Quando tem saúde perfeita, você não tem consciência de seu corpo, não é mesmo? Somente quando há doença, desconforto, dor, é que você toma consciência dele. Quando você é livre para pensar completamente, sem resistência, não há consciência desse processo de pensar. Só quando há atrito, bloqueio, limitação, é que você começa a ter consciência de haver um ser pensante. Da mesma forma, será a felicidade algo de que você tenha consciência? No momento da alegria, você tem consciência de estar alegre? Só quando se sente infeliz é que você deseja a felicidade; e então surge essa questão: "O que é a verdadeira, a eterna felicidade?"
Veja como a mente prega peças a si mesma. Porque se sente infeliz, angustiado, em circunstâncias precárias, etc., você quer alguma coisa eterna, uma felicidade permanente. Existirá isso? Em vez de pedir felicidade permanente, descubra como se livrar do desejo que o está roendo e criando dor, tanto física como psicológica. Quando é livre, não há problema, você não pergunta se há felicidade eterna ou o que é a felicidade. É o homem preguiçoso, tolo que, estando na prisão, quer saber o que é a liberdade; e pessoas preguiçosas e tolas lhe dirão. Para o homem o homem prisioneiro, a liberdade é mera especulação. Mas se sair da prisão, ele não especulará acerca de liberdade: ela existirá.
Por isso, não é importante, em lugar de perguntar o que é a felicidade, descobrir por que somos infelizes? Por que a mente está paralisada? Por que nossos pensamentos são limitados, mesquinhos, acanhados? Se pudermos entender a limitação do pensamento, ver a verdade disso, nessa descoberta da verdade haverá libertação.
Krishnamurti - O verdadeiro objetivo da vida - Cultrix - pág. 111