando quer que haja um vazio, você sentirá a morte vindo para você. Então, morra! Apenas esteja nela e morra completamente no vazio. E você será ressuscitado. Por morrer sua morte no silêncio, a vida é ressuscitada. Você está vivo pela primeira vez, realmente vivo.

Assim, para mim, meditação não é um método, mas um processo; meditação não é uma técnica, mas um entendimento. Não pode ser ensinada; pode ser apenas indicada. Você não pode ser informado sobre ela, porque nenhuma informação é realmente informação. Ela é do externo e a meditação surge das suas próprias profundezas interiores.

Assim, procure, seja um buscador e não seja um discípulo. Então você não será um discípulo de algum guru, mas um discípulo da vida total. Então você não estará apenas aprendendo palavras. O aprendizado espiritual não pode vir das palavras, mas dos vazios, dos silêncios que lhe estão sempre cercando. Eles estão lá, até mesmo na multidão, no mercado, no bazar. Busque os silêncios, busque os vazios internos e externos e um dia você descobrirá que está em meditação.

A meditação vem para você. Ela sempre vem; você não pode trazê-la. Mas o indivíduo tem de estar em busca dela, porque somente quando você estiver em busca, você estará aberto para ela, vulnerável a ela. Você é um anfitrião dela. A meditação é um convidado. Você pode convidá-la e esperá-la. Ela vem a Buda, vem a Jesus, ela vem a todo o que está pronto, que está aberto e buscando.

Mas não a aprende de algum lugar; caso contrário, você será enganado. A mente está sempre procurando alguma coisa mais fácil. Isto se torna a fonte para a exploração. Então há gurus e charlatões, e a vida espiritual é envenenada.

A pessoa mais perigosa é aquela que explora o ímpeto espiritual de alguém. Se alguém rouba de você sua saúde, não é tão sério, se alguém falha com você não é tão sério, mas se alguém o engana e mata ou mesmo posterga o seu ímpeto em direção à meditação, em direção ao Divino, em Direção ao êxtase, então o pecado é grande e imperdoável.

Mas isto está sendo feito. Então esteja consciente disto e não pergunte a ninguém, "O que é meditação? Como meditar?" Ao invés disto, pergunte quais são os obstáculos, quais são os empecilhos. Pergunte porque não estamos sempre em meditação, onde o crescimento foi interrompido, onde fomos mutilados. E não busque um guru, porque os gurus são mutiladores. Qualquer um que dá fórmulas prontas não é um amigo, mas um inimigo.

Tateie no escuro. Nada pode ser feito. O próprio apalpar tornar-se-á o entendimento que o libertará da escuridão. Jesus disse: "A verdade é liberdade". Entenda esta liberdade. A verdade é sempre através do entendimento. Ela não é alguma coisa que você encontra e acha, é alguma coisa para dentro da qual você cresce. Assim, esteja na busca do entendimento, porque quanto mais entendido você se tornar, mais próximo estará da verdade. E em algum momento imprevisível, desconhecido, inesperado, quando o entendimento chegar a um apogeu, você estará no abismo. Você não é mais e a meditação é.

Quando você não é mais, você está em meditação. Meditação não é mais de você; está sempre além de você. Quando você está no abismo, a meditação está lá. Então o ego não está; então você não está.Então o ser é. Eis o que as religiões querem dizer por Deus: o ser supremo. Esta é a essência de todas as religiões, de todas as buscas, mas não será encontrada pronta em nenhum lugar. Assim, esteja alerta de todo aquele que a proclama.

Continue a tatear e não tenha receio do fracasso. Admita falhas, mas não repita as mesmas falhas. Uma vez é tudo; é o bastante. A pessoa que continua a errar em busca da verdade é sempre perdoada. É uma promessa das próprias profundezas da existência.

OSHO - A psicologia do Esotérico   

domingo, 16 de dezembro de 2012

Não há coisa mais destruidora e maligna do que o seguir alguém

Interrogante: Que confiança podemos ter no orador, para sabermos que o que ele diz é verdadeiro? E que confiança podemos depositar nele, para sabermos que nos está conduzindo corretamente?

Krishnamurti: Estamos tratando de matéria de “guiar”, “ter confiança?” temos tido guias de toda espécie, políticos e religiosos. Não estais fartos de guias? Já não lançastes ao mar ou ao rio tudo isso, para não terdes mais guia nenhum? Ou continuais, após estes dois milhões de anos, a buscar um guia? Porque os guias destroem os seguidores, e os seguidores destroem o guia. Porque devemos ter fé em alguém?

Este orador não necessita de vossa fé, não está a arvorar-se em autoridade, porque toda espécie de autoridade — principalmente no campo do pensamento, da compreensão — é a coisa mais destruidora e maligna que há. Portanto, não estamos tratando deste assunto de “guiar”, de “ter fé” no guia ou no orador. Estamos dizendo que cada um de nós, cada um de nós como ente humano, tem de ser seu próprio guia, instrutor, discípulo, tudo. Tudo o mais já falhou: as igrejas, os líderes, políticos, os cabos de guerra, os que têm querido criar uma sociedade maravilhosa e nunca o conseguiram. Portanto, tudo depende de vós, agora, de vós, o ente humano que contém em si toda a humanidade; a responsabilidade é vossa. Por conseguinte, deveis tornar-vos intensamente cônscio de vós mesmo, de tudo o que dizeis, de como o dizeis, de tudo o que pensais e dos motivos existentes na vossa busca de prazer.

Krishnamurti – Como viver neste mundo

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Sobre o condicionamento da busca de instrutores espirituais

Pergunta: tenho andado de instrutor em instrutor, a buscar, e agora vim ter com você, movido por esse mesmo espírito de busca. Você é alguma coisa diferente de todos os outros, e como poderei sabê-lo?

Krishnamurti: Ora, você está realmente a buscar, e que significa "buscar"? Você compreende esta pergunta? Você está, evidentemente, a buscar alguma coisa, mas o que? Essencialmente, busca um estado de espírito que nunca possa ser perturbado e a que chama "paz", "Deus", "amor", etc. Não é assim? Nossa vida é cheia de perturbação, de ânsias, de medo, de escuridão, de agitações, de confusão, e queremos fugir de tudo isso; mas, quando um homem confuso busca, sua busca se baseia no seu estado confuso e, por conseguinte, o que ele encontra é mais confusão. Está me seguindo?

Em primeiro lugar, pois, devemos indagar porque buscamos, e que é que buscamos. Você pode andar de instrutor em instrutor, e cada instrutor oferecer um diferente método de disciplina ou meditação, alguma prática absurda. Nessas condições, o importante não é o instrutor e aquilo que ele oferece, mas, sim, que você saiba o que é que você mesmo está buscando. Se sabe com clareza o que está buscando, encontrará então um instrutor que lhe ofereça tal coisa. Se busca a paz, encontrará um instrutor que lhe oferecerá a paz. Mas isso que você busca por não ser verdadeiro, em absoluto. Compreende? Posso desejar uma felicidade perfeita, o que significa um inalterável estado de espírito, em que haverá tranquilidade completa, sem conflito, sem dores, sem indagação, sem dúvidas; assim sendo, ponho-me a praticar uma certa disciplina oferecida por algum instrutor, e tal disciplina poderá produzir seu resultado próprio, ao qual chamo "paz". Eu obteria o mesmo efeito se tomasse um narcótico, uma pílula; mas tal proceder não é respeitável, e o outro é (risos). Por favor, senhores, isto não é coisa para rir, pois é o que de fato estamos fazendo.

Pois bem, aquilo que você busca, achará, se você está disposto a pagar o seu preço. Se você se coloca nas mãos de outro, se segue alguma autoridade, alguma disciplina, se você se controla, descobrirá o que deseja, o que significa que seu desejo está ditando a sua busca; mas o que realmente acontece é que você não está cônscio dos fatores que lhe estão impelindo à busca, e você vêm perguntar a mim qual é minha posição e como você pode saber se o que estou dizendo é verdadeiro ou falso. Depois de você ter estado com vários instrutores, de ter sido iludido, de ter-se queimado, vem agora experimentar mais este. Mas eu não estou lhe dando instrução nenhuma, absolutamente nenhuma. O que estou dizendo é só que conheça a si mesmo, mais e mais profundamente, que se veja exatamente como é; e isso ninguém lhe pode mostrar. Mas você não pode ver exatamente como é, se está acorrentado por crenças, por dogmas, por superstições, por temores.

Senhores, para a mente incapaz de "estar só", a busca nenhuma significação pode ter. "Estar só" é ser incorruptível, simples, livre de toda tradição, todo dogma, toda opinião, do que outro diz, etc. etc. Essa mente não busca, porque nada há que buscar; sendo livre, ela é serena, sem desejos, imóvel. Mas, tal estado não pode ser alcançado, não é uma coisa que se compra com disciplina; ele não se manifesta pelo fato de você abandonar as atividades sexuais ou de você praticar uma certa ioga. Só se manifesta quando se tem a compreensão dos movimentos do "eu", do "ego", que se revela pela mente consciente, nas atividades de cada dia, bem como no inconsciente. O importante é compreendermos por nós mesmos, e não sob a orientação de outros, todo o conteúdo de nossa consciência, que está condicionada, que é o resultado da sociedade, da religião, de choques vários, impressões, memórias — compreendermos todo esse condicionamento e nos libertarmos dele. Mas, não há "como" ser livre. Se você pergunta como pode ser livre, não está me escutando verdadeiramente.

Suponhamos por exemplo, que eu lhe diga que a mente tem de ser totalmente "descondicionada". Ora, como é que você escuta uma declaração dessa ordem? Com que atenção você escuta? Se, como espero, você está observando a sua própria mente, perceberá que está dizendo interiormente: "Que coisa impossível!", ou "Isto é irrealizável", ou "O condicionamento só pode ser modificado", etc. Por outras palavras, você não está escutando atentamente aquela declaração, mas está lhe impondo suas próprias opiniões, suas próprias conclusões, seus próprios condicionamentos; por conseguinte, não há atenção nenhuma.

O fato é que a mente está condicionada, seja como comunista, seja como católica, protestante, hinduísta, etc. e, ou não estamos cônscios desse condicionamento, ou o aceitamos, ou, ainda, tentamos alterá-lo, enobrecê-lo, mudá-lo; mas nunca fazemos a pergunta: Pode a mente ficar totalmente livre de condicionamento? Antes de você poder fazer esta pergunta a si mesmo, com toda atenção, precisa estar consciente de que a sua mente está condicionada, como é bem óbvio que está. Compreende o que entendo por "condicionamento?" Não me refiro ao condicionamento superficial da linguagem, dos gestos, dos costumes, etc; estou falando do condicionamento num sentido muito mais profundo e fundamental. A mente está condicionada quando é ambiciosa, não só mundanamente, mas também ambiciosa de se tornar espiritual. Todo esse esforço de automelhoramento resulta de condicionamento; e pode a mente ficar totalmente livre de tal condicionamento? Se de fato você fizer esta pergunta a si mesmo, com muita atenção, não deixará de encontrar a resposta correta, e esta resposta não é que isso é possível ou impossível, pois o que ocorre é uma coisa completamente diferente.

Krishnamurti - Realização Sem Esforço

domingo, 25 de novembro de 2012

Não vá a nenhum mestre, vá a si mesmo!

A iluminação é sempre repentina. Não existe nenhum processo gradual que possa alcançá-la, porque todas as graduações pertencem à mente, e a iluminação não é mental. Todos os degraus pertencem à mente; e a iluminação está além da mente. Assim é impossível crescer em direção à iluminação; pode-se apenas saltar para dentro dela. É impossível mover-se passo a passo; não existe nenhum passo. A iluminação é como um abismo: ou você salta ou não salta.

É impossível iluminar-se aos poucos, parcialmente. A iluminação é uma totalidade — ou você está ou não está. Não acontece em progressões graduais. Lembre-se disto como algo básico: acontece sem fragmentos, completa, total. E justamente por ser um todo é que a mente não pode compreendê-la. A mente só entende o que pode ser dividido, o que pode ser alcançado por etapas porque é analítica, divisória, fragmentária. A mente pode entender as partes, mas o todo sempre a ilude. Por isso, se ouvir a mente, você nunca chegará à iluminação.

(…) O que é iluminar-se? É tornar-se consciente de si mesmo. Não é nada que diga respeito ao mundo exterior. Não é nada que se possa fazer com o que os outros dizem. O que os outros dizem é irrelevante. Você está aqui! Para que ir consultar a Bíblia, o Alcorão, o Gita? Feche seus olhos — e eis você em sua infinita glória. Feche seus olhos e as portas se abrem. Você está aqui, não precisa ir perguntar a ninguém. Se perguntar, não compreenderá. O próprio perguntar demonstra que você pensa que está em algum outro lugar. O próprio perguntar demonstra que você está pedindo por um mapa. Para o mundo interior não existe nenhum mapa; não há necessidade, porque você não está caminhando para um destino desconhecido.

Na realidade, você não está caminhando.

Você está aqui. Você é a meta. Não é o caminhante, é o iluminado. O que é estar iluminado? Um estado: quando você procura no exterior, não está iluminado; quando procura no interior, está. A única diferença está no enfoque. Ao enfocar fora, não está iluminado; ao enfocar dentro, está. Assim, tudo depende de uma mudança de direção.

A palavra cristã “conversão” é bela. Mas os cristãos a têm usado de um modo horrível. Conversão não significa fazer de um hindu um cristão ou tornar um cristão hindu. Conversão significa retorno. Conversão significa retornar à fonte, voltar para o interior. Só quando isto acontece, você está convertido. Sua consciência pode fluir em duas direções: para fora ou para dentro. Estes são os dois leitos pelos quais a torrente da sua consciência pode fluir. Para fora, pode fluir por muitas e muitas vidas, sem nunca encontrar a meta, pois a meta está na fonte. O objetivo não está na frente, está atrás. O objetivo não está em algum lugar ao qual você possa chegar. Está em algum ponto que você já deixou. A meta é a fonte. Isto tem de ser compreendido profundamente. Se você puder retornar ao primeiro ponto do seu ser, terá encontrado o alvo.

Iluminar-se significa retornar á fonte e a fonte está em seu interior: a vida está fluindo aí, fluindo, palpitando, continuamente batendo. Por que perguntar aos outros? Estudar significa perguntar aos outros. Perguntar sobre si mesmo aos outros?

isto é uma tolice por excelência. Isto é um absurdo total — perguntar sobre si mesmo aos outros. O significado do estudo é este: procurar pela resposta. Mas você é a resposta!

(…) Outro ponto a ser lembrado: seu ser é vida e nenhuma escritura pode estar viva. As escrituras estão fadadas a morrer. As escrituras são cadáveres. E você pergunta à morte sobre a vida. Não é possível! Krishna não será de muita ajuda, nem Jesus — a menos que você se torne Krishna ou Jesus. A vida não pode ser respondida pela morte. E se você pensar que encontrará a resposta, ficará cada vez mais limitado pelas respostas, e a resposta permanecerá desconhecida. Isso é o que acontece a um homem que estuda, que pensa, que filosofa. Fica cada vez mais limitado pelos seus próprios esforços — palavras, palavras, palavras — e se perde. Mas a resposta sempre esteve nele. Apenas um retorno é necessário.

Não, ninguém pode responder. Não vá a nenhuma pessoa, vá a si mesmo! Quando você encontra um Mestre, tudo o que ele pode fazer é auxiliá-lo a encontrar a si mesmo; só isso. Nenhum mestre pode lhe dar a resposta. Nenhum mestre pode lhe dar a chave. O mestre só pode auxiliá-lo a olhar para o seu interior. Apenas isto. A chave está aí, o tesouro está ai, tudo está aí.

OSHO        

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Podemos nos manter despertos, livres de toda dependência?

Pensamos ter necessidade de instrutores, de gurus, de guias, para sermos ajudados a conservar-nos despertos. E esta é provavelmente a razão da presença, aqui, da maioria de vós: desejais que um outro vos ajude a manter-vos despertos. Se alguém pode ajudar-vos a ficar desperto, ficais na dependência dessa pessoa, que se torna vosso instrutor, vosso guia, vosso líder. Ela poderá estar desperta — não sei — mas se estais dependendo dela, estais dormindo. (Risos). Por favor, não riais, porque o caso é sério; pois é isso mesmo o que todos nós fazemos na vida. Se não estamos dependendo de um guia, dependemos de um grupo, dos nossos filhos, dum livro, ou dum disco de gramofone. 

Assim sendo, há possibilidade de nos mantermos despertos, livres de toda dependência, — dependência de drogas, de gurus, de disciplinas, de imagens, de qualquer coisa, emfim? Quando experimentais isso, podeis cometer algum erro, mas dizeis: "Não importa, quero continuar desperto". Entretanto, isso é dificílimo, já que dependemos tanto dos outros! Precisamos de ser estimulados por um amigo, um livro, música, ritos, pelo frequentar com regularidade certas reuniões; e tal estímulo poderá manter-vos desperto, temporariamente. Mas, tanto vale tomar um copo de bebida. Quanto mais uma pessoa depende de estímulos, tanto mais embotada se torna sua mente, e a mente que está embotada precisa de ser guiada, precisa seguir, precisa de uma autoridade, porque do contrário ficará desorientada. 

Se percebermos esse extraordinário fenômeno psicológico, não será possível ficarmos livres, interiormente, de qualquer espécie de dependência, de qualquer estímulo a nos mantermos despertos? Por outras palavras, a mente não será capaz de nunca se escravizar a um hábito? Isso, com efeito, significa, abandonar tudo o que temos aprendido, abandonar todas as coisas que acumulamos de ontem para hoje, para que a mente possa, mais uma vez, ser fresca, nova. A mente não é nova, se não morrer para todas as coisas de ontem, todas as experiências, invejas, ressentimentos, amores, paixões, pois só assim ela poderá de novo ser fresca, ardorosa, desperta e, portanto, capaz de atenção. Não há dúvida de que, só quando está livre de todo sentimento de dependência interior, a mente poderá se encontrar com o Imensurável. 

Krishnamurti — Realização sem esforço - pág. 74-75 - 20 de ahosto de 1955 
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill