Para compreenderem a causa da
autoridade, precisam seguir o processo mental e emocional que a cria.
Para mim, o homem que está
limitado por uma lei externa ou interna está confinado numa prisão, está preso
numa ilusão. Desse modo, tal homem não pode compreender a ação espontânea,
natural e sã.
(...)
Se um homem deseja obedecer e
seguir a um outro, ninguém o pode impedir; porém é o superlativo da falta de
inteligência e leva a grande infelicidade e frustração.
Se aqueles de vocês que estão me
ouvindo, começarem a pensar real e profundamente a respeito da autoridade, não
mais seguirão a ninguém, inclusive a mim mesmo. Como disse, porém, é muito mais
fácil seguir e imitar do que, realmente, libertar o pensamento da limitação do
medo, e bem assim, da compulsão e da autoridade. Admitir a autoridade é se
abandonar à influência de outro, o que implica sempre o propósito, o desejo de
se obter algo em retorno; ao passo que na outra há absoluta insegurança; e como
as pessoas preferem a ilusão do conforto, da segurança, seguem a autoridade com
sua frustração. Se, porém, a mente discerne a ilusão de conforto ou da
segurança, nasce a inteligência, o desconhecido, a essência da vida.
(...)
O seguir a outrem não é
aconselhável, nem tão pouco o é a aceitação da autoridade, pois que nestas coisas
há medo; e o medo destrói todo o discernimento.
(...)
Quase todas as pessoas são
inconscientes tanto da inteligência como da estupidez que a cerca. Porém, como
poderá cada indivíduo averiguar o que é estupidez e o que é inteligência, se
seu pensamento e ação estão baseados no medo e na autoridade? Individualmente,
temos de nos tornar percebidos, conscientes dessas condições de limitadoras.
(...)
Por meio da ansiedade, do desejo,
gera-se o medo, e deste surge a busca de conforto e segurança, encontrados na
autoridade da experiência.
(...)
Esta autoridade em suas várias
formas sustenta o processo do "eu", que se baseia no medo.
Considerai os pensamentos, atividades
e a natureza da moral de vocês, e verão que estão baseados no medo que se quer
proteger a si próprio com suas autoridades sutis e confortadoras. Deste modo, a
ação nascida do medo está sempre limitando a si própria e, portanto, esse
processo do "eu" é mantenedor de si mesmo, por meio de suas atividades
desejantes.
(...)
Se a autoridade deve existir ou
não, na escola ou na família, é coisa que terá resposta, quando vocês próprios
compreenderem o inteiro significado da autoridade.
O que eu entendo por autoridade é
a conformação, pelo medo, a um molde particular, seja o padrão do ambiente, o
da tradição, o do ideal ou o da memória. Tomai a religião tal qual ela é. Nela observam
que, por meio da fé e da crença, o homem foi aprisionado numa prisão de
autoridade, porque cada um está buscando a sua própria segurança, através
daquilo que ele chama imortalidade. Isto nada mais é que egoísta ânsia de
continuidade, e o homem que afirma existir a imortalidade proporciona uma
garantia à sua segurança.
Assim, gradualmente, por meio do
medo, ele chega a aceitar a autoridade, a autoridade das ameaças religiosas,
dos temores, das superstições, das esperanças e das crenças. Ou então, rejeita
as autoridades externas e desenvolve os seus próprios ideias pessoais, que se
tornam autoridades próprias, apegando-se a elas, na esperança de não ser ferido
pela vida. Assim, a autoridade torna-se um meio de própria defesa contra a
vida, contra a inteligência.
Krishnamurti — O medo — 1946 —
ICK