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terça-feira, 9 de julho de 2013

Pode a mente rude se tornar sensível?

Pergunta: Pode a mente rude se tornar sensível?

Krishnamurti: Escutem a pergunta, o significado que jaz oculto atrás das palavras. Pode a mente rude se tornar sensível? Se digo que minha mente é rude e procuro torna-la sensível, o próprio esforço para torna-la sensível é rudeza. Vejam bem isso, por favor. Não se mostrem intrigados — observem! Mas se, ao contrário, reconheço que sou rude, sem desejar mudar o estado, sem procurar tornar-me sensível; se começo a compreender o que é rudeza, se observo em minha vida de cada dia — minha maneira sôfrega de comer, a rispidez com que trato as pessoas, o orgulho, a arrogância, a vulgaridade de meus hábitos e pensamentos — então essa própria observação transforma o que é.

Analogamente, se sou estúpido e digo que devo tornar-me inteligente, o esforço para me tornar inteligente é apenas uma forma ampliada de minha estupidez; porque o importante é compreender a estupidez. Por mais que eu me esforce para me tornar inteligente, minha estupidez permanecerá. Poderei adquirir um superficial verniz de ilustração, ser capaz de citar livros, repetir mensagens dos grandes autores, mas, basicamente, continuarei estúpido. Porém, se vejo e compreendo a estupidez, conforme se manifesta em minha vida diária — como me comporto com meu empregado, como olho o meu vizinho, o homem pobre, o homem rico, o auxiliar de escritório — então, esse próprio percebimento provoca a dissolução da estupidez.


Tem isso. Observem-se quando falam com o seu serviçal, observem o enorme respeito que mostram para com o patrão e o pouco caso que fazem do homem que nada tem para dar-lhes. Começarão, então, a descobrir como são estúpidos; e, no compreender a estupidez, há inteligência, sensibilidade. Vocês não têm de tornarem-se sensíveis. O homem que está tentando tornar-se alguma coisa é feio, insensível; é rude.

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano

Por que os mais velhos deixam de ser inteligentes?

Pergunta: O que é inteligência?

Krishnamurti: Examinemos esta questão devagar, pacientemente. Para descobrir. Descobrir não é chegar a uma conclusão. Não sei se vocês percebem a diferença. No momento em que vocês chegam a uma conclusão sobre o que é inteligência, deixam de ser inteligentes. Foi isso o que fez a maioria das pessoas mais velhas: chegaram a conclusões. Por isso, deixaram de ser inteligentes. Vocês descobriram, pois, uma coisa: que a mente inteligente é aquela que está aprendendo constantemente, sem jamais tirar conclusões.

O que é inteligência? A maioria das pessoas se satisfaz com uma definição do que é inteligência. Ou dizem: “Esta é uma boa explicação”, ou preferem sua explicação própria, pessoal. Mas a mente que se satisfaz com explicações é muito superficial e, por conseguinte, ininteligente. Vocês começaram a ver que a mente inteligente não é aquela que se satisfaz com explicações, com conclusões; não é, tampouco, a que acredita, porque a crença é, também, outra forma de conclusão. A mente inteligente é aquela que investiga, que observa, aprende, estuda. E o que significa isso? Que só há inteligência quando não há medo, quando vocês estão dispostos a se rebelarem contra toda a estrutura social a fim de descobrir o que é Deus, descobrir a verdade relativa a qualquer coisa.

Inteligência não é sapiência. Se vocês pudessem ler todos os livros do mundo, isso não lhes daria inteligência. A inteligência é coisa muito sutil; ela não tem ancoradouro. Surge quando vocês compreendem o processo total da mente — não a mente segundo certo filósofo ou professor, mas a própria mente de vocês. A mente de vocês é o resultado da comunidade inteira e, quando a compreendem, não necessitam de estudar um só livro, porque ela contém todo o conhecimento do passado. A inteligência, pois, surge com a compreensão de si mesmo; e só podem se compreender em relação com o mundo das pessoas, das coisas, e das ideias. Inteligência não é coisa adquirível, como a sapiência; ela surge quando há uma grande revolta, isto é, quando não há medo; e isso significa: quando há sentimento de amor, pois, quando não há medo, há amor.

Se você só está interessado em explicações, receio que irá achar que não respondi à sua pergunta. Perguntar o que é inteligência é coisa semelhante a perguntar o que é a vida. A vida é estudo e recreação, sexo, trabalho, disputa, inveja, ambição, amor, beleza, verdade; a vida é tudo, não é? Mas, vejam, a maioria de nós não tem paciência para prosseguir, séria e constantemente, nesta investigação.  

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano

Sobre o nefasto controle governamental da educação

Pergunta: Na Índia, como na maioria dos outros países, a educação está sob o controle do governo. Em tais circunstâncias, é possível levar a cabo uma experiência da espécie que você descreve?

Krishnamurti: Se não houvesse assistência por parte do governo, poderia subsistir uma escola deste gênero? É o que está perguntando este senhor. Ele vê que, no mundo inteiro, tudo está se tornando cada vez mais controlado pelos governos, pelos políticos, pelas pessoas investidas de autoridade, que desejam moldar nossas mentes e nossos corações; que querem que pensemos de certa maneira. Seja na Rússia, seja noutro país qualquer, a tendência é para o controle da educação pelo governo; e este senhor pergunta se é possível existir uma escola da espécie a que me refiro sem nenhuma ajuda governamental.

Ora, que dizem vocês? Se pensam que uma certa coisa é importante, que merece nossos esforços, vocês lhe dão o coração, independentemente dos governos e dos decretos da sociedade; e, então, a coisa será bem sucedida. Mas, em geral, nós não damos nosso coração a coisa alguma, e é por esta razão que fazemos perguntas deste tipo. Se vocês e eu sentirmos, vigorosamente, que um novo mundo poderá ser criado quando cada um de nós estiver em completa revolta, interiormente, psicologicamente, espiritualmente, daremos, então, nossos corações, nossa mente, nosso corpo, em prol da criação de uma escola onde não exista o medo e tudo o que ele implica. Senhor, toda coisa verdadeiramente revolucionária é criada por uns poucos que enxergam o que é verdadeiro e estão prontos a viver de acordo com essa verdade. Mas, o descobrir do verdadeiro requer que estejamos libertados da tradição e, portanto, libertados de todos os temores.

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano


O homem ambicioso está destruindo a si próprio

Pergunta: É verdade que a sociedade está baseada na cobiça e na ambição; mas, se não tivéssemos ambição, não nos deterioraríamos?

Krishnamurti: Esta é, em verdade, um pergunta muito importante, que requer toda a atenção.

Vocês sabem o que é atenção? Vejamos. Quando, durante uma aula, vocês olham pela janela ou puxam os cabelos de um companheiro, o mestre lhes manda “prestar atenção”. E o que significa isso? Que não lhes interessa o que estão escutando e, por conseguinte, o mestre lhes obriga a prestar atenção. Mas isso, de modo nenhuma é atenção. Há atenção quando vocês sentem profundo interesse por uma coisa, porque, então, procuram, com amor, descobrir tudo o que a ela diz respeito; então, a mente inteira de vocês, todo o ser, está presente. Analogamente, no momento em que percebem que esta pergunta — se não tivéssemos ambição, não nos deterioraríamos? — é realmente muito importante, ficam interessados e desejam descobrir a verdade a esse respeito.

Ora, o homem ambicioso não está destruindo a si próprio? Isso é que precisa se averiguar em primeiro lugar, e não perguntar se a ambição é “certa” ou “errada”. Olhem ao redor de vocês, observem as pessoas que são ambiciosas. O que acontece quando vocês são ambiciosos? Só pensam em si mesmos, não é verdade? São cruéis, empurram os outros para o lado, porque estão procurando preencher a ambição de vocês, procurando se tornarem “homens importantes”, e criando, assim, na sociedade, o conflito entre os que estão tendo êxito e os que estão ficando para trás. É uma batalha constante entre vocês e os outros, que também desejam o que vocês desejam; e pode esse conflito produzir um viver criador? Compreendem, ou isso está muito difícil?

Vocês são ambiciosos quando gostam de fazer uma coisa por amor a ela própria? Quando estão fazendo alguma coisa com todo o ser de vocês, não pode desejarem chegar a alguma parte ou obter alguma vantagem, porém, simplesmente, por gostarem de fazê-la — aí não há ambição, há? Não há então competição; não estão lutando contra ninguém pelo primeiro lugar. E não deve a educação lhes ajudar a descobrir o que realmente gostam de fazer, de modo que, do começo ao fim de suas vidas, estejam trabalhando em algo que sintam ser valioso e ter, para vocês, profunda significação? Do contrário, serão, até o fim de seus dias, seres dignos de lástima. Quando não sabem o que gostam de fazer, suas mentes caem numa rotina, em que só se encontra tédio, decomposição e morte. Eis por que é tão importante descobrirem, enquanto jovens, o que gostam de fazer. Esta é, realmente, a única maneira de criar uma nova sociedade.

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano

Se revoltar, aprender e amar

Pergunta: Se revoltar, aprender, amarsão três processos separados ou simultâneos?

Krishnamurti: Naturalmente, não são três processos separados; é um processo unitário. Vejam, é muito importante verificar o que significa uma pergunta. Esta pergunta está baseada em teoria, e não na experiência; é puramente verbal, intelectual e, por consequência, sem validade. O homem destemido, que está realmente revoltado, lutando para descobrir o que significa aprender, amar — esse homem não pergunta se isso é um só processo ou três processos. Somos muito sutis com palavras, e pensamos que, apresentando explicações, temos resolvido o problema.


Sabem o que significa aprender? Quando estão realmente aprendendo, aprendem durante toda a vida e não têm nenhum mestre especial, de quem aprender. Então, todas as coisas lhes ensinam: uma folha, uma ave que voa, um perfume, uma lágrima, o rico e o pobre, os que choram, um sorriso de mulher, o orgulho de um homem. Aprendem de todas as coisas e, por conseguinte, não necessitam de nenhum guia, nenhum filósofo, nenhum guru. A própria vida é a mestra de vocês, e vocês se acham num estado de constante aprender. 

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano

O que seria do mundo se todos nos revoltássemos?

Pergunta: Se todos os indivíduos se achassem em revolta, você não pensa que haveria caos no mundo?

Krishnamurti: Escutem, primeiramente, a pergunta; é muito importante compreender uma pergunta, e não, simplesmente, esperar uma resposta. A pergunta é: se todos os indivíduos se achassem em revolta, o mundo não seria levado a um estado de caos? Ora, se acha em tão perfeita ordem a presente sociedade, que se todos se revoltassem, sobreviria o caos? Não há caos agora? Tudo é belo e incorrupto? Todos estão vivendo felizes, com plenitude e riqueza? O homem não está contra o homem? Não vê ambição e encarniçada competição? Por conseguinte, o mundo já se acha no caos, e esta é a primeira coisa que cumpre perceber. Não suponham que esta é uma sociedade em que há ordem; não se mesmerizem com palavras. Seja aqui na Europa, seja na América, seja na Rússia, o mundo se acha num processo de decomposição. Se vocês percebem a decomposição, vocês têm um desafio: estão sendo desafiado a descobrir uma maneira de resolver este urgente problema. E a maneira como "respondem" ao desafio é importante, não acham? Se "respondem" como hinduísta ou budista, como cristão ou comunista, a resposta de vocês é, então, muito limitada, vale dizer, não é resposta. Podem "responder" plenamente, adequadamente, mas só se não há medo em vocês, se não pensam como hinduísta, comunista ou capitalista, porém como ente humano total, interessado em resolver este problema; e não poderão resolvê-lo, se não se acharem em revolta contra tudo — contra a ambição, a avidez, em que está baseada a sociedade. Quando você mesmo não é ambicioso, ávido, quando não está apegado à sua própria segurança — só então é capaz de "responder" ao desafio e de criar um novo mundo.

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano


O que será da vida de vocês?

Eu gostaria de saber se alguma vez já perguntamos a nós mesmos o que significa educação. Por que vamos para a escola, por que estudamos tantas matérias, por que fazemos exames e competimos uns com os outros pelas melhores notas? O que significa essa chamada educação, e qual a sua finalidade? Esta é, com efeito, uma questão muito importante, não só para os estudantes, mas também para os pais, para os professores e para, todo aquele que ama esta Terra. Por que tanta luta para sermos educados? É unicamente porque precisamos passar em certos exames e obter emprego? Ou a função da educação é nos preparar, enquanto jovens, para compreender o inteiro "processo” da vida? Ter emprego e ganhar o próprio sustento, é necessário; mas, isso é tudo? É só para isso que estamos sendo educados? Ora, por certo, a vida não é, meramente, um emprego, uma ocupação; a vida é algo extraordinariamente amplo e profundo, um grandioso mistério, um vasto reino em que funcionamos como entes humanos. Se meramente nos preparamos para ganhar o sustento, perderemos o significado essencial da vida; e compreender a vida é muito mais importante do que simplesmente nos prepararmos para exames e nos tornarmos bem proficientes em Matemática, Física, etc.

Assim, quer sejamos mestres, quer estudantes, não é importante perguntarmos a nós mesmos por que estamos educando ou sendo educados? E que significa a vida? Não é uma coisa extraordinária, a vida? Os pássaros, as flores, as árvores floridas, o céu, a estrelas, os rios e seus peixes — tudo isso é a vida. A vida é o pobre e o rico; a vida é a constante batalha entre grupos, raças e nações; a vida é meditação; a vida é o que chamamos religião e são, também, as coisas sutis e ocultas da mente — as invejas, as ambições, as paixões, os temores, preenchimentos e ansiedades. Tudo isso, e muito mais ainda, é a vida. Mas, em geral nos preparamos só para compreender um “cantinho” dela. Passamos em certos exames, achamos um emprego, nos casamo, geramos filhos, e vamos nos tornando cada vez mais semelhantes a máquinas. Permanecemos medrosos, ansiosos, assustados diante da vida. Assim, a função da educação é ajudar a compreender o inteiro processo da vida, ou consiste meramente em nos preparar para uma profissão, para o melhor emprego que pudermos pegar?

Que acontecerá a todos nós quando nos tornarmos adultos?

perguntaram alguma vez a si mesmos o que irão fazer ao crescerem? Com toda a probabilidade se casarão e, em pouco, serão mães e pais; e estarão, então, amarrados a um emprego ou à cozinha, a murchar, definhar. É só isso que vai ser a vida de vocês?

Já se fizeram esta pergunta? Não devem fazê-la? Se a família de vocês é opulenta, vocês já têm, talvez, assegurada uma boa posição, pai de vocês poderá lhes dar um emprego "confortável”, ou vocês podem fazer um casamento rico; mas, também aí, murcharão, se deteriorarão. Percebem?

A educação, por certo, nenhuma significação tem se não lhes ajuda a compreender a vastidão da vida com todas as suas sutilezas, sua extraordinária beleza, seus pesares e alegrias. Vocês podem conquistar graus, acrescentar uma série de letras ao nome de vocês e conseguir uma boa colocação; mas — e dai? Qual o sentido de tudo isso se, nesse "processo”, a mente de vocês se torna embotada, cansada, estúpida? Assim, não devem, enquanto estão jovens, tratar de descobrir o significado da vida? E a verdadeira função do educador não é cultivar em vocês a inteligência que tentará encontrar a solução de todos esses problemas? Sabem o que é inteligência? É, sem dúvida, a capacidade de pensar livremente, sem medo, sem nenhuma fórmula, de modo que, por vocês mesmos, comecem a compreender o que é real, o que é verdadeiro; mas, se vocês têm medo, nunca terão inteligência. Qualquer forma de ambição espiritual ou mundana, gera ansiedade, medo; a ambição por conseguinte, não concorre para o aparecimento de uma mente clara, simples, direta e, portanto, inteligente.

Vejam o quanto é importante viverem, enquanto jovens, num ambiente onde não exista medo. A maioria de nós, com o envelhecer, vamos nos tornando medrosos; temos medo de viver, medo de perder um emprego, medo da tradição, medo do que digam os vizinhos, do que diga nossa esposa ou nosso marido, medo da morte. Quase todos nós sentimos medo, numa ou noutra forma; e onde há medo não há inteligência. Mas, não é possível, enquanto jovens, vivermos, todos nós, num ambiente onde não haja medo, mas, sim, uma atmosfera de liberdade — liberdade, não simplesmente para fazermos o que quisermos, porém para compreender o integral "processo” do viver? A vida é realmente muito bela; não é esta coisa feia que a fizemos ser; e vocês só podem fruir sua riqueza, sua profundeza, seu inefável encanto, quando se revoltam contra tudo — contra a religião organizada, contra a tradição, contra a atual e corrupta sociedade — para então, como ente humano, descobrirem, por si mesmos, o que é verdadeiro. Não imitar, porém descobrir: isto é que é educação, não acham? É muito fácil se ajustarem ao que a sociedade ou pais e mestres lhes ensina. É uma maneira segura e fácil de existir; mas isso não é viver, porque, aí, há medo, declínio, morte. Viver é descobrirem por si mesmos o que é verdadeiro; e isso só é possível quando há liberdade, quando há em vocês uma contínua revolução interior.

Mas, a isso vocês não são estimulados; ninguém os ensina a duvidar, a descobrir por si mesmos o que é Deus, porque, se se rebelassem, se tornariam um perigo para tudo o que é falso. Seus pais e a sociedade desejam que vocês vivam em segurança, e vocês também desejam segurança. "Viver em segurança” significa, geralmente, viver na imitação e, por conseguinte, no medo. Ora, sem dúvida, a função da educação é ajudar cada um de nós a viver livremente e sem medo, não é verdade? E, para criar uma atmosfera em que não exista medo, se requer intenso pensar, tanto da parte de vocês como da parte do mestre, do educador.

Sabem o que isso significa, que coisa maravilhosa seria se se criasse uma atmosfera em que não existisse o medo? E nós devemos criá-la, porque vemos o mundo empenhado em guerras intermináveis, dirigido por políticos ambiciosos, sequiosos de poder; um mundo de advogados, policiais e soldados, de homens e mulheres ambiciosos, ávidos de posição e em luta uns com os outros para a conquistarem. E há, também, os chamados “santos”, os gurus religiosos, com seus seguidores; também estes querem poder, posição, nesta ou na vida futura, é um mundo insano, completamente confuso com o comunista combatendo o capitalista, o socialista resistindo a ambos, e cada um lutando por um lugar seguro, uma posição de poder e de conforto. Um mundo dividido por crenças antagônicas, por distinções de classe, por nacionalidades separadas, por toda espécie de estupidez e crueldade: eis o mundo em que estão sendo educados e a que devem se ajustar. Vocês são estimulados a se ajustarem à estrutura desta desastrosa sociedade; seus pais desejam que o façam, e vocês também desejam se ajustar.

Ora, consiste a função da educação, meramente, em ajudar a se ajustarem a esta corrupta ordem social, ou sua função é lhes dar liberdade, liberdade completa, para crescerem e criarem uma sociedade diferente, um novo mundo? Precisamos dessa liberdade, não no futuro, porém agora, pois, do contrário, poderemos todos ser destruídos. Devemos criar imediatamente uma atmosfera de liberdade, para que vocês possam viver e descobrir, por si mesmos, o que é verdadeiro; para que sejam entes inteligentes; para que possam enfrentar o mundo e compreendê-lo, em vez de a ele se ajustarem; para que, interiormente, profundamente, psicologicamente, estejam em constante revolta — porque só os que se acham em constante revolta descobrem o verdadeiro, e não o homem que se ajusta, que segue uma certa tradição. Só quando estão investigando constantemente, observando constantemente, aprendendo constantemente, podem achar a Verdade, Deus ou o Amor. Mas, não podem investigar, observar, aprender, estar profundamente lucido, se vocês têm medo. Assim, a função da educação, sem dúvida nenhuma, é erradicar, tanto interior como exteriormente, esse medo que destrói o pensamento humano, as relações humanas e o amor.

Krishnamurti — A Cultura e o problema Humano

Muitos são independentes, mas raros são livres

Desejo examinar com vocês o problema da liberdade. É um problema muito complexo, que requer profundo estudo e compreensão. Muito se fala em liberdade — liberdade religiosa e liberdade de o indivíduo fazer o que deseja. Sobre esta questão volumes têm sido escritos por homens eruditos. Mas eu penso que podemos considera-la de maneira muito simples e direta, e chegar, talvez, à solução verdadeira. Não sei se vocês já pararam alguma vez para contemplar o maravilhoso esplendor do poente, à hora do entardecer, com a lua surgindo, timidamente, acima das árvores. Muitas vezes, nessa hora, o rio se mostra muito manso e, então, tudo se reflete em sua superfície: a ponte e o trem que a atravessa, a lua ainda tenra e, em pouco, com o escurecer, as estrelas. Tudo isso é verdadeiramente belo. E para poderem observar, dar toda a atenção de vocês a algo que é belo, deve a mente de vocês estar livre de preocupações, não acham? Não deve estar ocupada com problemas, com tribulações, com especulações. É só com a mente muita tranquila que se pode observar realmente, porque, então, a mente é sensível à beleza extraordinária. E talvez tenhamos aqui a chave do nosso problema da liberdade.

Pois bem: o que significa ser livre? Consiste a liberdade em vocês poderem fazer o que lhes convém, em irem aonde lhes agrada, em pensar o que quiserem? Isso vocês o fazem de qualquer maneira. A mera consciência de se ter independência significa liberdade? Muita gente neste mundo é independente, mas pouquíssimos são livres. Liberdade implica uma grande soma de inteligência, não? Ser livre é ser inteligente, mas a inteligência não nasce só pelo desejo de sermos livres; nasce ao começarem a compreender, no seu todo, o ambiente, as influências sociais, religiosas, paternas e tradicionais que continuamente lhes envolvem. Mas, para compreenderem todas essas influências — a influência dos seus pais, do governo, da sociedade, do meio cultural a que pertencem, de suas crenças, seus deuses e superstições, da tradição a que impensadamente se ajustam — para compreenderem todas essas influências e delas se livrarem, vocês necessitam de profundo discernimento; mas vocês, em geral, se submetem a elas porque interiormente sentem medo. Vocês têm medo de não alcançar uma boa situação na vida, medo do que possa dizer o sacerdote da sua seita, medo de não seguir a tradição, de não fazer o que é “correto”. Mas a liberdade é, com efeito, um estado mental em que não existe medo ou compulsão, nem ânsia de segurança.

Não desejamos, quase todos nós, estar em segurança? Não desejamos ser considerados “maravilhosos”, que nos admirem a formosura, a superior inteligência? Do contrário, não acrescentaríamos letras aos nossos nomes. Tais coisas inspiram-nos confiança em nós mesmos, fazem-nos sentir que somos “importantes”. Todos desejamos ser famosos; mas, no momento em que desejamos ser algo, já não somos livres.

Vejam isso, por favor, pois, com efeito, aí vocês têm o fio que os levará à compreensão do problema da liberdade. Quer neste mundo de políticos, de poder, posição, autoridade, quer no chamado mundo espiritual, em que cada um aspira a ser virtuoso, nobre, modelo de santidade — no momento em que desejam ser alguém, já não são livres. Mas o homem ou mulher que percebe que tudo isso é absurdo, cujo coração é “inocente” e, por conseguinte, não está sendo movido pelo desejo de ser alguém — é um ente livre. Se compreenderem isso em sua simplicidade, verão também sua extraordinária beleza e profundeza.

Afinal de contas, os exames têm esta finalidade: dar-lhes uma posição, tornar-lhes alguém. Títulos, posição, conhecimentos, servem-lhes de estímulo a ser algo. Não ouvem dizer a seus pais e mestres que vocês devem alcançar certa posição na vida, que devem ter êxito como seu tio ou seu avo? Ou vocês mesmos tratam de imitar o exemplo de certo herói, se igualarem aos Mestres, aos santos; por isso nunca são livres.

Quer vocês sigam o exemplo de um Mestre, santo, instrutor, parente, quer observem uma certa tradição, tudo isso implica, da parte de vocês, uma necessidade de ser algo; e é só quando vocês compreendem este fato, que há liberdade.

A função da educação é lhes ajudar, desde criança, a não imitar ninguém e serem sempre vocês mesmos. Mas isto é dificílimo: serem sempre o que são — feio ou belo, invejoso ou ciumento — compreendê-lo. O serem vocês mesmos é muito difícil, porque vocês pensam que o que são é desprezível e que seria maravilhoso se pudessem converter o que são em algo nobre; mas isso nunca acontecerá. Se, entretanto, vocês olham o que realmente são, e o compreendem, então, nessa própria compreensão, há transformação. A liberdade, pois, consiste, não em tentarem se tornar algo diferente do que são, nem em fazerem o que acaso desejam fazer, nem em seguirem a autoridade da tradição, de seus pais, de seu guru, porém, sim, em compreenderem o que vocês são a cada instante.

Mas, vocês não são educados para isso; a educação de vocês lhes estimula a se tornarem isto ou aquilo — mas isso não é compreensão de si mesmo. O “eu” de vocês é uma coisa sobremodo complexa, não é meramente a entidade que vai à escola, que briga, que joga, que tem medo, mas é também algo que está oculto, que não é evidente. Compõe-se, não apenas de tudo o que vocês pensam, mas também de todas as coisas que foram inculcadas em suas mentes por outras pessoas. Por livros, pelos jornais, por seus líderes ou guias; e só é possível compreender tudo isso quando não desejam ser alguém, quando não imitam, não seguem ninguém — o que, com efeito, significa estar em revolta contra esta tradição de “vir a ser algo”. Esta é a única revolução verdadeira, conducente a uma extraordinária liberdade. Cultivar essa liberdade é a verdadeira função da educação.

Seus pais, seus mestres, e seus próprios desejos os querem identificados com isto ou aquilo, para serem felizes, terem segurança. Mas, para serem inteligentes, não devem se libertar de todas as influências que lhes escravizam e esmagam?

A esperança de um novo mundo está naqueles de vocês que começarem a ver o que é falso e a se revoltarem contra o falso, não apenas verbalmente, porém realmente. E esta é a razão porque devem buscar a educação correta; pois, só crescendo em liberdade, poderão criar um novo mundo não baseado na tradição ou moldado de acordo com o temperamento de certo filósofo ou idealista. Mas não haverá possibilidade de liberdade enquanto estiverem meramente tentando se tornar alguém ou imitando um exemplo nobre.

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano 

sábado, 22 de junho de 2013

A educação está em suas mãos e não nas de algum governo ou sistema

Pergunta: Qual é o lugar da disciplina na educação? 

Krishnamurti: Eu diria nenhum. Um momento, explicarei depois. Qual é o propósito da disciplina? O que você quer dizer com disciplina? Você, sendo o professor, quando você disciplina, o que acontece? Você está forçando, obrigando; há compulsão, mesmo delicada, mesmo gentil, o que significa conformidade, imitação, medo. Mas você dirá, “Como pode uma grande escola ser dirigida sem disciplina?” Não pode. Portanto, grandes escolas deixam de ser instituições educacionais. São instituições rentáveis, para o patrão ou para o governo, para o diretor ou o dono. Senhor, se você ama seu filho, você o disciplina? Você o obriga? Força-o em um padrão de pensamento? Você o olha, não é? Tenta entendê-lo, tenta descobrir quais são os motivos, os anseios, os impulsos, que estão por trás daquilo que ele faz; e compreendendo-o, você produz o ambiente correto, a quantidade correta de sono, a comida correta, a quantidade correta de brincadeira. Tudo isso está implicado, quando você ama uma criança; mas nós não amamos as crianças porque não temos nenhum amor em nossos corações. Apenas criamos crianças. E naturalmente, quando você tem muitas, deve discipliná-las, e a disciplina se torna um caminho fácil nessa dificuldade. Afinal, disciplina significa resistência. Você cria resistência contra aquilo que você está disciplinando. Você pensa que a resistência produzirá compreensão, pensamento, afeição? A disciplina só pode construir muros em sua volta. A disciplina é sempre exclusiva, ao passo que a compreensão é inclusiva. A compreensão chega quando você investiga, quando examina, quando explora, o que requer consideração, cuidado, pensamento, afeição. Numa escola grande, tais coisas não são possíveis, mas apenas numa escola pequena. Mas escolas pequenas não são lucrativas para o dono particular ou para o governo e desde que você, que é responsável pelo governo, não está realmente interessado em seus filhos, que importa? Se você amasse seus filhos, não simplesmente como brinquedos, como coisas para diverti-lo um pouco e um aborrecimento depois, se você realmente os amasse, permitiria que todas estas coisas continuassem? Não gostaria de saber o que eles comem, onde dormem, o que fazem o dia inteiro; se batem neles, se são oprimidos, se são destruídos? Mas isto significaria uma investigação, consideração pelos outros, seja por seus próprios filhos ou os de seu vizinho; e você não tem consideração, seja por seus filhos, ou por sua esposa ou marido. Assim, o problema está em suas mãos, senhores, não nas mãos de algum governo ou sistema.

- J.Krishnamurti - The Collected Works, Vol IV Bombay 9th Public Talk 13th March, 1948

domingo, 2 de junho de 2013

Queremos filhos adaptados; não revolucionários

Pergunta: tenho um filho que me é muito caro e vejo que ele está sujeito a muitas influências perniciosas, tanto em casa como na escola. Que devo fazer?

Krishnamurti: Todos somos o produto, não de uma dada influência, porém de muitas influências contraditórias, não é verdade? E o interrogante deseja saber como impedir que o filho fique sujeito a influências perniciosas, tanto em casa como na escola. Ora, sem dúvida, o problema é muito mais complexo do que apenas encontrar uma maneira de resistir às mas influências. O que nos cabe considerar é o "processo" total da influência, não achais? Afinal de contas, todo estudante está invariavelmente exposto a numerosas influências, tanto boas como más. Existe não apenas a influência doméstica e a influência da escola, mas, ainda, a influência das coisas que lê, das coisas que ouve, do clima, da espécie de alimento que toma, da religião e da cultura em que está sendo educado. Ele constitui a soma, o total dessas influências, tal como vós e eu, e não podemos rejeitar algumas delas e conservar outras. O que podemos fazer é apenas observar todas estas influências e averiguar se a mente pode viver livre delas. Entretanto, infelizmente, no presente estado de coisas, nossa educação é um processo de impor ao estudante as supostas influências boas. Esta é uma parte da questão. A outra parte é o "processo" de encher a mente do estudante de conhecimentos, para que passe nos exames, acrescente algumas letras ao nome e obtenha um emprego. É só isso que nos interessa, atualmente, na chamada educação. 

Mas, a educação correta é cosia muito diferente, não achais? Não é apenas questão de proporcionar ao estudante conhecimentos técnicos que o habilitarão a obter emprego, mas é também preciso ajudá-lo a estar cônscio de todas as influências e não se deixar prender por nenhuma delas. Para assim fazer, precisamos de uma mente em bom estado, e uma mente "em bom estado" é aquela que está aprendendo, e não aquela que aprendeu; porque, quando a mente está acumulando, deixou de aprender. A instrução é, então, uma coisa do passado e, assim sendo, está detida a investigação. 

Que é pois a educação correta? É uma simples definição, colhida num livro, ou um constante processo de compreensão das numerosas influências que assaltam a mente, para que ela seja livre desde o começo e, portanto, capaz de investigação? Certo, a mente que é capaz de verdadeira investigação, está sempre aprendendo; não é um mero depósito de conhecimentos. Qualquer pessoa que saiba ler, pode colher conhecimentos numa enciclopédia. Conquanto seja evidentemente necessário, na educação, transmitir conhecimentos técnicos para que o estudante possa, mais tarde, obter um emprego, na atualidade é unicamente isto o que interessa à maioria dos pais. Querem que os filhos se preparem para alcançar uma boa posição na atual estrutura social, que o ensinem a ajustar-se a esta sociedade baseada na avidez, na inveja, na ambição. Desejais que vosso filho se adapte a esta estrutura, não desejais que ele seja um revolucionário. E assim sendo, temos esta pretensa educação, que só o ensina a ajustar-se, imitar, seguir. Mas não será possível aos que amam realmente os seus filhos, ajudá-los a compreender as múltiplas influências da sociedade, da civilização em que nasceram, para que, quando cresçam, não se deixem ajustar ao padrão de uma certa cultura mas, sim, criem sua sociedade própria, uma sociedade livre da inveja, da ambição, da avidez? Por certo, só tais pessoas são verdadeiramente religiosas. A revolução tem de ser religiosa, e não puramente econômica. Religião não é aceitação de um certo dogma ou tradição ou de um suposto livro sagrado. Religião é investigação, para descobrir o Desconhecido. 

Krishnamurti — Da solidão à plenitude humana - ICK

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A realidade não é intelectual

A realidade não é intelectual; mas desde a infância, através da educação, através de todas as assim chamadas formas de aprendizado, desenvolvemos uma mente arguta, competitiva, sobrecarregada de informações — como acontece com os advogados, políticos, técnicos, especialistas. Nossas mentes foram trabalhadas, buriladas, o que se transformou no objetivo mais importante a alcançar e, com isso, todo o nosso sentimento extinguiu-se. Você não tem pena do homem pobre em sua amargura, não se sente jamais feliz por ver um ricaço guiando em seu belo carro; não fica encantado ao ver um lindo rosto; não sente emoção diante do arco-íris, ou do esplendor de um gramado verdinho. Estamos tão absorvidos em nosso trabalho, em nossas misérias, que não temos um momento de lazer para sentir o que é amar, para ser bom, generoso. E, no entanto, desprovidos de tudo isso, queremos saber o que é Deus!... Que coisa incrivelmente estúpida e infantil! De forma que se torna muito mais importante para o indivíduo viver — não reviver; você não pode reviver sentimentos mortos, a glória que passou. Mas não podemos acaso viver intensamente, plenamente, prodigamente mesmo que só por um dia? Pois tal dia abrangeria um milênio. Não se trata de fantasia poética. Você compreenderá isso quando tiver vivido um dia pleno, no qual não existe tempo, nem futuro, nem passado — você conhecerá então a plenitude conferida por esse estado extraordinário. Esse modo de viver não tem nada a ver com conhecimento. 

Krishnamurti — Sobre Deus 

domingo, 26 de maio de 2013

Filme: A educação Proibida

sábado, 25 de maio de 2013

Porque educamos nossos filhos?

Pergunta: Quais as vossas ideias a respeito da educação?

Krishnamurti: Penso que simples ideias nenhuma utilidade têm, porquanto uma ideia é tão boa como outra qualquer, conforme é aceita ou recusada pela mente. Mas, talvez seja proveitoso averiguarmos o que se entende por educação. Vejamos se, juntos, poderemos considerar de maneira completa o significado da educação, não em conformidade com minhas ideias ou vossas ideias ou as ideias de tal ou qual especialista.

Porque educamos nossos filhos? É com o fim de ajuda-los a compreender a totalidade da vida, ou apenas de prepara-los para ganhar a vida em determinado meio da sociedade? Que é que desejamos? Não pergunto o que devemos desejar, ou o que é desejável, porém, sim, o que é que nós, os pais, desejamos verdadeiramente? Queremos fazer o nosso filho ajustar-se, tornar-se cidadão respeitável de uma sociedade corrupta, uma sociedade em guerra tanto internamente como com outras sociedades, uma sociedade brutal, aquisitiva, violenta, ávida, com esporádicos gestos de afeição, tolerância, benevolência. Não é isso o que realmente desejamos? Se o jovem não se ajustar à sociedade — comunista, socialista, capitalista — tememos pela sua sorte;  tratamos, assim, de educa-lo para ajustar-se ao mesmo padrão pela qual fomos moldados. É só isso que desejamos para a criança, e é isso, essencialmente, o que está ocorrendo. E qualquer revolta, por parte do jovem, contra a sociedade, chama-se delinquência.

Queremos que os jovens se ajustem; queremos controlar-lhes a mente, moldar-lhes a conduta, a maneira de viver, a fim de adaptá-los ao padrão da sociedade. É isso o que todo pai deseja, não é verdade? E é isso, exatamente, o que está acontecendo na América, na Europa, na Rússia, na Índia. O padrão poderá variar ligeiramente, mas todos querem obrigar os filhos a ajustarem-se a ele.

Ora, isso é educação? Ou educação significa que os pais e mestres percebem eles próprios o inteiro significado do padrão e ajudem os filhos, desde o começo, a se tornarem atentos a todas as influências? Perceber o inteiro significado do padrão, com suas influências religiosas, sociais e econômicas, suas influências de classe, de família, de tradição — perceber, por si mesmo, o significado de tudo isso e ajudar a criança a compreende-lo e não se deixar enredar por ele — isso pode chamar-se educação. Educar o jovem pode significar ajuda-lo a manter-se fora da sociedade, a fim de que crie sua própria sociedade. Como nossa sociedade não é o que deveria ser, porque estimular o jovem a ater-se ao seu padrão?

Atualmente, forçamos o jovem a sujeitar-se a um padrão social que estabelecemos, como indivíduos, como família e como coletividade; e, infelizmente, ele é o herdeiro não só de nossos bens, mas também de algumas de nossas características psicológicas e, assim, desde o começo, escravo do ambiente.

Se percebermos tudo isso e realmente amamos os nossos filhos, devemos então sentir profundo interesse pela sua educação e tratar, desde o começo, de criar uma atmosfera que os estimule a ser livres. Alguns verdadeiros educadores já têm pensado em tudo isso, mas, infelizmente, pouquíssimos pais o têm feito. Deixamos tudo a cargo dos especialistas: a religião, para o sacerdote, a psicologia para o psicólogo, e nossos filhos a cargo dos chamados pedagogos. Ora, por certo, pai é também educador; ele é quem ensina, e também aprende — não apenas a criança.

Esse é realmente um problema muito complexo e se desejamos realmente resolvê-lo, temos de examiná-lo muito profundamente; e então, penso, descobriremos um meio de instaurar a educação correta.    

Krishnamurti — Verdade Libertadora — ICK

domingo, 19 de maio de 2013

Compreendendo as bases de nossa educação

A transformação fundamental não se opera unicamente com a compreensão das bases em que fomos educados? Por certo, enquanto a mente estiver operando segundo o padrão de uma dada sociedade ou religião, não haverá transformação. Por mais que lutemos  dentro do padrão, por mais que soframos, não será possível a transformação enquanto não compreendermos o padrão pelo qual vivemos e a que está preso todo o nosso ser. O desejo de transformação, dentro do padrão, só pode criar novas complicações. Consumimos tempo numa luta incessante, a esforçar-nos em vão para nos modificarmos  e há um atrito constante entre o que é e o que deveria ser — o ideal.
Assim, pois, parece-me que, se desejamos operar uma transformação fundamental, é necessário, primeiramente, compreendermos as bases de nossa educação, o padrão pelo qual opera a nossa mente. Se não compreendermos esse padrão, se não conhecermos bem o nosso condicionamento  se não forem compreendidas, completamente, as diretrizes de nossa educação, às quais está presa a nossa mente, continuaremos, meramente, a seguir uma tradição  e, daí, de maneira invariável, resulta mediocridade. A tradição, inevitavelmente, mutila-nos e embota-nos a mente. Portanto, é de toda necessidade uma transformação fundamental dentro em nós mesmos; porque, embora sejamos muito inteligentes e muito sapientes, somos, quase todos, bem medíocres, vazios, superficiais, interiormente insuficientes — não é verdade? E para se produzir tal transformação é necessária total compreensão das bases de nossa formação. Enquanto não compreendermos essas bases, por mais que lutemos para nos transformarmos  nada alcançaremos.
Que bases são essas? São elas constituídas pelas tra­dições, pelas influências sob as quais fomos criados, e pela educação, as teorias, as fórmulas, as conclusões que adquirimos. Sem estarmos livres de tudo isso — que é pura ocupação com ideias — todo esforço que fizermos para nos modificarmos nos levará, invariavelmente, à mes­ma qualidade de respeitabilidade ou mediocridade; e essa luta, em que todos nos vemos empenhados, só pode pro­duzir pensamento não criador.
Só a mente livre, por certo, pode descobrir o verda­deiro, e não aquela que está condicionada por crenças, ideais e compulsões. Se desejamos descobrir se existe uma realidade além das limitações e projeções do pensa­mento, então é claro que a mente deve em primeiro lugar estar livre de todas as crenças, dogmas e tradições, de todos os padrões que a aprisionam. Porque só a mente livre é capaz de descobrir, e não aquela que luta constan­temente para ajustar-se a determinado padrão ou ideal, quer imposto pela sociedade, quer por ela própria.
Uma das nossas maiores dificuldades, parece-me, é que, realmente, desejamos viver uma vida despreocupada, indolente, monótona, porventura com uma pequena dose de excitação de vez em quando. Nosso padrão de exis­tência é muito superficial e estamos perpetuamente a lu­tar de maneira superficial, procurando, por várias manei­ras, tornar profunda a nossa superficialidade. Penso que essa superficialidade, esse nosso vazio interior, é produzi­do pela incompreensão de nosso padrão de vida, das ro­tinas de nosso pensar; vivemos em completa ignorância disso. Não damos atenção aos nossos pensamentos, não percebemos de onde procedem, qual a sua significação, quais os valores que lhes atribuímos; não percebemos que nossa mente está entravada por sonhos estéreis, pela com­petição, a ambição, a luta para ser algo, o ajustamento às estreitas fórmulas da sociedade.
Por conseguinte, é de real importância, se desejamos operar uma transformação fundamental, estarmos total­mente livres da sociedade. E esta é que é a verdadeira revolução: a revolução que vem quando começamos a compreender o padrão da sociedade de que fazemos parte. Não somos diferentes da sociedade; somos o resultado das influências sociais; e não podemos ficar livres da marca das influências sociais enquanto não compreendermos, no seu todo, a composição da sociedade. A composição da sociedade é um misto de avidez, inveja, ambição, de todas as crenças condicionadoras, baseadas no medo e que se chamam religião. Portanto, só o homem, que se retira da sociedade, que se liberta da compulsão de seus semelhantes e da tradição, bem como de sua própria inveja e am­bição interiores — só esse homem é verdadeiramente re­volucionário, verdadeiramente religioso, e só ele descobri­rá se existe uma realidade além das projeções de nossa pequenina, insignificante mente.
Este problema me parece importantíssimo, principalmente no mundo moderno, que se defronta com tamanhas crises. A ciência e a chamada civilização poderão produzir alguma modificação, mas qualquer modificação dessa ordem é invariavelmente superficial; é imposta pela pressão das circunstâncias, e, portanto, não é uma transformação real. Por essa razão, não há libertação criadora, porém tão só o seguimento de uma rotina chamada "virtude". Mas, se pudermos, como devemos, examinar este problema muito profundamente, penso que compreenderemos as bases de que fazemos parte. As bases não são diferentes de nós mesmos, porque nós somos essas bases. Nossa mente resulta do passado com todas as suas tradições, crenças e dogmas, conscientes e inconscientes. E pode, em algum tempo, essa mente ser livre? Só poderá ser livre quando compreender, inteiramente, a estrutura dessas bases  a estrutura da sociedade em que vivemos. Só então é possível a mente ser verdadeiramente religiosa, e, por conseguinte, verdadeiramente revolucionária.
Para penetrarmos um pouco mais nesta questão, pelo menos verbalmente — e também não verbalmente — poderíamos tentar examiná-la juntos. O que eu disse pode estar em contradição com o que pensais, e seria talvez proveitoso examinar o problema com calma, natural e amigavelmente, para vermos se descobrimos mais alguma coisa. Mas, vai ser difícil esse exame. Devemos ater-nos ao assunto, não suscitando questões não relacionadas com ele. E também, é claro, para discutirmos sensatamente, devemos abster-nos de longos discursos.

Krishnamurti — A Verdade Libertadora — ICK

sábado, 18 de maio de 2013

Filme: Esperando o Super-Homem

O documentarista Davis Guggenheim nos lembra que as "estatísticas" educacionais têm nomes: Anthony, Francisco, Bianca, Daisy e Emily, cujas as histórias são a base de "Esperando o Super-homem". Enquanto acompanha um grupo de crianças promissoras por um sistema que inibe, ao invés de estimular, o desenvolvimento acadêmico, Guggenheim realiza uma análise exaustiva da educação pública. "Esperando o Super-homem" tem este nome devido a uma entrevista com o notável Geoffrey Canada, fundador da Harlem Children Zone. A Harlem Children Zone utilizou uma estratégia ampla, incluindo um Baby College pré-natal, programas de assistência social e períodos mais longos nas suas escolas com o objetivo de criar uma nova estrada para o futuro para um dos bairros mais sombrios de Nova York. "Esperando o Super-homem" acompanha cinco crianças e os seus pais que desejam obter uma educação pública decente, mas que acabam tendo que entrar em uma loteria em formato de bingo para obterem uma boa escola charter, porque as escolas próximas às suas casas são fracassos estrondosos. O destino do país não será decidido em um campo de batalha, ele será determinado em uma sala de aula.

Gênero: Documentário
Direção: Davis Guggenheim



O vídeo acima, Esperando pelo Super-Homem, que trata-se de documentário de Davis Guggenheim, que aborda a realidade da escola pública estadunidense, iniciando com o depoimento do educador Geoffrey Canada.

Uma bela produção com animações criativas, vídeos de época, imagens de satélite, dados comparativos e depoimentos que promovem profunda reflexão, não apenas sobre a realidade dos EUA, mas do Brasil e demais países sobre a educação pública e a educação em geral, que deveria ser universal, sem fronteiras nem barreiras, sejam administrativas, políticas, sindicais, religiosas etc.

A criativa animação para mostrar dados de proficiência em matemática e escrita, ilustra depoimento a seguir: "ou as crianças estão emburrecendo ou há algo com o sistema educacional" e, em seguida, mostra o itinerário do futuro de um aluno, por este sistema, usando as imagens de satélite para tal percurso.

Escolas que mais de 40% não concluem, são chamadas por Robert Balfanz, da Universidade John Hopkins, de "Fábricas de Evasão", quando os alunos são empurrados pelo sistema, passando de ano, sem o conhecimento necessário, precarizado.

Sempre me pergunto quem desiste de quem primeiro: o aluno da escola, a escola dos alunos, os pais de seus filhos, os professores de seus pupilos?

Reformadores atribuíram o fracasso escola ao bairro, o que mais ao final é mostrado que a educação pode mudar esta situação e realidade. Mas a educação de qualidade, com professores motivados e metodologias adequadas.

Outra animação interessante é a que mostra os dados sobre escola e prisão, e os custos sociais de cada uma. Mais vale o prevenir do que o remediar, o tratar as consequências e não apenas as causas, mas o sistema engessado, parece que não se reformula por si só, é um dos mais resistentes às mudanças, por conta da burocracia, do corporativismo etc.

Um documentário para refletirmos sobre a importância da escola e a escola desimportante. E a diferença entre o professor bom e o ruim, e o custo de cada um. Aqui, como lá, o bom profissional dá lucro ao sistema, e o mau profissional, ou o burocrata do saber, dá prejuízo a todos: ao aluno, à escola, à sociedade.
Outra situação curiosa é a chamada "dança dos limões"; ou seja, algo que também acontece na Terra Brasilis, da troca dos professores ruins entre as escolas, resolvendo momentaneamente a situação local, mas apenas redistribuindo o problema na rede escolar. Noutros estados dos EUA, também chama esta ocorrência de "o lixo pra frente" ou o "trote do peru".

A sala da borracha é um local onde professores respondendo processos administrativos (de inaptidão até situações gravas como abuso sexual), passam seus dias, aguardando o andamento do processo, sentados, lendo, jogando, e recebendo integralmente seus proventos. Ou como declara um dos educadores: "sistema que tem poder infinito de resistir e derrotar as reformas".

Diante de tal situação, o educador Geoffrey Canada criou uma escola no local onde tinha o pior desempenho escolar para sua experiência, com base na valorização do bom profissional.

Michelle Rhee, supervisora das escola s públicas de Washington DC, propôs mudanças mas, para ela "há uma vontade inacreditável de ignorar as injustiças que ocorrem às crianças todos os dias em nossas escolas em nome da harmonia entre os adultos". Escola em que o aluno não é prioridade, já esta cometendo um dos 7 erros da própria educação, diz o Educa Tube.

Ótima também a metáfora do "romper a barreia do som", e do preconceito, utilizando imagens históricas, do piloto que conseguiu esta façanha, contra todo o senso comum de sua própria época. Afinal, todos podem aprender, se o método for adequado, se usar música, dança, jogos, e todas as manifestações artísticas, esportivas e culturais que os jovens adoram, desde que dentro de um contexto educacional e motivador.

Enfim, um documentário que é imagem e reflexo da educação lá e aqui.... Ou como diz Rhee: "tudo se resume aos adultos, o aluno não é a prioridade na educação". Não basta dinheiro, leis, reformas, se não houver uma mentalidade de mudança.

O educador Canada sintetiza ao final: "Não existe grandes escolas sem grandes professores. (...) Ver um grande mestre é tão inacreditável como ver um grande atleta ou um grande músico." Na cena mais comovente do vídeo é o sorteio para ingresso nas escolas charter, que tem uma média de aprovação às universidades, acima da média, até superiores às das escolas privadas. Sorteio, loteria, ingresso graças a sorte, já que existem mais candidatos que vagas. Já vimos este filme antes. Não o documentário em questão, mas no filme da vida real, em nosso entorno.

Um fabuloso documentário para refletir e motivar, sim, pois, apesar dos pesares, a educação pode dar certo, se deixarmos de lado disputas de beleza, divergências políticas, sindicais, religiosas etc, em prol de uma educação de qualidade para todos, sem precisar apelar para jogos de azar.

Fonte:

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Inventariando a real função da educação

WORKSHOP: A ARTE DE CUIDAR DO SER
A EDUCAÇÃO E O PROBLEMA DO SER HUMANO

Devemos começar a cuidar do ser
cem anos antes dele nascer!



  1. Apresentação
  2. Por que CUIDAR DO SER?
  3. A Família Disfuncional e a sua influência na auto-estima
  4. O ciclo da Vergonha Tóxica e os objetos de consumo anestesiantes
  5. O Descontentamento: Ser rebelde por amor a liberdade
  6. A aquisição da capacidade de amar e a capacidade de cuidar
  7. Indicações bibliográficas e áudio-visual

FAMÍLIA DISFUNCIONAL: PAIS OU P.S. INDISPONÍVEIS PARA AS NECESSIDADES PRIMÁRIAS


  1. Amor é condicionado
  2. Excessiva exposição a um sistema de comparação (SOU ERRADO)
  3. Abusos: Verbal, Emocional, Físico Sexual, Religioso, constantes humilhações.
  4. O não ser levado a sério os sentimentos, sensações e manifestações – PEDAGOGIA VENENOSA:
    a) Adultos como senhores do filho dependente
    b) Determinam como um deus o que é certo ou errado
    c) A criança é considerada responsável pela raiva dos pais
    d) Os pais devem ser sempre protegidos
    e) Os sentimentos de defesa da criança representam uma ameaça ao adulto autocrático
    f) A Vontade da criança precisa ser “dobrada” quanto antes (conformose)
    g) Tudo isso deve ser feito quanto antes para que a criança não perceba e exponha o adulto.
  5. Ausência do aconchego
  6. Uso dos filhos como uma droga para cobrir as próprias carências
  7. Pais com personalidade baseada no medo, insegurança e vergonha tóxica.
  8. Incesto emocional (filhos como confidentes ou consoladores)
  9. Imputar responsabilidades inadequada a criança
  10. Forçar a criança a se conformar com o sistema de crenças familiar (CONFORMOSE)
  11. Criar expectativas irreais sobre a criança (uso da criança para ganhar respeito) – Ver filme: SHINE Brilhante - Scott Hicks
  12. Perda parcial ou total da vivacidade, espontaneidade, criatividade e originalidade
  13. Perda da capacidade de experimentar e confiar em seus próprios pensamentos e sentimentos
  14. Formação de uma personalidade dependente ou co-dependente
  15. Profundo sentimento de não fazer parte
  16. DEPRESSÃO E SENTIMENTO DE VAZIO INTERIOR
  17. Uso de objetos e atividades anestesiantes como fuga da dor original de incapacidade de lidar com os próprios sentimentos:
    DOR ORIGINAL + COMPULSÃO = ALÍVIO IMEDIATO + CULPA/VERGONHA = DOR
  18. CONFORMOSE – NORMOSE – NEUROSE – PSICOSE – ESCLEROSE...

Perguntas para reflexão em grupos


1 - Qual a finalidade da educação? Não seria a finalidade da educação ajudar o aprendiz, a se tornar cônscio de todas as formas de condicionamento impostas pelas tendências nacionalistas, pelos preconceitos das crenças religiosas - para delas se libertar?

2 – A educação verdadeira é a que liberta a mente do aprendiz de seu condicionamento e, por conseguinte, da sociedade. O aprendiz que está liberto da sociedade, uma vez que está livre de condicionamento, agirá pela sua maneira própria de ser, e sua ação, por sua vez, influirá na sociedade. Como você vê essa afirmação?

3 – A função da educação é preparar o aprendiz para compreender o inteiro “processo” da vida. Ter emprego e ganhar o próprio sustento é necessário; mas, isso é tudo? Se meramente preparamos o aprendiz para apenas ganhar o sustento através de uma especialização, o mesmo perderá o significado essencial da vida; e compreender a vida importa muito mais do que simplesmente se preparar para vestibulares e conseguir um espaço no mercado de trabalho. Estamos constrangendo o aprendiz ou ajudando-o a descobrir sua verdadeira vocação? Estamos estimulando sua iniciativa, ou obrigando-o a obedecer a um método, uma especialização?

4 – Muitos de nós passamos em vestibulares, achamos um emprego, nos casamos, geramos filhos, e nos tornamos cada vez mais semelhantes a máquinas previamente programadas. Permanecemos medrosos, ansiosos, assustados diante da vida. Assim, não seria a função do educador ajudar o aprendiz a compreender o inteiro processo da vida, ou consiste meramente em prepará-lo para ser mais um “caçador de profissão”?

5 – O aprendiz pode conquistar graus, acrescentar uma série de folhas de papel com estampilhas douradas em sua parede, acrescentar uma certa denominação antes do próprio nome e conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho; mas, e daí? Qual o sentido de tudo isso se, nesse “processo”, a sua mente se torna embotada, programada e medíocre? Você alguma vez já meditou que talvez a razão da revolta do aprendiz possa ser um pedido de ajuda para que possa quebrar a compulsão social do ajustamento, da padronização e da especialização?

6 – Não deve o educador ajudar o aprendiz a descobrir o que realmente gosta de fazer, de modo que, do começo ao fim da sua vida, esteja trabalhando em algo que lhe faça sentir valioso e ter, para si, profunda significação? Do contrário, não será o mesmo, até o fim dos seus dias, um ser digno de lástima? Quando o ser humano não sabe o que gosta de fazer, sua mente cai numa rotina, onde só encontra tédio, estagnação e conflitos. Eis o por que de ser tão importante ajudar o aprendiz a compreender o que realmente gosta de fazer. Você concorda que esta é a única maneira de se criar uma nova sociedade?

7 – O aprendiz chega assustado, nervoso, ansioso para agradar ou na defensiva; condicionado pelos pais e pela sociedade...Como está sendo recebido? Incondicionalmente? Estamos interessados no que ele realmente é? Estamos interessados em entender suas origens e a bagagem emocional que traz consigo ou estamos jogando sobre ele nossas dúvidas, conclusões, comparações, medos, métodos e julgamentos?

8 – Estamos trabalhando para que o aprendiz evolua na compreensão ou para mantê-lo consumidor, viciado, dependente da cartilha padronizada pelo método? O novo saber só se consegue à custa da investigação. Estamos incentivando o aprendiz a buscar pelo novo ou apenas postulando padrões, para poder botar a culpar no sistema e depois lavar as mãos?

9 - Se examinarmos a alma de qualquer aprendiz, veremos que tem em si um forte impulso para a investigar o preestabelecido. No entanto, após receber a milésima chibatada dos professores e pessoas significativas de sua vida, se vê ameaçado de perder todos os amigos, deixa-se dominar pela preguiça de pensar por conta própria e também pelo medo de ser crucificado pela sua própria comunidade. Então, troca suas mais sinceras inquietudes por um pedaço de papel com uma estampilha dourada, acompanhado de um punhado de moedas de ouro e um respeito cego que se apóiam outros respeitos cegos. Como você analisa esta afirmação?

10 - Para que o educador atual possa alcançar o novo, e dar um salto quântico, terá que se defrontar consigo mesmo, olhar profundamente para as bases de sua própria existência e seu sistema de crenças. E para isto, será necessário abandonar os velhos dogmas e se debruçar sobre a nudez da educação. Como você analisa esta afirmação?

11 – O educador que não pede nada para si mesmo, que não usa a educação como meio de adquirir posição, poder ou autoridade - que está realmente ensinando não para o lucro, não segundo uma certa linha, mas que está se dedicando, crescendo, despertando a inteligência no aprendiz porque está cultivando a inteligência em si mesmo - tal educador tem o lugar principal na sociedade. Eles só podem ter integridade moral, estar livres do desejo de poder, posição e autoridade quando não pedem nada para si mesmos, quando estão além e acima da sociedade, não estão sob o controle dos governos e são livres da compulsão da ação social que é sempre ação segundo um padrão. Como você analisa esta afirmação?

12 – O problema atual da sociedade não é tanto o aprendiz - mas o educador. E educar o educador é muito mais difícil do que educar o aprendiz, porque o educador já está conformado e fixado. Ele funciona dentro de uma rotina porque não está realmente preocupado com o processo do pensamento, com o cultivo da inteligência. Ele está somente fornecendo informação e o homem que simplesmente dá informação quando o mundo todo está desabando a sua volta seguramente não é um educador. Encarar a educação somente como um meio de vida, explorar o aprendiz em proveito próprio parece-me contrário ao propósito real da educação. Como você analisa esta afirmação?

13 - O educador precisa estar além dos limites da sociedade e de suas exigências para ser capaz de criar uma nova cultura, uma nova estrutura, uma nova sociedade; mas atualmente estamos apenas preocupados com a técnica de como educar o aprendiz sem cultivar a inteligência do educador - o que parece completamente fútil. Estamos agora principalmente preocupados aprender uma técnica e aplicar esta técnica ao aprendiz e não com o cultivo da inteligência, que o ajudará a lidar com os problemas da vida. Como você analisa esta afirmação?

14 - É importante para o educador não simplesmente implantar certos ideais e transmitir apenas informação, mas empenhar todo o pensamento, todo o cuidado, toda a afeição para criar o ambiente certo, a atmosfera certa, de maneira que quando o aprendiz chegar à maturidade seja capaz de lidar com qualquer problema humano que surja. A educação só pode ser transformada educando o educador e não meramente criando um novo padrão, um novo sistema de ação. Como você analisa esta afirmação?

15 - A função da educação é produzir um indivíduo integrado capaz de lidar com a vida inteligentemente - de maneira completa, não parcialmente como um técnico ou um especialista. Mas o indivíduo não pode ser integrado se estiver meramente perseguindo um padrão especialista de ação. Como você analisa esta afirmação?

16 - A maioria de nós aprende uma técnica, mas tem muito pouco a dizer. Negligenciamos, descuidamos a capacidade de descobrir por nós mesmos; temos todos os instrumentos da descoberta, mas não descobrimos nada diretamente. Ao seguirmos uma determinada técnica ou método, perdemos nossa autenticidade, nossa originalidade e abrimos mão de nosso potencial criativo. Assim, o problema é como ser criativo, o que engendra sua própria técnica. Como você analisa esta afirmação?

17 - A sabedoria começa com o autoconhecimento e sem autoconhecimento a mera informação leva à destruição. Sem autoconhecimento o avião torna-se o mais destrutivo instrumento da vida, mas com autoconhecimento é um meio de ajuda humana. Assim o educador deve ser alguém que não está preso nas garras da sociedade, não joga o jogo do poder dos políticos, não procura posição ou autoridade. Ele descobriu em si mesmo aquilo que é eterno e por isso é capaz de compartilhar este conhecimento que ajudará outro a descobrir seus próprios meios de iluminação. Como você analisa esta afirmação?

18 – Não imitar, porém descobrir: isto é que é educação. É muito fácil fazer com que o aprendiz se ajuste ao que a sociedade ou os pais e mestres lhe ensina. É uma maneira segura e fácil de existir; mas isso não é viver, porque, aí, existe o medo, estagnação e conflito. “Viver em segurança” significa, geralmente, viver na imitação e, por conseguinte, no medo. Viver é descobrir por si mesmo o que é verdadeiro; e isso só é possível quando existe liberdade e essa só pode existir quando existe em nós, uma contínua revolução interior. Mas, isso não lhe é estimulado; ninguém lhe ensina a duvidar, a descobrir por si mesmo o que é Deus, porque, se ele se rebelar se tornará um perigo para tudo que é falso. Não seria a função do educador, ajudar o aprendiz a viver livre e sem medo?

19 – Consiste a função do educador, meramente, em ajudar o aprendiz a se conformar e se ajustar a esta corrupta ordem social vigente, ou é sua função dar-lhe liberdade completa de pensamento, para crescer e criar uma sociedade diferente?

20 – Somente aqueles que se acham em constante revolta interior, psicológica, descobrem o que é verdadeiro e não o aprendiz que se ajusta, que se conforma, que segue uma certa tradição. Somente quando se está investigando constantemente, observando constantemente, aprendendo constantemente, pode o aprendiz experimentar por si mesmo o que seja a Verdade, Deus ou o Amor. Assim, a função do educador, não seria a de erradicar, tanto interior como exteriormente, esse medo que destrói o pensamento humano, as relações humanas e o amor?

21 – No mundo inteiro, tudo está se tornando cada vez mais controlado pelos governos, pelos políticos, pelas autoridades religiosas, que desejam moldar nossas mentes e nossos corações, que querem que pensemos de certa maneira e que manipulam a educação. Toda educação verdadeiramente revolucionária é criada por uns poucos que enxergam o que é verdadeiro e estão prontos a viver de acordo com esta verdade. Mas, o descobrir do verdadeiro requer que estejamos libertos da tradição e dos métodos, e, portanto, libertos de todos os temores. Como você analisa esta afirmação?

22 – Educação é facilitar um terreno fértil para que cada um encontre sua palavra. Cada um é seu livro de estudo, basta ir virando as suas próprias páginas. É preciso ajudar a despertar a excelência humana.
Como você analisa essa afirmação?

23 – Cuidar do Ser é despertar o terapeuta interior que existe em nós! Como você analisa essa afirmação?

24 – Qual é a pergunta que te faz levantar todos os dias? Qual é o teu desejo mais profundo? O que te faz arrepiar? O que te faz maravilhar? O que te trás contentamento?

Fonte bibliográfica para maior aprofundamento:

1. O drama da criança bem-dotada – Como os pais podem formar ou deformar a vida emocional de seus filhos. Autora: Alice Miller - Editora: Summus Editorial – 112 páginas

2. Curando a vergonha que impede de viver
Autor: John Bradshaw – Editora: Rosa dos Tempos – 350 páginas

3. Volta Ao Lar – Como resgatar e defender sua criança interior
Autor: John Bradshaw – Editora: Rocco – 342 páginas

4. Pais Tóxicos – Como superar a interferência sufocante e se recuperar
Autor: Craig Buck e Susan Forward – Editora: Rocco

5. Escola sem sala de aula
Autor: R. Semler / G. Dimenstein / Antonio C. G. da Costa – Editora: Papirus – 144 Páginas

6. A Pedagogia do Ser - Educação dos sentimentos e dos valores humanos
Autora: Dulce Moreira Sampaio – Ed. Vozes – 160 Páginas

7. A CULTURA E O PROBLEMA HUMANO
Autor: Krishnamurti – Editora Cultrix – 220 páginas

8. A Educação e o significado da vida
Autor: Krishnamurti – Editora Cultrix – 129 páginas

9. Palestras com estudantes americanos
Autor: Krishnamurti – Editora Cultrix – 147 páginas

10. Sobre aprendizagem e conhecimento
Autor: Krishnamurti – Editora Cultrix – 160 páginas

11. Cartas as Escolas – A arte de aprender
Autor: Krishnamurti – Editora Terra sem Caminho – 256 páginas

12. O Despertar da Sensibilidade
Autor: Krishnamurti – Editora Estampa – 272 páginas

13. Comentários sobre o Viver
Autor: Krishnamurti – Editora Cultrix – 228 páginas

14. Trabalhando com Alma
Autor: - Editora Cultrix
FILMES

1 - UM GÊNIO INDOMÁVEL
2 - SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS
3 - EDUCAÇÃO PARA A VIDA – UNIPAZ
4 - AS CONFISSÕES DE SCHMIDT
5 - RUMO AO PARAÍSO
6 - FIO DA NAVALHA
7 – NOIVA EM FUGA

terça-feira, 2 de abril de 2013

O que é esta chamada educação?


A vida não é um processo de estudo, de acumulações. A vida não é uma escola a em que vocês se submetem a exames sobre o que aprenderam, sobre o que aprenderam das experiências, das ações, do sofrimento. A vida é para ser vivida, não para que dela aprendamos.

Se considerarem a vida como algo que devem aprender, agem apenas superficialmente. Isto é, se a ação na vida diária é apenas um meio para um recompensa, para um fim, então a ação mesma não tem valor.
(...)
O que é esta chamada educação?

O indivíduo é adestrado para lutar para si próprio e, por esse modo, adaptar-se a um sistema de exploração. Tal adestramento tem de, inevitavelmente, criar confusão e miséria no mundo. Vocês estão sendo adestrados para certas profissões, dentro de um sistema de exploração, quer gostem desse sistema, quer não.

Esse sistema está fundamentalmente baseado no medo, que se origina na aquisição e, portanto, tem de haver particularidade em cada indivíduo, daquelas barreiras que o separam e o protegem contra os outros.

Tomem, por exemplo, a história de qualquer país. Nela verificarão que os heróis e guerreiros dessa nação particular são louvados. Ali encontrarão o estímulo ao egoísmo racial, ao poder, à honra e ao prestígio, coisas essas que apenas indicam estúpida estreiteza e limitação.

Assim, o espírito de nacionalismo é grandemente infiltrado, por meio de jornais, de livros, de bandeiras ondulantes, somos adestrados a aceitar o nacionalismo como uma realidade, de modo a podermos ser explorados.

Analisemos também a religião. Baseando-se no medo, ela destrói o amor, cria ilusões, separa os homens. E, para disfarçar esse medo, dizem que é o amor a Deus.

Assim, a educação tornou-se mera conformação a um sistema determinado, em lugar de despertar a inteligência individual, compele o homem a simplesmente se conformar, embaraçando por esse modo, a verdadeira moralidade das ações e a plenitude.
(...)
A suprema educação é ensinar à criança, desde pequenina, que o seu alvo é a felicidade e a liberdade, e que o meio de alcançá-las reside na harmonia de todos os corpos — mental, emocional e físico.
(...)
O alvo para a mente é: a purificação do 'eu'; para as emoções: — o afeto sem apego; para o corpo: — a beleza.
(...)
A beleza existe por si mesma, acima de todas as formas e de todas as apreciações. É uma coisa imperecível, como o eterno perfume da rosa.
(...)
Todos, no mundo, buscam a beleza, mas buscam-na sem entendimento.

É essencial que o corpo seja belo, mas isto não deve ser apenas uma beleza exterior, sem pensamentos e sentimentos belos.

São estas as coisas essenciais para a absoluta harmonia dos três seres em cada um de nós.

Quando cada homem for verdadeiramente civilizado e se tornar a expressão exterior daquela cultura que se desenvolve pela percepção interior da verdade, então desabrochará uma flor, cujo perfume deliciará o mundo.

Krishnamurti — O medo – 1946 - ICK

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O descontentamento é o portal do despertamento do Real

As crianças, em geral, são curiosas, querem saber; nós, porém, lhes embotamos o espírito de investigação com nossas asserções pontificais, nossa impaciência superior, e o modo indiferente por que nos livrarmos de sua curiosidade. Não encorajamos as indagações das crianças porque temos certa apreensão relativamente ao que elas possam perguntar; não lhes favorecemos o descontentamento, porque nós mesmos já desistimos de objetar.

A maioria dos pais e mestres teme o descontentamento, porque traz perturbações a todas as formas de segurança; por isso induzem os jovens a sufocá-lo, com empregos seguros, heranças, casamento, e a consolação de dogmas religiosos. Os mais velhos, que infelizmente conhecem muito bem todos os métodos de embotar a mente e o coração, procuram tornar a criança tão embotada quanto eles próprios, inculcando-lhe o respeito às autoridades, às tradições e às crenças que eles próprios aceitaram.

Só estimulando a criança a duvidar do livro, não importa qual seja, a examinar a validade dos vigentes valores sociais, tradições, formas de governo, crenças religiosas, etc., podem, o educador e os pais, ter esperança de despertar e manter vivo, nela, o senso crítico e o discernimento penetrante.

Os jovens verdadeiramente despertos mostram-se cheios de esperança e de descontentamento; assim devem ser, porque do contrário já estão velhos e mortos. E os velhos são os descontentes de outrora que lograram sufocar essa chama e encontrar, de várias maneiras, a segurança e o conforto. Anseiam pela permanência de si próprios e de suas famílias, desejam ardentemente a certeza, nas ideias, nas relações, nas posses; e, no instante em que sentem descontentamento, absorvem-se nas responsabilidades, nas ocupações ou no que quer que seja, para fugir ao incômodo sentimento de insatisfação.

A juventude é a época própria para o descontentamento, não só com nós mesmos mas também com as coisas que nos cercam. Deveríamos aprender a pensar com clareza e sem preconceitos, para não sermos interiormente dependentes e tímidos. A independência não foi feita para aquela seção colorida do mapa a que chamamos nossa pátria, mas para nós mesmos como indivíduos; e embora exteriormente dependamos uns dos outros; essa dependência mútua não se torna nem cruel nem opressiva, se interiormente estamos livres da ânsia de poder, posição, e autoridade.

Devemos compreender o descontentamento, temido pela maioria dentre nós. O descontentamento pode gerar uma confusão aparente; mas, se conduzir, como necessariamente deve conduzir, ao autoconhecimento e à negação do eu, há de criar uma nova ordem social e uma paz duradoura. Com a negação do “eu” vem um jubilo imenso.

O descontentamento é o caminho que leva à liberdade; mas, para podermos investigar seus preceitos, não podemos manifestar efusões emocionais, dessas que muitas vezes se traduzem em comícios políticos, proclamações de “slogans”, busca de “guru” ou instrutor espiritual, e extravagâncias religiosas de toda ordem. Tais efusões embotam a mente e o coração, tornando-os incapazes de discernimento e, por conseguinte facilmente moldáveis pelas circunstâncias e pelo temor. É o desejo ardente de investigar, e não a fácil imitação da turba que trará uma nova compreensão das coisas da vida.

Os jovens deixam-se muito facilmente persuadir, pelo sacerdote, pelo político, pelo rico ou pelo pobre, a pensar de determinada maneira; mas a educação correta deve ajudá-los a estar vigilantes contra essas influências para que não se ponham a repetir “slogans” como papagaios, ou venham cair em armadilhas habilmente dissimuladas da avidez, deles próprios ou de outrem. Não devem permitir que a autoridade lhe fofoque a mente e o coração. Seguir outra pessoa, por maior que seja, aderir a uma ideologia agradável não produzirá jamais um mundo pacífico.  

Quando deixamos a escola ou o colégio, muitos de nós abandonamos os livros, parecendo pensar que nada mais têm para aprender; outros sentem-se estimulados a ir mais longe e continuam a ler e a absorver o que os outros disseram, tornando-se devotos do saber. Enquanto houver devoção ao saber ou à técnica, como meio de sucesso ou de domínio, haverá competição impiedosa, antagonismo e a crescente luta pelo pão.

Enquanto o sucesso for o nosso alvo, não nos livraremos do temor, porque o desejo de sucesso gera inevitavelmente o medo de insucesso. Eis porque não se deve ensinar aos jovens idolatrar o sucesso. A maioria das pessoas procura o sucesso sob uma ou outra forma, seja no campo de tênis, seja no mundo comercial, seja na política. Todos queremos estar por cima e este desejo cria constante conflito dentro de nós mesmos e com o nosso próximo; leva à competição, à inveja, à animosidade e, por último, à guerra.

Como a velha geração, procuram também os jovens o sucesso e a segurança; embora no começo descontentes, não tardam a tornar-se pessoas respeitáveis, que não ousam dizer não à sociedade. As muralhas de seus próprios desejos começa a fechar-se em torno deles, e eles entram em forma e tomam nas mãos as rédeas da autoridade. Seu descontentamento, que é a própria chama da investigação, da busca, da compreensão, vai-se amortecendo, até extinguir-se de todo, e seu lugar é ocupado pelo desejo de um emprego melhor, um casamento rico, uma carreira triunfal — tudo isso expressões da ânsia de maior segurança.

Não há diferença essencial entre os velhos e os moços, porque tanto uns como outros são escravos dos seus próprios desejos e prazeres. A madureza nada tem que ver com a idade; ela vem com a compreensão. O ardente espírito de investigação é talvez mais fácil para os jovens, porque os mais velhos já foram muito fustigados pela vida, os conflitos os cansaram, e a morte, sob diferentes formas, os espreita. Isso não significa que eles sejam incapazes de resoluta investigação, apenas, é mais difícil para eles.

Muitos adultos são imaturos e um pouco infantis; esta é uma das causas que contribuem para a confusão e a miséria reinantes no mundo. São os mais velhos os responsáveis pela atual crise econômica e moral; e, uma das nossas deploráveis fraquezas é desejar que alguém atue por nós e modifique o curso de nossas vidas. Esperamos que outros se revoltem e reconstruam, enquanto permanecemos inativos, até que estejamos certos dos resultados.

É atrás da segurança e do sucesso que andamos, quase todos nós; a mente que busca segurança, que aspira ao sucesso, não é inteligente e, por conseguinte, é incapaz da ação integrada. Só pode haver ação integrada se estamos bem cônscios de nosso próprio condicionamento, de nossos preconceitos raciais, nacionais, políticos e religiosos; isto é, se percebemos que as atividades do “eu” são sempre separativas.

(...) Educar uma criança é ajudá-la a compreender a liberdade e a integração. Para se ter liberdade é preciso ordem, a qual só a virtude pode dar; e a integração só é possível quando há grande simplicidade. Das nossas inumeráveis complexidades devemos amadurecer para a simplicidade — tornar-nos simples, em nossa vida interior e em nossa necessidades exteriores.

A educação atual está toda interessada na eficiência exterior, desprezando inteiramente ou pervertendo, com deliberação, a natureza intrínseca do homem; só cuida de desenvolver uma parte dele, deixando que o resto se arraste como possa. Nossa confusão, antagonismo e temor, interiores, acabam sempre por subverter a estrutura exterior da sociedade, por melhor que ela tenha sido concebida e por mais habilmente que se tenha edificado. Quando não há educação correta, destruímo-nos uns aos outros, e é-nos negada a segurança física. Educar o estudante corretamente é ajudá-lo a compreender a compreender o processo total de si mesmo; porque só quando há integração da mente e do coração, na ação diária, é que pode haver inteligência e transformação interior.

Ao mesmo tempo que ministra conhecimentos e preparo técnico, a educação deve, sobretudo, estimular uma visão integrada da vida; deve ajudar o estudante a reconhecer e quebrar, em si próprio, todas as distinções e preconceitos, e demovê-lo da ávida busca de poder e prestígio. Deve incentivar a correta auto-observação e o experimentar da vida como um todo, quer dizer, não atribuir significação à parte, ao “eu” e ao “meu”, mas, sim, ajudar a mente a transcender a si própria, para descobrir o real... Quando há autoconhecimento, extingue-se a capacidade de criar ilusões e só então é possível manifestar-se a realidade ou Deus.

Krishnamurti — A educação e o significado da vida

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill