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domingo, 6 de outubro de 2013

Temos de achar um tipo humano de educação no mundo


Pergunta a Osho:


Osho,
Sempre estou me sentindo culpado, como se tivesse cometido grandes crimes. Como posso abandonar essa culpa? Ela está me destruindo e todas as possibilidades para viver minha vida alegremente.


Isso é o que eu estava dizendo agora mesmo: você foi pro­gramado de tal modo que não pode viver alegremente. Toda a alegria foi contaminada, toda a alegria foi envenenada, toda a alegria foi condenada.

E você ouviu a condenação repetida muitas vezes — do padre, do pai, dos professores, de todo o mundo —, tanto que ela se tornou uma idéia muito, muito enraizada em você de que há algo errado em ser alegre.

Retorne, lembre-se de seus dias de infância. Sempre que você estava contente, alguém se aproximava para dizer: “O que você está fazendo? Por que você está gritando? Por que você está dançando? Papai está lendo o jornal, ele será perturbado”. O papai e seu tolo jornal, e de repente sua alegria fica mutilada. Você quis correr ao sol e não lhe foi permitido; você foi forçado a sentar-se no quarto em um canto escuro. Você quis escalar as árvores, mas aquela tola lição de casa estava ali e tinha de ser feita. Você quis falar com os pássaros e brincar com os cachorros e as crianças e foi forçado a sentar-se dentro de uma escola como uma prisão durante seis, sete horas...

Você não percebe o que está fazendo com suas crianças, não vê o que foi feito a você. As crianças pequenas estão sendo forçadas a se tornar prisioneiras; sua vida começa a ficar mutilada desde então. Não lhes permitem se mover — e elas são energias borbulhantes. Elas gostariam de cantar, de explodir em canções e danças, de escalar árvores e montanhas, de nadar nos rios e nos oceanos. Mas a dança não é permitida, a celebração não é permitida. O que é permitido é antinatural e o que não é permitido é natural.

Temos de achar um tipo humano de educação no mundo; a educação que existe é muito desumana. Temos de achar formas para que a criança possa brincar ao sol e ainda aprender um pouco de aritmética. Isso pode ser feito — uma vez que sabemos que a aritmética não é tão importante como brincar ao sol; uma vez que o assunto foi decidido, então podemos achar formas. Um pouco de aritmética pode ser ensinada, e um pouco é preciso. Nem todo mundo vai se tornar um Albert Einstein. E esses que vão se tornar Albert Einstein, eles não se preocuparão em brincar ao sol — sua alegria é a aritmética, essa é sua poesia. Então é diferente, então é totalmente diferente; então o crescimento não é impedido e a culpa não é criada.

Eu mesmo nunca me interessei em jogar qualquer jogo em minha infância, mas ninguém me impedia. Eu estava mais interessado em grande poesia, estava mais interessado em grande filosofia, estava mais interessado em religião — esse era meu jogo, essa era minha brincadeira. Isso é outra coisa. Se alguém desfruta a poesia, deixe-o desfrutá-la, e se alguém gosta de trabalhar em uma carpintaria, deixe-o desfrutar isso — cada qual de acordo com sua necessidade.

E não deveria haver uma avaliação sobre quem é superior e quem é inferior. O carpinteiro não é inferior e o matemático não é superior; o matemático está desfrutando sua preferência e o carpinteiro está desfrutando a dele. Se qualquer coisa tiver de ser dita, esta é a idéia — é que a pessoa jovial está certa e a pessoa triste está errada.

Assim, tudo que traz alegria a sua vida é virtude. Mas apenas o oposto foi ensinado a você — tudo que traz alegria a você é pecado, e tudo que o torna miserável é virtude. O padre depende disso, a igreja depende disso; todos os tipos de explorações são possíveis. 

Uma vez que um homem foi desviado de seu ser, de sua alegria, então todos os tipos de explorações são possíveis.


Osho, em "A Revolução: Conversas Sobre Kabir"

sábado, 5 de outubro de 2013

Quem realmente quer uma revolução no pensamento?

Pergunta: A educação pelo estado não é uma calamidade? Se o é, de que maneira levantar fundos para escolas não controladas pelo Governo?

Krishnamurti: Obviamente, a educação pelo estado é uma calamidade — e com isso sem dúvida os governos não estarão de acordo. Não querem que o povo pense, querem que as pessoas sejam autômatos, porque então lhes podem dizer o que fazer. Nessas condições, o ensino, sobretudo se está nas mãos do governo, está-se tornando cada vez mais um meio de ensinar o que pensar e não a pensar; porque se um indivíduo pensar independentemente do sistema, se torna um perigo. Por isso, uma das funções do Governo é a de não deixar o indivíduo pensar, mas, sim, a de fazê-lo aceitar o que se lhe diz. Eis porque, como se observa no mundo inteiro, todos os governos se estão ingerindo na educação. A educação e a alimentação converteram-se em meios de controlar o homem. E que importa o homem aos governos, da esquerda ou da direita, se o que eles querem são máquinas perfeitas para produzir mercadorias e balas de fuzil? Há umas poucas escolas particulares na Inglaterra e noutros lugares; mas todas elas são rigorosamente fiscalizadas, inspecionadas, controladas, porque o Governo não deseja instituições livres, capazes de formar pacifistas, homens que pensem de modo contrário ao regime, ao sistema. Sendo a educação correta, sem dúvida, um perigo para o governo, uma das suas funções é cuidar de que não seja ministrada a educação correta. Há na Inglaterra cerca de 80.000 pacifistas. Se aumentar o seu número, não acham que se transformarão num perigo para o Governo? Por conseguinte, é preciso controlar os indivíduos, desde a infância. Não lhes permitamos pensar em termos que não admitam guerra, pátria, sistemas, ou ter uma ideologia diferente. Isso significa fiscalização por parte do Governo, controle do ensino pelo Ministro da Educação. Senhores, é isso que está acontecendo no mundo, quer lhes agrade, quer não; e significa que vocês, os cidadãos responsáveis pelo Governo, não desejam a liberdade. Não desejam um novo modo de existência, uma nova civilização, uma nova estrutura social. Se vocês têm alguma coisa nova, ela pode ser revolucionária, destruidora do que É; e como vocês desejam que as coisas continuem como estão, vocês dizem: “Ora, que haja um Governo que controle a educação”. Vocês desejam uma ligeira modificação aqui e ali, mas não desejam revolução no pensamento; e no instante em que desejam uma revolução no pensamento, o governo intervém, joga-lhes na prisão, ou acaba logo com vocês, a portas fechadas, e vocês caem no esquecimento. Senhores, quando o próprio homem não tem visão interior, luz interior, compreensão, um país se torna cada vez maios organizado e existe cada vez mais autoridade e compulsão externa. Ele se torna então um mero instrumento de autoridades, quer num Estado Totalitário, quer numa das chamadas democracias. Porque, nos momentos de crise, os chamados estados democráticos se tornam iguais aos totalitários, esquecendo a democracia e obrigando os homens a se conformarem a um padrão de ação.  

Agora, a segunda parte da pergunta é: “Como levantar fundos para escolas não controladas pelo governo?” Senhor, não é este o problema. No momento em que temos dinheiro, vem a corrupção. Considerem todas as escolas fundadas no estilo mais idealista possível. Observem seus dirigentes. Como engordam! No entanto, vocês podem fundar uma escolinha na esquina da rua de vocês. Sei de várias escolas que começaram assim e que estão funcionando, graças ao preparo, ao entusiasmo, ao sentimento dos seus fundadores. Uma das nossas dificuldades é querermos transformar toda a humanidade da noite para o dia — ou influenciar as massas, como vocês costumam dizer. Quem são as massas, a pobre humanidade? São vocês e eu. E se sentirem a fundo, se pensarem de fato em todos esses problemas— não apenas superficialmente, no espaço de uma tarde, para matar o tempo — farão então o que for necessário para a criação de uma nova escola, em qualquer parte, na esquina da rua ou na própria casa de vocês; porque, em tal caso, estarão interessados em seus filhos e nas crianças do círculo de vocês. Então aparecerá o dinheiro necessário, Senhor. Não se preocupem com o dinheiro. Dinheiro é de última importância. Deixem o dinheiro aos idealistas desejosos de fundar uma escola ideal. Se você e eu estamos bem conscientes do problema da existência humana, do que ela significa, se sabemos porque vivemos, porque sofremos, porque passamos por tantas torturas, se desejamos realmente compreender esse problema e ajudar a criança a compreende-lo, iniciaremos uma escola, sem fundos, sem toque de caixa, e sem coletas de vultuosas contribuições, porque, quando temos dinheiro, o que acontece? Não sabem o que acontece, senhores? Vocês têm seus recursos particulares, precisam preservá-los, saber — quem os gasta, se vocês, se o secretários de vocês, ou a comissão — e começam as preocupações com futilidades. Se possuem pouco dinheiro e verdadeira clareza de pensamento e sentimento, criarão uma escola. E, ao criar a escola, terão naturalmente de enfrentar a oposição ou a ingerência do governo. Se ensinam os seus alunos a não serem nacionalistas, a não fazerem continência à bandeira, porque o nacionalismo é um fator de guerras, se os ensinam a não serem comunalistas, se os ajudam a compreenderem todo o problema da existência, julgam que o governo lhes apoiarão? Se produzirem verdadeiros revolucionários, não no sentido de matar, mas verdadeiros revolucionários no pensamento e o sentimento, pensam que a sociedade os tolerará por um minuto?

Assim, como pais e preceptores vocês são responsáveis, precisam verificar se estão meramente concordando aos ditames do governo, se aprenderam meramente uma técnica que lhes dá uma certa capacidade para ganhar dinheiro, e se se contentam com manter a atual estrutura social, tal como está; ou se vocês têm verdadeiro interesse pelo viver correto e pela maneira correta de ganhar a vida. Se perceberem que os governos se baseiam na violência e são produto da violência, e compreenderem que por meios errôneos nunca será possível alcançar um fim justo; e se estão interessados em educar verdadeiramente os seus filhos sem dúvida criarão uma escola, seja onde for — na esquina, em seu quintal, ou em seu próprio quarto. Porque, senhores, não creio que sejam muitos os que percebem o abismo, a degradação a que chegamos.

(...) Contar com os governos, contar com as organizações exteriores para a transformação que deve começar no interior de cada um de nós, é esperar em vão. O que nos cabe fazer é transformar a nós mesmos, o que significa ficarmos cônscios das nossas ações, nossos pensamentos e sentimentos, na vida de cada dia.

(...) Senhor, a revolução deve começar no pensamento, e não no sangue; e se houver a verdadeira revolução do pensamento não haverá sangue. Mas se não houver correto pensar, verdadeiro pensar, haverá sangue, e mais sangue. Os meios injustos nunca produzirão um fim justo, porquanto o fim está contido no meio.

Jiddu krishnamurti — Da insatisfação à felicidade    

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A inteligência não está separada do amor

Só o autoconhecimento pode trazer a tranquilidade e a felicidade ao homem, porque o autoconhecimento é o começo da Inteligência e da integração. A inteligência não é mero ajustamento superficial; não é cultivo da mente, aquisição de saber. Inteligência é a capacidade de compreender as coisas da vida, é a percepção dos valores corretos.

A educação moderna, desenvolvendo o intelecto, fornece teorias e mais teorias, fatos e mais fatos, mas não nos faz compreender o processo total da existência humana. Somos altamente intelectuais; desenvolvemos mentes astuciosas, e vivemos num emaranhado de explicações. O intelecto se satisfaz com teorias e explicações, a inteligência não; e para a compreensão do processo total da existência, é necessária uma integração da mente e do coração, na ação. A inteligência não está separada do amor.

(...) Não somos criadores, porque enchemos de saber, de erudição e de arrogância nossos corações e nossas mentes; estamos cheios de citações do que outros pensaram e disseram. Mas o experimentar vem em primeiro lugar, e não a maneira de experimentar. É necessário que haja amor, para que possa haver a expressão do amor.

Está claro, pois, que a inteligência não resulta do mero cultivo do intelecto, isto é, do desenvolvimento das capacidades e conhecimentos. Há distinção entre intelecto e inteligência. Intelecto é o pensamento funcionando independente da emoção, e inteligência é a capacidade de SENTIR e RACIOCINAR; e enquanto não apreciarmos a vida com inteligência, e não apenas com o intelecto ou só o sentimento, nenhum sistema político ou educativo do mundo nos salvará do caos e da destruição.

A erudição não é comparável com a inteligência, erudição não é sabedoria. A sabedoria não é comerciável, não é artigo que se possa comprar pelo preço do estudo e da disciplina. A sabedoria não se encontra nos livros; não pode ser acumulada, guardada ou armazenada na memória. A sabedoria vem pela negação do “eu”. Ter a mente aberta é mais importante do que aprender; e podemos ter a mente aberta, não quando a atestamos com conhecimentos, mas quando estamos cônscios dos nossos próprios pensamentos e sentimentos, quando observamos com cuidado a nós mesmos e as influências que nos cercam, quando prestamos ouvidos a outrem, quando observamos o rico e o pobre, o poderoso e o humilde. A sabedoria não pode ser adquirida pelo temor e pela opressão, mas só pelo exame e pela compreensão dos incidentes de cada dia, nas relações humanas.

Com nossa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, estamos embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamos nos tornando cada vez mais especializados e cada vez menos INTEGRADOS.

A sabedoria não pode ser substituída pela erudição, e não há quantidade de explicações, não há acumulo de fatos que liberte o homem do sofrimento. A erudição é necessária, a ciência tem seu lugar próprio; mas, a mente e o coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma explicação, a vida se torna vazia e sem sentido.

(...) O saber, o conhecimento de fatos, embora em constante crescimento, é por sua própria natureza limitado. A sabedoria é infinita, abarcando o saber bem como a esfera de ação; mas se nos apoderamos de um ramo, pensamos que temos a árvore toda. O conhecimento da parte nunca nos fará conhecer a alegria do todo. O intelecto jamais nos levará ao todo, porque ele é apenas um segmento, uma parte.

Separamos o intelecto do sentimento, desenvolvemos o intelecto à custa do sentimento. Somos como um tripé com uma perna mais longa do que as outras, não temos equilíbrio. Somos educados para sermos intelectuais; nossa educação cultiva o intelecto, para torna-lo penetrante, astucioso, ambicioso, e assim ele tem o papel mais importante em nossa vida. A inteligência é muito superior ao intelecto, porque é a INTEGRAÇÃO da razão e do amor; mas só pode haver inteligência, quando há autoconhecimento, a profunda compreensão do processo total de nós mesmos.

O essencial para o homem, jovem ou velho, é que viva plena e integralmente, e, por conseguinte, nosso problema mais importante é o cultivo da inteligência, que traz INTEGRAÇÃO. Atribuir-se indevida importância a qualquer uma das partes da nossa organização total, dá-nos uma visão parcial e, portanto, deformada da vida. É essa visão deformada que está causando a maioria de nossas dificuldades. Todo desenvolvimento parcial de nossa feição geral será inevitavelmente desastroso, tanto para nós como para a sociedade, e por conseguinte é deveras da maior importância que consideremos nossos problemas humanos de um ponto de vista INTEGRADO.

Ser um ente humano INTEGRADO é compreender o processo completo da nossa própria consciência, tanto oculta como evidente. Não é possível ser integrado, se atribuímos indevido valor ao intelecto. Damos muita importância ao cultivo da mente, mas dentro de nós somos insuficientes, pobres e confusos. Viver pelo intelecto é o caminho da desintegração, porque as ideias, assim como as crenças, não podem unir as pessoas, a não ser como grupos antagônicos.

Enquanto dependermos do pensamento como meio de integração, haverá desintegração; compreender a ação desintegradora do pensamento é cônscios dos movimentos do “eu”, dos movimentos do nosso próprio desejo. Devemos ter consciência do nosso condicionamento e das suas reações, tanto coletivas como pessoais. Só quando estamos perfeitamente cônscios das atividades do “eu”, com seus desejos e lutas contraditórias, suas esperanças e temores, temos a possibilidade de transcender o “eu”.

Só o amor e o pensar correto farão a verdadeira revolução, a revolução interior. Mas, como podemos ter amor? Podemos tê-lo, não pelo cultivo do ideal do amor, e sim quando não há ódio, quando não há avidez, quando a consciência do “eu”, causa de todo antagonismo, se extingue. Um homem todo entregue às atividades de exploração, ganância, inveja, nunca poderá amar.

Sem amor e sem pensar correto, a opressão e a crueldade crescerão continuamente. O problema do antagonismo do homem com o homem pode ser resolvido, não pelo cultivo do ideal da paz, mas só pelo entendimento das causas da guerra, que residem em nossa atitude perante a vida e perante nossos semelhantes; e este entendimento só há de nascer quando houver educação correta. Sem uma transformação do coração, sem boa vontade, sem a mudança interior, que nasce do autopercebimento, não haverá paz nem felicidade para os homens.

Jiddu Krishnamurti — A educação e o significado da vida     

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Enxertos sobre educação

A educação que prevaleceu no passado é muito insuficiente, incompleta e superficial. Ela somente produz pessoas capazes de ganhar sua subsistência, mas ela não fornece nenhum "insight" no simples viver. E não é somente incompleta, ela é também prejudicial porque é baseada na competição. Qualquer tipo de competição é, bem no fundo, violenta e cria pessoas desamorosas. Todo o esforço delas é alcançar nome, fama e todos os tipos de ambição. Obviamente elas têm que lutar e entrar em conflito. Isso destrói sua alegria e sua amizade... Mas essa educação insignificante predomina em todo o mundo... Neste sentido, quase todo mundo é analfabeto, mesmo aqueles que têm grandes diplomas são analfabetos nas grandes áreas da vida.
Osho - Do livro: O Novo Homem - Ed. Gente - página 43

O sistema educacional deveria ensinar-lhe a arte de viver, deveria ensinar-lhe a arte de amar, deveria ensinar-lhe a arte de meditar, deveria finalmente ensinar-lhe a arte de morrer gloriosamente. O seu sistema de educação não é educacional. Ele cria apenas balconistas, chefes de estação, carteiros, soldados, e você chama isso de educação. Você foi iludido, mas a fraude é tão antiga que você a esqueceu completamente. E você continua na mesma rotina.
Osho - A Nova Criança - Editora Eco - Página 11

Ao trabalhar com tantas pessoas diferentes ano após ano, ouvi jovens e idosos expressarem os mesmos sentimentos. Muitos são aqueles que, apesar de riqueza, educação e sucesso profissional, estão insatisfeitos com suas vidas, e sentem uma profunda fome interior que não sabem como saciar. Tarthang Tulku – Conhecimento da Liberdade – Ed. Dharma

A padronização do homem conduz à mediocridade. Ser diferente do grupo ou resistir ao ambiente não é fácil, e não raro é arriscado.... Com o avançar da idade, a mente e o coração vão se embotando cada vez mais... este medo da vida, este medo à luta e à experiência nova, mata em nós o espírito de aventura; por causa de nossa criação e educação, temos medo de ser diferentes do nosso próximo, tememos pensar em desacordo com o padrão social vigente, num falso respeito à autoridade e à tradição... A grande maioria dentre nós não tem o verdadeiro espírito de descontentamento, de revolta.
Krishnamurti - A Educação e o significado da vida

Quase todos vós procedeis de famílias ou de escolas onde fostes educados para respeitar a posição. Vosso pai e vossa mãe têm posição, o diretor tem posição, e, por conseguinte, já vindes para aqui com medo, com esse respeito à posição. Mas, temos de criar na escola uma atmosfera de liberdade, e isso só pode acontecer quando há função sem posição e, por conseguinte, um sentimento de igualdade. O verdadeiro encargo da educação correta é encaminhar-vos para serdes um ente humano valoroso e sensível, um ente humano sem medo e sem falsa idéia do respeito devido à posição.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix

A função da educação é proporcionar ao estudante abundantes conhecimentos em vários setores do esforço humano e ao mesmo tempo libertar sua mente de toda tradição, para ser capaz de investigare descobrir. De outro modo, a mente se torna mecânica, toda ocupada pelo mecanismo do conhecimento. A menos que se liberte constantemente de sua acumulação de tradições, a mente é incapaz de descobrir o Supremo, o Eterno; mas, é óbvio que ela deve adquirir crescente conhecimento e instrução, para habilitar-se a tratar de coisas de que o homem necessita e que deve produzir.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix

O verdadeiro revolucionário é aquele que está livre de toda e qualquer influência, livre das ideologias e complicações da sociedade, que é a expressão da vontade coletiva da maioria; e vossa educação não vos está encaminhando para serdes um revolucionário com qualidade. Pelo contrário, está-vos encaminhando para vos ajustardes ao que já existe ou simplesmente para reformá-lo.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix

Só a educação correta poderá eliminar a avidez, o medo, a ânsia de aquisição, habilitando-nos a erguer uma cultura radicalmente nova, um mundo inteiramente diferente; e só haverá educação correta, quando a mente desejar verdadeiramente compreender a si própria e libertar-se do sofrimento.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix

A função da educação não é simplesmente preparar-vos para exames, porém, sim, ajudar-vos a compreender todo o este problema do viver - que inclui sexo, ganhar sustento, ter alegria, iniciativa, ser ardoroso e saber pensar profundamente. É também nosso problema descobrir o que é Deus - a verdadeira base de nossa vida. Sem adequados alicerces, nenhuma casa pode ficar de pé por muito tempo, e todo engenho e todas as invenções do homem nada significarão se não estivermos investigando o que é Deus ou a Verdade.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix

A função essencial da escola não é desenvolver a iluminação dos espíritos, mas é promover a transferência da ideologia da classe dominante para os dominados. função da escola é "fazer a cabeça" das crianças de todas as classes, dentro dos moldes ideológicos das classes dominantes e, num certo limite, aburguesar o trabalhador dentro de um campo estreito, para que se produza como e enquanto trabalhador; para que ele não tenha veleidade de querer se reproduzir como dono do capital, como um provável elemento subversivo da ordem.
Florestan Fernandes

O primeiro dever do homem em sociedade é de ser útil aos membros dela; e cada um deve, segundo as suas forças físicas ou morais, administrar, em benefício da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte ou a educação lhe prestou. O indivíduo, que abrange o bem geral duma sociedade, vem a ser o membro mais distinto dela; as luzes, que ele espalha, tiram das trevas, ou da ilusão, aqueles, que a ignorância precipitou no labirinto da apatia, da inépcia e do engano.
Hipólito José da Costa

Educação sem caráter é como uma fruta sem suco ou como uma vaca que não fornece leite. É por esta razão que o professor só pode ensinar após colocar em prática seus ensinamentos. Assim ele estará estabelecendo um ideal para o mundo. Um professor pode ensinar bem, pode mostrar métodos fáceis, mas se sua conduta não estiver de acordo com o que ele diz, ninguém o seguirá, ninguém se importará com ele. O governo pode gastar muito dinheiro, mas não é possível treinar em Valores Humanos. Os Valores Humanos não são passíveis de serem obtidos de um texto e nem fornecidos por qualquer companhia, não podem ser presenteados por amigos e nem comprados no mercado. São uma atitude natural que provém do coração.
Sathya Sai Baba

Não precisamos de um país de gênios. Precisamos de um país com a maioria de pessoas acima da mediocridade, capazes de escapar da estúpida combinação deste começo de milênio: a mídia sem compromisso com o futuro e um sistema educacional estagnado que tentam transformar o Brasil num país habitado por uma maioria de medíocres-idiotas...
Luciano Pires - profissional de comunicação - jornalista - escritor - palestrante - cartinista

Para se criar um ente humano inteligente, há necessidade de uma completa revolução no pensar. Um ente humano inteligente significa um ente humano se medo, não limitado pela tradição, o que não implica que deva ser amoral. Tendes de ajudar o vosso filho a ser livre, para descobrir e para criar uma sociedade nova - e não uma sociedade amoldada a algum padrão, tal seja o de Marx, o católico ou o capitalista. Requer isso muita reflexão, interesse e amor - não meras discussões sobre o amor. Se amássemos realmente os nossos filhos haveríamos de interessar-nos pela educação correta.
krishnamurti - Autoconhecimento base da sabedoria

Qual é a função da educação? Não é a de preparar o estudante, o jovem ou a jovem, para enfrentar a vida, para viver sem temor? Meu espírito está nublado pelo temor, quando há competição. Há temor quando não sei enfrentar este vasto e complexo problema do viver. Há temor quando sou ambicioso. O homem feliz não é ambicioso, e só os ambiciosos são infelizes. A função da educação, pois, não é a de ajudar o estudante, para que cresça sem temor e possa enfrentar a vida inteligentemente, e não de acordo com a vossa inteligência, ou a minha inteligência, não de acordo com vossas idiossincrasias ou vossa condição religiosa, política ou econômica; para que cresça plenamente, integralmente, como um ente humano completo?
Krishnamurti - O Problema da Revolução Total - ICK

Uma das maiores causas do abaixamento do nível do ensino, nos últimos dez anos pelo menos, é a nosso ver o que há muito chamamos de "pacto da mediocridade". Refere-se essa expressão a um acordo tácito que, habitualmente, tem ocorrido entre professor e aluno, no processo ensino-aprendizagem, em que nem o primeiro ensina, nem o segundo aprende, mas ambos cumprem aparentemente as suas obrigações, um no seu comodismo escondendo a sua deficiente formação, outro no seu mínimo esforço ocultando a sua ignorância. Desde logo o aluno percebe que o professor é mal formado, tem lacunas imperdoáveis, mas não o questiona, aceita-o, admite-o, tolera-o, em troca do favor da promoção gratuita, com que o docente, sem condição de exigência alguma, falseia o seu processo de avaliação.
João de Almeida

No mundo moderno, a educação tem se preocupado não com o cultivo da inteligência, mas do intelecto, da memória e suas habilidades. Nesse processo pouco acontece além da transmissão de informações daquele que ensina para quem é ensinado, do líder para o seguidor, produzindo um modo de vida mecânico e superficial. Nisso não há quase nada de relacionamento humano.
Krishnamurti - A Arte de Aprender - Terra Sem Caminho - Pág 221

Uma escola certamente é um lugar onde se aprende sobre a totalidade, o todo da vida. A excelência acadêmica é absolutamente necessária, mas uma escola inclui muito mais que isso. É um lugar onde tanto quem ensina quanto quem é ensinado investigam não somente o mundo exterior, o mundo do conhecido, mas também seu próprio pensar, seu próprio comportamento. A partir disso, eles começam a descobrir o próprio condicionamento e como o condicionamento distorce o pensar. Esse condicionamento é o eu, ao qual é dado uma tremenda e cruel importância. A libertação do condicionamento e de sua miséria começa com essa percepção. É somente em tal liberdade que um verdadeiro aprender pode acontecer. Nesta escola é responsabilidade do professor sustentar, junto com o aluno, uma investigação cuidadosa para com as implicações do condicionamento e, assim, terminá-lo.
Krishnamurti - A Arte de Aprender - Terra Sem Caminho - Pág 221

Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, do que é belo e moralmente correto.
Albert Einstein

A mente do homem tornou-se poluída por causa da educação moderna. Quando a mente está poluída, como o homem pode evoluir na vida? Ele pode ser muito educado e ocupar posições de autoridade com nome e fama. Mas todas as suas realizações se provarão fúteis se ele não souber o que deve saber. O que ele deve saber? O princípio do Eu Superior. Para levar uma vida feliz neste mundo, é suficiente se vocês souberem que são a personificação do Eu Superior e que cada um também o é. Vocês estão sujeitos à miséria porque são incapazes de entender esta verdade sutil.
Bhagavan

Hoje a educação que os estudantes procuram é somente mundana em sua natureza.
Eles estudam livros, fazem exames e conseguem diplomas.
Eles fazem tudo isso só por causa de seu sustento.
Uma pessoa tola gaba-se de sua educação e inteligência, contudo não conhece a si mesmo.
Qual o uso de toda a educação que adquiriu, se ela não pode abandonar suas qualidades más?
Toda a educação mundana a levará somente à argumentação vã, não à sabedoria total.
A educação não pode levá-la a imortalidade.
Então, o homem deve adquirir aquela sabedoria que o fará imortal.
Poema télugu

A escola por mais avançada e esclarecida que seja, não procura desenraizar o trabalhador. Ela tenta, ao contrário, promover a integração do trabalhador à sua condição de agente da força de trabalho. Tenta conformá-lo a essa condição, e o capitalismo monopolista conseguiu levar isso muito longe porque, na sociedade de classe atual, existem várias compensações que tornam o trabalhador mais ou menos tolerante à aceitação dessa condição.
Florestan Fernandes

"A grandeza de um homem se define por sua imaginação. E sem uma educação de primeira qualidade, a imaginação é pobre e incapaz de dar ao homem instrumentos para transformar o mundo"
Florestan Fernandes


Aqueles que estiverem seriamente dedicados à criação do tipo certo de educação tem a responsabilidade não só de pôr em prática tudo o que compreenderem, mas também de ajudar os outros a chegar a mesma compreensão. O magistério é a profissão mais nobre - se é que se pode chamar-lhe de profissão. É uma arte que requer não realização intelectual, mas infinita paciência e amor.
Krishnamurti - O Verdadeiro Objetivo da Vida - Cultrix


A educação é um "processo" que dura toda a vida, e não só na idade escolar.
Krishnamurti - O Problema da Revolução Total - ICK


Há confusão, e um vasto plano de condicionamento da mente vai sendo levado a cabo pela chamada educação, pela inculcação de várias doutrinas religiosas e políticas. O comunismo, tal como o catolicismo, agrilhoa a mente pela maneira mais completa, e a mesma coisa estão fazendo as outras religiões, numa escala mais modesta.
Krishnamurti - Austrália e Holanda - 1955

Porque somos tão áridos, vazios e sem amor é que deixamos os governos e os sistemas se encarregarem da educação de nossos filhos e da direção de nossas vidas; mas os governos precisam de técnicos eficientes e não de entes humanos, pois que estes se tornam perigosos para os governos - assim como para as religiões organizadas. É por isso que os governantes e as religiões organizadas tem tanto interesse em controlar a educação.
Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida

As pessoas destituídas de diplomas acadêmicos são os melhores mestres, porque tem disposição para experimentar. Não sendo especialistas, tem interesse em aprender, em compreender a vida. Para o verdadeiro educador, ensinar não é uma técnica, é vocação; como um grande artista, preferiria morrer à mingua que renunciar ao trabalho criador. Quem não sentir esse ardente desejo de ensinar não deve ser preceptor. É de suma importância que o indivíduo descubra por si mesmo se têm esse dom, em vez de apenas deixar-se impelir para o ensino, por constituir um meio de vida.
Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida

Cuidar de fato é cuidar como faria a uma árvore ou uma planta, regando, observando suas necessidades, a melhor terra para ela, tomando conta com bondade e ternura – mas quando você prepara seus filhos para se ajustarem à sociedade você os está preparando para serem mortos. Se você amasse seus filhos não haveria nenhuma guerra.
Krishnamurti - - Liberte-se do passado



quarta-feira, 31 de julho de 2013

É possível explorar além da estreita janela do pensamento?

Os seres humanos, por todo o mundo, têm feito do intelecto um dos fatores de maior importância na nossa vida diária. Observamos que os antigos hindus, os egípcios  e os gregos, todos eles consideravam o intelecto como sendo a função mais importante na vida. Mesmo os budistas deram importância a ele. Em cada universidade, faculdade e escola pelo mundo todo, seja em um regime totalitário ou nas chamadas democracias, o intelecto tem um papel dominante. Queremos dizer por intelecto a capacidade de entender, de discernir, de escolher, de pesar, ponderar, e toda a tecnologia da ciência moderna.  A essência do intelecto é todo o movimento do pensamento, não é? O pensamento domina o mundo tanto na vida exterior como interior. O pensamento também criou o mundo, todos os rituais, os dogmas, as crenças. O pensamento também criou as catedrais, os templos, as mesquitas com sua maravilhosa arquitetura e santuários locais. O pensamento tem sido responsável por uma infindável tecnologia em expansão, as guerras e os materiais bélicos, a divisão dos povos em nações, em classes e raças. O pensamento tem sido e provavelmente ainda é o instigador de tortura em nome de Deus, da paz, da ordem. Ele também tem sido responsável pela revolução, pelos terroristas, pelo princípio supremo e os ideais de valores absolutos. Vivemos pelo pensamento. Nossas ações são baseadas no pensamento, nossos relacionamentos também são fundados no pensamento, assim o intelecto tem sido adorado em todos os tempos.

Mas o pensamento não criou a natureza — o firmamento com suas estrelas em expansão, a terra com toda a sua beleza, com seus vastos mares e campos verdes. O pensamento não criou a árvore, mas ele a tem usado para construir a casa, para fazer a cadeira. O pensamento usa e destrói.

O pensamento não pode criar o amor, a afeição e a qualidade de beleza. Ele tece uma rede de ilusões e realidades. Quando vivemos unicamente pelo pensamento, com todas as suas complexidades e sutilezas, com seus propósitos e direções , perdemos a grande profundidade da vida, pois o pensamento é superficial. Embora ele tenha a pretensão de mergulhar profundamente, o próprio instrumento é incapaz de penetrar além de suas limitações próprias. Ele pode projetar o futuro, mas esse futuro nasce das raízes do passado. As coisas que o pensamento criou são reais, existem de fato — como a mesa, como a imagem que você adora —, mas a imagem, o símbolo que você adora são formados pelo pensamento, incluindo todas as muitas ilusões — românticas, idealistas, humanitárias. Os seres humanos aceitam e vivem com as coisas do pensamento — dinheiro, posição, status e a luxúria de uma liberdade que o dinheiro traz. Isso é todo o movimento do pensamento e do intelecto — e através dessa janela estreita de nossa vida olhamos para o mundo.

Existe algum outro movimento que não seja do intelecto e do pensamento? Essa tem sido a investigação de muitas religiões e esforços científicos e filosóficos. Quando usamos a palavra religião, não estamos nos referindo ao absurdo das crenças, dogmas, rituais e estrutura hierárquica.  Ao falar de uma mulher ou um homem religioso, nos referimos àqueles que se libertaram de séculos de propaganda, do peso morto da tradição, moderna ou antiga. Os filósofos que se contentam com teorias, conceitos e jogos de ideias, não têm a possibilidade de explorar além da janela estreita do pensamento, nem o cientista com suas capacidades extraordinárias, com seu pensamento talvez original, com seu imenso conhecimento. O conhecimento é o depósito da memória e deve haver liberdade do conhecido para explorar o que está para além dele. Deve haver liberdade para investigar sem qualquer laço, escravidão, sem qualquer apego à experiência própria, às próprias conclusões, a todas as coisas que o homem impôs a si mesmo. O intelecto deve estar tranquilo, em quietude absoluta, sem nenhum tremor, nenhum movimento do pensamento.

A nossa educação agora está baseada no cultivo do intelecto, do pensamento e do conhecimento — que são necessários no campo da nossa ação diária, mas que não têm lugar no nosso relacionamento psicológico uns com os outros, pois a própria natureza do pensamento divide e destrói. Quando o pensamento domina todas as nossas atividades e todos os nossos relacionamentos, ele produz um mundo de violência, terror, conflito e miséria.

Nessas escolas, todos nós — tanto os jovens quanto os mais velhos — devemos dar atenção a isso.

Jiddu Krishnamurti — A arte de aprender – Cartas às escolas

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A falsa ideia do devido respeito à posição

A chuva que cai em solo ressecado é uma coisa maravilhosa. Lava as folhas, refresca e renova a terra. E eu acho que todos deveríamos “lavar”, purificar nossa mente, da mesma maneira como as árvores são lavadas pela chuva, tão pesada que está da poeira de muitos séculos, dessa poeira que chamamos “conhecimento”, “experiência”. Se você e eu fizéssemos todos os dias uma “limpeza” em nossa mente, livrando-a das reminiscências de ontem, cada um de nós possuiria uma mente nova, uma mente capaz de enfrentar os numerosos problemas da existência.

Ora, um dos grandes problemas que estão perturbando o mundo é o da chamada “igualdade”. Mas, em certo sentido, essa coisa chamada “igualdade” é inexistente, porque todos temos diferentes capacidades; mas estamos tratando aqui da igualdade no sentido de que todos deveriam ser tratados de igual maneira. Numa escola, por exemplo, os cargos de diretor, professor, monitor, são apenas empregos, funções; mas, como você sabe, a certos cargos ou funções está associada a ideia de posição, e  posição é uma coisa respeitada, porque supõe autoridade, prestígio, confere a um homem o poder de dar ordens a outros, de distribuir empregos entre os amigos e membros da própria família. Vemos, pois, que à função está associada a posição. Mas, se pudéssemos eliminar totalmente essa ideia de categoria, influência, posição, prestígio, poder de conferir favores a outros, a função teria então um significado muito diferente e muito simples, não acha? Então, quer se tratasse de governadores, primeiro-ministros, quer de simples cozinheiros ou pobres professores, todos seriam tratados com igual respeito, porquanto cada um está desempenhando uma diferente porém necessária função na sociedade.

Sabe o que aconteceria, principalmente numa escola, se fosse possível afastar definitivamente da função toda noção de poder, de posição, de prestígio, eliminar o sentimento de se ser “O Chefe”, o “homem importante”? Estaríamos todos vivendo numa atmosfera completamente diferente, não? Nenhuma autoridade haveria — “autoridade”, no sentido de “superior e inferior”, o homem importante e o homem sem importância — e, por conseguinte, haveria liberdade. E muito importa criar-se numa escola uma atmosfera assim, uma atmosfera de liberdade, de amor, onde cada um tenha um forte sentimento de confiança; porque, como sabe, a confiança nasce quando uma criança se sente como “em casa”, em segurança. Mas — você se sente à vontade em sua própria casa, quando seu pai, sua mãe, sua avó, está constantemente lhe dizendo o que você deve fazer, tirando-lhe gradualmente a confiança em sua própria capacidade de fazer qualquer coisa por iniciativa própria? Quando você crescer, deve ser capaz de investigar, de descobrir o que considera verdadeiro, e de se ater com firmeza ao que descobre. Deve ser capaz de sustentar o que considera justo, ainda que daí lhe advenha penas, sofrimentos, prejuízos de dinheiro, etc., e para ser assim você deve se sentir, enquanto é jovem, em perfeita segurança e livre de constrangimento.

A maioria dos jovens não se sentem em segurança, porque vivem amedrontados. Têm medo dos mais velhos, dos educadores, da mãe, do pai, e, por conseguinte, nunca se sentem perfeitamente tranquilos. Mas, quando você se sente verdadeiramente tranquilo, à vontade, acontece uma coisa extraordinária. Quando você pode se retirar para seu quarto, fechar a porta e ficar , sem ninguém a lhe observar, sem ninguém a lhe dizer o que você deve fazer, então você se sente em perfeita segurança; começa, assim, a desabrochar, a compreender, a se abrir. É função da escola ajudar-lhe a se abrir; se ela não o faz, não é digna desse nome.

Quando você se sente à vontade num lugar, isto é, quando se sente em segurança, não intimidado, não compelido a fazer isto ou aquilo; quando se sente muito feliz, perfeitamente tranquilo, não é então mau, é? Quando é verdadeiramente feliz, não tem vontade de magoar ninguém, de destruir coisa alguma. Mas é dificílimo fazer o estudante sentir-se perfeitamente feliz, porque ele já vai para a escola com a ideia de que o diretor, os educadores, os monitores vão-lhe dizer o que deve fazer, “empurrá-lo” para um lado e para o outro. Por isso há medo.

Quase todos vocês procedem de famílias ou de escolas onde foram educados para respeitar a posição. Seu pai e sua mãe têm posição, o diretor te posição, e, por conseguinte, vocês já chegam aqui com medo, com esse respeito à posição. Mas, temos de criar na escola uma atmosfera de liberdade, e isso só pode acontecer quando há função sem posição e, por conseguinte, um sentimento de igualdade. O verdadeiro encargo da educação correta é encaminhar-lhes para serem um ente humano valoroso e sensível, um ente humano sem medo e sem a falsa ideia do devido respeito à posição.  

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sua mente é parte integrante da sociedade

Alguma vez você já esteve sentado, muito quieto, de olhos fechados, observando o movimento do seu pensar? Já observou a sua mente funcionando, ou melhor, sua mente já observou a si própria em funcionamento, para ver quais são seus pensamentos, seus sentimentos, como você olha para as árvores, para as flores, para as aves, as pessoas, como você “responde” a uma sugestão ou como reage a uma nova ideia? Você já fez isso alguma vez? Se não o fez, está perdendo muita coisa. Se você não sabe como a sua mente reage, se sua mente não está consciente de suas próprias atividades, você nunca descobrirá o que é a sociedade. Você pode ler livros de sociologia, estudar ciências sociais, mas se não sabe como funciona sua mente, não compreenderá o que é a sociedade, pois sua mente é parte integrante da sociedade; ela é a sociedade. Suas reações, suas crenças, suas idas ao templo, as roupas que usa, as coisas que faz ou que não faz, o que você pensa — a sociedade constitui-se de tudo isso, é a replica de tudo o que se passa em sua mente. Sua mente, pois, não está separada da sociedade, não é distinta de sua cultura, de sua religião, de suas divisões de classe, das ambições e conflitos da humanidade em geral. Tudo isso é a sociedade, da qual você é parte integrante. Não existe “você” separado da sociedade.

Pois bem; a sociedade está sempre procurando controlar, formar, moldar o modo de pensar dos jovens. Dede o momento em que você nasce e começa a receber impressões, seu pai e sua mãe ficam dizendo o que você deve e não deve fazer, o que deve acreditar e o que não deve acreditar; dizem que existe Deus ou que Deus não existe, porém somente o Estado, cujo profeta é certo ditador. Desde a infância, tais coisas lhe são continuamente inculcadas e, por conseguinte, sua mente — ainda muito nova, impressionável, indagadora, curiosa, desejosa de descobrir — vai sendo gradualmente enclausurada, condicionada, moldada, para que você se ajuste ao padrão de determinada sociedade e nunca seja um revolucionário. Uma vez firmado o hábito de pensar segundo um padrão, mesmo quando você se “revolta”, isso acontece dentro do padrão. É uma revolta semelhante à revolta de presos que reclamam por melhor comida e mais comodidade — mas sempre entre os muros da prisão. Quando você busca Deus ou investiga o que é um governo justo, sempre o faz dentro do padrão da sociedade, que preceitua que “isto é verdadeiro e aquilo é falso; que isto é bom e aquilo é mau; que este é o verdadeiro líder e estes são os santos”. Sua revolta, pois, tal como a chamada revolução promovida por homens ambiciosos ou muito hábeis, está sempre limitada pelo passado. Não é revolta, não é revolução, porém, tão só uma atividade mais intensa dentro do padrão. A revolta real, a revolução verdadeira é aquela que quebra as cadeias do padrão, para investigar fora dele.

Você deve saber que todos os reformadores — não importa quem sejam eles — só se interessam em melhorar condições internas da prisão. Nunca dizem para que você não se ajuste, nunca dizem: “Rompa as muralhas da tradição e da autoridade, sacuda o condicionamento que lhe aprisiona a mente”. E a verdadeira educação é, não apenas exigir que você passe nos exames, para os quais você se prepara apressadamente, ou escreve escreva sobre algo que decorou, porém, sim, lhe ajudar a perceber os muros da prisão em que sua mente está prisioneira. A sociedade influencia todos nós, molda nosso pensar, e essa pressão externa da sociedade se traduz gradualmente em “estado interior”; mas, por mais profundamente que penetre, ela será sempre externa e não haverá coisa que possa se chamar “estado interior” enquanto não for rompido esse condicionamento. Você deve saber o que está pensando e se está pensando como hinduísta, como muçulmano ou como cristão, isto é, conforme a religião a que por acaso você pertença. Você deve estar consciente do que acredita e do que não acredita. Tudo isso constitui o padrão da sociedade e, a não ser que você esteja consciente do padrão e dele se liberte, continuará prisioneiro, embora pense ser livre.

Mas, veja, o que interessa a quase todos nós é a revolta dentro da prisão; queremos melhor comida, um pouco mais de luz, uma janela mais larga, para podermos ver um pedaço maior do céu. Muito nos importa saber se o “outcaste”¹ pode ou não pode entrar no templo; desejamos eliminar determinada casta e, no próprio ato de eliminá-la criamos outra, uma casta “superior”; e, assim, continuamos prisioneiros, nunca há libertação da prisão. A liberdade está fora dos muros, fora do padrão da sociedade; mas, para você ficar livre desse padrão, tem de compreender todo o seu conteúdo, ou seja, compreender sua própria mente. Foi a mente que criou a atual civilização, essa cultura ou sociedade vinculada à tradição; e, se você não compreende sua própria mente e apenas se revolta como comunista, socialista, etc., isso pouco significa. Por essa razão, é muito importante que você tenha autoconhecimento, estar consciente de todas as suas atividades, de seus pensamentos e sentimentos; isso é educação, não? Porque, quando você está plenamente consciente de si mesmo, sua mente se torna muito sensível, muito vigilante.

Experimente isso — não num certo dia longínquo do futuro, porém amanhã ou nesta tarde mesmo. Se há muita gente em sua casa, trate de sair sozinho, para se sentar debaixo de uma árvore ou à beira de um rio e observar sossegadamente como funciona a sua mente. Não a corrija, dizendo: “isto é certo, aquilo é errado”; apenas a observe, como quem assiste um filme; os atores e atrizes estão desempenhando os seus papéis, e você apenas vendo. Pela mesma maneira observe a sua mente. Isso é verdadeiramente interessante, muito mais interessante do que qualquer filme, pois a sua mente é resíduo de todo o mundo e contém tudo o que os entes humanos têm experimentado. Compreende? Sua mente é a humanidade, e quando você perceber isso terá uma imensa compaixão. Dessa compreensão nasce um grande amor; e, então, ao ver coisas belas, saberá o que é a beleza.   

Krishnamurti — A cultura e o problema humano
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(¹ ) outcaste: Na Índia, aquele que foi expulso de sua casta, por violação de suas regras ou costumes. Os outcastes são destituídos de todos os direitos civis comuns. (Dicionário “Webster Collegiate) 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Por que somos como flor sem perfume?

O que acontece quando um homem se esforça para se tornar virtuoso, quando se disciplina para ser bondoso, eficiente, considerado, atencioso, quando procura não magoar os outros, quando consome suas energias tentando estabelecer a ordem, lutando para ser bom? Seus esforços só o levam à respeitabilidade, causadora da mediocridade mental; esse homem, por conseguinte, não é virtuoso. Você já olhou atentamente uma flor? Como é admiravelmente simétrica, com todas as suas pétalas; há nela, também, singular delicadeza, perfume, encanto. Ora, quando um homem tenta ser ordenado, sua vida poderá ser muito precisa, muito regular, mas perdeu aquele predicado de delicadeza que só pode nascer quando, como na flor, não há esforço algum. Nosso problema, pois, é sermos precisos, claros e sem limitações.

Veja, o esforço para ser ordeiro, cuidadoso, tem forte influência limitante. Se procuro deliberadamente colocar em ordem o meu quarto, se tenho a preocupação de colocar cada coisa em seu lugar, se estou sempre prestando atenção a mim mesmo, onde ponho o pé, etc., o que acontece? Torno-me “insuportável” para mim próprio e para os outros. É, com efeito, uma pessoa cansativa aquela que está sempre procurando ser alguma coisa, cujos pensamentos são metodicamente “arrumados”, que escolhe um pensamento em preferência a outro. Essa pessoa poderá ser muito ordeira, muito clara, poderá empregar as palavras com precisão, ser muito atenta e atenciosa, mas perdeu a criadora alegria de viver.

Qual é, pois, o problema? Como ter essa criadora alegria de viver, ser sem limitações no sentir, amplo no pensar, e ao mesmo tempo preciso, claro, ordenado no viver? Creio que a maioria de nós não é assim, porque nunca sentimos nada intensamente, nunca aplicamos completamente a coisa alguma nosso coração e nossa mente. Lembro-me de ter certa vez observado dois esquilos vermelhos, de caudas longas e bastas, e graciosas, perseguirem-se para cima e para baixo de uma alta árvore, durante dez minutos, sem pararem um só instante — pela simples alegria de viver! Mas você e eu nunca conheceremos essa alegria, se não sentirmos as coisas profundamente, se não houver paixão em nossa vida — paixão, não para nos tornarmos “beneméritos” ou realizarmos uma certa reforma, mas paixão no sentido de sentirmos as coisas com toda a força; e só teremos essa paixão vital quando houver uma revolução total em nosso pensar, em todo o nosso ser.

Você já notou como somos poucos os que temos profundo sentimento a respeito de alguma coisa? Alguma vez você se rebela contra seus mestres, contra seus pais, não apenas por não gostar de alguma coisa, mas por ter um profundo e ardente sentimento de que não deseja fazer certas coisas? Se você sente, profunda e ardentemente, em relação alguma coisa, verá que esse próprio sentimento, de maneira singular, traz uma nova ordem à sua vida.

Ordem, afinamento, clareza no pensar, não são em si muito importantes, mas tornam-se importantes para o homem que é sensível, que sente profundamente, que se acha num estado de perpétua revolução interior. Se você sente intensamente a sorte do infeliz, do mendigo que recebe a poeira no rosto quando passa o carro do milionário, se você é altamente receptivo, sensível a todas as coisas, então essa própria sensibilidade traz ordem, virtude; e considero muito importante que tanto o educador como o estudante compreendam isso.

Neste país, infelizmente, como no resto do mundo, somos tão indiferentes que não temos sentimento profundo por coisa alguma. Os mais de nós somos intelectuais — intelectuais, no sentido superficial de sermos muito hábeis, cheios de palavras e de teorias sobre o que é correto e o que é incorreto, sobre como se deve pensar, o que se deve fazer. Mentalmente, somos altamente desenvolvidos, mas, interiormente, há muito pouca substância ou valia: e é essa substância interior que produz a ação correta, que não é ação segundo uma ideia.

Eis porque você deve ter sentimentos muito fortes — sentimentos de paixão, de cólera — para os observar, para “brincar” com eles, e descobrir a verdade que encerram. Porque, se você se limitar a reprimi-los, se disser: “Não devo me encolerizar, não devo me apaixonar, porque é errôneo — verá que sua mente irá se fechando gradualmente numa ideia e, consequentemente, se tornará muito superficial. Você pode ser imensamente talentoso, possuir um saber enciclopédico, mas, se não houver a vitalidade do sentimento intenso e profundo, sua inteligência será como flor sem perfume.

É muito importante que você compreenda todas essas coisas enquanto é jovem, porque, assim, quando crescer, será verdadeiro revolucionário — revolucionário, não de acordo com uma certa ideologia, teoria ou livro, porém, revolucionário no sentido total da palavra, de ponta a ponta, como entes humanos completos, tão completos que não restará um só ponto contaminado pelo “velho”. Sua mente será então fresca, “inocente” e, portanto, altamente capaz de criação. Se você não alcançar a significação de tudo isso, sua vida se tornará muito sem sal, porque você será esmagado pela sociedade, por sua mulher ou marido, por teorias, por organizações religiosas ou políticas. Por isso é que é tão importante que você seja educado corretamente — o que significa que deve ter mestres capazes de lhe ajudar a romper a crosta da chamada civilização, para que você não seja um mero autômato, porém, um indivíduo com uma canção dentro de si mesmo e, por conseguinte, um ente humano feliz e criador.

Krishnamurti — A cultura e o problema humano  

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Seja permanentemente descontente com tudo

Vocês sabem o que é iniciativa? Vocês têm iniciativa quando iniciam ou começam uma coisa, sem terem sido inspirados por ninguém. Não é necessário que seja coisa muito importante ou extraordinária — isso poderá ficar para mais tarde; mas já existe a centelha da iniciativa quando por própria conta plantam uma árvore, e quando espontaneamente são bondosos, quando dão um sorriso ao homem que transporta pesada carga, quando afastam uma pedra da estrada ou acariciam um anima que encontram no caminho. Este é o modesto começo da extraordinária iniciativa de que necessitam para conhecerem essa coisa maravilhosa que se chama “criação”. A capacidade de criar tem suas raízes na iniciativa, que só pode nascer quando há descontentamento profundo.

Não temam o descontentamento; tratem, antes, de entretê-lo, até que a centelha se converta em chama e vocês sejam permanentemente descontentes com tudo; com seus empregos, suas famílias, com a tradicional ânsia de dinheiro, de posição, de poder. Assim começarão a pensar, a descobrir realmente. Mas, quando forem mais velhos, verão o quanto é difícil manter esse espírito de descontentamento. Terão filhos para sustentar, e as exigências de seus empregos deverão ser levadas em consideração; a opinião de seus vizinhos, da sociedade, influirá cada vez mais na vida de vocês, e, nessas condições, não tardarão a perder a chama ardente do descontentamento. Quando se sentirem descontentes, tratarão de ligar o rádio, de procurar o guru, de praticar ioga, de ir para o clube, de beber, de procurar mulheres; tudo isso farão para sufocar a chama. Mas vejam, sem essa chama do descontentamento, nunca terão iniciativa — que é o começo da criação. Para descobrirem o verdadeiro, devem estar revoltados contra a ordem estabelecida; mas, quanto mais dinheiro tenham os seus pais, quanto mais seguros seus mestres se sintam em seus empregos, tanto menos desejarão que vocês se revoltem.

Criação não é simples questão de pintar quadros ou escrever poesia —  coisas boas, aliás, mas que por si sós muito pouco representam. O importante é estarem totalmente descontentes, porquanto esse descontentamento total é o começo da iniciativa, que, uma vez amadurecida, se torna criadora; e esta é a única maneira de descobrir o que é a Verdade, o que é Deus, porquanto o estado criador é Deus.

Assim, pois, deve cada um ter esse descontentamento total — mas com alegria. Compreendem? Deve cada um estar totalmente descontente, mas sem lamentações: com deleite, com alegria, com amor. Os que se sentem descontentes são em maioria terríveis importunadores: estão sempre se queixando de que isto ou aquilo não está certo, ou desejando um emprego melhor ou que as circunstâncias fossem diferentes — porque o seu descontentamento é muito superficial. E os que não estão absolutamente descontentes, esses já estão mortos.

Se puderem, enquanto jovens, manterem-se num estado de revolta e, à medida que se tornarem mais velhos, conservar vivo o descontentamento de vocês, com a vitalidade da alegria e da afeição intensa, terá então extraordinário significado essa chama do descontentamento: ela construirá, criará, tornará existentes coisas novas. Para isso, vocês necessitam da educação correta, que não é aquela que meramente lhes prepara para obter emprego ou galgar a escada do sucesso, porém, sim, a educação que lhes ajuda a apensar e lhes proporciona espaço; “espaço”, não na forma de um aposento maior ou de um teto mais alto: espaço para a mente de vocês se desenvolver, não tolhida por nenhuma crença, nenhum temor.

Krishnamurti — A Cultura e o problema humano

  

Diálogo sobre educação

PERGUNTA: Atualmente, em nosso pais, está o governo procurando modificar o sistema educativo. Podemos conhecer as vossas idéias sobre a educação, e como pode ser ministrada?

KRISHNAMURTI: Este assunto é de enorme magnitude, e querer tratá-lo em poucos minutos e de todo absurdo, dada a vastidão do seu conteúdo; entretanto, expô-lo-emos o mais clara e simplesmente possível, porque há sempre um grande deleite em ver-se uma coisa claramente, sem se estar influenciado pelas opiniões, idéias e ensinamentos de outras pessoas, sejam elas o governo, os especialistas, ou os luminares da pedagogia. Que tem acontecido pelo mundo, após tantos séculos de educação? Tivemos duas guerras catastróficas, que por pouco não destruíram o homem, isto é, o homem como agente de cultura.

Vimos que a educação falhou, resultando na mais horrível destruição que o mundo já conheceu. Que sucedeu depois? Reconhecendo a falência da educação, os governos começaram a interferir, com o fim de controlar a educação. Não é verdade isso? Querem os governos dirigir a vossa educação, controlar-vos o pensamento, ensinar-vos o que pensar, e não a pensar. Assim, pois, sempre que o governo intervém, surge o disciplinamento, a sistematização, como temos visto ocorrer no mundo inteiro. Não importa aos governos a felicidade das massas, o que lhes interessa é a produção de uma máquina eficiente; e, como estamos numa era técnica, o que eles querem são técnicos, para montarem a maravilhosa máquina moderna, chamada sociedade. Esses técnicos funcionarão com toda a eficiência, e, portanto, automaticamente. É isso um acontecimento mundial, sejam os governos da direita ou da esquerda. Não querem os governos que penseis, mas, se pensais, tendes então de pensar segundo urna determinada orientação ou em conformidade com os mandamentos das organizações religiosas. Acabamos de passar por esse processo — o controle pela religião organizada, pelos sacerdotes e pelo Governo. Dele resultou desastre e a exploração do homem.

Se o homem é explorado em nome de Deus, ou em nome do Governo, vem a dar no mesmo. Mas como o homem é humano, chega o dia em que ele deita abaixo o sistema. Este é, pois, um dos problemas; enquanto a educação for a serva do governo, não há esperanças. Tal é a tendência que por toda a parte encontramos, na época atual, ou inspirada pela direita, ou pela esquerda por quanto se se deixar o indivíduo pensar por si mesmo, poderá rebelar-se, e por essa razão é necessário eliminá-lo. Há vários métodos de eliminação, que escusa examinar.

Senhores, ao considerarmos o problema da educação, precisamos saber qual é a finalidade da educação, a finalidade da vida. Se nos falta clareza a esse respeito, para que então somos educados? Que é que tem real importância? Para que vivemos? Por que lutamos? Se não vos está claro isso, não tem a educação significado algum, não achais? Uma época será técnica, outra religiosa, a seguinte outra coisa qualquer, e assim por diante. Estamos falando a respeito de um sistema e não é, pois, interessante verificarmos para que ele serve? Estais sendo educados unicamente para terdes um emprego? Nesse caso, estais fazendo da vida um meio para terdes um emprego, e de vós mesmos um homem adaptável a uma rotina. É essa a finalidade da educação? Precisamos considerar o problema sob esse aspecto, em vez de limitar-nos a repetir chavões. Para uma vida que não esteja liberta de todos os sistemas, quer modernos, quer antigos, que não esteja liberta, mesmo das idéias mais avançadas e progressistas, não terá a educação significado algum. Se ignorais para que viveis, se desconheceis a finalidade da educação, porque então tanta balbúrdia em torno da educação? Nas condições atuais, estais sendo levados á boca dos canhões. Estais sendo convertidos em carne para canhão. Se é isso que queremos, importa então que nos tornemos altamente eficientes na arte de matar, e é isso, exatamente, que está acontecendo, não é verdade? Existem atualmente mais exércitos, mais armamentos, aplica-se mais dinheiro para fins de guerra bacteriológica e destruição atômica, do que nunca, em toda a história, e para que possais desempenhar-vos eficientemente de vossos misteres, é necessário que sejais técnicos de primeira ordem, e, por conseguinte, estais-vos tornando instrumentos de destruição. Tudo isso não se deve a educação? Estai-vos tornando carne para canhão, e vossas mentes estão sendo disciplinadas para esse fim. Ou, quando não é assim, vós vos tornais industriais, poderosos homens de negócios, amontoar dinheiro, avidamente, ou virgula, se tal não vos interessa, aplicai-vos ao estudo, aos livros, ou aspirais a uma vida de cientista, fechada num laboratório. E, se existe uma finalidade mais elevada para nossas vidas e nós a não descobrimos, tem então vida muito pouca significação; é como se estivéssemos a suicidar-nos, e de fato estamos-nos suicidando, com o tornar-nos maquinas, maquinas religiosas ou políticas. Assim sendo, a educação é de importância insignificante. 

Qual é então a utilidade ou a finalidade de nossa vida? Não vou dizê-lo, e não conteis com isso. Estamos viajando junto. Devemos voltar as costas a todas as divisões e distinções, isto é, devemos encontrar o que é real, o que é Deus, o que é eternidade e o que é felicidade; porque ao homem que já é feliz nada o preocupa. Um homem apaixonado, ama a todo o mundo. Não existem para ele distinções de classe. Não lhe interessa liquidar outra pessoa, porque essa pessoa tem mais do que ele. Se a felicidade é a verdadeira felicidade, não tem então significado algum o que estamos fazendo atualmente. Pra achar a realidade, é necessário que haja liberdade, necessário que estejamos livres do pensamento condicionado, pois só assim poderemos descobrir se alguma coisa existe para além dos valores sensoriais. Não é da absurda liberdade política, que necessitamos; é da libertação de todo condicionamento, de todas as exigências psicológicas que nos condicionam o pensar. Virá a liberdade pela educação, por qualquer sistema de governo, quer esquerda, quer da direita? Podem os pais, ou, o ambiente, dar a liberdade? Se assim é, adquire o ambiente importância extraordinária, porquanto os pais precisam ser educados nas mesmas condições que o educador. Se o educador está confuso, condicionado, estreitado, limitado, tolhido por idéias supersticiosas antigas ou modernas, o educando sofrerá.

O educador é, portanto, muito mais importante; isto é, a educação do educador é mais importante do que a educação da criança. Significa isso que são os pais e os mestres que primeiro precisam ser educados. Mas querem eles ser educados, ser radicalmente transformados? Absolutamente, e pela razão muito simples de que desejam a permanência. O que querem é o ―status quo‖, que as coisas fiquem como estão, com guerras, e concorrência, e um mundo político em que ninguém se entende, em que todos vivem a empurrar-se e destruir-se mutuamente.

Vós me perguntais o que eu faria relativamente à educação. É matéria muito vasta. Se desejais que as coisas continuem como estão, deveis aceitar o sistema atual, que ao nos traz guerras e confusão constante e nunca um momento de tranqüilidade. E é muito mais difícil educar o educador do que a criança, porque o educador já se tornou estúpido. Não me parece que compreendeis o que está sucedendo no mundo e como tudo se apresenta catastrófico. O educador está se tornando insensato, e não sabe o que fazer. Está confuso. Passa de um sistema para outro, de um mestre para outro, dos mais modernos aos mais antigos, sem nunca encontrar o que procura, pela razão muito simples de que não descobriu que a fonte da confusão está em si próprio Como pode um homem em tais condições despertar a inteligência em outro homem? Este é, pois, um dos problemas.

Quê é a criança? É um produto de vós mesmos, não é verdade? Por isso mesmo, já está condicionada, não achais? Ela é o resultado do passado e do presente. A idéia de que, se lhe déssemos liberdade, a criança se desenvolveria naturalmente, parece falaz, porquanto, em verdade a criança é o próprio pai, e o pai a criança, com certas modificações de tendências. Para dardes liberdade a uma criança, precisais primeiramente compreender a vós mesmos, que lhe dais a liberdade e que a educais. Se tenho a missão de educar uma criança, mas não compreendo a mim mesmo e começo, assim, com a minha ―reação condicionada‖, de que maneira posso dar-lhe instrução? De que maneira posso despertar-lhe a inteligência? Esta é unta parte do problema. Há, ainda a alimentação, os desvelos e o amor. Em geral, não temos verdadeiro amor aos nossos filhos, embora gostemos de falar desse amor. Senhores, a educação e coisa importantíssima, e sem o amor não vejo como possa haver educação. 

Quando amais uma pessoa, vós a compreendeis porque é esse vosso sincero empenho. Amamos nossos filhos? Amamos nossas esposas, ou maridos? Amamos o nosso próximo? Não; porque, se os amássemos, este mundo seria diferente. Não há verdadeira educação, quando ela é ministrada de acordo com um sistema. Quando amamos tem de haver comunhão instantânea, no mesmo nível e ao mesmo tempo, mas, como estamos estéreis e vazios, os governos e os sistemas assumiram a nossa missão. O educador torna-se importante, torna-se significativo o ambiente, porque nós não sabemos amar.

Não duvido de que achareis que eu nada disse positivo a respeito da educação. Mas, não é o pensamento negativo a mais elevada forma de pensar? Não é certo que a sabedoria vem através negação? Não ponhais o que digo em vossas garrafas velhas, privando-vos assim do seu perfume. Senhores, estai certos da que para se transformar o mundo é necessária a regeneração dentro em nós mesmos. Sabemos que há planos para educação dos nossos filhos, mas, naturalmente, os planos não têm amor. É por isso que se produzem máquinas. Temos intelecto, mas que é feito dele? Estamos virando carne para canhão. Não somos criadores. Não somos pensadores. Não sabemos amar, e estamos apenas a mourejar, com as nossas mentes rotineiras, e, por isso, nos tornamos ineficientes; assim, o governo que quer eficiência para a destruição, vai tornar-nos eficientes. Mas há uma eficiência inspirada pelo amor, que está muito acima da eficiência da máquina.

Krishnamurti – Do livro: Uma nova maneira de viver -16 de novembro/1947 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Descobrindo essa coisa estranha chamada Felicidade

O pensamento é uma coisa muito estranha, não? Sabem o que é o pensamento? O pensamento ou pensar é, para a maioria das pessoas, algo que foi coordenado pela mente, e cada um está pronto em se bater em defesa de seus próprios pensamentos. Mas, se realmente puderem escutar tudo — o marulhar da água à beira do rio, o canto dos pássaros, o choro de uma criança, os ralhos de sua mãe, as ameaças de um companheiro, as implicâncias de sua esposa ou marido — observaram que, então, ultrapassam as palavras, ultrapassam as meras explicações verbais que tanto atenazam o ser de vocês.

É muito importante ultrapassar a mera expressão verbal, porque, afinal de contas, o que é que todos nós desejamos? Jovens ou velhos, inexperientes ou amadurecidos, todos desejamos ser felizes, não é verdade? Como estudantes, desejamos ser felizes nas partidas que jogamos, nos estudos, na execução das pequenas coisas que gostamos de fazer. E, ao nos tornarmos mais velhos, buscamos a felicidade nas pessoas, no dinheiro, em sermos donos de uma bonita casa, de uma esposa ou marido compreensivo, de um bom emprego. Quando essas coisas deixam de nos satisfazer, passamos a outra coisa. Dizemos “Devo ser desapegado porque assim serei feliz”. Começamos, pois, a “praticar” o desapego. Abandonamos a família, as posses e nos retiramos do mundo. Ou ingressamos em alguma ordem religiosa e pensamos que seremos felizes se nos reunirmos para falar sobre fraternidade, se seguirmos um líder, um guru, um Mestre, um ideal, se acreditamos no que, essencialmente, é um meio de enganarmos a nós mesmos, uma ilusão, uma superstição.

Entendem o que estou dizendo?

Quando penteiam os cabelos, quando vestem roupas limpas e se adornam, tudo isso faz parte do desejo de vocês serem feliz, não? Quando passam nos exames e acrescentam algumas letras do alfabeto ao nome de vocês; quando obtém um emprego, adquirem uma casa e outros bens; quando se casam e tem filhos; quando ingressam numa sociedade religiosa, cujos guias alegam receber mensagens de Mestres invisíveis — atrás de tudo isso está aquela compulsão a encontrar a felicidade.

Mas, vejam, a felicidade não vem facilmente assim, pois a felicidade não se acha em nenhuma dessas coisas. Vocês podem experimentar prazer, encontrar uma nova satisfação, porém, mais cedo ou mais tarde, tudo se torna cansativo. Porque não há felicidade duradoura nas coisas que conhecemos. Ao beijo segue-se a lágrima, ao riso a aflição e a desolação. Tudo fenece e declina. Assim, enquanto estão jovens, devem começar a descobrir o que é essa coisa estranha chamada Felicidade. Esta é uma parte essencial da educação.

A felicidade não vem quando estão lutando para alcança-la. Eis o grande segredo — embora isso seja muito fácil de dizer. Eu posso dize-lo em poucas e simples palavras; mas, pelo simples fato de me escutarem e de repetirem o que ouvem, não serão felizes. A felicidade é uma coisa estranha: ela só vem quando não a buscam. Quando nenhum esforço estão fazendo para serem felizes, então, inesperadamente, misteriosamente, surge a felicidade, nascida da pureza, da beleza do viver pleno. Mas isso exige muita compreensão, e não que ingressem em alguma organização ou procurem se tonar alguém. A Verdade não é coisa conquistável. Surge quando a mente e coração de vocês foram depurados de todo impulso de luta, e já não estão tentando se tornar alguém; ela está presente quando a mente está muito quieta, escutando, num plano atemporal, tudo o que se passa. Vocês podem escutar estas palavras, mas, para haver felicidade, devem descobrir como libertar a mente de todo medo.

Enquanto tiverem medo de alguém ou de alguma coisa, não pode haver felicidade. Não haverá felicidade enquanto temerem seus pais, seus mestres, enquanto recearem não passar nos exames, não progredir, não poder se aproximar do Mestre, da Verdade, não merecer louvores, lisonjas. Mas se, realmente, nada temerem, verão então — acontecer de repente algo extraordinário: sem ser chamado, nem solicitado, nem procurado, aquilo a que se pode chamar Amor, Verdade, Felicidade, se manifesta subitamente.

Eis porque é tão importante que sejam educados corretamente enquanto estão jovens. O que atualmente chamamos de educação não é de modo nenhum educação, porque ninguém lhes fala dessas coisas. Seus mestres lhes preparam para passarem nos exames, mas não lhes falam sobre o viver. A maioria de nós consegue apenas subsistir, nos arrastar de alguma maneira pela vida e, por isso, a vida se torna uma coisa terrível. O viver realmente exige abundância de amor, de sensibilidade ao silêncio, grande simplicidade a par de abundante experiência. Requer uma mente capaz de pensar com toda a clareza, não tolhida pelo preconceito ou a superstição, pela esperança ou pelo medo. Tudo isso é a vida, e se vocês não estão sendo educados para viver, a educação de vocês é completamente sem significação. Podem aprender a serem muito asseados, a terem boas maneiras, e podem passar em todos os seus exames; mas, dar importância primária a essas coisas, enquanto toda a estrutura da sociedade está a se desfazer, é o mesmo que estar a limpar e a polir as unhas, com a casa pegando fogo. Vejam, ninguém lhes fala sobre nada disto, ninguém examina nada, junto com vocês. Assim como vocês passam dias sucessivos estudando certas matérias — Matemática, História, Geografia — vocês deveriam, também, passar uma boa parte do tempo falando sobre estes assuntos profundos, pois isso dá riqueza à vida.  

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano

Quem realmente se interessa por um novo mundo?

Pergunta: Como podemos ser livres da dependência enquanto vivermos em sociedade?

Krishnamurti: Você sabe o que é sociedade? Sociedade são as relações entre homens, não é exato? Não complique a coisa, citando uma porção de livros; pense a este respeito com toda a simplicidade e verá que a sociedade são as relações entre você e mim e outros. As relações humanas constituem a sociedade; e nossa atual sociedade está alicerçada em relações de aquisição, não é verdade? Em geral, queremos dinheiro, poder, posses, autoridade. Num nível ou noutro, queremos posição, prestígio e edificamos, assim, uma sociedade de aquisição. Enquanto formos dados à aquisição, enquanto ambicionarmos posição, prestígio, poder, etc., pertenceremos a esta sociedade e, por conseguinte, dela seremos dependentes. Mas, se um homem não deseja nenhuma dessas coisas e permanece sendo simplesmente o que é (o que ele próprio é), com grande humildade, está então fora da sociedade; revolta-se e rompe com a sociedade.

Infelizmente, a educação, hoje em dia, lhe prepara para você se submeter, se adaptar, se ajustar a esta sociedade de aquisição. Só nisso seus pais estão interessados, seus mestres, seus livros. E, enquanto você se submete, enquanto é ambicioso, ávido, corrompendo e destruindo a outros em sua busca de posição e poder, você é considerado um cidadão respeitável. Você é educado para se adaptar à sociedade; mas isso não é educação, é apenas um processo de lhe condicionar para que você se ajuste a um padrão. A verdadeira função da educação não é lhe preparar para que você seja um funcionário, um juiz ou um primeiro-ministro, porém, ajudar-lhe a compreender toda a estrutura desta sociedade corrompida e permitir-lhe crescer em liberdade, de modo que você seja capaz de quebrar todas as prisões e criar uma sociedade diferente, um mundo novo. Há necessidade de indivíduos revoltados, não parcialmente, porém totalmente revoltados contra o “velho”, pois só tais indivíduos poderão criar um novo mundo, um mundo não baseado na aquisição, no poder e no prestígio.

Já estou ouvindo os mais velhos dizendo: “Isso nunca será possível. A natureza humana é o que é, e o que você diz é puro absurdo”. Mas nunca pensamos em descondicionar a mente adulta e em não condicionar a criança. Ora, por certo, a educação é tanto curativa como preventiva. Você, estudante mais velho, já está moldado, condicionado, já é ambicioso; deseja ter êxito como seu pai, seu chefe, ou outro qualquer. Assim, a verdadeira função da educação é não só lhe ajudar a “se descondicionar”, mas também lhe ajudar a compreender o inteiro processo do viver, dia a dia, para que você possa crescer em liberdade e criar um mundo novo — um mundo totalmente diferente do atual. Infelizmente, nem os pais, nem os mestres, nem o público em geral, estão interessados nisso. Eis porque a educação deve ser um processo de educar tanto o educador como o estudante.


Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Sem amor, a liberdade é mera ideia sem valor

É de supor e alguns de vocês não compreenderam bem o que estivemos dizendo a respeito da liberdade; mas, como já assinalei, muito importa estar aberto para as ideias novas, para o que é fora do habitual. É bom ver o que é belo, mas é necessário, também, observar o lado feio da vida, estar desperto para tudo. Analogamente, vocês devem estar abertos para coisas que talvez não compreendam bem, porque quanto mais pensarem e cogitarem sobre tais assuntos, talvez um tanto difíceis para vocês, tanto maior se tornará a capacidade de vocês de viverem com plenitude.

Não sei se algum de vocês já notou o sol refletido nas águas, ao amanhecer — a suave claridade, a dança das águas escuras, a estrela matutina acima das árvores, a única estrela visível no céu! Notaram, alguma vez, qualquer dessas coisas? Ou andam tão atarefados, tão ocupados como suas rotinas diárias, que esquecem, ou nunca conheceram, a própria beleza desta Terra — desta Terra em que juntos temos de viver? Quer nos denominemos comunistas ou capitalistas, hinduístas ou budistas, muçulmanos ou cristãos, quer sejamos cegos, aleijados, ou sãos e felizes, esta Terra é nossa. Compreendem? É nossa, e não de outro; ela não é do homem rico, não é propriedade exclusiva dos governantes poderosos, dos nobres da terra, porém é nossa Terra, de vocês e minha! Somos pessoas insignificantes, mas vivemos também nesta Terra; nela temos de viver, todos juntos. Este mundo é tanto do rico como do pobre, tanto do letrado como do iletrado; é nosso mundo; e acho muito importante sentir isto e amar a Terra, não apenas ocasionalmente, numa tranquila manhã, mas a todas as horas. E só podemos sentir que este é nosso mundo, e amá-lo, quando compreendemos o que é liberdade.

Presentemente não existe liberdade; não sabemos o que isso significa. Gostaríamos de ser livres, mas, se observarem, notaram que todos — o mestre, os pais, o advogado, o militar, o policial, o negociante — cada um, em sua pequena esfera, está fazendo alguma coisa para impedir a liberdade. Ser livre não é, meramente, fazerem o que lhes apraz, ou fugirem das circunstâncias externas que lhes tolhem, mas, sim, compreender todo o problema da dependência. Sabem o que é dependência? Vocês dependem de seus pais, não é verdade? Dependem de seus mestres, dependem do cozinheiro, do carteiro, do leiteiro etc. Esta espécie de dependência é facilmente compreensível. Mas existe uma qualidade de dependência muito mais profunda e que é necessário compreender, para se poder ser livre: o dependermos de outrem, para nossa própria felicidade. Sabem o que significa depender de alguém para a própria felicidade? Não é a mera dependência física de outra pessoa o que tanto lhes prende, porém a dependência interior, psicológica, da qual recebem sua suposta felicidade; porque, quando dependem de alguém dessa maneira, vocês se tornam escravos. Se, quando ficarem mais velhos, dependerem emocionalmente de seus pais, ou de sua esposa ou marido, de um guru, ou de uma ideia, aí já estará em começo a escravidão. Não compreendemos isso e, no entanto, quase todos nós, principalmente os mais novos, desejamos ser livres.

Para sermos livres, temos de revoltar-nos contra toda dependência interior, e não podemos revoltar-nos se não compreendemos por que somos dependentes. Enquanto não compreendermos bem a dependência interior, e dela não nos libertarmos, nunca seremos livres, porquanto só nessa compreensão pode haver liberdade. Mas a liberdade não é mera reação. Vocês sabem o que é “reação”? Se digo alguma coisa que lhes ofende, se lhes chamo com um nome feio e vocês se zangam comigo, isto é uma reação — reação proveniente da dependência; e a independência é outra reação. Mas, liberdade não é reação; e enquanto não compreendermos e ultrapassarmos a reação, nunca seremos livres.

Sabem o que significa amar alguém? Sabem o que significa amar uma árvore, uma ave, um animal de estimação, ao ponto de cuidarmos com desvelo do ser que amamos, nutri-lo, acarinhá-lo, embora ele nada nos dê em troca — embora a árvore não nos dê sombra, o animal não nos siga os passos e não dependa de nós? A maioria de nós não amamos dessa maneira; em verdade, não sabemos o que isso significa, porque nosso amor é sempre cercado de ansiedade, de ciúme, de medo — e isso implica que estamos dependendo de outrem, interiormente, que desejamos ser amados também. Não amamos simplesmente, sem nada mais desejarmos. Queremos retribuição; e isso justamente, nos torna dependentes.

Assim, pois, a liberdade e o amor andam juntos. O amor não é reação. Se amo vocês porque me amam, isto é pura transação, uma compra no mercado. Amar é nada pedir em troca, não sentir, sequer, que se está dando alguma, coisa; só esse amor pode conhecer a liberdade. Mas, vejam, vocês não são educado para isso. São educado para saberem Matemática, Química, Geografia, História. Ai termina a educação de vocês, porque o único empenho de seus pais é lhes ajudar a obter um bom emprego e a ter êxito na vida. Se têm dinheiro, talvez lhes mandem ao estrangeiro; mas, como acontece no resto do mundo, seu objetivo único é lhes ver ricos e numa respeitável posição social; e, quanto mais alto subirem, tanto mais sofrimentos causarão a outros, porque, para galgarem posições, terão de competir, de serem cruéis. Por isso, os pais mandam os filhos para escolas onde se estimule a ambição, onde não haja amor; por isso, uma sociedade como a nossa está sempre em declínio, em luta constante, e, embora os políticos, os juízes, os "nobres da terra” falem de paz, isso nada significa.

Ora, vocês e eu devemos compreender todo esse problema da liberdade. Devemos descobrir por nós mesmos o que significa amar; porque, se não amamos, não teremos consideração para com os outros, não seremos atenciosos. Sabem o que significa ter consideração a outrem? Quando veem uma pedra pontuda num caminho percorrido por muitos pés descalços, vocês a retiram, não porque vos pedem que o façam, mas porque se condoem de outro, quem quer que seja e ainda que nunca o vejam na vida. Plantar uma árvore e cuidar dela, olhar o rio e fruir a prodigalidade da terra, observar uma ave no ar e a beleza de seu voo, ter sensibilidade e manter-se aberto a esse extraordinário movimento que se chama a vida — para tudo isso há necessidade de liberdade; e, para serem livres, devem amar. Sem amor, não há liberdade; sem amor, a liberdade é mera ideia, sem nenhum valor. Assim, só os que compreenderam a íntima dependência e dela se libertaram; que sabem, por conseguinte, o que é amor — só esses podem conhecer a liberdade; só eles poderão criar uma nova civilização, um mundo diferente.

Krishnamurti — A Cultura e o problema humano

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill