A renúncia é coisa que não existe.
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A ideia de sacrifício, de renúncia, de abnegação própria, é falsa.
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Para o homem que fixou, como objetivo da existência, o desenvolvimento, a plena realização da vida e a conservação da verdade e da felicidade, não pode existir isso que se chama renúncia. Haverá renúncia no fato de a roseira florescer em rosa? A roseira produz a rosa, porque não pode ser de outro modo. É da sua natureza produzir beleza e fragrância.
Muitas pessoas se apegas às suas pequenas vantagens e intuitos, aos seus pequenos incentivos e pequenas esperanças; mas, ao procurar a verdade, tem de abandonar estas limitações que elas próprias criaram à sua vida. Para estas pessoas é que há e tem de haver renúncia.
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Não existe renúncia para a mente que compreende, para o coração que está cheio. Para a mente capaz de entendimento, pelo fato de haver se tornado toda a experiência e para o coração que está cheio, por estar enamorado da vida, não há mais renúncia. Nem tão pouco existe renúncia para o homem que se torna a visão da eternidade, porque essa luz guiadora o capacita a discernir entre o que é essencial e o que não é essencial.
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Não existe verdadeira renúncia enquanto não houver compreensão; e para compreender verdadeiramente, a mente necessita estar liberta de todo sentimento de aquisição. Quando vocês se apercebem de um embaraço como tal, estão capacitados a encará-lo abertamente, francamente, sem temor; porém só podem se tornar apercebidos, quando sentirem, tanto com a mente como com o coração de vocês, que existe um embaraço.
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Não mera concepção intelectual só há luta, fadiga e incerteza. Haverá luta, conflito, fadiga e tristeza, enquanto acolherem na mente de vocês as ilusões nascidas dos falsos valores; e só podem discernir os verdadeiros valores, quando a mente se tornar vigilante por meio do desapego de todas as ideias, preconceitos e conformidades.
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Não há o que se denomina renúncia. Quando vocês compreendem os reais valores da vida, a ideia da renúncia não tem significado. Enquanto não compreendem, então há medo e vem a esperança de se libertarem dele, por meio da renúncia.
A iluminação não provém da renúncia.
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Iluminação é o interesse consumado no que é essencial. Para o homem que tem medo da dúvida, a renúncia existe.
Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK