Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Descobrindo o sentimento da totalidade, sem a barreira das palavras.

Existe essa coisa complexa chamada EU, com seus antagonismos, temores, esperanças, aspirações, ambições, avidez — essa totalidade que é o EU. Posso olhá-lo de maneira tão completa que, instantaneamente, o compreenda em seu todo? Afinal de contas, o que é a verdade? O percebimento da verdade, o sentimento do que é a verdade, com sua beleza, seu amor — como se pode alcançá-lo? Só se pode ver a verdade quando a mente não está fragmentada, quando se vê a totalidade. Quando vedes a totalidade de "vós mesmos", não apenas tais e tais fragmentos, porém a totalidade de vosso ser — vedes a verdade e compreendeis todo o complexo conjunto.

Pode um indivíduo olhar a si próprio tão completa e atentamente, que a totalidade dele próprio lhe seja revelada num instante? Em geral somos incapazes disso, porque nunca nos aplicamos seriamente ao problema, nunca olhamos para nós mesmos — nunca! Culpamos a outros, buscamos explicações para as coisas, ou temos medo de olhar-nos, etc. — nunca olhamos para nós mesmos, para nos vermos exatamente como somos. Só podeis olhar totalmente quando aplicais toda a atenção. Nessa atenção não há medo, porque quando olhamos com toda a nossa mente, corpo, nervos, olhos, ouvidos, tudo, não há lugar para o medo, para a contradição, para o conflito. Após vos terdes olhado dessa maneira profunda, estais então apto a penetrar mais fundo ainda. Não digo "mais fundo" em sentido comparativo. Pensamos sempre de modo comparativo — profundidade e superficialidade, felicidade e infelicidade; estamos sempre a medir. Quando digo "Preciso penetrar profundamente. ou mais profundamente, em mim mesmo" — esse "mais profundamente" é um termo comparativo. Ora, existem em nós estados tais como "superficial" e "profundo"? Quando digo "Minha mente é superficial, vulgar, estreita, limitada" — porque sei que ela é vulgar, estreita e limitada? É porque comparei minha mente com vossa mente, que é mais brilhante, dotada de mais capacidade, mais inteligência, que é mais vigilante, etc. Então, comparando, posso dizer: "Minha mente é superficial, minha mente é vulgar". Mas, posso conhecer a minha vulgaridade sem comparação? Sei que sinto fome agora, porque ontem senti fome, ou sei que estou com fome sem nenhuma comparação com a fome que ontem senti? Assim, quando empregamos as palavras "mais profundamente", não estamos pensando em termos comparativos, não estamos comparando.

A mente que está sempre a comparar, sempre a medir, criará sempre ilusões. Se me estou medindo por vós, que sois arguto, mais inteligente, estou a esforçar-me para igualar-vos negando a mim mesmo, tal como sou, e estou criando uma ilusão. Assim, ao compreender que as comparações, de qualquer espécie, só levam a maior ilusão e maior aflição, ou que quando me identifico com qualquer coisa maior — o Estado, o Salvador, uma ideologia — ao compreender que esse pensar comparativo só conduz a mais ajustamentos e, por conseguinte, a um conflito maior, abandono-o de todo. Minha mente já não está então a buscar, a tatear, a indagar, a questionar, a exigir, a esperar (o que não significa que esteja satisfeita com as coisas como são) — já não tem então nenhuma "imaginação" (ato ou faculdade de formar imagens). Pode ela então mover-se numa dimensão totalmente diferente. A dimensão em que estamos vivendo nossa vida de cada dia, a dor, o prazer e o medo que nos tem condicionado a mente e limitado a sua natureza, tudo isso desapareceu de todo. Há então alegria, que é coisa totalmente diferente do prazer. O prazer é criado pelo pensamento, que também cria o medo. Mas, o deleitamento, a verdadeira alegria, o sentimento de bem-aventurança, não é resultado do pensamento. A mente funciona então numa dimensão em que não há conflito, não há sentimento de "diferença", de dualidade.

Verbalmente, só podemos chegar até este ponto; o que existe além não pode ser posto em palavras, porquanto as palavras não representam a coisa real. Compreendei — a árvore real não é a palavra "árvore"; a palavra é diferente do fato. Até este ponto, pode-se descrever, explicar, mas as palavras ou as explicações não podem "abrir a porta". O que abrirá a porta é o percebimento diário, a atenção constante. Percebimento, sem escolha, do que se está passando interiormente, da maneira como falamos, do que dizemos, da maneira como andamos, do que pensamos; percebimento diário de tudo isso. É como limpar um aposento a fim de mantê-lo em boa ordem; mas, manter o aposento em boa ordem é coisa sem importância; é importante num sentido e completamente sem importância noutro sentido. Deve haver ordem no aposento, mas a ordem não abrirá a janela. O que abrirá a janela, a porta, não é vossa volição, nem vosso desejo. Não se pode chamar "a outra coisa". O que se pode fazer é só conservar o aposento em ordem, quer dizer, ser virtuoso (mas não da virtude ou moralidade de uma certa sociedade, da virtude que sempre espera alguma coisa) por amor à virtude, ser são, racional, ordenado. Então, talvez, se tendes sorte, a janela se abrirá e as auras entrarão. Isso poderá não acontecer, pois depende de vosso estado mental e esse estado só pode ser compreendido por vós mesmo, observando-o, porém nunca tentando moldá-lo, quer dizer, observando-o sem escolha. Mediante esse percebimento sem escolha, a porta talvez se abra e conhecereis aquela dimensão na qual não há conflito, não há tempo — conhecereis aquilo que jamais se pode expressar em palavras.

(...) Aparte: parece-me que só podemos ver através de palavras.

Krishnamurti: Vós compreendeis através das palavras? Naturalmente nós nos servimos de palavras para fins de comunicação, para que possais falar comigo e eu falar convosco; mas isto não significa escravização à palavra. Percebeis como estamos escravizados às palavras? As palavras "inglês", "russo", "Deus", "amor" — não somos escravos delas? E se sois escravos de palavras, como podeis compreender a natureza total do amor, que há de ser necessariamente uma coisa extraordinária? Todo o universo está contido no significado desta palavra.

Mas, infelizmente, somos escravos das palavras e estamos tentando alcançar algo que se acha além dos limites verbais. Extirpar. destroçar as palavras e ficar livre delas — isso dá invulgar percebimento, vitalidade, vigor. É necessário tempo para nos libertarmos das palavras? Dizeis "preciso refletir primeiro" ou "preciso exercitar o percebimento" ou "vou ler Bertrand Russel"? Ou vedes deveras que a mente escrava da palavra é incapaz de olhar, de observar, sentir, ver? — e esta própria clareza, esta própria verdade não destrói a escravidão?

Pergunta: Poder-se-ia ver, por um instante, e logo a mente interferir?

Krishnamurti: Vedes, por um instante, que o nacionalismo é venenoso e, logo a seguir, nele recaís?

Percebemos realmente que somos escravos das palavras? O comunista é escravo das palavras "Marx", "Stalin", etc. E o chamado cristão é escravo do símbolo, da Cruz, e do respectivo jogo sutil de palavras. Ide a Roma, ide a qualquer parte do mundo, e o que se encontra é sempre a palavra.

E talvez sejamos também escravos da palavra "mente". Adoramos a mente, e nossa educação consiste em cultivá-la. E, por certo, o que estamos tentando descobrir é a totalidade de alguma coisa que não é a palavra: o sentimento que abarca a totalidade, sem a barreira das palavras.

Krishnamurti — Como viver neste mundo

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill