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quinta-feira, 5 de abril de 2018

De fato, não sabemos o que é amor

De fato, não sabemos o que é amor

PERGUNTA: Sou artista, e preocupa-me sumamente a técnica de pintar. É possível que esta própria preocupação constitua um obstáculo à genuína expressão criadora?

KRISHNAMURTI: Eu quisera saber por que é que a maioria de nós, inclusive os artistas, tanto se preocupa a respeito de técnica. Todos perguntamos "como?" — como poderei ser mais feliz, como poderei achar Deus, como poderei ser um artista melhor, como poderei fazer isto ou aquilo? Todos andamos cheios de cuidados a respeito do "como". Se sou violento, desejo saber como ser não violento. Por termos tanto interesse na técnica e como o mundo não nos oferece outra coisa, estamos presos nessa rede. Cultivamos a técnica, porque desejamos resultados. Quero ser um grande artista, grande engenheiro, grande músico, alcançar fama, notoriedade. Minha ambição me impele à busca do método. Pode um artista, ou qualquer ente humano, cultivando uma técnica, tornar-se um verdadeiro artista? Mas, se amamos a coisa que estamos fazendo, não somos então artistas? Entretanto, não compreendemos a significação desta palavra — amar. Posso amar uma coisa por ela própria, se sou ambicioso, se desejo tornar-me conhecido? Se desejo ser o melhor pintor, o melhor poeta, o maior dos santos, se estou em busca de um resultado, posso amar realmente uma coisa, por ela própria? Se sou invejoso, imitativo, se há medo, se há competição, posso amar aquilo que estou fazendo? Se amo uma coisa, posso então aprender a técnica — como misturar as tintas, etc. Mas, atualmente, não possuímos esse sentimento de verdadeiro amor por uma coisa. Estamos cheios de ambição, de inveja; desejamos ser "um sucesso". E, assim, estamos aprendendo técnicas e perdendo a coisa real — "perdendo", não, pois nunca a tivemos.

Por ora, a nossa mente só está aplicada em adquirir uma técnica que nos leve a alguma parte. Se amo o que estou fazendo, então, por certo, não há problema, não existe competição, não é exato? Estou fazendo o que gosto de fazer, e não porque isso me dará popularidade, pois tal coisa não é importante para mim. O importante é amarmos totalmente o que estamos fazendo, e esse próprio amor será o nosso guia. Se o pai deseja que o filho siga nas suas pegadas, que se torne "alguma coisa", se os pais procuram preencher-se nos filhos, não há então amor, e, sim, mera autoprojeção. O próprio amor ao filho trará sua cultura própria, não achais? Mas, infelizmente, nós não pensamos em tal direção. E por isso temos este enorme problema e este espantoso desenvolvimento técnico.

PERGUNTA: Vejo-me inteiramente ocupado com os costumeiros cuidados, alegrias e tristezas da vida diária. Estou perfeitamente apercebido de que minha mente se acha ocupada exclusivamente com ações, reações, "motivos", mas sou incapaz de transcender essas coisas. Depois de ler os vossos livros e ouvir vossas palestras, vejo que existe outra maneira de viver, completamente diferente, mas não posso achar a chave que abrirá a porta do meu atravancado habitáculo, libertando-me. Que devo fazer?

KRISHNAMURTI: Tenho minhas dúvidas sobre se estamos realmente apercebidos daquilo com que a nossa mente está ocupada! Como diz o interrogante, a mente está ocupada apenas com coisas superficiais — o ganhar do sustento, os deveres paternais, etc. Mas sabemos o com que nossa mente está ocupada num nível mais profundo? Afora as ocupações cotidianas, sabemos com que está ocupada a nossa mente num nível diferente, no inconsciente? Ou a nossa mente consciente está tão ocupada durante o dia, a todas as horas, que não sabemos com o que está ocupado o inconsciente? Sabemos com que estamos ocupados, além da rotina diária, da existência diária? Pelo geral, a nossa ocupação é com o processo diário do viver, e nossa preocupação é o saber como produzir uma alteração aí — um melhor ajustamento, mais felicidade, menos disto e mais daquilo. Conservar nossa superficial felicidade, repelir certos fatores que nos causam dor, evitar certas tensões e pressões, ajustar-nos a certas relações, etc. — eis toda a nossa ocupação.

Sendo assim, podemos deixar tal ocupação entregue a si mesma, isto é, deixá-la seguir o seu curso, na superfície, para investigarmos, nas profundezas da mente, o com que ela está ocupada, inconscientemente? Todos percebemos a necessidade de certo ajustamento, na superfície; mas temos algum interesse a respeito da ocupação mais profunda da mente? Sei, eu, e sabeis vós, com o que está ocupada a mente mais profunda? Ora, é preciso investigar isso, porque essa ocupação pode traduzir-se em ocupações e ajustamentos superficiais, com suas alegrias e tristezas, suas tribulações e provações. E, assim, se vós e eu não conhecemos as ocupações mais profundas da mente, uma simples alteração de superfície tem muito pouca significação. Não é certo que deve terminar toda ocupação superficial, se desejo achar "a outra coisa"? Se minha mente está ocupada a todas as horas com ajustamentos superficiais — endireitando o quadro que outro pôs torto, preocupada com assuntos domésticos, a respeito dos filhos, da esposa, do que a sociedade pensa, e não pensa, da opinião do vizinho — essa mente, já tão ocupada, é capaz de descobrir a ocupação mais profunda, de si mesma? Ou não é necessário que termine a ocupação superficial? Isto é, podemos deixá-la prosseguir, ajustar-se, sem esforço, mas também investigar aquilo com que a mente está ocupada num nível mais profundo? Com o que está ela ocupada, num nível mais profundo? Eu o sei? Vós o sabeis? Ou apenas fazemos conjecturas a tal respeito? Ou pensamos que alguém no-lo pode dizer? É claro que não posso investigá-lo, a menos que não esteja totalmente ocupado com ajustamentos superficiais. Isto é, torna-se necessário nos desligarmos do superficial, para podermos investigar. Mas não ousamos desligar-nos, não ousamos soltar o que temos, porque não sabemos o que existe em baixo — temos-lhe medo, terror. E é por isso que os mais de nós estamos ocupados. Lá, muito fundo, pode encontrar-se uma completa solidão, um sentimento de profunda frustração, medo, torturante ambição — de que não estamos plenamente apercebidos. Mas, se ficamos um pouquinho apercebidos, ligeiramente vigilantes, assustamo-nos com o que vemos. E por isso nos preocupamos com o aspecto da sala, com os quadros, os abajures, os que entram e os que saem, os entretenimentos sociais; lemos livros, ouvimos rádio, aderimos a grupos — conheceis bem todo este triste negócio. Tudo isso bem pode ser uma fuga ao problema mais profundo. E, para examinar este problema mais profundo, temos de abandonar a sala com todo o seu conteúdo. Infelizmente, queremos ficar na sala, e o descobrimento da "outra coisa" é algo que nunca nos permitimos experimentar. Não se trata de tentar alcançar o nível mais profundo. O tentar depende sempre do tempo. Se desejo investigar o problema mais profundo e percebo a necessidade de deixar as coisas superficiais, não há então "tentar". Eu não tento abrir uma porta e não me ponho conscientemente em movimento para sair de casa. Sei que tenho de sair e saio — a porta lá está. Não se faz nenhuma "tentativa" para alcançar a porta; não se pensa em termos de "tentar". Compreensão e ação são simultâneas. Mas tal integração não é possível, se estamos interessados meramente no nível superficial.

Krishnamurti, Quarta Conferência em Londres, 24 de junho de 1955

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Desconhecemos a real afeição

Desconhecemos a real afeição

PERGUNTA: Porque será que neste país parecemos sentir tão pouco respeito pelos outros?

KRISHNAMURTI: Não sei em que país existe respeito aos semelhantes. Na Índia, as mesmas pessoas que nos cumprimentam com profundas inclinações e nos oferendam grinaldas e flores, maltratam os vizinhos, os criados e os animais. Isso é respeito? Aqui, como na Europa, há respeito ao homem possuidor de automóvel caro e palacete; há respeito para com os considerados superiores e desprezo aos demais. Mas é este o problema? Todos queremos sentir-nos iguais aos que estão mais alto, não é verdade? Queremos ombrear com os famosos, os ricos, os poderosos. Quanto mais industrializada uma civilização, tanto mais prevalece a ideia de que os pobres podem tornar-se ricos, de que o homem que vive numa cabana pode chegar a presidente, e, desse modo, naturalmente, não há respeito a ninguém; e, acredito, se pudermos compreender o problema da igualdade, estaremos aptos a compreender a natureza do respeito.

Ora, existe igualdade? Embora todos os governos, quer da esquerda, quer da direita, salientem que todos somos iguais, somos de fato iguais? Tendes uma cabeça melhor, uma capacidade maior, sois mais prendado do que eu; sabeis pintar e eu não sei; sabeis inventar; eu sou um simples operário. Pode jamais existir igualdade? Poderá haver igualdade de oportunidade: nós dois podemos ter a possibilidade de comprar um carro; isso, porém, é igualdade? O problema, por certo, não se refere a como promover a igualdade, economicamente, mas ao descobrimento de se a mente pode ficar livre dessa noção de superior e de inferior, dessa tendência a venerar o homem que tem muito e a desprezar o que tem pouco. Acho que o problema é este. Respeitamos os que estão em condições de ajudar-nos, de dar-nos alguma coisa, e desprezamos os que não podem fazê-lo. Acatamos o patrão, o homem que pode proporcionar-nos um emprego melhor, uma missão política; ou respeitamos o sacerdote, outra espécie de patrão, no chamado mundo espiritual. Estamos, pois, sempre respeitando e desprezando; e não pode a mente libertar-se desse estado de desprezo e de falso respeito?

Observai bem a vossa própria mente, e descobrireis não existir respeito enquanto prevalece o sentimento de superioridade e inferioridade. E o que quer que façam os governos com o fim de igualar-nos, nunca haverá igualdade, desde que todos nós temos capacidades diversas, diferentes aptidões; mas o que pode haver é um sentimento muito diferente, um sentimento de amor, talvez, no qual não existe o desprezo, o julgamento, a noção de superior e inferior, o que dá e o que recebe. Senhores, isto não são meras palavras; não estou descrevendo um estado desejável, visto que o que é desejável faz surgir o problema: “Como chegarei lá?” — o qual, por sua vez, só conduz a atitudes superficiais. Uma vez, porém, percebais a vossa própria atitude e conheçais as atividades da vossa mente, nascerá, então, talvez, um sentimento distinto, um sentimento de afeição; e não é isso que tem importância?

O mais importante não é saber porque umas pessoas têm respeito e outras não, mas, sim, o despertar aquele sentimento, aquela afeição, aquele amor (ou como quer que o chameis) em que cessa totalmente a noção de “alto” e “baixo”. E isso não é uma Utopia, não é um estado que se alcança com luta, um exercício que se deve praticar todos os dias, até chegar à meta final. Acredito, o importante é que “escutemos” a revelação desse estado, absorvendo-a como quem contempla um belo quadro, ou como quem ouve o canto de um pássaro; e se sabemos escutar verdadeiramente, o próprio escutar, a própria percepção realiza algo radical. Mas no momento em que a mente interfere com seus inumeráveis problemas, surge o conflito entre o que deveria ser e o que é; introduzimos então ideais e a imitação desses ideais, e desse modo nunca descobrimos por nós mesmos aquele estado em que não existe o desejo de ser mais, e não existe, por conseguinte, o desprezo. Enquanto vós e eu andarmos em busca de satisfação, não haverá respeito, não haverá amor. Enquanto a mente tiver o desejo de satisfazer-se com alguma coisa, haverá ambição; e é porque quase todos nós somos ambiciosos, em diferentes direções, em níveis diferentes, que esse sentimento, não de igualdade, mas de afeição, de amor, se torna impossível.

Não falo de algo sobre-humano; mas penso que, se pudermos realmente compreender a ambição, o desejo de nos tornarmos mais, de satisfazer-nos, de realizar, de brilhar, se pudermos “viver com ele”, conhecer por nós mesmos todo o seu alcance, olhá-lo como nos olhamos a um espelho, ver exatamente o que somos, sem condenação — se pudermos fazer tal coisa, que é o começo do autoconhecimento, da sabedoria, haverá então a possibilidade de nascer essa afeição.

Krishnamurti em, Percepção Criadora,
4 de julho de 1953
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segunda-feira, 2 de abril de 2018

O medo destrói o amor

O MEDO DESTRÓI O AMOR

Num dia da semana, ver tanta gente, parece um absurdo, não? Espero que todos vocês não se incomodem de se escutarem uns aos outros. A última vez que nos encontramos aqui, no sábado, falamos sobre o que é o amor. Você pode recordar se esteve aqui. E vamos nos perguntar juntos, quero dizer, juntos, sobre este problema, muito, muito complexo. E se você não se importa, terá que pensar, não só concordar, não dizer, “Sim, você tem razão”, e depois seguir seu próprio caminho. Então, vamos nos perguntar juntos sobre o problema do que é o amor. Juntos. Não que o orador seja o único a falar, mas juntos vamos examinar. Isto não é uma conferência, não para instruir, ou guiar, ou ajudar. Isso seria muito estúpido, porque temos tido todo esse tipo de ajuda por gerações sobre gerações e ainda somos o que somos agora. Devemos começar com o que somos agora. Não o que temos sido no passado ou o que seremos no futuro. O que seremos no futuro é o que somos agora. O que somos agora, nossa avareza, nossa inveja, nosso ciúmes, nossas grandes superstições, nosso desejo de adorar a alguém, para dizer: “Você é um homem santo” e tudo mais. Então, isto não é uma conferência, não é um entretenimento, não é algo para se aceitar ou negar, mas estamos falando como dois amigos, ou se quiser, dois inimigos do outro lado da fronteira. Mas estamos falando juntos. Então, você deve exercitar seu cérebro, conduzi-lo, forçá-lo, pensa-lo.

Então, vamos entrar nesta pergunta: o que é o amor? E, para investigar profundamente, profundamente nisto, também devemos perguntar primeiro: O que é a energia? Energia. Cada gesto que você faz se baseia na energia. Enquanto escutamos o orador, você está exercitando sua energia. Viemos aqui desde uma longa distância, desde Benares, ou mais para cima, você tem que usar uma grande quantidade de energia. Certo? Para construir uma casa, plantar uma árvores, fazer um gesto, falar, desde a infância, desde bebê, o primeiro choro de um bebê, se baseia na energia, sustentando no momento pela mãe e assim sucessivamente. Não entrarei nisso. Então, devemos perguntar: o que é a energia? Está certo? Podemos continuar? Posso continuar, em alta voz continuamente, indefinidamente, porque tenho estado nestes últimos 60 anos, ou 70 anos, colocando o mesmo em diferentes palavras. Então, se amavelmente, escute seriamente, porque escutar é uma grande arte, talvez uma das grandes artes. Para escutar o que a outra pessoa tem a dizer, não interromper, não dizer, “Sim, estou de acordo com você e falaremos de outra coisa”. Temos que perguntar primeiro se você pode escutar em absoluto.  Isto não é uma conferência, ou uma instrução e tudo isso, estamos juntos examinando, questionando, duvidando, nunca, nunca aceitando o que o orador diz. Nunca. Certo? Não diga, “sim, estamos de acordo”; mas logo sigamos aceitando. Ele não tem autoridade. Então, começaremos.

O que é energia? Este tem sido uma das perguntas dos cientistas. E disseram que a energia é matéria. Certo? Mas, antes disso: o que é energia? Você compreende? Pode ser matéria. Pode ser todo tipo de coisas. Mas, o que é a energia? Energia primordial? Quem trouxe esta energia? Você está entendo o que estou falando? Não estou seguro (Risos) Porque esta tem sido uma pergunta muito, muito séria. Assim que estamos juntos fazendo uma longa viagem, juntos, você e eu caminhando pela mesma corrente. Você não está somente seguindo o orador. Não está só dizendo, “Sim, isso soa muito bem, como os Upanishads e o Gita e tudo o que tem sido dito, então o entendemos”. Tampouco é assim. Antes de nada, você tem que ter grandes dúvidas. Certo? Grande ceticismo, não é verdade, senhores? Não, não esteja de acordo, não esteja de acordo. Você não duvida de nada, aceita tudo. Então, a dúvida, o ceticismo de sua própria experiência, de seus próprios pensamentos, das suas próprias conclusões, duvidando, questionando, não aceitar nada de nenhum livro, inclusive os meus. (Risos) Sou somente um transeunte, não sou importante. E vamos perguntar juntos, isso é muito importante, por favor, juntos. Você sabe o que isso significa. Cooperando juntos para construir algo, perguntar a respeito de algo, ver o que está claro, o que é duvidoso, o que não está claro. Você o está fazendo. E o orador está fazendo isto, mas você tem que fazê-lo. Assim que estamos juntos caminhando por uma corrente muito longa. Você pode fazer com que essa transição seja muito, muito, muito forte corrente que lhe apagará, lançando-lhe aos bancos, ou pode lidar com isso. Então, isso requer sua energia. Certo? Requer sua energia.

Então, perguntamos: o que é a energia? Esse chamado do corvo é parte da energia. Certo? As árvores, os pássaros, as estrelas, a lua, o nascer e o pôr do sol, tudo é energia. Certo? Provavelmente você duvide, mas isso não importa. E seja o que for que você faça requer energia. O primeiro choro do bebê fora do útero, esse choro é parte dessa energia. Certo? Tocar um violino, falar, se casar, sexo, tudo na terra requer energia. Certo? Então, juntos perguntamos o que é esta energia, qual é a origem, qual é a fonte, como começou, quem criou esta energia? Por favor, cuidado, não diga “Deus” e fugir com isso. Não aceito a Deus; o orador não tem deuses. Está tudo bem? Você aceita isso? Você aceitará qualquer coisa, então, não importa, continuarei. Por favor, não se permitam a aceitar o que o orador está dizendo a qualquer momento, em seus livros, em suas falas, em seus vídeos em tudo isso. Então, o que é energia?

Não podemos existir sem energia. Certo? Não há existência na terra sem esta energia: as árvores, tremenda energia para tirar a água até a parte superior, toneladas dela. Essa é uma energia tremenda. Para construir um avião, centenas de pessoas são responsáveis por isso. Para ir até a lua e mais. Então, tudo o que fazemos, é energia. Certo? A bailarina, o violinista, o pintor, a casa mãe, o general do exército, tudo requer energia. Certo? Isso é um fato. Seja se você o aceita ou não, não importa. E estamos perguntando: o que é essa energia? A origem disto, não só: “sim, energia”. Ou aceite o que dizem os cientistas, que é a energia é matéria e tudo o mais. Não entrarei em tudo isso porque o orador tem falado com muitos deles sobre este assunto. E as pessoas religiosas dizem, “Deus” e isso termina. Ou algum guru o diz, e isso também termina. Não perguntam, não têm dúvidas. Eles não questionam, não têm ceticismo. Certo? Então, aqui estamos dizendo, se você pode, abandone tudo isso: seus livros, o que é sânscrito, o que as pessoas antigas têm dito, abandone tudo isso e deixe-o na beira do caminho e faremos uma viagem juntos. Se você não pode deixar tudo isso de lado, ou deixá-lo no caminho, não pode seguir ao orador, não pode entendê-lo. Certo? Não se incomode em entendê-lo, não importa. Mas, desafortunadamente, você escuta muitas palavras, e você diz, “Sim, isso soa razoável”, e assim sucessivamente. Não estamos lidando com palavras; as palavras não são a montanha. A palavra “montanha” não é a montanha. Certo? A palavra “K” não é o K. Você compreende tudo isto? Então, seu nome não é você. É, para lhe reconhecer, mas seu nome não é você. Creio que isto é importante de entender. A palavra não é o real. Certo? Está claro? A palavra “árvore” não é a árvore. A palavra “árvore” não é isso. Certo? Então, devemos ser muito cuidadosos agora, não estar preso com as palavras. Pergunto-me se seguem tudo isto. Certo, posso continuar porque meu amigo me deu um sinal, meu velho amigo.

E vamos entrar em algo, isso requer sua energia, todo seu cérebro, que é matéria, que é a experiência acumulada de milhões de anos, e toda essa evolução significa energia. Certo? Assim que estou dizendo... Pergunto-me, você está perguntando por si mesmo, então começo a perguntar-me: há energia que não esteja contida, ou estimulada, ou que se mantenha dentro do campo do conhecimento? Você entende? No campo do conhecimento. Quer dizer, dentro do campo do pensamento. Por favor, não esteja de acordo com isso. Eu gostaria de cegar-me a mim mesmo, porque você está de acordo com cada maldita coisa que está se passando. Então, pergunto-me: há uma energia que não se ajunta, se estimula, aparada pelo pensamento? Você entende? O pensamento lhe dá muita energia. Para ir ao trabalho todas as manhãs às 9 em ponto, ou às 8:30, o pensamento lhe faz, lhe dá essa energia. Certo? Devo ganhar mais dinheiro, ter uma casa melhor. Certo? Pensar, pensar, lhe dá a energia. Creio que se necessitarem duzentas ou trezentas pessoas ou três mil pessoas para construir um foguete que foi à lua. Certo? Então, tudo isso requer energia. Entrelaçar a mão e dizer: “Como vai você?”, reconhecer velhos amigos sentados ali, alegro-me de que tenham encontrado um lugar, podemos ver. Então, pergunto-me, se pensar, pensar, pensando no passado, pensando no futuro, planejar para o presente, isso dá uma tremenda energia. Certo? Não é verdade, senhor? Pensando. Devo construir uma casa, assim que vou ao arquiteto, estou de acordo com ele, e assim sucessivamente. E requer uma grande quantidade de energia para ser educado. Certo? Por ignorância, como o chamam — não digo que seja ignorância —, por não saber matemática, gradualmente você aprende e energia para ir à universidade e logo se converter numa espécie de algo ou outro. E você tem um trabalho, para isso todos os dias da sua vida se vai. Ou você se retira a uma idade precoce e morre. Assim que penso — por favor entenda isto, é muito importante que assim o faça — o pensamento cria esta energia para construir um avião. Pense no que está envolvido nisso. Centenas de pessoas estão trabalhando nisso, passo a passo, passo a passo, o construíram, e produziram o 747, ou o que seja, a máquina mais maravilhosa que nunca pode se dar mal — o homem pode fazer com que se dê mal. E assim sucessivamente e assim sucessivamente. Então, o pensamento é um instrumento extraordinário para criar energia. Certo? Posso continuar? Certo.

Se você não vê isso como um fato real, então estará fora da marca. Certo? Se não o vê como um fato real, esse pensamento cria uma tremenda energia. Quer se converter num homem rico, trabalha para chegar a ser um homem rico. Certo? Você quer fazer algum tipo de louca propaganda e trabalha muito duro; você se une a grupos, seitas, gurus e todo esse tipo de negócio. Então, o pensamento é um instrumento extraordinário de gerar pensamento. Certo? Pensamento que gera energia. Certo? Não esteja de acordo. Então, temos de investigar muito, muito, muito a própria natureza do pensamento. Certo? Não digo, bem, todas as desculpas. Não se preocupe com isso. Cai ontem e me machuquei, isso é tudo. Isso está encerrado. Você pode prestar atenção a outra coisa. Assim, penso que tem planejado esta sociedade, que tem dividido o mundo em Ásia e Europa, o comunista, o socialista, o capitalista e o republicano democrata, tudo foi criado pelo pensamento. É simples. O exército, as forças armadas, a força área, para matar, não só para o transporte, senão também para matar. Isto é óbvio, não? Então, o pensamento é muito importante em nossa vida, porque, sem pensar, não podemos fazer nada. Certo? Para que você venha de longe, o planejamento é necessário, os ajustes, pegar um trem, um avião, pegar um ônibus, etc., etc., tudo isso faz parte de seu pensamento. Certo? Então, o que é você está pensando?  Resolva isso, não me escute. O que está pensando? Você não pode viver sem um certo tipo de pensamento. Certo? Planejando, regressando para a sua casa, voltar aos seus trabalhos e tudo mais, você está casado, sexo e... Tudo está contido no processo de pensamento. Então, o que você está pensando? O orador tem falado muito disso, assim que não retorne aos seus livros. Não diga, “Sim, já lhe ouvi antes”. Mas aqui, esqueça-se de todos os livros, todas as coisas que tenha lido, porque devemos nos aproximar disto de maneira nova.

Então, pensar está baseado no conhecimento, certo? Se não tenho nenhum conhecimento, como vir aqui ou tomar um ônibus ou isto ou aquilo, você não estaria aqui. Então, conhecimento, memória, pensamento. Certo? E temos acumulado um tremendo conhecimento: como vendermos, como explorar-nos uns aos outros, como construir pontes, como criar deuses e templos, temos feito tudo isso. Os vários ashrams onde estão todos... — você sabe todo esse negócio —, certo tipo de campo de concentração. Então, o pensamento tem feito tudo isto. Criou o exército, as forças armadas, o avião. O pensamento também tem, através do conhecimento, templos e todo esse negócio. Então, sem experiência não há conhecimento. Certo? Sejam lógicos, senhores. A lógica é necessária até certo ponto. Mas se você começa sem a lógica, sem clareza, então pode fazer — se tornar supersticioso, imaginativo, chegando a conclusões, construindo templo e todo esse tipo de bobagens. Então, sem experiência, não há conhecimento. Os cientistas estão agregando algo novo todos os dias. Por favor, siga isto com cuidado, se não se importa. A experiência é limitada, certo? Porque estamos agregando mais e mais a isso através do conhecimento. Experiência, conhecimento armazenado no cérebro como memória e logo esse é o conhecimento do pensamento. Certo? Estou certo? Tenho razão? O que você diz? Deus, você não sente nada? Então, a experiência é sempre limitada. Certo? Porque está agregando mais e mais e mais, todos os dias no mundo científico, em sua própria vida, você aprende algo mais. Então, a experiência é limitada, portanto, o conhecimento é limitado, a memória é limitada e, portanto, o pensamento é limitado. Certo? Estou são ou louco? (Risos)

E vivemos por pensamento. Então, nunca o reconhecemos, ainda que o pensamento possa imaginar o céu e o inferno mais extraordinários, os deuses olímpicos dos gregos, os deuses egípcios, você sabe algo de tudo isso? Não, não importa. Então, seu pensamento é sempre limitado e teus deuses a quem o pensamento tem criado sempre será limitado. Certo? Sei que você não gosta disto, mas não o discute. Então, seus deuses, seu pensamento, por mais amplo que seja, ou por mais estreito que seja, tudo isso é limitado. E, a partir desta limitação, tratamos de encontrar a energia. Você entende o que estou dizendo? Tratamos de encontrar a origem, o começo da criação.

Então, o pensamento tem criado medo. Certo? Não? Não é assim? Você não tem medo do que pode ocorrer dois aos depois? Não? Não tem medo de perder seu emprego, de não passar nos exames, de não subir no escalão — sabe o que quero dizer com subir no escalão: obter mais e mais e mais sucesso. E você tem medo de não poder cumprir. Tem medo de não poder estar só, ser forte para si mesmo. Certo? Você sempre depende de alguém. Tudo isso gera tremendo medo. Certo? Não vai me piscar?

Então, um de nossos fatos cotidianos é que somos pessoas amedrontadas. Certo? Você estaria de acordo com esse fato tão simples? Que somos pessoas assustadas? O medo surge quando queremos segurança. Certo? Você só escuta. De acordo, continuarei. Não se inquiete, continuarei. O medo destrói o amor. Você não pode ter amor sem... O amor não pode existir onde está o medo. O medo é uma tremenda energia por si mesmo. E o amor não tem relação com o medo. Estão totalmente divorciados. Certo? Então, qual é a origem do medo? Certo? Tudo isto é para entender, estar vivo à natureza do amor. Se você não entende tudo isto, logo vê e continua com o que esteja fazendo. Seja feliz com isso, divirta-se, ganhar dinheiro, posição e todo esse blá blá blá. Mas, se você quer entrar nisto com muito cuidado, não só tem que examinar o que está pensando e as máquinas, os computadores estão fazendo isso maravilhosamente, você não sabe nada, o último. Falei com alguns dos professores na Inglaterra, pouco antes de chegar à Índia, antes que o orador chegasse à Índia. Há computadores que podem pensar para trás e para frente. Você entende o que isso significa? Eles podem pensar o que tenho... Você tem que se levantar as seis, portanto, tem que planejar levantar-se às seis. Certo? E depois das seis, o que tem que fazer. E creio que a isso se chama... esqueci, retornarei. Então as máquinas, por favor, entendam isto, as máquinas, os computadores... Sabem essa piada? Você está orando para Deus, e há um computador ao lado, de joelhos, e o computador diz: “Para quem você reza? Deus está aqui” (Risos) Não senhor, não sabe o quão sério é. Então... Arquitetura, essa é a palavra. Quando — só aprendi isso recentemente e posso estar equivocado, posso ser corrigido — um computador puder pensar o que lhe ocorreu e planejar o que ocorrerá no futuro. O que o cérebro está fazendo, você entende? Você planeja vir aqui, gasta tanto dinheiro, tanto tempo e logo retorna, segue adiante. Então, os computadores podem pensar para frente e para trás, o que creio se chama arquitetura, podem ter mudado o nome por hora. Vou perguntar a um dos especialistas daqui.

Então, pensar tem criado medo. Certo? Pensando no futuro, pensando no passado, e não ser capaz de se adaptar rapidamente ao meio ambiente, etc., etc. Então, pensamento é tempo. Certo? Não, você não compreende. Continuarei. Pensamento do amanhã, o que poderia ocorrer, minha esposa poderia me deixar ou poderia morrer. Sou um homem solitário, então, que devo fazer? Tenho vários filhos, assim que é melhor me casar, voltar a casar com alguém ou outro, porque ao menos pode cuidar dos meus filhos. E assim. Isso é pensar o futuro baseado no passado, não é verdade? E então o pensamento e o tempo estão envolvidos nisto. Certo? Pensando no futuro, futuro sendo depois de amanhã ou amanhã e pensar nisso causa medo. Certo? Então, o tempo, o pensamento, são os fatores do medo. E o sabemos, temos examinado o pensamento, temos examinado o tempo. O tempo é o passado, o presente e o futuro. O nascer do sol e o pôr do sol, plantar uma semente e converter-se numa grande árvore. Isso é tempo. E também temos o tempo interior: eu sou isto, mas me coverterei em um rico milionário. Sou cobiçoso mas, dê-me tempo, não o serei — talvez na próxima vida. E assim sucessivamente e assim sucessivamente. Então, o tempo e o pensamento são os fatores centrais do medo. Estou buscando um relógio.

Audiência: Dez e seis.

K: Grato. Então, tenho falado durante uma hora e quanto?

Audiência: Quarenta minutos.

K: Isso tudo? Que lástima! Portanto, deixe-me terminar isto. Deixe-me outros vinte minutos, se não se importam. Você se importa? Não lhe tomarei muito tempo. Não fará nenhuma diferença se você me escuta ou não. Você continuará exatamente da mesma maneira como tem vivido. Não mudará, não fará nada, porque está preso numa rotina, em um sulco, em um padrão. E você continuará e a morte estará logo aí. Certo?

Então, estamos investigando algo que pode ser que você não entenda, mas não importa. O tempo, o pensamento, são nossos principais fatores da vida. E ambos tempos interiormente, eu sou isto, mas serei isso, ou tenho sido, serei, sou, serei — tudo isso implica tempo. E o tempo é pensamento, não são duas coisas separadas. Ambos são movimentos.

Então, o que significa a morte? Compreendem, senhores? Que lugar em minha vida tem a morte, o sofrimento, dor, ansiedade, solidão, todas essas coisas terríveis pelas quais tenho passado?

Muito obrigado.  Senhor, será melhor pegar o seu relógio. Quem pode lhe dar? Poderia perdê-lo, ou você poderia perdê-lo.

Você entende, senhor, por favor, compreenda isto muito cuidadosamente. O tempo, o pensamento, são os fatores centrais da vida. E estamos dizendo que o pensamento e o tempo são os fatores do medo. Isso é um fato, goste você ou não.

Então, o que tem que ver o sofrimento com o tempo? Você está seguindo tudo isto? O que tem o sofrimento, a dor, a ansiedade, a solidão, o desespero? E todo o trabalho que atravessa o homem, o que tem isso?... É isso toda nossa vida? Você entende o que estou perguntando? Estamos viajando juntos. Você não está sentado aí e escutando a um orador sem sentido. Estou lhe perguntando. Esta é sua vida, não é verdade, senhores? Fatos, não imaginação. Você nasce, é educado e  se encaixa em BA, MA, e tudo o mais, doutores, para conseguir um trabalho ou se converte num grande Primeiro Ministro, ou ministro, pelo amor de Deus, entende? Esta é sua vida. Esta é sua consciência. Sua consciência está composta de seus medos, de seus conhecimentos, de seu tempo, você já sabe, consciência. Seu conhecimento, tudo está em sua consciência. E, nessa consciência, da qual você é, essa consciência que você sempre pensou que fosse sua, “minha”, “minha consciência”. Entendem minha pergunta? Não cruze as pernas, simplesmente sente-se comodamente como você estava. Estou lhe observando, não mude de repente. Sua consciência, se a examinar com muito cuidado, não examiná-la através de juízos, avaliações, o que você sabe, mas sim a examiná-la com muito cuidado, sua consciência está composta de seu conteúdo. Certo? Entende o que digo? O que você pensa, qual é a sua tradição, qual é a sua educação, quantos medos, se você quer mudar para uma nova esposa, ou se vai a um certo templo, tudo isso, solidão, medo — é o que você é! Você pode pensar que é divino por dentro, mas ainda está pensando. Quando você diz: “Sim, há Deus em mim”, ainda é produto do pensamento.

Então, sua consciência, que é o que você é, não fisicamente, mas psicologicamente, internamente, que é a sua consciência é a consciência da humanidade. Escute cuidadosamente. Não aceite nada do que eu lhe disse. Todo ser humano nesta terra passa por isso: tristeza, dor, ansiedade, incerteza, insegurança, lutas, persuasão, quere isto, não querer. Tudo isso é o que você é. Se você imagina que é um deus encarnado, isso é parte do pensamento. Certo? Pensamento — como assinalamos — isso é limitado. 

Então, sua consciência, o que você é, é o resto da humanidade. Todo homem passa por isto, ou todas as mulheres. Todo ser humano passa por isto. Certo? Cada humano: seu vizinho, seu pai, sua avó, e as últimas gerações em todo o mundo. Então, você não são indivíduos. Isto é um golpe. Não o aceite. Examine-o, não diga, “Está podre” ou, “Não é um fato porque o Gita disse algo ou os Upanishads dizem algo, ou a Bíblia diz algo”. É um fato que você, seu sofrimento, sua dor, sua ansiedade, seu conhecimento, é comum a — não usarei “comum” — é compartilhado por cada ser humano. Certo? Então, você não é uma alma separada, um Atman separado. Sei que você não gosta disto porque você foi criado para engolir tudo o que se passa.

Então, deve haver liberdade do medo, das feridas, de todo tipo de coisa que os seres humanos têm reunido. Deve haver liberdade, você entende, não só palavras. “A Índia deve estar livre do resto do mundo”. Isso é uma besteira. Ninguém pode viver só, necessitam de um amigo, necessitam alguém para ajudar.  Então, estamos tratando de averiguar, de investigar o que é o amor. Certo? Estamos dizendo, enquanto houver medo de qualquer tipo, biologicamente, medo do apego, medo da perda, medo de qualquer tipo, o outro não pode existir. Se há algum tipo de arquivo adjunto, o outro não pode existir, e o outro é o amor.

Então, vamos perguntar, se o tempo o permite, logo vendo tudo isto, desde o começo, desde o bebê até o homem adulto, vendo o que é o mundo e indagando sobre o que é a morte. Porque todos estamos tão assustados com a morte? Você entende? Você sabe o que significa morrer? Não tem visto dezenas de pessoas assassinadas, feridas ou... não? Não? Você é uma pessoa estranha, ou o que? (Risos) Você pertence a um planeta diferente? Temos visto a morte. Nunca investigamos profundamente sobre o que é a morte. É uma pergunta muito importante, como o que é a vida. Você entende? Dizemos que a vida é tudo isto — podridão. Temos dito que a vida é conhecimento, aprendizado, você sabe, todas essas coisas, ir ao trabalho regularmente todos os dias às 9 em ponto ou às 10 em ponto, luta, batalhas, querer isto e não querer, está seguindo? Sabemos o que é viver. Certo? Uma série de ações produz uma série de reações e tristeza, dor, essa é a nossa vida.

Então, se isso é viver, o qual é, não diga: “Sim, viver é algo extraordinário acima”. Isto é viver: lutas, divórcios, lutas. Mas nunca temos investigado seriamente o que é a morte. Você entende do que estou falando? Sabemos o que é viver, se você é honesto e pode imaginar o que quiser, mas isto é viver. Você pode imaginar que o céu está aí e Deus lhe faz um festo com a cabeça, cada oração é respondida e tudo isso se apodrece. Ao menos para mim, para o orador. Mas nunca temos investigado seriamente o que está morrendo. Está bem, senhor? O que está morrendo?  Morrer deve ser algo extraordinário, não? Uma coisa extraordinária. Tudo se findou: seus arquivos adjuntos, seu dinheiro, sua esposa, seus filhos, seu país, suas superstições, seus gurus, seus deuses... Tudo se foi. Certo?  É possível que deseje levá-lo ao outro mundo, mas não pode pegar seu dinheiro, sua conta bancária, certo? Seus arquivos adjuntos, seus gurus, seus templos.  Você pode inventar templos mais acima, não depois da sua morte, mas enquanto você vive pode inventar todos os deuses na terra. Mas quando chega a morte e diz: “Olhe, você não pode levar nada consigo. Todos os seus arquivos adjuntos, todos os seus afetos, todas as suas feridas, todas as coisas que você reuniu na vida, você não pode carregar, não há espaço para isso”. Certo? Então a morte diz: “Seja totalmente desapegado”. Certo?  Isso é o que ocorre quando chega a morte. Não tem ninguém em quem possa se apoiar, não há nada. Certo. Você entendeu isto? Você pode acreditar que reencarnará na próxima vida. Essa é uma ideia muito reconfortante, mas pode não ser um fato, pode ser sua imaginação, seu anseio, seu “não posso deixar a minha esposa, tenho desejado tanto para um filho, mas o encontrarei na próxima vida, assim que o repreenderei”, e assim sucessivamente.

Então, estamos tratando de descobrir o que significa morrer — enquanto está vivo, não se suicide, não estou falando desse tipo de besteira. Quero saber o que significa morrer. Não saltar no rio, não me refiro a isso, ou ir aos Himalaias e morrer ali.  Mas quero descobrir por mim mesmo o que significa morrer. O que significa que posso estar totalmente livre de tudo que esse homem tenha criado, incluindo-me a mim mesmo? Sabe que há uma piada italiana, perdão por repeti-la: “Todo mundo morrerá, quem sabe, incluindo a mim”. (Risos). Então, quero descobrir qual é o fato real quando a more diz, é o suficiente. Certo? Você quer investigar isso? Não.  De verdade quer sabê-lo?  O que significa morrer? Renunciar a tudo. Certo? Não sacrificar, não use essas palavras tolas. Ela lhe corta com uma lâmina muito, muito afiada, de seus apegos, de seus deuses, de suas superstições, de seu desejo de conforto, a próxima vida e assim sucessivamente, etc. Assim que averiguarei o que significa a morte, porque é tão importante como a vida. Então, como posso averiguar, na realidade, não teoricamente? Fazer avaliações a respeito e formar sociedades e, você já sabe, todo esse circo. Mas na realidade que averiguá-lo, já que você quer saber. Estou falando para você, assim, que não se ponha a dormir.

Então, o que significa morrer? Você é muito saudável, o corpo está funcionando, não há enfermidade, como K, aos noventa e um anos, não tem nenhuma enfermidade, nem dor, etc., etc., porque tenho visto especialistas, doutores. Então, o que significa morrer? Faça-se essa pergunta, não me escute. Enquanto você é jovem, ou quando é muito velho, esta pergunta está sempre aí. Certo? Sempre pergunta e exige o que significa morrer. Você está interessado nisto? É você? Oh, não, não mova a cabeça, senhor!Sabe o que significa? Para ser totalmente livre, estar totalmente desacoplado de tudo o que o homem tenha juntado ou que tenha reunido, totalmente grátis. Sem arquivos adjuntos, sem deuses, sem futuro, sem passado. Você tampouco sabe o que significa tudo. Não vê a beleza disso, a grandeza de si mesma, a extraordinária força da mesma. Então, enquanto vive, você morre. Entende o que isso significa? Enquanto vive, a cada momento se está morrendo. Assim que durante toda a vida, você não está se apegando a nada: sua esposa, seu pai, sua mãe, sua avó, seu país, sua... Nada. Porque isso é o que a morte significa. Certo? Pode desejar outra vida. Isso é demasiado fácil, demasiado simples, demasiado idiota.

Então, a vida se está morrendo. Você entende? Viver significa todos os dias que você está abandonando tudo ao que está apegado, ao que você adora, ao que pensa, ao que não pensa, seus deuses, seu país — nada! Você pode fazer isso? Pode fazer isso? Um fato muito simples, mas tem tremendas implicações. Para que cada dia seja um novo dia. Você entende? Cada dia você está morrendo e encarnando. Oh! Você não entende! Há uma grande vitalidade, energia ali. Você entende? Porque não há nada de que tenha medo. Não há nada que possa lhe irritar, não pode ser ferido.

O pensamento é limitado, portanto, não tem importância; tem importância porque tenho que levantar-me e partir em cinco minutos, mas o tempo, o pensamento, o medo, o apego e todas as coisas que o homem tem ajuntado têm que ser totalmente abandonado. Isso é o que significa morrer. Deus pode estar esperando para lhe salvar no céu, tudo isso soa tão ridículo. Então, você pode fazê-lo? Você o tentará? Experimentará isso? Não só por um dia. Cada dia. Não, senhor, não pode fazê-lo. Seus cérebros não estão treinados para isto. Seus cérebros têm sido condicionados tão fortemente por sua educação, por sua tradição, por seus livros, por seus professores, por seu... tudo o mais. Isto requer averiguar o que é o amor. E o amor e a morte caminham de mãos dadas. Porque a morte diz: “Seja livre, não conectado, nada que você possa levar consigo”. E o amor diz... Não há palavra para isso. Então o amor pode existir só quando há liberdade, não de sua esposa, de uma nova filha ou de um novo esposo, mas da sensação, da enorme força, da vitalidade, da energia completa.

Na próxima vez que nos encontrarmos, falaremos sobre religião e meditação. Espero que esteja bem.  Lamento que só haja três palestras, mas o orador não pode continuar. Vocês entendem? Ele tem noventa anos e se isso é o suficientemente bom. Acabou-se, senhor!

Krishnamurti, segunda palestra em Madras (Chennai),
01 de janeiro de 1986
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quinta-feira, 29 de março de 2018

Na percepção plena, o fim do sofrimento


Na percepção plena, o fim do sofrimento

O amor é desejo?

O ardor, a excitação, é um sinal de amor?

O amor pode existir quando há ambição, agressividade?

Pode haver amor quando um ser humano é ferido desde a infância, quando há sofrimento?

Ou por acaso, esse aroma, isso ao qual temos chamado de amor, existe apenas quando tudo isso acaba?

Tudo isso pode acabar?

Não intelectualmente, nos contentando com explicações adequadas ou com redução do sofrimento e o medo de uma questão científica de substâncias e comportamento químicos.

Como podemos matar outro, seja na guerra ou em uma explosão de violência, se houver amor?

Aparentemente, nós humanos somos prisioneiros na terrível tragédia do hábito, da tradição, da atividade de um cérebro atrofiado por causa de seu funcionamento mecânico.

Tanto nas igrejas do Ocidente como no mundo oriental nos apegamos às crenças, à fé, à constante repetição de infinitos e absurdos rituais, que são o produto do pensamento. E o pensamento é um processo material, como já explicamos e como alguns cientistas começam a aceitar.

A pergunta é: o sofrimento pode terminar? Não só o sofrimento pessoa, mas sim o a humanidade inteira.

Pois o sofrimento não é seu ou meu; é o sofrimento que cinco mil anos de guerra criaram;
o sofrimento pelo qual o ser humano continua se armando para a guerra; o sofrimento da divisão eterna entre os seres humanos: entre católicos e protestantes, hindus, budistas e muçulmanos; entre árabes e judeus, americanos e russos...

Esta divisão permanente é a causa de um terrível conflito mundial. No entanto, parece que não somos conscientes dele, que não nos percebemos do terrível perigo diante do qual nos encontramos; nos valemos de qualquer conhecimento, explicação ou diversão para evitá-lo.

Podemos, em vez de fugir, perceber com sensibilidade da sociedade que o ser humano tem
criado, ver que somos parte disso e que somos, portanto, absolutamente e totalmente responsáveis por tudo o que acontece no mundo?
Queremos descobrir se esse sofrimento que distorce o pensar pode terminar.

Por favor, tenham a bondade de levantar esta pergunta; não porque quem lhes fala, peça que o façam, mas porque é seu sofrimento, o sofrimento da humanidade e não há palavra, explicação nem fuga capaz de acabar com ele: é preciso enfrentá-lo. Ou se o olha de lado, superficialmente, com impaciência, tentando transcendê-lo, isto é, não encara diretamente, ou se está completamente com o que é, sem que nenhum pensamento interfira e distorça a realidade do sofrimento.

O Sofrimento é por um lado autopiedade, tortura autoimposta, abnegação e, por outro lado, as várias atividades do "eu", que tenta satisfazer seus desejos, e o consegue ou fracassa.

Tudo isso, e mais, faz parte do sofrimento.

Você pode olhar diretamente, estar em contato completo com isso?

Esse contato total só é possível se não houver divisão entre você e isso ao que chama de sofrimento.

Você não está separado do sofrimento; sem dúvida, como observador você acredita que está, e para remediar esse sofrimento, tenta escapar, reprimindo-o, analisando-o, ignorando-o, transcendendo-o, pondo-lhe um fim, o que acentua a divisão.

Assim nós temos vivido tradicionalmente; mas o fato é que você está sofrendo, não que você está separado dele: quando você fica com raiva, a raiva não é diferente de você; Quando é violento, você não é diferente da violência.

As figuras religiosas e símbolos que você tem criado fazem parte de você; embora os adore
como se estivessem separados, é o ser humano quem os criou com a mão ou com a mente.

E como essa divisão só gera conflito, deve-se observá-la; observar em primeiro lugar que essa divisão existe, que essa é a tradição.

De acordo com isso, fomos ensinados que o "eu" é separado do sofrimento, da dor, da ansiedade, de medo e até do prazer; nós fomos condicionados a pensar assim de meninos e para quebrar esse condicionamento e, assim, acabar com o conflito, tem que se observar, tem que se estar em contato com esse sofrimento, com esse medo e com esses desejos, eliminando completamente a sensação de que há observador que olha para dentro a partir de fora.

Como em todas as relações entre os seres humanos, o pensamento tem criado uma divisão.

Se você observar seu relacionamento com outro, por mais íntimo que seja, você verá que há uma separação óbvia entre vocês e esta separação, seja nos relacionamentos íntimos, nacionais ou internacionais, necessariamente gerará conflito; essa é a lei.

É por isso que, onde estamos há conflito em todos os nossos relacionamentos.

Então, existe a possibilidade de ser um com o sofrimento, sem qualquer divisão, sem a menor tentativa de superá-lo ou explicá-lo?

Pois nesse contato completo com o sofrimento, a atenção é total, toda a energia é colocada nisso, e é essa energia que age e põe fim ao sofrimento.

Ojai, sexta palestra pública,
17 de maio de 1981
A Atenção e a Liberdade Interior
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terça-feira, 3 de outubro de 2017

A relação entre amor humano e amor Divino


O amor é uma das grandes forças universais; existe por si mesmo e seu movimento é livre e independente dos objetos nos quais e através dos quais se manifesta. Manifesta-se em qualquer lugar onde encontre uma possibilidade de manifestação, onde quer que haja receptividade, onde quer que haja alguma abertura para ele. O que você chama de amor, e pensa ser uma coisa individual e pessoal, é apenas a sua capacidade de receber e manifestar esta força universal. Entretanto, apesar de universal, não é uma força inconsciente; é um Poder sumamente consciente. Conscientemente, ele procura sua manifestação na terra; conscientemente escolhe seus instrumentos, desperta para suas vibrações aqueles que são capazes de uma resposta, esforça-se para realizar neles aquilo que é sua meta eterna, e quando o instrumento não é adequado, deixa-o e volta-se para procurar outros. Os homens pensam que, de repente, se apaixonam; veem seu amor chegar e crescer e gradualmente desaparecer — ou, talvez, durar um pouco mais naqueles que são especialmente capacitados para seu movimento mais durável. Mas a sensação de ser uma experiência pessoal toda sua era uma ilusão. Nada mais era do que uma onda do mar sem fim do amor universal.

O Amor é universal e eterno; está sempre se manifestando e é sempre idêntico na sua essência. É uma Força Divina; porque as deformações que vemos nas suas aparentes expressões pertencem a seus instrumentos. O amor não se manifesta apenas em seres humanos; está em todo lugar. Seu movimento está nas plantas, talvez nas próprias pedras; nos animais é fácil notar sua presença. Todas as deformações deste grande Poder Divino vêm da obscuridade e ignorância e egoísmo do instrumento limitado. O amor, a força eterna, não tem apego ou desejo, não tem fome de posse nem ligação egoística; é no seu movimento puro, a procura da união do ser com o Divino, uma procura absoluta, indiferente a todas as outras coisas. O Amor Divino dá-se e não pede nada. O que os seres humanos fizeram dele não é preciso dizer — transformaram-no em algo feio e repulsivo. E, entretanto, mesmo nos seres humanos, o primeiro contato com o amor traz para baixo algo da sua substância mais pura; por um momento eles se tornam capazes de esquecer de si mesmos, por um momento seu toque divino desperta e amplia tudo que é bom e bonito. Mas depois vem à tona a natureza humana, cheia de suas exigências impuras, pedindo alguma coisa em troca, negociando com o que dá, clamando por suas próprias satisfações inferiores, distorcendo e denegrindo o que era divino.

Para manifestar o Amor Divino você deve ser capaz de receber o Amor Divino, pois somente podem manifestá-lo aqueles que por sua natureza são abertos a seu movimento natural. Quanto mais vasta e clara a abertura, mais eles manifestam o Amor Divino na sua pureza original; quanto mais misturado com os baixos sentimentos humanos, maior será sua deformação. Aquele que não é aberto ao amor na sua essência e na sua verdade, não pode se aproximar do Divino. Mesmo aqueles que buscam, através do caminho do conhecimento, chegar a um ponto além do qual, se quiserem avançar mais longe, são obrigados a entrar ao mesmo tempo no amor e sentir os dois como um só: o conhecimento, a luz da união divina e o amor, o próprio cerne do conhecimento. Existe um momento no progresso da alma em que eles se encontram e você não pode distinguir um do outro. A divisão, a distinção que você faz entre os dois, a princípio é uma criação da mente: no momento que você se eleva a um plano mais alto, elas desaparecerão.

Entre aqueles que vieram a este mundo procurando revelar o Divino aqui e transformar a vida terrena, alguns há que manifestaram o Amor Divino em uma plenitude mais vasta. Em alguns a pureza da manifestação é tão grande que são mal compreendidos por toda a humanidade e até mesmo são acusados de ser duros e sem coração, embora o Amor Divino esteja lá. Porque neles, esse amor é divino e não humana em sua forma e em sua substância. Pois quando o homem fala de amor, ele o associa a uma fraqueza emocional e sentimental. Mas a intensidade divina de auto-esquecimento, esta capacidade de se dar inteiramente, sem nenhuma restrição ou reserva, como uma doação, não pedindo nada em troca, é muito pouco conhecida dos seres humanos. E quando não está misturado com emoções fracas e sentimentais, acham-no duro e frio; não podem reconhecer nele o mais alto grau e intensidade do poder de amor.

O grande holocausto, a suprema doação, foi a manifestação do amor do Divino no mundo. A Consciência Perfeita aceitou mergulhar e ser absorvida na inconsciência da matéria, para que a consciência pudesse ser despertada nas profundezas de sua obscuridade e pouco a pouco um Poder Divino crescer nela e fazer de todo este universo manifestado a mais alta expressão da Consciência Divina e do Amor Divino. Este foi o amor supremo: aceitar a perda da condição perfeita da divindade suprema, de sua consciência absoluta, de seu conhecimento infinito, para unir-se à inconsciência, co-habitar no mundo com a ignorância e a escuridão. E no entanto, ninguém talvez chamaria a isto de amor; porque não se reveste de um sentimento superficial; não faz exigências em troca do que fez, não demonstra seu sacrifício. A força do amor no mundo está tentando encontrar consciências que sejam capazes de receber este movimento divino na sua pureza, e de expressá-lo. Esta corrida de todos os seres em busca de amor, este empurrão irresistível e a procura no coração do mundo e em todos os corações é o impulso dado pelo Amor Divino, que se esconde atrás do anseio e busca dos homens. Ele experimenta milhões de instrumentos, tentando sempre e sempre falhando; mas este toque constante prepara esses instrumentos e subitamente acordará neles um dia a capacidade de autodoação, a capacidade de amar.

O movimento do amor não é limitado aos seres humanos e é talvez menos distorcido em outros mundos. Olhe para as flores e árvores. Quando o sol se põe e tudo se torna silencioso, sente-se por um momento e coloque-se em comunhão com a natureza: você sentirá, subindo da terra, de debaixo das raízes das árvores, ascendendo e caminhando através de suas fibras até os mais altos galhos espalhados, a aspiração de um amor intenso e saudade — saudade de algo que traz luz e dá felicidade, pela luz que se foi e que você gostaria de ter de volta. Há um anseio tão puro e intenso que se você puder sentir o movimento nas árvores, seu próprio ser também se elevará numa prece ardente pela paz e luz e amor que ainda não são manifestados aqui. Se você entrar em contato com este verdadeiro amor divino, vasto e puro, se você o tiver sentido mesmo por um momento e na sua forma mais íntima, tomará consciência da coisa abjeta na qual o desejo humano o transformou. Tornou-se, na natureza humana, algo baixo, brutal, egoísta, violento, feio, ou então, algo fraco e sentimental, formado de sentimentos mesquinhos, frágeis, superficiais e exigentes. E a esta torpeza e brutalidade ou a esta fraqueza egoísta chamam-na de amor!


A Mãe 

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Os problemas do amor

Um relacionamento é um koan*. A menos que você tenha resolvido as coisas mais fundamentais sobre si mesmo, você não pode resolvê-lo.

Os problemas do amor só podem ser resolvidos quando os problemas da meditação forem resolvidos.

Porque são realmente duas pessoas não meditadoras que criam os problemas. Duas pessoas que estão na confusão, que não sabem quem elas são, naturalmente, elas multiplicam a confusão umas das outras. A menos que a meditação seja alcançada, o amor permanecerá uma miséria.

Depois de ter aprendido a viver só, uma vez que você aprende a apreciar a sua existência simples por nenhuma razão, aí sim há possibilidades de resolver o segundo dos problemas mais complicados de duas pessoas estarem juntas.

Apenas dois meditadores podem viver com amor. E o amor não será um koan* e não será um relacionamento também.

É simplesmente um estado de amor não um relacionamento.

Se o amor e a meditação caminham juntos e de mãos dadas, você terá ambas asas. Ame e medite, medite e ame e, pouco a pouco, você vai ver uma nova harmonia surgindo em você. Só essa harmonia vai trazer a você completo contentamento.

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*koan (enigma zen)

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Desconhecemos a realidade do Amor

Falemos agora um pouco do amor, sobre o que significa, e vejamos se atrás desta palavra, que tanta significação tem para nós, se atrás desta palavra e deste sentimento se oculta também aquele peculiar elemento de apreensão, de ansiedade, essa coisa que as pessoas adultas conhecem pelo nome de solidão. Falemos, pois, a respeito da palavra e do sentimento chamado amor.

Sabeis o que é amor? Sabeis como se acha o amor? Amais os vossos pais? Sabeis amar vosso pai, vossa mãe, vosso tutor, vosso mestre, vossa tia, vosso marido ou vossa esposa? Sabeis o que tal significa? Quando digo “amo os meus pais”, que exprime isso? Significa que nos sentimos protegidos na companhia deles, que estamos acostumados com eles? Verificai, enquanto falo, se o que digo se aplica à vossa pessoa e ao amor a vossos pais. Pensais que vossos pais vos estão protegendo, dando-vos dinheiro, teto, vestuário e alimentos, e tendes também o sentimento de estardes numa relação íntima com eles — não é verdade? Além disso, achais que podeis confiar neles. Eu não sei se confiais neles, mas vós o achais. Compreendei a diferença. Achais que podeis confiar, mas isso pode não ser bem exato; provavelmente não falais com eles tão desembaraçada e despreocupadamente como falais com os vossos amigos. Todavia, vós os respeitais, significando isso que os acatais, que eles mandam e vós obedeceis, que tendes o sentimento de uma certa responsabilidade perante eles, quando fordes maiores e eles estiverem velhos. Eles, por sua vez, vos amam e desejam ajudar-vos — pelo menos dizem que o desejam. Desejam ver-vos casados, para viverdes uma “vida moral”, como se costuma dizer, para que tenhais um marido que vos proteja, ou uma esposa que cuide de vós, cozinhe para vós e tome conta das crianças. Isso é o que se chama amor.

Não podemos averiguar se isso é o verdadeiro amor, porquanto o amor não se pode explicar por meio de palavras. Não é algo que vos venha com facilidade. É muito mais complexo e não é facilmente compreensível. Sem ele, a vida é estéril; sem ele, as árvores, os pássaros, o sorriso de homens e mulheres, a ponte sobre o rio, os barqueiros, os animais, nenhuma significação têm. Sem ele, a vida se torna superficial, sem profundidade. Sabeis o que significa a vida “sem profundidade”? Quer dizer que ela se torna como uma poça d’água. Num rio profundo podem viver muitos peixes e há muitas riquezas. Mas a poça d’água que vemos à beira da estrada seca rapidamente sob o sol ardente, e nada resta senão lodo e sujidade.

O amor, em regra, é uma coisa bem difícil de compreender. Porque, geralmente, ele é para nós algo “sem profundidade”. Atrás da palavra “amor” está emboscado o medo. Desejamos ser amados e, também, desejamos amar. Não é, portanto, de suma importância que cada um de nós cuide de averiguar o que é esta coisa extraordinária? Só o podereis averiguar, se estiverdes cônscios de como olhais os entes humanos, as árvores, os pássaros, os animais, o homem que tem fome, e também os vossos amigos, se os tendes, vossos gurus, vossos pais. Quando dizeis “amo meu pai, minha mãe, meu tutor, meu mestre”, que significa isso? Quando sentis reverência por alguém, quando achais que é vosso dever obedecer-lhe, e a pessoa também julga que deveis prestar-lhe obediência — isso é amor? Compreendeis o que estou dizendo? Quando olhais para alguém com acatamento, quando respeitais enormemente essa pessoa, isso é amor? Se venerais uma criatura, desprezais outra. Não é exato isso? Isso é amor? Ao sentirdes que deveis obedecer, que tendes um dever, isso é amor? Pode o amor ser uma coisa em que haja apreensões, em que haja inclinação para respeitar ou desprezar, em que haja obediência a alguém?

Dizendo amar alguém, não estais na dependência dessa pessoa? É justo que, enquanto jovens, dependais de vosso pai, vossa mãe, vosso mestre, vosso tutor. Porque sois jovens, precisais de quem cuide de vós, necessitais de roupas, de morada de proteção. Na juventude, necessitais sentir que sois mantidos juntos, que alguém vela por vós. Mas, ainda depois de velhos, esse sentimento de dependência continua, não é verdade? Já o não notastes nos entes mais idosos, nos vossos pais, nos vossos mestres? Já não notastes como dependem de suas esposas, de seus filhos, de suas mães? Muitos continuam, depois de adultos, a apegar-se a alguém, a sentir a necessidade de dependência. Se não têm o amparo alheio, se não são guiados por alguma pessoa, se não têm um sentimento de conforto e segurança junto a outrem, sentem-se solitários, não é assim? Sentem-se perdidos. A dependência de outra pessoa chama-se amor, mas, se observardes atentamente, vereis que toda dependência significa temor, e não amor. Porque têm medo de estar sós, medo de pensar nas coisas por si próprios, medo de sentir, observar, descobrir o integral significado da vida, sentem que amam a Deus. Por conseguinte, dependem disso que chamam Deus. Mas uma coisa criada pela mente não pode servir-nos de arrimo; não é Deus, não é o desconhecido. O mesmo acontece com relação a uma idéia, uma crença. Creio numa coisa, e essa crença me proporciona grande conforto; amo esse ideal e me conservo fiel a ele. Mas, tirai-me o ideal, tirai-me a crença e minha dependência dela, e vejo-me perdido. Igualmente, tal se verifica se tenho um guru. Estou na sua dependência, espero algo dele; existe, pois, um temor, uma ânsia. E o fato se repete quando dependeis de vossos pais ou mestres. É justo que o façais enquanto jovens; mas, se continuardes nessa dependência depois de adultos, ela vos tornará incapazes de pensar, de ser livres. Onde há dependência, há também temor, e havendo temor, há a autoridade; não há amor. Quando vossos pais vos mandam fazer algo, cumpre obedecer. Tendes de seguir certas tradições, aceitar certos empregos, ter certas ocupações. Em nada disso há amor. E ao dependerdes da sociedade, aceitando-lhe a estrutura tal como é, isto não é amor, porque a sociedade está corrompida. Não é preciso investigar muito para verificar esse fato. Percorrei uma rua, e vede quanta pobreza, quanta abjeção e miséria existem.

O homem ambicioso, a mulher ambiciosa, não sabem o que é o amor; e nós somos governados por ambiciosos. É por isso que não existe felicidade no mundo. É muito importante que, enquanto cresceis, percebais bem isso e vos esclareçais para o descobrimento dessa coisa que se chama amor. Podeis ter uma casa bem rica, um jardim maravilhoso, uma boa posição, muitos vestidos e roupas, um bom emprego; podeis ser, o todo-poderoso Primeiro Ministro; mas, sem o amor, são vãs todas essas coisas.

Por conseguinte, o que deveis fazer agora — e não quando fordes mais velhos, porque então nunca descobrireis nada — é averiguar como é que amais os vossos pais, ou o vosso guru; deveis descobrir a significação de tudo isso, e não aceitar meramente uma palavra; pois impende esclarecer bem as palavras, para ver se atrás delas se oculta alguma realidade — sendo realidade aquilo que sentis verdadeiramente e não o que supondes sentir: sentir a realidade do ciúme quando tendes ciúme, a realidade da cólera se tendes cólera. Quando dizeis “não devo ser ciumento”, isso é apenas uma variante do desejo, sem nenhum significado. Se fordes suficientemente honestos para com vós mesmos, de modo que possais descobrir com toda a exatidão e clareza o vosso sentimento, o vosso verdadeiro estado — não o vosso estado ideal: como deveis agir, como deveis sentir numa data futura, mas o que efetivamente sentis neste momento — há então a possibilidade de modificá-lo. Mas o dizer “preciso amar meus pais, preciso amar meu guru, preciso amar meu mestre” nada significa, não é verdade? Porque na realidade sois bem diferentes; dizeis uma porção de palavras, e ficais escondidos atrás delas. Não é, pois, próprio da inteligência averiguar o que existe atrás das palavras, atrás da acepção comum das palavras? Palavras tais como “dever”, “responsabilidade”, “Deus”, “amor”, adquiriram muita significação tradicional; mas o homem que é inteligente, verdadeira e profundamente instruído, procura saber o que existe atrás das palavras. Se, por exemplo, eu vos dissesse que não creio em Deus, ficaríeis extraordinariamente chocados, não é verdade? Diríeis: “Credo, que ideia horrorosa!” Vós credes em Deus, não? Pelo menos, pensais que credes. Isto tem pouca significação — vossa crença ou descrença.

O importante é elucidar a palavra, a palavra que chamais amor, para verdes se de fato amais os vossos pais e se vossos pais vos amam deveras. Porque se amásseis realmente os vossos pais, ou vossos pais vos amassem, outro seria o mundo. Não haveria guerras, não haveria divergências de classes, nem ricos e pobres. Sem esta coisa denominada amor, podeis fazer tudo para ajustar a sociedade economicamente, em bases justas, mas nunca conseguireis criar uma estrutura social isenta de conflito e de sofrimento. Por conseguinte, cumpre examinar tudo isso atentamente; e então, talvez, descobrireis o que é o amor.

Krishnamurti em, Novos Roteiros em Educação

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Por imposição, não se alcança o amor integrativo e fraternal

PERGUNTA: Pode a organização de uma sociedade com igual oportunidade para todos despertar aquele sentimento de compaixão que acabará, afinal, com a intromissão do governo em nossa vida pessoal?

KRISHNAMURTI: A primeira parte da pergunta é: "Impede-se a amizade com propagar a justiça, isto é, organizando a sociedade numa base equitativa?" Evidentemente, destrói-se a amizade ao depender-se da justiça para a organização de uma sociedade equitativa. Compreendeis? Se dependo da chamada ORDEM IMPOSTA POR UMA FORÇA EXTERIOR, o governo, a Lei, PERDEREI A SENSIBILIDADE NECESSÁRIA PARA TORNAR-ME VERDADEIRAMENTE AMIGÁVEL. Isto é bastante óbvio, não? E é exatamente o que está sucedendo. Vós continuais brâmane, ou o que quer que sejais, isolando-vos dos outros, e o governo intervém para estabelecer a justiça.[...]

Quando o homem depende da lei para manter dentro de certos limites a própria avidez, o seu coração invariavelmente emurchece. Senhores, é isso o que está acontecendo no mundo inteiro. A sociedade se está tornando cada vez mais complexa, e como temos de viver juntos, MAS NÃO POSSUÍMOS AQUELE SENTIMENTO DE AMIZADE, DE AMOR, DE COMPAIXÃO, que gerará sua ação própria, a legislação governamental NOS FORÇA a comportar-nos — e isso é o que se chama "justiça social". É a mesma coisa que um homem e uma mulher serem obrigados por lei a viver juntos. Isto é mais fácil de compreender, porque faz parte de vossa existência diária. Mas a outra coisa não está no campo de vossa experiência, não é como um sapato apertado que vos incomoda todos os dias. Não estais cônscios dela, porque vosso coração está murcho.

Como vemos, quando não há amizade, a lei tem de intervir. Compreendeis, senhores? O importante é a PERCEPÇÃO, O SENTIMENTO DE COMPAIXÃO, e não o que ela pode fazer. Vede, aqui também estais interessados na ação; e por estardes pensando na ação mas NÃO POSSUÍS O SENTIMENTO, vossa ação tem de ser controlada, moldada, REGULADA MEDIANTE INTIMIDAÇÃO. Porém, se tiverdes aquele sentimento de simples bondade, simples delicadeza, generosidade, vereis que, conquanto a legislação continue a existir para os que precisam ser compelidos, para vós ela não existe, porque estais atuando num nível diferente, numa diversa profundidade.

A segunda parte da pergunta é: "A organização de uma sociedade em que todos tenham igual oportunidade conduzirá à compaixão?" — Compreendeis? A organização do governo, do poder central através do estado e da Cidade, ou por parte da Igreja, com sua autoridade, suas sanções, seus sacerdotes, seus livros sagrados e excomunhões, seu moldar da mente em torno de uma crença, em nome do amor, etc., tal organização levará ao amor ou DESTRUIRÁ O AMOR, A COMPAIXÃO? Prestai atenção a isso , senhores. Trata-se de vossa própria vida e não da minha. A vós é que cabe responder.

Se para serdes fraterno, precisais ingressar numa certa sociedade ou pertencer a alguma religião que vos prescreve amar, depender de um sacerdote para terdes uma interpretação daquela extraordinária beleza, amareis então, sabereis então o que é a compaixão? Sereis sensível à ave, à árvore, à flor, à criança? Refleti, senhores. Dai-vos de coração a essa questão e não vos limiteis a ouvir meras palavras, para concordar ou discordar. ENQUANTO ESTÁ VAZIO O NOSSO CORAÇÃO, não é possível a extinção do poder do Estado; é mera ideia e, portanto, sem valor. Muito ao contrário, os governos irão tornar-se cada vez mais fortes, uma vez que estão nas mãos de homens como vós, ambiciosos de poder, posição, prestígio. Como vós, eles são políticos, em busca de vantagens pessoais, de resultados imediatos. Quanto mais se fizer sentir a ação mecânica da repressão, interior e exteriormente, tanto mais prosperará o Estado, e organizações como aquelas a que agora pertenceis continuarão a moldar-vos a mente; assim, FENECE O CORAÇÃO, NÃO HÁ AMIZADE, NÃO HÁ COMPAIXÃO ENTRE VÓS E MIM.

Quando há compaixão, o sentimento de compaixão, ela não atinge apenas o pobre aldeão ou o animal faminto; sua intensidade é sempre a mesma onde quer que estejais, numa choça ou num palácio, e esse sentimento não pode ser "organizado" e não podeis, tampouco, alcançá-lo por meio de uma organização. Os Mestres não vo-lo podem dar; e, se dizem que podem dá-lo, É MENTIRA. Senhores, porque há séculos seguis a autoridade do livro, do guru, do Estado, a autoridade do patrão, do vosso superior imediato, PERDESTES A SENSIBILIDADE Á BELEZA DA VIDA. Olhar com sentimento para o céu ao amanhecer, para uma estrela acima de uma nuvem, ver o aldeão e dar-lhe algo tirado de vosso coração E NÃO DE VOSSO BOLSO — nada disso perdestes, porque nunca o tivestes — e é por isso que tendes organizações; e por causa dessas organizações, CONTINUAREIS A NÃO TÊ-LO. Quando vos libertardes COMPLETAMENTE de todas as organizações e ficardes INTEIRAMENTE SÓS, só então podereis DESCOBRIR. DEPENDÊNCIA SIGNIFICA INTERESSE POR SI MESMO e, portanto, enquanto fordes dependente NÃO TEREIS COMPAIXÃO. E eu vos asseguro que quando existe compaixão não há necessidade de organizar a sociedade.

Jiddu Krishnamurti em, O Homem Livre

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O amor é a única religião, o único Deus

O amor é a única religião, o único Deus, o único mistério que tem que ser vivido, compreendido. Quando o amor for compreendido, você terá compreendido todos os sábios e todos os místicos do mundo.

Não é uma coisa difícil. É tão simples quanto as batidas do seu coração ou a sua respiração. Ele vem com você, não é concedido pela sociedade. E esse é o ponto que eu quero enfatizar: o amor vem com o nascimento, mas não vem plenamente desenvolvido, é claro, assim como todo o resto. A criança tem que crescer.

A sociedade se aproveita dessa lacuna. O amor da criança leva tempo para crescer; enquanto isso a sociedade aproveita para condicionar a mente da criança com ideias falsas sobre o amor.

Na época em que está pronto para explorar o mundo do amor, você já está abarrotado com tantas bobagens sobre o amor que já não há muita esperança de que seja capaz de encontrar o autêntico e descartar o falso.

E o amor é uma flor tão delicada que não pode ser forçada a ser permanente. Você pode ter flores de plástico, que é o que as pessoas têm — casamento, família, filhos, parentes, tudo de plástico. O plástico só tem uma coisa muito espiritual: é permanente.

O amor verdadeiro é uma incerteza assim como a vida é uma incerteza. Você não pode afirmar que estará aqui amanhã. Você não pode sequer dizer que estará vivo daqui a pouco. A sua vida está mudando continuamente — desde a infância até a juventude, a meia-idade, a velhice, a morte, ela continua mudando.

O amor de verdade também mudará.

É possível que, se você for uma pessoa iluminada, o seu amor tenha transcendido as leis costumeiras da vida. Ele nem está mudando nem é permanente; simplesmente é. Não é mais uma questão de como amar; você se tornou o próprio amor, por isso o que quer que faça é amoroso.

Não que você faça algo especificamente que seja amor; faça o que fizer, o seu amor se derramará sobre isso. Mas antes da iluminação o seu amor será exatamente como todo o resto: ele mudará.

(Osho)
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill