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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Existe algo superior fora de nós mesmos?

Para averiguarmos requer-se uma maneira de pensar inteiramente diferente, que dispense a prece, a meditação, e as citações, sendo apenas necessária a compreensão de todo o processo da consciência. A mente pode “projetar” ideias relativas a Deus ou à realidade, mas o que a mente projeta não está fora do domínio do pensamento; e enquanto estiver ativa, projetando as suas próprias concepções, não pode a mente, de certo, descobrir se existe algo fora dela própria. Para o descobrir, deve a mente deixar de “projetar”, porque tudo quanto pensar apenas exteriorizará o próprio pensamento, consciente ou inconsciente. O que a mente pode “projetar” não está fora do seu próprio campo, e para descobrirmos se existe alguma coisa exterior à mente, esta, como pensamento, deve deixar de existir. Todo movimento, toda atividade por parte da mente é sempre “projeção” dela própria, e enquanto existir pensamento nunca poderá ela char aquilo que está além dela mesma. O que está além da mente só pode ser descoberto quando ela estiver tranquila; e o tranquilizar da mente não é um processo de vontade, de ação determinada. A mente posta tranquila, pela ação da vontade, não é, por certo, uma mente tranquila; o problema, por conseguinte, é como pode o pensamento terminar sem o forçarmos, pela vontade, a terminar; porque se disciplino a mente para que fique tranquila, terei então uma mente morta, uma mente fechada, e não uma mente livre. Só a mente livre é capaz de descobrir o que está além dela própria, e essa liberdade não pode ser imposta à mente. Imposição não é liberdade, disciplina não é liberdade, conformismo não é liberdade; e quando a mente percebe isso, que conformismo, condicionamento não é liberdade, então está livre. Perceber o fato é o começo da liberdade; perceber o falso como falso e o verdadeiro como verdadeiro, não num futuro distante, mas de momento a momento; só então temos aquela liberdade, na qual a mente pode ser simples e serena, e essa mente serena pode saber o que existe além dela própria.

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?

domingo, 1 de setembro de 2013

Esquecimento do Ser que somos: o pecado original

(...) Ao encontrar a si mesma, a pessoa encontra o sentido da vida, o significado da vida, a alegria da vida, o esplendor da vida. Encontrar a si mesma é o maior achado na vida de uma pessoa, e esse encontro só é possível quando você está sozinho, quando sua consciência está completamente vazia — nesse vazio, nesse nada, um milagre acontece. E esse milagre é a base de toda a religiosidade.

Eis o milagre: quando não existe nada mais para a sua consciência ficar consciente, a consciência se volta para si mesma. Ela se torna um círculo. Não encontrando obstáculo, nenhum objeto, ela volta para a fonte. E, no momento em que o círculo está completo, você não é mais apenas um ser humano comum; você se tornou parte da divindade que circunda a existência. Você não é mais você mesmo, você se tornou parte de todo o Universo — o palpitar do seu coração é agora o palpitar do coração do próprio Universo.

Essa é a experiência que os místicos têm procurado por todas as vidas, através dos tempos. Não existe outra experiência mais arrebatadora, mais bem-aventurada. Essa experiência transforma toda a sua perspectiva: onde costumava haver escuridão, agora existe luz; onde costumava haver infelicidade, existe bem-aventurança; onde costumava haver raiva, ódio, possessividade, ciúme, existe somente uma bela flor do amor. Toda a energia que era gasta em emoções negativas não é mais desperdiçada; ela passa por uma reviravolta positiva e criativa.

Por um lado, você não é mais seu antigo eu e, por outro lado, você é, pela primeira vez, seu autêntico eu. O velho se foi, o novo chegou. O velho está morto, o novo pertence ao eterno, ao imortal.

(...) A menos que você se conheça como ser eterno, como parte do todo, continuará com medo da morte. O medo da morte existe simplesmente porque você não está consciente da sua fonte eterna de vida. Uma vez constatada a eternidade de seu ser, a morte se torna a maior mentira da existência. A morte nunca aconteceu, nunca acontece, nunca acontecerá, porque aquilo que existe sempre existirá, em formas diferentes, em níveis diferentes; não existe descontinuidade. A eternidade no passado e no futuro, ambas lhe pertencem. E o momento presente se torna um ponto de encontro entre duas eternidades: uma indo em direção ao passado e outra indo em direção ao futuro.

A lembrança de sua solitude não deve ser somente mental; cada fibra de seu ser, cada célula de seu corpo deveria se lembrar, e não com uma palavra, mas como uma profunda sensação. O esquecimento de si mesmo é o único pecado que existe, e a lembrança de si mesmo, a única virtude.

(...)Você não é parte deste mundo mundano; seu lar é o lar do divino. Você está perdido no esquecimento, esqueceu-se de que dentro de você Deus está oculto. Você nunca olha para dentro — porque todo mundo olha para fora, você também insiste em olhar para fora.

Ficar sozinho é uma grande oportunidade, uma benção, porque em sua solitude fatalmente você se deparará com você mesmo e, pela primeira vez, se lembrará de quem você é.

(...)Fique mais centrado em sua profunda solitude. Meditação é isso: ficar centrado na sua própria solitude. A solitude precisa ser tão pura que nem mesmo um pensamento, nem mesmo um sentimento a perturbe. No momento em que sua solitude for completa, sua experiência dela se tornará a sua iluminação. A iluminação não é algo que vem de fora, ela é algo que cresce dentro de você.

Esquecer-se do ser ser é o único pecado. E lembrar-se do seu ser, em sua completa beleza, é a única virtude, a única religião. Você não precisa ser hindu, muçulmano, cristão — para ser religioso, tudo o que você precisa é ser você mesmo.

(...) Ao conhecer a si mesmo, uma coisa fica clara: nenhuma pessoa é uma ilha somos um continente, um vasto continente, uma infinita existência sem nenhuma fronteira. A mesma vida corre através de todos, o mesmo amor preenche cada coração, a mesma alegria dança em cada ser. Por causa do nosso mal-entendido apenas, achamos que estamos separados.

A ideia de separação é nossa ilusão. A ideia da unidade será nossa experiência da verdade suprema. É necessário apenas um pouco mais de inteligência, e você poderá sair do desalento, da infelicidade, do inferno em que toda a humanidade está vivendo. O segredo de sair desse inferno é lembrar-se de si mesmo. E essa lembrança será possível se você compreender a ideia de que você está sozinho.

(...) Você precisa perceber, não importa o quanto isso possa parecer doloroso no início, que está sozinho numa terra estranha. Na primeira vez, esse reconhecimento é doloroso. Ele elimina todas as nossas ilusões, que geram grandes consolos. Mas, quando você ousa aceitar a realidade, a dor desaparece. E, oculta atrás da dor, está a maior das bênçãos do mundo: você vem a conhecer a si mesmo.

Você é a inteligência da existência, a consciência da existência, a alma da existência. Você é parte dessa imensa divindade que se manifesta de milhares formas: nas árvores, nos pássaros, nos animais, nos seres humanos... mas é a mesma consciência em diferentes estágios de evolução. E a pessoa que reconhece a si mesma, que sente que o deus que ela buscava e procurava por todo o mundo reside em seu próprio coração, atinge o mais elevado ponto da evolução. Não existe nada superior a isso.

(...) A pessoa pouco inteligente é aquela que está correndo por todo o mundo à procura de algo, sem saber exatamente o quê. Algumas vezes achando que talvez seja o dinheiro, seja o poder, seja o prestígio, seja a respeitabilidade.

A pessoa inteligente primeiro procura seu próprio ser, antes de começar a jornada no mundo exterior. Isso parece ser simples e lógico... pelo menos, olhe primeiro em sua própria casa, antes de procurar pelo mundo inteiro. E aqueles que olharam dentro de si mesmos o encontraram, sem nenhuma exceção.

(...) O mundo precisa de uma grande revolução, na qual cada indivíduo encontre sua religião dentro de si mesmo. No momento em que as religiões se tornam organizadas, elas ficam perigosas; na realidade, elas se tornam política, com uma falsa face de religião. Por isso, todas as religiões do mundo tentam converter mais e mais pessoas à sua religião. É a política dos números; aquela que tiver um número maior será mais poderosa. Mas ninguém parece estar interessado em trazer milhões de indivíduos a seus próprios seres.

Meu esforço aqui consiste em afastá-lo de qualquer tipo de esforço organizado, porque a verdade nunca pode ser organizada. Você precisa seguir sozinho na peregrinação, porque a peregrinação será interior. Você não pode levar ninguém com você. E você precisa deixar de lado tudo o que aprendeu com os outros, porque todos esses preconceitos distorcerão sua visão e você não será capaz de perceber a realidade nua de seu ser. A realidade nua de seu ser é a única esperança de encontrar Deus.

Apenas um passo para dentro de si mesmo e você chegou.

(...) Pode levar um pouco de tempo, porque os velhos hábitos demoram para ser vencidos; mesmo que você feche os olhos, sua cabeça estará cheia de pensamentos. Esses pensamentos são de fora, e o simples método, que foi seguido por todos os grandes videntes do mundo, é simplesmente observar os pensamentos, ser uma testemunha. Não os condene, não os justifique, não os racionalize. Permaneça à parte, permanece indiferente, deixe-os passar — ele irão embora.

E, no dia em que sua mente estiver absolutamente silenciosa, sem nenhuma perturbação, você dará o primeiro passo que o leva ao templo de Deus.

O templo de Deus é feito da sua consciência. Você não pode ir lá com seus amigos, com seus filhos, com sua esposa, com seus pais.

Todos precisam ir lá sozinhos.

OSHO

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O que pensamos ser consciência não é suficiente

O estado de inconsciência é como as raízes de uma árvore. As raízes da árvore permanecem debaixo do solo, você não as vê. Assim é nosso inconsciente, é subterrâneo. Não o vemos, mas ele afeta tudo: afeta os galhos, as folhas, as flores. 


Nossas raízes estão ocultas, mas são muito importantes — são a parte mais importante da árvore. E, se você não compreende suas próprias raízes, não pode realmente experimentar sua existência total.



Os galhos da árvore são como nossa assim chamada consciência: uma camada frágil, muito fina, que pode ser facilmente destruída por um acidente. Um acidente pequeno e ela é destruída. Alguém o insulta e você não é mais consciente; alguém diz algo e você esquece tudo sobre meditação, sobre sua percepção. Você fica louco! E é capaz de fazer qualquer coisa nesse estado de loucura. 



Só uma fina camada de consciência circunda nosso inconsciente. É suficiente para nosso trabalho de rotina; ir ao escritório, trabalhar numa máquina de escrever, dirigir um carro, conversar com o marido ou a mulher — os mesmos clichês que você sempre diz. E você os repete sem a menor consciência.



Mas isso é o que pensamos ser a consciência; ela é mais ou menos, é só morna, não é suficiente para um voo até o desconhecido, até o supremo.



É preciso usar esse pequeno fragmento de percepção como uma semente e começar a cultivá-lo, alimentá-lo, ajudá-lo de todas as formas possíveis, cooperar com ele.



Coopere com ele cada vez mais, com esse pequeno fragmento de seu ser que é consciente. E coopere cada vez menos com a parte maior de seu ser que é inconsciente.



Escolha sempre o consciente, evite o inconsciente. Aquilo que o deixa inconsciente é errado, e o que o ajuda a se tornar consciente é certo. Lentamente, lentamente, se você cooperar com o consciente, ele cresce; e, se parar de ajudar o inconsciente, este murcha.



O território do consciente fica cada vez maior, e o inconsciente vai murchando, desaparecendo. Por fim, todo o território inconsciente é tomado pela consciência. Esse é o momento em que você começa a florescer; pela primeira vez sua árvore floresce.



Osho, em "Meditações Para o Dia"


terça-feira, 21 de maio de 2013

Que é consciência?

Pergunta: Podeis dizer-nos mais claramente o que entendeis por consciência?

Krishnamurti: Que é consciência? Não é tudo o que pensamos e tudo o que temos pensado no passado? Não é o passado que projetamos no futuro mediante o presente? Tanto a mente consciente como a mente inconsciente não se encontram na esfera do tempo? A consciência é constituída das reações do passado, projetadas para o presente pela memória, como “eu”, como mente, que busca então outras formas de preenchimento no futuro. A totalidade dessas coisas é a consciência, não é verdade? Ela é o resultado de ideias herdadas, de experiências acumuladas, temores, inspirações, motivos, crenças, esperanças e inumeráveis outras influências. Tudo isso constitui o que somos. Podemos dividir-nos em “eu” e “não eu”, em “eu inferior” e “eu superior”, mas todo esse campo da consciência, como vereis, é constituído de reações, do passado, de pensamento condicionado e, evidentemente, limitado.
Afinal de contas, é só porque estamos sempre pensando em alguma coisa, buscando alguma coisa ou fugindo de alguma coisa, que sabemos que estamos vivos. Buscamos a realidade, a permanência e, porque desejamos isso, dizemos que sabemos de sua existência. Mas, essa busca é mero produto do desejo, não achais? É condicionada, limitada, produto do tempo.
Tudo isso faz parte da consciência.
A questão, por conseguinte, é esta: Pode a mente que é condicionada, limitada, libertar-se do passado, de seu próprio centro de experiência, baseado no prazer e no desprazer? Não se pode responder “sim” nem “não”. Só podeis é descobrir por vós mesmo se a mente pode ser livre. Mas, para o descobrirdes, precisais primeiro saber que estais condicionado; precisais, primeiramente, estar cônscio das compulsões, dos temores, das crenças e tradições que agora estão corrompendo a mente. Significa isso — não achais? — que temos de observar a nós mesmos, nas relações não apenas com as pessoas, mas também nas relações com coisas e ideias. Compreendereis, então, se observardes realmente, o inteiro processo do condicionamento e podereis, talvez, livrar-vos dele para sempre.  

Krishnamurti — Verdade Libertadora — ICK

segunda-feira, 8 de abril de 2013

domingo, 10 de março de 2013

Existe algo como "expansão de consciência"?

Interrogante: A tentativa de revolucionar a psique pode ser também denominada "expansão da consciência?"

Krishnamurti: O expandir da consciência exige um centro que esteja consciente de sua expansão. No momento em que existe um centro, como ponto de partida da expansão, isso não é expansão, porquanto o centro limita sempre sua própria expansão. Se há um centro que me serve de ponto de partida, embora eu chame isso "expansão", esse centro será sempre fixo. Posso expandir-me dentro de um certo raio, mas, visto que o centro é sempre fixo, não há expansão. Não se deve fazer uso da palavra "expansão".

Interrogante: A revolução da psique não requer também a existência de um centro?

Krishnamurti: Não, senhor; foi isso que já tive o cuidado de explicar. Vou tornar a dizê-lo muito rapidamente. Vós sabeis o que é espaço. Quando olhais para o céu, existe um espaço, o qual é criado pelo observador que está a olhar. Aqui, está este objeto, um microfone, a criar espaço ao redor de si. Porque ele existe, esse espaço existe. estamos neste salão. Nele há espaço por causa das quatro paredes, e fora dele há espaço. Só conhecemos o espaço que existe por causa do centro, que está a criar espaço ao redor de si. Ora, o centro pode expandir esse espaço por meio da meditação, da concentração, etc. e tal; mas o espaço é sempre criado pelo objeto, como o microfone que cria o espaço em torno de si. Enquanto existir centro, observador, ele criará espaço em redor de si; poderá chamar esse espaço de "dez mil milhas" ou "dez passos", mas trata-se sempre do espaço restrito do observador. O expandir da consciência, um dos truques mais fácies, fica sempre do raio que o centro cria. Em tal espaço não há liberdade nenhuma, porque tal liberdade é semelhante à liberdade que tenho deste salão. Não sou livre. Só há liberdade e, por conseguinte, um espaço imensurável, quando não existe observador; e a revolução a que nos referimos é a revolução da psique, da própria consciência, na qual atualmente existe sempre o centro que fala em termos de "eu" e "não eu".
       
Krishnamurti – A importância da transformação - Cultrix 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Estudar é algo morto, intelectual. Aprender é vivo!

Nenhuma universidade pode lhe oferecer um curso de religião. Elas fazem isso, mas tudo o que ensinam não é religião absolutamente.

Pode ser uma história de religião — não religião. Pode ser filosofia da religião — não religião. Elas podem auxiliá-lo a aprender o Alcorão, a Bíblia, o Gita, mas não religião. Elas podem falar sobre Jesus, Buda, Krishna e você aprenderá muitas coisas, mas não compreenderá a verdadeira base, a própria essência.

(…) A religião é tão delicada, tão frágil, que nenhum invólucro pode protegê-la. No momento em que você a transfere, ela já está morta. Ela vive numa vida interna. Vivem em um Buda, em um Mestre. Ele não a pode dar, mas você pode abrir-se para ela.

É exatamente como quando o sol surge pela manhã. O sol não pode dar vida à flor — não! Mas a flor pode abrir-se através dele e ser enriquecida pela sua própria abertura. Se a flor permanecer fechada, o sol não poderá fazer nada . O sol não poderá bater na porta, não poderá distribuir a luz, distribuir vitalidade e vida — não! O sol passará despercebido. Um Buda vem — Eu estou aqui, você pode se abrir. Mas se permanecer fechado, nada poderá ser feito. Assim, isso compete a você. Depende totalmente de você aprender ou não — isto não é um estudo.

Estudar é algo morto, intelectual. Aprender é vivo! Não vem da cabeça, surge do coração. Você aprende pelo coração e estuda pela cabeça. Quando estuda, torna-se um grande erudito. Vá e olhe para os grandes homens cultos; todas as universidades estão repletas deles. Você não encontrará pessoas mais mortas do que eles. Estão quase na sepultura — estão quase enterrados! Nunca viveram; estão tão obcecados pelas palavras que não levam em conta a vida.

Esses eruditos podem estar falando de amor, mas nunca amaram. Eles não podem se permitir isto — é muito arriscado, e eles são tão instruídos, não podem dar um passo tão perigoso! Eles falam sobre meditação, lêem a respeito, mas nunca fazem nada. É perigoso! Nada pode ser mais perigoso do que a meditação. E um erudito está sempre em busca de segurança: segurança nas palavras, segurança nas doutrinas, segurança em tudo. Ele não é um jogador, não pode apostar sua vida. E a menos que você arrisque sua vida, não poderá aprender.

Este aprendizado é do coração, é exatamente como o amor. É por isso que Jesus repetia sempre que Deus é amor. Ele não estava dizendo — como os cristãos entenderam, ou como não entenderam — que Deus é um amante. Não! Ele não quis dizer que Deus ama. Essa frase justamente indica que o caminho é pelo coração, não pela cabeça.

(…) Lembre-se sempre de dar o primeiro passo de modo certo. Se o primeiro passo estiver certo, então metade da jornada estará vencida, quase terminada. Se o primeiro passo estiver certo, tudo o que vier se seguirá automaticamente, você chegará à meta. Assim, não vá ao Mestre para estudar, vá para aprender. Se você for para estudar, o Mestre lhe ensinará, mas o ponto mais significante não poderá ser transmitido — vá para aprender.

Qual a diferença entre essas duas atitudes? Muitas são as diferenças: quando você vai para estudar, quer mais informações; quando vai para aprender, quer mais ser — não informações. Quando você aprende, seu ser cresce. Quando você estuda, sua memória é que cresce. Quando você estuda, sabe cada vez mais e mais; quando aprende torna-se cada vez mais — e essas são coisas totalmente diferentes. Um homem pode ter uma grande memória, saber muitas coisas, e, no seu íntimo, ser completamente mendigo, pobre, não ter nada. Ele pode estar-se iludindo que conhece muitas coisas, mas esse conhecimento não o auxiliará — a menos que ele seja. O conhecimento é fútil! Apenas ser auxilia.

Se você estiver morrendo, quem irá com você? Seu conhecimento ou seu ser? Quem o auxiliará? Quem será a ponte? O que você poderá carregar consigo além da morte? Conhecimento? O cérebro será deixado para trás porque faz parte do corpo. Apenas o ser é levado para lá. E como você nunca o olhou, ele permaneceu pobre, faminto — você nunca o alimentou.

O aprendizado é do ser, o conhecimento é apenas da memória, da mente. As universidades podem lhe dar conhecimento, os professores podem lhe dar conhecimento, mas apenas um homem iluminado pode lhe dar, pode auxiliá-lo — e este auxílio é indireto — a ganhar mais ser. Você pode receber este auxílio, mas isto depende totalmente de você.

Se você vier para estudar, perderá o primeiro passo. E o primeiro passo é muito significativo, porque o primeiro eventualmente se transforma no último. A semente é muito significativa: a semente é o primeiro passo e é ela que se transforma em árvore. Ela pode levar muitos anos para florescer, mas se você tiver plantado a semente errada, então mesmo um milhão de vidas não serão de qualquer auxílio.

(…) Que tolice! Um Mestre está vivo e você fica obcecado pelas escrituras. Os diamantes estão por toda a parte e você fica se apegando em bijuterias, em pedras coloridas! O Mestre está vivo e você continua interessado em palavras mortas.

(…) Um homem que está junto com o Mestre para estudar, está sempre repleto de perguntas — porque é assim que as pessoas estudam. Você tem de criar perguntas para obter respostas, então você vai colecionando as respostas e torna-se mais instruído.

Um homem que não está querendo estudar, mas sim aprender, tem apenas uma pergunta, não muitas. Lembre-se: muitas perguntas não podem ser respondidas porque, se você é desse tipo de homem que tem muitas perguntas, qualquer resposta obtida servirá apenas para criar mais perguntas — nada mais. Todas as soluções apenas lhe darão mais problemas.

(…) Mas quando você tem apenas uma pergunta… isto é muito difícil. Só um homem muito sábio faz apenas uma pergunta. Para chegar a ter apenas uma pergunta é preciso que você esteja amadurecido — porque muitas perguntas demonstram curiosidade, uma pergunta demonstra que o seu ser chegou a uma conclusão. Neste momento, isto está em jogo: se esta pergunta for resolvida, tudo estará resolvido. É uma questão de vida ou morte.

Ter uma pergunta significa ter uma direção. Ter uma pergunta significa ter chegado à unidade! Só quando você chega à unidade a resposta pode lhe ser dada; caso contrário, você não está preparado. E nenhum Mestre vai perder seu tempo e energia, se você tiver muitas perguntas. Faça apenas uma pergunta!

Em primeiro lugar, descubra o que é essa pergunta significativa. Não se mova na periferia! Venha para o centro! Na periferia, podem existir muitos pontos a serem questionados;mas no centro existe apenas um ponto. Quando você se movimenta na periferia, está caminhando no círculo: uma pergunta o conduz a outra que por sua vez o conduz a outra e assim por diante — ad infinitum. Mas, no centro, há apenas uma pergunta.

E esta pergunta pode ser respondida até mesmo sem uma resposta: se você tiver apenas uma pergunta, o Mestre olhará para você e a pergunta estará respondida. Porque quando você tem apenas uma direção, você está alerta: sua chama está tão luminosa, sua mente tão clara — não repleta de nuvens, não com milhões de nuvens, apenas com um sol — você está tão límpido, tudo está tão vívido, claro, chamejante que apenas um olhar pode ser a resposta, apenas um toque já é o suficiente. Mas se você estiver repleto de perguntas, mesmo que o Mestre o martele com respostas, de nada adiantará.

(…) Você é a pergunta, você é o criador da questão. Você — o ego, a mente — você é a doença. Por que você não se retira? Muitas perguntas foram feitas — apenas uma resposta foi dada, e mesmo esta não pode ser compreendida. Porque uma pessoa que faz muitas perguntas não pode compreender uma resposta. Sua mente não consegue entender o que pertence ao um. Ela só entende a diversidade. Diversidade significa estar sempre do lado de fora; a unidade está sempre do lado de dentro — porque o centro está em seu interior e a periferia está do lado de fora.

(…) Se você ficar, as perguntas continuarão a vir. As perguntas vêm da mente exatamente como as folhas vêm da árvore. Você continua regando a árvore e as folhas continuam vindo. Naturalmente as folhas velhas irão cair e as novas virão. Assim, se o Mestre responder uma pergunta, a velha irá embora, mas uma nova virá, a qual será novamente substituída. E uma nova pergunta é pior do que uma velha porque da velha você está farto. Pode jogá-la fora. Você já viveu o suficiente com ela.

Uma nova pergunta é como uma nova vida: novamente você está amando, novamente o romance principia, novamente há poesia e novamente lá está o absurdo. Um novo pensamento é mais perigoso do que um velho porque, do velho, você já está farto. Você já se aborreceu com ele, quer jogá-lo fora. É por isso que Buda, ou Ryutan, ou pessoas como eles, nunca respondem suas perguntas. Eles não gostam de dar novos abrigos para a sua mente. Eles não gostam de lhe dar novos substitutos para o velho.

Buda costumava dizer: “Se quiser ter a resposta, não pergunte. Quando você não perguntar, eu responderei. Se perguntar, a porta será fechada”.

Buda costumava insistir sobre isso com os recém-chegados: “Por um ano, permaneça comigo sem perguntar nada. Se você perguntar, não poderá continuar vivendo comigo, terá de ir embora. Por um ano, fique simplesmente silencioso.” A pergunta não deve ser feita nem mesmo por dentro. Se você a fizer, mesmo que seja invisível, Buda saberá.

(…) Mesmo que você não pergunte, se a mente perguntar você estará perguntando, porque o pensar é uma ação sutil. Mais cedo ou mais tarde, ele se torna visível. A bolha está lá, ela virá a superfície. Você pode reprimi-la mas não pode enganar Buda.

Quando é que uma pergunta pode ser admitida? Quando não houver nenhuma pergunta. isto parece paradoxal: se não há nenhuma pergunta, o que você irá perguntar? Mas apenas então você pode fazer uma pergunta, uma busca, uma indagação. Então todo o seu ser  é uma indagação. E quando você se coloca diante de um Buda, com todo o seu ser transformado numa indagação, numa sede, numa fome interna — tão interna que nem mesmo você esteja presente, apenas a fome — então Buda pode alimentá-lo, então a resposta pode lhe ser dada. Caso contrário, qualquer coisa que Buda diga parecerá irrelevante.

(…) Você não está suficientemente cansado da mente? Então retire-se! A mente já não fez o suficiente? A mente já não criou caos suficiente para você? Por que você está apegado a ela? Qual esperança, qual promessa o mantém preso a ela? Ela o tem enganado continuamente. Ela diz: “Lá — naquela meta, naquela posse, naquela casa, naquele carro, naquela mulher, naqueles bens — tudo está lá.”

Você caminha para lá e quando chega nada vem para as suas mãos, exceto frustração. Todos os desejos, no fim, transforma-se num caso deplorável, numa grande tristeza.

E essa mente continua prometendo, prometendo — sem nunca cumprir nenhuma promessa, mas você nunca lhe diz: “Você está me engando, pare com isso!” Você tem medo de dizer.

OSHO

domingo, 23 de setembro de 2012

É possível produzir uma mutação radical em nossa consciência?


A crise não está no mundo econômico, nem no mundo político; a crise está na consciência. Acho que muitos poucos de nós percebem isto. A crise está na nossa mente e em nosso coração; isto é, a crise está em nossa consciência. A nossa consciência é a nossa existência em sua totalidade. Com as nossas crenças, com as nossas conclusões, com o nacionalismo, com todos os medos que temos; são os nossos prazeres, os problemas aparentemente insolúveis e aquilo que chamamos amor, compaixão; ela inclui o problema da morte — o imaginar se existe alguma coisa após a morte, alguma coisa além do tempo, além do pensamento, alguma coisa eterna: este é o conteúdo da nossa consciência.

este é o conteúdo da consciência de todo ser humano, em qualquer parte do mundo em que viva. O conteúdo da nossa consciência é o terreno comum de toda a humanidade. Acho que temos que deixar isto bem claro desde o início. Um ser humano de qualquer parte do mundo sofre, não apenas fisicamente, mas também interiormente. Ele está incerto, amedrontado, confuso, ansioso, provado de qualquer sentido de profunda segurança. Assim, a nossa consciência é comum a toda a humanidade... A consciência de vocês, o que vocês pensam, o que vocês sentem, as suas reações, as suas ansiedades, a sua solidão, os seus pesares, a sua dor, a sua procura de alguma coisa que não seja apenas física, mas que ultrapasse todo o pensamento, é igual à de uma pessoa que viva na Índia, na Rússia ou na América. Todos eles passam pelos mesmos problemas que vocês, os mesmos problemas de relacionamento uns com os outros, homem, mulher. Assim, todos estão no mesmo terreno da consciência. A consciência é comum a todos nós e, portanto, não somos indivíduos... Nós fomos treinados, educados, tanto religiosa quanto academicamente, para pensar que somos indivíduos, almas separadas, em luta por nós mesmos; mas isso é uma ilusão, porque a nossa consciência é comum a toda a humanidade. Não somos indivíduos em separado batalhando por nós mesmos. Isto é lógico, é racional, sensato. Não somos entidades separadas, com conteúdo psicológico separado, lutando por nós mesmos, mas somos, cada um de nós, na realidade, o resto da humanidade.

Talvez vocês aceitem intelectualmente a lógica disto, mas se vocês sentirem profundamente, então toda a atividade de vocês sofrerá uma mudança radical. Essa é a primeira questão que temos que pensar juntos: que a nossa consciência, o modo como pensamos, o modo como vivemos, alguns talvez mais confortavelmente, com mais fartura, com maior facilidade de viajar do que os outros, é, interiormente, psicologicamente, exatamente igual à dos que vivem milhares e milhares de milhas distantes.

Tudo é relação; a nossa própria existência é relação. Observem o que fazemos com as nossas relações uns com os outros, sejam elas íntimas ou não. Em toda relação há um tremendo conflito, luta — por quê? Por que os seres humanos, que vivem há mais de milhões de anos, não resolveram esse problema da relação?... Toda a sociedade está baseada no relacionamento. Não há sociedade se não houver relacionamento; a sociedade torna-se, então, uma abstração.

Observamos que existe conflito entre o homem e a mulher. O homem tem seus próprios ideais, as suas próprias buscas, as suas próprias ambições, está procurando o sucesso, ser alguém no mundo. E a mulher também está lutando, também está querendo ser alguém, querendo realizar-se, transformar-se. Cada um está buscando sua própria direção. Assim, homem e mulher são como duas ferrovias que correm paralelas, nunca se encontram, a não ser, na cama, mas de outro modo — se vocês observarem profundamente — nunca na realidade se encontram psicologicamente, interiormente. Por quê? Essa é a questão. Quando perguntamos por que, estamos sempre perguntando pela causa; pensamos em termos de causação, na esperança de que, se pudermos entender a causa, então, talvez, possamos mudar o efeito.

Assim, estamos fazendo uma pergunta muito simples e muito complexa: por que nós, seres humanos, não fomos capazes de resolver este problema do relacionamento, embora vivamos sobre esta terra há milhões de anos? Será porque cada um tem a sua imagem particular e especial, formada pelo pensamento, e que o nosso relacionamento se baseia em duas imagens, a imagem que o homem cria dela, da mulher, e a imagem que a mulher cria dele? Assim, neste relacionamento, somos como duas imagens que vivem juntas. Isto é um fato. Se vocês observarem por vocês mesmos, com muito cuidado, se é possível fazer esta observação, vocês terão criado uma imagem dela e ela criou um quadro, uma estrutura verbal de você, o homem. Assim, o relacionamento é feito entre estas duas imagens. Essa imagens foram formadas pelo pensamento. E o pensamento não é amor. Todas as lembranças desse relacionamento, de um com o outro, os quadros, as conclusões de um a respeito do outro, se observarmos cuidadosamente, sem qualquer preconceito, são produtos do pensamento; são o resultado de muitas lembranças, experiências, irritações e solidões e, assim, o nosso relacionamento de um com o outro não é amor, mas a imagem que o pensamento formou. Assim, se devemos entender a realidade das relações, temos que entender todo o movimento do pensamento, porque vivemos pelo pensamento; todas as nossas ações se baseiam no pensamento, todos os grandes edifícios, as catedrais, igrejas, templos e mesquitas do mundo são resultado do pensamento. E tudo dentro destes edifícios religiosos — as figuras, os símbolos, as imagens — tudo é invenção do pensamento. Não há como refutar isso. O pensamento criou não apenas os mais maravilhosos edifícios, mas também criou os instrumentos de guerra, a bomba sob todas as suas formas. O pensamento também produziu o cirurgião e os seus maravilhosos instrumentos, tão delicados na cirurgia. E o pensamento também produziu o carpinteiro, o seu estudo da madeira e os instrumentos que ele usa. O conteúdo de uma igreja, a habilidade de um cirurgião, a perícia do engenheiro que constrói uma bela ponte, tudo é resultado do pensamento — não há como refutar isso.  Assim, temos que examinar o que é o pensamento e por que os seres humanos vivem do pensamento e por que o pensamento produziu esse caos no mundo — a guerra e a falta de relacionamento de uns com os outros — examinar a grande capacidade do pensamento, com a sua extraordinária energia.  Também devemos perceber como o pensamento trouxe, durante milhões de anos, esse pesar da humanidade.

(...) O pensamento é uma resposta da lembrança de coisas passadas; ele também se projeta como esperança para o futuro. A memória é conhecimento; o conhecimento é a memória da experiência. Isto é: há a experiência, da experiência se faz o conhecimento como memória e pela memória vocês agem. Com essa ação vocês aprendem, o que quer dizer mais conhecimento. Assim, vivemos neste ciclo — experiência, memória, conhecimento, pensamento e daí ação — sempre vivendo dentro do campo do conhecimento.

(...) Podemos ter avançado tecnologicamente, ter melhores meios de comunicação, melhor transporte, higiene, e assim por diante, mas, internamente, somos mais ou menos os mesmos — infelizes, inseguros, solitários, carregando o pesar interminavelmente. E qualquer homem sério, quando se defronta com este desafio, deve responder a ele, não pode aceitá-lo casualmente, dar as costas. É por isso que essas reuniões são muito sérias, mas muito sérias mesmo, porque temos que aplicar as nossas mentes e os nossos corações para descobrirmos se é possível produzir uma mutação radical em nossa consciência e, portanto, em nosso comportamento.

O pensamento nasce da experiência e do conhecimento, e não há nada de absolutamente sagrado a respeito do pensamento. Pensar é um ato materialista, é um processo da matéria. E nós confiamos no pensamento para resolver os nossos problemas na política, nas religiões e nas nossas relações. O nosso cérebro, a nossa mente, são condicionados, educados para resolver os problemas. O pensamento criou os problemas e, depois, o nosso cérebro, a nossa mente, são treinados para resolvê-los com mais pensamento. Todos os problemas são criados, psicologicamente, interiormente, pelo pensamento... O pensamento cria o problema, psicologicamente; a mente é treinada para resolver os problemas com mais pensamento; assim o pensamento, ao criar o problema, tenta, depois, resolvê-lo. Assim, ele é preso num processo contínuo, numa rotina. Os problemas estão se tornando cada vez mais complexos, mais insolúveis; por isso, devemos descobrir se é possível abordarmos a vida de um modo diferente, não através do pensamento, porque o pensamento não resolve os nossos problemas; pelo contrário, o pensamento produziu uma complexidade maior. Devemos descobrir se é possível ou não, se há uma dimensão diferente, uma abordagem totalmente diferente da vida. Por isso, é importante entender a natureza do pensamento. O nosso pensamento se baseia na lembrança das coisas passadas — pensar no que aconteceu uma semana atrás, pensar nisso modificado no presente e projetá-lo no futuro. Este é realmente o movimento de nossa vida. Assim, o conhecimento tornou-se muito importante para nós, mas o conhecimento nunca se completa. Portanto, o conhecimento sempre vive dentro da sombra da ignorância. Esse é um fato...

O amor não é lembrança. O amor não é conhecimento. Amor não é desejo ou prazer. Lembrança, conhecimento, desejo e prazer são baseados no pensamento. O nosso relacionamento de uns com os outros, embora próximo, se for olhado com cuidado, baseia-se na lembrança, que é pensamento. Assim, essa relação — embora vocês possam dizer que amam suas esposas ou seus maridos ou as suas namoradas — está, na realidade, baseada na lembrança, que é pensamento. E nisso não há amor. Vocês percebem realmente esse fato? Ou vocês dizem: “Que coisa mais terrível de se dizer. Eu realmente amo minha esposa”. Mas será mesmo? Pode haver amor quando há ciúme, posse, ligação, quando cada um está perseguindo sua própria e particular ambição, cobiça e inveja, como duas linhas paralelas que nunca se encontram? Isso é amor?

(...) O amor não tem nenhum problema e, para entender a natureza do amor e da compaixão com a sua própria inteligência, devemos entender juntos o que é o desejo. O desejo possui uma extraordinária vitalidade, uma extraordinária persuasão, impulso, alcance; todo o processo do vir a ser, do sucesso, está baseado no desejo — desejo que faz com que nos comparemos uns com os outros, imitemos, nos conformemos. É muito importante, ao entendermos a nossa natureza, entender o que é o desejo; não suprimi-lo, não fugir dele, não transcende-lo,, mas entende-lo, perceber todo o seu ímpeto. (...)

Entender o desejo exige atenção, seriedade. É um problema muito complexo entender por que os seres humanos viveram desta extraordinária energia do desejo, assim como da energia do pensamento. Qual é a relação entre pensamento e desejo? Qual é a relação entre o desejo e a vontade? Vivemos muito pela vontade. Assim, qual é o movimento, a fonte, a origem do desejo? Se nos observarmos, veremos a origem do desejo; ele começa com as respostas sensoriais; depois, o pensamento cria a imagem e, neste momento, começa o desejo. Vemos algo na vitrina, um vestido uma camisa, um carro, seja lá o que for — nós vemos isso — sensação —, e então o tocamos, e então o pensamento diz: “se eu vestir esta camisa ou vestido, como vai ficar bem” — isso cria as imagens e, então, começa o desejo. Assim, a relação entre o desejo e o pensamento é muito próxima. Se não houvesse o pensamento, haveria apenas a sensação. O desejo é a quintessência da vontade. O pensamento domina a sensação e cria o estímulo, o desejo, a vontade de possuir. Quando o pensamento opera no relacionamento — que é lembrança, que é a imagem que um cria do outro pelo pensamento — não pode haver amor. O desejo, o desejo sexual ou outras formas de desejo, impede o amor, porque o desejo faz parte do pensamento.

Krishnamurti – A rede do pensamento 

A nossa consciência não é nossa, pessoal


Temos de considerar juntos se o cérebro, que agora opera apenas parcialmente, tem a capacidade de funcionar inteiramente, completamente. Agora, estamos usando apenas uma parte dele, o que podemos observar por nós mesmos. Podemos perceber que a especialização, que pode ser necessária, produz o funcionamento de apenas uma parte do cérebro. Se somos cientistas, nos especializamos nessa matéria, naturalmente apenas uma parte do cérebro funciona; se somos matemáticos, dá-se o mesmo. No mundo moderno temos que nos especializar e estamos perguntando se, mesmo assim, é possível permitir ao cérebro que opere inteiramente, completamente. (1) 

(...) Agora, pode o cérebro ser totalmente livre para funcionar inteiramente? Porque qualquer especialização, o seguir qualquer caminho, uma determinada rotina habitual ou modelo, inevitavelmente implica que o cérebro está funcionando parcialmente e, portanto, com energia limitada. Vivemos numa sociedade de especialização — engenheiros, físicos, cirurgiões, carpinteiros, e as especializações das crenças, dogmas e rituais particulares. Certas especializações são necessárias, tais como a do cirurgião ou a do carpinteiro; mas, apesar disso, pode o cérebro funcionar completamente, inteiramente e, portanto, possuir uma energia extraordinária? Esta é, acho, uma questão muito séria, a qual temos que indagar juntos.

Se observarmos a nossa própria atividade, descobrimos que o cérebro funciona de modo parcial, fragmentariamente, resultando que nossa energia torna-se cada vez menor à medida que envelhecemos. Biologicamente, fisicamente, quando somos jovens somos cheios de vitalidade; mas aos sermos instruídos e, depois, seguimos um modo de vida que necessita de especialização, a atividade do cérebro torna-se reduzida, limitada e a sua energia torna-se cada vez menor.

Embora o cérebro possa ser obrigado a ter uma determinada forma de especialização — não especialização religiosa, porque isso é superstição — como cirurgião, por exemplo, será que ele também pode operar integralmente? Ele só pode operar integralmente, com tremenda vitalidade de um milhão de anos, quando é completamente livre. (2)

Quando o cérebro está ocupado com problemas, com especialização, com um modo de vida, está numa atividade limitada.

(...) Pode a consciência de vocês, com o seu conteúdo básico de medo, da busca do prazer, com todas as implicações do pesar, da dor e do sofrimento, sendo magoado interiormente, e assim por diante, tornar-se totalmente livre? Podemos ter outras formas de consciência — consciência de grupo, consciência racial, consciência nacional, a consciência do grupo católico, do grupo hindu, e assim por diante — mas, basicamente, o conteúdo da nossa consciência é o medo, a busca do prazer e a dor resultante, o sofrimento e, por fim, a morte. Isso compreende o conteúdo central da nossa consciência... Somos a humanidade porque a nossa consciência, seja a de um cristão que vive no mundo Ocidental, a de um muçulmano no Oriente Médio ou a de um budista no mundo asiático é, basicamente, o medo, a busca do prazer e a interminável carga de dor, mágoas e de sofrimento. A nossa consciência não é nossa, pessoal. Isso é muito difícil de aceitar, porque fomos tão condicionados, tão instruídos que resistimos ao fato real de que não somos, de modo algum, indivíduos: nós somos a humanidade toda... Assim, temos de descobrir se o cérebro pode ficar livre do conteúdo da sua consciência. (3) 

(...) O conteúdo da nossa consciência é formado por todas as atividades do pensamento. Pode o conteúdo ser sempre livre, de modo a haver uma dimensão totalmente diferente?... O cérebro foi condicionado a isso e, portanto, tornou-se limitado. Qualquer coisa que seja condicionada é limitada e, portanto, o cérebro quando está perseguindo as diversas formas de prazer, torna-se, inevitavelmente, pequeno, limitado, estreito... Se vocês observarem, verão que o nosso cérebro está ocupado todo o dia com uma coisa ou outra, tagarelando, falando interminavelmente, como uma máquina que nunca para. E, assim, o cérebro gradualmente vai se desgastando, e se tornará inativo se o computador tomar o seu lugar. (4) 

(...) O medo é o estado comum de toda a humanidade, vivam vocês numa casinha ou num palácio, não tenham nenhum trabalho ou tenham trabalho demais, tenham um tremendo conhecimento a respeito de tudo sobre a face da terra ou sejam ignorantes, sejam vocês padres ou os mais altos representantes de deus, ou sejam o que forem, ainda há este medo profundo enraizado, comum a toda humanidade. Este é o terreno comum onde pisa toda a humanidade. Não há duvidas quanto a isto. Trata-se de um fato absoluto, irrevogável, que não pode ser contradito. Enquanto o cérebro estiver aprisionado neste modelo de medo, sua operação é limitada e, portanto, nunca poderá funcionar inteiramente. Assim, é necessário, se a humanidade quiser sobreviver completamente, como seres humanos e não como maquinas descobrir por si mesmos se é possível ficar totalmente livre do medo.

Estamos preocupados com o próprio medo, não com a expressão do medo. O que é o medo? Quando há medo, existe naquele momento o reconhecimento do medo? Será o medo descritível no momento em que a reação está acontecendo, ou a descrição vem depois? “Depois” é tempo. Suponhamos que alguém esteja com medo: quer seja medo de alguma coisa, medo de algo que fez no passado e não quer que outra pessoa saiba, ou aconteceu alguma coisa no passado que novamente desperta o medo, ou existe um medo por si mesmo sem um objeto? No segundo em que o medo acontece nós o chamamos de medo? Ou isso acontece somente depois? Certamente que é depois de ter acontecido. Isso significa que os incidentes anteriores do medo, que foram mantidos no cérebro, são lembrados imediatamente após a reação acontecer; a memória diz: “Isso é medo.” Na proximidade da reação não o chamamos de medo. É somente depois de acontecer que o chamamos de medo. Nós o chamamos de medo pela lembrança de outros incidentes surgidos, os quais foram chamados de medo. Lembramo-nos desses medos do passado e surge uma nova reação, que imediatamente identificamos com a palavra medo. Isso é bastante simples. Assim, sempre há a memória operando no presente.

Então, o medo é tempo? — O medo de alguma coisa que aconteceu há uma semana, que produziu esta sensação que nós chamamos de medo e a sua implicação futura, de que não deva acontecer de novo; no entanto, ela pode acontecer de novo; logo, temos medo dela. Assim, nós nos perguntamos: será o tempo a origem do medo?... Assim, será o medo parte do tempo psicológico? Parece. E o que é o tempo psicológico? Não é apenas o tempo físico que precisa de espaço, mas também o tempo psicológico precisa de espaço — ontem, a semana passada, modificados hoje, amanhã. Há espaço e tempo. Isso é simples. Assim, será o medo o movimento do tempo? Assim, o pensamento é tempo e o tempo é o medo, obviamente... Assim, o medo é um movimento do pensamento no espaço e no tempo. Se percebermos isso, não como uma ideia, mas como uma realidade (o que significa que temos que dar a esse medo atenção completa no momento em que ele nasce), então ele não é registrado. (5) 

(...) Se vocês derem atenção completa ao fato de que o medo é o movimento do pensamento, então não existirá o medo, psicologicamente. O conteúdo de nosso consciente é o movimento do pensamento no tempo e no espaço. Seja esse tempo muito limitado, ou vasto e extenso, ainda assim é um movimento no tempo e no espaço.

O pensamento criou muitas formas diferentes de poder em nós, psicologicamente, mas todas elas são limitadas. Quando há a libertação da limitação há um surpreendente sentido de poder, não o poder mecânico, mas um extraordinário sentido de energia. Isso nada tem a ver com o pensamento e, portanto, esse poder, essa energia, não podem ser mal-empregados. Mas se o pensamento diz: “vou usá-la”, então esse poder, essa energia é dissipada.  

Outro fator que existe em nossa consciência é o pesar, o desgosto, a dor e as mágoas que permanecem na maioria dos seres humanos desde a infância. Esse ferimento psicológico, a sua dor, é lembrada, resiste; o desgosto nasce dele, o pesar está envolvido com ele. (6) 

(...) estamos perguntando se todo este modelo de estarmos magoados, de conhecermos a solidão e a dor, de resistirmos, de nos recolhermos, de nos isolarmos, o que causa dor física; pode ter um fim; se o desgosto, o pesar de perdermos alguma crença preciosa que temos mantido, ou a desilusão que vem de perdermos alguém que havíamos seguido, por quem lutamos, nos entregando, pode também ter um fim. É possível sermos sempre livres de tudo isto? É possível, se nos aplicarmos, e não apenas falarmos interminavelmente sobre isto. Nestas circunstâncias, percebemos que estamos magoados psicologicamente desde a infância, vemos todas as consequências desse ferimento a que resistimos, do qual nos retraímos, não querendo mais ser feridos. Nós encorajamos o isolamento e, portanto, construímos um muro em volta de nós mesmos. Em nossas relações, estamos fazendo o mesmo.

As consequências de sermos feridos desde a infância são a dor, a resistência, o recolhimento, o isolamento, um medo cada vez mais profundo... Em todo este pesar não há nenhuma compaixão, nenhum amor. O fim do pesar traz o amor — não o prazer, não o desejo, mas o amor. Quando há amor, há compaixão, e disso nasce a inteligência, que nada tem a ver com a “Inteligência” do pensamento. (7) 

(...) Estamos feridos porque construímos uma imagem de nós mesmos. Isto é um fato. Quando dizemos: “estou ferido”, é a imagem que temos a nosso próprio respeito que está ferida. Alguém aparece e pisa com sua bota essa imagem, e nós nos ferimos. Nós nos ferimos pela comparação: “Eu sou isto, mas a outra pessoa é melhor”. Enquanto tivermos uma imagem de nós mesmos, de qualquer espécie, alguém vai espetar nela um alfinete e vamos nos ferir. Se fazemos uma imagem de nós mesmos... então alguém irá ferir essa imagem... Se dermos atenção completa à imagem que temos de nós mesmos — atenção, não concentração, mas atenção —, então veremos que a imagem não tem sentido e desaparece. (8) 

Krishnamurti - 21 de julho de 1981

(1) A rede do pensamento – pág. 51
(2) A rede do pensamento – pág. 52
(3) A rede do pensamento – pág. 53
(4) A rede do pensamento – pág. 55
(5) A rede do pensamento – pág. 57-58
(6) A rede do pensamento – pág. 58
(7) A rede do pensamento – pág. 60
(8) A rede do pensamento – pág. 61-62

sábado, 22 de setembro de 2012

Rompendo com o círculo vicioso da consciência humana


O pensamento, sendo limitado, cria problemas — divisões nacionais, econômicas e religiosas; depois, o pensamento diz: “devo resolvê-los”. Desse modo, o pensamento está sempre funcionando na resolução dos problemas...

A nossa consciência foi programada como consciência individual. Estamos questionando se essa consciência, que aceitamos como individual, é, na realidade, individual. Não digam: “O que acontecerá se eu não for um indivíduo?” Algo completamente diferente pode acontecer. Vocês podem ter um treinamento individual para uma ocupação particular, ter um treinamento individual para uma ocupação particular, uma profissão particular podem ser um cirurgião, um médico, um engenheiro, mas isso não os torna um indivíduo. Vocês podem ter um nome diferente, uma forma diferente — isso não faz a individualidade; nem a aceitação de que o cérebro, através do tempo, afirmou: “eu sou um indivíduo, é meu desejo me realizar, vir a ser pela luta”. Essa assim chamada consciência individual, que é a de vocês, é a consciência de toda a humanidade.

Se as suas consciências, que vocês aceitaram como separadas, não são separadas, então qual será a natureza da nossa consciência? Parte delas são as respostas sensórias. Essas respostas sensórias são, naturalmente, necessariamente programadas para defendê-los da fome, para procurar por alimento, para respirar, inconscientemente. Biologicamente, vocês são programados. Então, o conteúdo das suas consciências, inclui as muitas lesões e ferimentos que vocês receberam na infância, as muitas formas de culpa; ela inclui as várias ideias, certezas imaginárias; as muitas experiências, tanto sensórias como psicológicas; há sempre a base, a raiz do medo em suas várias formas. Com o medo, naturalmente, surge o ódio. Onde há medo deve haver violência, agressão, a extraordinária ânsia de ser bem-sucedido, tanto no mundo físico quanto no mundo psicológico. No conteúdo da consciência, há a constante perseguição do prazer; o prazer da posse, da dominação, o prazer do dinheiro que dá o poder, o prazer de um filósofo com o seu imenso conhecimento, o prazer do guru com o seu circo. O prazer, ademais, tem inúmeras formas. Também há a dor, a ansiedade, o profundo sentido de enfrentar a solidão e a dor, não apenas a assim chamada dor pessoal, mas também a enorme dor produzida pelas guerras, pela negligência, por essa interminável conquista de um grupo de pessoas por outro grupo. Nessa consciência há os conteúdos racial e de grupo; e, finalmente, há a morte.

Esta é a nossa consciência — crenças, certezas e incertezas, ansiedades, solidão e a interminável miséria. Estes são os fatos. E dizemos que esta consciência é minha! É mesmo? Vão ao Extremo Oriente ou ao Oriente Próximo, à América, à Europa, a qualquer lugar onde estão os seres humanos; eles sofrem, são ansiosos, solitários, deprimidos, melancólicos, estão lutando em conflito — eles são iguais a você. Desse modo, a sua consciência é diferente da do outro? Eu sei que é muito difícil as pessoas aceitarem — vocês podem aceitar isso logicamente; intelectualmente vocês podem dizer: “Sim, talvez seja assim”. Mas ter esta sensação total de que vocês são o resto da humanidade exige uma grande dose de sensibilidade. Não é um problema a ser resolvido. Não é que vocês devam aceitar que não são um indivíduo, mas devem se esforçar para sentir essa entidade humana global. Se assim o fizerem, vocês o transformam num problema que o cérebro fica completamente disposto a tentar resolver! Mas se vocês realmente o olharem com a mente, com o coração, com todo o seu ser totalmente cônscio desse fato, então vocês apagarão o programa. Ele ficará naturalmente apagado. Mas se vocês disserem: “Eu vou apaga-lo”, então, vocês estarão novamente de volta ao mesmo modelo... Vocês podem ter examinado lógica, razoável e sensatamente a questão e descoberto que assim é, mas o cérebro, que está programado para o sentido de individualidade, vai se revoltar contra isso (o que vocês estão fazendo agora). O cérebro reluta em aprender. Enquanto o computador irá aprender porque nada tem a perder. Mas aqui estão vocês, com medo de perder alguma coisa. (10) 

(...) pela experiência, nós adquirimos conhecimento; pelo conhecimento, memória; a resposta da memória é o pensamento, então, do pensamento, vem a ação; com essa ação vocês aprendem mais, e assim o ciclo se repete. Esse é o padrão de nossa vida. Essa forma de aprendizagem nunca solucionará os nossos problemas, porque é repetição. Nós adquirimos mais conhecimento, o que pode levar à uma melhor ação, mas essa ação é limitada e nós continuamos a repetir isso. A atividade proveniente desse conhecimento não solucionará os nossos problemas humanos. Nós não os solucionamos; é tão óbvio. Depois de milhões de anos, nós não solucionamos os nossos problemas: estamos nos arruinando mutuamente, estamos competindo uns com os outros; nós nos odiamos, queremos ser bem-sucedidos, todo o modelo é repetido desde o tempo que o homem surgiu e ainda estamos nisso. Façam o que quiserem de acordo com este modelo e nenhum problema humano será solucionado, sela ele político, religioso ou econômico, porque é o pensamento que está operando. (11) 

(...) O modo como estamos vivendo há milhões de anos tem sido a repetição do mesmo processo de adquirir conhecimento e de agir a partir desse conhecimento. Essa ação e esse conhecimento são limitados. Essa limitação cria problemas e o cérebro acostumou-se a solucionar os problemas que o conhecimento criou repetidamente. O cérebro fica preso a esse modelo e estamos dizendo que esse modelo jamais, em quaisquer circunstâncias, solucionará os nossos problemas humanos. É óbvio, nós não os solucionamos até agora. Deve haver um movimento diferente, totalmente diferente, uma ação perceptiva não-acumulativa. Ter uma percepção não-acumulativa é não ter nenhum preconceito. É não ter absolutamente nenhum ideal, nenhum conceito, nenhuma fé — porque tudo isso destruiu o homem; isso não solucionou os nossos problemas.

Assim, vocês têm um preconceito? Têm um preconceito que tem algo em comum com um ideal? Naturalmente. Os ideais existem para serem consumados no futuro e o conhecimento torna-se extraordinariamente importante na realização dos ideais. Assim, por acaso vocês são capazes de observar sem a acumulação, sem a natureza destrutiva do preconceito, dos ideais, da fé, da crença e das suas próprias conclusões e experiências? Há a consciência de grupo, a consciência nacional, a consciência linguística, a consciência profissional, a consciência racial, e há o medo, a ansiedade, o pesar, a solidão, a procura do prazer, do amor e, finalmente, a morte. Se vocês continuarem a agir dentro desse círculo manterão a consciência humana do mundo. Percebam só a verdade disto. Vocês são parte dessa consciência e a sustentam dizendo: “Eu sou um indivíduo. Meus preconceitos são importantes. Os meus ideais são essenciais.” Repetindo a mesma coisa vezes sem conta. Agora, a manutenção, a sustentação e a nutrição dessa consciência acontecem quando vocês repetem esse modelo. Mas quando vocês se livram dessa consciência, estão introduzindo um fator totalmente novo no todo dessa consciência.

Agora, se entendemos a natureza da nossa consciência, se percebemos o modelo como ela está operando neste interminável ciclo do conhecimento, da ação e da divisão — uma consciência que tem sido sustentada há milênios — se percebemos a verdade de que tudo isto é uma forma de preconceito, e nos livramos dele, introduzimos um fator novo no antigo. Isto quer dizer que você, como um ser humano que faz parte da consciência do restante da humanidade, pode afastar-se do antigo modelo de obediência e aceitação. Este é o momento verdadeiramente decisivo da sua vida. O homem não pode continuar repetindo o modelo; ele perdeu o seu significado — no mundo psicológico, ele perdeu totalmente o seu significado. Se vocês se realizam, quem se importa? Se vocês se tornam santos, que importância tem isso? Enquanto que, se vocês se afastam totalmente do modelo, afetam toda a consciência da humanidade. (12)
14 de julho de 1981

Krishnamurti, em :

(10) A rede do pensamento – pág. 22 à 24
(11) A rede do pensamento – pág. 25
(12) A rede do pensamento – pág. 26 à 28

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Só pela seriedade é possível o conhecimento da natureza real que somos

Parece-me que o que se faz necessário é uma revolução total na consciência. E não será possível tal revolução, se permanecermos insensatamente apegados a crenças, idéias e conceitos. Não encontraremos saída de nossa confusão, angústia, conflito, pela constante repetição do Gita, do Upanishad e demais livros sagrados; isso poderá levar à hipocrisia, a uma vida de insinceridade, de interminável pregação moral, porém, nunca a enfrentar realidades. O que nos cumpre fazer é, segundo me parece, tornar-nos cônscios das condições de nossa existência diária, de nossos infortúnios, nossas angústias, nossa confusão e conflito, e tratar de compreende-los tão profundamente que possamos lançar uma base adequada, para começar. Não há outra solução. Temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser segundo um certo padrão ou ideal. Temos de ver realmente o que somos e, daí, iniciar a transformação radical.
Dirão vocês: "Que feito ou valor pode ter uma transformação individual? Como poderá isso alterar o curso da existência humana? Que pode um só indivíduo fazer?" — Esta me parece uma pergunta errônea, porque não existe tal coisa — consciência individual; só há consciência, da qual somos uma parte. Um indivíduo pode segregar-se, cercar-se dentro de um determinado espaço chamado "eu". Mas esse Eu está relacionado com o todo, esse Eu, não é separado. E, com a transformação dessa seção especial, dessa determinada parte, podemos influir na totalidade da consciência. Considero muito importante compreender que não estamos falando de salvação individual ou reforma individual, porém, sim, da necessidade de estarmos conscientes da parte em relação com o todo. Desse percebimento nascerá uma ação que atingirá o todo. (...) Devemos descobrir, sem dúvida, uma fonte diferente, uma diferente maneira de vida que não esteja em contradição com o nosso viver de cada dia, e ao mesmo tempo, promover uma profunda compreensão religiosa da vida.
Para mim, o importante não é apenas a imediata "resposta" aos diferentes "desafios" — resposta que deve ser adequada — mas também resposta que seja produto de uma vida profundamente religiosa. Entendo por "vida religiosa", não uma vida ritualista, de ajustamento a determinado padrão, porém, a vida religiosa resultante da compreensão. Porque, sem o conhecimento de nós mesmos — o que realmente somos — por mais desonestos, falsos, astutos, hipócritas e ignóbeis que sejamos, não temos base para nenhuma ação ou pensamento religioso.
(...) Se não há autoconhecimento, se não há compreensão do Eu — não do "Eu superior", do Eu com "E" maiúsculo — porém do "eu" ordinário, do homem que frequenta diariamente o escritório, que é apaixonado, irascível, violento, cruel, hipócrita, acomodado — se não há essa compreensão total, completa, de todo nosso ser, nesse caso, toda ação, todo pensamento, toda idéia, só conduzirá a mais confusão e mais angústia.
E parece-me que temos em mãos uma imensa tarefa, tarefa que exige seriedade. Por esta palavra, entendo a capacidade de prosseguir até o fim na busca da Verdade ou numa pesquisa qualquer. Por não sermos verdadeiramente sérios, somos muito superficiais, fáceis de distrair e de satisfazer. Mas, para investigar profundamente em si próprio, o indivíduo tem de ser sério em extremo, e conservar-se nesse estado de seriedade. E isso requer energia; ninguém pode ser sério se não tem energia. Não deve essa energia ser esporádica, acidental, porém uma energia constante, capaz de observar um fato tal como é, e capaz de seguir esse fato até o fim — uma energia espantosa, tanto mental, como corporal.
E, para se ter energia, não deve haver conflito, já que o conflito é o principal fator de deterioração. Somos pessoas que foram educadas para viver em conflito. Toda a nossa vida é conflito, dentro e fora de nós — com o próximo, com nós mesmos, e em nossas relações. Tudo o que tocamos, tanto psicológica como ideologicamente, gera conflito. E o conflito é o maior fator de deterioração.
Ora, a meu ver, a compreensão desse conflito, compreensão não parcial porém total, é a mais importante tarefa da mente humana. Porque, só com a completa terminação do conflito podem terminar todas as ilusões; só então tem a mente a possibilidade de penetrar fundo, na investigação da Verdade, no investigar se algo existe além do tempo. E só essa mente é capaz de descobrir o que é o amor e de descobrir o estado mental criador, porque tudo o mais, em qualquer forma que seja, é pura especulação. A mente religiosa não especula; move-se, tão somente, de fato para fato. E não é possível observar o fato quando há conflito ou tensão de qualquer espécie.
Assim, creio que o nosso problema principal resulta de termos perdido completamente a religião, o espírito religioso. Vocês podem ter templos, frequentar o templo, usar vestes sagradas, cultivar todas as demais futilidades desse gênero; mas não são pessoas verdadeiramente religiosas. E o problema do mundo não pode ser resolvido em nenhum outro nível, exceto o religioso.
A vida verdadeiramente religiosa é aquela que vivemos na compreensão do conflito e libertados do conflito.
Nosso principal interesse, por conseguinte, é este: a compreensão do conflito interior e exterior. Esses dois ("interior" e "exterior") não são coisas separadas. O mundo não está separado de vocês e de mim; vocês são o mundo e o mundo é vocês. Isto não é uma teoria; se observarem bem, verão que é um fato real. Vocês estão condicionados pela sociedade em que vivem... Vocês são considerados como um indivíduo nascido neste país, educado de acordo com uma certa tradição, crendo ou não crendo em Deus. Vocês são moldados pela sociedade, pelas circunstâncias. Suas crenças, suas conduta, suas maneira de pensar, tudo é resultado do condicionamento de vocês pela sociedade em que vivem. Este é um fato óbvio, irrefutável. Mas, separamos o mundo como uma coisa diferente de nós, porque o mundo é forte demais, com todas as suas pressões, tensões e conflitos, com suas inumeráveis exigências e as condições da existência. E dele nos retraímos para dentro de nós mesmos, refugiando-nos em nossas crenças, nossas esperanças, temores, conceitos especulativos. Por isso há separação entre nós e o mundo. Mas, se observarem, verão que o mundo não difere de nós — é como a maré, que flui e reflui. Se não compreenderem o mundo exterior, não compreenderam o interior. E, para compreende-lo, devem observá-lo — não de um dado ponto de vista, porém, da mesma maneira como um cientista observa. O cientista só observa em seu laboratório, mas nós, entes humanos, devemos observar o mundo de cada dia, em nossas relações, em nossas atividades. E, como disse, para compreendermos toda esta existência complexa, tormentosa, desesperante — existência sem amor e sem beleza — temos de compreender o conflito.
Surge o conflito, decerto, quando há contradição — contradição de diferentes desejos, diferentes exigências, tanto consciente como inconscientes. Mas, em geral, estamos conscientes desses conflitos. E, se estamos conscientes, não temos solução para eles; por isso, tratamos de distanciar-nos deles, buscando refúgio na religião, no trabalho social ou em entretenimentos vários, tais como ir ao templo, ir ao cinema, ou beber. E só há possibilidade de se resolverem os conflitos, quando a mente é capaz de compreender a si própria.

sábado, 21 de julho de 2012

Eckhart Tolle - Quem pensamos que somos

Nosso sentido de quem somos determina o que percebemos como nossas necessidades e o que importa na nossa vida - e o que nos interessa tem o poder de nos irritar e perturbar. Podemos usar isso como um critério para descobrir até que ponto nos conhecemos. O que nos interessa não é o que dizemos nem aquilo em que acreditamos, mas o que nossas ações e reações revelam como importante e sério. 

Portanto, talvez queiramos nos fazer a seguinte pergunta: o que me irrita e perturba? Se coisas pequenas têm a capacidade de nos atormentar, então quem pensamos que somos é exatamente isto: pequeno. Essa é nossa crença inconsciente. Quais são as coisas pequenas? No fim das contas, todas as coisas são pequenas porque todas elas são efêmeras.

Podemos até dizer: "Sei que sou um espírito imortal" ou "Estou cansado deste mundo louco. Tudo o que quero é paz" - até o telefone tocar. Más notícias: o mercado de ações caiu, o acordo pode não dar certo, o carro foi roubado, nossa sogra chegou, cancelaram a viagem, o contrato foi rompido, nosso parceiro ou parceira foi embora, alguém exige mais dinheiro, somos responsabilizados por algo. De repente ocorre um ímpeto de raiva, de ansiedade. Uma aspereza brota na nossa voz: "Não aguento mais isto."Acusamos e criticamos, atacamos, defendemos ou nos justificamos, e tudo acontece no piloto automático. Alguma coisa obviamente é muito mais importante agora do que a paz interior que um momento atrás dissemos que era tudo o que desejávamos. E já não somos mais um espírito imortal. O acordo, o dinheiro, o contrato, a perda ou a possibilidade da perda são mais relevantes. Para quem? Para o espírito imortal que dissemos ser? Não, para nosso pequeno eu que busca segurança ou satisfação em coisas que são transitórias e fica ansioso ou irado porque não consegue o que deseja. Bem, pelo menos agora sabemos quem de fato pensamos que somos.

Se a paz é de fato aquilo que desejamos, então devemos escolhê-la. Se ela fosse mais importante para nós do que qualquer outra coisa e se nós nos reconhecêssemos de verdade como um espírito em vez de um pequeno eu, permaneceríamos sem reagir e num absoluto estado de alerta quando confrontados com pessoas ou circunstâncias desafiadoras. Aceitaríamos de imediato a situação e, assim, nos tornaríamos um com ela em vez de nos separarmos dela. Depois, da nossa atenção consciente surgiria uma reação. Quem nós somos (consciência) - e não quem pensamos que somos (um pequeno eu) - estaria reagindo. Isso seria algo poderoso e eficaz e não faria de ninguém nem de uma situação um inimigo.

O mundo sempre se assegura de impedir que nos enganemos por muito tempo sobre quem de fato pensamos que somos nos mostrando o que realmente é importante para nós. A maneira como reagimos a pessoas e situações, sobretudo quando surge um desafio, é o melhor indício de até que ponto nos conhecemos a fundo.

Quanto mais limitada, quanto mais estreitamente egóica é a visão que temos de nós mesmos, mais nos concentramos nas limitações egóicas - na inconsciência - dos outros e reagimos a elas. Os "erros" das pessoas ou o que percebemos como suas falhas se tornam para nós a identidade delas. Isso significa que vemos apenas o ego nos outros e, assim, fortalecemos o ego em nós. Em vez de olharmos "através" do ego deles, olhamos "para" o ego. E quem está fazendo isso? O ego em nós.

As pessoas muito inconscientes sentem o próprio ego por meio do seu reflexo nos outros. Quando compreendemos que aquilo a que reagimos nos outros também está em nós (e algumas vezes apenas em nós), começamos a nos tornar conscientes do nosso próprio ego. Nesse estágio, podemos também compreender que estamos fazendo às pessoas o que pensávamos que elas estavam fazendo a nós. Paramos de nos ver como uma vítima.

Nós não somos o ego. Portanto, quando nos tornamos conscientes do ego em nós, isso não significa que sabemos quem somos - isso quer dizer que sabemos quem não somos. Mas é por meio do conhecimento de quem não somos que o maior obstáculo ao verdadeiro conhecimento de nós mesmos é removido.

Ninguém pode nos dizer quem somos. Seria apenas outro conceito, portanto não nos faria mudar. Quem nós somos não requer crença. Na verdade, toda crença é um obstáculo. Isso não exige nem mesmo nossa compreensão, uma vez que já somos quem somos. No entanto, sem a compreensão, quem nós somos não brilha neste mundo. Permanece na dimensão não manifestada que, é claro, é seu verdadeiro lar. Nós somos então como uma pessoa aparentemente pobre que não sabe que tem uma conta de 100 milhões de reais no banco. Com isso, nossa riqueza permanece um potencial oculto.

Eckhart Tolle - O despertar de uma nova consciência
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill