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domingo, 7 de setembro de 2014

Esfacelando a ilusão de que somos sérios

Quase todos nós, talvez, consciente ou inconscientemente, andamos em busca de segurança, nesta ou naquela forma: segurança nas posses, nas relações e nas ideias. E consideramos tais atividades muito sérias. Isso para mim, mais uma vez, não é seriedade. 

Para mim a palavra seriedade implica uma certa purificação da mente. Estou empregando a palavra "mente" num sentido geral, não específico, e mais adiante examinaremos o significado dessa palavra. Uma mente séria está sempre desperta, e, portanto, sempre se purificando, e nela não existe nenhuma busca de segurança. Ela não persegue uma certa fantasia, não pertence a nenhuma escola de pensamento, nenhuma religião, dogma, nacionalidade ou pátria; e não a preocupam, tampouco, os imediatos problemas da existência, embora seja necessário atender aos eventos de cada dia. A mente verdadeiramente séria tem de estar sobremodo vigilante, sumamente atenta, para que não tenha ilusões e não se deixe de envolver em experiências aparentemente proveitosas, convenientes e aprazíveis. 

Seria, pois, muito acertado se, exatamente no começo destas reuniões, ficasse bem claro para todos nós até que ponto e até que profundidade somos sérios. Com a mente alertada, inteligente e séria, penso que estaremos habilitados a considerar o inteiro padrão da existência humana em todo o mundo e, dessa compreensão total, chegarmos ao particular, ao indivíduo. Consideremos, pois, a totalidade do que está se passando no mundo, não simplesmente a título de informação ou de investigação de certo problema — problema atinente a um dado país, ou seita, ou sociedade, seja democrática, seja comunista ou liberal — mas, sim, consideremos o que realmente está ocorrendo no mundo. E daí, depois de percebermos o todo, de aprendermos o significado dos sucessos externos — não como conhecimento, não como opinião, porém percebendo os fatos, tais como estão realmente ocorrendo — daí chegaremos ao indivíduo. É isso que desejo fazer. 

(...) Considero essencial compreender o movimento exterior do mundo, a brutalidade, a crueldade, a tremenda ânsia de êxito, cada um desejando torna-se algo, aderir a certos grupos de ideias, de pensamentos e sentimentos. Se pudermos compreender todos os eventos exteriores, não em suas particularidades, porém aprendendo, a sua totalidade com um olhar livre de preconceito, livre de medo, não buscando segurança, não procurando refúgio em favoritas teorias, esperanças e fantasias, então o mundo interior terá significado totalmente diferente. Quando o movimento interior compreendeu o movimento exterior — é isso que chamo seriedade.

Krishnamurti em, O PASSO DECISIVO

sábado, 11 de agosto de 2012

Só em liberdade a Verdade se apresenta

Para se compreender totalmente uma coisa — trivial ou importante — precisamos dispensar-lhe atenção completa, desembaraçada e livre. De outro modo, não é possível compreender nada, e principalmente as coisas que exigem cuidadoso estudo e íntimo conhecimento. Para se prestar atenção, necessita-se liberdade; do contrário, não é possível atenção. Vocês não podem se entregar inteiramente a uma dada coisa, se não estão livres. E, para se compreender essa coisa extraordinária — a um tempo simples e complexa — que se chama Verdade, temos de dar-lhe aquela atenção desimpedida. E, como disse, a liberdade é essencial. Porque a Verdade não pertence a nenhuma religião, nenhum sistema; nem pode ser encontrada em livro algum. Não podemos aprendê-lo de outro, nem a ele ser levados por outro. Temos de compreendê-la, completamente, entregar-nos a ela. Assim, para chegarmos à Verdade devemos ser livres, desembaraçados e num estado em que a mente compreendeu a si própria e, por conseguinte, se libertou de todas as ilusões. 
A liberdade — o ser livre — se está tornando mais e mais difícil. À proporção que a sociedade se torna mais complexa e a industrialização mais ampla, mais profunda e organizada, menos liberdade há para o homem. Como se pode observar, quando o Estado se torna soberano e assume o controle do bem-estar social, os seus cuidados para com o indivíduo se tornam tão complexos, que cada vez há menos liberdade exterior. Exteriormente, o indivíduo se torna  escravo da sociedade, fica sob a opressão da sociedade; nesta opressão da existência organizada já não há existência tribal, porém, tão só, o controle industrializado, organizado, centralizado. Exteriormente, há cada vez menos liberdade. Onde o progresso é maio, menor é a liberdade. Isto é um fato óbvio, observável em toda sociedade que se torna mais complexa, mais organizada.
Assim, pois, exteriormente temos a opressão pelo controle, a moldagem da mente do indivíduo — tecnicamente, industrialmente. Vendo-se tão constrangido, exteriormente, o indivíduo tem a natural tendência a se entrincheirar — interiormente, psicologicamente — cada vez mais em determinado padrão da existência. Isto também é um fato óbvio. Assim, aquele que é suficientemente sério para investigar se de fato existe a Realidade, descobrir o que é a Verdade — a Verdade não construída pelo homem, com seu medo e desespero; a Verdade que não é uma tradição, uma repetição, um instrumento de propaganda — necessita da liberdade completa. Exteriormente poderá não existir liberdade; mas, interiormente, é necessária absoluta liberdade.
E a compreensão dessa questão da liberdade é dificílima. Não sei se vocês a tem considerado. E, mesmo que vocês a tenham considerado, sabem o que significa ser livre? Por "liberdade" não entendo a libertação teórica, ideal — esta é por demais abstrata, remota; pode não ter realidade alguma: pode ser uma invenção de um espírito presa do desespero, do medo, da agonia, que construiu verbalmente um certo padrão, na esperança de alcançar um certo estado verbal e não uma coisa real. Não estamos falando da liberdade como abstração, porém, como realidade; falamos da liberdade que deve existir cada dia, interiormente, e na qual, psicologicamente, não há sujeição a coisa alguma. Isso é possível? Como teoria, como idéia, é possível, talvez. Mas aqui não nos interessam idéias, nem teorias, nem esperanças religiosas, de ordem especulativa; só nos interessam fatos. 
É possível uma mente se achar, psicologicamente, interiormente, de todo livre? Exteriormente, vocês podem ir para seus empregos todos os dias, pertencer a uma classe de indivíduos, a determinada sociedade, etc. — como é inevitável, pois é absolutamente necessário ganhar o próprio sustento. Mas, deverão as pressões e tensões do condicionamento externo, do ajustamento externo a determinado padrão ou determinada sociedade, nos governa a psique, todo o processo de nosso pensar? E existe, realmente, completa liberdade psicológica? Pois, sem liberdade, sem absoluta liberdade psicológica, nenhum possibilidade existe de se descobrir a Realidade, de descobrir o que é Deus, se tal entidade existe. A liberdade é uma necessidade absoluta, mas a maioria de nós não deseja ser livre: esta é a primeira coisa que cumpre reconhecer.
Ora, é possível estar psicologicamente livre, de modo que o indivíduo possa descobrir por si mesmo o que é a Verdade? Porque, no mesmo processo de compreensão ou no mesmo ato da compreensão da Verdade, ficamos habilitados a ajudar nosso semelhante; de outro modo, não podemos ajudá-lo; de outro modo, cria-se mais confusão, mais aflições para o homem — o que também é um fator óbvio, como o demonstram os atuais acontecimentos. 
A verdade que nos é manifestada por outro, descrita por outro, ensinada por outro — por mais sábio e inteligente que seja — não é a Verdade. A vocês mesmos compete achá-la, compreendê-la. Retiro a palavra "achar"; a verdade não pode ser achada, não podemos nos pôr a caminho com o propósito deliberado, consciente, de achá-la. Temos de nos encontrar com a Verdade no escuro, insabidamente. Mas isso não acontecerá se, interiormente, nossa mente, nossa psique não estiver completa e totalmente livre. 
Para descobrir qualquer coisa, mesmo no campo científico, a mente deve estar livre. Deve estar desimpedida, para poder ver o que é novo. Mas, em geral, desafortunadamente, nossa mente não é fresca, não é nova, inocente — para ver, observar, compreender. Estamos repletos de experiências, não só das experiências recentemente acumuladas (com "recentemente", quero dizer nos últimos cinquenta, sessenta ou cem anos), mas também da experiência humana, imemorial. Tudo isso — que constitui nosso conhecimento, consciente ou inconsciente  — nos põe em confusão; o conhecimento consciente é o que adquirimos pela educação, no mundo moderno, em nossos tempos. 
Agora, é importante que, ouvindo estas palestras, vocês estejam escutando. Penso que há diferença entre escutar e ouvir. Vocês podem ouvir palavras e interpretá-las, dando-lhes o significado de vocês ou o significado conforme um certo dicionário — e permanecer no nível da pura comunicação verbal. E quando vocês ouvem palavras dessa maneira, intelectualmente, há concordância ou discordância. Atentem um pouquinho nisto que estou dizendo. Não estamos permutando opiniões. Não estamos investigando dialeticamente a verdade contida em opiniões. Estamos investigando, tentando compreender a Verdade — não a verdade de opiniões, a verdade do que foi dito por outros. Se vocês escutam — que é coisa muito diferente de ouvir — não há concordância nem discordância. Vocês estão escutando a fim de descobrir o que é verdadeiro e o que é falso; e isso não depende do julgamento ou da opinião de vocês, ou do conhecimento ou condicionamento de vocês. 
Vocês têm, pois, de escutar, se possuem sérias intenções. Se desejam apenas se entreter com coisas sérias, se proporcionar um passatempo intelectual,  está certo também. Mas, se desejam ser verdadeiramente sérios, sentir a ânsia de descobrir o que é a Verdade, vocês tem de escutar. O ato de escutar não implica concordância ou discordância. E essa que é a beleza do escutar. Se compreende, então, totalmente. Se vocês escutarem aquele corvo, verão que estão escutando de maneira tão completa, que não ficarão comparando, que não ficarão interpretando o som como o som produzido por um corvo. Estarão escutando puramente o som, sem interpretação, sem identificação e, por conseguinte, sem comparação. É esse o ato de escutar
Ora, se estamos nos comunicando por meio das palavras — e só por esse meio podemos fazê-lo — vocês devem não apenas ouvir a palavra — isto é, a natureza e o significado da palavra — mas também escutar sem concordar nem discordar, sem comparar, sem interpretar; devem, com efeito, prestar toda a atenção. Verão, então, por vocês mesmos, imediatamente, o pleno significado de tudo o que a palavra "liberdade" implica. Pode-se compreendê-lo instantaneamente. A compreensão, o ato de compreender é imediato, não imposta se ocorre amanhã, se hoje. O estado de compreensão é atemporal; não é processo gradativo, processo de acumulação. 
Não estamos, pois, apenas em comunicação verbal entre nós, mas estamos também escutando uns aos outros. Estão escutando a vocês mesmos, ao mesmo tempo que estão escutando o orador. O que o orador está dizendo não lhes diz respeito, mas o que estão escutando lhes diz respeito; vejam, por favor, que não estou me fazendo sutil. Porque é o ouvinte, vocês, que tem de descobrir o que é a Verdade; é o ouvinte que tem de compreender toda a estrutura, toda a anatomia, as profundezas e a plenitude da liberdade. O orador está apenas fazendo a comunicação verbal. E se vocês se limitam a ouvir suas palavras e dizem: "Essa é a sua opinião", "esta é a minha opinião", "concordo", "discordo", "foi o que Sankhara ou Buda disse" — então, nós não estamos em comunhão. Estamos unicamente nos entretendo com opiniões — pelo menos vocês o estão. Devemos, pois, ver com clareza, desde o começo, que não estamos apenas ouvindo a comunicação verbal — a palavra, o significado da palavra, a natureza da palavra — mas também escutando
Vocês têm, assim, uma tarefa dupla: ouvir as palavras, e escutar. Naturalmente, a palavra que ouvem tem certa significação, evoca certas respostas, certas lembranças, certas reações. E devem, também, ao mesmo tempo, escutar se reação, sem opinião, sem julgamento, sem comparação. A tarefa de vocês, por conseguinte, é muito maior do que a do orador, e não o contrário, como costuma acontecer: o orador faz todo o trabalho e ficamos apenas a ouvi-lo, concordando ou discordando e, depois, lá nos vamos, muito animados, muito satisfeitos, intelectualmente estimulados. Tal estado nenhuma valia tem; o mesmo resultado se obtém indo a um cinema. 
Mas, quando um homem é verdadeiramente sério, sua seriedade exige atenção total, atenção que tudo penetra, de lado a lado. Esse homem deve conhecer a arte de escutar. Se vocês a conhecem, não é necessário lhes dizer mais nada. Porque, então, escutarão a voz do corvo, do pássaro, o cicio da brisa entre as folhas; escutarão também, dentro de si mesmos, os murmúrios da mente de vocês, de seus corações, e as mensagens procedentes do inconsciente. Se acharão então num estado de penetrante e intensa escuta e, por conseguinte, já não estão se entretendo com opiniões.
Por conseguinte, se são verdadeiramente sérios, assim escutarão, pois é dessa maneira que devem escutar. Porque, como disse, é necessária absoluta liberdade, para a compreensão da Verdade. Sem essa compreensão, a vida se torna muito superficial, vazia; o indivíduo se torna um mero autômato. E no ato de compreender o que é verdadeiro — isto é, no ato de escutar — a vida recomeça, numa nova forma. 
Nossa mente não é nova. Nossa mente já viveu milênios. Por favor, não me venham com a reencarnação; se o fizerem, não estão escutando. Empregando a palavra "milênios", não estou me referindo apenas a vocês, porém ao homem. Vocês são o resultado da existência milenar do homem. Você são uma consciência vastíssima, mas se apropriaram de apenas uma parte dela e esta parte a cercaram de uma muralha, a confinaram, e agora dizem: "Esta é a minha individualidade". E dizendo "milênios", não estou me referindo a essa clausura, esse cercado de arame farpado que, geralmente falando, é cada um de nós. Refiro-me àquele estado de consciência que é imenso, dilatado, que teve milhares de experiências e se acha debaixo da crosta, da carga, do peso da tradição, do saber, de toda avidez, ambição — não apenas a ambição dos que estão enclausurados, mas também a ambição do homem. Nossa mente, pois, está embotada do passado. Este é outro fato psicológico; não se trata da opinião de vocês contra a minha.
Assim, pois, com essa mente, essa psique que muito "experimentou", que conserva todas as cicatrizes, todas as lembranças, todos os movimentos do pensamento, como memória — com essa mente vamos ao encontro da vida. Ou com ela vocês querem se achegar àquilo que desejam descobrir; a Verdade. Naturalmente, não o podem. Como em relação a qualquer outra coisa, necessitam, para isso, de uma mente nova. Para olharem uma flor, ainda que a tenham visto todos os dias nos últimos dez anos — para a olharem de maneira nova, como se a estivessem vendo pela primeira vez na vida, necessitam de uma mente nova — mente fresca, inocente, sobremodo alerta. Do contrário, não podem ver; só podem ver suas lembranças, projetadas naquela flor. Por favor, compreendam isto. 
Uma vez tenham compreendido o ato de ver como o ato de escutar, terão aprendido algo de maravilhoso na vida de vocês, algo que nunca mais lhes deixará. Mas, nossa mente tanto se gastou, tanto se embotou, por influência da sociedade, das circunstâncias, de nossos temores e desesperos, de tantas brutalidades, insultos, opressões — que se tornou uma coisa mecânica, obtusa, embrutecida, pesadona. Com essa mente queremos compreender; não podemos, é claro.               

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Examinando a questão do conflito.


Áudio da reunião de estudo deste tema, pelo Paltalk, na noite de 11/08/2012

Para compreender o conflito, vocês precisam observar a si mesmos. E a observação exige desvelo. Desvelo significa compreensão, afeição: como quando se cuida de uma criança, em que não há repúdio ou condenação. Cuidar de uma criança é observá-la, sem condená-la, sem compará-la. Observá-la com infinita afeição, imensa compreensão; estudá-la em todos os seus movimentos, em todas as fases de seu desenvolvimento, em suas travessuras, suas lágrimas, seus risos. O observar, pois, exige desvelo. Esse é o primeiro requisito da auto-observação.; por conseguinte, nunca deve haver um momento de condenação, de justificação, de comparação, porém, sempre a observação pura e simples de tudo o que está ocorrendo, a cada momento do dia, quer a pessoa se ache no escritório, ou viajando num ônibus, ou conversando com alguém, etc. Cada um deve observar a si próprio tão completamente, com tão infinito desvelo, que daí resulte a precisão, uma precisão absoluta, e não apenas idéias vagas, ação ineficaz.
Como disse, para observarem a si mesmos, exige-se atenção completa. Uma mente que está atenta, cônscia de si própria no justo momento em que está a observar-se, está aprendendo a respeito de si mesma. Aprender é coisa toda diferente de acumular conhecimentos. Da infância até à morte, estamos sempre registrando; nossa mente se tornou uma espécie de fita de gravação, na qual tudo se vai registrando. De acordo com tal registro, nós atuamos, pensamos, reagimos; e a esse registro vamos acrescentando coisas e mais coisas, todos os dias, consciente ou inconscientemente. Guardamos toda experiência, toda informação, todo incidente, toda lembrança. E a isto chamamos experimentar, aprender. Mas isto, em absoluto, não é aprender; aprender é coisa totalmente diferente. No momento em que se começa a acumular, deixa-se de aprender. Pois só a mente que está fresca, que é nova, só a mente que observa com atenção, aprende.
Penso que devemos perceber a diferença entre estas duas coisas. O conhecimento técnico é acumulativo. A ele vai-se acrescentando mais e mais, e é com base nesse conhecimento que atuamos. Se são engenheiro, se são físico, tratam de acumular a maior soma possível de conhecimentos para trabalhar com base nesse conhecimento acumulado. E, por essa razão, nunca há liberdade. É sempre um agir com base no que se aprendeu, consoante o que se adquiriu. No nível do conhecimento técnico, tal ação, tal memória, tal processo acumulativo é absolutamente necessário. Mas nós estamos falando de coisa inteiramente diferente, ou seja que o observar com atenção não implica processo aditivo. Porque, se ficamos meramente adicionando, adquirindo, então, no minuto seguinte de nossa observação, observamos com base no que temos acumulado e, por conseguinte, já não estamos observando. Compreendam isso, por favor.
É importantíssimo compreender que, quando a mente está sempre acumulando, acrescentando algo a si própria e de tal base observando, então, tudo o que ela observa recebe o colorido do que antes foi aprendido, do conhecimento prévio. Essa mente, por conseguinte, é incapaz de compreender um fato novo. E a vida é sempre nova; o viver é algo totalmente novo, a cada minuto do dia. Mas, perdemos o frescor, esse extraordinário sentimento de vitalidade, de beleza, de imensidão, porque vamos sempre ao encontro da vida com nosso conhecimento acumulado e, consequentemente, nunca estamos aprendendo, porém, apenas adicionando mais alguma coisa às já existentes; com base nesse adicionamento, observamos as coisas, na esperança de aprender.
Assim, a mente que é séria, que está bem consciente da situação mundial, percebe que o mundo se acha num estado de angustiosa confusão. Nota-se um constante declínio em todas as nações; só uns poucos são capazes de funcionar inteligentemente, em liberdade talvez; os demais se limitam a imitar — são pobres imitações dos computadores, sua ação é ineficaz. A dor, a angústia, a ansiedade, o desespero é que são fatos, e não as crenças de vocês, suas esperanças, seus deuses; o fato do desespero, da ansiedade, da extraordinária persistência do sofrimento, sofrimento sem fim; a crescente animosidade e brutalidade — eis o mundo a que pertencem. A função da mente verdadeiramente séria é compreender a transcender esse mundo. A mente séria deve observá-lo. Isto é, vocês devem observar a si mesmos, porque vocês são o mundo; porque há em vocês angústia, sofrimento, solidão, desespero, ansiedade, medo, porque são impelidos pela ambição, a avidez, a inveja — vocês são esse mundo. Vocês não são o que pensam ser — que são Deus, etc. Isto é só absurda especulação. Vocês tem que partir dos fatos e tem de aprender a respeito de si mesmos.
Há, pois, diferença entre aprender e acumular conhecimento. O aprender é infinito, não há fim no aprender a respeito de si mesmo. E, por conseguinte, a mente que não está acumulando, porém aprendendo, é capaz de observar seus conflitos, suas tensões, suas dores e secretos desejos e temores. Se assim vocês fizeres, não acidentalmente, porém todos os dias, todos os minutos — e isso é possível — se vocês se mantiverem em constante observação, verão que adquirirão uma energia extraordinária. Porque então a autocontradição estará sendo compreendida.
Com a palavra "compreender" não me refiro a algo intelectual. A mente que está fragmentada nunca compreenderá nada. Quando digo que "compreendo uma certa coisa intelectualmente", o que realmente estou dizendo é que ouço a palavra e compreendo a palavra; isso nada tem a ver com a compreensão. Compreensão implica não só o aspecto semântico, isto é, o sentido da palavra, mas também a apreensão do inteiro conteúdo dessa palavra e de seu significado conforme se aplica a nós mesmos. A compreensão, pois, não é uma simples questão de "cerebração", mera atividade intelectual. Vocês só podem compreender alguma coisa, quando lhe aplicam a mente, o corpo, os sentidos, os olhos, os ouvidos, tudo. E dessa compreensão resulta a ação total, e não ação fragmentária, contraditória.
Nessas contradições, o que interessa — principalmente àqueles que são verdadeiramente sérios — é compreender. E a vida exige seriedade, pois não se pode viver neste mundo levianamente. Vocês não podem estar interessados apenas em suas próprias aflições, seus próprios divertimentos, seus próprios temores. Vocês são uma parte do mundo e devem compreender a si mesmos e isto constitui imensa tarefa. E quando são sérios, devem levar essa compreensão ao extremo, até perceberem tudo o que a existência implica.
E, também, o conflito é algo que temos de compreender — compreender, e não dominar. Não tentem negá-lo, não tentem fugir dele, porém, tratem de compreende-lo, de ver todo o seu significado, de perceber as várias contradições, na palavra, no pensamento, na ação. Em geral, vivemos vidas duplas, ou triplas, ou múltiplas! Funcionamos fragmentariamente, nosso existir é fragmentário; desejamos ser mundanos; desejamos ter todos os confortos que nos são devidos. O conforto, obviamente é necessário; mas, com esse conforto vem a exigência de segurança. Não só desejamos estar seguros em nossos empregos — reação natural e são — mas também desejamos estar seguros psicologicamente, interiormente.
É possível estar-se em segurança psicologicamente, em algum tempo — isto é, estarmos psicologicamente seguros em nossas relações e psicologicamente seguros em relação àquilo com que estamos identificados? A segurança exterior é evidentemente necessária. Exteriormente, é absolutamente necessário termos moradia, um lar, emprego; mas não nos contentamos com isso. Queremos estar em segurança interiormente, e nasce assim a ilusão. A partir desse momento, começa a desenrolar-se uma série de conflitos, de conflitos intermináveis.
Cumpre-nos, pois, descobrir a verdade em relação a essa formidável questão da segurança psicológica — sem procuramos saber o que outro qualquer diz. Psicologicamente, vemo-nos inseguros; por essa razão criamos deuses, deuses que se tornam nossa segurança permanente! Isso gera conflitos. Compreendem o que entendemos por "conflito"? Entendemos: a contradição; a ação fragmentária; os pensamentos que se chocam; os desejos conflitantes entre si; as exigências contraditórias; as pressões do mundo e a exigência interior de viver em paz com o mundo; a aspiração a encontrar algo além da existência diária, monótona, estúpida; o ver-nos presos na engrenagem da existência diária e desesperadora; o nunca termos uma solução para o nosso desespero; a angústia imensa, não apenas pessoal, mas também a angústia do mundo, e nunca encontrarmos uma saída dessa angústia. Eis todos os fatores que geram a contradição — dos quais podemos estar conscientes ou não. Onde a mente se acha em contradição, tem de haver conflito.
E, muito evidentemente, a mente que se acha em conflito não pode ir adiante; poderá prosseguir na ilusão, mas não é capaz de avançar para descobrir se algo existe além do tempo, além da medida humana. Sem dúvida, esta é a função da religião. A função da mente religiosa é descobrir o verdadeiro. E a verdade não pode ser encontrada num templo ou num livro, por mais venerado que ele seja. Vocês têm de descobrir por seus próprios meios. Não podem comprá-la com lágrimas, com orações, com repetições, com rituais; por esse caminho se vai ao absurdo, à ilusão, à insanidade.
A mente séria, por conseguinte, deve estar cônscia desse conflito. Com "estar cônscio" quero dizer, observar, escutar. Escutar é uma arte. Com efeito, é uma arte extraordinária o escutar um som. Não sei se vocês já escutaram um som — o som de um pássaro pousado numa árvore, ou o distante buzinar de um carro. Pelo escutar — não pelo julgar, pelo identificar tal som com determinada ave ou determinado carro ou determinado rádio da casa mais próxima, porém, pelo simples escutar, verão — se assim souberem escutar — como se tornarão extraordinariamente sensíveis. A mente se torna sobremodo alerta quando escutamos simplesmente — isto é, não interpretando o que ouvimos, não tentando traduzi-lo, não o identificando com o que já conhecemos — pois isso nos impede de escutar. Mas, se escutarem simplesmente — escutarem seus pensamentos, suas exigências, o desespero de suas existências, não tentando interpretar, traduzir nada, não tentando fazer alguma coisa em relação ao que se escuta — verão que a mente de vocês se tornará sobremodo lúcida.
E só a mente lúcida, a mente sã, racional, lógica, em que não há conflito, consciente ou inconsciente — só essa mente pode prosseguir até descobrir, por si própria, se existe uma Realidade. Só essa mente é religiosa. E só essa mente pode resolver os problemas do mundo. Os problemas do mundo são inumeráveis e estão se multiplicando. E se vocês não forem capazes de resolvê-los lógica, equilibrada, sadiamente, com o espírito de vocês de todo livre de conflito, estarão apenas criando mais confusão, mais angústias para o mundo e para vocês mesmos.
A primeira coisa, por conseguinte, que nos cumpre fazer é observar com atenção, todas as murmurações, todos os temores, ilusões, desesperos do próprio ser de vocês. E verão então, por si mesmos — e para isso vocês não necessitam de provas, nem de gurus, nem de livros sagrados — se a Realidade existe. E encontrarão aí, um extraordinário sentimento de libertação do sofrimento. Aí existe a claridade, a beleza e aquela coisa que está faltando hoje à mente humana: o amor, a afeição.
Madrasta, 12 de janeiro de 1964

Só pela seriedade é possível o conhecimento da natureza real que somos

Parece-me que o que se faz necessário é uma revolução total na consciência. E não será possível tal revolução, se permanecermos insensatamente apegados a crenças, idéias e conceitos. Não encontraremos saída de nossa confusão, angústia, conflito, pela constante repetição do Gita, do Upanishad e demais livros sagrados; isso poderá levar à hipocrisia, a uma vida de insinceridade, de interminável pregação moral, porém, nunca a enfrentar realidades. O que nos cumpre fazer é, segundo me parece, tornar-nos cônscios das condições de nossa existência diária, de nossos infortúnios, nossas angústias, nossa confusão e conflito, e tratar de compreende-los tão profundamente que possamos lançar uma base adequada, para começar. Não há outra solução. Temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser segundo um certo padrão ou ideal. Temos de ver realmente o que somos e, daí, iniciar a transformação radical.
Dirão vocês: "Que feito ou valor pode ter uma transformação individual? Como poderá isso alterar o curso da existência humana? Que pode um só indivíduo fazer?" — Esta me parece uma pergunta errônea, porque não existe tal coisa — consciência individual; só há consciência, da qual somos uma parte. Um indivíduo pode segregar-se, cercar-se dentro de um determinado espaço chamado "eu". Mas esse Eu está relacionado com o todo, esse Eu, não é separado. E, com a transformação dessa seção especial, dessa determinada parte, podemos influir na totalidade da consciência. Considero muito importante compreender que não estamos falando de salvação individual ou reforma individual, porém, sim, da necessidade de estarmos conscientes da parte em relação com o todo. Desse percebimento nascerá uma ação que atingirá o todo. (...) Devemos descobrir, sem dúvida, uma fonte diferente, uma diferente maneira de vida que não esteja em contradição com o nosso viver de cada dia, e ao mesmo tempo, promover uma profunda compreensão religiosa da vida.
Para mim, o importante não é apenas a imediata "resposta" aos diferentes "desafios" — resposta que deve ser adequada — mas também resposta que seja produto de uma vida profundamente religiosa. Entendo por "vida religiosa", não uma vida ritualista, de ajustamento a determinado padrão, porém, a vida religiosa resultante da compreensão. Porque, sem o conhecimento de nós mesmos — o que realmente somos — por mais desonestos, falsos, astutos, hipócritas e ignóbeis que sejamos, não temos base para nenhuma ação ou pensamento religioso.
(...) Se não há autoconhecimento, se não há compreensão do Eu — não do "Eu superior", do Eu com "E" maiúsculo — porém do "eu" ordinário, do homem que frequenta diariamente o escritório, que é apaixonado, irascível, violento, cruel, hipócrita, acomodado — se não há essa compreensão total, completa, de todo nosso ser, nesse caso, toda ação, todo pensamento, toda idéia, só conduzirá a mais confusão e mais angústia.
E parece-me que temos em mãos uma imensa tarefa, tarefa que exige seriedade. Por esta palavra, entendo a capacidade de prosseguir até o fim na busca da Verdade ou numa pesquisa qualquer. Por não sermos verdadeiramente sérios, somos muito superficiais, fáceis de distrair e de satisfazer. Mas, para investigar profundamente em si próprio, o indivíduo tem de ser sério em extremo, e conservar-se nesse estado de seriedade. E isso requer energia; ninguém pode ser sério se não tem energia. Não deve essa energia ser esporádica, acidental, porém uma energia constante, capaz de observar um fato tal como é, e capaz de seguir esse fato até o fim — uma energia espantosa, tanto mental, como corporal.
E, para se ter energia, não deve haver conflito, já que o conflito é o principal fator de deterioração. Somos pessoas que foram educadas para viver em conflito. Toda a nossa vida é conflito, dentro e fora de nós — com o próximo, com nós mesmos, e em nossas relações. Tudo o que tocamos, tanto psicológica como ideologicamente, gera conflito. E o conflito é o maior fator de deterioração.
Ora, a meu ver, a compreensão desse conflito, compreensão não parcial porém total, é a mais importante tarefa da mente humana. Porque, só com a completa terminação do conflito podem terminar todas as ilusões; só então tem a mente a possibilidade de penetrar fundo, na investigação da Verdade, no investigar se algo existe além do tempo. E só essa mente é capaz de descobrir o que é o amor e de descobrir o estado mental criador, porque tudo o mais, em qualquer forma que seja, é pura especulação. A mente religiosa não especula; move-se, tão somente, de fato para fato. E não é possível observar o fato quando há conflito ou tensão de qualquer espécie.
Assim, creio que o nosso problema principal resulta de termos perdido completamente a religião, o espírito religioso. Vocês podem ter templos, frequentar o templo, usar vestes sagradas, cultivar todas as demais futilidades desse gênero; mas não são pessoas verdadeiramente religiosas. E o problema do mundo não pode ser resolvido em nenhum outro nível, exceto o religioso.
A vida verdadeiramente religiosa é aquela que vivemos na compreensão do conflito e libertados do conflito.
Nosso principal interesse, por conseguinte, é este: a compreensão do conflito interior e exterior. Esses dois ("interior" e "exterior") não são coisas separadas. O mundo não está separado de vocês e de mim; vocês são o mundo e o mundo é vocês. Isto não é uma teoria; se observarem bem, verão que é um fato real. Vocês estão condicionados pela sociedade em que vivem... Vocês são considerados como um indivíduo nascido neste país, educado de acordo com uma certa tradição, crendo ou não crendo em Deus. Vocês são moldados pela sociedade, pelas circunstâncias. Suas crenças, suas conduta, suas maneira de pensar, tudo é resultado do condicionamento de vocês pela sociedade em que vivem. Este é um fato óbvio, irrefutável. Mas, separamos o mundo como uma coisa diferente de nós, porque o mundo é forte demais, com todas as suas pressões, tensões e conflitos, com suas inumeráveis exigências e as condições da existência. E dele nos retraímos para dentro de nós mesmos, refugiando-nos em nossas crenças, nossas esperanças, temores, conceitos especulativos. Por isso há separação entre nós e o mundo. Mas, se observarem, verão que o mundo não difere de nós — é como a maré, que flui e reflui. Se não compreenderem o mundo exterior, não compreenderam o interior. E, para compreende-lo, devem observá-lo — não de um dado ponto de vista, porém, da mesma maneira como um cientista observa. O cientista só observa em seu laboratório, mas nós, entes humanos, devemos observar o mundo de cada dia, em nossas relações, em nossas atividades. E, como disse, para compreendermos toda esta existência complexa, tormentosa, desesperante — existência sem amor e sem beleza — temos de compreender o conflito.
Surge o conflito, decerto, quando há contradição — contradição de diferentes desejos, diferentes exigências, tanto consciente como inconscientes. Mas, em geral, estamos conscientes desses conflitos. E, se estamos conscientes, não temos solução para eles; por isso, tratamos de distanciar-nos deles, buscando refúgio na religião, no trabalho social ou em entretenimentos vários, tais como ir ao templo, ir ao cinema, ou beber. E só há possibilidade de se resolverem os conflitos, quando a mente é capaz de compreender a si própria.
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill