Pergunta: A Verdade é relativa ou absoluta?
Krishnamurti: Em primeiro lugar, examinemos através das palavras o significado da pergunta. Queremos alguma coisa absoluta, não é? A ânsia humana é por alguma coisa permanente, fixa, inabalável, eterna; algo que não sofra decadência, que não experimente a morte — uma ideia, uma sensação, um estado eterno, para que a mente se lhe apegue. Temos que entender essa ânsia, antes de podermos compreender a pergunta e respondê-la acertadamente.
A mente humana deseja permanência em tudo — dos relacionamentos, das propriedades, das virtudes. Ela deseja algo que não possa ser destruído. Por isso dizemos que Deus é permanente ou que a verdade é absoluta.
Mas o que é a verdade? Será a verdade algum extraordinário mistério, algo longínquo, inimaginável, abstrato? Ou será algo que você descobre de momento a momento, de dia em dia? Se ela puder ser acumulada, amealhada através da experiência, então não será a verdade; pois, atrás dessa aquisição, jaz o mesmo espírito de cobiça. Se ela é algo muito distante, que só pode ser encontrado através de um sistema de meditação ou da prática da negação e do sacrifício, também nesse caso não será a verdade, pois também isso é um processo de cobiça.
A verdade deve ser descoberta e compreendida em toda ação, em todo pensamento, em todo sentimento, por mais triviais ou transitórios que sejam; ela deve ser observada a cada momento de cada dia; deve ser ouvida no que o marido ou a esposa dizem, no que diz o jardineiro, no que seus amigos dizem e no processo de seu próprio pensamento. Seu pensamento pode ser falso, pode estar condicionado, limitado; e, descobrir que seu pensamento está condicionado, limitado, essa é a verdade. Essa mesma descoberta liberta a mente da limitação. Se você descobrir que é cobiçoso — se o descobri, e não for simplesmente informado disso por outrem — essa descoberta terá a verdade, e essa verdade exercerá sua própria ação sobre a sua cobiça.
A verdade não é algo que você possa amealhar, acumular, armazenar e depois se apoiar nela como num guia. Isso seria apenas outra forma de posse. E é muito difícil para a mente não adquirir, não armazenar. Quando você compreende o que isso significa, verá que coisa extraordinária é a verdade. A verdade é intemporal, mas no momento em que você a captura — como quando diz: "Encontrei a verdade, ela é minha" — ela já não será a verdade.
Portanto, se a verdade é "absoluta" ou intemporal depende da mente. Quando a mente diz: "Quero o absoluto, algo que nunca degenere, que não conheça a morte", o que ela realmente deseja é algo permanente a que se apegar; por isso ela cria o permanente. Mas a mente que está consciente de tudo o que se passa no seu exterior e em seu próprio interior e vê a verdade disso — essa mente é intemporal; e só uma mente assim pode conhecer aquilo que está além dos nomes, além do permanente e do impermanente.
Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA
Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA