Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Você tem fome de que?

sábado, 24 de outubro de 2015

Um novo olhar sobre o desânimo

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A fantástica ferramenta de bê-a-bá psíquico

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Aptidão sem vocação só gera frustração

Diálogo sobre vocação





Os vossos professores são os vossos destruidores

Pergunta: Poderia por favor explicar em maior detalhe o que quer dizer com a sua declaração de que “os vossos professores são os vossos destruidores.” Como pode um sacerdote, desde que seja honesto na sua intenção, ser um destruidor?

Krishnamurti: Senhor, porque é que quer um sacerdote para o manter moralmente correto? É isso? Ou para o conduzir à verdade? Ou para atuar como intérprete entre Deus e o senhor? Ou apenas para efetuar um rito, uma cerimônia de casamento ou de funeral, ou de Domingo de manhã? Porque é que querem sacerdotes? Quando descobrirmos porque é que os necessitamos, então descobriremos que são destruidores.

Se disserem que um sacerdote é necessário para manter a nossa moralidade sã, certamente que então já não são morais, mesmo embora o sacerdote os possa forçar a ser morais; porque para mim moralidade não é compulsão; é uma ação voluntária. A moralidade não nasce do medo, condicionada pelas circunstâncias. A verdadeira moralidade é compreensão voluntária e por isso ação. Por isso para mim não é necessário um sacerdote para manter a vossa integridade. Ou se disserem que ele é necessário para os conduzir à verdade como um mediador, como um intérprete, então eu digo que ambos, vocês e o sacerdote, devem saber o que é a verdade. Para serem conduzidos a algum lado têm que saber para onde vão, e o líder também tem que saber para onde vai; e se sabem onde está a verdade, então não querem um líder. Por favor, não se trata de habilidade. São apenas fatos.

Mas agora o que é que fizemos? Preconcebemos o que é a verdade como contraste, como uma oposição àquilo que somos. Dizemos que a verdade é tranquila, que a verdade é sábia, ilimitada. Porque não somos isso, por esse motivo, transformámo-la num oposto, e queremos alguém que nos ajude a chegar lá. O que significa isso? Alguém que os ajude a fugir deste conflito para algo que vocês supõem que deve ser a verdade. Por consequência, o sacerdote ajuda-os a fugir das realidades, dos fatos.

Estava a falar com um sacerdote no outro dia, e ele disse-me que mantinha a sua igreja porque havia muito desemprego. Ele disse, “Sabe, os desempregados não têm casas, beleza, vida, música, luz, cor, nada – um terror, uma vida hedionda; e se vierem uma vez por semana à igreja, pelo menos há beleza, há alguma tranquilidade, há algum perfume, e vão-se embora pacificados para o resto da semana, e voltam outra vez.” Não é essa certamente a maior forma de exploração? Isto é, este sacerdote específico estava a tentar pacificá-los no seu conflito, a tentar tranquilizá-los, por outras palavras a drogá-los para não tentarem descobrir a causa real do desemprego.

Agora, se dizem que os sacerdotes são necessários para realizar os ritos, as cerimônias da Cristandade, então vamos inquirir sobre se esses ritos e cerimônias são necessários. São necessários? Como não assisto a eles, não posso responder. Não têm valor para mim; mas para vocês que assistem a eles, têm valor? De que maneira tiram proveito deles? Vão lá ao Domingo de manhã, sentem-se muito devotos, elevados de espírito, ou seja lá o que for, e durante o resto da semana ou exploram ou são explorados. Continua a haver crueldade e todo o resto. Portanto onde está o valor, a necessidade de um sacerdote?

Se disserem que é um meio de ganhar dinheiro, então colocaremos a questão numa categoria totalmente diferente. Se tratam o assunto como uma profissão, como a advogacia, a marinha, o exército, ou qualquer outra profissão, então é uma coisa totalmente diferente, e a maior parte das religiões com os seus sacerdotes são isso e nada mais que isso – uma velha profissão.

Portanto se contam para um sacerdote para os orientar como um professor, eu digo que ele é o vosso destruidor ou o vosso explorador. Por favor, não tenho nada contra os sacerdotes Cristãos ou contra os sacerdotes Hindus – para mim eles são todos iguais. Afirmo que não são essenciais para a humanidade. E por favor não aceitem o que estou a dizer como autoridade definitiva para vocês, como uma declaração dogmática. Examinem a questão, ponderam-na. Se aceitarem o que estou a dizer, também eu me tornarei um sacerdote; e por consequência, tornar-me-ei o vosso explorador. Ao passo que, se realmente examinarem o assunto na sua totalidade, não durante um momento passageiro mas completamente, verão que as religiões com todos os seus professores sectários, estão realmente a manter a humanidade separada. Eles aumentam os horrores da guerra, a diferença de classes, as nacionalidades, e por isso todas estas coisas levam à guerra e a maiores explorações nas quais não há afeto verdadeiro, amor verdadeiro, consideração verdadeira.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

Nosso sistema de pensamento e de ação gera exploração

Pergunta: Afirma-se aqui que só uma ou duas pessoas no mundo podem ter esperança em compreender a importância da sua mensagem. Por isso o ensinamento secundário da Teosofia moderna é necessário como substituto para a salvação do mundo. O que tem a dizer?

Krishnamurti: Senhor, em primeiro lugar tem que descobrir o que tenho a dizer antes de dizer que é impossível. É isto o que quero dizer. Todo o nosso sistema de pensamento e de ação e de vida está baseado no engrandecimento e no crescimento individuais à custa de outros. Isso é um fato, não é? E enquanto esse fato existir no mundo tem que haver sofrimento, tem que haver exploração, tem que haver divisão de classes; e nenhuma forma de religião pode ocasionar a paz, porque elas são a própria criação das ânsias humanas, são meios de exploração. Essa realidade viva, que eu afirmo que existe – chamem-lhe Deus, verdade, ou qualquer outro nome que quiserem – essa inteligência suprema que eu afirmo que existe, que eu afirmo ter compreendido, só pode ser encontrada através da ausência dos obstáculos que criaram através da procura de segurança e conforto, a seguranças das religiões e essa segurança artificial da possessividade.

Certamente, compreender o que estou a dizer não é muito difícil. A dificuldade reside em pôr em ação o que digo. Agora, pôr em ação o que digo não precisa de coragem, mas antes de compreensão. A maior parte de nós está à espera que o mundo mude, mais do que a começar a mudarmo-nos a nós próprios. Estamos à espera que o sistema mundial altere esta atitude em relação à possessividade, e não estamos a tentar descobrir se podemos, como indivíduos, estar realmente livres da possessividade. Para compreender isto, esta ausência de possessividade, temos que descobrir inteligentemente quais são as nossas necessidades. Sabem, quando tiverem descoberto quais são as vossas necessidades, então não serão possessivos. Cada homem conhecerá as suas necessidades, muito claramente, muito simplesmente, se abordar a questão inteligentemente; mas não pode haver a descoberta de quais são as suas necessidades enquanto a mente estiver presa na possessividade, na ganância e na exploração. Portanto, quando descobrem quais são as vossas necessidades, não se estão a comprometer com as vossas necessidades e com as condições do mundo que se baseiam na possessividade. Espero estar a esclarecer isto.

O que quero dizer é que não pode haver relações humanas, vitais, nem viver com alegria na plenitude da vida no presente – que para mim é a única eternidade – enquanto a mente e o coração estiverem estropiados através do medo; e para dominar esse medo criamos inúmeros obstáculos, tais como as religiões, as crenças, a possessividade, as seguranças. Por esse motivo, como indivíduos, estamos continuamente a conferir sofrimento, continuamente a aumentar a luta, o caos do mundo. É certamente muito simples, se vierem a pensar nisso.

Se realmente quiserem descobrir o que estou a dizer, por favor examinem uma das ideias que exponho e ponham-na em ação; então verão que ela se torna prática, não vaga, teórica, impossível de compreender. Então não quererão nenhum ensinamento secundário.

Sabem, esta ideia de que as pessoas não compreendem, e por isso têm que lhes dar algo que compreendam, é realmente uma maneira habilidosa de exploração. É a atitude da classe capitalista. É a atitude do homem que tem muitas posses. Isto é, ele quer nutrir o mundo, guiar o mundo, guiar os outros homens; ao passo que eu desejo despertar o outro homem para que ele aja por si. Se eu os puder despertar para a vossa própria força, para a vossa própria compreensão, para a vossa própria responsabilidade, para a vossa própria ação, então destruirei a diferença de classes. Então não os mantenho na creche para serem explorados como uma criança por alguém que se supõe saber mais. É essa a atitude integral das religiões, que nunca possam descobrir o que é a verdade – só uma ou duas pessoas descobrem – por isso deixem-me, como mediador, ajudá-los; por consequência torno-me um explorador. É esse todo o processo da religião. É um meio hábil de explorar, sendo implacável em manter as pessoas sob domínio, tal como a classe capitalista o faz exatamente da mesma maneira – uma classe por meios espirituais, a outra por meios mundanos. Mas se examinarem isso, ambas são explorações implacáveis. (Ouçam! Ouçam!) Senhores, por favor não se incomodem em dizer “ouçam, ouçam.” O que é importante é agir, não concordar comigo intelectualmente. Isso não tem valor. A concordância só pode ter lugar na ação. Quando dizem “ouçam, ouçam”, isso significa que têm que resistir contra a sociedade, contra os vossos vizinhos, contra a vossa família, contra tudo o que essa sociedade edificou durante gerações. Isso requer grande percepção, não coragem, não esta atitude heroica perante a vida, mas percepção, elevada e direta, do que é a verdade.

Ora, para mim, a vida não é para ser uma escola. A vida não é algo de que aprendem, é para ser vivida – para ser vivida supremamente, inteligentemente e divinamente. Ao passo que, se fizerem dela um constante campo da batalha, de luta, de esforço contínuo, então a vida torna-se hedionda; e fizeram-na assim porque todo o vosso pensamento é auto-crescimento, auto-expansão, auto-engrandecimento, e enquanto isso existir, a vida torna-se numa luta hedionda.

Portanto isso é o que eu quero dizer. Certamente que isso é muito facilmente compreendido. Facilmente compreendido em certo sentido. Não se pode alcançar todo o seu significado de imediato. Pode-se ver em que direção reside, e para mudar a própria atitude tem que haver grande aflição, não contentamento, um grande conflito ardente que os force a descobrir; e Deus sabe que temos conflitos durante todo o dia, mas treinamos a nossa mente para ser astuta, e portanto para passar ao de leve por estes conflitos, fugir-lhes. Por isso podemos ter conflito após conflito, problema atrás de problema. A nossa mente aprendeu a ser engenhosa, e por isso a evadir-se.

Jiddu Krishnmaurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

Eu não quero ajudar o mundo: Isso é serviço

Pergunta: Alguns dos meus amigos notaram que embora achem os seus ditos intensamente interessantes, preferem o serviço a demasiada reflexão sobre as questões da verdade. Quais são as suas observações sobre esta opinião?

Krishnamurti: Senhor, o que quer dizer com serviço? Toda a gente quer ajudar. É esse o grito daquelas pessoas que pensam que estão a servir o mundo. Estão sempre a falar sobre ajudar o mundo, especialmente aquelas pessoas que pertencem a seitas. É a sua forma particular de doença, porque pensam que fazendo alguma coisa, não importa o quê, vão ajudar, que servindo as pessoas ajudarão. Quem pode dizer o que é o serviço? Um homem que pertence ao exército, preparado para matar o bárbaro que entre no seu país, diz que está a servir o país. O homem que mata, o carniceiro, diz que está a servir a comunidade. O explorador que tem os meios de produção nas mãos, monopolizados, diz que está a servir a comunidade. O homem que explora as crenças, o sacerdote, diz que está a servir o país, a comunidade. A quem cabe decidir?

Ou então olhemos a questão de uma forma bastante diferente. Acham que uma flor, uma rosa, está sempre a ter em consideração de que está a servir a humanidade, que está a ajudar o mundo pela sua existência porque é bonita? Pelo contrário, porque é bonita, extremamente bela, inconsciente da sua magnificência, é que está a ajudar. Não como um homem que anda de um lado para o outro a gritar que está a servir o mundo. Isto é, cada um quer usar os seus meios, ou as suas ideias, para explorar o mundo, não para libertar o mundo. Pessoalmente, se não me interpretarem mal, esse não é de modo nenhum o meu ponto de vista. Eu não quero ajudar o mundo, como vocês lhe chamariam. Eu não posso ajudar, isso acontece naturalmente. Isso é serviço. Não desejo fazer com que os outros se aproximem da minha forma específica de crença ou pedir-lhes que venham para a minha gaiola particular de pensamento, porque eu afirmo que ter uma crença é uma limitação.

Para servir realmente, tem que se ser extremamente livre da consciência limitada a que chamamos o “eu”, o ego, a consciência egocêntrica; e enquanto isso existir, não estão realmente a servir o mundo. A menos que realmente pensem, não podem descobrir se estão verdadeiramente a ajudar o mundo. Portanto não consideremos em primeiro lugar se estamos a ajudar o mundo, mas antes descubramos se temos a capacidade de pensar e de sentir. Para pensar realmente, a mente não pode estar amarrada a uma crença. Isso é muito simples, não é? Para realmente pensar profundamente, francamente, completamente, a vossa mente não deve estar limitada pelo preconceito ou restringida a uma determinada crença, ou pelo medo, ou por ideias preconcebidas. Para pensar, a mente deve começar outra vez, de novo, e não com um pano de fundo de tradição. Afinal, a tradição só é valiosa quando os ajuda a pensar, não quando os subjuga pelo seu peso.

Deixem-me colocar a questão de maneira diferente. Todos queremos ajudar. Quando vêem sofrimento no mundo há um intenso desejo de ajudar; mas para ajudar verdadeiramente as pessoas têm que ir à causa fundamental das coisas. Têm que descobrir a causa do sofrimento, e só o podem fazer se houver reflexão profunda. E esta reflexão não é mero prazer intelectual, mas só pode ter lugar, esta reflexão, na ação.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

A pobreza de mente e coração, tornam colossais as necessidades

Pergunta: Por favor seja franco. Podemos conhecer a verdade tal como a conhece, parar de explorar, e ainda continuar com o negócio, ou sugere que o vendámos? Poderia entrar para o comércio e permanecer tal como é?

Krishnamurti: Senhor, por favor, não estou a esquivar-me do problema. Serei perfeitamente franco. Tal como o sistema está organizado, a menos que se retirem para uma ilha deserta onde cozinhem e façam tudo sozinhos, tem que haver exploração. Não é assim? É óbvio. Enquanto o sistema estiver baseado na competição individual, na segurança, na possessividade, como seus alicerces, tem que haver exploração. Mas não se podem libertar desses alicerces porque não têm medo, porque descobriram quais são as vossas necessidades essenciais, porque são ricos em vocês mesmos? Assim, embora permaneçam no negócio, descobrem que as vossas necessidades são muito poucas; ao passo que, se houver pobreza de mente e coração, as vossas necessidades tornam-se colossais. Mas de novo, a menos que se seja realmente honesto, absolutamente franco, e não se engane subtilmente a si próprio, o que eu disse pode ser usado para explorar mais. Não me importaria pessoalmente de entrar para o negócio, mas para mim não teria valor, porque não tenho necessidade de entrar para o negócio. Por isso, de que adiantaria falar teoricamente? Não que tenha dinheiro; mas faria qualquer coisa razoável, sensata, porque as minhas necessidades são muito poucas, e não tenho medo de ser destruído. É quando há o medo de perder – o medo da perda de segurança, preservação – que lutamos. Mas se estiverem preparados para perder tudo porque nada têm – bem, não há exploração. Isto soa ridículo, absurdo, selvagem, primitivo, mas se realmente pensarem nisso sensatamente, se lhe concederem alguns minutos do vosso pensamento criativo, verão que não é tão absurdo quanto isso. É o selvagem quem está continuamente às ordens das suas necessidades, não o homem de inteligência. Ele não se apega às coisas, porque interiormente ele é extremamente rico; por isso as suas necessidades externas são muito poucas. Sem dúvida que podemos organizar uma sociedade que se baseie em necessidades, não nesta exploração através da publicidade. Espero ter respondido à sua pergunta, senhor.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Somos forçados pelo meio a não ser fraternos, a explorar

Pergunta: Acha que os sistemas sociais do mundo evolucionarão para um estado de fraternidade internacional, ou ela será ocasionada através de instituições parlamentares, ou pela educação?

Krishnamurti: Tal como a sociedade está organizada, não conseguem ter fraternidade internacional. Não podem continuam a ser Novo Zelandeses, e eu um Hindu, e falar sobre fraternidade. Como pode haver realmente fraternidade, se estão restringidos por situações econômicas, por este patriotismo que é uma coisa tão falsa? Isto é, como pode haver fraternidade se vocês continuam a ser Novo Zelandeses, agarrando-se aos vossos preconceitos específicos, às vossas barreiras alfandegárias, patriotismo, e todo o resto; e eu um Hindu a viver na Índia, com os meus preconceitos? Podemos falar de tolerância, deixar-nos em paz uns aos outros, ou eu mandar-lhes missionários e vocês mandarem-me missionários, mas não pode haver fraternidade. Como pode haver fraternidade quando vocês são Cristãos e eu sou Hindu, quando vocês são dominados pelos sacerdotes e eu sou também dominado pelos sacerdotes de um modo diferente, quando vocês têm uma forma de adoração e eu tenho outra? – o que não significa que vocês tenham que chegar à minha forma de adoração ou que eu tenha que chegar à vossa.

Portanto, tal como estão as coisas, elas não resultarão em fraternidade. Pelo contrário, há o nacionalismo, mais governos soberanos, que não são senão os instrumentos da guerra. Portanto, tal como existem, as instituições sociais não podem evolucionar para uma coisa magnífica, porque as suas próprias bases, a sua fundação está errada; e os vossos parlamentos, a vossa educação baseada nestas ideias, não ocasionará a fraternidade. Olhem para todas as nossas nações. O que são elas? Nada senão instrumentos de guerra. Cada país é melhor que o outro, cada país a bater o outro, inflamando esta falsa coisa chamada patriotismo. Por favor, vocês gostam de determinados países, determinados países são mais bonitos que outros, e vocês apreciam-nos. Desfrutam da beleza tal como desfrutam de um pôr-do-sol, seja aqui, na Europa ou na América. Nada há de nacionalista, nem de sentimento patriótico por trás disso – vocês desfrutam-na. O patriotismo só chega quando as pessoas começam a usar o vosso prazer para um objetivo. E como pode haver verdadeira fraternidade, através do patriotismo, quando todas as formas de governo se baseiam na distinção de classes, quando uma classe que tem tudo governa a outra que nada tem, ou envia representantes que nada têm para o parlamento? Sem dúvida que esta abordagem ao estado humano, à unidade humana é impossível. É tão óbvio, que nem necessita de discussão.

Enquanto houver distinções de classe desenvolvendo-se em nacionalidades, baseadas na exploração pela classe possessiva, ou pela classe que tem os meios de produção nas mãos, tem que haver guerras; e através das guerras não vão obter fraternidade. Isso é óbvio. Podem ver isso na Europa desde a Guerra: maior sentimento nacional, mais patriotismo fanático, barreiras alfandegárias mais fortes. Isso, por certo, não vai gerar fraternidade. Pode gerar fraternidade no sentido de que haverá uma grande catástrofe e as pessoas despertarão e dirão, “Por amor de Deus, despertemos e sejamos sensatos.” Isso eventualmente poderá gerar fraternidade; mas as nacionalidades não gerarão fraternidade, não mais que as distinções religiosas, que estão realmente, se chegarem a refletir sobre isso, baseadas em refinado egoísmo. Todos queremos estar seguros no céu – seja lá o que for esse lugar – protegidos, seguros, certos, e portanto criamos instituições, organizações, para produzir a certeza, e chamamos-lhes religiões, aumentando assim a exploração. Ao passo que, se realmente virmos a falsidade de todas estas coisas, não só percebendo-as intelectualmente mas realmente sentindo-as completamente com a nossa mente e coração, então há uma possibilidade de fraternidade. Se o percebermos, então há um ato voluntário, verdadeiro, moral. Quando percebemos uma coisa completamente e agimos, chamo a isso um verdadeiro acto moral, e não quando somos forçados pela circunstâncias, ou quando se provoca uma fraternidade forçada pela completa e brutal necessidade da vida. Isto é, quando as pessoas de negócios, o capitalista, os financeiros, começarem a ver que esta distinção não compensa, que não podem fazer mais dinheiro, que não podem estar na mesma posição, então produzirão um meio forçando o indivíduo a tornar-se fraterno; tal como agora somos forçados pelo meio a não ser fraternos, a explorar, assim serão também forçados a cooperar. Por certo que isso não é fraternidade; é apenas uma ação provocada pela conveniência, sem inteligência e compreensão humanas.

Assim, para realmente trazer a inteligência humana à ação, os indivíduos têm que agir moralmente e voluntariamente e então criarão uma organização na qual serão verdadeiros lutadores contra a exploração. Mas isso requer muita percepção, muita ação inteligente, e só podem começar por vocês mesmos; só podem cuidar do vosso próprio jardim, não podem olhar pelo do vosso vizinho.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Como chegou a este grau de compreensão?

Pergunta: Pode dizer-nos como chegou a este grau de compreensão?

Krishnamurti: Receio que fosse demorar muito tempo, e pode ser muito pessoal. Em primeiro lugar, Senhores, eu não sou um filósofo, não sou um estudante de filosofia. Penso que aquele que seja apenas estudante de filosofia está já morto. Mas vivi com toda o gênero de pessoas, e fui criado, como talvez saibam, para levar a cabo uma certa função, um certo cargo. Mais uma vez, isso significa “explorador”. E era também o dirigente de uma enorme organização em todo o mundo, para fins espirituais; e vi a falácia disso, porque não se pode conduzir os homens à verdade. Só se pode torná-los inteligentes através da educação, o que nada tem a ver com sacerdotes e os seus meios de exploração – as cerimônias. Portanto dissolvi essa organização; e, vivendo com as pessoas, e não tendo uma ideia fixa sobre a vida, ou uma mente limitada por um determinado contexto tradicional, comecei a descobrir o que, para mim, é a verdade: verdade para toda a gente – uma vida que se pode viver saudavelmente, sensatamente, humanamente, não baseada na exploração, mas nas necessidades. Sei o que preciso, e que não é muito, portanto quer trabalhe para elas escavando um jardim, ou falando, ou escrevendo, isso não é de muita importância.

Em primeiro lugar, para descobrir qualquer coisa, tem que haver um grande descontentamento, um grande questionamento, infelicidade; e muito poucas pessoas no mundo, quando estão descontentes, desejam acentuar esse descontentamento, desejam passar por ele para descobrir. Geralmente as pessoas querem o oposto. Se estão descontentes, querem felicidade, ao passo que, por mim – se me permitem ser pessoal – eu não queria o oposto, eu queria descobrir; e assim gradualmente através de vários questionamentos e através de um atrito contínuo, cheguei a compreender isso a que se chama a verdade ou Deus. Espero ter respondido à pergunta.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Um sistema que nunca pensa na vocação individual

Pergunta: Existe uma força ou influência exterior conhecida como o mal organizado?

Krishnamurti: Existe? O homem de negócios moderno, o nacionalista, o seguidor da religião – eu chamo males a estas pessoas, males organizados; porque, senhores, criamos individualmente estes horrores no mundo. Como nasceram as religiões com o seu poder de explorar implacavelmente as pessoas através do medo? Como se tornaram nestas formidáveis máquinas? Nós criamo-las individualmente através do nosso medo da outra vida. Não que não haja outra vida: isso é uma coisa totalmente diferente. Nós criamos essa máquina e estamos aprisionados nela; e são apenas muito poucos aqueles que se afastam, e a essas pessoas vocês chamam Cristo, Buda, Lenin, ou X, Y, Z.

Depois há o mal da sociedade como ela é. É uma máquina organizada e opressiva para controlar os seres humanos. Vocês pensam que se os seres humanos forem libertados tornar-se-ão perigosos, que farão toda a espécie de horrores; portanto dizem, “Vamos controlá-los socialmente, pela tradição, pela opinião, pela limitação da moralidade”; e é a mesma coisa economicamente. Assim gradualmente estes males tornam-se aceitos como coisas normais e saudáveis. De fato, é óbvio como através da educação somos compelidos a integrar-nos num sistema em que nunca se pensa na vocação individual. Vocês são forçados a integrar-se nalgum trabalho; e assim criamos uma vida dupla, durante todas as nossas vidas, essa do negócio das 10 às 5, ou lá o que é, que nada tem a ver com a outra, a nossa vida privada, social, caseira. Portanto estamos continuamente a viver em contradição, indo ocasionalmente, se estiverem interessados, à igreja, para manter a moda, o espetáculo. Investigamos a realidade, Deus, quando há momentos de conflito, momentos de opressão, momentos em que há uma catástrofe. Dizemos, “Tem que haver uma realidade. Porque vivemos?” Criamos assim gradualmente nas nossas vidas uma dualidade, e por isso nos tornamos tão hipócritas.
Portanto, para mim, existe um mal. É o mal da exploração engendrado pelos indivíduos através da sua ânsia de segurança, de auto-preservação a qualquer custo, independentemente de todos os seres humanos; e não há nisso afeto, não há verdadeiro amor, mas apenas esta possessividade que classificamos como amor.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Encontrei a verdade, Deus, ou que lhe quiserem chamar

Pergunta: Segue Maomé, ou Cristo?

Krishnamurti: Posso perguntar porque é que alguém deve seguir outro? Afinal, a verdade ou Deus não se encontra imitando outro: nessa altura tornar-nos-emos apenas máquinas. Precisamos de fato, nós, como seres humanos, de pertencer a qualquer seita, seja o Maometismo, o Cristianismo, o Hinduísmo ou o Budismo? Se instituírem uma pessoa como vosso Salvador, como vosso guia, então tem que haver exploração; tem que haver uma modelação do mundo a uma determinada seita tacanha. Ao passo que, se realmente não instituirmos ninguém como autoridade, mas descobrirmos o que eles dizem, o que qualquer ser humano diz, então compreenderemos algo que é duradouro; mas apenas seguir outro não nos levará a lado nenhum. Presumo que sejam todos Cristãos, e que dizem que seguem Cristo. Seguem-no? Os seres humanos, quer pertençam ao Cristianismo ou ao Maometismo ou ao Budismo, seguem realmente os seus líderes? É impossível. Não o fazem. Portanto porquê chamarem a si próprios nomes diferentes e separarem-se? Ao passo que, se tivéssemos realmente alterado o meio em que nos tornamos assim escravos, nessa altura seríamos realmente Deuses em nós mesmos, não seguiríamos ninguém. Pessoalmente, não pertenço a nenhuma seita, grande ou pequena. Encontrei a verdade, Deus, ou que lhe quiserem chamar, mas não a posso transmitir a outro. Apenas se pode descobrir através da inteligência consumada, e não através da imitação de certos princípios, crenças ou personagens.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Eu afirmo que há algo como Deus

Pergunta: Que significado inteligível, se é que posso perguntar, atribui à ideia de um Deus masculino como postulado por praticamente todo o clero Cristão, e arbitrariamente imposto às massas durante a Idade Média e até ao momento presente? Um Deus imaginado em termos de gênero masculino tem, por todos os cânones sãos e razoáveis da lógica, que ser pensado, rezado, importunado e adorado em termos de personalidade. E um Deus pessoal – pessoal como nós seres humanos necessariamente somos – tem que estar limitado no tempo, no espaço, no poder e na finalidade, e um Deus tão limitado não pode ser um Deus. Precisamente em face desta colossal imposição, arbitrariamente imposta às massas, é para admirar que encontremos o mundo na sua presente situação catastrófica? Deus para ser Deus tem, numa realidade soberana e sensata, que ser a totalidade absoluta e infinita de toda a existência, tanto negativa como positiva. Não é assim?

Krishnamurti: Senhor, porque quer saber se Deus é masculino ou feminino? Porque questionamos? Porque tentamos descobrir se há um Deus, se é pessoal, se é masculino? Não será porque sentimos a insuficiência de viver? Sentimos que se pudéssemos descobrir o que é esta imensa realidade, então poderíamos moldar as nossas vidas de acordo com essa realidade; começamos assim a preconceber o que essa realidade tem que ser ou deve ser, e moldamos essa realidade de acordo com as nossas fantasias e caprichos, de acordo com os nossos preconceitos e temperamentos. Então começamos a edificar uma série de contradições e oposições, uma ideia do que pensamos que Deus deveria ser; e, para mim, um Deus assim não é Deus nenhum. É um meio humano de evasão das constantes batalhas da vida, desta coisa a que chamamos exploração, das inanidades da vida, da solidão, dos sofrimentos. O nosso Deus é apenas um meio de escape destas coisas; ao passo que, para mim, há algo muito mais fundamental, real. Eu afirmo que há algo como Deus; não nos interroguemos sobre o que é. Vocês descobrirão se começarem realmente a compreender o próprio conflito que está a estropiar a mente e o coração: esta luta contínua pela auto-segurança, este horror da exploração, as guerras e as nacionalidades, e os absurdos da religião organizada. Se os enfrentarmos e os compreendermos, então descobriremos o verdadeiro significado em vez de especular; o verdadeiro significado da vida, o verdadeiro significado de Deus.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

O que é a Ação Correta?

Amigos, penso que a maior parte de nós acha que o mundo seria maravilhoso se não houvesse verdadeira exploração, e que seria um mundo esplêndido se cada ser humano tivesse a capacidade de viver naturalmente, plenamente e humanamente. Mas há muito poucos que querem fazer alguma coisa por isso. Como ideais, como uma Utopia, como uma coisa de sonho, todos os acarinham, mas muito poucos desejam ação. Não podem provocar uma Utopia nem pode haver a cessação da exploração sem ação.

Ora, só pode haver ação, ação coletiva, se houver em primeiro lugar cuidadosa consideração individual desse problema. Cada ser humano, em momentos sensatos, sente o horror da verdadeira exploração, seja pelo sacerdote, pelo homem de negócios, pelo médico, pelo político, ou por qualquer pessoa. Todos nós sentimos realmente, nos nossos corações, a crueldade aterradora da exploração, se já tivermos pensado nisso um só instante. E contudo cada um de nós é apanhado nesta roda, neste sistema de exploração, e esperamos e temos esperança que por algum milagre nasça um novo sistema. E assim, individualmente, sentimos que apenas temos que esperar, deixar que as coisas tomem o seu rumo natural, e que por algum meio extraordinário nasça um novo mundo. Sem dúvida que, para criar uma coisa nova, um novo mundo, uma nova concepção de organização, os indivíduos têm que começar. Isto é, os homens de negócios, ou alguém em particular, tem que começar a descobrir se a sua ação está realmente baseada na exploração.

Agora, conforme disse, há a exploração do sacerdote baseada no medo, há a exploração do homem de negócios baseada no seu próprio engrandecimento, acumulação de riqueza, avidez, formas sutis de egoísmo e segurança; e como se supõe que todos vocês aqui sejam homens de negócios, certamente que não podem deixar de lado cada problema humano e preocuparem-se integralmente com os negócios. Afinal, os homens de negócios são seres humanos, e os seres humanos, enquanto forem explorados, têm que ter em si, continuamente, este espírito rebelde. É somente quando atingem um determinado nível em que estão razoavelmente seguros que esquecem tudo sobre esta situação, sobre mudar o mundo, ou ocasionar uma determinada atitude de ação espontânea perante a vida. Porque atingimos um determinado estado de segurança, esquecemos, e sentimos que tudo está bem; mas por trás de tudo isso pode sentir-se que não pode haver felicidade, felicidade humana, enquanto existir realmente exploração.

Ora, para mim, a exploração nasce quando os indivíduos procuram mais que as suas necessidades essenciais; e descobrir as vossas necessidades essenciais requer muita inteligência, e não podem ser inteligentes enquanto as vossas necessidades forem o resultado da procura de segurança, de conforto. Naturalmente, tem que se ter comida, teto, roupa, e tudo isso; mas para que isto seja possível para todos, os indivíduos têm que começar a compreender as suas próprias necessidades, as necessidades que são humanas, e organizar todo o sistema de pensamento e ação em consequência disso, e só então poderá haver verdadeira felicidade criativa no mundo.

Mas atualmente o que está a acontecer? Lutamos uns contra os outros durante todo o tempo, excluimo-nos uns aos outros, há competição contínua em que cada um se sente inseguro, e todavia continuamos à deriva, sem tomar providências definidas. Isto é, em vez de esperarmos que aconteça um milagre para alterar este sistema, é necessária uma mudança completa e revolucionária, que cada um reconheça.

Embora possamos ter um ligeiro medo da palavra revolução, todos reconhecemos a imensa necessidade de uma mudança. E contudo, individualmente, somos incapazes de a provocar porque, individualmente, não tomamos em consideração, individualmente não tentamos descobrir porque deveria haver este contínuo processo de exploração. Quando os indivíduos forem realmente inteligentes, criarão então uma organização que providenciará as necessidades essenciais da humanidade, não baseada na exploração. Individualmente não podemos viver separados da sociedade. A sociedade é o indivíduo e enquanto os indivíduos estiverem apenas a procurar continuamente a sua própria auto-segurança, para eles próprios ou para a sua família, tem que existir um sistema de exploração.

E não pode haver felicidade no mundo se os indivíduos, como vocês, tratarem dos assuntos do mundo, dos assuntos humanos, separados do negócio. Isto é, vocês não podem, se me permitem dizê-lo, estar nacionalistamente inclinados, e contudo falar da liberdade do comércio. Não podem considerar a Nova Zelândia como o país mais importante, e rejeitar depois todos os outros países, porque sentem, individualmente, a necessidade essencial da vossa própria segurança. Isto é, senhores, se é que posso pôr as coisas desta maneira, só pode haver verdadeira liberdade de comércio, desenvolvimento das indústrias, etc., quando não houver nacionalidades no mundo. Penso que isso é óbvio. Enquanto houver barreiras alfandegárias protegendo cada país tem que haver guerras, confusão e caos; mas se formos capazes de tratar todo o mundo, não como dividido em nacionalidades, em classes, mas como uma entidade humana, não dividido por seitas religiosas, pela classe capitalista e pela classe trabalhadora, só nessa altura haverá a possibilidade de verdadeira liberdade no comércio, na cooperação. Para originar isto não podem apenas pregar ou assistir a reuniões. Não pode haver apenas o prazer intelectual destas ideias, tem que haver ação; e para originar a ação temos que começar individualmente, muito embora possamos sofrer por isso. Temos que começar a criar uma opinião inteligente e desse modo teremos um mundo onde a individualidade não é esmagada, derrotada por um determinado padrão, mas que se torna um meio de expressão da vida; não a forma duramente tratada e condicionada a que chamamos seres humanos. A maior parte das pessoas quer e compreende que tem que haver uma mudança completa. Não vejo qualquer outra maneira que não seja começando como indivíduos, e então essa opinião individual tornar-se-á a realização da humanidade.

Jiddu Krishnamurti, Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Se não voltarem a ser como crianças...

"Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus." - Jesus
“Vocês querem conhecer o meu segredo?...Este é o meu segredo: eu não me importo com o que acontece”. - Krishnamurti
Toda criança nasce sentindo todo o universo, não sabendo da sua separação com relação a ele. É por meio da educação gradativa que a ensinamos a se sentir separada. Damos-lhe um nome, damos-lhe uma identidade, damos-lhe qualidades, damos-lhe ambições — criamos uma personalidade em torno dela. Pouco a pouco a personalidade vai se adensando em decorrência da criação, da educação, dos ensinamentos religiosos. E, à medida que ela vai se adensando, a criança começa a esquecer quem ela costumava ser quando estava no ventre materno — pois ali, ela não era médica nem engenheira. Ela não tinha um nome; no ventre, não estava separada da existência. Ela estava totalmente junto da mãe, e além dela não havia nada. O útero era tudo, era todo o universo da criança.

A criança no ventre da mãe nunca se preocupa, "O que acontecerá amanhã?" Ela não tem dinheiro, não trem conta bancária, não tem negócios. Está desempregada, não tem nenhuma qualificação. Não sabe quando a noite chega, quando amanhece o dia, quando as estações mudam; ela vive simplesmente na mais pura inocência, em profunda confiança de que tudo ficará bem, como sempre esteve. Se hoje tudo está bem, amanhã também estará. Ela não "´pensa" assim, esse é simplesmente um sentimento intrínseco — ele não tem palavras porque a criança não conhece as palavras. Ela conhece apenas os sentimentos, o seu estado de espírito e está sempre alegre, de muito bom humor — a absoluta felicidade sem nenhuma responsabilidade.

[...] Porque toda criança nasce chorando? Porque o seu lar está lhe sendo arrancado, seu mundo está sendo destruído — de repente ela se vê num mundo estranho, entre pessoas estranhas. E continua chorando, porque a cada dia a sua liberdade fica menor e a sua responsabilidade, mais e mais pesada. Por fim, ela percebe que não lhe resta nenhuma liberdade, apenas obrigações a cumprir, responsabilidades a assumir; ela passa a ser um animal de carga. Quando vê isso com clareza de seus olhos inocentes, ela chora e você não pode condená-la por isso.

Os psicólogos dizem que a busca pela verdade, por Deus, pelo paraíso, está na realidade baseada na experiência da criança no útero. Ela não consegue esquecê-la. Mesmo que esqueça em sua mente consciente, essa experiência continua ecoando em seu inconsciente. Ela está mais uma vez em busca daqueles dias maravilhosos de total relaxamento e nenhuma responsabilidade, e toda liberdade do mundo ao seu alcance.
Existem pessoas que encontram. A palavra para isso é "iluminação". Você pode usar a palavra que quiser, mas o significado básico continua o mesmo. A pessoa descobre que todo o universo é assim como um ventre materno para você. Você pode confiar, relaxar, aproveitar, cantar, dançar. Tem uma vida imortal e uma consciência universal.

Mas as pessoas têm medo de relaxar. Têm medo de confiar. Têm medo das lágrimas. Têm medo de qualquer coisa que saia do comum, que vá além do mundano. Elas resistem e nessa resistência cavam a própria sepultura e nunca passam pelos momentos deliciosos e pelas experiências extasiantes que são seus por direito nato, só precisam ser reivindicados.

[...] Por causa de suas tensões, de suas preocupações, de seus problemas, o homem se perde na multidão e se torna outra pessoa. Lá no fundo ele sabe que não é o papel que está apresentando, ele é outra pessoa, isso cria um enorme conflito dentro dele. Ele não consegue desempenhar o papel corretamente, porque sabe que ele não é o seu ser autêntico — e tampouco consegue encontrar o seu eu autêntico. Ele tem de desempenhar o papel porque ele lhe garante o sustento, a vida, os filhos, poder, respeitabilidade, tudo. Ele não pode colocá-lo em risco, então tem de continuar a representar o papel de Napoleão Bonaparte. Aos poucos ele próprio começa a acreditar no papel. Tem de acreditar, do contrário ficaria difícil representá-lo. O melhor ator é aquele que esquece a própria individualidade e se funde com seu papel; então o seu choro é autêntico, o seu amor é autêntico e qualquer coisa que diga não vem do SCRIPT, mas do fundo do coração — parece quase real. Se tem de representar um papel, você precisa estar profundamente envolvido nele. Você tem de se tornar esse papel.

Todo undo está representando um papel, e sabe perfeitamente bem que esse papel não é o que se deveria ser. Isso cria um conflito, uma angústia, e essa angústia destrói todas as possibilidades de relaxar, confiar, amar, estar em comunhão com outra pessoa — um amigo, um amor. Você fica isolado. Passa a ser, com suas próprias ações, um exilado voluntário, e então sofre.

Tanto sofrimento neste mundo não é natural; trata-se de uma situação pouco natural. Pode-se aceitar de vez em quando que alguém sofra, mas a bem-aventurança deveria ser natural e universal.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Um olhar para o processo geral da busca da verdade

sábado, 17 de outubro de 2015

Despedaçando a pedra do orgulho

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O amor é a única religião, o único Deus

O amor é a única religião, o único Deus, o único mistério que tem que ser vivido, compreendido. Quando o amor for compreendido, você terá compreendido todos os sábios e todos os místicos do mundo.

Não é uma coisa difícil. É tão simples quanto as batidas do seu coração ou a sua respiração. Ele vem com você, não é concedido pela sociedade. E esse é o ponto que eu quero enfatizar: o amor vem com o nascimento, mas não vem plenamente desenvolvido, é claro, assim como todo o resto. A criança tem que crescer.

A sociedade se aproveita dessa lacuna. O amor da criança leva tempo para crescer; enquanto isso a sociedade aproveita para condicionar a mente da criança com ideias falsas sobre o amor.

Na época em que está pronto para explorar o mundo do amor, você já está abarrotado com tantas bobagens sobre o amor que já não há muita esperança de que seja capaz de encontrar o autêntico e descartar o falso.

E o amor é uma flor tão delicada que não pode ser forçada a ser permanente. Você pode ter flores de plástico, que é o que as pessoas têm — casamento, família, filhos, parentes, tudo de plástico. O plástico só tem uma coisa muito espiritual: é permanente.

O amor verdadeiro é uma incerteza assim como a vida é uma incerteza. Você não pode afirmar que estará aqui amanhã. Você não pode sequer dizer que estará vivo daqui a pouco. A sua vida está mudando continuamente — desde a infância até a juventude, a meia-idade, a velhice, a morte, ela continua mudando.

O amor de verdade também mudará.

É possível que, se você for uma pessoa iluminada, o seu amor tenha transcendido as leis costumeiras da vida. Ele nem está mudando nem é permanente; simplesmente é. Não é mais uma questão de como amar; você se tornou o próprio amor, por isso o que quer que faça é amoroso.

Não que você faça algo especificamente que seja amor; faça o que fizer, o seu amor se derramará sobre isso. Mas antes da iluminação o seu amor será exatamente como todo o resto: ele mudará.

(Osho)

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Sobre a falta de comprometimento com a verdade

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A dor do dia é o seu mestre

sábado, 10 de outubro de 2015

Esclarecendo o propósito do paradigma holotrópico

A triste crucificação da mente adquirida

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Diálogo sobre o estado de deserto existencial





terça-feira, 6 de outubro de 2015

O que é o amor?

Você pergunta: “O que é o amor?” É o profundo desejo de ser uno com o todo, o profundo desejo de dissolver o Eu, o Você, em uma unidade. O amor é isso, porque estamos separados da nossa própria origem, por isso, sente-se a necessidade de se voltar para um todo.

Se você arrancar uma árvore, ela sentirá o grande desejo de enraizar no solo, porque esta é sua verdadeira vida. Agora ela está morrendo. Separada a árvore não pode existir. Ela tem que existir na terra. Isso é amor.

Seu ego se tornou uma barreira entre você e a sua terra, o todo. O homem está sufocado, ele não consegue respirar, perdeu suas raízes.

O amor é um desejo de nutrição; o amor é enraizar-se na existência. E o fenômeno se torna mais fácil de se você cair no polo oposto – é por isso que o homem é atraído pela mulher, e a mulher pelo homem. O homem pode encontrar sua terra através da mulher, ele pode voltar a ficar com seus pés no chão, através da mulher, e a mulher pode por os pés no chão através do homem. Eles são complementares. O homem sozinho é metade. Quando essas duas metades se encontram e se misturam e se fundem, pela primeira vez nos sentimos enraizados, com os pés no chão.

Não é somente na mulher que você se enraíza; é através da mulher que você se enraíza em Deus. A mulher é simplesmente uma porta, o homem é simplesmente uma porta. O homem e a mulher são apenas portas para Deus. O desejo de amor é o desejo de Deus. Você pode entender isso, ou não pode entender, mas o desejo de amor realmente prova a existência de Deus. Não existe nenhuma outra porta.

Porque o homem ama Deus é. Porque o homem não pode viver sem amor, Deus é. A ânsia de amar simplesmente diz que sozinhos nós sofremos e morremos, juntos, nós crescemos, somos nutridos, realizados, preenchidos.

Você pergunta: “O que é o amor? Por que tenho tanto medo do amor?” É por essa razão que a pessoa tem medo do amor – porque no momento que você entra na mulher, você perde seu ego, e a mulher quando entra no homem, perde seu ego.

Agora isto precisa ser entendido: você pode estar enraizando no todo, somente se perder você mesmo; não há outra maneira. Você é atraído em direção ao todo por estar se sentindo desnutrido, e então, quando chega o momento de desaparecer no todo, você começa a sentir muito medo. Um grande medo surge porque você está perdendo a si mesmo. Você recua. Este é o dilema. Todo o ser humano tem que encarar isso, passar por isso, entender e transcender isso.

Você precisa entender que ambas as coisas estão surgindo da mesma coisa. Você sente que seria lindo desaparecer – nenhuma preocupação, nenhuma ansiedade, nenhuma responsabilidade. Você se tornará parte do todo, como as árvores e as estrelas. A simples ideia é fantástica! Ela abre portas, portas misteriosas para dentro de seu ser, ela da nascimento à poesia. Ela é romântica. Mas quando você realmente mergulha nisso, surge o medo de que: “Eu vou desaparecer, e quem sabe o que vai acontecer depois.”

É como um rio alcançando o deserto, ouvindo o sussurrar do deserto. O rio hesita, quer ir além do deserto, quer ir em busca do oceano; sente que existe um desejo, um sentimento sutil, uma certeza e uma convicção de que “meu destino é ir além!” nenhuma razão possível pode ser apontada, mas existe uma convicção interior de que “eu não terminarei aqui. Tenho que continuar procurando algo maior.”

Alguma coisa lá no fundo diz: “Tente energicamente! E transcenda esse deserto”.

E então o deserto diz: “Ouça-me: o único jeito é evaporar-se, entregando-se aos ventos. Eles o levarão além do deserto”. O rio quer ir além do deserto, mas a duvida é muito natural: “Qual é a prova, a garantia que depois os ventos permitirão que eu volte a ser um rio? Uma vez que eu tenha desaparecido, não estarei absolutamente controlando a situação. Então qual é a garantia que eu me tornarei novamente o mesmo rio, com a mesma forma, com o mesmo nome, o mesmo corpo? E quem sabe? E como poderia confiar que, uma vez que eu tenha me rendido aos ventos, eles permitirão que eu volte a me juntar?” este é o medo do amor.

Você sabe, está convencido de que sem amor não há vida, sem amor você permanece faminto por algo desconhecido, permanece insatisfeito, vazio.

Você é oco; você apenas um recipiente sem conteúdo. Você sente o vácuo, o vazio e o tormento disso. E você está convencido de que existem meios capazes de preenche-lo.

Mas quando você se aproxima do amor surge um grande medo, surge a dúvida: se você relaxar, se realmente mergulhar nele, será capaz de voltar novamente? Será capaz de proteger sua identidade? Vale a pena correr esse risco? E a mente decide não correr esse risco, porque pelo menos você é subnutrido, mal alimentado, faminto, miserável – mas pelo menos você é. Desaparecendo em algum amor, quem sabe? Você iria desaparecer, e qual é a garantia de que haverá felicidade, haverá beatitude, haverá Deus?

É o mesmo medo que uma semente experimenta quando começa a morrer no solo. Isso é morte, e a semente é incapaz de conceber que haverá vida surgindo desta morte.
Osho

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O paradigma holotrópico expresso nos games

domingo, 4 de outubro de 2015

A trágica comédia humana

Sobre a trave do perfeccionismo

A mente não existe como uma entidade

A mente não existe como uma entidade – essa é a primeira coisa. Só existem pensamentos.

A segunda coisa: os pensamentos existem separados de você, eles não são um com sua natureza, eles vêm e vão – você permanece, você persiste. Você é como o céu: este nunca vem, nunca vai, está sempre aí. Nuvens vêm e vão, elas são um fenômeno momentâneo, elas não são eternas. Mesmo que você tenta apegar-se a um pensamento, você não pode retê-lo por muito tempo; ele precisa ir-se, ele tem seu próprio nascimento e morte. Pensamentos não são seus, eles não lhe pertencem. Eles chegam como visitantes, hóspedes, mas não são anfitriões.

Observe cuidadosamente, assim você se tornará o anfitrião e os pensamentos serão os hóspedes. E como hóspedes eles são bonitos, porém se você esquecer completamente de que é o anfitrião e eles se tornarem o anfitrião, dessa forma você fica numa confusão. Isso é o que o inferno é. Você é o mestre da casa, a casa lhe pertence, e os hóspedes tornaram-se os mestres. Receba-os, cuide deles, mas não fique identificado com eles; do contrário, eles se tornarão os mestres.

A mente se torna o problema porque você tomou os pensamentos tão profundamente dentro de você que você esqueceu completamente a distância; que eles são visitantes, eles vêm e vão. Lembre-se sempre daquele que permanece: essa é sua natureza, seu tao. Esteja sempre atento daquele que nunca vem e nunca vai, assim como o céu. Mude a gestalt: não fique focado nos visitantes, permaneça enraizado no anfitrião, os visitantes virão e irão.
( Osho )

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Da observação ácida à observação doce

Se você não está bem consigo mesmo, existem apenas dois caminhos: suportar sua inquietação ou projetá-la sobre os outros. Quando uma pessoa está internamente tensa, está pronta para lutar. Qualquer desculpa serve — o motivo é irrelevante. Ela pula sobre o primeiro que aparece: o empregado, a esposa, o filho.Como as pessoas se livram dos seus conflitos e inquietações interiores? Responsabilizando os outros. Assim, elas passam por uma catarse: tornam-se irritadas, atiram sua raiva e violência nos outros e isso lhes proporciona um alívio, um descanso. Temporariamente, é claro, porque no interior nada mudou.

O interior continuou velho e novamente acumulará. No dia seguinte, voltará a acumular a mesma coisa — raiva, ódio — e você terá de projetá-lo. A luta contra os outros existe porque você continua acumulando lixo dentro de si e necessita jogá-lo fora. Um homem que conquistou a mesmo, que se tornou um auto-conquistador, não tem conflitos internos, sua guerra cessou.

Dentro de si, existe apenas um — não dois. Tal homem nunca mais irá projetar, nunca mais lutará contra alguém. A mente usa o truque da projeção para esquivar-se do conflito interno porque esse conflito é muito doloroso — por muitas razões. A razão básica é que todas as pessoas têm uma imagem muito boa de si mesmas. E isso é tão forte que sem essa imagem elas quase não conseguem sobreviver. Os psiquiatras dizem que as ilusões são necessárias para se viver. Se você pensar que é tão ruim, tão demoníaco, tão mau; se essa imagem que é a verdadeira porque você é realmente assim — permanecer, você será simplesmente incapaz de viver. Perderá toda a autoconfiança, ficará tão repleto de auto-condenação que será incapaz de amar, não será capaz nem mesmo de se movimentar ou de olhar para qualquer outro ser humano. Sentir-se-á tão inferior, tão demoníaco, que morrerá. Esse sentimento tornar-se-á um suicídio. Mas isso é uma verdade — então, o que fazer?

O jeito é mudar essa verdade; é tornar-se um homem de Deus; não um homem do Diabo — é tornar-se Divino! Entretanto, isto é difícil, árduo. É uma dura e longa caminhada. Muito tem de ser feito. Só então o Diabo poderá tornar-se Divino. Ele pode tornar-se Divino! Talvez você não saiba que a raiz da palavra Diabo é a mesma da palavra Divino. Ambas vêm da raiz "deva", do Sânscrito. O Diabo pode tornar-se Divino porque o Divino tornou-se Diabo. A possibilidade existe; são dois pólos da mesma energia. A energia que se tornou amarga, azeda, pode tornar-se doce. É necessária uma transformação interior, uma alquimia interna — mas isto é demorado e árduo.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Sobre o vício de fugir do vazio

A cultura incentiva a fuga do vazio

Sobre nosso real estado de intolerância

A família nos força ao ajustamento social

Quem tem tempo para buscar a verdade?

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A família é a causa raiz de milhares de doenças da humanidade

A menos que a família desapareça do mundo essas religiões, essas nações, essas guerras não vão desaparecer, porque elas são todas baseados na família. A família ensina que você é um Hindu e a religião hindu é a melhor religião de todas; que as outras religiões são assim-assim.

O Cristianismo continua programando as crianças: Você só pode ser salvo através de Jesus Cristo. Ninguém mais pode te salvar. Todas as outras religiões são apenas moralidades, muito superficiais, elas não estão aí para ajudá-lo.

E uma criança, junto a seu peito de alimentação é, também, alimentada continuamente com todos os tipos de superstições – Deus, Espírito Santo e o filho unigênito de Deus, Jesus, o céu e o inferno...

As crianças são muito vulneráveis, porque eles nascem como uma tabula rasa, uma página em branco - nada está escrito sobre elas, suas mentes são puras. Você pode escrever o que quiser sobre a criança e cada família comete o crime: elas destroem o indivíduo e criam um escravo. A obediência é a virtude, a desobediência é o pecado original.

Quando uma criança começa a ser programada desde o nascimento, quando ela é muito vulnerável e muito suave, você pode escrever qualquer coisa. Isso vai continuar em seu inconsciente. Pode dizer a ela que ‘’Nossa nação é a maior nação do mundo’; cada nação está dizendo isso. ‘Nossa religião é a maior religião, nossa escritura é escrita pelo próprio Deus’ – Os Hindus estão dizendo isso, os Cristãos estão dizendo isso, os Judeus estão dizendo isso. Todo mundo está cometendo o mesmo crime.

O Cristianismo é claro faz isso de forma mais eficiente, mais astuciosamente, porque é a maior religião no mundo. Ele usa técnicas ultra-modernas de programação. Ele envia os seus missionários para aprender a psicanálise, para aprender como programar as pessoas, como desprogramar pessoas.

Se um Hindu tem que ser convertido para o cristianismo, primeiro ele tem que ser desprogramado do hinduísmo. Novamente a tabula rasa aparece; o que foi escrito é apagado. Agora você pode escrever de novo: 'O cristianismo é a maior religião do mundo e não houve nenhum homem como Jesus Cristo, e nunca haverá novamente, porque ele é o único filho de Deus.’

Todas as guerras dependem da família. Tem sido uma tradição em muitas nações no passado que você deve contribuir com pelo menos um filho para o exército, para proteger a nação, para proteger a dignidade e o orgulho da nação.

No Tibete, cada família tem de contribuir com o filho mais velho para os mosteiros. Isso tem sido feito há milhares de anos, como se as crianças fossem apenas mercadorias que você pode contribuir, como se as crianças fossem dinheiro que você pode dar em caridade.

Isto dividiu o mundo em diferentes campos por causa das assim chamadas religiões, por causa da política, por causa de nacionalidades, por causa de raças. Todos eles dependem da família. A família é a causa raiz de milhares de doenças da humanidade.

Osho, em Cristianismo, O Mais Mortal dos Venenos e o Zen, O Antídoto para Todos os Venenos

sábado, 26 de setembro de 2015

No autoconhecimento, não há espaço para a autopiedade

A dor tem raízes na autopiedade, e para compreender a dor é preciso que se processe inicialmente uma rude operação na autopiedade como um todo. Não sei se vocês já observaram como vocês têm pena de si mesmos quando dizem, por exemplo, "estou solitário". No momento em que surge a autopiedade, surge também o solo preparado para receber as raízes da dor. Não importa quanto você possa racionalizar a sua autopiedade, justificá-la, poli-la, encobri-la com ideias — ela ainda está presente, fazendo suas chagas lá nas suas profundezas. Assim, o homem que deseja compreender a dor deve começar por se tornar livre trivialidade brutal, autocentrada e egoística que é a autopiedade. Você pode sentir autopiedade por estar doente, ou porque perdeu alguém por morte, ou porque não se satisfez e portanto está frustrado, embrutecido; mas qualquer que seja a causa, a autopiedade é a raiz da dor. E quando por fim você estiver livre da autopiedade, poderá olhar para a dor sem adorá-la ou fugir dela, ou dar a ela um significado sublime ou espiritual, tal como dizer que você precisa sofrer para encontrar Deus — o que é uma enorme besteira. Apenas as mentes estúpidas e obtusas se conformam com a dor. Assim, não deve haver qualquer tipo de aceitação da dor, bem como não deve haver negação dela. Quando você estiver livre da autopiedade, terá despido a dor de todo sentimentalismo, de toda emotividade produzida pela autopiedade. Então você estará apto a encarar a dor com plena atenção.

[...] Percebam a própria aceitação tola da dor, sua racionalização, suas desculpas, sua autopiedade, seu sentimentalismo, sua atitude emocional em relação á dor, porque tudo isso é dissipação de energia. Para compreender a dor, vocês precisam de toda a sua atenção a ela, e nesta atenção não há lugar para desculpas, para sentimentos, para racionalização, não há lugar para qualquer tipo de autopiedade.

Espero estar sendo claro quando falo em dar atenção total à dor. Nessa atenção não há qualquer tentativa de resolver ou compreender a dor. Apenas olhar, observar. Qualquer tentativa de compreender, de racionalizar ou de escapar da dor, naquele estado de completa atenção no qual o que chamamos de dor pode ser compreendido.

Não estamos analisando, não estamos investigando analiticamente a dor de forma a nos livrarmos dela, pois este é outro truque da mente. A mente analisa a dor e, a seguir, imagina que a compreendeu e que está livre dela — o que é asneira. Você pode se ver livre de determinado tipo de dor, mas a dor surgirá novamente, de outra forma. Estamos falando da dor como uma coisa global — da dor encarada dessa maneira —, seja ela sua, ou minha, ou de qualquer outro ser humano.

Para compreender a dor é preciso que haja compreensão do tempo e do pensamento. É preciso que haja uma percepção involuntária de todas as fugas, de toda autopiedade, de todas as verbalizações, de forma que a mente se torne completamente silenciosa frente a algo que precisa ser compreendido. Não há então distinção entre o observador e aquilo que está sendo observado. Não se trata do fato de que VOCÊ, o observador, o pensador, tem uma dor e a está percebendo, mas há apenas o ESTADO de dor. Esse estado de dor indistinta é necessário, pois quando se olha para a dor como observador cria-se um conflito que embrutece a mente e dissipa energia, e portanto não há atenção.

Quando a mente compreende a natureza do tempo e do pensamento, quando arrancou todas as raízes da autopiedade, do sentimento, da emotividade e de todo o resto, então o pensamento — que criou toda essa complexidade — chega ao fim e não existe mais o tempo; logo você está direta e intimamente em contato com aquilo a que chamou de dor. A dor é mantida apenas quando existe uma fuga, um desejo de fugir dela, de resolvê-la ou de adorá-la. Mas quando não existe nada disso porque a mente está em contato direto com a dor, e está portanto completamente silenciosa em relação a ela, então você descobrirá por si mesmo que a mente não está com dor, em absoluto. No momento em que a mente de alguém está completamente em contato com o fato gerador da dor, esse fato por si mesmo resolve todas as qualidades produtoras de dor, do tempo e do pensamento. E, por conseguinte, há o fim da dor.

Krishnamurti em, Saanen, 28 de julho de 1964

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Observando a riqueza de um momento de conflito

Um espaço para denunciar a mente adquirida

Vivendo o deserto do insight iniciático

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pra que você foi chamado à esta existência?

sábado, 19 de setembro de 2015

Você se identifica com a desgraça ou com a Graça?

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O "outro estado" não vem por palavras e conjecturas

A Verdade, a Realidade, ou "o outro estado", não se acha num ponto fixo, não se pode alcançar por um certo caminho, e temos de descobri-la de momento a momento. Se está num ponto fixo, nesse caso esse ponto se acha dentro dos limites do tempo. Para um ponto fixo pode haver um caminho, como há um caminho para suas casas; mas para uma coisa viva que não tem pouso fixo, que não tem começo nem fim, não pode haver caminho algum. 

[...] o que é reconhecível, não pode ser aquele outro estado. O outro estado não é reconhecível, pois nunca foi conhecido; não é uma coisa que já experimentaram e que são capazes de reconhecer. O "outro estado" é uma coisa que tem de ser descoberta de momento a momento; e para descobri-la, a mente tem de ser livre. Senhor, a mente tem de estar livre para descobrir qualquer coisa; e a mente agrilhoada pela tradição, antiga ou moderna, a mente que leva a carga da crença, dos dogmas, dos ritos, não é livre, evidentemente. 

[...] Aspiramos àquele outro estado, e uma vez que não sabemos como alcançá-lo, passamos invariavelmente a depender de alguém, a quem chamamos de instrutor, guru, ou a depender de um livro, ou de nossa experiência. E está criada a dependência, e onde há dependência há também autoridade. A mente se torna, por conseguinte, escrava da autoridade, escrava da tradição, e essa mente, evidentemente, não é livre. Só a mente que é livre, pode descobrir; e contar com a ajuda de outrem para o despertar da mente, é o mesmo que recorrer a uma droga que os fará ver as coisas com muita nitidez, muita clareza. Há drogas que podem fazer a vida parecer momentaneamente, muito mais "vital", de modo que todas as coisas assumem um relevo, um brilho extraordinário — as cores que veem todos os dias, sem lhes dar atenção, se tornam extraordinariamente belas, etc. Tal poderá ser o "despertar" da mente de vocês, mas estarão então na dependência da droga, como dependem agora do seu guru ou de um certo livro sagrado. E quando se torna dependente, a mente se embota. Da dependência provém o medo — o medo de não se realizar o que se quer, o medo de não ganhar. Quando dependemos do outro, seja o Salvador, seja outro qualquer, isso significa que a mente está em busca de um resultado feliz, um fim satisfatório. Podem chamá-lo Deus, a Verdade, ou como quiserem  mas é sempre uma coisa que se quer ganhar. E assim, a mente fica aprisionada, se torna escrava e, não importa o que faça — se sacrificar, se disciplinar, se torturar — essa mente nunca descobrirá o outro estado. 

O problema, pois, não é quem seja o instrutor correto, mas sim descobrir se a mente pode se manter desperta. E isso só se pode descobrir quando todas as relações se tornam um espelho, em que ela SE VÊ EXATAMENTE COMO É. Mas a mente não pode se ver como é, QUANDO HÁ CONDENAÇÃO OU JUSTIFICAÇÃO daquilo que vê, OU SE HÁ QUALQUER TIPO DE IDENTIFICAÇÃO. Todas essas coisas tornam a mente embotada e, embotados que estamos, desejamos ser despertados. Por essa razão nos amparamos em outro, para que nos desperte. Mas, em virtude do próprio desejo de ser despertada, a mente embotada se torna mais embotada ainda, porquanto não percebe a causa de seu embotamento. É só quando a mente percebe e compreende todo esse processo, e não depende de explicações de ninguém, é só então que ela é capaz de se libertar. 

Mas, COMO É FÁCIL NOS SATISFAZERMOS COM PALAVRAS, COM EXPLICAÇÕES! São POUQUÍSSIMOS  os que rompem a barreira das explicações, ultrapassando as palavras e descobrindo POR SI MESMOS o que é verdadeiro. A capacidade é produto da aplicação, não é? Mas nós não nos aplicamos, PORQUE NOS SATISFAZEMOS COM PALAVRAS, com especulações, com as tradicionais respostas e explicações com que fomos criados. 

Jiddu Krishnamurti em, Da solidão à plenitude humana

A urgente busca de um "outro estado" de ser

Penso que a maioria de nós acha a vida muito sem sentido. Para ganharmos nosso sustento, precisamos exercer uma certa profissão, e esta se torna muito monótona; tem início uma rotina, que temos de seguir, ano por ano, até morrer. Ricos ou pobres, e ainda que sejamos muito eruditos ou dotados de espírito filosófico, nossas vidas são em geral superficiais, vazias. Há evidentemente uma insuficiência em nós mesmos, e ao nos tornarmos conscientes desse vazio, procuramos preenchê-lo com conhecimentos, com alguma espécie de atividade social, ou nos refugiamos com todo ordem de divertimentos, ou nos apegamos a alguma crença religiosa. Ainda que tenhamos uma certa capacidade e sejamos muito eficientes, nossas vidas são, ainda assim, sem sentido e, para nos livrarmos dessa falta de sentido, dessa cansativa monotonia da vida, buscamos uma certa forma de enriquecimento religioso, tentamos alcançar aquele "estado de ser" extra-humano que não é uma rotina e que, por enquanto, pode ser chamado "o outro estado". Em nossa busca desse outro estado, encontramos muitos sistemas diferentes, diferentes caminhos que se supõe conduzirem a ele; e, assim, pelo disciplinamento de nós mesmos, pela prática de determinado sistema de meditação, pela observância de um certo ritual ou a repetição de certas frases, esperamos alcançar aquele estado. Sendo a nossa vida um ciclo interminável de dores e prazeres, de variadas experiências sem muita significação ou mera repetição, sem sentido algum, de uma mesma experiência — o viver constitui para a maioria de nós uma monótona rotina. Por esta razão, o problema de nosso enriquecimento interior, da conquista do "outro estado" — chamem-no Deus, a Verdade, bem-aventurança ou como quiserem — se torna muito urgente, não é verdade? Vocês podem estar bem de vida, bem casado, ter filhos, podem pensar de maneira inteligente e equilibradamente, entretanto, sem aquele estado, a vida se torna horrivelmente vazia

Que se deve, pois, fazer?Como conquistar aquele estado? Ou é completamente impossível conquistá-lo? A nossa mente, como hoje está constituída, é sem dúvida muito insignificante, limitada, condicionada; e embora uma mente limitada possa especular a respeito do "outro estado", suas conjecturas serão sempre limitadas. Ela poderá formular um estado ideal, conceber e descrever aquele outro estado, mas suas concepções permanecem dentro de suas estreitas limitações, e penso que aí é que se encontra o fio da meada: no perceber que a mente não pode, em circunstância alguma, experimentar, viver aquele outro estado, se se limita a formulá-lo ou especular a seu respeito. Não há dúvida de que esta é uma descoberta extraordinária: o perceber que, sendo a mente limitada, pequena, estreita, superficial, todo movimento que faça para alcançar aquele estado extraordinário, constitui um empecilho. O descobrimento deste fato, não especulativamente porém realmente, é o começo de uma nova maneira de considerar o problema. 

Nossas mentes, na verdade, são produto do tempo, de muitos milhares de dias passados, resultado da experiência baseada no "conhecido"; e, em tais condições, a mente é uma continuação do conhecido.  A mente de cada um de nós é resultado da cultura, educação, e por mais extenso que seja o seu saber ou preparo técnico, ela é sempre produto do tempo; por conseguinte, é limitada, condicionada. Com esta mente, queremos descobrir o incognoscível; e compreender que essa mente nunca poderá descobrir o incognoscível, constitui uma experiência verdadeiramente extraordinária. Descobrir que a mente de um indivíduo, por mais sagaz, por mais sutil, por mais ilustrada que seja, não pode de modo nenhum compreender aquele outro estado — esse descobrimento traz consigo uma certa compreensão "fatual" e acho que este é o começo de uma perspectiva da vida que poderá abrir  porta que conduz àquele outro estado. 

Expressando o problema de maneira diferente: a mente está sempre e sempre ativa, "tagarelando", planeando, e é capaz de extraordinária sutilezas e invenções. E de que maneira pode esta mente se tornar quieta? Vê-se que toda atividade da mente, todo movimento que faça, em qualquer direção, é reação do passado. Como aquietar esta mente? Se a aquietarmos por meio da disciplina, sua quietude é um estado em que não há investigação, busca, não é exato? Em tais condições, ela não está aberta para o "desconhecido", "o outro estado". 

[...] Disciplina implica, invariavelmente, repressão e conflito da dualidade — e isso está na esfera da mente — e por esse caminho prosseguimos, esperando captar o outro estado. Mas nunca indagamos inteligente e sadiamente se nossa mente é capaz de captá-lo. Foi nos sugerido de que a mente deve estar tranquila, mas a tranquilidade foi sempre cultivada por meio da disciplina. Isto é, temos o ideal de uma mente tranquila, e buscamos realizar este ideal por meio de controle, luta, esforço. 

Ora bem, se consideram atentamente esse processo, em sua inteireza, verão que está todo no terreno do conhecido. Consciente da monotonia de sua existência, cansada de suas repetidas experiências, a mente se empenha em conquistar aquele "outro estado". Mas, quando se percebe que a mente é o "conhecido" e que todo movimento que faz não a leva ao outro estado, que é o "desconhecido", o nosso problema se resume então, não em como conquistar o desconhecido, mas em descobrir se a mente pode libertar-se do "conhecido". Penso que este problema deve ser considerado por todo aquele que deseje descobrir se existe alguma possibilidade de "realizar o outro estado", o desconhecido. Assim sendo, como pode a mente, que é resultado do passado, do conhecido, libertar-se do conhecido? Espero que esteja me fazendo claro. 

Como disse, a mente atual — tanto consciente como inconsciente — é produto do passado, resultado acumulado de influências raciais, climáticas, dietéticas, e outras. A mente, portanto, está condicionada, condicionada como cristã, hinduísta, budista ou comunista, e é bem óbvio que ela projeta aquilo que considera ser o real. Mas, que a sua "projeção" seja a do comunista, que julga prever o futuro e quer forçar toda a humanidade a se adaptar ao padrão de sua Utopia, quer seja a "projeção" do chamado homem religioso,  que também julga conhecer o futuro e educa a criança, a pessoa de acordo com seu ponto de vista particular — nem uma nem outra dessas projeções é o Real. Sem o Real, a vida se torna muito sem sentido, como é atualmente para a maioria das pessoas. E sendo sem sentido as nossas vidas, começamos a nos tornar românticos e sentimentais, a respeito do outro estado, do Real. 

Ora, vendo-se que este é o padrão de nossa existência, e sem entrarmos em muitos pormenores, pergunto se é possível a mente se libertar do conhecido, constituído das acumulações psicológicas do passado. Há também o conhecido representado pelas nossas atividades diárias, mas deste, como ´bem óbvio, a mente não pode se livrar; porque se qualquer um de nós se esquecesse o caminho de sua casa, ou esquecesse os conhecimentos que o habilitam a ganhar o sustento, estaria à beira da demência. Mas pode a mente se libertar dos fatores psicológicos do conhecido, que lhe oferecem a segurança pela associação e a identificação?

Para investigar esta matéria, teremos de descobrir se há realmente diferença entre o pensador e o pensamento, entre o observador e a coisa observada. Atualmente, há uma divisão entre os dois, não é verdade? Pensamos que o "eu", a entidade que experimenta, é diferente da experiência, do pensamento. Há um intervalo, uma divisão entre o pensador e o pensamento e por essa razão dizemos: "Tenho de controlar o pensamento". Mas o "eu", o pensador, é diferente do pensamento? O pensador está sempre procurando controlar o pensamento, moldá-lo de acordo com um padrão que considera ser bom; mas existe pensador, se não existe pensamento? Só há pensar, e este cria o pensador. Podemos colocar o pensador em qualquer nível, chamá-lo o Supremo, o Atman ou o que quer que seja; mas ele continua a ser resultado do pensar. O pensador não criou o pensamento; foi o pensamento que criou o pensador. Reconhecendo a sua própria impermanência, o pensamento cria o pensador, como entidade separada, a fim de dar permanência a si mesmo, pois é isso, afinal de contas, o que todos desejamos. Vocês podem dizer que a entidade que chamam Atman, alma, pensador, está separada do pensamento, da experiência; mas só podem estar conscientes da existência de uma entidade separada, por meio do pensamento e, também, por causa do condicionamento de vocês como hinduísta, cristão, ou o que quer que sejam. Enquanto existir esta dualidade de pensador e pensamento, existirá necessariamente conflito, esforço, ou seja, a ação da vontade. E uma mente que quer se libertar, que diz: "Tenho de me libertar do passado" – o que essa mente faz é só criar outro padrão.

Assim, a mente só pode se libertar — e só assim então se torna possível a existência do "outro estado" — depois de cessar o esforço do "eu" para alcançar um resultado, neste mundo ou no outro mundo. Tudo o que fazemos se baseia em luta, ambição, sucesso, consecução de objetivos; e por essa razão, pensamos que há "realização" de Deus, ou da Verdade, só se torna possível mediante esforço. Mas esforço denota atividade egocêntrica para alcançar um fim. Não significa abandono do "eu".


Agora, se estão conscientes de todo esse processo da mente — tanto consciente como inconsciente — se realmente o percebem e compreendem, verão a mente se tornar sobremaneira tranquila, sem esforço algum. A tranquilidade conseguida à força de disciplina, controle, repressão, é a tranquilidade da morte. A tranquilidade a que me refiro se manifesta sem esforço algum assim que compreendemos todo esse processo da mente. Só então existe a possibilidade de se manifestar aquele outro estado, que se pode chamar a Verdade, ou Deus. 

Jiddu Krishnamurti em, Da solidão à plenitude humana


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill