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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Somos indivíduos?

            É bem óbvio que não somos verdadeiros indivíduos. Cada um pode ter um nome diferente, diferentes tendências, sua casa própria, sua conta-corrente no banco, pertencer a uma determinada família, ter certos maneirismos, ser devoto de uma certa religião; entretanto nada disso constitui a individualidade. Nossa mente, na sua totalidade, é o resultado das influências do meio social, de uma determinada cultura ou civilização, de determinada religião; e, enquanto pertencer a qualquer dessas “particularidades”, a mente, é claro, não pode ser simples, pura, direta. Para o descobrimento do Real é indispensável uma mente clara e simples.
            Nessas condições, há possibilidade de verificarmos juntos, vós e eu, se se pode libertar a mente de todo esse peso da influência, da tradição, da crença? Porque a mim me parece que esta é a única finalidade do viver; descobrir o que é a Realidade. Se desejamos fazer este descobrimento, devemos investigar o que é que nos faz conformar-nos, ajustar-nos. Estamos a ajustar-nos a todas as horas, não é verdade? Nossa vida e nossas tendências, nossa educação, nossa moral, todas as sanções da religião, estão orientadas para o conformismo. Nossa religião se baseia essencialmente no conformismo. E, por certo, a mente que se conforma, se ajusta, não é livre, não é capaz de investigação. Em vista disso, podemos nós, vós e eu, examinar no seu todo esse processo de conformismo, descobrir o que é que faz a mente sujeitar-se a um determinado padrão de sociedade, de cultura? Nós nos ajustamos, porque, essencialmente, temos medo. Não é verdade? Impelidos pelo medo, criamos a autoridade, a autoridade da religião, a autoridade de um guia, porque o nosso desejo é estar em segurança, protegidos; talvez não tanto assim do ponto de vista físico, mas, essencialmente, desejamos segurança interior, segurança psicológica e criamos assim, uma sociedade que nos garanta a segurança exterior.
            Isso é um fato psicológico, e, como tal, não pode ser objeto de debate ou disputa. Isto é, desejo estar em segurança; psicologicamente, interiormente, desejo uma certeza — certeza de bom êxito, certeza de realizar algo, certeza de “chegar lá”, onde quer que esteja esse “lá”. E assim sendo, para que possa realizar, “chegar”, ser alguma coisa, necessito da autoridade.
            Vede, por favor — se desejais colher algum fruto destas palestras — que seria aconselhável, enquanto ouvis, examinásseis com atenção a vossa mente. A fala, as palavras não são mais do que uma simples descrição de vosso próprio estado mental; e só escutar palavras nenhuma significação tem. Mas se, no processo de escutar, somos capazes de olhar para dentro de nós mesmos e observar as operações de nossa própria mente, terá então significado esse escutar “descritivo”. E espero se me permitis sugeri-lo — estejais procedendo assim, e não meramente a escutar as minhas palavras.
            Cada um de nós tem o desejo de segurança — nas relações, no amor, nas crenças, nas nossas experiências; queremos estar seguros, certos, livres de toda dúvida. E, uma vez que este é o nosso mais íntimo desejo, psicologicamente falando, é bem óbvio que temos de estribar-nos na autoridade. Eis a verdadeira anatomia da autoridade, a sua verdadeira estrutura; aqui temos a razão por que a mente cria a autoridade. Podeis rejeitar a autoridade de uma certa sociedade, de um certo líder, ou de uma certa religião; mas, nesse caso, vós mesmos criareis outra autoridade. E então será vossa própria experiência, vosso próprio saber que se tornará vosso guia. Porque a mente quer sempre estar certa; não pode viver num estado de incerteza. Por estar sempre interessada na certeza, ela tem de criar autoridades.
            E esta é a base em que está assentada a nossa sociedade, com sua cultura, seu saber, suas religiões. Ela se baseia essencialmente na autoridade, a autoridade da tradição, do sacerdote, da Igreja, ou a autoridade do especialista. Como a nossa intenção é viver em segurança, tornamo-nos escravos dos especialistas. Mas, sem dúvida, se queremos achar algo que seja real, e não apenas ficar a repetir as palavras “Deus”, “Verdade”, que nenhuma significação têm, quando repetidas; se queremos fazer algum descobrimento, a mente tem de achar-se numa insegurança absoluta, num estado de não dependência de qualquer autoridade. Isto é dificílimo para a maioria de nós, que fomos educados, desde pequenos, para crer, para viver sempre em alguma espécie de dependência; e, na falta do líder, do guia, do instrutor, do sacerdote, criamos nossa imagem própria do que pensamos ser verdadeiro e que nada mais é do que a reação de nosso próprio condicionamento.
            Assim sendo, parece-me que, enquanto a mente estiver sendo moldada e controlada pela sociedade — não só o ambiente social, educativo e cultural, mas o conceito geral de autoridade, crença e conformismo — é bem óbvio que ela, a mente, não pode encontrar o que é verdadeiro, e, portanto, não poderá ser criadora; só saberá imitar, repetir. O problema, por conseguinte, não é — “Como ser criador?” — e sim, — “se podemos compreender de modo completo o “processo” do medo” — o medo da opinião dos outros, o medo à solidão, o medo de perdermos dinheiro, o medo de não alcançarmos a meta, de não sermos bem sucedidos neste mundo ou noutro mundo qualquer. Enquanto houver alguma forma de temor, este temor criara a autoridade, da qual a mente ficará dependendo; e, em tais condições, é bem de ver que a mente não será capaz de avançar, de investigar, de afastar todos os obstáculos, a fim de descobrir o que é “ser verdadeiramente criador”.
            Não achais, pois, que é importante perguntemos a nós mesmos, cada um de nós, se realmente somos indivíduos, e não fiquemos meramente a dizer que o somos? Na realidade, não somos indivíduos. Podeis ter um corpo separado, um rosto diferente, nome e família diferentes; mas a vossa estrutura mental interna está essencialmente condicionada pela sociedade; por conseguinte, não sois indivíduos. Por certo, só a mente não acorrentada pelas imposições da sociedade, e todas as respectivas complicações, só essa mente pode ser livre para investigar o que é a Verdade e o que é Deus. Do contrário, nada mais fazemos senão provocar repetidas catástrofes e nunca haverá possibilidade de realizar-se aquela revolução que fará nascer um mundo totalmente diferente. Esta me parece a única coisa verdadeiramente importante — não a que sociedade, a que grupo, a que religião devemos ou não devemos pertencer (pois tudo isso já se tornou muito infantil), porém sim que cada um investigue, por si mesmo, se a mente pode libertar-se de todas as imposições do uso, da tradição, da crença, para investigar livremente o que é verdadeiro. Só então poderão existir entes humanos criadores.
           
Krishnamurti – Austrália e Holanda – 1955 (2ª Conferência em Amsterdã)
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill