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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Conhecimento: a trave de tropeço para a visão intuitiva

(...)David Bohm: Mas chega então o momento em que o conhecimento não parece mais ser conhecimento.

Krishnamurti: Os políticos e as pessoas que estão no poder não escutariam isso. Nem tampouco os supostos indivíduos religiosos. Apenas as pessoas que estão descontentes, que sentem que perderam tudo, escutarão. Mas nem sempre elas escutam, de modo que isso é realmente um ponto crucial. O que faremos a respeito disso? Digamos, por exemplo, que eu tenha abandonado o catolicismo, o protestantismo, e tudo isso. Além disso, eu tenho uma profissão e sei que é necessário que eu tenha conhecimento nessa área. Percebo, porém, como é importante que eu não seja capturado no processo do conhecimento psicológico, e contudo não consigo abandoná-lo. Ele está sempre se esquivando; estou brincando de pregar peças com ele. É como um jogo de esconde-esconde. Está bem! Dissemos que essa é a parede que tenho de derrubar. Não, eu não — essa é a parede que tem que ser derrubada. E dissemos que ela pode ser derrubada por meio do amor e da inteligência. Não estamos pedindo uma coisa extremamente difícil?

DB: É difícil.

K: Eu estou deste lado da parede, e você está me pedindo para ter esse amor e essa inteligência que a destruirão. Mas eu não sei o que é esse amor, o que é essa inteligência, porque estou preso aqui, neste outro lado da parede. Eu percebo logicamente, de forma sensata, que o que você diz é preciso, verdadeiro, lógico, e vejo sua importância, mas a parede é tão resistente, tão dominante e poderosa que não consigo atravessá-la. Dissemos outro dia que a parede poderia ser derrubada por meio da visão intuitiva — se a visão intuitiva não for transformada numa ideia.

DB: Sim.

K: Quando a visão intuitiva é discutida, há o perigo de fazermos uma abstração dela; isso significa que nos afastamos do fato, e que a abstração se torna extremamente importante. O que quer dizer, mais uma vez, conhecimento.

DB: Sim, a atividade do conhecimento.

K: Assim, estamos novamente de volta!

DB: Penso que a dificuldade geral é que o conhecimento não está simplesmente sentado ali, como uma forma de informação, mas é extremamente ativo, reunindo e modelando todos os momentos em função do conhecimento passado. Desse modo, mesmo quando levantamos essa questão, o conhecimento fica o tempo todo à espera, e depois age. Toda a nossa tradição supõe que o conhecimento não é ativo e sim passivo. Mas na verdade ele é ativo, embora as pessoas geralmente não pensem dessa maneira. Elas acham que ele está apenas sentado ali.

K: Ele está esperando.

DB: Esperando para agir. E não importa o que tentemos fazer a respeito, o conhecimento já estará agindo. No momento em que percebermos que esse é o problema, ele já terá agido.

K: Sim. Mas será que eu o percebo como um problema, ou como uma ideia que devo executar? Percebe a diferença?

DB: O conhecimento, automaticamente, transforma tudo numa ideia, que devemos executar. Essa é a maneira global como ele é construído.

K: A maneira global como temos vivido.

DB: O conhecimento não pode fazer nada além disso.

A Eliminação do Tempo Psicológico

Quem pode ter a visão intuitiva?

N: Quem tem essa visão intuitiva?

K: "Quem", não. Simplesmente, ocorre uma visão intuitiva.

N: Ocorre uma visão intuitiva e então a consciência fica vazia de seu conteúdo...

K: Não, senhor. Não.

N: Você está querendo dizer que o próprio esvaziamento de conteúdo é a visão intuitiva?

K: Não. Estamos dizendo que o tempo é um fator que formou o conteúdo. Ele o construiu, e também pensa a respeito dele. Todo esse fardo é o resultado do tempo. A visão intuitiva de todo esse movimento, que não é "minha" visão intuitiva, provoca transformações no cérebro, pois ela não está ligada ao tempo.

DB: Você está dizendo que esse conteúdo psicológico é uma certa estrutura, que existe fisicamente no cérebro? E que, para esse conteúdo psicológico existir, o cérebro formou durante muitos anos, muitas ligações entre as células, que constituem esse conteúdo?

K: Exatamente.

DB: E há então um lampejo de visão intuitiva, que percebe tudo isso e que não é necessário. Conseqüentemente, tudo isso começa a se dissipar, e quando se dissipou, não há mais conteúdo. Depois, qualquer coisa que o cérebro faça será algo diferente.

K: Vamos um pouco mais adiante. Haverá então um vazio total.

DB: Bem, vazio do conteúdo. Mas quando você diz vazio total, quer dizer vazio de todo esse conteúdo interior?

K: Exatamente. E esse vazio possui uma tremenda energia. Ele é energia. 

DB: Poderíamos dizer então que o cérebro, com todas essas ligações entrelaçadas, prendeu grande quantidade de energia?

K: Isso mesmo. Desperdício de energia.

DB: E quando tudo isso começa a se dissipar, essa energia está ali.

K: Sim.

DB: Você diria que ela é uma energia tão física quanto qualquer outro tipo?

K: Naturalmente. Agora podemos entrar em maiores detalhes, mas esse princípio, a raiz da coisa, é uma ideia ou um fato? Ouço tudo isso fisicamente com o ouvido, mas posso torná-lo uma ideia. Se eu escuto isso, não apenas com o ouvido, mas em meu ser, na minha própria estrutura, o que acontece então? Se esse tipo de audição não ocorrer, tudo isso se toma apenas uma ideia, e eu sigo girando pelo resto da minha vida brincando com idéias. Se houvesse um cientista aqui, especialista em bio-feedback ou outro tipo de estudo do cérebro, será que ele aceitaria tudo isso? Ele ao menos escutaria?

DB: Alguns escutariam, mas evidentemente a maior parte não o faria. 

K: Não. Mas como podemos então atingir o cérebro humano?

DB: Tudo isso soaria bastante abstrato para a maior parte dos cientistas, entende? Eles diriam que talvez seja assim; que é uma bonita teoria, mas que não há qualquer prova de que ela seja verdadeira.

K: Naturalmente. Eles diriam que ela não os instiga muito porque não percebem nenhuma prova.

DB: Diriam que se aparecer mais alguma evidência, eles voltarão mais tarde e ficarão muito interessados. Veja bem, você não pode fornecer qualquer prova, porque não importa o que esteja acontecendo, ninguém poderá vê-la com os próprios olhos.

K: Compreendo. Mas estou perguntando: o que faremos? O cérebro humano — não o "meu " cérebro ou o "seu", mas o cérebro — evoluiu ao longo de um milhão de anos. Uma "aberração" biológica poderá escapar disso, mas como se poderá fazer com que a mente humana em geral perceba tudo isso?

DB: Penso que temos de comunicar a necessidade, a inevitabilidade do que você está dizendo. Como quando uma pessoa vê uma coisa acontecendo diante dos seus olhos e diz: "É assim." Certo?

K: Mas isso requer que uma pessoa escute, que uma pessoa diga: "Quero captar isso, quero compreender isso, quero descobrir isso." Entende o que estou dizendo? Aparentemente, essa é uma das coisas mais difíceis da vida.

DB: Bem, é a função desse cérebro ocupado - que está ocupado consigo mesmo e não escuta.

N: Aliás, uma das coisas é que essa ocupação começa muito cedo. Quando somos jovens ela é muito poderosa, e continua por toda nossa vida, Como podemos tornar isso claro através da educação?

K: No momento em que percebemos a importância de o cérebro não estar ocupado — em que percebemos isso como uma tremenda verdade — descobrimos maneiras e métodos de ajuda por meio da educação, criativamente. Ninguém pode ser ensinado, nem deve copiar ou imitar, senão estará perdido.

DB: Então o problema é este: "Como é possível comunicar isso ao cérebro, que rejeita, que não escuta?" Existe alguma maneira?

K: Não, se eu me recuso a escutar. Veja, acho que a meditação é um fator muito importante nisso tudo. Sinto que estivemos meditando, embora as pessoas comuns não considerem isso como meditação.

DB: Elas usam essa palavra com tanta freqüência...

K: ...que seu significado está realmente perdido. A verdadeira meditação, porém, é esta: esvaziamento da consciência. Você está me seguindo?

DB: Sim, mas sejamos claros. Antes, você disse que isso ocorreria através da visão intuitiva. Agora você está dizendo que a meditação propicia a visão intuitiva?

K: Meditação é visão intuitiva.

DB: Ela já é visão intuitiva. Então é uma espécie de trabalho que fazemos? Considera-se usualmente a visão intuitiva como um lampejo, mas a meditação é mais constante.

K: Temos de ser cuidadosos. O que entendemos por meditação? Podemos rejeitar os sistemas, métodos e autoridades reconhecidas, porque são normalmente apenas repetições tradicionais — bobagens vinculadas ao tempo.

N: Você acha que alguns deles puderam ser originais, puderam ter uma verdadeira visão intuitiva, no passado?

K: Quem sabe? Agora, meditação é essa penetração, essa sensação de se mover sem qualquer passado.

DB: O único ponto a ser esclarecido é que quando você usa a palavra meditação, refere-se a algo mais que visão intuitiva, entende?

K: Muito mais. A visão intuitiva libertou o cérebro do passado, do tempo. Essa é uma declaração imensa...

DB: Você está querendo dizer que precisamos ter visão intuitiva se quisermos meditar?

K: Sim, exatamente. Meditar sem ter qualquer percepção de vir a ser. 

DB: Não podemos meditar sem a visão intuitiva. Não podemos encarar a meditação como um procedimento graças ao qual atingiremos a visão intuitiva.

K: Não. Isso imediatamente implica o tempo. Seguir um procedimento, um sistema, um método, para se alcançar a visão intuitiva é um absurdo. Ter uma visão intuitiva da ganância ou do medo liberta a mente desses últimos. A meditação, portanto, tem uma qualidade muito diferente. Não tem nada a ver com todas as meditações dos gurus. Poderíamos dizer então que para ocorrer a visão intuitiva tem de haver o silêncio?

DB: Bem, isso é a mesma coisa; parece que estamos andando em círculos.

K: No momento.

DB: Sim, minha mente tem o silêncio.

K: Então o silêncio da visão intuitiva limpou, purificou tudo isso. 

DB: Toda essa estrutura da ocupação.

K: Sim. Não há então nenhum movimento como nós o conhecemos; nenhum movimento de tempo.

DB: Existe movimento de algum outro tipo?

K: Não vejo como podemos medir isso com palavras, essa sensação de um estado ilimitado.

DB: Mas você estava dizendo antes que, apesar disso, precisamos encontrar alguma linguagem, mesmo que seja indizível.

K: Sim — nós encontraremos essa linguagem.


Jiddu Krishnamurti e David Bohm - 1° de junho de 1980, Brockwood Park, Hampshire
Do livro: A Eliminação do Tempo Psicológico

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O que entendemos por iluminação?

Há uma qualidade totalmente diferente de ser, que vem com o não-pensamento: nem bom, nem mau, simplesmente um estado de não-pensamento. Você simplesmente observa, você simplesmente permanece consciente, mas não pensa. E, se algum pensamento surgir... SURGIRÁ, porque os pensamentos NÃO SÃO SEUS, estão flutuando no ar. Em derredor, há uma esfera-de-percepção, uma esfera-de-pensamento. Como existe o ar, existe o pensamento em torno de você, e ele vai penetrando por sua própria vontade. Só deixará de fazer isso, assim que você se tornar mais receptivo. Se você se tornar mais e mais receptivo, o pensamento simplesmente desaparece, desfaz-se, porque a percepção é uma energia maior que o pensamento. 

A percepção é como fogo para o pensamento. É algo como quando uma lâmpada é acesa, em sua casa, e a escuridão não pode entrar. Você apaga a luz e, num momento, a escuridão penetra — vem de toda parte, sem a menor demora. Se há uma luz acesa na casa, a escuridão não pode entrar. Os pensamentos são como a escuridão: só entram, se não houver luz lá dentro. A percepção é o fogo: você se torna mais receptivo e os pensamentos entrarão cada vez menos. 

Se você se tornar REALMENTE INTEGRADO com a sua percepção, os pensamentos não penetrarão absolutamente em você: você se tornará uma fortaleza inexpugnável, nada é capaz de penetrá-la. NÃO porque você a tenha fechado, lembre-se, você está inteiramente aberto. Apenas a própria energia da percepção é que tornou-se sua fortaleza. E, se os pensamentos não podem entrar, virão e passarão ao seu lado. Você verá que eles surgem, mas, simplesmente, no momento em que se aproximarem de você, se desviarão. Então você pode ir a qualquer lugar, então você pode ir para o próprio inferno — nada poderá lhe afetar. Isso é o que entendemos por iluminação. 

O S H O — Tantra: a Suprema Compreensão

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Somente quando não há desejo, abre-se a porta além-mente

Com o desejo você não pode estar silencioso. O desejo é, realmente, rumor. Mesmo que você não tenha pensamentos — se tem a mente controlada e pode parar de pensar — um desejo mais profundo continuará existindo porque você está parando de pensar apenas para obter algo. Um ruído sutil ali estará. Algures, interiormente, alguém estará olhando e perguntando se a coisa desejada foi ou não obtida. "Pensamentos foram detidos. Onde está a divina realização, onde está Deus, onde está a iluminação?" Mas o próprio desejo se tornará fútil, se você se tornar consciente disso.  

A estratégia da mente está em que sempre você se torna consciente do que certo objeto tornou-se fútil. Então, você muda o objeto, e, mudando-o, o desejo continua a apoderar-se da sua consciência... E do momento em que você se torna consciente da futilidade do objeto que está desejando, a mente vai para outro objeto. 

Quando isso acontece, o intervalo fica perdido. Quando algo se torna fútil, inútil, sem atrativo, permaneça no intervalo. Tome consciência de que se foi o objeto que se fez fútil ou se o próprio desejo é fútil. E se você pode sentir a própria futilidade do desejo, subitamente algo desaparece de você. Subitamente você está transformado para um novo nível de consciência. Isso é uma inaninadade, uma ausência, uma negatividade. Não há início de um novo circulo.... E então, que fazer?

Comece com um desejo. Esse desejo não vai lhe levar ao ponto de ocorrência, mas esse desejo pode levar-lhe à futilidade do desejo. Temos de começar com desejo; é impossível começar com "não-desejo". Se você pudesse começar com "não-desejo", então a ocorrência poderia dar-se naquele mesmo momento... Se você pudesse começar com "não-desejo", naquele mesmo momento aconteceria! Mas isso é impossível. 

Você não pode começar sem desejo. A mente faria desse não-desejo um objeto desejado, também. A mente dirá: "Está bem, tentarei não desejar." Dirá: "Realmente, parece fascinante. Tentarei fazer algo, de modo que esse desejo não apareça." Mas a mente está fadada a ter algum desejo. Só pode começar com desejo, mas não pode terminar com desejo. 

Temos de começar desejando algo que não possa ser conseguido pelo desejo. Mas, se você tem consciência desse fato — se você está consciente do fato de que está desejando algo que não pode ser desejado — isso ajuda. Essa consciência do fato ajuda. Agora, a qualquer momento, você pode dar o salto. E quando você der o salto, não haverá desejo. 

Você desejou o mundo. Agora, deseja o divino. É aí que temos de começar. O início é errado, mas você tem de começar dessa maneira por causa desse processo bloqueador da mente. Essa é a única forma de mudá-lo. 

[...] A mente é o desejo. A mente nada pode fazer sem desejo. Você não pode transcender a mente através do desejo porque a mente é o desejo. Assim, a mente tem de desejar, mesmo aquilo que é encontrado apenas quando não existe desejo. Mas começa com a parede. Conheça o desejo e você esbarrará na porta.  Mesmo Buda teve de começar com um desejo, mas ninguém lhe disse — o fato não lhe era conhecido — que a porta se abre apenas quando não há desejo.

[...] Portanto, há duas maneiras através das quais o desejo de ir além é criado. A primeira é o fato de você ter, de algum modo, sentido o sabor do além. Mas isso não pode ser planejado; ou você o tem ou não o tem. Ainda assim, desde que sentiu esse sabor, você começa a desejá-lo. O desejo pode tornar-se um obstáculo, torna-se um obstáculo — mas é assim que as coisas começam. Antes de mais nada, você tem de desejar o não-desejar.

Ou a coisa acontece da outra maneira. A outra maneira é o fato de você não ter tido nenhum sabor do além — nenhum! Não conheceu, absolutamente, o além, mas este aposento foi-se tornando uma tortura. Você não pode mais tolerá-lo. Você nada sabe sobre o além, mas, seja o que for que ele possa ser, você está pronto para escolhe-lo (embora lhe seja desconhecido), porque este aposento, tornou-se uma angústia, um inferno. Você não sabe o que há no além — se há ou não alguma coisa, se o além existe ou não; porém, você não suporta mais permanecer neste aposento. Este aposento tornou-se um sofrimento, um inferno. Então, você tenta... então começa a desejar o desconhecido, o além. Então, de novo aparece o desejo: o desejo de fugir dali. Mas você tem de começar com um desejo; desejo daquilo que não pode ser desejado, daquilo que não pode ser alcançado através do desejo.

Lembre-se, constantemente, disto: continuando a fazer o que quer que seja, recorde-se, sempre de que só fazendo, você não pode alcançar aquilo... Você não pode obter aquilo, que só Deus pode dar-te aquilo. Esta é uma forma simples de fazer-lhe consciente de que seus esforços são inúteis, que só a graça resolverá... Mas isso não significa que nada faça. Você deve fazer tudo... mas recorde-se, isso não vai acontecer simplesmente pelo que você faz. Algo acontece com você, algo desconhecido. A graça desce sobre você. Seus esforços lhe farão mais receptivo para a graça, isso é tudo. Mas não é o resultado direto de seus esforços que leva a graça a descer sobre você. 

[...] Portanto, continua desejando, fazendo algo pelo além, lembrando-se, constantemente que ele não virá através do seu esforço. Mas não cesse com esses esforços porque eles irão lhe ajudar, de certa forma. Irão fazer-lhe se sentir tão frustrado pelo próprio fato de desejar, que, subitamente, você se sentará, e estará apenas sentado — sem nada fazer. E a coisa acontece! E acontece o salto... a explosão!

O S H O — A arte do êxtase  

segunda-feira, 28 de abril de 2014

União Mistica

No processo de autoconhecimento, união é integração, quando todos os aspectos do ser convivem em harmonia, gerando um sentimento de plenitude.

Sentir-se pleno, exige que os conflitos existentes dentro de nós sejam plenamente harmonizados.

Por exemplo, se insistimos em negar nossas reais emoções, ou em racionalizar nossos sentimentos, um desequilíbrio começa a se instalar em nós.

Ele pode, a principio, não ser percebido, e se continuarmos a ignorá-lo, certamente se expandirá, atingindo nosso corpo físico na forma de alguma doença. 

Somente uma atenção permanente que nos permita perceber, a cada momento, as verdadeiras motivações por trás de nossos comportamentos, pode levar-nos a evitar as armadilhas do ego, aquela parte de nós que insiste em manter uma falsa imagem, mesmo quando algo não vai bem.

Mas é preciso estar preparado, pois às vezes pagamos um alto preço por nos mantermos fiéis à nossa voz interior. A princípio, pode parecer mais cômodo ignorar nossa consciência e agir contra ela para garantir a simpatia do mundo.

Entretanto, quando isto se torna um hábito, podemos nos perder de tal modo, que já não saberemos mais diferenciar o nosso real desejo, daquilo que nos foi imposto como sendo o melhor.

A união mística só acontece quando nossa divisão interior desaparece e integramos os opostos existentes em nós, o masculino e o feminino, de forma harmoniosa. Isto pressupõe agir com coragem e determinação, quando necessário, mas também se manter passivo, amoroso e receptivo ao que a vida quiser nos enviar.

Permanecer em silêncio, esperando germinar as sementes que plantamos, ao invés de tentar forçar seu crescimento com atitudes ansiosas e desesperadas, pode ser um sinal de que estamos gradualmente penetrando num novo patamar de crescimento interior. Aos poucos, a verdade de nosso ser passará a predominar, até que finalmente, um dia, substitua a falsa imagem que construímos como defesa contra o mundo.

"Causa da infelicidade
Felicidade ou infelicidade não são dependentes de circunstâncias externas. Não há nem felicidade nem infelicidade nas coisas externas; seu estado de alegria ou de tristeza depende de sua reação a essas coisas externas. Na verdade, as coisas não importam; o que importa é a sua visão das coisas; tudo depende de como olhamos as coisas. Assim, em suma, a importância é do indivíduo, e não do objeto: a importância está em você e não no objeto que você possui. Daí que podemos dizer que a felicidade ou a infelicidade reside dentro de nós... Nós somos a causa de nossa miséria, porque seja de que forma estejamos, nós mesmos criamos essa condição.

Por favor, tenha esta verdade em sua mente, porque você não pode transformar a sua vida sem ela: se você se sente infeliz, saiba que alguma coisa está errada em seu ponto de vista. Uma vida miserável é resultado de uma maneira errada de olhar para as coisas; e uma vida feliz é o resultado de uma abordagem correta em relação à vida. Por favor, sempre que você se sentir miserável, tente buscar pela causa da sua infelicidade dentro de você, não do lado de fora. E então, gradualmente, você descobrirá as causas da sua infelicidade, escondidas em suas próprias reações. Então, uma nova vida começa para você".
 
Osho, Lead Kindly Light.


domingo, 30 de março de 2014

Que preparação é necessária para a experiência do Satori?

Pergunta: "Que espécie de preparação é necessária para a experiência do Satori?"

 O Satori torna-se possível para um grande número de pessoas, porque, às vezes, não necessita preparação. Às vezes acontece por acaso. A situação é criada, mas sem conhecimento. Há muitas pessoas que conhecem o satori. Podem não o ter conhecido com esse nome, podem não o ter interpretado como satori, mas o conheceram. Um grande fluxo de amor pode criá-lo. 

Mesmo através de drogas químicas, o satori é possível. É possível através da mescalina, do LSD, da maconha, porque, através de certa modificação química, a mente pode expandir-se o bastante para que haja o relance. Afinal, todos temos corpos químicos — a mente e o corpo são unidades químicas — assim, através da química, o relance também é possível. 

Às vezes, um perigo súbito pode penetrar tanto em você, que o relance se faz possível... às vezes um grande choque o leva tanto ao momento, que o relance pode ser possível. E, para aqueles que têm alguma sensibilidade estética, que têm coração poético, que têm uma atitude de "sensibilidade" para com a realidade (não uma atitude intelectual) o relance pode ser possível. 

Para uma personalidade racional, lógica, intelectual, o relance é impossível. Às vezes pode acontecer com uma pessoa intelectual, mas através de alguma intensa tensão intelectual — quando, subitamente, a tensão é relaxada. Aconteceu com Arquimedes. Ele estava em satori quando saiu de seu banho, e, nu, correu para a rua gritando: "Eureka, eu encontrei!" Foi uma liberação súbita da constante tensão em que ele estava em relação a um problema. O problema foi resolvido, assim, a tensão causada por ele foi, de súbito, e completamente afrouxada. Ele correu nu pelas ruas, gritando: "Eureka, eu encontrei!"

Para uma pessoa intelectual, se um grande problema exigiu de sua mente total que chegasse ao auge da tensão intelectual, e é subitamente resolvido, isso pode levá-lo ao momento do satori. Mas para as mentes estéticas é mais fácil. 

Pergunta: "Quer dizer que mesmo a tensão intelectual pode ser um caminho para chegar ao satori?"

Pode ser, e pode não ser. Se você se torna intelectualmente tenso durante esta discussão e a tensão não é levada ao extremo, ela será um obstáculo. Mas se você se torna totalmente tenso, e, então, de súbito, algo é compreendido, aquela compreensão será uma libertação, e o satori pode ocorrer. 

Ou, se esta discussão não for absolutamente tensa, se estivermos apenas conversando despretensiosamente — totalmente relaxados, totalmente não-sérios — mesmo que esta discussão pode ser uma experiência estética. Não são estéticas apenas as flores: mesmo as palavras podem sê-lo. Não são estéticas apenas as árvores: seres humanos também podem sê-lo. Não se trata de você estar observando as nuvens flutuantes e isso tornar possível o satori: mesmo se você está participando de um diálogo, isso se torna possível. Mas é necessária uma participação relaxada, ou uma participação muito tensa. Você pode estar relaxado para começar, ou o relaxamento pode vir porque sua tensão chegou ao auge e então liberou-se. Quando qualquer dessas coisas acontece, mesmo um diálogo, uma discussão podem tornar-se fonte de satori

Qualquer coisa pode tornar-se fonte do satori: depende de você. Nunca depende de qualquer outra coisa. Você está passando por uma rua; uma criança está rindo... e satori pode acontecer!

Há um haicai que conta uma história mais ou menos assim: um monge ia atravessando uma rua e uma flor muito comum surgia de uma parede — uma flor muito comum, uma flor cotidiana, que existe por toda a parte. Ele olhou para a flor. Era a primeira vez em que realmente olhava para ela, tão comum, tão encontradiça era essa flor! Por isso mesmo, o monge nunca se dera ao trabalho de realmente contemplá-la. Olhou para ela... e o satori aconteceu!

Nunca se contempla uma flor comum. É tão comum, que nos esquecemos dela. Assim, o monge nunca tinha, antes, olhado realmente aquela flor. Pela primeira vez em sua vida tinha visto, e o fato tornou-se fenomenal. Aquele primeiro encontro com a flor, com aquela flor tão comum, tornou-se único. Agora, ele lamentava aquilo. A flor sempre estivera esperando por ele, mas ele jamais olhara para ela. Sentiu-se penalizado, pediu perdão... e a coisa aconteceu!

A flor está ali, e o monge está ali, dançando. Alguém pergunta: "O que você está fazendo?"

Ele diz: "Vi algo incomum numa flor muito comum. A flor sempre esteve esperando. Eu nunca antes tinha olhado para ela, mas hoje o encontro se deu." Agora, a flor já não é algo comum. O monge penetrou nela, e a flor penetrou no monge. 

Uma coisa comum, mesmo um seixo, pode ser uma fonte. Para uma criança, um seixo é uma fonte, porém para nós não o é, porque se tornou demasiado familiar. Tudo quanto seja incomum, tudo quanto seja raro, tudo quanto surja aos seus olhos pela primeira vez, pode ser a fonte para o satori, e se você estiver disponível — se você estiver ali, se sua presença ali se encontra — o fenômeno pode ocorrer. 

Satori acontece para quase todos. Pode não ser interpretado como tal, você pode não ter sabido que se tratava do satori, mas ocorre. E essa ocorrência é a causa de toda a busca espiritual. De outra forma, a busca espiritual não seria possível. Como você poderia procurar algo do qual nunca tivesse sequer um relance? Primeiro algo deve vir de você, algum raio veio a você (um toque... uma brisa...) algo deve vir até você para tornar-se uma procura. 

Uma procura espiritual só é possível se algo aconteceu sem que você soubesse. Pode ter sido no amor, pode ter sido na música, pode ter sido na natureza, pode ter sido na amizade. Pode estar em qualquer relacionamento. Algo lhe aconteceu e foi a fonte de beatitude; e agora é uma recordação, apenas uma memória. Pode não ser sequer memória consciente, pode ser inconsciente, pode estar à espera, como uma semente, em algum lugar, profundamente dentro de você. Essa semente irá tornar-se a origem de uma procura, e você irá investigando sobre algo que não conhece. O que você está procurando? Não o sabe. Mas ainda assim, em algum lugar, mesmo desconhecido de você, certa experiência, certo momento de beatitude tornou-se parte e parcela de sua mente. Tornou-se uma semente, e agora essa semente está procurando seu caminho de saída, e você está em busca de algo a que não se pode dar um nome, algo que você não pode explicar. 

O que você está procurando? Se uma pessoa espiritual é sincera e honesta, não pode dizer: "Estou procurando Deus", porque não sabe se Deus existe ou não. E a palavra "deus" é absolutamente destituída de significação, a não ser que você tenha tido o conhecimento. Assim, você não pode procurar Deus ou a liberação (moksha). Não pode. 

Um investigador sincero terá de voltar-se para si mesmo. A procura não se dirige para algo exterior: volta-se para algo interior. Em algum lugar, sabe-se que algo foi entrevisto de relance, e tornou-se uma semente, e o está compelindo, empurrando-o, em direção de alguma coisa que você desconhece. 

A busca espiritual não é um arrancar do exterior, é um impelir para o interior. É sempre um empurrão. Se for um puxão, a busca é insincera, sem autenticidade. Então nada mais é do que a procura de uma nova espécie de gratificação, novo movimento dos seus desejos. 

A busca espiritual é sempre um empurrão em direção de alguma coisa que está profundamente dentro de você, e da qual você teve um relance. Você não interpretou aquilo, não o conheceu conscientemente. Pode ser a recordação da infância, de um satori que mergulhou profundamente no inconsciente. Pode ser um beatífico instante de satori, no ventre materno, uma experiência beatífica sem preocupações, sem tensão, com a mente em estado de completo relaxamento. Pode ser um sentimento profundo, inconsciente, um sentimento que você não conheceu conscientemente, e que o está impelindo. 

Os psicólogos concordam em que todo o conceito de busca espiritual vem da experiência beatífica no ventre materno. É tão beatífico, tão escuro; não há um só raio de tensão. Com o primeiro relance de luz a tensão começa a ser sentida, mas a escuridão é de relaxamento completo. Não há preocupação, não há nada a fazer. Você nem mesmo tem de respirar; sua mãe respira por você. Você existe exatamente como se interpreta que alguém existe quando alcançou a liberação (moksha). Tudo apenas é... e ser é beatitude. Nada tem de ser feito para alcançar esse estado: é assim, apenas. 

Assim, pode ser que exista uma profunda e inconsciente semente dentro de você e que experimentou total relaxamento. Pode ser que se trate de alguma experiência da infância, experiência de bem-aventurança estética, um satori infantil. Toda infância é "dada-ao-satori", mas nós o perdemos. O Paraíso foi perdido, e Adão dali foi expulso. Mas a recordação está ali, a memória desconhecida que o impele. 

Samadhi é diferente disso. Você tem de conhecer samadhi, mas, através de satori há a promessa de que algo maior é possível. Satori se torna uma promessa que te leva em direção ao samadhi.

O S H O 

Satori: o bom é o inimigo do Melhor

Pergunta: Qual é a diferença na experiência entre satori (em Zen, um relance da iluminação) e samadhi (consciência cósmica)? 

Samadhi começa com um intervalo, mas nunca termina. Um intervalo sempre começa e termina — tem limites: um início e um fim, mas samadhi começa com um intervalo e assim se eterniza. Não há fim para ela. Portanto se a ocorrência vem como um intervalo, e não há fim nela, trata-se de samadhi, mas se é um intervalo completo — com um início e um fim — então é satori, e isso é diferente. 

Se é apenas um relance, apenas um intervalo, e o intervalo é de novo percebido — se algo está enquadrado e o enquadramento é completo (você dá uma olhada furtiva e volta; você salta para aquilo e volta), se algo acontece e de novo é perdido — trata-se de um satori. É um relance de samadhi, mas não é o samadhi. Samadhi significa o início do conhecimento, sem fim algum. 

Na Índia não temos palavra que corresponda a satori, assim, às vezes, quando o intervalo é grande, podemos confundir satori com samadhi. Mas uma coisa nunca é a outra. Trata-se de um relance, apenas. Você veio ao cósmico, olhou para ele, e então tudo tornou a desaparecer. Você não será o mesmo, naturalmente; agora, nunca mais será o mesmo. Algo penetrou em você, algo lhe foi acrescentado, você não pode ser novamente o mesmo, mas, ainda assim, o que lhe modificou não está em você. É apenas uma recordação, uma memória. É apenas um relance. 

Se você pode recordar isso — se pode dizer "Conheci o momento" — ele foi apenas um relance, porque, do momento em que o samadhi acontece, você não estará ali para recordar. Então, você nunca poderá dizer: "Eu o conheci", porque, com o conhecimento, o conhecedor se perde. Só com o relance o conhecedor permanece. 

Assim, o conhecedor pode conservar aquele relance como memória — pode adorá-lo, ansiar por ele, desejá-lo tentar novamente senti-lo — mas ele ainda ali está. Quem teve um relance, quem olhou, ali está. Aquilo fez-se uma lembrança. E agora aquela lembrança irá segui-lo de perto, irá assediá-lo, e pedirá o fenômeno, uma e muitas vezes. 

Do momento em que o samadhi acontece, você ali não está para recordá-lo. Samadhi jamais se torna uma parte da memória, porque o que era já não é. Como dizem no Zen: "O homem antigo já não existe, e o novo chegou..." Esses dois jamais se encontraram, portanto não há possibilidade de que exista qualquer  lembrança. O antigo se foi e o novo chegou, e não houve encontro entre os dois, porque o novo só pode vir quando o antigo se foi. Então, não há lembrança. Não há assédio nem anseio com relação a isso. Não há desejo dirigido a isso. Então, tal como você é, está à vontade e nada há a desejar. 

Não se trata de você ter matado o desejo — não! É a indesejabilidade, no sentido de que aquele que podia desejar já não está ali. Então, não há anseio, não há futuro, porque o futuro é criado através de nossos anseios, é uma projeção dos nossos desejos. 

Se não há desejo, não há futuro. E, se não há futuro, não há necessidade do passado, porque o passado é sempre o cenário de fundo contra o qual, ou através do qual, o futuro é desejado. 

Se não há futuro, se você sabe que neste  mesmo momento vai morrer, não há necessidade de recordar o passado. Então, não há necessidade nem mesmo de recordar seu nome, porque o nome só tem significação se houver um futuro. Pode ser necessário. Mas, se não há futuro, você apenas queima, todas as pontes que o ligam ao passado. Você não precisa delas. O passado fez-se inteiramente sem importância. É só contra o futuro, ou para o futuro que o passado tem importância. 

Do momento em que aconteceu o samadhi, o futuro torna-se não existencial. Não existe, só o presente existe. É o único tempo. Não há nem mesmo o passado.  O passado desapareceu e o futuro também, e uma só e momentânea existência se torna a existência total. Você está nela, mas não como uma entidade que é diferente dela. Você não pode ser diferente porque você só se torna diferente da existência total devido ao seu passado e ao seu futuro. O passado e o futuro, cristalizados ao seu redor, formam a única barreira entre você e o presente momento que está acontecendo. Assim, quando ocorre o samadhi, não há passado nem futuro. Então, é que você esteja no presente, mas você é o presente, você se tornou o presente. 

Samadhi não é um relance, samadhi é uma morte; satori, porém, é um relance, não uma morte. E satori é possível através de muitas formas! Uma experiência estética pode ser uma possível fonte para o satori; a música pode ser uma possível fonte para o satori, o amor pode ser uma possível fonte para o satori. Em qualquer momento intenso, no qual o passado se torna  sem importância — em qualquer momento intenso que você esteja vivendo no presente (um momento de amor, ou de música, ou de sentimento poético, ou qualquer outro fenômeno estético, no qual o passado não interfira e no qual não haja o desejo do futuro) —, o satori torna-se possível. Mas é apenas um relance. 

O relance é importante, porque através do satori, você pode sentir pela primeira vez o que o samadhi pode significar. O primeiro sabor, ou o primeiro perfume que distingue o samadhi, vem através do satori. Por isso, o satori auxilia. Mas tudo quanto auxilia pode ser um obstáculo se você se agarra a ele, e se você sentir que ele é tudo. O satori tem uma beatitude que pode lhe enganar, tem uma beatitude que lhe é própria. 

Por você não ter conhecido o samadhi, para você, o satori é o definitivo, e você se agarra a ele. Mas se você se agarra a ele, pode transformar o que era útil, o que era amistoso, em algo que se faz uma barreira, um inimigo. Portanto, você deve estar alerta para o possível perigo do satori. Se assim o fizer, então a experiência do satori será útil. 

Um só e momentâneo relance é algo que nunca poderá ser obtido por outros meios. Ninguém pode explicá-lo. Não há palavras, não há comunicação, que possa ao menos dar uma sugestão disso. O satori é importante, mas é apenas um relance, uma ruptura, como uma única e momentânea ruptura na existência, no abismo. 

Você nem sequer tomou conhecimento do instante, nem mesmo se fez alerta para ele, e já está fechado para você. Apenas um clique na máquina fotográfica — um clique — e tudo é perdido. Então uma obsessão é criada: você arriscará tudo por aquele momento. Mas não anseie por ele, não o deseje. Deixe que ele adormeça em sua memória. Não faça dele um problema: esqueça-o, apenas. Se você puder esquecê-lo, se puder não se agarrar a ele, esses momentos voltarão a você, mais e mais; os relances virão a você, mais e mais. 

A mente solicitadora torna-se fechada, o relance está encerrado. Ele sempre vem quando você não está alerta para ele, quando você não o está esperando — quando está relaxado, quando nem mesmo está pensando nisso, quando nem mesmo está meditando. Mesmo quando você está meditando, o relance se torna impossível, mas quando não está meditando, quando está num momento de abandono — nem mesmo fazendo alguma coisa, nem mesmo esperando por alguma coisa — nesse momento de relaxamento, o satori acontece.

Começará acontecer mais e mais, mas não pense nele, não anseie por ele. E nunca o tome, erradamente, por samadhi.

O S H O 

quarta-feira, 26 de março de 2014

O que devo fazer para me libertar?

Desde sempre o homem reflete sobre a sua condição, pensa que não é como gostaria de ser, define de maneira mais ou menos correta os vícios do seu funcionamento; faz, em suma, a sua auto­crítica. Esse trabalho de crítica, às vezes grosseiro, atinge ocasionalmente, em alguns ensinamentos, um altíssimo grau de profundidade e sutileza. As modalidades indesejáveis do funcionamento interior do homem comum são com frequência reconhecidas e descritas de modo bastante preciso.

Diante dessa riqueza do trabalho diagnóstico, surpreende a pobreza do trabalho terapêutico. As escolas que ensinaram e ensinam sobre o problema do homem, depois de mostrarem o que não anda bem no homem comum e a forma pela qual isso acontece, chegam necessariamente à pergunta: "Como remediar esse estado de coisas?" E aí começam a debandada e a pobreza das doutrinas. Chegando a esse ponto, quase todas elas se extraviam - ora grosseira ora sutilmente -, exceto a doutrina zen (ou, é preciso ainda esclarecer, "alguns mestres zen").

Isso não quer dizer que, em outros ensinamentos, certos homens não tenham obtido a sua "realização". Mas só o Zen puro expõe a questão e refuta os falsos caminhos de modo claro.

O erro essencial de todos os falsos caminhos consiste no fato de o remédio proposto não ter como objeto a causa profunda da miséria do homem comum. A análise critica do estado do homem não remonta o suficiente ao determinismo de seus fenômenos interiores; nesse encadeamento, ela não remonta ao fenómeno primeiro, detendo-se nos sintomas. O pesquisador que não vai além do sintoma, concentrando nele o seu esgotado pensamento analítico, não pode evidentemente conceber o remédio para a situação senão como a elaboração organizada e artificial de um sintoma que difere por inteiro do sintoma descoberto. Por exemplo: um homem chega à conclusão de que a sua miséria reside em suas manifestações de cólera, de amor-próprio, de sensualidade, etc., e julga que o caminho consiste em dedicar-se a produzir manifestações de doçura, de humildade, de ascetismo, etc. Outro homem, mais inteligente, chegará à conclusão de que a sua miséria reside em sua agitação mental e considerará que o caminho consiste em dedicar-se, por meio de certos exercícios, a tranquilizar a mente. Essa doutrina nos dirá: "A sua miséria vem do fato de você sempre desejar algo, do seu apego ao que você possui"; e isso desembocará, de acordo com o grau de inteligência do mestre, no conselho de distribuir todos os bens ou de aprender o desapego interior dos bens exteriores. Essa doutrina considerará que a miséria do homem reside na sua falta de autocontrole e ensinará "iogas", métodos que visam a um progressivo treinamento do corpo, do sentimento, do comportamento altruísta, do saber ou da atenção.

Tudo isso é, para o Zen, uma sofisticada domesticação e leva a uma ou a outra sujeição (dando a ilusória e exaltadora impressão de que nos tornamos livres). No fundo de todas essas coisas há este raciocínio simplista: "Isto não vai bem em mim dessa maneira; então, a partir de agora, vou fazer tudo ao contrário." Esse modo de apresentar o problema, ao partir de uma forma considerada má, encerra o pesquisador nos limites do domínio formal e lhe recusa, por conseguinte, toda possibilidade de restaurar a sua consciência para além de toda forma; quando me fecho no plano dualista, nenhuma inversão de sinal me liberta da ilusão dualista e me restaura na Unidade. Isso se assemelha por completo ao problema de "Aquiles e a tartaruga"; a maneira de formular o problema o encerra nos limites que devem ser transpostos e o torna, portanto, insolúvel.

O penetrante pensamento do Zen permeia todos os nossos fenômenos sem deter-se na consideração de suas modalidades. Ele sabe que, na realidade, nada vai mal em nós e que sofremos porque não compreendemos que tudo caminha à perfeição, porque cremos ilusoriamente que algo não está bem e que é preciso remediá-lo. Dizer que todo o mal advém do fato de o homem crer ilusoriamente que lhe falta algo constituiria ainda uma frase absurda, já que o "mal" de que fala é destituído de realidade e já que uma crença ilusória - portanto, sem realidade - não poderia ser a causa do que quer que seja. Além disso, se observo bem, não encontro positivamente em mim essa crença de que me falta algo (como poderia estar positivamente presente a crença ilusória numa ausência?); o que constato é que os meus fenômenos interiores caminham como se essa crença estivesse em mim. Mas, se os meus fenômenos o fazem, isso não se deve à presença dessa crença, mas ao fato de a intuição intelectual direta de que não me falta nada estar adormecida no fundo da minha consciência, de ainda não ter sido despertada. Ela está lá, pois nada me falta, sobretudo isso, mas está adormecida e não produz os seus efeitos. Todo o meu "mal" aparente provém do adormecimento da minha fé na perfeita Realidade; despertas em mim, não tenho senão "crenças" no que me oferecem os meus sentidos e a minha mente, que trabalha no plano dualista (crenças na inexistência de uma Perfeita Realidade Una). Essas crenças são formações ilusórias, sem realidade, consequências do adormecimento da minha fé. Sou um "homem de pouca fé", ou, mais exatamente, sem nenhuma fé, ou, melhor ainda, de fé adormecida, que não crê senão no que percebe no plano da forma. (Essa noção da fé presente mas adormecida explica a necessidade que temos, para nos libertar, de um mestre "despertador", de um ensinamento, de uma revelação; com efeito, o adormecimento comporta precisamente a não-fruição daquilo que pode despertar.)

Em suma, todas as coisas parecem ir mal em mim porque a ideia fundamental de que tudo é perfeito, eterno e totalmente positivo está adormecida no centro do meu ser, porque não está desperta, viva e atuante. Aí atingimos enfim o primeiro fenômeno doloroso, aquele de que deriva todo o resto dos nossos fenômenos dolorosos. O adormecimento da nossa fé na Perfeita Realidade Una (fora da qual nada "é") constitui o fenômeno primário de que deriva toda a cadeia distorcida; ele é o fenómeno causal, e nenhuma terapêutica do ilusório sofrimento humano poderá ser eficaz se não se encaminhar para esse ponto.

A pergunta "O que devo fazer para me libertar?" o Zen responde: "Você nada tem a fazer, já que nunca sofreu nenhuma sujeição e já que não existe, na realidade, nada de que você tenha de se libertar." Essa resposta pode ser malcompreendida e parecer desencorajadora porque encerra um equívoco referente à palavra "fazer". No homem comum, "fazer" se decompõe, de forma dualista, em concepção e ação, sendo à ação, à execução do que concebeu que o homem aplica a palavra "fazer"; tudo se organizará de modo espontâneo e harmonioso no nosso "fazer" quando deixarmos justamente de tentar modificá-lo de alguma maneira e trabalharmos apenas em despertar a nossa fé adormecida, isto é, em conceber a ideia primordial que temos de conceber. Essa ideia total, enquanto esférica e imóvel, não resulta, evidentemente, em nenhuma ação particular, não tem nenhum dinamismo específico; ela é a pureza central do Não-Agir, através da qual passará, não perturbado, o dinamismo espontâneo da vida natural real. Do mesmo modo, pode-se e deve-se dizer que despertar e alimentar essa concepção não é em absoluto "fazer", no sentido que essa palavra necessariamente assume para o homem comum, e até que esse despertar no pensamento se traduz na vida por uma diminuição (que tende à cessação) de todas as inúteis manipulações às quais o homem se dedica a partir de seus fenômenos interiores.

Evidentemente, é possível dizer que trabalhar na concepção de uma ideia é "fazer" algo. Mas, tendo-se em vista o sentido que essa palavra tem para o homem comum, é melhor, para evitar um perigoso equívoco, falar como o Zen e mostrar que o trabalho que pode abolir a angústia humana é um trabalho do intelecto puro que não implica a "feitura" de alguma coisa específica na vida interior, envolvendo, pelo contrário, a cessação do desejo de modificá-la.

Vejamos a questão com maiores detalhes. O trabalho que desperta a fé na única e perfeita Realidade que é o nosso "ser" se decompõe em dois momentos. Num momento preliminar, nosso pensamento discursivo concebe todas as ideias necessárias para que compreendamos teoricamente a existência em nós dessa fé adormecida e a possibilidade do seu despertar, bem como o fato de que só este último pode suprimir os nossos sofrimentos ilusórios. No curso desse momento preliminar, o trabalho efetuado pode ser denominado "fazer" alguma coisa. Mas essa compreensão teórica, supostamente obtida, ainda não modifica em nada o nosso estado doloroso; é preciso que ela se transforme numa compreensão vivenciada, experimentada por todo o nosso organismo, compreensão teórica e prática, ao mesmo tempo abstrata e concreta - só então a nossa fé será despertada. Mas essa transformação, esse transcender a forma, não pode resultar de nenhum trabalho direto "feito" pelo homem comum, inteiramente cego ao que não é formal. Não existe nenhum "caminho" para a libertação; isso é evidente, já que na realidade nunca estivemos submetidos a nada e continuamos a não estar. Não é preciso "ir" a lugar algum, não há nada a "fazer". O homem não tem nada a fazer diretamente para vivenciar a sua liberdade total e infinitamente jubilosa. O que ele deve fazer é indireto e negativo; o que deve compreender, através de um trabalho, é a enganosa ilusão de todos os "caminhos" que pode decidir trilhar. Quando seus esforços perseverantes lhe trouxerem a clara compreensão de que tudo o que pode "fazer" para libertar-se é vão, quando desvalorizar concretamente a própria noção de todos os "caminhos" imagináveis, irromperá o "satori", visão real que não tem "caminho" porque não é preciso ir a lugar algum, porque, desde toda a eternidade, estamos no centro único e fundamental de tudo.

Assim, pois, a "libertação", isso a que se dá esse nome e que é o desaparecimento da ilusão da sujeição, sucede cronologicamente a um trabalho interior, mas não é na verdade causada por ele. Esse trabalho interior formal não pode causar aquilo que transcende toda forma e que, por conseguinte, o transcende; ele é apenas o instrumento através do qual age a Causa Primeira.

Em suma, não existem formalmente nem a famosa "porta estreita" nem o "caminho" para o qual ela se abriria, a menos que se queira chamar assim a compreensão de que não há caminho, não há porta, não há lugar algum aonde ir. Eis aí o grande segredo - e, ao mesmo tempo, a grande evidência - que nos revelam os mestres zen.

Hubert Benoit
Do livro "A Doutrina Suprema, segundo o pensamento zen"*

quinta-feira, 13 de março de 2014

Abandone a única barreira e declare-se Deus

Todo o meu esforço é para acabar com todas as suas muletas, todas as suas crenças, inclusive em mim. Primeiro eu finjo que ajudo... porque essa é a única linguagem que você entende" Depois, aos poucos, começo a me retirar. Primeiro afasto-a de seus outros desejos e ajudo-a a se apaixonar pelo nirvana, pela libertação, pela verdade. E quando vejo que todos os seus desejos desapareceram e resta apenas um, então começo a insistir nesse desejo. Digo: "Abandone-o porque ele é a única barreira". 

Nirvana é o último pesadelo. Você não pode voltar atrás, porque uma vez abandonados esses desejos fúteis, você não pode trazê-los de volta. Uma vez abandonados, desaparece todo o charme e mistério que possuem. Você não consegue nem acreditar que os esteve carregando por tanto tempo. Tudo parece tão ridículo que você não consegue voltar atrás.

Então começo a afastar de você o último desejo. Quando ele desaparece, você está iluminado. Então você é Bhagwan. Todo meu esforço aqui é para torná-lo capaz de declarar-se Deus — e não só declarar, mas viver essa declaração. 

O S H O 

quarta-feira, 12 de março de 2014

A experiência zero

Vocês não podem conceber o que acontece a uma pessoa quando se torna um Buda, num país, num mundo, que está completamente louco. Ela não está mais louca, mas tem que seguir as suas leis ou vocês a matam. Tem que fazer concessões. É claro que ela não espera que vocês lhe façam concessões. Vocês não estão num estado de poder pensar. Mas essa pessoa pode. Somente o superior pode fazer concessões ao inferior; só o maior pode fazer concessões ao menor; só o sábio pode fazer concessões à pessoas estúpidas.[...]

Você está aqui comigo. Está diante de algo original. Quando você falar sobre isso a outra pessoa, não será o original. Ouviu algo de mim e transmitiu isso a alguém, mas muito do que eu disse se perdeu. Então essa pessoa vai para uma outra e transmite a mensagem. De novo muito se perde. Dentro de poucos anos, depois de algumas transferências, a verdade está completamente distorcida, e restarão apenas mentiras.[...]

Todo o meu propósito aqui é empurrá-lo para a morte, empurrá-lo para o abismo do desconhecido, empurrá-lo para a EXPERIÊNCIA ZERO. Na Índia, chamamos isso Samadhi. É uma experiência zero — onde de um certo modo você existe e de certo modo não existe; onde você está vazio de todo conteúdo, permanecendo só o continente; onde tudo o que estava escrito no livro desapareceu, ficando apenas o livro vazio. Esta é a Bíblia real, o Veda real. Quando toda a escrita desapareceu e o livro ficou absolutamente vazio; quando todo o conteúdo, todos os pensamentos, a mente, as emoções, os desejos desapareceram e há apenas consciência pura, vazia de conteúdo. É isso que chamo de abismo. Você diz: você é meu pico, meu Everest... Sim, é verdade, mas o pico só virá mais tarde. Antes vem o abismo. Também sou o seu abismo.[...]

O ego funciona de uma maneira muito tradicional. Para ser revolucionário, é preciso que se vá além do ego. E não se pode fazer isso de uma vez por todas, é preciso fazê-lo a cada momento, pois o ego vai se fechando, vai se enfurnando em você. Cada momento que você passa, seja o que for que tenha vivido, o que tenha experimentado, torna-se o seu ego. Você tem que descartá-lo. A renúncia não é de uma vez por todas. Você tem que renunciar a cada momento, tudo que se acumula tem que ser renunciado. Só então a renúncia torna-se uma revolução. Você tem que renunciar não só as coisas banais do mundo, tem que renunciar às ideologias banais também — ao judaísmo, ao Cristianismo, ao Hinduísmo, ao Maometanismo. Tem que renunciar aos pensamentos para que possa permanecer um reflexo puro. Então a sua consciência pode permanecer imperturbada, descolorida de qualquer pensamento; você pode ver as coisas diretamente e a sua consciência não é perturbada nem distorcida por nenhum preconceito.[...]

A verdade não pode permanecer por muito tempo na terra; ela vem e desaparece. Se você estiver disponível ela o atingirá e depois desaparecerá. Você não pode prendê-la à terra. A terra é tão falsa e as pessoas tão absortas em suas mentiras que a verdade não pode ficar aqui por muito tempo. Sempre que um Buda caminha sobre a terra, a verdade caminha por alguns momentos. Quando um Buda se vai, a verdade desaparece. Restam apenas pegadas e você segue adorando as pegadas. As pegadas não são o Buda e as palavras pronunciadas por ele acabam sendo meras palavras. Quando você as repete elas são meras palavras, não significam nada. O significado vinha de Buda que estava por trás delas. Você pode repetir exatamente a mesma cosia, mas as palavras não serão as mesmas, pois as palavras por trás das palavras não serão as mesmas.
O S H O 

quinta-feira, 6 de março de 2014

O "outro estado" além da monotonia da vida

Penso que a maioria de nós acha a vida muito insípida. Para ganharmos sustento, precisamos exercer uma certa profissão, e esta se torna muito monótona; começa-se uma rotina, que temos de seguir, ano por ano, até morrer. Ricos ou pobres, e ainda que sejamos muito eruditos ou dotados de espírito filosófico, nossas vidas são em geral superficiais, vazias. Há evidentemente uma insuficiência em nós mesmos, e ao nos tornarmos cônscios desse vazio procuramos preenchê-lo com conhecimentos, com alguma espécie de atividade social, ou nos refugiamos em divertimentos de toda ordem, ou apegamo-nos a alguma crença religiosa. Ainda que tenhamos uma certa capacidade e sejamos muito eficientes, nossas vidas são, ainda assim, insípidas e, para nos livrarmos dessa insipidez, dessa cansativa monotonia da vida, buscamos uma certa forma de enriquecimento religioso, tentamos conquistar "aquele estado de ser" extra-mundano que não é uma rotina e que, por enquanto, pode ser chamado "o outro estado". Em nossa busca desse "outro estado", encontramos muitos sistemas diferentes, diferentes caminhos que se supõe conduzirem a ele; e, assim, pelo disciplinamento de nós mesmos, pela prática de determinado sistema de meditação, pela observância de certo ritual ou a repetição de certas frases, esperamos alcançar aquele estado. Sendo a nossa vida um ciclo interminável de dores e prazeres, de variadas experiências sem muita significação ou mera repetição, sem sentido algum, de uma mesma experiência — o viver constitui para a maioria de nós uma monótona rotina. Por esta razão, o problema de nosso enriquecimento interior, da conquista do "outro estado" — chame-o Deus, Verdade, bem-aventurança ou como você quiser — se torna muito urgente, não é verdade? Você pode estar bem de vida, bem casado, ter filhos, você pode pensar inteligente e equilibradamente, entretanto, sem aquele estado, a vida se torna horrivelmente vazia. 

Que se deve fazer? Como conquistar aquele estado? Ou é completamente impossível conquistá-lo? A nossa mente, como hoje está constituída, é sem dúvida muito insignificante, limitada, condicionada; e embora uma mente limitada possa especular a respeito do "outro estado", suas conjecturas serão sempre limitadas. Ela poderá formular um estado ideal, conceber e descrever aquele outro estado, mas as suas concepções permanecem dentro de suas estreitas limitações, e penso que aí é que se encontra o fio da meada: no perceber que a mente não pode, em circunstância alguma, experimentar, viver aquele outro estado, se se limita a formulá-lo ou a especular a seu respeito. Não há dúvida de que esta é uma descoberta extraordinária: o perceber que, sendo a mente limitada, pequena, estreita, superficial, todo movimento que faça para alcançar aquele estado extraordinário, constitui um empecilho. O descobrimento deste fato, não especulativamente porém REALMENTE, é o começo de uma maneira nova de considerar o problema.

Nossas mentes, em verdade, são produto do tempo, de muitos milhares de dias passados, resultado da experiência baseada no "conhecido". A mente de cada um de nós é resultado da cultura, educação, e por mais extenso que seja o seu saber ou preparo técnico, ela é sempre produto do tempo; por conseguinte, é limitada, condicionada. Com esta mente, queremos descobrir o incognoscível; e compreender que essa mente nunca poderá descobrir o incognoscível, constitui uma experiência verdadeiramente extraordinária. Descobrir que a mente de um indivíduo, por mais sagaz, por mais sutil, por mais ilustrada que seja, não pode de modo algum compreender aquele estado — esse descobrimento traz consigo uma certa compreensão "fatual" e acho que este é o começo de uma perspectiva da vida que poderá abrir a porta que conduz  àquele outro estado. 

Expressando o problema de maneira diferente: a mente está sempre e sempre ativa, "tagarelando", planeando, e é capaz de extraordinárias sutilezas e invenções. E de que maneira pode esta mente tornar-se quieta? Vê-se que toda atividade da mente, todo movimento que faça, em qualquer direção, é reação do passado. Como aquietar esta mente? Se a aquietamos por meio da disciplina, sua quietude é um estado em que não há investigação, busca, não é exato? Em tais condições, ela não está aberta para o "desconhecido", o "outro estado".

[...] Disciplina implica, invariavelmente, repressão e o conflito da dualidade — e isso está na esfera da mente — e por esse caminho prosseguimos, esperando captar o "outro estado". Mas nunca indagamos inteligentes e sãmente se nossa mente é capaz de captá-lo. Sugeriu-se-nos que a mente deve estar tranquila, mas a tranquilidade foi sempre cultivada por meio da disciplina. Isto é, temos o ideal de uma mente tranquila, e buscamos realizar este ideal por meio do controle, luta, esforço.

Ora bem, se você considera atentamente esse processo, em sua inteireza, verá que está todo no terreno do conhecido. Cônscia da monotonia da existência, cansada de suas repetidas experiências, empenha-se a mente em conquistar aquele "outro estado". Mas, quando se percebe que a mente é o "conhecido" e que este movimento que faz não a leva ao outro estado, que é "o desconhecido", o nosso problema se resume então, não em como conquistar o desconhecido, mas descobrir se a mente pode libertar-se do "conhecido". Penso que este problema deve ser considerado por todo aquele que deseje descobrir se existe alguma possibilidade de "realizar o outro estado", o desconhecido. Assim sendo, como pode a mente, que é resultado do passado, do conhecido, libertar-se do conhecido? Espero que esteja me fazendo claro.

Como disse, a mente atual — tanto consciente como inconsciente — é produto do passado, resultado acumulado de influências raciais, climáticas, dietéticas, e outras. A mente, portanto, está condicionada, condicionada como cristão, hinduísta, budista, comunista, e é bem óbvio que ela projeta aquilo que considera ser o real. Mas, quer a sua "projeção" seja a do comunista, que julga prever o futuro e quer forçar toda a humanidade a adaptar-se ao padrão de sua Utopia, quer seja a "projeção" do chamado homem religioso, que também julga conhecer o futuro e educa a criança, a pessoa de acordo com o seu ponto de cista particular — nem uma nem outra dessas projeções é o Real. Sem o Real, a vida se torna muito insípida, como é atualmente para a maioria das pessoas. E sendo insípidas as nossas vidas, começamos a tornar-nos românticos e sentimentais, a respeito do outro estado, do Real.

[...] Tudo o que fazemos se baseia em luta, em ambição, sucesso, consecução de objetivos; e por esta razão, pensamos que a "realização" de Deus, ou da Verdade, só se torna possível mediante esforço. Mas esforço denota atividade egocêntrica para alcançar um fim. Não significa abandono do "eu". 

Agora, se você está cônscio de todo esse processo da mente — tanto consciente como inconsciente — se o percebe e compreende realmente, verá a mente tornar-se sobremaneira tranquila, sem esforço algum. A tranquilidade conseguida à força de disciplina, controle, repressão, é a tranquilidade da morte. A tranquilidade a que me refiro se manifesta SEM ESFORÇO ALGUM assim que compreendemos todo esse processo da mente Só então existe a possibilidade de manifestar-se aquele outro estado, que se pode chamar a Verdade, ou Deus.

Krishnamurti — Da solidão à plenitude humana


segunda-feira, 3 de março de 2014

A realidade atemporal, imensurável, sem nenhuma ilusão

"Quando se quer descobrir a realidade, toda influência, toda imitação, observância de algum princípio ou exemplo, obediência a um guru ou outro qualquer — nada disso tem valor."
...Desde o começo dos tempos, pelos séculos a fora, o homem sempre buscou uma certa coisa que deve achar-se além da monótona rotina da vida de cada dia, uma coisa que o pensamento jamais atingiu e que não é produto do tempo. A essa coisa se tem chamado "Deus", se têm dado inúmeros e diferentes nomes, mas parece que pouquíssimos a alcançaram. Entretanto, todas as vezes que ela foi encontrada, alguns indivíduos muito sagazes trataram de organizá-la e, desse modo, a destruíram". [...] Assim, tem o homem a possibilidade de descobrir algo, de encontrar aquela realidade atemporal, imensurável, sem nenhuma ilusão — não como "experiência", ou uma fórmula, ideia ou conceito, porém como uma realidade? Porque, se não descobrirmos essa coisa, a vida será vã, sem significação. O homem pode ser competente, possuir muitos bens, viver regaladamente, tornar-se famoso, mas, se não encontrar essa coisa suprema, sua vida será SUPERFICIAL, VAZIA, INSIGNIFICANTE. E, percebendo esse estado, essa falta de significação, começa o homem a inventar deuses com o nome de pátria, de partido, e os deuses das igrejas, dos templos, etc. Assim, temos possibilidade de alcançar essa coisa suprema que não se encontra em nenhuma igreja, nenhum templo, nenhuma mesquita? Para descobri-la, para alcançá-la, necessita-se, em primeiro lugar, de ordem, de absoluta ordem interior, e essa ordem, que é virtude, é negada quando não se rejeita TOTALMENTE a moralidade social. Nessa total rejeição da moral social, há moralidade.

[...] Tendo lançado a base, não como ideia, não como conceito, não como abstração, porém na vida real de cada dia, podemos começar a investigar se existe "alguma coisa mais", uma coisa indestrutível; e, para descobri-la, ou, melhor, para encontrá-la, precisamos compreender a meditação.

[...] Meditação é o silêncio da mente; mas, nesse silêncio, nessa intensidade, nesse estado de total alertamento, a mente já não é a sede do pensamento, porque o pensamento é tempo, o pensamento é memória, o pensamento é conhecimento. E, quando se acha de todo quieta e sobremodo sensível, a mente pode começar uma viagem eterna, sem limites. Isso é meditação, e não aquela estúpida repetição de palavras que se está praticando.[...] A hipnose, quer praticada por vós mesmos, quer por outrem, só pode projetar o próprio condicionamento, as próprias ansiedades e temores; não tem absolutamente nenhum valor.

[...] Temos de descobrir por nós mesmos, independente dos teóricos, dos teólogos e dos sacerdotes, o que é a relação com a realidade. Essa realidade pode ser chamada "Deus"; o nome é, em verdade, de ínfima importância, porque a palavra, o símbolo, nunca é a coisa real, e ficar enredado em símbolos e palavras parece-me uma coisa totalmente irracional. [...] Assim, a o fazermos a pergunta sobre a verdadeira relação do homem com a realidade, devemos estar livres da palavra com todas as suas associações, com todos os seus preconceitos e condições. Se não descobrirmos essa relação, a vida terá muito pouca significação; então, inevitavelmente, nossa aflição, nossa confusão, se tornarão maiores, e a vida cada vez mais intolerável, mais superficial e insignificativa. Precisamos ser sobremodo sérios para descobrirmos se tal realidade existe ou não, e qual a relação do homem com ela. [...] Antes de tudo o mais, é possível — não misticamente, nem romântica ou emocionalmente, porém realmente — descobrir ou encontrar esse estado extraordinário?  

Krishnamurti — Onde está a bem-aventurança  

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A vida só tem sentido quando isso acontece

O diamante está dentro, e nós estamos fora. Ele é parte de nosso ser, mas nós o procuramos em todo lugar, exceto lá; daí a amargura, a frustração, o desespero.

Olhe para dentro de você, para seu interior, e o reino de Deus é seu. Nunca o perdemos, nem sequer por um momento. Na verdade, mesmo que quiséssemos perdê-lo, não poderíamos - ele é nosso próprio ser.

Mas nos tornamos mendigos por decisão própria, por causa de nossa estupidez. Esquecemos como se lê a língua da escritura interior e procuramos nos Vedas, no Alcorão e na Bíblia...

Seremos grandes eruditos, mas não ricos. Ficaremos sempre pobres. A riqueza só vem por um caminho, o interior, porque é lá que se encontra a mina, o tesouro, o inexaurível tesouro.

Volte-se para dentro, harmonize-se, e a alegria será grande - infindável! A vida só tem sentido quando isso acontece, não antes. A vida só é vida assim, nunca antes.

Osho, em "Meditações Para o Dia"

sábado, 16 de novembro de 2013

Descobrindo o misterioso ser no âmago do coração

A Verdade só pode ser realizada na calma e quietude. 

Se realmente nada existisse além desta branca tranquilidade, deste impasse mental , deste analítico beco sem saída e vazio total, não haveria nem poderia haver nenhuma resposta à vossa indagação. A mente inquieta jamais poderia ser aplacada. Vosso coração indagador estaria sempre insatisfeito; o vazio permanece sempre vazio. Mas os homens receberam uma resposta, a divina resposta do Super-eu. O que eles receberam, também vós podeis receber. 

Nesta etapa, quando a intuição vos manda renunciar a vosso intelecto e vos ordena colocar de lado vossos pensamentos; quando vos ensina que a acumulação de pensamentos constitui um véu que vos tapa a realidade espiritual — então surgirá ali uma grande luta, durante a qual uma parte de vosso corpo parecerá retalhada em pedaços. O intelecto, até aqui o guia venerado e de toda confiança, até aqui dominante em vossas práticas, se acha agora prestes a ficar deserto. Consequentemente, o intelecto declara guerra aberta contra o novo invasor e está determinado a não ceder seu lugar no trono sem uma severa luta. Nesta altura, é difícil verdes vosso caminho e constantemente oscilais entre a alvorescente intuição e o resistente intelecto, esforçando-vos por manter o terreno familiar e todavia permitir que se opere o inevitável crescimento. 

Esta experiência não pode ser evitada, e portanto deve ser aceita. O que se pode fazer, no entanto, é reconhecer a natureza real da luta e determinar-se a aliar-se ao poder superior, que enviou o seu embaixador silencioso. Deveis compreender que o caminho do humilde sacrifício intelectual e do reconhecimento mental é agora o caminho da sabedoria, e agir consequentemente. 

A primeira visita que vos fará o Super-eu, será de maneira humilde. Não sabeis como, nem porque, nem donde ele vem. Da primeira tênue intrusão dificilmente vos apercebereis, porém, gradualmente, ele se fará sentir. Será algo tão suave, tão delicado, que, a não ser que estejais livre de todos os preconceitos, vos inclinareis a reprimi-lo. Precisais estar totalmente vazio e oco, pronto para aceitar o que vier a vós. Esta santa influência pairará sobre vós, vos cobrirá e inundará. Isto significa que o vazio da matéria e da mente está sendo enchido. 

A meta final diante de vós é manter a mente numa condição inteiramente livre de pensamentos, sem cair em sono, nem perder a consciência, ou degenerar em mediunismo psíquico. Se o primordial pensamento do "eu" é assegurado, aquietado, sujeitado, ele é eliminado, pois subsiste por si; só existe em virtude da luz divina da consciência do Super-eu que o informa. Com a anulação deste simples pensamento, todos os inumeráveis pensamentos do ego pessoal que até aqui pulularam ao seu redor, são vistos como uma ilusão, considerando que o sentido de "EU SOU", o sentido do ser que o informa, não existe.

"Como se há de conhecê-lo?" Conhecê-lo é sê-lo. Tudo o mais do mundo se pode conhecer por outras vias, indiretamente mas esta é uma coisa que se deve conhecer tornando-se ela própria. 

Nesta etapa de um tal tornar-se, o próprio "eu" que parecia ser o centro de vossa existência, a última raiz de vossa natureza inteira, dissolve-se, dilui-se em seus próprios fundamentos. O ego pessoal desaparece, sua limitações são despedaçadas qual uma rocha pelo carvalho em crescimento, e é substituído por um sentido de existência que possui a eterna duração. Com essa mudança sentis um extraordinário sentido de alívio, como se todos os interesses da personalidade, suas alegrias e cuidados, suas esperanças e temores fossem apenas um fardo que até aqui havia sido carregado cegamente, , mas é agora alijado. É esta experiência estranha e superior que transmuta o homem em sua própria natureza mais profunda, na base de seu eu. Está também entre as mais elevadas experiências franqueadas à raça humana enquanto ela permanecer humana, pois além dela se estendem os caminhos que conduzem ao reino dos anjos e dos deuses. 

A verdadeira individualidade do homem é a mesma em todos: sagrada, divina, imortal. Nesse mundo elevado a que ela pertence, nada existe alto nem baixo, pois todos ali partilham da mesma sublimidade como gotas disseminadas no único oceano. 

Permanecer sem pensamentos é realmente uma conquista maravilhosa, e à medida que descobris suas possibilidades deveis prolongar esses momentos tão fugazes e tão preciosos, quando a mente, o "eu", retorna à sua fonte, ao seu divino elemento primordial. 

Para a meditação deste tipo psico-espiritual não há um período fixo ou formal. Deveis guiar-vos por vossos sentimentos. Quando o viveis intensamente, podeis levar uma meia hora completa. Mas haverá períodos em que estareis cansados de análises. Nessas ocasiões não é aconselhável prolongá-la além de alguns minutos. Por fim, quando estiverdes suficientemente estabelecidos no domínio do pensamento e na compreensão da análise, não precisareis nem mesmo empregá-la em vossa meditação. Podeis começar por afirmar brevemente, porém com a maior clareza de percepção, que não sois o corpo, não sois o intelecto, mas sois pura percepção.

Daí começais vossa meditação, pela qual conheceis o eu como realmente é, clarificado, limpo de emoções e pensamentos que realmente não lhe pertencem, e então descobris o ser misterioso no âmago de vosso coração

O homem não está encadeado ao eu finito, mas julga estar. Esta suposição se baseia numa ilusão. A ilusão de que os cinco sentidos são os agentes conscientes funcionando na vida do homem, e que, portanto, o mundo que constatam é um mundo sólido de máxima realidade. Os sentidos o enganam, e ele se engana a si próprio. Quando clamar por sua liberdade, ele a encontrará. Ele necessita alimentar esses pensamentos redentores, libertadores, ou jamais começará a descobrir-se, a buscar o seu eu real, ilimitado. 

Assim, em última análise, está claro que era a mente que se envolvia na matéria. É a mente que pode de novo libertar o homem. Não se faz isso correndo para os mosteiros ou montanhas e passando sua existência ali; faz-se USANDO A MENTE PARA INVESTIGAR SUAS PRÓPRIAS OPERAÇÕES.

Paul Brunton — A Realidade Interna

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Das necessárias qualidades para o encontro consigo mesmo

O homem deve ser inteligente e sábio, com grande poder de compreensão e capaz de superar as dúvidas pelo exercício da razão. Quem possui essas qualificações está apto a adquirir o conhecimento do Atman.

Só pode ser considerado qualificado para buscar Brahman o homem dotado de discernimento, cuja mente esteja afastada de todos os prazeres, o homem que possui a tranquilidade e as virtudes afins e que aspira ardentemente à libertação.

Neste contexto, os sábios falaram de quatro qualificações que permitem alcançar a meta. Quando essas qualificações estiverem presentes, a devoção à Realidade se tornará completa. Se estiverem ausentes, ela fracassará.

A primeira é o discernimento entre o eterno e o não-eterno. Segue-se a renúncia ao gozo dos frutos da ação, nesta e noutra vida. Em seguida vêm os seis tesouros da virtude, a começar pela tranquilidade. E, enfim, o anseio de libertação.

Brahman é real; o universo é irreal. A firme convicção dessa verdade denomina-se discernimento entre o eterno e o não-eterno.

A renúncia é o abandono de todos os prazeres dos olhos, dos ouvidos e dos demais sentidos, o abandono de todos os objetos de prazer transitório, o abandono do desejo de um corpo físico, assim como do tipo supremo de corpo-espírito de um deus.

Afastar a mente de todas as coisas objetivas mediante um contínuo discernimento de sua imperfeição e dirigi-la resolutamente para Brahman, sua meta — a isso se chama tranquilidade.

Afastar os dois tipos de órgãos sensoriais — os da percepção e os da ação — das coisas objetivas e deixá-los repousar em seus respectivos centros — a isso se chama autocontrole. O verdadeiro equilíbrio mental  consiste em não permitir que a mente reaja aos estímulos externos.

Suportar todos os tipos de aflição sem revolta, sem queixa ou lamento — a isso se chama paciência.

Uma firme convicção, baseada na compreensão intelectual, de que os ensinamentos das escrituras e de um mestre são verdadeiros — a isto os sábios chamam de , que leva à realização da Realidade.

Concentrar o intelecto repetidamente no puro Brahman e mantê-lo sempre fixado no Brahman — a isso se chama submissão. O que não significa aquietar a mente, como um bebê, com pensamentos ociosos.

O anseio de libertação é a vontade de libertar-se dos grilhões forjados pela ignorância — começando com o sentimento de ego e assim por diante, indo até o próprio corpo físico — mediante a compreensão da nossa verdadeira natureza.

Embora esse anseio de libertação possa estar presente num grau leve e moderado, ele se intensificará através dos méritos do mestre e da prática da renúncia e de virtudes como tranquilidade, etc. E dará os seus frutos.

Quando a renúncia e o anseio de libertação se acham presentes num grau intenso, a prática da tranquilidade e das demais virtudes frutificará e conduzirá à meta.

Quando a renúncia e o anseio de libertação são fracos, a tranquilidade e as demais virtudes constituem meras aparências, qual miragem no deserto.

Dentre os meios de libertação, a devoção é suprema. Empenhar-nos sinceramente em conhecer a nossa verdadeira natureza — a isso se chama devoção.

Em outras palavras, a devoção pode ser definida como a busca da realidade do nosso próprio Atman. Aquele que busca a realidade do Atman, que possui as qualificações acima mencionadas, deve procurar um mestre iluminado capaz de ensinar-lhe o caminho da libertação em relação a todos os tipos de servidão.

Shankara — A Joia Suprema do Discernimento
(Clique aqui para ver livro em PDF)

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill