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sábado, 22 de setembro de 2012

Pode o tempo psicológico determinar o fim do conflito humano?


Para observar claramente, é óbvio, é preciso ser livre para olhar. Se alguém se apega às suas experiências, julgamentos e preconceitos particulares, então não é possível pensar com clareza. A crise do mundo que está bem a nossa frente exige, reclama que pensemos juntos de modo a podermos resolver o problema humano juntos, não de acordo com alguma pessoa em particular, com um determinado filósofo ou guru. Estamos tentando observar juntos.

(...) É muito importante entender que a nossa consciência não é a nossa individual. A nossa consciência não é somente a consciência específica de um grupo, da nacionalidade, e assim por diante, mas é também toda a agonia humana, o conflito a miséria, a confusão e a dor. (13) 

(...) Vivemos com o conflito desde que nascemos, e assim continuamos até a morte. Há luta constante para ser, para ser alguma coisa espiritualmente, como se diz, ou psicologicamente, tornar-se bem-sucedido no mundo, realizar-se — tudo isso é movimento do vir a ser: eu agora sou isto e chegarei à meta final, ao princípio mais alto, tenha esse princípio o nome de deus, de brahman ou qualquer outro nome. A luta constante, seja para vir a ser ou para ser é a mesma. Mas quando alguém está tentando vir a ser em várias direções, então está negando o ser. Quando você tenta ser, você também está se tornando. Vejam este movimento da mente, do pensamento: eu acho que sou e, estando insatisfeito, descontente com aquilo que sou, tento realizar-me em alguma coisa, eu me dirijo em determinado objetivo; pode ser doloroso, mas pensa-se que o fim é agradável. Há esta constante luta para ser e vir a ser.

Estamos todos tentando vir a ser; fisicamente, queremos uma casa melhor, uma melhor posição, com mais poder, um status mais elevado. Biologicamente, se não estamos bem, procuramos ficar bem. Psicologicamente, todo o processo interior do pensamento, da consciência, toda a propensão interior vem do reconhecimento de que na realidade nada somos e, pelo vir a ser, nos afastamos disso. Psicologicamente, interiormente, há sempre a fuga “do que é”, sempre o escapar daquilo que eu sou, daquilo pelo que estou descontente para alguma coisa que irá me satisfazer. Seja essa satisfação concebida como um grande contentamento, felicidade ou iluminação, o que é uma projeção do pensamento, ou a aquisição de um maior conhecimento, ainda é o processo de vir a ser — eu sou, eu serei. Esse processo implica tempo. O cérebro é “programado” para isso. Toda a nossa cultura, todas as nossas sansões religiosas, tudo diz: “torne-se”. É um fenômeno que se pode constatar em todo o mundo. Não apenas neste mundo ocidental, mas no Oriente todo mundo está tentando vir a ser, ou ser, ou evitar ser. Agora: será esta a causa do conflito, interior e externamente? (14) 

(...) O nosso cérebro está programado para o conflito. Temos um problema que nunca fomos capazes de resolver. Vocês podem escapar neuroticamente para alguma fantasia, ficar totalmente contentes, ou podem imaginar que interiormente alcançaram alguma coisa e ficarem totalmente contentes com isso; uma mente inteligente deve questionar tudo isso, deve exercitar a dúvida, o ceticismo. Por que os seres humanos, durante milhões de anos, desde o aparecimento do homem até o momento presente, viveram em conflito? Nós aceitamos isso, nós toleramos isso; nós dizemos que faz parte de nossa natureza competir, sermos agressivos, imitar, nos conformarmos, dizemos que faz parte do eterno modelo da vida.

Por que o homem, que é tão altamente sofisticado num sentindo, é tão completamente desinteligente em outros? O conflito termina com o conhecimento? O conhecimento de si mesmo, ou do mundo, o conhecimento da matéria, aprender mais a respeito da sociedade a fim de ter melhores organizações e melhores instituições, adquirir cada vez mais conhecimento. Isso solucionará o conflito humano? Ou a libertação do conflito nada tem a ver com o conhecimento?

Temos um grande conhecimento do mundo, da matéria e do universo; temos também um grande conhecimento histórico de nós mesmos; esse conhecimento libertará o ser humano do conflito? Ou a libertação do conflito nada tem a ver com a análise, com a descoberta das várias causas e fatores do conflito? A descoberta analítica da causa, das muitas causas, libertará o cérebro do conflito? Do conflito que temos enquanto estamos despertos, durante o dia, e do conflito que prossegue enquanto estamos dormindo? Podemos examinar e interpretar os sonhos, podemos discutir toda a questão sobre por que os seres humanos sonham — isso solucionará o conflito? A mente analítica, analisando com muita clareza, racionalmente, sensatamente a causa do conflito porá fim ao conflito? Na análise, o analista tenta analisar o conflito e, ao fazer isso, separa-se do conflito — isso solucionará o conflito? Ou a liberdade nada tem a ver com quaisquer desses processos? Se vocês seguem alguém que diz: “Eu lhes mostrarei o caminho, estou livre do conflito e vou lhes mostrar o caminho”, isso os ajudará? Esta tem sido a parte do sacerdote, a parte do guru, a parte do assim chamado homem iluminado: “Sigam-me, que eu lhes mostrarei”, ou “Eu lhes apontarei o seu objetivo”. A história mostra isto durante milênios e milênios e, no entanto, o homem não foi capaz de solucionar o seu conflito, tão profundamente enraizado. (15)

(...) O cérebro, sendo programado para o conflito, é aprisionado nesse modelo. Estamos perguntando se esse modelo pode ser rompido imediatamente, não gradualmente. Vocês podem pensar que podem rompê-lo por meio das drogas, do álcool, do sexo, das diferentes formas de disciplina, entregando-se a alguma coisa — o homem tentou mil modos diferentes de fugir do terror do conflito. Agora, estamos perguntando: é possível para um cérebro condicionado romper esse condicionamento imediatamente? (16)

(...) se examinarem o assunto racionalmente, logicamente, com inteligência, verão que o tempo não solucionará este condicionamento. A primeira coisa a perceber é que não há nenhum amanhã psicológico. Se vocês olharem realmente, não verbalmente, mas profundamente nos seus corações, nas suas mentes, na própria profundeza do seu ser, irão perceber que o tempo não vai solucionar este problema. E isso quer dizer que vocês já romperam com o modelo, já começaram a ver rachaduras no modelo do tempo que nós aceitamos como um meio para desenredar, para fazer parar este cérebro programado. Os filósofos e os cientistas afirmaram: o tempo é um fator de crescimento, biologicamente, linguisticamente, tecnologicamente, mas nunca indagaram a natureza do tempo psicológico. Qualquer indagação sobre o tempo psicológico implica todo o complexo do vir a ser psicológico — eu sou isto, mas serei aquilo; estou infeliz, irrealizado, desesperadamente só, mas amanhã serei diferente. Perceber que esse tempo é fator de conflito, então, essa própria percepção é ação; realizou-se a decisão — vocês não têm que decidir — a própria percepção é a ação e a decisão. (17)

(...) Existe uma percepção, uma percepção que não nasça da memória, do conhecimento, que veja toda a natureza e estrutura do conflito? Uma percepção desse todo? Existe essa percepção? Não uma percepção analítica, não uma observação intelectual dos vários tipos de conflito, não uma resposta emocional ao conflito. Existe uma percepção que não seja feita da lembrança, que é o tempo, que é o pensamento? Existe uma percepção que não pertença ao tempo ou ao pensamento, que possa ver toda a natureza do conflito e, com essa percepção, produzir o fim do conflito? O pensamento é tempo. O pensamento é experiência, conhecimento formado no cérebro como memória. É o resultado do tempo — “eu não sabia há uma semana, mas agora sei”. A multiplicação do conhecimento, a expansão do conhecimento, a profundidade do conhecimento, pertencem ao tempo. Assim, o pensamento é tempo — qualquer movimento do psicológico é tempo... Assim, o pensamento é tempo. O pensamento e o tempo são indivisíveis.

E nós estamos fazendo a seguinte pergunta: existe uma percepção que não pertença ao tempo e ao pensamento? Uma percepção inteiramente fora do modelo ao qual o cérebro se acostumou? Existe isso, essa coisa que, talvez, por si irá solucionar o problema? Nós não solucionamos o problema em um milhão de anos de conflito, estamos dando continuidade ao mesmo padrão. Devemos descobrir, com inteligência, hesitantemente, com cuidado, se há um modo, se há uma percepção que cubra todo o conflito, uma percepção que rompa com este modelo. (18) 

(...) Agora, podemos observar — não importa o que — sem nomear, sem a lembrança?... Vocês alguma vez já tentaram fazer isso diretamente? Olhem para a pessoa sem nomeá-la, sem o tempo e a lembrança, e olhem também para vocês mesmos — para a imagem que construíram de vocês mesmos, a imagem que construíram do outro; olhem como se estivessem olhando pela primeira vez... Aprendam a olhar; aprendam a observar esta qualidade que surge sem toda a operação do pensamento... Agora, podemos nós, juntos, ouvir ou observar assim, sem a palavra, sem a lembrança, sem todo o movimento do pensamento? Isto significa atenção completa, não a atenção de um centro, mas uma atenção que não tem um centro. Se vocês possuem um centro através do qual prestam atenção, esta é apenas uma forma de concentração. Mas se vocês estão prestando atenção e não há um centro, isto significa que estão dando completa atenção; nessa atenção não há nenhum tempo. (19) 

(...) Nós estamos dizendo: para romper com esse programa, com esse modelo, observem o movimento do pensamento. Parece muito simples, mas vejam a lógica disso, a razão, a sensatez disso, não porque o conferencista o diz, mas porque é sadio. Obviamente, deve-se exercer a capacidade de ser lógico, racional e, ainda assim, conhecer as suas limitações, porque o pensar racional, lógico, ainda faz parte do pensamento. Sabendo que o pensamento é limitado, estejam cônscios dessa limitação e não o empurrem para adiante, porque ele ainda será limitado, por mais longe que vocês vão, enquanto que, se vocês observam uma rosa, uma flor, sem a palavra, sem nomear a cor, mas apenas olham para ela, então esse olhar produz grande sensibilidade, quebra esse sentido de densidade do cérebro e dá uma extraordinária vitalidade. Há uma espécie de energia totalmente diferente quando há a percepção pura, que não está relacionada com o pensamento e o tempo. (20) 
Krishnamurti - 16 de julho de 1981

(13) A rede do pensamento – pág. 29 
(14) A rede do pensamento – pág. 30-31
(15) A rede do pensamento – pág. 32-33
(16) A rede do pensamento – pág. 33
(17) A rede do pensamento – pág. 34
(18) A rede do pensamento – pág. 34-35
(19) A rede do pensamento – pág. 36-37
(20) A rede do pensamento – pág. 37-38
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill