Senhor, a liberdade não está implícita na investigação? Eis porque a liberdade está no começo, e não no fim. Quando você diz: "Preciso me submeter a todas estas disciplinas, a fim de me tornar livre", isto é o mesmo que dizer: "Conhecerei o estado de sobriedade, depois de me embebedar". Certo, a investigação só é possível em liberdade. A liberdade, portanto, deve estar no começo, e enquanto ela não existir, embora o que você fizer possa ser, social e convencionalmente, uma coisa satisfatória, essa coisa é destituída de significação. Terá um certo valor para as pessoas que desejarem sentir-se em segurança, mas não tem o valor do descobrimento. Ainda que tais pessoas se levantem muito cedo para submeter-se a todos os rigores da disciplina, eu digo que estas pessoas NÃO SÃO SÉRIAS. A seriedade está no percebimento de que a mente está amarrada a uma experiência, uma crença, e no libertar-se dessa experiência ou crença — COISA QUE VOCÊ NÃO DESEJA FAZER. Não é importante, pois, investigar isso? Do contrário, você virá aqui diariamente, todos os anos, e ficará apenas ESCUTANDO PALAVRAS, que terão muito pouca significação.
(...) Senhor, como se pode investigar com a mente presa? Isto é um simples enunciado de razão comum, senso comum. Se o seu guru diz: "este é o caminho", e você fica preso a isso, como PODE OLHAR MAIS LONGE? Você procura o guru com o fim de investigar — e se deixa prender pelas suas palavras, hipnotizar pela sua personalidade, e acaba enredado nas coisas que ele preconiza. Seu impulso primitivo é investigar, mas esse impulso está baseado no desejo de encontrar uma esperança ou satisfação, ou seja o que for. Por isso, digo que, para investigar é necessário, em primeiro lugar, de liberdade. Estou mudando a direção do seu processo de pensar, que é EVIDENTEMENTE FALSO, ainda que os livros sagrados digam o contrário.
Interpelante: O que vem depois da investigação?
Aí está uma pergunta puramente intelectual, se me permite dizê-lo. Você não está vendo? Deseja saber o que acontecerá "depois", e isso é de ordem teórica. A mente se apraz em fabricar palavras, especular. Eu respondo: você o descobrirá. — É o mesmo que um prisioneiro perguntar: "Como será, depois que eu sair da prisão?" Para saber, ele terá de deixar a prisão.
Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA