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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Qual a relação entre o homem religioso e a sociedade?

Nossos problemas são muito mais profundos e temos necessidade de uma resposta profunda que, acho, encontraremos se examinarmos criteriosamente a questão de se a cultura que temos no presente — cultura envolvendo religião e toda a estrutura moral e social — ajuda o homem a descobrir a realidade. Se a resposta for negativa, então a mera reforma de tal cultura ou civilização não passará de uma perda de tempo; mas se ajudar o homem, no verdadeiro senso, então todos nós devemos empenhar nossos corações nessa reforma. Disso, penso eu, depende a solução do problema.

Por cultura queremos significar todo o problema do pensamento, não é? Para a maioria de nós, pensamento é o resultado de várias formas de condicionamento, de educação, de conformidade, de pressões e influências, às quais estamos sujeitos dentro do arcabouço de uma determinada civilização. Presentemente nosso pensamento é moldado pela sociedade e, a menos que ocorra uma revolução em nossa forma de pensar, a mera reforma de uma cultura ou sociedade superficial a mim parece uma loucura, um fator que apenas desencadeará maior miséria.

Afinal de contas, o que denominamos civilização constitui um processo de educar o pensamento dentro dos moldes hindus, cristãos ou comunistas, e assim por diante. Poderá uma forma de pensar tão educada criar uma revolução fundamental? Acaso qualquer tipo de pressão, de padronização de pensamento trará como consequência a descoberta ou a compreensão do que é a verdade? Claro, o pensamento precisa livrar-se de toda pressão, o que significa, realmente, livrar-se da sociedade, de todas as formas de influência e, assim, descobrir o que é verdade; então, esta mesma verdade tem poder para desenvolver uma ação sua e muito própria que dará origem a uma cultura totalmente diferente.

Isto é, a sociedade existe para descobrir a realidade ou precisamos nos livrar da sociedade para descobrir a realidade? Se a sociedade ajuda o homem a descobrir a realidade, então dado tipo de reforma dentro da sociedade é essencial; mas, se constitui um empecilho a essa descoberta, não deve o indivíduo cortar relações com a sociedade e buscar a verdade? Só a pessoa que é verdadeiramente religiosa o consegue, não o homem que celebra vários rituais ou aquele que vê a vida através de padrões teológicos. Quando o indivíduo se liberta da sociedade e busca a realidade, ele não suscita nessa mesma busca uma diferente cultura?

Acho que essa questão é muito importante porque a maioria de nós está meramente interessada em reformas. Constatamos a pobreza, a superpopulação, todas as formas de desintegração, de divisão e conflito e, vendo tudo isso, que podemos fazer? Começamos por participar de um grupo particular, ou trabalhar por uma ideologia? É essa a função do homem religioso? O homem religioso, sem dúvida, é aquele que busca a realidade e não aquele que lê ou cita a Bíblia, ou que vai todo dia ao templo. Isso, obviamente, não é religiosidade — é meramente compulsão, condicionamento do pensamento pela sociedade. Então, o que o homem justo, o homem que reconhece a necessidade e quer provocar uma imediata revolução deve fazer? Trabalhar em prol dessa reforma dentro da estrutura da sociedade? A sociedade é uma prisão e deverá ele apenas reformar a prisão, decorando suas grades e se esforçando para que as coisas sejam feitas de um modo mais bonito dentro de suas muralhas? Sem dúvida, o homem que é verdadeiramente justo, que é realmente religioso é o único revolucionário; não existe outro e esse homem é aquele que está buscando a realidade, que está tentando descobrir o que é Deus, ou a verdade.

Agora, qual deve ser a atitude desse homem? O que ele deve fazer? Deve atuar em meio à atual sociedade ou romper com ela, não se preocupar em absoluto com a sociedade? Rompimento não significa tornar-se um monge hindu, um eremita, isolando-se graças a peculiares sugestões hipnóticas. E, no entanto, ele não pode ser um reformista, porque constitui um desperdício de energia, de pensamento, de criatividade, o homem justo entregar-se a meras reformas. Então que deve o homem justo fazer? Se ele não tenciona decorar as grades da prisão, remover algumas grades, deixar entrar um pouco mais de luz, se não está absolutamente nisso, mas se também vê a importância de suscitar uma revolução de base, uma mudança radical no relacionamento de homem para homem — relacionamento que deu origem a esta apavorante sociedade em que existem pessoas imensamente ricas e aquelas que não possuem absolutamente nada, tanto interna como externamente — então, o que ele deve fazer? Acho importante fazer esta pergunta a nós mesmos.

Afinal de contas, a cultura se concretiza através da ação da verdade ou cultura é obra do homem? Se é obra do homem, obviamente não o conduzirá para a verdade. E nossa cultura é obra do homem porque se baseia em várias formas de aquisição. Não somente no que se refere a coisas mundanas, mas também às assim ditas espirituais; resulta do desejo de posição sobre todos os aspectos, de auto-engrandecimento e assim por diante. Tal cultura não pode, é claro, conduzir o homem à realização do supremo; e se compreendo isso, que posso, então fazer? O que você faria se compreendesse que a sociedade é uma barreira? Sociedade não significa apenas uma ou duas atividades, mas toda a estrutura do relacionamento humano, na qual toda a criatividade cessou, na qual existe constante imitação; consiste num arcabouço de medo em que a educação é mera conformidade e onde não existe nem um pouquinho de amor, mas simplesmente ação nos moldes de um padrão descrito como amor. Nessa sociedade os principais fatores são reconhecimento e respeitabilidade: é pelo que todos nós lutamos — para sermos reconhecidos. Nossa capacidade, nosso saber precisam ser reconhecidos pela sociedade para que sejamos ser alguém. Quando ele compreende tudo isso e vê a pobreza, a tremenda fome, a fragmentação da mente em diversas formas de crenças, o que o homem justo deve fazer?

Se realmente ouvimos o que se diz, ouvimos no sentido de querer descobrir a verdade, de forma que inexista o conflito de sua opinião contra a minha opinião ou de seu temperamento contra o meu, se podemos colocar tudo isso de lado e tentarmos descobrir o que é a verdade — o que requer amor — penso que nesse verdadeiro amor, nesse sentimento de bondade, encontramos a verdade que criará uma nova cultura. Então estaremos livres da sociedade, não mais preocupados com a reforma da sociedade. Mas a descoberta da verdade demanda amor e nossos corações estão vazios, pois estão repletos de coisas da sociedade. Estando repletos, tentamos reforma-la e nossa reforma não traz em si o perfume do amor.

Jiddu Krishnamurti — Sobre Deus

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Observando a exata natureza de nossas relações

Antes de alterar a sociedade, temos de compreender toda a nossa estrutura, a maneira do nosso pensar, a maneira da nossa ação, a natureza das nossas relações com pessoas, ideias e coisas. A revolução na sociedade deve começar com a revolução no nosso próprio pensar e agir. A compreensão de nós mesmos é de importância precípua, se desejamos realizar uma transformação radical na sociedade; e a compreensão de nós mesmos é autoconhecimento. Ora, temos feito do autoconhecimento uma coisa extremamente difícil e remota. As religiões tornaram o autoconhecimento muito místico, abstrato e distante; mas se examinarmos com cuidado, veremos que o autoconhecimento é muito simples e requer, apenas, atenção às relações; e ele é essencial, se desejamos uma revolução fundamental na estrutura da sociedade. Se você, o indivíduo, não compreende as tendências do seu próprio pensamento, e das suas atividades, a mera realização de uma revolução superficial na estrutura exterior da sociedade só criará mais confusão e sofrimento. Se não conhece a si mesmo, se segue outra pessoa, sem conhecer todo o processo do seu próprio pensar e sentir, você será, obviamente, levado a mais confusão e mais desastres. Afinal de contas, a vida é relação, e sem relações não há possibilidade de vida. Não há vida no isolamento, porque o viver é um processo de relações; e as relações não se efetuam com abstrações, mas sim com a propriedade, com pessoas, com ideias. Em suas relações, você vê a si mesmo, tal como é, não importa como seja, se feio ou belo, se sensível ou grosseiro; no espelho das relações você vê com precisão todo problema novo, toda estrutura de si mesmo, tal como é. Porque você julga impossível alterar fundamentalmente as suas relações, procura fugir, intelectual ou misticamente, e essa fuga só criará novos problemas, mais confusão e mais desastres. Mas se, ao invés de fugir, você examinar a sua vida de relação e compreender toda a estrutura dessas relações, terá a possibilidade de ultrapassar aquilo que está muito próximo. Por certo, para ir longe precisamos começar com o que está muito próximo; mas esse começo com o que está próximo é dificílimo para a maioria de nós, porquanto desejamos fugir do que é, do fato do que somos. Sem compreendermos a nós mesmos não podemos ir longe; e nós estamos em relação contínua, visto que não há existência sem relações. A vida de relação, pois, é o imediato, e para ultrapassarmos o imediato precisamos compreender as relações. Mas preferimos examinar o que está muito distante, o que chamamos Deus ou a Verdade, do que promover uma revolução fundamental em nossas relações; e essa fuga para Deus ou para a Verdade é de toda fictícia, irreal. As relações são a única coisa que temos, e sem compreendermos essas relações nunca descobriremos o que é a realidade ou Deus. Assim, para que se realize uma modificação completa da estrutura social, da sociedade, precisa o indivíduo purificar as suas relações, e essa purificação das relações é o começo da sua própria transformação.

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?  



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Revolta dentro da sociedade não é revolta

Pergunta: Você diz que devemos nos revoltar contra a sociedade, e ao mesmo tempo diz que devemos ser sem ambição. Mas, não é ambição o desejo de melhorar a sociedade?

Krishnamurti: Já expliquei muito cuidadosamente o que entendo por revolta, mas vou empregar duas palavras diferentes, para maior clareza. O revoltar-se dentro da sociedade, a fim de melhorá-la um pouco, de colocar em execução certas reformas, isso é como uma revolta de presos que querem melhorar de vida entre os muros da prisão; e uma revolta desta natureza não é revolta, porém, simples motim. Você percebe a diferença? A revolta dentro da sociedade é como um motim de presos que querem melhor comida, melhor tratamento, dentro da prisão; mas a revolta que nasce da compreensão é aquela do indivíduo que se liberta da sociedade; e esta é a revolução criadora.

Ora, se você como indivíduo se liberta da sociedade, tal ação é motivada pela ambição? Se o é, isso significa que você não se libertou, absolutamente; continua dentro da prisão, porque a base mesma da sociedade é a ambição, a ganância, a avidez. Mas se, compreendendo tudo isso, você promove uma revolução em sua mente e seu coração, então você já não é ambicioso, já não está sendo impelido pela inveja, a avidez, a ânsia de aquisição e, por conseguinte, você está completamente fora de uma sociedade cuja base são estas coisas. Você é, então, um indivíduo criador e, em sua ação, estará o germe de uma “cultura” diferente.

Há, portanto, uma vasta diferença entre a ação da revolução criadora, e a ação da revolta ou motim dentro da sociedade. Enquanto você só se preocupar com meras reformas, com o simples decorar das grades e paredes da prisão, não será criador. Toda reforma torna necessária outra reforma, e só produz mais misérias e mais destruição. Mas, ao contrário, a mente que compreende toda essa estrutura de aquisição, de avidez, de ambição, e dela se liberta — essa mente se acha em revolução constante. É uma mente que se expande, que cria; por conseguinte, como a pedra lançada numa lagoa tranquila, sua ação produz ondas e essas ondas formarão uma sociedade completamente diferente.

(...)

Pergunta: Ainda que possamos criar uma nova sociedade, revoltando-nos contra a atual, esta criação de uma nova sociedade não constitui também uma forma de ambição?

Krishnamurti: Parece que você não escutou o que estive dizendo. Quando a mente se revolta contra o padrão da sociedade, essa revolta se assemelha a um motim dentro de uma prisão, e é apenas uma outra forma de ambição. Mas, quando a mente compreende, em sua inteireza, esse destrutivo "processo" da atual sociedade, e dele sai, sua ação não é então ambiciosa. Essa ação poderá criar uma nova civilização, uma ordem social melhor, um mundo diferente, mas a mente não está preocupada em criá-la. Seu único interesse é descobrir o que é verdadeiro; o movimento da verdade é que criará um novo mundo, e não a mente que se acha em revolta contra a sociedade.

Krishnamurti – A cultura e o problema humano

Em seu coração não há cânticos, porém, gritos

Pergunta: Por que nunca se realizam plenamente os nossos desejos? Por que há sempre obstáculos a nos impedir de atuar completamente, como desejamos?

Krishnamurti: Se é completo o seu desejo de fazer certa coisa, se nele está todo o seu ser, sem busca de nenhum resultado, sem nenhum desejo de preenchimento — não há então nenhum obstáculo. Só há obstáculo, contradição, quando seu desejo é incompleto, fragmentário: você deseja fazer uma coisa e ao mesmo tempo tem medo de fazê-la ou sente um vago desejo de fazer outra coisa. Além disso, há possibilidade de você realizar todos os seus desejos? Compreende? Explicarei.

A sociedade, que é a relação coletiva entre os homens, não quer que você tenha nenhum desejo completo, porque, se isso acontecesse, você se tornaria um incomodo, se tornaria uma perigo para a sociedade. Ela lhe permite ter desejos “respeitáveis”, como ambição, inveja — isso, sim, é muito “correto”. Constituída, que é, de entes humanos invejosos, ambiciosos, que acreditam e imitam, a sociedade admite a inveja, a ambição, a crença, a imitação, muito embora todas essas coisas sejam indícios de medo. Enquanto seus desejos se harmonizam com o padrão estabelecido, você é um cidadão respeitável. Mas, no momento em que você tem um desejo completo, estranho ao padrão, você se torna um perigo; assim sendo, a sociedade está sempre vigilante, para lhe impedir de ter um desejo completo, um desejo que seja a expressão de seu ser total e, portanto, produtor de ação revolucionária.

A ação de ser difere muito da ação de “vir a ser”. A ação de ser é tão revolucionária que a sociedade a repudia e se interessa exclusivamente pela ação de “vir a ser”, a qual é respeitável porque condiz com o padrão. Mas, todo desejo que se expressa na ação de “vir a ser”, que é uma forma de ambição, não encontra preenchimento. Mais cedo ou mais tarde, ele se vê contrariado, impedido, frustrado, e contra a frustração nos revoltamos de maneira nociva. 

Esta é uma questão muito importante de se examinar, porque, quando você envelhecer, verá que seus desejos nunca são realmente preenchidos. No preenchimento está sempre a sombra da frustração, e em seu coração não há cânticos, porém, gritos. O desejo de “vir a ser” — tornar-se um grande homem, um grande santo, um grande isto ou aquilo — não tem fim e, por conseguinte, não tem preenchimento; sua exigência é sempre de mais, e esse desejo gera sempre agonias, aflições, guerras. Mas, quando a pessoa está livre do desejo de “vir a ser”, há um “estado de Ser”, cuja atenção é totalmente diferente. Seu próprio ser é seu preenchimento

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sua mente é parte integrante da sociedade

Alguma vez você já esteve sentado, muito quieto, de olhos fechados, observando o movimento do seu pensar? Já observou a sua mente funcionando, ou melhor, sua mente já observou a si própria em funcionamento, para ver quais são seus pensamentos, seus sentimentos, como você olha para as árvores, para as flores, para as aves, as pessoas, como você “responde” a uma sugestão ou como reage a uma nova ideia? Você já fez isso alguma vez? Se não o fez, está perdendo muita coisa. Se você não sabe como a sua mente reage, se sua mente não está consciente de suas próprias atividades, você nunca descobrirá o que é a sociedade. Você pode ler livros de sociologia, estudar ciências sociais, mas se não sabe como funciona sua mente, não compreenderá o que é a sociedade, pois sua mente é parte integrante da sociedade; ela é a sociedade. Suas reações, suas crenças, suas idas ao templo, as roupas que usa, as coisas que faz ou que não faz, o que você pensa — a sociedade constitui-se de tudo isso, é a replica de tudo o que se passa em sua mente. Sua mente, pois, não está separada da sociedade, não é distinta de sua cultura, de sua religião, de suas divisões de classe, das ambições e conflitos da humanidade em geral. Tudo isso é a sociedade, da qual você é parte integrante. Não existe “você” separado da sociedade.

Pois bem; a sociedade está sempre procurando controlar, formar, moldar o modo de pensar dos jovens. Dede o momento em que você nasce e começa a receber impressões, seu pai e sua mãe ficam dizendo o que você deve e não deve fazer, o que deve acreditar e o que não deve acreditar; dizem que existe Deus ou que Deus não existe, porém somente o Estado, cujo profeta é certo ditador. Desde a infância, tais coisas lhe são continuamente inculcadas e, por conseguinte, sua mente — ainda muito nova, impressionável, indagadora, curiosa, desejosa de descobrir — vai sendo gradualmente enclausurada, condicionada, moldada, para que você se ajuste ao padrão de determinada sociedade e nunca seja um revolucionário. Uma vez firmado o hábito de pensar segundo um padrão, mesmo quando você se “revolta”, isso acontece dentro do padrão. É uma revolta semelhante à revolta de presos que reclamam por melhor comida e mais comodidade — mas sempre entre os muros da prisão. Quando você busca Deus ou investiga o que é um governo justo, sempre o faz dentro do padrão da sociedade, que preceitua que “isto é verdadeiro e aquilo é falso; que isto é bom e aquilo é mau; que este é o verdadeiro líder e estes são os santos”. Sua revolta, pois, tal como a chamada revolução promovida por homens ambiciosos ou muito hábeis, está sempre limitada pelo passado. Não é revolta, não é revolução, porém, tão só uma atividade mais intensa dentro do padrão. A revolta real, a revolução verdadeira é aquela que quebra as cadeias do padrão, para investigar fora dele.

Você deve saber que todos os reformadores — não importa quem sejam eles — só se interessam em melhorar condições internas da prisão. Nunca dizem para que você não se ajuste, nunca dizem: “Rompa as muralhas da tradição e da autoridade, sacuda o condicionamento que lhe aprisiona a mente”. E a verdadeira educação é, não apenas exigir que você passe nos exames, para os quais você se prepara apressadamente, ou escreve escreva sobre algo que decorou, porém, sim, lhe ajudar a perceber os muros da prisão em que sua mente está prisioneira. A sociedade influencia todos nós, molda nosso pensar, e essa pressão externa da sociedade se traduz gradualmente em “estado interior”; mas, por mais profundamente que penetre, ela será sempre externa e não haverá coisa que possa se chamar “estado interior” enquanto não for rompido esse condicionamento. Você deve saber o que está pensando e se está pensando como hinduísta, como muçulmano ou como cristão, isto é, conforme a religião a que por acaso você pertença. Você deve estar consciente do que acredita e do que não acredita. Tudo isso constitui o padrão da sociedade e, a não ser que você esteja consciente do padrão e dele se liberte, continuará prisioneiro, embora pense ser livre.

Mas, veja, o que interessa a quase todos nós é a revolta dentro da prisão; queremos melhor comida, um pouco mais de luz, uma janela mais larga, para podermos ver um pedaço maior do céu. Muito nos importa saber se o “outcaste”¹ pode ou não pode entrar no templo; desejamos eliminar determinada casta e, no próprio ato de eliminá-la criamos outra, uma casta “superior”; e, assim, continuamos prisioneiros, nunca há libertação da prisão. A liberdade está fora dos muros, fora do padrão da sociedade; mas, para você ficar livre desse padrão, tem de compreender todo o seu conteúdo, ou seja, compreender sua própria mente. Foi a mente que criou a atual civilização, essa cultura ou sociedade vinculada à tradição; e, se você não compreende sua própria mente e apenas se revolta como comunista, socialista, etc., isso pouco significa. Por essa razão, é muito importante que você tenha autoconhecimento, estar consciente de todas as suas atividades, de seus pensamentos e sentimentos; isso é educação, não? Porque, quando você está plenamente consciente de si mesmo, sua mente se torna muito sensível, muito vigilante.

Experimente isso — não num certo dia longínquo do futuro, porém amanhã ou nesta tarde mesmo. Se há muita gente em sua casa, trate de sair sozinho, para se sentar debaixo de uma árvore ou à beira de um rio e observar sossegadamente como funciona a sua mente. Não a corrija, dizendo: “isto é certo, aquilo é errado”; apenas a observe, como quem assiste um filme; os atores e atrizes estão desempenhando os seus papéis, e você apenas vendo. Pela mesma maneira observe a sua mente. Isso é verdadeiramente interessante, muito mais interessante do que qualquer filme, pois a sua mente é resíduo de todo o mundo e contém tudo o que os entes humanos têm experimentado. Compreende? Sua mente é a humanidade, e quando você perceber isso terá uma imensa compaixão. Dessa compreensão nasce um grande amor; e, então, ao ver coisas belas, saberá o que é a beleza.   

Krishnamurti — A cultura e o problema humano
___________

(¹ ) outcaste: Na Índia, aquele que foi expulso de sua casta, por violação de suas regras ou costumes. Os outcastes são destituídos de todos os direitos civis comuns. (Dicionário “Webster Collegiate) 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Você é uma parte dessa monstruosa sociedade

Interrogante: Senhor, se o pensamento surge dentro de mim, e não é uma força misteriosa que invade a esfera da mente, parece então que eu não sou diferente do pensamento, e, portanto, que posso pensar ou não pensar, a meu bel-prazer.

Krishnamurti: Por que separais o exterior do interior? Vosso pensamento é vosso ou é condicionado pelo exterior? É condicionado pelo exterior, de certo. Nascei como cristão, como comunista, como... nascestes neste mundo, numa sociedade, numa cultura, que vos condiciona de uma certa maneira; sois condicionados pelos livros que ledes, pelo rádio, pela televisão, pelos jornais, pelos pregadores, e não estais sendo condicionado por mim, por este orador? Estais? Espero que não. Porque, se estais sendo condicionado pelo orador, estais meramente a aceitar ideias e opiniões, e isso nenhum valor tem.

Estamos falando de coisa inteiramente diferente — a liberdade. Mas, essa liberdade não se tornará possível se dividimos o mundo, separando o EU, o pensador, os pensamentos que me pertencem, do resto do mundo, considerado como coisa totalmente separado de mim. Pensais da maneira como pensais porque sois americano, suíço ou hindu. Nascestes numa certa cultura, e estais condicionado, foste moldado. Os comunistas "lavaram", puseram "em branco" o cérebro de milhões de indivíduos, torturaram-nos para levá-los a pensar pelo padrão de uma certa sociedade, com seu líder, o patrão, o comissário, "o homem que sabe"; e a igreja, a seu modo, fez exatamente a mesma coisa. E, assim, a cultura em que nasceis, afligida pelas guerras, é uma parte de vós; sois a sociedade e sois o indivíduo — não se podem separar as duas coisas. Só podeis estar fora de tudo isso quando não tendes medo e sabeis o que é o amor. Mas, enquanto permanecerdes dentro desse campo da cultura, dessa sociedade da avidez, inveja, sucesso, não sereis um ente humano livre. Podeis pensar que sois dono de uma vontade livre, mas sois apenas uma parte dessa sociedade monstruosa, um ente humano condicionado.
Krishnamurti — Saanen, 25 de julho de 1967




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O que é a sociedade?

O que é a sociedade? Um conjunto de valores, uma série de normas, regras e tradições, não é mesmo? Você vê essas condições de fora e diz: “Posso ter um relacionamento prático com tudo isso?” Por que não? Afinal, se você simplesmente se enquadrar nesse esquema de valores, acaso será livre? E o que se entende por “prático”? Quererá dizer ganhar o próprio sustento? Há muiats coisas que você pode fazer para ganhar seu sustento; e se você for livre não poderá escolher o que quer fazer? Não será isso prático? Ou você consideraria prático esquecer a própria liberdade e apenas ajustar-se ao quadro, tornar-se advogado, banqueiro, comerciante ou varredor de ruas? Certamente, se você for livre e tiver cultivado a própria inteligência, desobrirá o que lhe será melhor fazer. Colocará de lado todas as tradições e fará algo que verdadeiramente goste de fazer, independente da aprovação ou reprovação de seus pais ou da sociedade. Porque você é livre, tem inteligência, e fará alguma coisa que é totalmente sua, você agirá como um ser humano integrado.

Krishnamurti — O Verdadeiro Objetivo da Vida – Cultrix

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Nem fácil nem difícil, só natural

O amor é um estado natural da consciência. Não é nem fácil nem difícil, essas palavras de forma nenhuma se aplicam a ele. Ele não é um esforço; por isso não pode ser fácil nem pode ser difícil.

É como respirar! É como as batidas do coração, é como o sangue circulando no nosso corpo.

O amor é o nosso próprio ser... mas esse amor ficou quase impossível. A sociedade não o permite. A sociedade condiciona você de tal forma que o amor fica impossível e o ódio passa a ser a única coisa possível.

Então o ódio é fácil, e o amor não só é difícil como impossível.

O homem tem sido deturpado. Ele não pode ser reduzido à escravidão se não for primeiro deturpado. Os políticos e os padres têm participado de uma profunda conspiração ao longo das eras. Eles têm reduzido a humanidade a uma multidão de escravos.

Estão destruindo qualquer possibilidade de rebelião no homem — e o amor é uma rebelião, porque o amor ouve só o coração e não dá a mínima para o resto.

O amor é perigoso porque ele faz de você um indivíduo. E o Estado e a Igreja... eles não querem indivíduos, de jeito nenhum. Não querem seres humanos, querem ovelhas. Querem pessoas que só pareçam seres humanos, mas cuja alma tenha sido esmagada de tal maneira, tenha sido danificada a tal ponto, que o estrago pareça quase irremediável.

E a melhor maneira de destruir o homem é destruir sua espontaneidade de amar. Se o homem tiver amor, não poderá haver nações; as nações existem no ódio. Os indianos odeiam os paquistaneses e os paquistaneses odeiam os indianos — só assim esses dois países podem existir.

Se o amor surgir, as fronteiras vão desaparecer.

Se o amor surgir, então quem vai ser cristão e quem vai ser judeu? Se o amor surgir, as religiões desaparecerão. Se o amor surgir, quem irá ao templo? Para quê?

É porque está faltando amor que você sai em busca de Deus. Deus não é nada mais do que um substituto para o amor que está faltando. Como você não é bem-aventurado, não está em paz, não está em êxtase, você está em busca de Deus.

Se a sua vida é uma dança, Deus já está no seu coração. O coração amoroso está cheio de Deus. Não há necessidade de mais nenhuma busca, não há necessidade de mais nenhuma prece, não há necessidade de ir a templo nenhum, de procurar padre nenhum.

Por isso o padre e o político, esses dois, são inimigos da humanidade. Eles estão conspirando, pois o político quer governar seu corpo e o padre quer governar sua alma. E o segredo é o mesmo: destruir o amor. Então o homem passa a ser nada além de uma vacuidade, de um vazio, uma existência sem sentido.

Então você pode fazer o que quiser com a humanidade e ninguém se rebelará, ninguém terá coragem suficiente para se rebelar.

O amor dá coragem, o amor leva todo o medo embora — e os opressores dependem do seu medo. Eles criam medo em você, mil e um tipos de medo. Você fica cercado de medos, toda a sua psicologia é cheia de medos.

Lá no fundo você está tremendo. Só na superfície você mantém uma certa fachada; mas, dentro de você, existem camadas e camadas de medo.

Um homem cheio de medo só pode odiar — o ódio é uma consequência natural do medo. Um homem cheio de medo é também cheio de raiva, e um homem cheio de medo é mais contra a vida do que a favor dela. A morte parece um estado repousante para ele.

O homem temeroso é suicida, tem uma visão negativa da vida. A vida lhe parece perigosa, pois viver significa que você terá de amar — como você poderá viver?

Exatamente como o corpo precisa respirar para viver, a alma precisa de amor para viver. E o amor está definitivamente envenenado.

Envenenando a sua energia de amor, eles criaram uma cisão em você; criaram um inimigo dentro de você, dividiram-no em dois. Eles criaram uma guerra civil, e você está sempre em conflito. E, no conflito, sua energia é dissipada; por isso sua vida não tem sabor, alegria. Não transborda de energia; ela é sem graça, insípida, falta-lhe inteligência.

O amor aguça a inteligência, o medo a embota.

Quem quer que você seja inteligente? Não aqueles que estão no poder. Como eles podem querer que você seja inteligente? — porque, se for inteligente, você começará a ver toda a estratégia, os jogos que eles fazem. Eles querem que você seja burro e medíocre.

Certamente querem que você seja eficiente no que diz respeito ao trabalho, mas não inteligente; por isso a humanidade vive o seu potencial mínimo.

Osho, em "Coragem: O Prazer de Viver Perigosamente"

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Deixe de ser escravo da sociedade e do ambiente

A sociedade não pode ser transformada pelo exemplo. A sociedade poderá transformar-se, operar certas mudanças pela revolução política ou econômica, mas só o homem religioso pode operar uma transformação fundamental na sociedade; e o homem religioso não é aquele que se submete à fome como um exemplo para transformar a sociedade. O homem religioso não está interessado, em absoluto, na sociedade, porque a sociedade está baseada na aquisição, na inveja, na ganância, na ambição, no medo. Isto é, uma mera reforma do padrão da sociedade só pode alterar a superfície, produzir uma forma mais respeitável de ambição. Mas o homem verdadeiramente religioso está totalmente fora da sociedade, porque não é ambicioso, não tem inveja, não está seguindo nenhum ritual, dogma ou crença; só esse homem pode transformar fundamentalmente a sociedade, e não o reformador. O home que quer arvorar-se em exemplo cria conflitos, torna mais forte o medo e faz nascer várias formas de tirania.

É muito estranha essa nossa adoração dos exemplos, modelos, dos ídolos. Não queremos o que é puro, verdadeiro em si mesmo; queremos intérpretes, exemplos, mestres, gurus, para, por seu intermédio, alcançarmos alguma coisa — e tudo isso é puro absurdo, um meio de explorar os outros. Se cada um de nós fosse capaz de pensar claramente desde o começo, ou de reeducar-se para pensar claramente, todos esses exemplos, mestres, gurus, sistemas, se tornariam completamente desnecessários, como realmente são.

Vejam, senhores, o mundo, infelizmente, é exigente demais para a maioria de nós;  as circunstâncias nos são pesadas demais, nossas famílias, nossa nação, nossos guias, nossos empregos prendem-nos firmemente, mantêm-nos escravizados — e vagamente esperamos, de alguma maneira, encontrar a felicidade. Mas esta felicidade não vem vagamente, não vem se estais escravizados pela sociedade, se sois escravos do ambiente. Ela só vem, quando a mente está em liberdade — isso não significa liberdade de pensamento. O pensamento nunca é livre.

(…) A mente não pode ser tornada esclarecida, pura, “inocente”, por nenhum método, nenhuma disciplina, nem pela prática de qualquer virtude. A virtude é essencial, mas a virtude cultivada não é virtude. O sofrimento, naturalmente, tem de ser compreendido. Enquanto existir o “eu”, o “ego”, tem de haver sofrimento. O homem evita esse sofrimento, mas nesse próprio evitar do sofrimento, ele fortalece o “ego”, e todas as suas atividades sociais, suas reformas, só podem criar mais malefícios, mais aflições. Isto também se vos tornará óbvio, se refletirdes um pouco.

Assim, há necessidade de ação completamente dissociada da sociedade, uma maneira de pensar não contaminada pela sociedade, porque só então se tornará possível a verdadeira revolução — que não é revolução superficial, num nível único, econômico, social ou de outra ordem. A revolução total tem de realizar-se no próprio homem e só então a mente pode resolver os crescentes problemas da sociedade.

Agora, tendes escutado tudo isso, concordando ou discordando; mas, como já disse, não há nada com que concordar ou de que discordar. Tudo isso são fatos e, conhecedores desses fatos, que ides fazer? Por certo, é muito importante averiguar isso. retornareis à sociedade de que sois prisioneiros, ou escutastes com completa atenção? Se escutastes com toda atenção, esta atenção produzirá sua ação própria e nada tereis que fazer. Isso é como o amor. Amai, e agireis.  Mas, sem amor, não importa o que façais — praticando, disciplinando, reformando — o coração nunca se esclarecerá. E é isto o que está acontecendo no mundo. temos exemplos, disciplinas, técnicas maravilhosas e, no entanto, os nossos corações estão vazios, porque repletos de coisas da mente. E quando vazios os nossos corações, as nossas soluções para tantos problemas são também vazias. Só a mente capaz de atenção completa sabe amar, porque esta atenção é ausência do “eu”.

Krishnamurti – 15 de janeiro de 1958

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill