A vida não é um processo de
estudo, de acumulações. A vida não é uma escola a em que vocês se submetem a
exames sobre o que aprenderam, sobre o que aprenderam das experiências, das
ações, do sofrimento. A vida é para ser vivida, não para que dela aprendamos.
Se considerarem a vida como algo
que devem aprender, agem apenas superficialmente. Isto é, se a ação na vida
diária é apenas um meio para um recompensa, para um fim, então a ação mesma não
tem valor.
(...)
O que é esta chamada educação?
O indivíduo é adestrado para
lutar para si próprio e, por esse modo, adaptar-se a um sistema de exploração.
Tal adestramento tem de, inevitavelmente, criar confusão e miséria no mundo.
Vocês estão sendo adestrados para certas profissões, dentro de um sistema de
exploração, quer gostem desse sistema, quer não.
Esse sistema está
fundamentalmente baseado no medo, que se origina na aquisição e, portanto, tem
de haver particularidade em cada indivíduo, daquelas barreiras que o separam e
o protegem contra os outros.
Tomem, por exemplo, a história de
qualquer país. Nela verificarão que os heróis e guerreiros dessa nação
particular são louvados. Ali encontrarão o estímulo ao egoísmo racial, ao
poder, à honra e ao prestígio, coisas essas que apenas indicam estúpida
estreiteza e limitação.
Assim, o espírito de nacionalismo
é grandemente infiltrado, por meio de jornais, de livros, de bandeiras
ondulantes, somos adestrados a aceitar o nacionalismo como uma realidade, de
modo a podermos ser explorados.
Analisemos também a religião.
Baseando-se no medo, ela destrói o amor, cria ilusões, separa os homens. E,
para disfarçar esse medo, dizem que é o amor a Deus.
Assim, a educação tornou-se mera
conformação a um sistema determinado, em lugar de despertar a inteligência
individual, compele o homem a simplesmente se conformar, embaraçando por esse modo,
a verdadeira moralidade das ações e a plenitude.
(...)
A suprema educação é ensinar à
criança, desde pequenina, que o seu alvo é a felicidade e a liberdade, e que o
meio de alcançá-las reside na harmonia de todos os corpos — mental, emocional e
físico.
(...)
O alvo para a mente é: a purificação
do 'eu'; para as emoções: — o afeto sem apego; para o corpo: — a beleza.
(...)
A beleza existe por si mesma,
acima de todas as formas e de todas as apreciações. É uma coisa imperecível,
como o eterno perfume da rosa.
(...)
Todos, no mundo, buscam a beleza,
mas buscam-na sem entendimento.
É essencial que o corpo seja
belo, mas isto não deve ser apenas uma beleza exterior, sem pensamentos e
sentimentos belos.
São estas as coisas essenciais
para a absoluta harmonia dos três seres em cada um de nós.
Quando cada homem for
verdadeiramente civilizado e se tornar a expressão exterior daquela cultura que
se desenvolve pela percepção interior da verdade, então desabrochará uma flor,
cujo perfume deliciará o mundo.
Krishnamurti — O medo – 1946 -
ICK