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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A especulação é um estorvo que deteriora a mente

[...] Em lugar de buscar o que é incondicionado, não será mais importante descobrir se a sua mente está condicionada? Por certo, se sua mente está condicionada — e isso na realidade ocorre — não importa o quanto ela possa investigar sobre a realidade de Deus, ela só poderá reunir conhecimentos ou informações de acordo com esse condicionamento. Sendo assim, pensar sobre Deus é uma grande perda de tempo, é uma especulação desprovida de valor. É algo como eu ficar sentado aqui neste bosque e querer estar no topo daquela montanha. Se eu na verdade quiser saber o que existe no topo da montanha, ou além dela, precisarei ir até lá. De nada adianta eu permanecer sentado aqui, especulando, construindo templos, igrejas e ficando excitado com elas. O que preciso fazer é levantar-me, caminha, lutar, empurrar, chegar até lá e descobrir; mas, como a maioria de nós não quer fazer isso, nos contentamos em ficar sentados aqui e em especular sobre algo que não conhecemos. E eu afirmo que essa especulação é um estorvo, é uma deterioração da mente, e não tem valor algum: só o que faz é produzir mais confusão e mais sofrimento para o homem. 

Sendo assim, Deus é algo sobre o qual não se pode falar, que não pode ser descrito, que não pode ser colocado em palavras, porque deve permanecer sendo sempre o desconhecido. No momento em que ocorre o processo do reconhecimento, você voltou ao campo da memória. Digamos, por exemplo, que você teve uma experiência momentânea de algo extraordinário. Naquele preciso momento não existe nenhum pensador que vá afirmar: "Eu preciso me lembrar disso". Existe apenas o momento vivenciado. Mas, quando esse momento se desfaz, o processo do reconhecimento se faz presente. A mente diz: "Tive uma experiência maravilhosa e gostaria de poder ter mais dela", e então tem início a luta do "mais" — porque lhe dá prazer, prestígio, conhecimento, porque você se torna uma autoridade, e todas as outras tolices desse tipo. 

A mente persegue aquilo que vivenciou; mas o que vivenciou já terminou, morreu, já foi, e, para descobrir aquilo  que é, a mente precisa morrer para o que vivenciou. Isso não é algo que se possa cultivar dia após dia, que possa ser reunido, acumulado, mantido, e sobre o qual se possa então falar e escrever. Tudo o que podemos fazer é verificar que a mente está condicionada e, através do autoconhecimento, compreender o processo do nosso próprio pensamento. Eu preciso me conhecer, não como eu, ideologicamente, gostaria de ser, mas como eu sou na realidade, não importa se feio ou bonito, mesmo que invejoso, ciumento, ambicioso. Mas é muito difícil ver apenas o que se é, sem querer mudá-lo, e esse próprio desejo de mudança é outra forma de condicionamento; e assim seguimos, passando de um condicionamento para outro, jamais vivenciando algo além do que é limitado.

Krishnamurti — Ojai, 21 de Agosto de 1955     

A compreensão do processo do pensamento

É muito importante compreender todo o processo do nosso pensamento, e essa compreensão não surge através do isolamento. Não existe uma vida isolada. A compreensão do processo do nosso pensamento surge quando nos observamos nos nossos relacionamentos diários, nas nossas atitudes, nas nossas crenças, a maneira como falamos, a maneira como olhamos as pessoas, a maneira como tratamos nossos maridos ou nossas esposas e nossos filhos. O relacionamento é o espelho no qual se refletem os processos do nosso pensamento. Nos fatos do relacionamento se encontra a verdade, não fora do relacionamento. Não existe, é claro, vida isolada. Podemos, cuidadosamente, eliminar diversas formas de relacionamento físico, mas, ainda assim, a mente permanecerá relacionada. A própria existência da mente implica relacionamento, e o autoconhecimento advém de se enxergarem os fatos do relacionamento tais como eles são, sem inventar, condenar ou justificar. No relacionamento, a mente faz certas avaliações, julgamentos e comparações; ela reage ao desafio de acordo com várias formas de recordação, e essa reação é chamada pensamento. Você descobrirá que, se a mente puder ao menos estar ciente de todo esse processo, o processo se imobiliza. A mente fica então bastante quieta, bastante silenciosa, sem incentivo, sem movimento em qualquer direção, e, nessa quietude, a realidade adquire existência. 

Krishnamurti, Rajghat, 6 de fevereiro de 1955

É possível uma percepção que não parta do pensamento?

O que vem a ser "pensar"? Quando dizemos "eu penso", o que queremos dizer com isso? Quando é que passamos a ter consciência desse processo de pensar? Damo-nos conta dele, certamente, quando há um problema, quando nos sentimos ameaçados, quando nos fazem uma pergunta, quando existe atrito. Nós percebemos sua existência como um processo autoconsciente. [...]

Não há dúvida de que pensar é uma reação. Se eu lhes faço uma pergunta e você responde a ela, você responderá de acordo com a sua memória, com os seus preconceitos, com a sua formação, com o clima, com todos os antecedentes do seu condicionamento; e é de acordo com tudo isso que você responde, é de acordo com isso que você pensa. Não importa que você seja cristão, comunista, hindu ou quem quer que seja — quem responde são esses antecedentes — e, evidentemente, esse condicionamento é o causador do problema. O núcleo desses antecedentes é o "eu", presente no processo da ação, enquanto os antecedentes não forem compreendidos, enquanto o processo do pensamento, esse si-mesmo causador do problema não for compreendido e não tiver tido fim, continuaremos fadados a enfrentar conflitos, dentro e fora, no pensamento, na emoção, na ação. Nenhuma solução de nenhum tipo por mais sagaz ou bem pensada que seja, jamais poderá colocar fim ao conflito entre homem e homem, entre você e eu. E, verificando isso, tendo tomado ciência de como o pensamento nasce e de que fonte ele origina, perguntamos: "Pode o pensamento chegar a ter fim?"

Esse é um dos problemas, não é verdade? Pode o pensamento resolver os nossos problemas? Ter pensado bastante sobre o problema fez você resolvê-lo? Problemas de qualquer natureza — econômicos, sociais, religiosos — terão sido realmente solucionados pelo pensamento? Em sua vida do dia-a-dia, quanto mais você pensa sobre um problema, mais complexo, insolúvel e incerto ele se torna. Não é isso o que se passa na nossa vida diária e real? Você pode, se pensar sobre certos aspectos do problema, perceber com maior clareza o ponto de vista de outra pessoa, mas o pensamento não pode enxergar a plenitude e a totalidade do problema; ele pode apenas ver parcialmente, e uma resposta parcial não é uma resposta plena; logo, não há solução. 

Quanto mais pensamos sobre um problema, quanto mais o investigamos, analisamos e discutimos, mais complexo ele se torna. Assim, será possível olhar para o problema de forma plena e totalmente abrangente? E como será isso possível? Essa, segundo penso, é a nossa dificuldade. Sim, pois os nossos problemas se multiplicam.  — há uma ameaça iminente de guerra, há todo tipo de complicações nos nossos relacionamentos — e como poderemos compreender tudo isso de forma plena, como um todo? Isso, evidentemente, só poderá ser solucionado quando o examinarmos como um todo — não em compartimentos, não de forma dividida. E quando será isso possível? Sem dúvida, isso só será possível quando o processo do pensamento — que tem sua origem no "eu", no si-mesmo, nos antecedentes da tradição, do condicionamento, do preconceito, da esperança, do desespero — ter chegado ao fim. Poderemos então compreender esse si-mesmo, não por meio da análise, e sim enxergando o fato tal como ele realmente é, tendo consciência dele como um fato, e não como uma teoria? Não buscando dissolver o si-mesmo de maneira a atingir um resultado, mas enxergando a atividade do si-mesmo, do "eu", constantemente em ação? Poderemos olhar para isso sem nenhum movimento para destruir ou encorajar? Esse é o problema, não é mesmo? Se, em cada um de nós, não existir o centro do "eu", com o desejo de poder, de posição, de autoridade, de continuidade e de autopreservação, nossos problemas certamente terão fim! 

O si-mesmo é um problema que o pensamento não pode resolver. É preciso haver uma percepção que não parta do pensamento. Estar ciente, sem condenação ou justificativa, das atividades do si-mesmo — apenas estar ciente — é o bastante. Enquanto você se mantiver ciente visando descobrir a forma de resolver o problema, com o intuito de transformá-lo, de produzir um resultado, você estará ainda no campo do si-mesmo, do "eu". Enquanto buscarmos um resultado, seja por meio da análise, ou por meio da consciência, ou através de um exame constante de cada pensamento, continuaremos ainda no campo do pensamento, o qual se encontra no campo do "mim", do "eu", do ego.

Krishnamurti — Londres, 7 de abril de 1952     

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A fecundidade do tédio, da insatisfação e da solidão


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Diálogo sobre o que está além do vazio e do silêncio

Krishnamurti:... O vazio é energia, e o vazio existe no silêncio, ou ao contrário, não importa — certo? Oh, sim, existe alguma coisa além disso tudo. Provavelmente nunca poderá ser colocada em palavras; mas ela tem de ser colocada em palavras. Você está acompanhando? 

DB: Você está dizendo que o absoluto deve ser colocado em palavras, mas sentimos que isso não é possível? Qualquer tentativa de colocá-lo em palavras torna-o relativo.

K: Sim. Não sei como colocar tudo isso. 

DB: Creio que temos uma longa história de perigo com o absoluto. As pessoas o colocaram em palavras, e ele se tomou muito opressivo. 

K: Abandonemos tudo isso. Veja bem, ignorarmos o que outras pessoas disseram, Aristóteles, Buda, e outros, tem uma vantagem. Entende o que quero dizer? Uma vantagem no sentido de que a mente não está influenciada pelas idéias de outras pessoas, e nem presa às afirmações de outras pessoas. Tudo isso faz parte do nosso condicionamento. Vamos agora além de tudo isso! O que estamos tentando fazer? 

DB: Acho que estamos tentando nos comunicar com relação a esse absoluto, esse além. 

K: Eu retirei imediatamente essa palavra "absoluto". 

DB: Então seja lá o que for; o que está além do vazio e do silêncio. 

K: Além disso tudo. Existe o além disso tudo. Tudo isso é alguma coisa, parte de uma imensidão. 

DB: Sim, mesmo o vazio e o silêncio são uma imensidão, não são? A energia em si é uma imensidão. 

K: Sim, eu compreendo isso. Porém existe uma coisa muito mais imensa do que isso. O vazio, o silêncio e a energia são imensos, realmente imensuráveis. Mas existe uma coisa — estou usando a palavra "maior" do que isso. 

DB: Estou apenas ponderando. Estou observando. Podemos ver que não importa o que digamos sobre o vazio, ou sobre qualquer outra coisa, existe algo além. 

K: Não, como um cientista, por que você aceita — aceita não, perdoe-me por usar essa palavra — por que você acompanha isso? 

DB: Porque nós chegamos aqui passo a passo, percebendo a necessidade de cada passo. 

K: Você percebe que tudo isso é muito lógico, razoável, sensato. 

DB: Além disso, podemos perceber que está tão certo. 

K: Sim. Assim, se eu disser que existe uma coisa maior do que todo esse silêncio, essa energia — você aceitaria isso? Aceitaria no sentido de que até agora temos sido lógicos. 

DB: Digamos que certamente há algo além de qualquer coisa a que você se refira. Silêncio, energia, seja o que for, então sempre há, logicamente, espaço para alguma coisa além. Porém o ponto é o seguinte: mesmo que você diga que há algo além disso, logicamente ainda deixa espaço para irmos novamente além disso. 

K: Não. 

DB: Bem, por que é assim? Veja, qualquer coisa que você diga, sempre existe lugar para algo além. 

K: Não há nada além. 

DB: Bem, esse ponto não está claro, percebe? 

K: Não existe nada além. Eu me mantenho fiel a isso. Não de forma dogmática ou obstinada. Sinto que isso é o começo e o final de tudo. O fim e o início são a mesma coisa — certo? 

DB: Em que sentido? No sentido de que você está usando o início de tudo como o final?

K: Sim. Certo? Você diria isso? 

DB: Sim. Se tomarmos a base de onde isso vem, deve ser a base aonde isso cai. 

K: Está correto. Essa é a base sobre a qual tudo existe, espaço .. . 

DB: ... energia .. . 

K: . . . energia, vazio, silêncio, tudo que é. Tudo isso. Não a base, você compreende? 

DB: Não, isso é apenas uma metáfora. 

K: Não há nada além disso. Nenhuma causa. Se tivermos uma causa então teremos uma base. 

DB: Temos outra base. 

K: Não. Isso é o começo e o fim. 

DB: Está se tornando mais claro. 

K: É verdade. Isso transmite alguma coisa a você? 

DB: Sim, acho que sim. 

K: Alguma coisa. Você diria ainda que não há começo e nem fim? 

DB: Sim. Ele vem da base, vai para a base, mas não começa nem termina. 

K: Sim. Não existe início nem fim. As implicações são enormes. Isso, a morte — morte não no sentido de eu vou morrer, mas o término completo de tudo? 

DB: Veja bem, primeiro você disse que o vazio é o final de tudo, então em que sentido é esse mais, agora? O vazio é o fim das coisas, não é?

K: Sim, sim. É essa morte, esse vazio? A morte de tudo que a mente cultivou. Esse vazio não é o produto da mente, da mente específica. 

DB: Não, da mente universal. 

K: Esse vazio é isso. 

DB: Sim. 

K: Esse vazio só pode existir quando há morte — a morte total — do particular. 

DB: Sim. 

K: Não sei se estou conseguindo transmitir isso. 

DB: Sim, isso é o vazio. Mas quando você diz isso, nessa base a morte vai mais adiante? 

K: Oh, sim. 

DB: Então estamos dizendo que o final do particular, a morte do específico, é o vazio, que é universal. Você vai dizer agora que o universal também morre? 

K: Sim, é isso que estou tentando dizer. 

DB: Na base. 

K: Isso transmite alguma coisa? 

DB: Possivelmente, sim. 

K: Espere um minuto. Vejamos. Creio que isso transmite algo, não é verdade? 

DB: Sim. Ora, se o particular e o universal morrem, então isso é a morte? 

K: Sim. Afinal de contas, um astrônomo diz que tudo no universo está morrendo, explodindo, morrendo.

DB: Mas, naturalmente, poderíamos supor que havia algo além. 

K: Sim, é exatamente isso. 

DB: Acho que estamos avançando. 0 universal e o particular. Primeiro o particular morre no vazio, e depois vem o universal. 

K: E isso morre também. 

DB: Na base, certo? 

K: Sim. 

DB: Então poderíamos dizer que a base não nasce e nem morre. 

K: Está correto. 

DB: Bem, acho que dizermos que o universal partiu torna-se quase inexprimível, porque a expressão é o universal. 

K: Veja — estou apenas explicando: tudo está morrendo, a não ser aquilo. Isso transmite alguma coisa? 

DB: Sim. Bem, é a partir daquilo que tudo surge, e naquilo que tudo morre. 

K: Então aquilo não tem começo nem fim. 

DB: O que significaria falar sobre o término do universal? O que significaria termos o fim do universal? 

K: Nada. Por que isso deveria ter um significado se está acontecendo? Qual é a relação disso com o homem? Você está acompanhando o que quero dizer? O homem está passando por uma época terrível. Qual é a relação disso com o homem? 

DB: Digamos que o homem sente que ele tem de ter algum contato com a base suprema da sua vida, caso contrário não há significado. 

K: Mas ele não tem. A base não possui qualquer relacionamento com o homem. Ele está se matando, ele está fazendo tudo em oposição à base. 

DB: Sim, é por isso que a vida não tem qualquer significado para o homem. 

K: Sou um homem comum; eu digo, está bem, você falou maravilhosamente a respeito do pôr-do-sol, mas o que tem isso a ver comigo? Isso ou o que você está falando vai me ajudar a superar minha feiúra? Minhas brigas com minha mulher ou seja lá o que for? 

DB: Creio que deveríamos voltar, e dizer que entramos nisso começando logicamente com o sofrimento da humanidade, mostrando que ele se origina de um passo errado, que conduz inevitavelmente .. . 

K: Sim, mas o homem pede: ajude-me a superar o passo errado. Coloque-me de volta no caminho certo; e a isso respondemos: por favor não se transforme em nada. 

DB: Certo. Qual é o problema então? 

K: Ele nem escutará. 

DB: Parece-me, então, que a pessoa que percebe isso precisa descobrir qual é a barreira que impede o homem de escutar. 

K: Obviamente você pode ver qual é a barreira. 

DB: Qual é a barreira? 

K: O "eu". 

DB: Sim, mas eu quero dizer mais profundamente. 

K: Mais profundamente, todos os nossos pensamentos, apegos profundos — tudo que está no nosso caminho. Se não pudermos abandonar essas coisas, então não teremos qualquer relação com aquilo. O homem, porém, não deseja abandoná-las. 

DB: Sim, eu entendo. O que ele quer é o resultado da maneira como ele está pensando. 

K: O que ele quer é um modo confortável, fácil, de viver sem qualquer problema, e ele não pode ter isso.

DB: Não. Somente se abandonar tudo isso. 

K. Tem de haver uma ligação. Deve existir alguma relação com a base e com isso, alguma conexão com o homem comum; caso contrário, qual é o significado de vivermos? 

DB: É isso que eu estava tentando dizer antes. Sem essa relação ... 

K: ... não há significado. 

DB: E então as pessoas inventam o significado. 

K: Naturalmente. 

DB: Mesmo se voltarmos atrás, veremos que as antigas religiões disseram coisas parecidas, que Deus é a base, e, portanto, elas procuram Deus. 

K: Ah, não, isso não é Deus. 

DB: Não, não é Deus, mas está dizendo a mesma coisa. Poderíamos dizer que "deus" é uma tentativa de colocar essa noção de um modo um tanto pessoal demais, talvez. 

K: Sim. Dê-lhes esperança, dê-lhes fé, entende? Torne a vida um pouco mais confortável de ser vivida. 

DB: Bem, você está querendo saber neste ponto: como isso poderá ser transmitido ao homem comum? É essa a sua pergunta? 

K: Mais ou menos; e também é importante que ele escute isso. Você é um cientista. É bom o bastante para escutar porque somos amigos. Quem escutará, porém, entre os outros cientistas? Sinto que se nos dedicarmos a isso, teremos um mundo maravilhosamente bem organizado. 

DB: Sim. E o que faremos nesse mundo? 

K: Viveremos. 

DB: Mas, quero dizer, falamos alguma coisa a respeito da criatividade ... 

K: Sim; e então, se não temos conflito, se não há nenhum "eu", há alguma outra coisa que está atuando. 

DB: Sim, é importante dizer isso, porque a idéia cristã de perfeição parece ser bastante maçante, porque não há nada a fazer! 

K: Devemos continuar esse assunto em alguma outra ocasião, porque isso é algo que tem que ser colocado em órbita. 

DB: Parece impossível. 

K: Fomos bastante longe. 

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2 de abril de 1980, Ojai, Califórnia 55

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Quando a mensagem é organizada você se torna produto dela


É possível viver sem fio terra emocional

Sobre deserto, tédio e insatisfação

A percepção do sistema com seus sistemas de fuga


A vida só tem sentido quando isso acontece

O diamante está dentro, e nós estamos fora. Ele é parte de nosso ser, mas nós o procuramos em todo lugar, exceto lá; daí a amargura, a frustração, o desespero.

Olhe para dentro de você, para seu interior, e o reino de Deus é seu. Nunca o perdemos, nem sequer por um momento. Na verdade, mesmo que quiséssemos perdê-lo, não poderíamos - ele é nosso próprio ser.

Mas nos tornamos mendigos por decisão própria, por causa de nossa estupidez. Esquecemos como se lê a língua da escritura interior e procuramos nos Vedas, no Alcorão e na Bíblia...

Seremos grandes eruditos, mas não ricos. Ficaremos sempre pobres. A riqueza só vem por um caminho, o interior, porque é lá que se encontra a mina, o tesouro, o inexaurível tesouro.

Volte-se para dentro, harmonize-se, e a alegria será grande - infindável! A vida só tem sentido quando isso acontece, não antes. A vida só é vida assim, nunca antes.

Osho, em "Meditações Para o Dia"

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O ego está sempre tentando alcançar a espiritualidade

A Observação requer uma energia fantástica

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A mente não pode compreender o estado incondicionado de consciência

A atitude mental cultivada tem suas raízes no senso do eu consciente que é o fator oniabarcante do condicionamento.
Duas perguntas surgem com frequência nas mentes dos estudantes sérios de Yoga: se uma mente condicionada pode compreender o estado incondicionado de consciência e se uma mente condicionada pode se tornar absolutamente incondicionada. Essas não são duas questões separadas, mas inter-relacionadas e, portanto, uma surge da outra.[...] O esforço consciente da mente surge do senso do eu... por conseguinte, que, através do esforço consciente da mente, não podemos compreender o estado incondicionado da consciência. 

A atitude mental cultivada tem suas raízes no senso do eu consciente que é o fator oniabarcante do condicionamento. Com certeza, é o senso do eu que condiciona a mente; de fato, qualquer atividade de tal mente está dentro dos limites condicionantes deste senso do eu. Portanto, a mente não pode compreender o que é o estado incondicionado de consciência através de seus próprios esforços, conquanto sublimes possam ser. É evidente que um processo contínuo não pode nos levar a compreender o descontínuo. E o estado incondicionado de consciência é realmente um estado de descontinuidade. 

Se a mente condicionada não pode compreender o estado incondicionado, então, tal mente condicionada nunca poderá ser absolutamente incondicionada? Nas mentes da maioria das pessoas há uma concepção falsa com relação ao caráter do estado incondicionado da consciência. É evidente que antes de chegarmos à realização direta de tal estado, temos de ter uma clara compreensão intelectual sobre o mesmo. Percebe-se que até mesmo essa compreensão intelectual é amplamente ausente. Existe uma ideia geral de que um estado incondicionado é aquele que não é condicionado por fatores perversos ou não-desejados. Isso significa que uma mente incondicionada  por fatores bons e nobres deve ser considerada incondicionada. Estritamente falando, uma mente incondicionada é uma mente desocupada. No entanto, isso não significa que a mente é livre apenas das assim-chamadas ocupações indesejáveis. Em todas as religiões e abordagens morais, em geral, o aspirante é solicitado a manter a mente ocupada com aquilo que é considerado como pensamentos bons e que elevam. Todavia, uma mente ocupada com bons pensamentos, conquanto nobres possam ser, não é uma mente desocupada. De igual forma, uma mente incondicionada, que é moldada por supostos fatores bons, não é uma mente incondicionada. O descondicionamento deve ser absoluto, assim como a condição desocupada da mente deve ser livre de todas as ocupações, sejam elas boas ou más. 

[...] A mente condicionada não pode conhecer o estado incondicionado, e o estado de descondicionamento absoluto pode surgir tão-só nos momentos de meditação ou comunhão. Descondicionamento absoluto não é um condicionamento modificado.

[...]Pode algum dia a mente condicionada chegar ao descondicionamento absoluto? Pode, se a mente for libertada de todos os motivos. Não tem utilidade lutar com padrões de condicionamento, pois a causa (natureza exata) não se encontra nos padrões, mas nos motivos. Às vezes, um aspirante espiritual tenta fechar sua mente a certos fatores externos de condicionamento, mas isso não terá valor enquanto os motivos persistirem.

Rohit Mehta — Yoga: a arte da integração

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Conceito bacana não desfaz ego sacana


Sobre o inicial olhar ácido rancoroso


O fluxo do pensamento e as saídas do SER


A vida é no ao vivo e a cores


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A necessária prática da educação dos sentidos

"Oh Filho de Kunti, os sentidos excitados mesmo de um homem sábio, ainda que ele se esforce, impetuosamente arrebatam sua mente".
Sabe-se que a mente intervém para seus próprios objetivos. Ela busca continuidade e segurança, e isso pode ser garantido apenas se os sentidos e o cérebro não lhe apresentarem material completamente novos. Na presença de algo novo, a segurança da mente fica, naturalmente, ameaçada, pois, sob seu impacto, a mente é compelida a revisar suas próprias conclusões. E é isso que a mente deseja evitar o tempo todo. É seguro para ela permanecer entrincheirada atrás de suas próprias conclusões e julgamentos. Se esses são jogados ao mar, naturalmente, ela deve buscar novas paragens e avenidas para seus movimentos. A mente impede esse acontecimento, interferindo no processo perceptivo de forma que os sentidos e o cérebro sejam impedidos de colocar diante dela qualquer dado novo. Esse processo tornou-se tanto parte de nossas vidas que os sentidos dependem, todo o tempo, das intimações e direções da mente. A intervenção da mente tornou fora de nosso alcance vastas áreas do Universo. Vivemos em um Universo estereotipado e monótono. Através da intervenção da mente, podemos ver apenas aquilo que a mente considera seguro que vejamos. Isso acontece, particularmente, com relação à contraparte psicológica do Universo. Se tivermos de agir de forma correta no ambiente físico e psicológico que se impinge sobre nós constantemente, é necessário que conheçamos bem esse ambiente. Se nossa percepção é imperfeita, então certamente a interpretação daquilo que conhecemos e a ação advinda de tal cognição também estão fadadas a ser. Todavia, para a reta percepção, os sentidos devem reclamar sua iniciativa, e o cérebro deve declarar seu direito de funcionar com o potencial pleno. Esse funcionamento do cérebro com pleno potencial é possível apenas se os sentidos funcionam independentemente da mente. A prática da educação dos sentidos permite-nos fazer isso e confere inciativa aos sentidos. Em outras palavras, objetiva uma completa reeducação dos sentidos, de modo que cessem de depender da mente para seu funcionamento. É fácil de compreender que esta reeducação dos sentidos deve começar não no lado psicológico, mas no lado não-psicológico, porque a intervenção da mente na esfera não-psicológica é comparativamente lenta e menos intensa. Quando a intervenção da mente é impedida nos processos perceptivos da esfera não-psicológica, a suspensão de tal intervenção nos reinos psicológicos torna-se fácil. Logo, sabemos que reeducar os sentidos é tornar possível que eles funcionem livremente, sem interferência da mente.

[...] A mente em sua busca por prazer transforma os fatos em ficções, através de um processo de associação e identificação. Ela projeta suas próprias associações sobre os fatos da vida. [...] Quando os sentidos perdem sua iniciativa e função em benefício da mente, então cessam de responder aos fatos da vida e começam a mover-se no reino dos objetos de prazer da mente. São incapazes de permanecer onde estão os fatos e tendem a gravitar para os objetos mentais. Estes são os objetos da vida e os objetos da mente. Os primeiros representam o fato, enquanto os segundos representam as projeções. Esses sentidos, operando em benefício da mente, são removidos dos objetos da vida para os objetos da mente. Ora, quando a mente recolhe-se, abstendo-se de toda intervenção no processo perceptivo, os objetos da mente começam a desaparecer e aparecem os objetos da vida. É então que os sentidos recebem o que lhes cabe. Contudo, tendo se acostumado a funcionar em benefício e sob direção da mente, os sentidos, no início, sentem-se perdidos quando a mente se recolhe. São incapazes de agir por conta própria e, assim, como diz o Bhagavad Gita:

"Oh Filho de Kunti, os sentidos excitados mesmo de um homem sábio, ainda que ele se esforce, impetuosamente arrebatam sua mente".

Os sentidos quase que forçosamente trazem a mente de volta e exigem sua intervenção. Isso ocorre em virtude de os sentidos não terem sido reeducados e serem incapazes de agir sem a direção da mente. Devem ser educados a funcionar sobre os objetos da vida e a afastarem-se dos objetos da mente.

[...] Se podemos olhar para os fenômenos não-psicológicos sem a intervenção da mente, os sentidos têm uma chance de funcionar por si próprios. Ou seja, os sentidos precisam ser reeducados para olhar ou sentir de outra forma a flor e a árvore, a nuvem e o pássaro, o rio e o mar. Com a mente recolhida, os sentidos começam a funcionar de uma maneira nova, descobrindo os objetivos da natureza, dissociados dos objetos da mente.

[...] Quando os sentidos recebem sua devida parte, porque a intervenção da mente foi interceptada, seu alcance e sua intensidade de resposta aumentam tremendamente. São capazes de comunicar ao cérebro um número muito aumentado de dados e sensações. Tal fato, é claro, resulta da ativação do cérebro, permitindo que ele funcione com seu pleno potencial.[...] A ativação do cérebro impede a interferência da mente em seus próprios processos perceptivos. O cérebro é capaz de tornar suas imagens perceptivas claras e vívidas sem que distorções sejam introduzidas nas mesmas. Quando há um fluxo ininterrupto de sensações dos órgãos dos sentidos, as imagens perceptivas também são constantemente renovadas. O fluxo da vida, transmitido pelas sensações sempre crescentes, é refletido em renovadas imagens da percepção formada pelo cérebro. A monotonia da mesmice desaparece, permitindo que ele permaneça sempre novo e energético, sempre pronto para aprender. O processo do aprendizado do cérebro não é reduzido, o que o faz funcionar com tremenda vitalidade. A maior elasticidade dos sentidos e a crescente vitalidade do cérebro são os resultados da prática da educação dos sentidos.

Rohit Mehta

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ansiando por Vida nessa existência


O papel da disciplina na verdadeira espiritualidade


Pode-se perguntar: a disciplina não tem lugar na verdadeira espiritualidade? A vida espiritual é uma vida indisciplinada? Se for, não resultaria em desperdício de nossas energias? E a energia não é necessária para viver a vida espiritual? Parece muito claro que o desperdício de energia deve ser eliminado em TODOS OS NÍVEIS, o que indica que a energia DEVE SER CONSERVADA. Além disso, precisamos conhecer o segredo da renovação de nossa energia se quisermos avançar na direção das expressões criativas da vida espiritual.

É bastante óbvio que a conservação de energia é possível apenas em uma vida disciplinada. Mas, se a planta da vida espiritual floresce em uma atmosfera de liberdade e espontaneidade, como podem ser reconciliadas a liberdade e a disciplina? De hábito, liberdade e disciplina são consideradas contraditórias e, por consequência, mutuamente exclusivas. Porém, o fato é que apenas aquele que é totalmente livre pode ser, na verdade, disciplinado. Sem liberdade, a disciplina é uma imposição, seja de fora ou de dentro. Muitas vezes uma pessoa afirma que não aceita qualquer disciplina que seja imposta por uma autoridade externa, mas esta pessoa esquece que a chamada autoridade interna é também um produto de fatores condicionantes. A autoridade interna é realmente um produto de forças sociais e culturais que invadem o indivíduo, advindas da sociedade ou do grupo ideológico ao qual pertence. A liberdade exige uma completa eliminação da autoridade tanto externa quanto interna. É apenas então que o indivíduo, TORNANDO-SE INDEPENDENTE, assume a completa responsabilidade por tudo o que faz. Com certeza, é no clima de tal responsabilidade que a verdadeira disciplina cresce. Quando o homem compreende que nenhuma autoridade pode salvá-lo NEM MESMO A AUTORIDADE INTERNA, assim, SOZINHO, ele está supremamente disciplinado. Nesta compreensão da auto-responsabilidade, ele sabe que precisará de toda sua energia, e, em consequência, não pode permitir que seja desperdiçada. Sem tal senso de responsabilidade, a disciplina não tem valor, e, quando a responsabilidade é despertada, surge a disciplina natural e espontaneamente.

Quando somos completamente responsáveis por nós mesmos, começamos a viver no verdadeiro sentido da palavra. Sabe-se que uma ação que emerge da ação correta tem a qualidade da verdadeira disciplina. É uma disciplina que emana da própria ação de viver. Não é baseada em um ideal, que tentamos traduzir para nossa conduta diária; surge no próprio processo do aprendizado. Aprendemos, e este mesmo ato de aprender cria sua própria disciplina. É como um rio que, na própria ação de fluir, cria sua própria disciplina em função das suas margens. Estas não são criadas com antecedência. Podemos criar tais margens e descobrir que o rio tomou um curso totalmente diferente. Isso é verdadeiro igualmente com relação ao rio da vida. Se seu fluxo é mantido ininterrupto, este mesmo fluxo cria sua própria disciplina. Quando o fluxo sofre obstrução, começam os desordenamentos. É a mente do homem, com suas conclusões e interesses encobertos, que cria obstruções ao fluxo da vida. É o sentimento de posse que interrompe o fluxo da vida, gerando caos e confusão. Há uma disciplina inerente ao fluxo da vida. É suficiente olhar a natureza para ver que todas as suas atividades são perfeitamente disciplinadas. No entanto, não é uma disciplina aparte da vida. O ato de viver é um estado dinâmico. O dinamismo da vida exige uma disciplina que surge no próprio ato de viver.

Rohit Mehta - Yoga: A arte da integração

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Livrando se da necessidade de ter razão


Qual o papel da disciplina na verdadeira espiritualidade?


"O processo da disciplina do Yoga é eliminar as impurezas causadas pelo processo do condicionamento, de modo que a Luz do Puro Percebimento Incondicionado possa brilhar." — Patañjali (150 D.C)

Pode-se perguntar: a disciplina não tem lugar na verdadeira espiritualidade? A vida espiritual é uma vida indisciplinada? Se for, não resultaria em desperdício de nossas energias? E a energia não é necessária para viver a vida espiritual? Parece muito claro que o desperdício de energia deve ser eliminado em TODOS OS NÍVEIS, o que indica que a energia DEVE SER CONSERVADA. Além disso,  precisamos conhecer o segredo da renovação de nossa energia se quisermos avançar na direção das expressões criativas da vida espiritual. 

É bastante óbvio que a conservação de energia é possível apenas em uma vida disciplinada. Mas, se a planta da vida espiritual floresce em uma atmosfera de liberdade e espontaneidade, como podem ser reconciliadas a liberdade e a disciplina? De hábito, liberdade e disciplina são consideradas contraditórias e, por consequência, mutuamente exclusivas. Porém, o fato é que apenas aquele que é totalmente livre pode ser, na verdade, disciplinado. Sem liberdade, a disciplina é uma imposição, seja de fora ou de dentro. Muitas vezes uma pessoa afirma que não aceita qualquer disciplina que seja imposta por uma autoridade externa, mas esta pessoa esquece que a chamada autoridade interna é também um produto de fatores condicionantes. A autoridade interna é realmente um produto de forças sociais e culturais que invadem o indivíduo, advindas da sociedade ou do grupo ideológico ao qual pertence. A liberdade exige uma completa eliminação da autoridade tanto externa quanto interna. É apenas então que o indivíduo, TORNANDO-SE INDEPENDENTE, assume a completa responsabilidade por tudo o que faz. Com certeza, é no clima de tal responsabilidade que a verdadeira disciplina cresce. Quando o homem compreende que nenhuma autoridade pode salvá-lo NEM MESMO A AUTORIDADE INTERNA, assim, SOZINHO, ele está supremamente disciplinado. Nesta compreensão da auto-responsabilidade, ele sabe que precisará de toda sua energia, e, em consequência, não pode permitir que seja desperdiçada. Sem tal senso de responsabilidade, a disciplina não tem valor, e, quando a responsabilidade é despertada, surge a disciplina natural e espontaneamente. 

Quando somos completamente responsáveis por nós mesmos, começamos a viver no verdadeiro sentido da palavra. Sabe-se que uma ação que emerge da ação correta tem a qualidade da verdadeira disciplina. É uma disciplina que emana da própria ação de viver. Não é baseada em um ideal, que tentamos traduzir para nossa conduta diária; surge no próprio processo do aprendizado. Aprendemos, e este mesmo ato de aprender cria sua própria disciplina. É como um rio que, na própria ação de fluir, cria sua própria disciplina em função das suas margens. Estas não são criadas com antecedência. Podemos criar tais margens e descobrir que o rio tomou um curso totalmente diferente. Isso é verdadeiro igualmente com relação ao rio da vida. Se seu fluxo é mantido ininterrupto, este mesmo fluxo cria sua própria disciplina. Quando o fluxo sofre obstrução, começam os desordenamentos. É a mente do homem, com suas conclusões e interesses encobertos, que cria obstruções ao fluxo da vida. É o sentimento de posse que interrompe o fluxo da vida, gerando caos e confusão. Há uma disciplina inerente ao fluxo da vida. É suficiente olhar a natureza para ver que todas as suas atividades são perfeitamente disciplinadas. No entanto, não é uma disciplina aparte da vida. O ato de viver é um estado dinâmico. O dinamismo da vida exige uma disciplina que surge no próprio ato de viver. 

Rohit Mehta - Yoga: A arte da integração

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A preparação preliminar para uma vida de integridade espiritual

Deve haver uma certa preparação preliminar por parte daquele que aspira a levar uma vida de integridade espiritual, que o Yoga, sem dúvida é. Patañjali coloca em primeiro lugar a austeridade, a qual denota de fato uma vida de simplicidade. A austeridade exige que deixemos de lado todas as coisas não essenciais. Há uma dignidade no viver simples que não podemos nunca encontrar na ostentação. Ser simples não é ser descuidado ou destituído de posses. Uma vida de simplicidade é destituída de todos os empecilhos, é uma vida em que as necessidades e desejos são separados. Uma vida de ostentação é baseada na realização de desejos, mas uma vida simples se preocupa com a satisfação de necessidades. Patañjali aponta que aquele que deseja trilhar a senda do Yoga deve voltar-se para as coisas simples da vida. Apenas o homem de vida simples é capaz de suportar as pressões da verdadeira vida espiritual. Juntamente com esta simplicidade deve haver AUTO-ESTUDO, que não é tanto o caso de ler livros, mas a reflexão silenciosa. A maioria das pessoas nunca pensa, vive com o que as outras pessoas pensaram. Também em nosso processo educativo geralmente nos dizem "o que" pensar, mas nunca "como" pensar. Patañjali solicita que o aspirante espiritual comece a pensar por si mesmo. Isso realmente é AUTO-ESTUDO. Com simplicidade de vida e o desenvolvimento de uma estrutura mental reflexiva, seremos capazes de formular nossas aspirações. [...] Assim, simplicidade, reflexão e aspiração são os pré-requisitos da disciplina preparatória do Yoga. Sem estes três requisitos, seria inútil pensar em partir para o campo do Yoga. Aquele que opta pela vida espiritual, cedo ou tarde, formula formula suas aspirações. Essas constituem seus próprios valores de vida. O homem espiritual é aquele que se move ao longo da senda indicada pelos valores que descobriu  e formulou para si mesmo. Não é possível trilhar a senda espiritual seguindo os valores pertencentes a outros. A simplicidade e o auto-estudo nos levam à formulação de nossos próprios valores de vida — em outras palavras, nos levam a uma vida de verdadeira aspiração. 

esta disciplina preliminar é necessária, pois nos torna capazes de dirigirmos com clareza as muitas dificuldades que surgirem à medida que nos movermos ao longo da senda da Yoga. 

Rohit Mehta

Sentindo prazer em minha companhia


Verdade pede verdade e mentira pede mentira



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A fuga da dor pelo escapismo místico estratosférico


A resistência cria o embotamento

Questionador. Você fala muito sobre a necessidade de uma vigilância incessante. Acho que meu trabalho me entorpece de forma tão irresistível que falar sobre vigilância depois de um dia de trabalho é como colocar sal na ferida.

Krishnamurti: Meu senhor, esta é uma questão importante. Por favor, vamos examinar juntos, cuidadosamente, e ver o que nela está envolvido. Bem, a maioria de nós se entorpece com o que chamamos de nosso trabalho, nosso emprego, nossa rotina. Os que amam o trabalho e os que são obrigados a trabalhar em função de necessidade e que percebem que o trabalho os torna aborrecidos — ambos se aborrecem. Tanto os que amam o seu trabalho como os que resistem a ele se aborrecem, não é verdade? O que faz um homem que ama o seu trabalho? Ele pensa nele da manhã até a noite, está permanentemente ocupado com ele. Esse homem está tão identificado com o trabalho que não pode olhar para ele — ele é a própria ação, o próprio trabalho. O que sucede com essa pessoa? Ela vive numa prisão, vive em isolamento com seu trabalho. Nesse isolamento, ela pode ser bastante esperta, bastante inventiva, muito sutil, mas ainda assim está isolada. E ela se entorpece porque está resistindo a qualquer outro tipo de trabalho, a qualquer outra abordagem. Seu trabalho é, portanto, uma forma de escapar da vida — da sua vida, de seus compromissos sociais, das incontáveis solicitações, e assim por diante. E há também o homem da outra categoria, o homem que — como a maioria de vocês — se obriga a fazer algo de que não gosta e que resiste a isso. É o trabalhador da fábrica, o funcionário do banco, o advogado, ou qualquer outra das nossas profissões.

Mas o que nos entorpece? Será o trabalho ou a nossa resistência ao trabalho, ou a tentativa de evitar outros impactos sobre nós? Estão acompanhando o que quero dizer? Espero estar me fazendo claro. Pois bem, o homem que ama seu trabalho está tão absorvido nele, tão enredado, que isso acaba por se tornar um vício. Dessa forma, seu amor ao trabalho é uma maneira de fugir da vida. E para o homem que resiste ao trabalho, que desejaria estar fazendo algo diferente, há o eterno conflito da resistência ao que está fazendo. Assim, nosso problema é: o trabalho entorpece a nossa mente? Ou esse entorpecimento é causado pela resistência ao trabalho, de um lado, e pelo uso que se faz do trabalho para evitar os impactos da vida, de outro? Isto é, será que a ação e o trabalho entorpecem a mente ou será que a mente fica entorpecida pelo conflito, pela resistência ou pela tentativa de fuga? Obviamente, não é o trabalho, mas a resistência que entorpece a mente. Se você não oferecer resistência e aceitar o trabalho, o que acontece? O trabalho não o entorpece, porque apenas uma parte da sua mente está realizando a tarefa que você tem que executar. O resto do seu ser, o inconsciente, a parte oculta, está ocupada com os pensamentos nos quais você está realmente interessado. Sendo assim, não existe conflito. Isso pode parecer bastante complexo, mas se você acompanhar cuidadosamente verá que a mente se entorpece, não pelo trabalho, mas pela resistência ao trabalho, ou pela resistência à vida. Digamos, por exemplo, que você precise fazer determinado trabalho que lhe demandará cinco ou seis horas. Se você disser: "Que amolação! Que coisa horrível! Eu gostaria de poder estar fazendo outra coisa", obviamente sua mente está resistindo e esse trabalho. Parte da sua mente desejaria que você estivesse fazendo outra coisa. Essa divisão, produzida pela resistência, cria aborrecimento, porque você está desperdiçando o seu esforço, querendo estar fazendo algo diferente. Ao passo que, se você não resistir, mas fizer aquilo que é realmente necessário, então você diz: "Preciso ganhar a vida e vou ganhar minha vida de maneira correta." Mas o viver corretamente não implica a necessidade de exército, de polícia, ou de advogados que prosperam nas disputas, nos distúrbios, nos subterfúgios astuciosos e assim por diante. Este é um problema por si só bastante difícil.

Se você estiver ocupado em fazer algo indispensável para ganhar a vida, e se resistir a isso, obviamente a mente se aborrece, pois trabalhar com resistência é como fazer um motor trabalhar com freio acionado. O que acontece ao pobre motor? Seu desempenho torna-se insuficiente, não é verdade? Se você já dirigiu um carro, sabe o que acontece se dirigir com o freio manual acionado — você não apenas irá desgastar o freio como também ira desgastar o motor. Isso é exatamente o que está fazendo quando resiste ao trabalho. Ao passo que, se você aceitar o que tem a fazer, e o fizer de maneira tão inteligente e completa quanto possível, o que sucede? Como você não está mais resistindo, as outras camadas da sua consciência estão ativas, não importa o que você esteja fazendo; você está dedicando ao trabalho apenas a sua mente consciente, e o inconsciente, a parte oculta da sua mente, está ocupada com outras coisas nas quais há muito mais vitalidade, muito mais profundidade. Embora você enfrente o trabalho, o inconsciente toma iniciativas e funciona.

Bem, se você observar, o que realmente acontece na sua vida diária? Você está interessado, digamos, em descobrir Deus, em ter paz. Esse é o seu real interesse, com o qual a sua consciência, bem como o seu inconsciente, está ocupada — em encontrar felicidade, em encontrar realidade, em viver corretamente, de forma bonita e clara. Mas você precisa ganhar a vida, pois não existe essa coisa de viver isolado — tudo o que existe tem alguma forma de relacionamento. Assim, estando interessado em paz, e uma vez que seu trabalho na vida diária interfere com isso, você resiste ao trabalho. Você diz: "Eu gostaria de ter mais tempo para meditar, para pensar, para praticar o violino", ou o que quer que seja. Ao fazer isso, quando você resiste ao trabalho que precisa fazer, essa resistência é um desperdício de energia, o que aborrece a mente. Mas todos nós fazemos uma série de coisas que precisam ser feitas — escrever cartas, falar, limpar o esterco do gado ou o que quer que seja — e por esse motivo não resistimos e dizemos: "Preciso fazer este trabalho." Então, se você compreende isso, você o fará de boa vontade e sem aborrecimento. Se não houver resistência, no momento em que o trabalho estiver terminado, você descobrirá que a mente está em paz; uma vez que o inconsciente e as camadas mais profundas da mente estão interessadas na paz, você descobrirá que a paz começa a surgir. Sendo assim, não há diferença entre a ação, que pode ser rotineira, que pode ser desinteressante, e a sua busca de realidade; elas são compatíveis quando a mente deixa de resistir, quando a mente deixa de ser entorpecida pela resistência. É a resistência que cria a diferença entre paz e ação. A resistência baseia-se numa ideia, e a resistência não pode produzir ação. Apenas a ação liberta, e não a resistência ao trabalho.

Assim sendo, é importante compreender que a mente se embota devido à resistência, à reprovação, à fuga e à censura. A mente não se embota quando não há resistência; quando não há censura ou reprovação, ela permanece ativa, viva. Resistência é isolamento, e a mente do homem que vive continuamente a se isolar, seja de forma consciente ou inconsciente, torna-se embotada devido a essa resistência.

Krishnamurti - Sobre o viver correto
Bangalore, 8 de Agosto de 1948

Sobre a questão da escolha da profissão

Apenas na busca e descoberta dessa realidade interior é que podemos não só nos contentar com pouco, mas também estar conscientes de algo que existe além de qualquer medida. Isso é o que precisa ser buscado em primeiro lugar e, se isso acontecer, seguindo seu exemplo, tudo o mais tornar-se-á realidade.

[...] Muitos de nós escolhem uma profissão em função da tradição, ou porque somos de uma família de advogados ou de comerciantes; ou nosso desejo de poder e de posição define a nossa profissão; a ambição nos leva a competir e a ser cruéis nesse nosso desejo de conseguir êxito. Assim, aquele que não quer explorar ou contribuir para a causa da guerra precisa deixar de seguir a tradição, deixar de lado a cobiça, a ambição, a auto-afirmação. Se ele se abstiver de tudo isso, naturalmente encontrará a profissão adequada.

Embora seja importante e benéfica, a profissão adequada não é um fim em si mesma. Você pode ter um meio correto de viver mas, se você for interiormente insuficiente e pobre, será uma fonte de desgraça para si mesmo e, portanto, também para os outros; você se tornará insensato, violento, auto-afirmativo. Sem a liberdade interior da realidade você não terá alegria, não terá paz. Apenas na busca e descoberta dessa realidade interior é que podemos não só nos contentar com pouco, mas também estar conscientes de algo que existe além de qualquer medida. Isso é o que precisa ser buscado em primeiro lugar e, se isso acontecer, seguindo seu exemplo, tudo o mais tornar-se-á realidade.

Essa liberdade interior de realidade criativa não é um dom; deve ser descoberta e experimentada. Não é uma aquisição que você deva agregar a você mesmo para com ela se vangloriar. Trata-se de um estado de ser, como o silêncio, no qual não existe transformação, no qual existe a completude. Essa criatividade não precisa, necessariamente, procurar expressar-se; não se trata de um talento que exija uma manifestação exterior. Você não precisa ser um grande artista nem ter uma grande audiência; se você estiver em busca disso, perderá essa realidade interior. Não se trata de um dom, nem é o resultado de um talento; esse tesouro imperecível precisa ser encontrado quando o pensamento se libertar da concupiscência, do desejo mau e da ignorância, quando o pensamento se libertar das coisas mundanas e da ambição pessoal de vir-a-ser. Deve ser experimentada através do pensamento e da meditação adequadas. Sem essa liberdade interior da realidade, a existência é dor. Tal como um homem sedento busca água, assim devemos buscar. Apenas a realidade pode aplacar a sede de impermanência.


Krishnamurti - Sobre o Viver Correto

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A fuga da dor pelo escapismo místico estratosférico


O reflexo não é igual a substância

A necessidade básica da civilização moderna é a integração do homem em todos os níveis de sua existência. O homem está hoje fragmentado em seu interior, e esta desintegração reflete-se na desorganização no nível externo ou social. O problema da integração é essencialmente psicológico. [...] Está bastante claro que, sem compreender a "essência" do homem, todos os esforços para se compreender seu "comportamento" serão frustrados em si mesmo.

[...] A essência do homem não é algo inerte; é palpitante de vida e, portanto, intensamente dinâmica. É óbvio que a vida não pode ser compreendida pelo somatório de suas partes. A essência do homem é uma "totalidade" que é mais do que a soma de suas partes. Não importa o quão apertada seja tecida a rede de análise, este "mais", inevitavelmente, lhe escapará. Ela também não pode ser capturada pela síntese, pois esta é apenas uma certa disposição das peças que foram cuidadosamente analisadas. Uma análise dos padrões comportamentais, tanto individuais como sociais, É NECESSÁRIA, não somente isso, IMPERATIVA, mas não terá valor algum se não percebermos as LIMITAÇÕES da análise e da síntese. Sem dúvida, a essência do homem reflete-se nos padrões comportamentais, todavia, o reflexo não é igual a substância. Especular sobre a substância com base no reflexo é o mesmo que tentar entender uma pessoa olhando sua fotografia.

É verdade que através de um processo de análise com referência nos padrões comportamentais pode-se reunir muita informação quanto ao funcionamento das atividades da existência. Fatos assim reunidos são muito úteis e significativos. Porém, reunidos os fatos, é preciso olhar corretamente para eles. É este "olhar" que tem importância fundamental, e com o qual a psicologia moderna não se preocupou seriamente. 

Tendo reunido os fatos dos padrões comportamentais através da intrincada análise, a psicologia moderna olhou para estes fatos com normas e modelos de interpretação. Ela não apenas aperfeiçoou os processos de análise dos padrões comportamentais, mas também desenvolveu um intrincado sistema e técnica de interpretação. E, assim, ela olha para os fatos reunidos por seu processo analítico através deste mecanismo de interpretação. Nisto reside o esforço da psicologia moderna para compreender algo dinâmico — com uma abordagem que é estática. As normas e modelos de interpretação, por mais científicos que sejam, baseiam-se em conhecimento empírico do passado. Mas aquilo que é vivo existe no presente; na verdade, a qualidade de algo estar vivo pode ser experimentada apenas no presente. Assim, a qualidade de estar vivo de um ser humano pode ser percebida apenas no presente momento. Os fatos do comportamento estão no presente, mas, se olharmos para eles através da lente do passado, como poderemos compreender o que estes fatos indicam e transmitem? Assim, é preciso trazer para os fatos dos padrões comportamentais uma percepção que seja livre de normas de interpretação, pois somente assim podemos saber o que indicam estes fatos. Ao compreender o que indicam os fatos, podemos compreender a natureza da essência. Nessas indicações residem as intimações da essência do homem.

Rohit Mehta - Yoga: A Arte da Integração

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Quem é você quando ninguém te vê?




terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sobre o apego e impermanência

O ego quer convencer o outro

Dependência Psicológica

O discípulo e o Mestre estão em grande conflito

O discípulo e o Mestre estão em grande conflito; uma grande luta se desenrola. E o discípulo só pode vencer se for desafortunado. Quando o Mestre vence, o discípulo é abençoado, é afortunado. A luta acontece porque o discípulo veio ao Mestre por razões erradas — talvez tenha vindo em busca de um ego espiritual. Ele fracassou na vida: dinheiro, poder, prestígio, respeitabilidade, sucesso nos negócios, ambição no mundo político — aí ele fracassou. Não pode alcançar o pico de sua jornada egoísta; não se tornou um presidente ou um primeiro-ministro — agora a vida está escapando de suas mãos e ele quer ser alguém. É desconfortável demais permanecer um ninguém.

Por fim as pessoas começam a procurar e a buscar na dimensão da religião. Aí parece ser mais fácil. Parece ser mais fácil alcançar um certo ego, uma certa cristalização do ego... E você pode se sentir o tal. Pode sentir que se tornou especial.

[...] O discípulo vem ao Mestre por razões erradas. Também vem para alcançar algum tipo de paz, por estar muito tumultuado. Por que quer alcançar a paz? Para que possa trabalhar suas ambições de uma maneira melhor.

[...] Quando você chega a um Mestre real, ele diz que não há nenhum lenitivo, não há nenhuma panacéia. E não diz que o tornará pacífico e saudável, e que você poderá ir para o mundo correndo atrás de sua ambição de uma maneira mais eficiente. Não, ele dirá que você está perturbado, está tumultuado POR CAUSA de sua ambição. Abandone essa ambição. Um Mestre real só pode prometer que tirará a sua ambição, tirará o seu ego. Só pode prometer que o matará. Você veio para ser protegido, veio para alcançar alguma segurança, encontrar alguma ancora — mas um Mestre real é aquele que tira as suas escoras, escora após escora, tira-as todas de você. Um dia você simplesmente entra em colapso. E desse colapso, das cinzas, nasce um novo ser. O novo ser não tem nada a ver com você. Esse novo ser é tão novo que lhe é descontínuo. Não tem nenhum passado, não tem nenhum futuro, tem apenas uma presença pura, aqui e agora.

OSHO

Livrando se das expectativas


Derrubando os conceitos que mantinham os muros


Breve relato sobre a questão do apego



A compreensão é o segredo da transformação

Procure ter uma compreensão um pouquinho maior de todos os seus sentimentos e emoções — eles têm um certo lugar na harmonia total do seu ser. Mas estamos quase cegos para as nossas potencialidades, dimensões.

Fique um pouco mais alerta com relação a tudo e lembre-se de que o natural é superior e o artificial é falso e americano.

Desde o início, temos de lembrar que estamos em busca de um lugar, de um espaço, onde nada se eleva — nem poeira, nem fumaça; onde tudo é puro e limpo, absolutamente limpo, é só amplidão. Desde o início, temos de ter uma idéia clara do que estamos procurando.

A atenção consciente é necessária, não é uma condenação — por meio dela a transformação acontece espontaneamente. Se você tomar consciência da sua raiva, a compreensão acontece. Basta que você observe, sem nenhum julgamento, sem dizer que aquilo é bom ou ruim, só observe o seu céu interior.

Cai um raio, a raiva, o seu sangue ferve, todo o sistema nervoso se agita e estremece, e você sente um tremor no corpo inteiro — é um momento de beleza porque, quando a energia está em movimento, você pode observá-la com facilidade; quando ela não se movimenta, isso não é possível.

Feche os olhos e medite a respeito. Não lute, só olhe o que está acontecendo — todo o céu cheio de eletricidade, com tantos raios, com tanta beleza — deite-se simplesmente no chão, olhe para o céu e observe.

Então faça o mesmo interiormente. As nuvens se acumulam, porque sem nuvens não pode haver raios — nuvens negras, pensamentos. Alguém insultou você, alguém riu de você, alguém disse isso e aquilo... muitas nuvens, negras, no céu interior e muitos relâmpagos. Observe! É uma cena belíssima — terrível também, porque você não a compreende.

Ela é misteriosa e, se você não compreende o mistério, ele fica terrível, você tem medo dele. Sempre que um mistério é compreendido, ele se torna uma graça, uma dádiva, porque você passa a ter as chaves — e com as chaves você é o amo.

Você não controla o mistério, você só se torna o amo quando está consciente. E quanto mais consciente, mais fundo você mergulha, porque a consciência é um mergulho interior, ela sempre se volta para dentro: quanto mais consciente, mais para dentro; se você está perfeitamente consciente, está perfeitamente dentro; quanto menos consciente, mais fora você está; inconsciente — você está totalmente fora, está fora de casa, perambulando por aí.

OSHO

domingo, 26 de janeiro de 2014

A tempestuosa busca do Ser


sábado, 25 de janeiro de 2014

Bafo de boca não cozinha ovo cósmico


Nossa nova página no Facebook



Sobre o polêmico principiante crônico



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Tensão e relaxamento

Pergunta a Osho:

“Sinto muito estresse e tensão. Como posso relaxar mais?”

Comece relaxando a partir da circunferência - é aí que estamos, e só podemos começar de onde estamos. Relaxe a circunferência do seu ser - relaxe o corpo, o comportamento, as atitudes. Caminhe de modo relaxado, coma de modo relaxado, ouça de modo relaxado. Diminua o ritmo de todo o processo. Não tenha pressa, não se afobe. Viva como se toda a eternidade estivesse à sua disposição - na verdade, está à sua disposição.

Estamos aqui desde o princípio e continuaremos aqui até o fim; isso, se houvesse um princípio e um fim. Na realidade, não há princípio nem fim. Nós sempre estivemos aqui e aqui ficaremos para sempre. As formas vão mudando, mas não a substância; as roupagens vão mudando, mas não a alma.

Tensão significa pressa, medo, dúvida. Tensão significa um esforço constante para se proteger, para ficar em segurança. Tensão significa preparar-se agora para o amanhã ou para a vida após a morte. Com medo do amanhã, você não conseguirá enfrentar a realidade; então, prepare-se. Tensão significa o passado que você não viveu, apenas contornou de alguma forma. E algo pendente, um resquício do que passou e que ainda o envolve.

Lembre-se de uma coisa essencial sobre a vida: qualquer experiência que não foi vivida continuará à sua espera, insistindo: “Conclua-me! Vivencie-me! Complete-me!” Existe uma característica intrínseca em toda experiência, que é querer ser concluída. Depois disso ela evapora, mas enquanto estiver incompleta irá persistir, torturando-o e assombrando-o, atraindo a sua atenção. Ela diz: “O que você vai fazer a meu respeito? Ainda estou incompleta - conclua-me!”

Todo o seu passado espera sem conclusão, porque nada foi vivido realmente. Tudo foi contornado de algum modo, vivido parcialmente, sem entusiasmo. Não houve intensidade, não houve paixão. Você viveu como um sonâmbulo. Portanto, esse passado está pendente e o futuro causa medo. E esmagado entre o passado e o futuro está o presente, a única realidade.

Você terá de relaxar começando pela circunferência. O primeiro passo é relaxar o corpo. Lembre-se, sempre que possível, de olhar o corpo, se estiver sentindo tensão em algum lugar - no pescoço, na cabeça, nas pernas. Relaxe essa parte conscientemente. Dirija a atenção para ela e convença-a, dizendo carinhosamente: “Relaxe!”

Ao se dirigir a qualquer parte do corpo, você notará que ela ouvirá e o obedecerá - trata-se do seu corpo! Com os olhos fechados, mergulhe no interior do corpo, desde o dedão do pé até a cabeça, procurando por qualquer lugar onde sinta tensão. Converse com essa parte como se estivesse falando com um amigo, deixe que haja um diálogo entre vocês. Diga: “Não há nada a temer. Não tenha receio. Eu estou aqui para cuidar de você - pode relaxar.” Bem lentamente, você aprenderá a lidar com seu corpo.

Depois, dê mais um passo, um pouco mais profundo: diga à mente para relaxar. Se o corpo ouve, a mente também ouve, mas você não pode começar pela mente - tem de começar do início, não pode começar do meio. Muitas pessoas começam com a mente e fracassam. Tudo tem de ser feito na ordem certa.

Se foi possível relaxar o corpo voluntariamente, também será possível ajudar a mente a relaxar da mesma forma. A mente é um fenômeno mais complexo. Quando você tiver confiança de que o corpo o ouve, acreditará mais em si mesmo. Agora até a mente conseguirá ouvi-lo. Levará um pouco mais de tempo com a mente, mas é possível.

Quando a mente estiver relaxada, comece a relaxar o coração, o mundo dos sentimentos, das emoções - que é ainda mais complexo e sutil. Porém agora você está agindo com mais confiança. Sabe que tudo isso é possível. Se é possível com o corpo e a mente, também será com o coração.

E só então, quando já tiver dado esses três passos, poderá dar o quarto. Poderá ir até o âmago do seu ser, que está além do corpo, da mente e do coração, que é o próprio centro da sua existência. E também será capaz de relaxá-lo.

Esse relaxamento certamente traz uma alegria suprema, o máximo em êxtase, em aceitação. Você se sentirá pleno e jubiloso. Sua vida será como uma dança.

Toda a existência está dançando, exceto o ser humano. Toda a existência está num movimento extremamente relaxado; o movimento existe, não há dúvida, mas é absolutamente relaxado. As árvores estão crescendo; os pássaros, cantando; os rios, correndo; as estrelas, se movendo; tudo está avançando de um modo bem relaxado. Sem pressa, urgência, preocupação ou desgaste. Exceto o ser humano.

O homem passou a ser vítima da própria mente. Ele pode se elevar acima dos deuses e descer mais do que os animais. O homem possui um espectro enorme, é uma escada indo do mais baixo ao mais alto. Você caminha num determinado ritmo, isso se tornou habitual, automático. Agora, tente caminhar mais devagar. Buda costumava dizer aos discípulos: “Caminhem bem devagar e dêem cada passo com muita consciência.” Se der cada passo com consciência, acabará andando mais devagar. Se estiver correndo, com pressa, se esquecerá disso.

O corpo precisa ficar totalmente relaxado, primeiro, como uma criancinha. Depois é possível tentar atingir a mente. Avance cientificamente: primeiro o mais simples, depois o mais complexo e afinal o mais complexo ainda. Só então você conseguirá relaxar o âmago do seu ser.

O relaxamento é um dos fenômenos mais complexos que existem. É muito rico, multidimensional. Todas essas coisas fazem parte dele: o desprendimento, a confiança, o amor, a aceitação, o seguir com o fluxo, a união com a existência, a ausência de ego, o êxtase.

As pretensas religiões deixaram as pessoas muito tensas porque inspiraram culpa. Todo o meu empenho é em ajudá-lo a se livrar da culpa e do medo. Não existe inferno nem céu. Portanto, não tenha medo do inferno e não cobice o céu. Tudo o que existe é este momento.

Você pode fazer deste momento um inferno ou um céu - isso é certamente possível -, mas não existe céu nem inferno em outro lugar. Inferno é quando você está todo tenso e céu é quando está relaxado. O relaxamento total é o paraíso.

Osho, em "Corpo e Mente em Equilíbrio"

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Um olhar sobre a ânsia de iluminação




Indo além do entrave das palavras

Devemos ser cautelosos para não ficar aprisionados pelas palavras que usamos. Quando falo do psíquico ou do espiritual, quero me referir a coisas muito profundas e reais que estão por trás da superfície plana das palavras e mesmo intimamente ligadas em suas diferenças. Definições e distinções intelectuais são muito superficiais e rígidas para alcançar a verdade verdadeira das coisas. E contudo, a não ser que você esteja muito habituado a falar um com o outro, existe quase uma necessidade de definir o sentido de suas palavras — se é que você quer compreender o outro. A condição ideal para uma conversa é quando as mentes estão tão bem sintonizadas que as palavras servem apenas de suporte para uma compreensão mútua espontânea, e você não precisa explicar a cada passo o que você quer dizer. Esta é a vantagem quando se fala sempre com as mesmas pessoas; a harmonia sintonizada é estabelecida entre suas mentes e o significado das coisas faladas penetra nelas imediatamente.

Existe um mundo de ideias sem forma e é lá que você deve entrar, se quiser captar o sentido do que está por detrás das palavras. Enquanto tiver que extrair a sua compreensão das formas das palavras, é provável que você fique muito confuso sobre seu verdadeiro sentido. Mas se no silêncio da mente você puder se elevar até o mundo de onde descem as ideias para tomar forma, imediatamente a real compreensão vem. Se você quiser ter certeza de compreender o outro, deve ser capaz de compreender em silêncio. Existe uma condição na qual suas mentes estão tão bem afinadas e harmonizadas em conjunto que se percebe o pensamento do outro sem nenhuma necessidade de palavras. Mas se não existir esta sintonia, haverá sempre alguma deformação no sentido porque, para aquilo que você fala, a outra mente fornece seu próprio significado. Por exemplo, eu uso uma palavra num certo sentido ou nuança de seu sentido; você está costumado a colocá-la em outro sentido ou nuança. Então, evidentemente você compreenderá, não o meu exato significado dela, mas o que a palavra significa para você. Isso é verdade, não apenas no falar, mas também no ler. Se quiser entender um livro que contenha um profundo ensinamento, você deve ser capaz de o ler no silêncio da mente; deve esperar e deixar que a expressão se aprofunde dentro de você, na região onde não há mais palavras, e de lá voltar vagarosamente para a sua consciência exterior e seu entendimento superficial. Porém, se você deixar as palavras pularem para a sua mente externa e tentar adaptar e ajustar as duas, terá perdido completamente seu real sentido e poder. Não pode haver perfeito entendimento a não ser que você esteja em união com a mente não expressa, que está por trás do centro de expressão.

Falamos uma vez de mentes individuais que são como mundos distintos e separados uns dos outros; cada um está fechado em si e quase não tem ponto direto de contato com nenhum outro. Mas isso é na região da MENTE INFERIOR; nela, suas próprias formações o aprisionam; você não pode desembaraçar-se delas ou de si mesmo; você apenas se compreende e às suas próprias reflexões nas coisas. Contudo, nesta região mais alta da MENTE INEXPRESSA e suas altitudes mais puras, você está livre; quando entra lá, você sai de si e penetra dentro de um plano mental universal, no qual cada mundo mental dentro de um plano mental universal está como dentro de um imenso mar. Aí você pode compreender inteiramente o que está acontecendo ao outro e ler a mente dele como se fosse a sua própria, pois nenhum separação divide mente de mente. É apenas quando você se une com os outros nesta região que pode compreendê-los; de outro modo, VOCÊ NÃO ESTÁ SINTONIZADO, NÃO ESTÁ EM CONTATO, NÃO TEM MEIOS DE SABER PRECISAMENTE O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA OUTRA MENTE QUE NÃO A SUA. Muito frequentemente, quando está na presença de outrem, você está totalmente ignorante do que ele pensa ou sente; mas se você for capaz de ir além e acima deste plano externo de expressão, se você puder entrar dentro de um plano onde uma COMUNHÃO SILENCIOSA é possível, então você pode ler nesta outra mente como se fosse na sua. Então as palavras que você usa para sua expressão são de pouca importância porque a compreensão plena está situada além delas, em alguma outra coisa, e um mínimo de palavras é suficiente para atingir a finalidade. Aí longas explicações não são necessárias; você não precisa que um pensamento seja completamente expresso porque a visão direta do que ele significa está em você. 

A Mãe

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill