Vejam, trata-se de um problema que ocorre no mundo inteiro. O homem está buscando uma resposta nova, um novo acesso à vida, porque as atitudes antigas estão decadentes, seja na Europa, na Rússia ou aqui. A vida é um desafio contínuo, e simplesmente tentar realizar uma ordem econômica melhor, não é a resposta completa a esse desafio, que é sempre novo; e quando culturas, povos, civilizações são incapazes de responder totalmente ao desafio do novo, são destruídos.
quarta-feira, 2 de abril de 2014
O que acontecerá se eu não me ajustar à sociedade?
Vejam, trata-se de um problema que ocorre no mundo inteiro. O homem está buscando uma resposta nova, um novo acesso à vida, porque as atitudes antigas estão decadentes, seja na Europa, na Rússia ou aqui. A vida é um desafio contínuo, e simplesmente tentar realizar uma ordem econômica melhor, não é a resposta completa a esse desafio, que é sempre novo; e quando culturas, povos, civilizações são incapazes de responder totalmente ao desafio do novo, são destruídos.
segunda-feira, 24 de março de 2014
Deixe um pouco sua cabeça e vá até o coração
segunda-feira, 17 de março de 2014
A mente é mais ridícula do que se possa imaginar
O S H O
domingo, 15 de setembro de 2013
Pode a mente, por meio do pensamento, promover uma transformação?
sábado, 14 de setembro de 2013
A mente em conflito deforma tudo que vê
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Como pode a mente condicionada, descondicionar-se?
Jiddu krishnamurti - A essência da maturidade - ICK
sábado, 7 de setembro de 2013
É possível uma mente livre dos padrões sociais
Jiddu Krishnamurti — Bombaim, 27 de fevereiro de 1955 - Collected Works of J. Krishnamurti
domingo, 25 de agosto de 2013
O entrave da “cortina de palavras” do intelecto
quinta-feira, 18 de julho de 2013
É dificílimo ter a mente desocupada
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Por uma nova cultura livre de padrões
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
O medo é o pensamento enredado no tempo
Desejo falar sobre o medo, porque o medo perverte todos os nossos sentimentos, pensamentos e relações. É o temor que impele a maioria de nós a tornar-nos isso que se chama “espiritual”; é ele que nos impulsiona para as soluções intelectuais que tantos oferecem; é ainda o temor que nos leva a praticar ações estranhas e peculiares. E não sei se já experimentamos em sua realidade, não o sentimento que ocorre antes ou após um certo fato! O medo existe por si só? Ou só há medo em consequência do pensamento no amanhã ou no ontem, no que aconteceu ou poderá acontecer? Existe medo no presente vivo, ativo? Quando vos vedes em presença da coisa que dizeis temer, nesse instante existe medo?
Para mim, é importantíssima esta questão do medo. Porque, se a mente não estiver total, completa e absolutamente livre do medo em qualquer forma — medo da morte, da opinião pública, da separação, de não ser amado — sabeis quantas variedades existem de medo — se a consciência total não estiver livre do medo, é impossível ir-se muito longe. Uma pessoa pode agitar-se ansiosamente, em todos os sentidos, dentro das clausuras de seu próprio intelecto; mas para se penetrar muito profundamente em si mesmo e ver o que existe lá e além, não deve haver temor de espécie alguma, nem temor da morte, nem da pobreza, nem de não alcançar alguma coisa.
O medo, em virtude de sua própria natureza, inevitavelmente impede a investigação. E, a menos que a mente, que todo o nosso ser esteja livre do medo, não só dos temores conscientes mas também dos profundos, secretos, ocultos temores, de que mal temos consciência — não haverá possibilidade de se descobrir o que existe realmente, o que é verdadeiro, positivo, e se de fato existe aquele senso do sublime, do imenso, de que o homem vem falando há séculos e séculos.
Creio ser possível estar totalmente livre do medo, não durante um certo período, não ocasionalmente, porém, verdadeiramente livre dele, de maneira completa. A experiência desse estado total isento de medo, eis o que desejo examinar convosco.
Desejo tornar claro que não estou falando de memória. Não pensei de antemão na questão do medo e, portanto, não vim aqui repetir coisa ensaiada; isso seria horrivelmente enfadonho para mim e para vós. Eu também estou investigando. Deve tratar-se sempre de coisa nova, todas as vezes. E espero que estejais empreendendo junto comigo a jornada da investigação e não apenas preocupados com vosso medo especial — medo do escuro, do médico, do inferno, da doença, de Deus, do que digam vossos pais, do que diga vossa esposa ou marido, ou uma qualquer das numerosas formas de medo. Estamos investigando a natureza do medo e não uma determinada manifestação do medo.
Ora, se examinardes, vereis que só há medo quando o pensamento se fixa no dia de ontem ou de hoje, no passado ou no futuro. No verbo ativo não há temor, mas no passado e no futuro do verbo ele sempre existe. Não há medo no presente real; e esta é uma coisa extraordinária para a própria pessoa descobrir. Não existe medo de espécie alguma em face do momento real e vivo, do presente ativo. O pensamento, portanto, é a origem do medo, o pensamento no amanhã ou no ontem. A atenção está no presente ativo. O pensamento no que ontem aconteceu, ou poderá acontecer amanhã, é desatenção e a desatenção gera temor. Não é verdade isso? Quando posso aplicar toda a minha atenção a um dado problema, sem nenhuma reserva, sem rejeitar, sem julgar, avaliar — nesse estado de atenção não há medo. Mas, se há desatenção, isto é, se digo: “Que acontecerá amanhã?”, ou se estou ocupado com o que ontem aconteceu, aí, sem dúvida, gera-se medo. A atenção é o presente ativo. O medo é o pensamento enredado no tempo. Na presença de algo real, concreto, em presença do perigo, neste momento não existe pensamento, porém, ação. E essa ação pode ser positiva ou negativa.
Assim, o pensamento é tempo — não o tempo marcado pelo relógio, mas o tempo psicológico do pensamento. O tempo, por conseguinte, produz medo: tempo como distância daqui até lá, como processo de “vir a ser algo”; tempo representado pelas coisas que eu disse e fiz ontem, as coisas ocultas que desejo que ninguém saiba; tempo representado pelo o que acontecerá amanhã, pelo que será de mim quando eu morrer.
O pensamento, pois, é tempo. E existe, no presente ativo, tempo e pensamento? Pode-se ver que o medo só existe quando o pensamento se “projeta” para diante ou para trás, e que o pensamento resulta do tempo — tempo representado pelo “vir a ser” ou “não vir a ser” algo, tempo como preenchimento ou frustração. Não estamos falando do tempo cronológico; seria evidente desatino dispensá-lo. estamos falando do tempo como pensamento. Se está claro isto, passemos a investigar o que é pensamento e o que é pensar. E espero não estejais apenas ouvindo minhas palavras, mas também prestando atenção ao desafio que elas vos apresentam e reagindo individualmente. Estou perguntando: “O que é pensar?” Se não conheceis o mecanismo do pensar e não o investigastes muito profundamente, não podeis responder, vossa reação será inadequada. E se é inadequada a reação, haverá conflito, e tentar livrar-se do conflito é fuga ao fato — o fato que desconheceis. No momento em que reconheceis que não podeis responder, que não sabeis, apresenta-se o medo. Não sei se me estais seguindo.
Assim, o que é pensar? Evidentemente, pensar é a reação que ocorre entre o “desafio” e a “resposta”, não é verdade? Pergunto-vos uma coisa e há um intervalo de tempo antes de responderdes; neste intervalo o pensamento está em ação, procurando a resposta. É bastante simples ouvir esta explicação; mas o real experimentar, pela própria pessoa, do processo do pensar, o investigar como o intelecto reage a um “desafio” e qual é o processo de fabricação da resposta, isso requer atenção ativa, pois não? Observai qual é a vossa reação à pergunta: “O que é pensar?” O que está ocorrendo? Não sabeis responder; nunca investigastes isso; estais aguardando uma resposta de vossa memória. E nessa “demora”, no intervalo entre a pergunta e a resposta, está em ação o processo do pensamento; não é assim? Se vos faço uma pergunta com que estais familiarizado, por exemplo: “Como é o vosso nome?”, respondeis instantaneamente porque, pela repetição constante, tendes a resposta na ponta da língua. Se a pergunta é um pouco mais séria, ocorre um intervalo de tempo de vários segundos — não é verdade? — durante o qual o intelecto é posto em movimento para procurar na memória a resposta. Se vos fazem uma pergunta mais complexa, maior é o intervalo de tempo, mas o processo é o mesmo — consultar a memória, procurar as palavras apropriadas, achá-las e em seguida responder. Segui isso com vagar, pois é realmente muito divertido e interessante observar o funcionamento desse processo. Tudo isso faz parte do autoconhecimento.
Pode-se também perguntar, por exemplo, “Quantas milhas há daqui a Nova Iorque?” — pergunta à qual, após consultar a memória, sois obrigado a responder: “Não sei, mas posso verificar”. Isso leva mais tempo. E pode-se também fazer uma pergunta que vos obrigue a dizer: “Não sei a resposta”; porém, ao mesmo tempo ficais esperando uma resposta, esperando que vo-la digam. Assim, temos a pergunta familiar e a resposta imediata; a pergunta menos familiar, que exige algum tempo; a coisa de que não tendes certeza, mas que podeis verificar e para isso precisais de tempo; e, por fim, a coisa que não sabeis mas achais que, se esperardes, tereis a resposta.
Agora, se eu perguntar: “Existe ou não existe Deus?” — o que acontece? Nenhuma resposta pode ser encontrada na memória, pode? Embora vos agrade crer, embora vos tenham ensinado a crer, deveis varrer esses disparates. Investigar na memória não dá resultado; esperar que vos deem a resposta é inútil, porque ninguém pode dá-la; e o intervalo de tempo para nada serve. Há só o tempo no presente ativo, a certeza absoluta de que não sabeis. Esse estado de “não saber” é atenção completa, não? E qualquer outra forma de saber ou de não saber procede do tempo e do pensamento, e é desatenção.
Estais seguindo tudo isso e aprendendo? Aprender, por certo, supõe “não saber”. Aprender não é adicionar, acumular. No processo de acumular, o que se faz é apenas aumentar o conhecimento, que é estático. O aprender é constante variação, mudança, viver.
Sendo assim, que acontece quando estais aprendendo a respeito do medo? Estais investigando o medo, não é verdade? Estais “atacando” o medo, não é o medo que vos está atacando. E descobris então que não existe esta coisa: “vós e o medo”. Esta divisão não existe. A atenção, pois, é o presente ativo, no qual a mente, o intelecto diz: “Não sei, absolutamente”. E nesse estado não existe medo. Mas existe medo quando dizeis: “Não sei, mas espero saber”. Eis um ponto essencial que importa compreender. Consideremos isso de diferente maneira.
Sem dúvida, o medo surge quando buscamos a segurança, exterior e interiormente; quando se aspira a um estado permanente, duradouro, nas relações, nas coisas mundanas, na confiança, que o saber proporciona, na experiência emocional. E, finalmente, dizemos que existe Deus, absoluta e eternamente permanente, em cujo seio encontraremos imperturbável paz e segurança para todo o sempre. Cada um está a buscar segurança nesta ou naquela forma, e sabemos como cada um atua — buscando a segurança no amor, na propriedade, na virtude, jurando a si mesmo ser bom, casto. Todos conhecemos os horrores inerentes à busca, secreta ou aberta, da segurança. E isso é medo, porquanto nunca averiguastes se existe segurança. Não o sabeis. Emprego estas palavras para denotar que se trata de um fato que desconheceis absoluta e completamente. Vós não sabeis se deus existe ou não existe. Não sabeis se haverá ou não outra guerra. Não sabeis o que irá acontecer amanhã. Não sabeis se existe, interiormente, alguma coisa permanente. Ignorais o que irá suceder em vossas relações, com vossa esposa, vosso marido, vossos filhos. Não sabeis; mas deveis verificar isso, não achais? Deveis descobrir por vós mesmo que ignorais. E esse estado de não saber, esse estado de completa incerteza, não é medo; é atenção plena, na qual podeis descobrir.
Vê-se, pois, que a totalidade da consciência — a qual inclui o superficial, o consciente, o oculto, e as extremas profundezas dos resíduos raciais, os “motivos”, tudo o que constitui o pensamento — vê-se que a totalidade da consciência é, essencialmente medo. A consciência é tempo, resultado resultado de muitos dias, meses, anos e séculos. Vossa consciência de serdes francês se formou, historicamente, através de muitas gerações de propaganda. O fato de serdes cristão, católico, o que quer que seja, representa dois mil anos de propaganda durante os quais fostes obrigados a crer, a pensar, a funcionar e atuar segundo um certo padrão chamado “cristão”. E não ter crença alguma, ser o mesmo que nada parece coisa temível. Assim, a totalidade da consciência é medo. isto é um fato, e não há concordar ou discordar sobre um fato.
Agora, que acontece quando vos vedes em presença de um fato? Ou tendes opiniões a respeito do fato, ou simplesmente o observais. Se tendes opiniões, juízos, avaliações do fato, então não o estais vendo. E não o vedes porque entra em cena o tempo, pois vossa opinião é produto do tempo, do ontem, de vossos conhecimentos anteriores. O ver realmente está no presente ativo, e nesse ver não existe medo. Isso é um fato real. O experimentar um fato real é que liberta do medo da consciência total. Espero que não estejais muito cansados e possais experimentar isto, pois não podeis levá-lo para casa para lá refletir a seu respeito. Porque então não tem valor. O que tem valor é enfrentar o fato diretamente, e penetrá-lo. Vereis então que o todo de nosso mecanismo pensante, com seus conhecimentos, suas sutilezas, suas defesas e renúncias — que esse todo constitui o pensamento e é a causa real do temor. E vemos também que, quando há atenção total, não há pensamento; há, só, percepção, o ato de ver.
havendo atenção, há completa tranquilidade; porque nessa atenção não há exclusão. Quando o intelecto pode estar completamente sereno — não adormecido, porém ativo, sensível, vivo — nesse estado de atenta serenidade não existe medo. Há então uma qualidade de movimento que não é pensamento, absolutamente, que não é sentimento, emoção ou sentimento. Não é uma visão, nem uma ilusão; é um movimento de qualidade diferente, que conduz ao Indenominável, ao Imensurável, à Verdade.
Mas, infelizemente, não estais escutando, experimentando de verdade, pois não examinastes isto realmente, não investigastes até este ponto. Por conseguinte, o medo não tardará a precipitar-se novamente sobre vós, qual uma vaga, submergindo-vos. Tendes, portanto, de examinar isto; e no examiná-lo está a solução. esta é a base; e uma vez lançada a base, nunca mais buscareis, porque toda busca da Realidade se baseia no medo. Libertada do medo a mente, o intelecto, então podereis descobrir.
Krishnamurti – Paris, 14 de setembro de 1961
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
No direto experimentar do todo, está a libertação final do homem
Talvez, se considerarmos o problema do sofrimento e da dor, possamos compreender diretamente, por nós mesmos, o inteiro problema da mente condicionada. Não vamos avaliar simplesmente as formas diversas do sofrimento — físico, psicológico ou psicossomático — mas o problema do sofrimento, o qual, sem dúvida nenhuma, está ligado à questão da mente condicionada, da mente que é incapaz de compreender o todo, em vez de ficarmos especulando a seu respeito e criando “projeções” verbais — se pudermos compreender o todo, talvez nos seja dada a possibilidade de vencermos o sofrimento, de ficarmos livre dele.
Em geral, seguimos uma linha de aproximação através da parte para o todo, e esperamos compreender o todo por meio da parte. Isto é, por meio da parte — que é o “eu” — esperamos tornar-nos capazes de compreender nosso sofrimento, nossas relações com o mundo, nossa atitude, nossa dor, nossa frustração; por meio da parte, do “eu”, queremos compreender todo este complexo problema do viver. Afinal, o “eu”, a mente, é o único instrumento que possuímos: entretanto, essa mente está tão condicionada, tão especializada, que só é capaz de pensar dentro da sua esfera de valores condicionados, pontos de vista condicionados, ações condicionadas. E com a compreensão da parte, do “eu” (isto é, a compreensão de que é dotado o “eu”, a parte) esperamos compreender o todo. O todo não é uma teoria, uma especulação; não é o que diz este ou aquele instrutor; não é uma ideia relativa a um estado, a Deus, a um modo de ser. Mas o direto experimentar do todo, não especulativamente mas de maneira real, pode tornar-se a libertação final do homem, do seu sofrimento.
Porque nós — vocês e eu — estamos condicionados, totalmente condicionados pelo nosso pensar, é incapaz, a mente, de compreender “o todo”, a respeito do qual nada sabemos. Todo pensar é condicionado; o pensamento, em qualquer nível que o coloquemos, é sempre condicionado. Vocês não gosta, de admitir esse fato. Acreditam existir dentro de vocês, uma parte não condicionada, superior a todas as influências “condicionadoras” — influências climáticas, religiosas, sociais; a educação; a memória; a experiência. Vocês pensam que essa coisa não está sujeita a nenhum condicionamento e que ela não é o “eu”. Mas, quando vocês pensam nesse estado que dizem “não condicionado”, o fato, justamente de o pensarem, cria condicionamento; além disso, essa coisa que se acha além de toda possibilidade de condicionamento, é todavia condicionada se está em relação com o pensamento. Isso não é mera especulação ou argumento sutil.
Se puderem examinar esta questão da mente condicionada, verão não existir nenhuma parte do pensamento que não esteja controlada, condicionada. Talvez seja esse condicionamento a verdadeira fonte de todo sofrimento. Se pudermos examinar esta questão, fora do nível verbal (vocês sabem o que entendo por “nível verbal”: o mero refletir sobre a questão, o mero especular sobre se a mente pode tornar-se “descondicionada”) se pudermos examinar e compreender esta questão, então não há dúvida de que com essa compreensão descobriremos muitas e muitas coisas.
Em primeiro lugar, se estivermos vigilantes, por pouco que seja, se observarmos o estado da nossa mente, reconheceremos que o pensamento é condicionado, que não há pensar independente de condicionamento. Se admitirmos e compreendermos esse fato, haverá então diferentes maneiras de tratar o problema. Isto é, ao reconhecer que estou condicionado e que não há nenhuma possibilidade de “descondicionar” a minha mente, tento modificar o condicionamento, a condição, deixando de crer em certas ideias ou ideais; nesse processo “processo”, porém, eu me condiciono, já que trato de adotar outras ideias ou ideais. Temos, pois, um “progresso” no condicionamento, e é isso o que interessa para a maioria de nós. Queremos progredir, social, econômica, religiosamente, ou em nossas relações mútuas, vivendo sempre condicionados ou “mais bem condicionados”. Admitimos, desse modo, que o sofrimento nunca pode ter fim e que só é possível modificá-lo ou recorrer às várias maneiras de fuga ao sofrimento.
Entretanto, quando sabemos, quando temos perfeita consciência de que nosso pensamento está inteiramente condicionado e que não há uma única parte dele “não condicionada”, temos então a possibilidade de descobrir se existe alguma coisa além da mente, além das “projeções” e fabricações da mente. Acho importantíssimo este ponto; se pudermos examiná-lo verdadeiramente, experimentá-lo efetivamente, enquanto estamos falando, encontraremos então uma solução real para todos os nosso problemas, o principal dos quais é o sofrimento, a dor — não só a dor física, mas as manifestações mais complicadas da dor psicológica: as lutas e conflitos interiores, as frustrações, o desespero, a esperança.
O que importa, por conseguinte, é que se descubra, que se experimente de fato a totalidade, o todo não condicionado (se é que existe um estado não condicionado) não controlável pela mente, não “projetado” por ela. Todas as nossas soluções — sociais, econômicas ou religiosas — são procuradas por uma mente condicionada e, por conseguinte, qualquer solução há de ser “progressivamente condicionada”, nunca independente de condicionamento. Isto é, em vez de venerarmos a palavra “Deus”, veneramos, agora, a palavra “estado” e, assim, usando-a, acreditamos ter feito um progresso espantoso. Ou, se não gostamos da palavra “Estado”, adotamos a palavra “Ciência” ou as palavras “Materialismo Dialético”, como se isso nos fosse resolver todos os problemas. Isto é, estamos sempre a abordar a solução de nossos problemas com um pensamento condicionado.
O pensamento é sempre condicionado; não há pensamento não-condicionado. Como disse, pode-se conceber o “Eu Supremo”, no nível mais elevado, mais sublime; ainda assim, ele é condicionado. Se, reconhecendo este fato, não teoricamente mas realmente, observamos as operações da mente, veremos que a mente está sempre pensando de acordo com seu fundo próprio, visto não haver pensamento sem memória, experiência sem memória, sem o processo de reconhecimento e , por conseguinte, a respectiva contradição (o respectivo “oposto”). Tal é o estado que conhecemos, e desse ponto de vista é que queremos considerar os nossos problemas! Não me parece, porém, possam eles ser resolvidos de tal maneira, isto é, pelo mero processo de os considerarmos de um determinado ponto de vista. Um problema só pode ser resolvido quando compreendemos o todo, e essa compreensão não é possível enquanto o pensamento, a ideia, estiver em funcionamento. Tenham a bondade de refletir sobre isso — não depois de irem para casa, mas aqui mesmo, enquanto falo.
Infelizmente, os mais de nós costumamos traduzir, interpretar tudo o que ouvimos. Compreendem? Vocês dizem que é assim que está nos Upanishads, que é isso que significa tal frase do Bhagavad-Gita. Desse modo, estão interpretando e não compreendendo; por consequência, o conhecimento de vocês se transforma num empecilho para a experiência direta. Urge, por conseguinte, suprimirmos o conhecimento, eliminarmos todo o conhecimento (não me refiro ao conhecimento relativo à construção de, por exemplo, o qual é essencial; não estou pregando o retorno ao estado primitivo, o que seria absurdo) urge eliminarmos o conhecimento comparativo, o conhecimento que interpreta o que outros dizem. Essa interpretação, essa tradução é uma forma de satisfação do “eu”, do seu desejo de estar sempre seguro, sempre certo; por causa dele a mente está sempre a dizer: “é o que diz o Livro” — sustando, assim, com essa afirmação, com essa tradução, o experimentar, o estudar.
A mente, sem dúvida, deve achar-se num estado de completa incerteza, quer dizer, num estado de completa inação, um estado de desconhecimento, em que a mente jamais diz “eu sei”, “eu tenho experiência”, “é isso mesmo!” A mente que diz “eu sei!” é incapaz de resolver qualquer problema complexo do viver, pois a vida está sempre em movimento, a vida não é estacionária. Vocês podem traduzir a vida, interpreta-la como comunista, como socialista, como materialista dialético, etc.; podem traduzi-la e prende-la assim a palavras explanatórias; a Realidade, porém, é uma coisa viva, e essa coisa viva não é acessível através da parte, que é o pensamento. Percebam isso, por favor, e a Realidade se lhes revelará. Se estão verdadeiramente à escuta da Realidade, ela fará algo extraordinário: quebrará de golpe o condicionamento da mente, e esta se tornará tão desperta, tão vigilante, que o “todo” não mais se lhe afigurará uma coisa miraculosa, transcendental. Esse todo, essa totalidade pode ser experimentada apenas depois de compreendido todo o processo do condicionamento e de reconhecermos positivamente que por meio de um pensamento condicionado não há solução para os nossos problemas. Quando vocês tiverem uma experiência dessa natureza, quando tiverem a percepção, a experiência do “todo”, ocorrerá então uma extraordinária revolução interior — a única verdadeira; porque “revolução econômica” é mero pensamento progressivo, ação condicionada.
Devemos, pois, abeira-nos de todos os nossos problemas com a compreensão de que nosso pensamento está condicionado. Vocês podem fazer o que quiserem, acumular conhecimentos psicológicos e ler todos os livros sagrados do mundo: se com esse conhecimento desejarem resolver o problema da vida, que é movimento constante, nunca estática, não encontrarão jamais a solução. Entretanto, desde que haja o experimentar do todo com a compreensão do todo (em que se reconhece o estado de condicionamento da mente) então, com essa compreensão do todo, qualquer problema pode ser resolvido, não por meio de um condicionamento progressivo, mas em virtude do completo desaparecimento do problema.
Como disse ontem, há neste mundo de pretenso progresso cada vez mais sofrimento, mais destruição, desgraça, sufocação, frustração. Vocês podem não estar cônscios disso, já que se habituaram ao moer da rotina diária. Se estivessem, porém, por pouco que fosse, conscientes, veriam ser este o processo da existência: frustração constante, sem qualquer fim; e quanto mais procuram preenchimento, mais encontrarão frustração. Da satisfação do “eu”, do desejo de preenchimento, nascem novos desejos, novos sofrimentos. Visto que a fonte das suas ações, o incentivo de duas ações é sempre o preenchimento do “eu” — preenchimento no filho, na família, na nação, ou na sociedade — esse desejo de preenchimento e a ação dele resultante acarretam frustração. Na frustração há sempre desespero. Por isso a mente busca uma senda promissora, no Estado, em Deus, ou noutra coisa qualquer, por meio da qual possa preencher-se; e dessa forma, nos vemos de novo a nos debater na mesma cadeia sem fim.
Nessas condições, se se deseja uma ação não inspirada por determinado sistema, determinada teoria, se se deseja ação de conjunto, por parte de vocês e de mim, ação não inspirada pelo desejo de preenchimento, faz-se necessária a compreensão de como está condicionada a nossa mente. É essencial a libertação da mente do seu condicionamento, porque então há cooperação, ação de todos nós e não ação particular suas ou minha. Ai se encontra a Verdade. Requer tudo isso, naturalmente, apurada observação. A Verdade não se pode adquirir nos livros. Tal é a verdadeira meditação, que não é meditação de pensamentos controlados, meditação limitadora do pensamento, e, sim, a meditação do amplo percebimento. O amplo percebimento é o percebimento de todos os movimentos do pensar; é se estar cônscio de como a mente opera, de cada reação, cada experiência, cada transgressão contra a vida; cônscio de como a mente funciona a cada momento; cônscio de cada reação, sem o desejo de modificá-la, controlá-la, orientá-la, discipliná-la. Nesse estado de amplo percebimento a mente se torna tranquila num grau extraordinário; não mais lhe interessa a plenitude, o preenchimento do “eu”, o ser ou não ser alguma coisa. Esse estado de tranquilidade não é um estado forçado, disciplinado. É o “estado de ser” — o qual nada tem em comum com a mente; por essa razão a mente se apresenta tranquila, serena; e nessa tranquilidade, aquilo que é “o todo” é compreendido.
Krishnamurti – 2ª Conferência em Poona – Índia – 25 e janeiro de 1953
Do livro: Autoconhecimento — Base da Sabedoria
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)