quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Sobre o sofrimento do mundo
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Para além das superficiais camadas da consciência
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Por que razão a mente se deteriora?
Krishnamurti - A cultura e o problema humano
segunda-feira, 8 de julho de 2013
A liberdade está em negar toda aceitação psicológica de autoridade
sexta-feira, 7 de junho de 2013
A compaixão está além das regras
Num dia de inverno, um samurai sem mestre foi ao templo de Eisai e fez um apelo:
Sou pobre e doente - disse - e minha família está morrendo de fome. Por favor, ajude-nos, mestre.Dependente como era de doações de viúvas, Eisai levava uma vida muito austera e nada tinha para dar.Ia mandar o samurai embora quando se lembrou da imagem do Buda Yakushi no saguão. Subiu até ela, arrancou-lhe o halo e o deu ao samurai.Venda isso - disse Eisai. - Deve aliviar seus problemas.O perplexo porém desesperado samurai pegou o halo e saiu.Mestre! - gritou um dos discípulos de Eisai. - Isso é sacrilégio! Como o senhor pôde fazer tal coisa?Sacrilégio? Bah! Simplesmente fiz bom uso, por assim dizer, da mente do Buda, que é plena de amor e misericórdia. Na verdade, se ele próprio tivesse ouvido aquele pobre samurai, teria cortado um braço ou uma perna por ele.
Subiu até ela, arrancou-lhe o halo e o deu ao samurai.Venda isso - disse Eisai. - Deve aliviar seus problemas.
O perplexo porém desesperado samurai pegou o halo e saiu.
Mestre! - gritou um dos discípulos de Eisai. - Isso é sacrilégio! Como o senhor pôde fazer tal coisa?
Sacrilégio? Bah! Simplesmente fiz bom uso, por assim dizer, da mente do Buda, que é plena de amor e misericórdia. Na verdade, se ele próprio tivesse ouvido aquele pobre samurai, teria cortado um braço ou uma perna por ele.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Por uma nova cultura livre de padrões
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Como se quebra um condicionamento?
Pergunta: O que é a verdadeira, a eterna felicidade?
Krishnamurti: (...) veja como a mente prega peças a si mesma. Porque se sente infeliz, angustiado, em circunstâncias precárias, etc., você quer alguma coisa eterna, uma felicidade permanente. Existirá isso? Em vez de pedir felicidade permanente, descubra como se livrar do desejo que o está roendo e criado dor, tanto física como psicológica. Quando é livre, não há problema, você não pergunta se há felicidade eterna ou o que é a felicidade. É o homem preguiçoso, tolo que, estando na prisão, quer saber o que é a liberdade; e pessoas preguiçosas e tolas lhe dirão. Para o homem prisioneiro, a liberdade é mera especulação. Mas se sair da prisão, ele não especulará acerca da liberdade: ela existirá.
Por isso, não é importante, em lugar de perguntar o que é a felicidade, descobrir por que somos infelizes? Por que a mente está paralisada? Por que nossos pensamentos são limitados, mesquinhos, acanhados? Se pudermos entender a limitação do pensamento, ver a verdade disso, nessa descoberta da verdade haverá libertação. (2)
Pergunta: O que é a verdadeira liberdade e como conquistá-la?
(2) Krishnamurti — O verdadeiro objetivo da vida
(3) Krishnamurti — O verdadeiro objetivo da vida
sexta-feira, 10 de maio de 2013
A esplêndida fuga chamada “deus”
Krishnamurti — Novo acesso à Vida - ICK - 4 de julho de 1948
domingo, 5 de maio de 2013
Com que tipo de homem você se identifica?
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
A xícara tem que ser quebrada completamente
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Só se pode ver a totalidade de algo quando o pensamento não interfere
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
No direto experimentar do todo, está a libertação final do homem
Talvez, se considerarmos o problema do sofrimento e da dor, possamos compreender diretamente, por nós mesmos, o inteiro problema da mente condicionada. Não vamos avaliar simplesmente as formas diversas do sofrimento — físico, psicológico ou psicossomático — mas o problema do sofrimento, o qual, sem dúvida nenhuma, está ligado à questão da mente condicionada, da mente que é incapaz de compreender o todo, em vez de ficarmos especulando a seu respeito e criando “projeções” verbais — se pudermos compreender o todo, talvez nos seja dada a possibilidade de vencermos o sofrimento, de ficarmos livre dele.
Em geral, seguimos uma linha de aproximação através da parte para o todo, e esperamos compreender o todo por meio da parte. Isto é, por meio da parte — que é o “eu” — esperamos tornar-nos capazes de compreender nosso sofrimento, nossas relações com o mundo, nossa atitude, nossa dor, nossa frustração; por meio da parte, do “eu”, queremos compreender todo este complexo problema do viver. Afinal, o “eu”, a mente, é o único instrumento que possuímos: entretanto, essa mente está tão condicionada, tão especializada, que só é capaz de pensar dentro da sua esfera de valores condicionados, pontos de vista condicionados, ações condicionadas. E com a compreensão da parte, do “eu” (isto é, a compreensão de que é dotado o “eu”, a parte) esperamos compreender o todo. O todo não é uma teoria, uma especulação; não é o que diz este ou aquele instrutor; não é uma ideia relativa a um estado, a Deus, a um modo de ser. Mas o direto experimentar do todo, não especulativamente mas de maneira real, pode tornar-se a libertação final do homem, do seu sofrimento.
Porque nós — vocês e eu — estamos condicionados, totalmente condicionados pelo nosso pensar, é incapaz, a mente, de compreender “o todo”, a respeito do qual nada sabemos. Todo pensar é condicionado; o pensamento, em qualquer nível que o coloquemos, é sempre condicionado. Vocês não gosta, de admitir esse fato. Acreditam existir dentro de vocês, uma parte não condicionada, superior a todas as influências “condicionadoras” — influências climáticas, religiosas, sociais; a educação; a memória; a experiência. Vocês pensam que essa coisa não está sujeita a nenhum condicionamento e que ela não é o “eu”. Mas, quando vocês pensam nesse estado que dizem “não condicionado”, o fato, justamente de o pensarem, cria condicionamento; além disso, essa coisa que se acha além de toda possibilidade de condicionamento, é todavia condicionada se está em relação com o pensamento. Isso não é mera especulação ou argumento sutil.
Se puderem examinar esta questão da mente condicionada, verão não existir nenhuma parte do pensamento que não esteja controlada, condicionada. Talvez seja esse condicionamento a verdadeira fonte de todo sofrimento. Se pudermos examinar esta questão, fora do nível verbal (vocês sabem o que entendo por “nível verbal”: o mero refletir sobre a questão, o mero especular sobre se a mente pode tornar-se “descondicionada”) se pudermos examinar e compreender esta questão, então não há dúvida de que com essa compreensão descobriremos muitas e muitas coisas.
Em primeiro lugar, se estivermos vigilantes, por pouco que seja, se observarmos o estado da nossa mente, reconheceremos que o pensamento é condicionado, que não há pensar independente de condicionamento. Se admitirmos e compreendermos esse fato, haverá então diferentes maneiras de tratar o problema. Isto é, ao reconhecer que estou condicionado e que não há nenhuma possibilidade de “descondicionar” a minha mente, tento modificar o condicionamento, a condição, deixando de crer em certas ideias ou ideais; nesse processo “processo”, porém, eu me condiciono, já que trato de adotar outras ideias ou ideais. Temos, pois, um “progresso” no condicionamento, e é isso o que interessa para a maioria de nós. Queremos progredir, social, econômica, religiosamente, ou em nossas relações mútuas, vivendo sempre condicionados ou “mais bem condicionados”. Admitimos, desse modo, que o sofrimento nunca pode ter fim e que só é possível modificá-lo ou recorrer às várias maneiras de fuga ao sofrimento.
Entretanto, quando sabemos, quando temos perfeita consciência de que nosso pensamento está inteiramente condicionado e que não há uma única parte dele “não condicionada”, temos então a possibilidade de descobrir se existe alguma coisa além da mente, além das “projeções” e fabricações da mente. Acho importantíssimo este ponto; se pudermos examiná-lo verdadeiramente, experimentá-lo efetivamente, enquanto estamos falando, encontraremos então uma solução real para todos os nosso problemas, o principal dos quais é o sofrimento, a dor — não só a dor física, mas as manifestações mais complicadas da dor psicológica: as lutas e conflitos interiores, as frustrações, o desespero, a esperança.
O que importa, por conseguinte, é que se descubra, que se experimente de fato a totalidade, o todo não condicionado (se é que existe um estado não condicionado) não controlável pela mente, não “projetado” por ela. Todas as nossas soluções — sociais, econômicas ou religiosas — são procuradas por uma mente condicionada e, por conseguinte, qualquer solução há de ser “progressivamente condicionada”, nunca independente de condicionamento. Isto é, em vez de venerarmos a palavra “Deus”, veneramos, agora, a palavra “estado” e, assim, usando-a, acreditamos ter feito um progresso espantoso. Ou, se não gostamos da palavra “Estado”, adotamos a palavra “Ciência” ou as palavras “Materialismo Dialético”, como se isso nos fosse resolver todos os problemas. Isto é, estamos sempre a abordar a solução de nossos problemas com um pensamento condicionado.
O pensamento é sempre condicionado; não há pensamento não-condicionado. Como disse, pode-se conceber o “Eu Supremo”, no nível mais elevado, mais sublime; ainda assim, ele é condicionado. Se, reconhecendo este fato, não teoricamente mas realmente, observamos as operações da mente, veremos que a mente está sempre pensando de acordo com seu fundo próprio, visto não haver pensamento sem memória, experiência sem memória, sem o processo de reconhecimento e , por conseguinte, a respectiva contradição (o respectivo “oposto”). Tal é o estado que conhecemos, e desse ponto de vista é que queremos considerar os nossos problemas! Não me parece, porém, possam eles ser resolvidos de tal maneira, isto é, pelo mero processo de os considerarmos de um determinado ponto de vista. Um problema só pode ser resolvido quando compreendemos o todo, e essa compreensão não é possível enquanto o pensamento, a ideia, estiver em funcionamento. Tenham a bondade de refletir sobre isso — não depois de irem para casa, mas aqui mesmo, enquanto falo.
Infelizmente, os mais de nós costumamos traduzir, interpretar tudo o que ouvimos. Compreendem? Vocês dizem que é assim que está nos Upanishads, que é isso que significa tal frase do Bhagavad-Gita. Desse modo, estão interpretando e não compreendendo; por consequência, o conhecimento de vocês se transforma num empecilho para a experiência direta. Urge, por conseguinte, suprimirmos o conhecimento, eliminarmos todo o conhecimento (não me refiro ao conhecimento relativo à construção de, por exemplo, o qual é essencial; não estou pregando o retorno ao estado primitivo, o que seria absurdo) urge eliminarmos o conhecimento comparativo, o conhecimento que interpreta o que outros dizem. Essa interpretação, essa tradução é uma forma de satisfação do “eu”, do seu desejo de estar sempre seguro, sempre certo; por causa dele a mente está sempre a dizer: “é o que diz o Livro” — sustando, assim, com essa afirmação, com essa tradução, o experimentar, o estudar.
A mente, sem dúvida, deve achar-se num estado de completa incerteza, quer dizer, num estado de completa inação, um estado de desconhecimento, em que a mente jamais diz “eu sei”, “eu tenho experiência”, “é isso mesmo!” A mente que diz “eu sei!” é incapaz de resolver qualquer problema complexo do viver, pois a vida está sempre em movimento, a vida não é estacionária. Vocês podem traduzir a vida, interpreta-la como comunista, como socialista, como materialista dialético, etc.; podem traduzi-la e prende-la assim a palavras explanatórias; a Realidade, porém, é uma coisa viva, e essa coisa viva não é acessível através da parte, que é o pensamento. Percebam isso, por favor, e a Realidade se lhes revelará. Se estão verdadeiramente à escuta da Realidade, ela fará algo extraordinário: quebrará de golpe o condicionamento da mente, e esta se tornará tão desperta, tão vigilante, que o “todo” não mais se lhe afigurará uma coisa miraculosa, transcendental. Esse todo, essa totalidade pode ser experimentada apenas depois de compreendido todo o processo do condicionamento e de reconhecermos positivamente que por meio de um pensamento condicionado não há solução para os nossos problemas. Quando vocês tiverem uma experiência dessa natureza, quando tiverem a percepção, a experiência do “todo”, ocorrerá então uma extraordinária revolução interior — a única verdadeira; porque “revolução econômica” é mero pensamento progressivo, ação condicionada.
Devemos, pois, abeira-nos de todos os nossos problemas com a compreensão de que nosso pensamento está condicionado. Vocês podem fazer o que quiserem, acumular conhecimentos psicológicos e ler todos os livros sagrados do mundo: se com esse conhecimento desejarem resolver o problema da vida, que é movimento constante, nunca estática, não encontrarão jamais a solução. Entretanto, desde que haja o experimentar do todo com a compreensão do todo (em que se reconhece o estado de condicionamento da mente) então, com essa compreensão do todo, qualquer problema pode ser resolvido, não por meio de um condicionamento progressivo, mas em virtude do completo desaparecimento do problema.
Como disse ontem, há neste mundo de pretenso progresso cada vez mais sofrimento, mais destruição, desgraça, sufocação, frustração. Vocês podem não estar cônscios disso, já que se habituaram ao moer da rotina diária. Se estivessem, porém, por pouco que fosse, conscientes, veriam ser este o processo da existência: frustração constante, sem qualquer fim; e quanto mais procuram preenchimento, mais encontrarão frustração. Da satisfação do “eu”, do desejo de preenchimento, nascem novos desejos, novos sofrimentos. Visto que a fonte das suas ações, o incentivo de duas ações é sempre o preenchimento do “eu” — preenchimento no filho, na família, na nação, ou na sociedade — esse desejo de preenchimento e a ação dele resultante acarretam frustração. Na frustração há sempre desespero. Por isso a mente busca uma senda promissora, no Estado, em Deus, ou noutra coisa qualquer, por meio da qual possa preencher-se; e dessa forma, nos vemos de novo a nos debater na mesma cadeia sem fim.
Nessas condições, se se deseja uma ação não inspirada por determinado sistema, determinada teoria, se se deseja ação de conjunto, por parte de vocês e de mim, ação não inspirada pelo desejo de preenchimento, faz-se necessária a compreensão de como está condicionada a nossa mente. É essencial a libertação da mente do seu condicionamento, porque então há cooperação, ação de todos nós e não ação particular suas ou minha. Ai se encontra a Verdade. Requer tudo isso, naturalmente, apurada observação. A Verdade não se pode adquirir nos livros. Tal é a verdadeira meditação, que não é meditação de pensamentos controlados, meditação limitadora do pensamento, e, sim, a meditação do amplo percebimento. O amplo percebimento é o percebimento de todos os movimentos do pensar; é se estar cônscio de como a mente opera, de cada reação, cada experiência, cada transgressão contra a vida; cônscio de como a mente funciona a cada momento; cônscio de cada reação, sem o desejo de modificá-la, controlá-la, orientá-la, discipliná-la. Nesse estado de amplo percebimento a mente se torna tranquila num grau extraordinário; não mais lhe interessa a plenitude, o preenchimento do “eu”, o ser ou não ser alguma coisa. Esse estado de tranquilidade não é um estado forçado, disciplinado. É o “estado de ser” — o qual nada tem em comum com a mente; por essa razão a mente se apresenta tranquila, serena; e nessa tranquilidade, aquilo que é “o todo” é compreendido.
Krishnamurti – 2ª Conferência em Poona – Índia – 25 e janeiro de 1953
Do livro: Autoconhecimento — Base da Sabedoria
sábado, 1 de dezembro de 2012
Descobrindo o que se acha infinitamente além da mente, dos desejos, vaidades e paixões
Quando a mente busca um determinado estado, a solução de um determinado problema, quando busca a Deus, a Verdade, ou deseja uma certa experiência, mística ou de outra ordem, ela já concebeu, já formulou coisa que deseja; e, visto que já a concebeu e formulou, é infinitamente vã a sua busca. E uma das coisas mais difíceis é o libertarmos a mente desse desejo de resultado.
A meu ver, os nossos incontáveis problemas só podem ser resolvidos quando ocorrer uma revolução fundamental da mente, porque só uma revolução dessa ordem pode proporcionar a compreensão do Verdadeiro. Nessas condições, importa compreendermos o funcionamento de nossa própria mente, não por um processo de auto-análise ou introspecção e, sim, pelo percebimento claro do seu processo total que desejo investigar nestas palestras. Se não nos vermos como somos, se não compreendermos o "pensador" — a entidade que busca, que está perpetuamente a exigir, a interrogar, a querer descobrir, a entidade que está criando o problema, isto é, o "eu", o "ego" — então o nosso pensar, a nossa busca, não terá significação alguma. Enquanto o nosso "instrumento de pensar" não for lúcido, enquanto estiver pervertido, condicionado, tudo o que pensarmos há de ser, inevitavelmente, limitado, estreito.
Nosso problema, pois, é de como libertarmos a mente de todos os condicionamentos, é não "de que maneira controlá-la melhor". Compreendeis, senhores? Quase todos nós estamos em busca de um condicionamento melhor. Os comunistas, os católicos, os protestantes e as demais seitas, por todo o mundo, inclusive hinduístas e budistas — todos visam a condicionar a mente de acordo com um padrão mais nobre, mais virtuoso, mais abnegado, ou um padrão religioso. Cada indivíduo, no mundo inteiro, está interessado em condicionar sua mente de uma maneira melhor, e nunca levantar a questão do libertar a mente de todo e qualquer condicionamento. Mas quer-me parecer que, enquanto a mente não estiver livre de todo o seu condicionamento, isto é, enquanto estivermos condicionados como cristãos, budistas, hinduístas, comunistas, etc., não pode deixar de haver problemas.
Sem dúvida, só é possível descobrir o que é real ou se existe Deus, quando a mente está livre de todo condicionamento. A mera ocupação da mente a respeito de Deus, da Verdade, do Amor, não tem nenhuma significação, porquanto essa mente só pode funcionar dentro da esfera de seu condicionamento. O comunista que não crê em Deus, pensa de um modo, e o homem que crê em Deus, que está ocupado com um dogma, pensa de outro modo; mas a mente de todos os dois está condicionada e, portanto, nem um nem outro é capaz de pensar livremente, e todos os seus protestos, suas teorias e crenças muito pouco significam. Religião, pois, não é frequentar a igreja, ter certos dogmas e crenças. A religião deve ser uma coisa de todo diversa, pode significar a total libertação da mente de toda esta vasta e secular tradição; porque só a mente livre é que pode achar a Verdade, a realidade, aquilo que transcende todas as projeções mentais.
Pode-se ver que isso não é uma teoria pessoal, minha, se observarmos o que está acontecendo no mundo. Os comunistas pretendem solucionar os problemas da vida de uma maneira, os hinduístas de outra maneira, os cristãos ainda de outra maneira; a mente de todos eles, por consequência, está condicionada. Vossa mente está condicionada como cristã, quer admitais, quer não. Podeis libertar-vos superficialmente da tradição cristã, mas as camadas profundas do vosso inconsciente estão cheias dessa tradição, condicionadas por séculos de educação segundo um determinado padrão; e, por certo, a mente que deseja achar algo mais além — se tal coisa existe — essa mente tem de libertar-se, em primeiro lugar, de todo condicionamento.
Fica entendido, pois, que nestas palestras não vamos de modo nenhum tratar da questão do aperfeiçoamento pessoal, nem tampouco nos interessa o aperfeiçoamento de nenhum padrão; não pretendemos condicionar a mente segundo um padrão mais nobre, ou um padrão de maior alcance social. Pelo contrário, o que pretendemos é descobrir como libertar a mente, a consciência total de todo o condicionamento, porque, a menos que isso aconteça, nunca haverá o experimentar da realidade. Podeis falar sobre a realidade, ler inúmeros volumes a seu respeito, ter todos os livros sagrados do Oriente e do Ocidente, mas se vossa mente não estiver cônscia de seus próprios processos, não perceber que ela própria está funcionando dentro de um determinado padrão, e não for capaz de libertar-se desse condicionamento, é bem de ver que sua busca será sempre vã.
Nessas condições, parece-me de maior importância comecemos por nós mesmos comecemos por estar cônscios de nosso próprio condicionamento. E como é difícil uma pessoa saber que está condicionada! Superficialmente, nas camadas conscientes da mente, podemos perceber que estamos condicionados; podemos libertar-nos de um padrão e adotar outro, abandonar o Cristianismo e nos tornarmos comunistas, deixar o Catolicismo e aderir a outro grupo igualmente tirânico, e, assim fazendo, pensar que estamos volvendo para a Realidade. Mas isso, pelo contrário, é mera troca de padrões.
Todavia, é isto o que quase todos queremos: encontrar um lugar seguro, no nosso pensar. Queremos seguir um padrão fixo e não ser perturbados em nossos pensamentos, em nossas ações. Mas só a mente capaz de observar com paciência o seu condicionamento e dele libertar-se, só essa mente é capaz de uma revolução, uma transformação radical, e descobrir, assim, o que se acha infinitamente além da mente, além de todos os nossos desejos, nossas vaidades, e paixões. Sem o autoconhecimento, sem nos conhecermos exatamente como somos — e não como gostaríamos de ser, que é simples ilusão, fuga idealística — sem conhecermos os movimentos do nosso pensar, todos os nossos "motivos", nossos pensamentos, nossas inumeráveis reações, não haverá possibilidade de compreendermos e ultrapassarmos o processo do pensar.
(...) estamos falando a respeito de algo de imensa importância, porque, se não houver uma revolução fundamental em cada um de nós, não percebo como será possível operarmos uma vasta e radical transformação no mundo. E esta transformação radical, decerto, é sumamente relevante. A mera revolução econômica, de caráter comunista ou socialista, é destituída de qualquer importância. Só pode haver revolução de natureza religiosa; e a revolução religiosa não será possível se a mente está apenas ajustada ao padrão de um condicionamento anterior. Enquanto uma pessoa for cristã ou hinduísta, não poderá haver revolução fundamental, no sentido verdadeiramente religioso da palavra. E nós temos real necessidade desta revolução. Quando a mente estiver livre de todo condicionamento, ver-se-á surgir a ação criadora da Realidade, de Deus, ou o nome que preferirdes; e só a mente que se acha nesse estado, a mente que está a experimentar constantemente essa criação, só ela poderá criar uma perspectiva nova, valores diferentes, um mundo diferente.
É, pois, importante compreendermos a nós mesmos, pois não? O autoconhecimento é o começo da sabedoria. O autoconhecimento não se consegue de acordo com algum psicólogo, livro ou filósofo; ele consiste em conhecermos a nós mesmos tais como somos, de momento a momento. Compreendeis isso? Conhecer a si mesmo é cada um observar o que pensa, o que sente, não apenas superficialmente, pois devemos estar profundamente cônscios do que é, sem condenação, sem julgamento, sem avaliação ou comparação. Experimentai-o, e vereis como é difícil a uma mente que foi exercitada durante séculos para condenar, julgar e avaliar, deter todo esse processo e ficar simplesmente a observar o que é. Entretanto, se não se fizer esta observação, não apenas no nível superficial, mas em todo o conteúdo da consciência, nunca será possível penetrarmos as profundezas da mente.
Veja, por favor, se estais aqui realmente com o fim de compreender o que se está dizendo, que é isto que deve interessar-nos, e nada mais. Vosso problema não é o de saber a que sociedade pertencer, a que gênero de atividades entregar-vos, que livros ler, e outras superficialidades dessa ordem, mas, sim, de saber como libertar a mente do condicionamento. A mente não é apenas a consciência desperta, ocupada com as atividades diárias, mas é também as camadas profundas do inconsciente, onde se encontra todo o resíduo do passado, da tradição, dos instintos raciais. Tudo isso é a mente, e a menos que essa consciência total seja livre, de ponta a ponta, a nossa busca, nossa investigação, nosso descobrimento, será limitado, estreito, insignificante.
A mente está toda condicionada. Não há uma só parte da mente que não esteja condicionada. Nosso problema, portanto, é este: Pode a mente, assim condicionada, libertar-se? E quem é a entidade que poderá libertá-la? Compreendeis o problema? A mente é a consciência total, com todas as suas camadas de conhecimentos, aquisições, tradições, instintos raciais, memórias. Esta mente pode libertar-se? Ou só pode libertar-se ao perceber que está condicionada e que todo movimento que faça para sair de seu condicionamento é outra forma de condicionamento? Espero que estejais compreendendo. Se não, continuaremos a examinar esse ponto em dias vindouros.
A mente está toda condicionada, o que é um fato evidente, se refletirmos a tal respeito. Isso não é invenção minha, é um fato. Pertencemos a uma dada sociedade, fomos educados de acordo com determinada ideologia, certos dogmas, tradições, e a vasta influência da civilização, da sociedade, condiciona-nos incessantemente o espírito. Como pode esse espírito ser livre, se todo movimento para libertar-se resulta de seu condicionamento e, por conseguinte, produzirá, forçosamente, mais condicionamento? Só há uma resposta: a mente só pode ser livre quando está completamente tranquila. Embora tenhamos problemas e inúmeros impulsos, conflitos e ambições, se — mercê de autoconhecimento, da autovigilância sem aceitação ou condenação — ela estiver cônscia, imparcialmente, do seu próprio processo, então, desse percebimento há de resultar um silêncio extraordinário, uma tranquilidade de espírito em que não se observa movimento de espécie alguma. É só então que a mente é livre, porquanto nada mais deseja, nada mais busca, não visa a nenhum objetivo ou ideal — que são as projeções de toda mente condicionada. E se logrardes alcançar essa compreensão em que não há automistificação, encontrareis a possibilidade de ver surgir aquela coisa extraordinária que se chama criação. Só então está a mente apta a compreender aquela imensidade que se pode chamar Deus, a Verdade, ou como quiserdes — a palavra tem muito pouca importância. Podeis ser prósperos socialmente, possuir muitos bens — automóveis, casas, geladeiras — ter paz superficial, mas, sem o surgimento daquilo que é imensurável, encontrareis sempre aflições. A libertação da mente de seu condicionamento é o fim do sofrimento.
Krishnamurti - Realização sem Esforço
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)