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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Deus não pode ser um objeto de curiosidade

Você tem que estar tremendamente faminto. Não pode ser apenas uma curiosidade. Deus não pode ser um objeto de curiosidade; Deus não pode ser um objeto de seu pequeno desejo. Deus não é a satisfação de uma vontade, não é um sonho seu. Deus tem que ser como uma chama em suas entranhas. Quando você começar a sentir que nada mais importa, quando Deus é a prioridade máxima e você está pronto a sacrificar tudo, quando Deus se torna um desejo tão urgente, absorvente, que até mesmo a vida não tem mais sentido sem Deus — só então você chegará a Ele. E aí, não há necessidade de ninguém que o ajude; seu desejo fará o trabalho.

Nessa sede premente, nessa intensidade, tudo o que é escuro em você desaparece. Nessa chama, tudo o que é inútil é consumido. Você se torna ouro puro.

Deus é sua realidade, assim como a minha realidade. Deus é a sua realidade assim como era a de Jesus Cristo ou de Gautama Buda. A diferença é que você AINDA não é capaz de separar o trigo do joio; o trigo está em você, mas há muito joio misturado. Num tremendo desejo de conhecer, de ser, o joio é exterminado — e não há outra maneira.

Quando você vai a um Mestre, ele, na verdade, não o ajuda a chegar a Deus: ele o ajuda a se tornar cada vez mais sedento. Ele o ajuda a se tornar cada vez mais intensamente faminto. Ele lhe dá sede e fome; ele lhe dá uma paixão louca pelo impossível.

Um homem veio até Buda e perguntou: "Se eu o seguir, serei capaz de conhecer a verdade?" Buda disse: "Isso não é certo; não posso garanti-lo. Posso garantir apenas uma coisa: eu o tornarei cada vez mais sedento. Então, tudo o mais dependerá de você. Posso transferir minha sede você, se você ESTIVER PRONTO para se permitir tamanha sede.... POIS É DOLOROSO. A jornada é dolorosa; todo crescimento é doloroso. Se você permitir que eu criei essa dor em você, a própria dor o purificará. A dor é um PROCESSO de purificação."

(...) Posso ajudá-lo a se tornar uma chama — sedenta, faminta, ardente; posso dar-lhe a dor. Então todo o resto depende de você — o quanto você entra nessa dor, nesse fogo. Você pode dar um salto, e Deus pode acontecer num momento repentino. Não há necessidade de esperar, nem de adiar. Nesse exato momento pode acontecer... Se você estiver PRONTO para entrar totalmente nessa dor.

OSHO em, A DIVINA MELODIA

segunda-feira, 3 de março de 2014

A realidade atemporal, imensurável, sem nenhuma ilusão

"Quando se quer descobrir a realidade, toda influência, toda imitação, observância de algum princípio ou exemplo, obediência a um guru ou outro qualquer — nada disso tem valor."
...Desde o começo dos tempos, pelos séculos a fora, o homem sempre buscou uma certa coisa que deve achar-se além da monótona rotina da vida de cada dia, uma coisa que o pensamento jamais atingiu e que não é produto do tempo. A essa coisa se tem chamado "Deus", se têm dado inúmeros e diferentes nomes, mas parece que pouquíssimos a alcançaram. Entretanto, todas as vezes que ela foi encontrada, alguns indivíduos muito sagazes trataram de organizá-la e, desse modo, a destruíram". [...] Assim, tem o homem a possibilidade de descobrir algo, de encontrar aquela realidade atemporal, imensurável, sem nenhuma ilusão — não como "experiência", ou uma fórmula, ideia ou conceito, porém como uma realidade? Porque, se não descobrirmos essa coisa, a vida será vã, sem significação. O homem pode ser competente, possuir muitos bens, viver regaladamente, tornar-se famoso, mas, se não encontrar essa coisa suprema, sua vida será SUPERFICIAL, VAZIA, INSIGNIFICANTE. E, percebendo esse estado, essa falta de significação, começa o homem a inventar deuses com o nome de pátria, de partido, e os deuses das igrejas, dos templos, etc. Assim, temos possibilidade de alcançar essa coisa suprema que não se encontra em nenhuma igreja, nenhum templo, nenhuma mesquita? Para descobri-la, para alcançá-la, necessita-se, em primeiro lugar, de ordem, de absoluta ordem interior, e essa ordem, que é virtude, é negada quando não se rejeita TOTALMENTE a moralidade social. Nessa total rejeição da moral social, há moralidade.

[...] Tendo lançado a base, não como ideia, não como conceito, não como abstração, porém na vida real de cada dia, podemos começar a investigar se existe "alguma coisa mais", uma coisa indestrutível; e, para descobri-la, ou, melhor, para encontrá-la, precisamos compreender a meditação.

[...] Meditação é o silêncio da mente; mas, nesse silêncio, nessa intensidade, nesse estado de total alertamento, a mente já não é a sede do pensamento, porque o pensamento é tempo, o pensamento é memória, o pensamento é conhecimento. E, quando se acha de todo quieta e sobremodo sensível, a mente pode começar uma viagem eterna, sem limites. Isso é meditação, e não aquela estúpida repetição de palavras que se está praticando.[...] A hipnose, quer praticada por vós mesmos, quer por outrem, só pode projetar o próprio condicionamento, as próprias ansiedades e temores; não tem absolutamente nenhum valor.

[...] Temos de descobrir por nós mesmos, independente dos teóricos, dos teólogos e dos sacerdotes, o que é a relação com a realidade. Essa realidade pode ser chamada "Deus"; o nome é, em verdade, de ínfima importância, porque a palavra, o símbolo, nunca é a coisa real, e ficar enredado em símbolos e palavras parece-me uma coisa totalmente irracional. [...] Assim, a o fazermos a pergunta sobre a verdadeira relação do homem com a realidade, devemos estar livres da palavra com todas as suas associações, com todos os seus preconceitos e condições. Se não descobrirmos essa relação, a vida terá muito pouca significação; então, inevitavelmente, nossa aflição, nossa confusão, se tornarão maiores, e a vida cada vez mais intolerável, mais superficial e insignificativa. Precisamos ser sobremodo sérios para descobrirmos se tal realidade existe ou não, e qual a relação do homem com ela. [...] Antes de tudo o mais, é possível — não misticamente, nem romântica ou emocionalmente, porém realmente — descobrir ou encontrar esse estado extraordinário?  

Krishnamurti — Onde está a bem-aventurança  

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Existe algo superior fora de nós mesmos?

Para averiguarmos requer-se uma maneira de pensar inteiramente diferente, que dispense a prece, a meditação, e as citações, sendo apenas necessária a compreensão de todo o processo da consciência. A mente pode “projetar” ideias relativas a Deus ou à realidade, mas o que a mente projeta não está fora do domínio do pensamento; e enquanto estiver ativa, projetando as suas próprias concepções, não pode a mente, de certo, descobrir se existe algo fora dela própria. Para o descobrir, deve a mente deixar de “projetar”, porque tudo quanto pensar apenas exteriorizará o próprio pensamento, consciente ou inconsciente. O que a mente pode “projetar” não está fora do seu próprio campo, e para descobrirmos se existe alguma coisa exterior à mente, esta, como pensamento, deve deixar de existir. Todo movimento, toda atividade por parte da mente é sempre “projeção” dela própria, e enquanto existir pensamento nunca poderá ela char aquilo que está além dela mesma. O que está além da mente só pode ser descoberto quando ela estiver tranquila; e o tranquilizar da mente não é um processo de vontade, de ação determinada. A mente posta tranquila, pela ação da vontade, não é, por certo, uma mente tranquila; o problema, por conseguinte, é como pode o pensamento terminar sem o forçarmos, pela vontade, a terminar; porque se disciplino a mente para que fique tranquila, terei então uma mente morta, uma mente fechada, e não uma mente livre. Só a mente livre é capaz de descobrir o que está além dela própria, e essa liberdade não pode ser imposta à mente. Imposição não é liberdade, disciplina não é liberdade, conformismo não é liberdade; e quando a mente percebe isso, que conformismo, condicionamento não é liberdade, então está livre. Perceber o fato é o começo da liberdade; perceber o falso como falso e o verdadeiro como verdadeiro, não num futuro distante, mas de momento a momento; só então temos aquela liberdade, na qual a mente pode ser simples e serena, e essa mente serena pode saber o que existe além dela própria.

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Acreditar em Deus não é achar Deus

Pergunta: Por que o espírito humano se apega tão tenazmente à ideia de Deus, por várias maneiras diferentes? Você pode negar que a crença em Deus não trouxe consolo e uma razão de ser a inúmeras criaturas que se achavam sós e desoladas? Por que você quer roubar do homem esse consolo, pregando uma nova espécie de niilismo?

Krishnamurti: (...) A crença é a negação da verdade, a crença é um obstáculo à verdade; crer em Deus não é achar Deus. Nem o crente nem o descrente encontrarão a Deus; porque a realidade é o desconhecido, e a vossa crença ou descrença no desconhecido não passa de auto-projeção e, portanto, não é real. Se me permitem sugeri-los, não resistam, examinemos a questão juntos. Sei que acreditam e sei que isso muito pouco significa na vida de vocês. Há muito que acreditam, há milhões que acreditam em Deus e encontram um consolo nisso. Antes de tudo, por que acreditam? Acreditam, porque isso lhes dá satisfação, consolo, esperança, e dá sentido à vida de vocês, segundo dizem. Mas, em verdade, a crença de vocês tem pouquíssima significação, porque vocês acreditam e exploram, acreditam e matam, acreditam num Deus universal e assassinam uns aos outros. O rico também acredita em Deus; explora impiedosamente, acumula dinheiro, depois manda construir um templo ou se torna filantropo. Isso é acreditar em Deus? E o homem que lança uma bomba atômica diz que Deus o acompanha, no seu avião (risos). Não riam, senhores. A vez de vocês está chegando.  O homem que planeja o assassínio em vasta escala invoca a Deus; o homem que é cruel para sua esposa, seus filhos, seu vizinho, também esse canta, senta-se ajoelha-se, junta as mãos e invoca o nome de Deus.

Todos vocês acreditam, de maneiras diferentes, mas a crença de vocês não tem realidade alguma. A realidade é o que são, o que fazem, o que pensam, e a crença de vocês em Deus é mera fuga da vida monótona, estúpida e cruel de vocês. Além disso, a crença invariavelmente separa as pessoas: há o parsi, o hinduísta, o budista, o cristão, o comunista, o socialista, o capitalista, etc. A crença, a ideia, separam, nunca unem os homens. A crença pode reunir um determinado grupo de pessoas num grupo, mas este grupo está oposto a outro grupo. Assim, as ideias e as crenças nunca são unificadoras; pelo contrário, são separatistas, desintegrantes, destrutivas. A crença em Deus de vocês está, com efeito, semeando desgraça no mundo; ainda que tenha lhes proporcionado algum consolo momentâneo, ela, na realidade, lhes tem proporcionado mais infelicidade e destruição, sob a forma de guerras, fome, divisões de classes, e a atividade desumana de determinados indivíduos. A crença de vocês, portanto, não tem validade, em absoluto. Se de fato acreditassem em Deus, se fosse isso uma “experiência” real para vocês, não estaríamos destruindo seres humanos. Não estou fazendo retórica; tenham a bondade de olhar os fatos.

Vocês não acreditam realmente em deus, porque se acreditassem não seriam ricos, não teriam templos, não teriam pobres, não seriam um filantropo, com um título pomposo, depois de explorar os semelhantes de vocês. A crença em Deus de vocês, portanto, é sem valor; e ainda que lhes dê algum consolo temporário, ainda que lhes compense e lhes esconda da aflição de vocês, lhes proporcione um respeitável meio de fuga, reconhecido pela humanidade como santificante, ela não tem validade, não tem significação de espécie alguma. O que tem significação é a vida de vocês, a maneira como vivem, a maneira como tratam o criado de vocês, a maneira como olham para outro ser humano.

Assim, o que prego não é a negação. O que digo é que semeiam o sofrimento, apegando-se a ilusões que lhes ajudam a se eximirem de olhar as coisas como elas são. Olhar um fato de frente é ficar livre do fato, e a crença é um obstáculo ao percebimento do que é. Afinal de contas, a crença de vocês é resultado do condicionamento de vocês. Podem ser condicionados para crerem em Deus, e outro homem pode ser condicionado para não crer, para negar a existência de Deus. Portanto, a crença impede o conhecimento do que é; e perceber a verdade deste fato é estar livre da crença. Só então pode a mente investigar e descobrir se existe essa coisa que se chama Deus.

Agora, que é a realidade, que é Deus? Deus não é a palavra, a palavra não é a coisa. Para conhecer aquilo que é imensurável, que não é do tempo, a mente deve estar livre do tempo, o que significa que deve estar livre de todo pensamento, de todas as ideias relativas a Deus. O que vocês sabem de Deus ou da verdade? Não sabem, realmente, nada a respeito daquela realidade. Só conhecem palavras, experiências alheias, ou alguns momentos de experiências, um tanto vagas, de vocês mesmos. Isso, por certo, não é Deus, não é a realidade, não está fora dos domínios do tempo.

(...) Deus não é coisa da mente, não se manifesta por meio de autoprojeções: só vem quando há virtude, que é liberdade. Virtude é ver diretamente o fato como ele é, e o vero fato é um estado de suprema felicidade. Só quando a mente transborda de felicidade, quando está tranquila, sem nenhum movimento próprio, sem nenhuma projeção de pensamento, consciente ou inconsciente — só então desposta na existência o eterno.


Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?   

domingo, 1 de setembro de 2013

Esquecimento do Ser que somos: o pecado original

(...) Ao encontrar a si mesma, a pessoa encontra o sentido da vida, o significado da vida, a alegria da vida, o esplendor da vida. Encontrar a si mesma é o maior achado na vida de uma pessoa, e esse encontro só é possível quando você está sozinho, quando sua consciência está completamente vazia — nesse vazio, nesse nada, um milagre acontece. E esse milagre é a base de toda a religiosidade.

Eis o milagre: quando não existe nada mais para a sua consciência ficar consciente, a consciência se volta para si mesma. Ela se torna um círculo. Não encontrando obstáculo, nenhum objeto, ela volta para a fonte. E, no momento em que o círculo está completo, você não é mais apenas um ser humano comum; você se tornou parte da divindade que circunda a existência. Você não é mais você mesmo, você se tornou parte de todo o Universo — o palpitar do seu coração é agora o palpitar do coração do próprio Universo.

Essa é a experiência que os místicos têm procurado por todas as vidas, através dos tempos. Não existe outra experiência mais arrebatadora, mais bem-aventurada. Essa experiência transforma toda a sua perspectiva: onde costumava haver escuridão, agora existe luz; onde costumava haver infelicidade, existe bem-aventurança; onde costumava haver raiva, ódio, possessividade, ciúme, existe somente uma bela flor do amor. Toda a energia que era gasta em emoções negativas não é mais desperdiçada; ela passa por uma reviravolta positiva e criativa.

Por um lado, você não é mais seu antigo eu e, por outro lado, você é, pela primeira vez, seu autêntico eu. O velho se foi, o novo chegou. O velho está morto, o novo pertence ao eterno, ao imortal.

(...) A menos que você se conheça como ser eterno, como parte do todo, continuará com medo da morte. O medo da morte existe simplesmente porque você não está consciente da sua fonte eterna de vida. Uma vez constatada a eternidade de seu ser, a morte se torna a maior mentira da existência. A morte nunca aconteceu, nunca acontece, nunca acontecerá, porque aquilo que existe sempre existirá, em formas diferentes, em níveis diferentes; não existe descontinuidade. A eternidade no passado e no futuro, ambas lhe pertencem. E o momento presente se torna um ponto de encontro entre duas eternidades: uma indo em direção ao passado e outra indo em direção ao futuro.

A lembrança de sua solitude não deve ser somente mental; cada fibra de seu ser, cada célula de seu corpo deveria se lembrar, e não com uma palavra, mas como uma profunda sensação. O esquecimento de si mesmo é o único pecado que existe, e a lembrança de si mesmo, a única virtude.

(...)Você não é parte deste mundo mundano; seu lar é o lar do divino. Você está perdido no esquecimento, esqueceu-se de que dentro de você Deus está oculto. Você nunca olha para dentro — porque todo mundo olha para fora, você também insiste em olhar para fora.

Ficar sozinho é uma grande oportunidade, uma benção, porque em sua solitude fatalmente você se deparará com você mesmo e, pela primeira vez, se lembrará de quem você é.

(...)Fique mais centrado em sua profunda solitude. Meditação é isso: ficar centrado na sua própria solitude. A solitude precisa ser tão pura que nem mesmo um pensamento, nem mesmo um sentimento a perturbe. No momento em que sua solitude for completa, sua experiência dela se tornará a sua iluminação. A iluminação não é algo que vem de fora, ela é algo que cresce dentro de você.

Esquecer-se do ser ser é o único pecado. E lembrar-se do seu ser, em sua completa beleza, é a única virtude, a única religião. Você não precisa ser hindu, muçulmano, cristão — para ser religioso, tudo o que você precisa é ser você mesmo.

(...) Ao conhecer a si mesmo, uma coisa fica clara: nenhuma pessoa é uma ilha somos um continente, um vasto continente, uma infinita existência sem nenhuma fronteira. A mesma vida corre através de todos, o mesmo amor preenche cada coração, a mesma alegria dança em cada ser. Por causa do nosso mal-entendido apenas, achamos que estamos separados.

A ideia de separação é nossa ilusão. A ideia da unidade será nossa experiência da verdade suprema. É necessário apenas um pouco mais de inteligência, e você poderá sair do desalento, da infelicidade, do inferno em que toda a humanidade está vivendo. O segredo de sair desse inferno é lembrar-se de si mesmo. E essa lembrança será possível se você compreender a ideia de que você está sozinho.

(...) Você precisa perceber, não importa o quanto isso possa parecer doloroso no início, que está sozinho numa terra estranha. Na primeira vez, esse reconhecimento é doloroso. Ele elimina todas as nossas ilusões, que geram grandes consolos. Mas, quando você ousa aceitar a realidade, a dor desaparece. E, oculta atrás da dor, está a maior das bênçãos do mundo: você vem a conhecer a si mesmo.

Você é a inteligência da existência, a consciência da existência, a alma da existência. Você é parte dessa imensa divindade que se manifesta de milhares formas: nas árvores, nos pássaros, nos animais, nos seres humanos... mas é a mesma consciência em diferentes estágios de evolução. E a pessoa que reconhece a si mesma, que sente que o deus que ela buscava e procurava por todo o mundo reside em seu próprio coração, atinge o mais elevado ponto da evolução. Não existe nada superior a isso.

(...) A pessoa pouco inteligente é aquela que está correndo por todo o mundo à procura de algo, sem saber exatamente o quê. Algumas vezes achando que talvez seja o dinheiro, seja o poder, seja o prestígio, seja a respeitabilidade.

A pessoa inteligente primeiro procura seu próprio ser, antes de começar a jornada no mundo exterior. Isso parece ser simples e lógico... pelo menos, olhe primeiro em sua própria casa, antes de procurar pelo mundo inteiro. E aqueles que olharam dentro de si mesmos o encontraram, sem nenhuma exceção.

(...) O mundo precisa de uma grande revolução, na qual cada indivíduo encontre sua religião dentro de si mesmo. No momento em que as religiões se tornam organizadas, elas ficam perigosas; na realidade, elas se tornam política, com uma falsa face de religião. Por isso, todas as religiões do mundo tentam converter mais e mais pessoas à sua religião. É a política dos números; aquela que tiver um número maior será mais poderosa. Mas ninguém parece estar interessado em trazer milhões de indivíduos a seus próprios seres.

Meu esforço aqui consiste em afastá-lo de qualquer tipo de esforço organizado, porque a verdade nunca pode ser organizada. Você precisa seguir sozinho na peregrinação, porque a peregrinação será interior. Você não pode levar ninguém com você. E você precisa deixar de lado tudo o que aprendeu com os outros, porque todos esses preconceitos distorcerão sua visão e você não será capaz de perceber a realidade nua de seu ser. A realidade nua de seu ser é a única esperança de encontrar Deus.

Apenas um passo para dentro de si mesmo e você chegou.

(...) Pode levar um pouco de tempo, porque os velhos hábitos demoram para ser vencidos; mesmo que você feche os olhos, sua cabeça estará cheia de pensamentos. Esses pensamentos são de fora, e o simples método, que foi seguido por todos os grandes videntes do mundo, é simplesmente observar os pensamentos, ser uma testemunha. Não os condene, não os justifique, não os racionalize. Permaneça à parte, permanece indiferente, deixe-os passar — ele irão embora.

E, no dia em que sua mente estiver absolutamente silenciosa, sem nenhuma perturbação, você dará o primeiro passo que o leva ao templo de Deus.

O templo de Deus é feito da sua consciência. Você não pode ir lá com seus amigos, com seus filhos, com sua esposa, com seus pais.

Todos precisam ir lá sozinhos.

OSHO

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Você deve cessar para que a realidade seja

Pode Deus ser encontrado por meio da procura? Você pode procurar pelo incognoscível? Para encontrar, você deve conhecer o que está procurando. Se você procura para encontrar, o que você encontrar será uma projeção; será o que você deseja, e a criação do desejo não é a Verdade. Procurar a Verdade é negá-la. A Verdade não tem residência fixa; não há um caminho, nem um guia para ela, e a palavra não é a Verdade. Será a Verdade encontrada em um cenário particular, em um clima especial, entre certas pessoas? Está aqui e não ali? Este é o guia para a Verdade e não um outro? Existe realmente um guia? Quando a Verdade é procurada, o que é encontrado só pode surgir da ignorância, pois a própria busca surge da ignorância. Você não pode procurar a realidade; você deve cessar para que a realidade seja.

Jiddu Krishnamurti — Comentários sobre o viver


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Por que há morte e sofrimento na natureza?

Questionador: Por que sempre há morte e sofrimento no equilíbrio da natureza?

Krishnamurti: Por que o homem matou cinquenta milhões de baleias? Cinquenta milhões — vocês entenderam? E ainda continuamos matando todo o tipo de espécies — os tigres, os chitas, os leopardos e os elefantes estão se extinguindo — eles são mortos pela sua carne, pelas suas presas; vocês conhecem o fato. Não será o homem um animal muito mais perigoso do que o resto dos animais? E vocês querem saber por que há morte e sofrimento na natureza. Vocês veem um tigre matar uma vaca ou um gamo. Esse é o modo natural da vida; no entanto, no momento em que interferimos nele, ele se transforma numa verdadeira crueldade. Vocês viram filhotes de baleia ser abatidos com uma pancada na cabeça? Quando houve um grande protesto contra esse fato, as uniões disseram que temos de viver desta maneira. Vocês sabem de tudo isso.

Sendo assim, quando começaremos a entender o mundo à nossa volta e o mundo dentro de nós? O mundo interior é tão enormemente complexo que preferimos atender primeiro o mundo da natureza... Se começássemos por nós mesmos, não matando, não ferindo, não sendo violentos, não sendo nacionalistas, mas sentindo amor pela humanidade como um todo, talvez tivéssemos um relacionamento apropriado entre nós e a natureza. Agora, estamos destruindo a terra, o ar, o mar, as criaturas do mar porque somos o maior perigo para o mundo, com nossas bombas atômicas — vocês sabem, todo esse tipo de coisas.

Questionador: O senhor diz que somos o mundo, contudo o mundo parece estar rumando para uma destruição em massa. Uma minoria de pessoas integradas poderá superar a maioria?

Krishnamurti: Vocês são a minoria? Não, eu não estou brincando. Somos a minoria? Ou há alguém entre nós que esteja totalmente livre de tudo isso? Ou há alguém entre nós que esteja totalmente livre de tudo isso? Ou estamos parcialmente contribuindo para o ódio dos outros? Psicologicamente. Vocês talvez não sejam capazes de impedir a Rússia ou a América do Norte, a Inglaterra ou o Japão de atacarem outro país, mas psicologicamente estamos livres de nossa herança comum, que é nosso nacionalismo tribal, glorificado? Estamos livres da violência? A violência existe onde existe um muro ao nosso redor. Por favor, procurem entender tudo isso. E construímos muros em volta de nós, muros de dez pés de altura e de quinze pés de espessura. E todos nós estamos cercados de muros. E disso surge a violência, o senso de imensa solidão. Assim a minoria e a maioria são vocês. Se um grupo de nós fundamentalmente tivesse se transformado psicologicamente, vocês nunca fariam essa pergunta, porque então seríamos algo totalmente diferente.

Questionador: Se há verdade e ordem supremas, por que elas permitem que a humanidade se comporte de modo tão chocante?

Krishnamurti: Se existe uma tal entidade suprema, ela deve ser muito estranha porque nos criou e então fazemos parte dela — está certo? E se fosse organizada, sadia, racional, piedosa, não seríamos como somos. Vocês podem aceitar o processo evolucionário do homem, ou acreditarem que o homem apareceu subitamente criado por deus. E deus, essa entidade suprema, é ordem, é bondade, é compaixão e todo o resto, todos os atributos que nós lhe dermos. Assim, vocês têm essas duas escolhas; que há uma entidade suprema que fez o homem de acordo com sua imagem, ou que existe um processo evolucionário do homem, que a vida criou a partir das pequenas moléculas, e assim por diante, até chegar no momento presente.

Se vocês aceitarem a ideia de deus, da pessoa suprema na qual existe a ordem total, vocês fazem parte dessa entidade, então essa pessoa deve ser extraordinariamente cruel, certo? — extraordinariamente intolerante para nos fazer comportar do modo como estamos fazendo, destruindo uns aos outros.

Ou há a outra ideia, a de que o homem criou o mundo como ele é; seres humanos fizeram este mundo, o mundo social, o mundo do relacionamento, o mundo tecnológico, o mundo da sociedade — nosso relacionamento uns com os outros. Nós — não deus, nem alguma entidade suprema —, nós fizemos o mundo. Somos responsáveis por este horror que temos perpetuado. E confiar num agente exterior determinado para transformar tudo isso? Esse jogo tem sido jogado por milênios, e vocês ainda são os mesmos! Talvez um pouco mudados, um pouco mais gentis, um pouco mais tolerantes — no entanto, a tolerância é algo terrível.

Jiddu krishnamurti — 4 de setembro de 1980


 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Há medo em nossos corações, e não amor

Pergunta: Por que veneramos Deus?

Krishnamurti: Não me parece que veneramos Deus. Não ria! Veja, nós não amamos Deus; se amássemos a Deus, não haveria essa coisa que chamamos “adoração”. Adoramos Deus porque O tememos; há medo em nossos corações, e não amor. O templo, os rituais, as roupas sagradas — essas coisas não são de Deus, são criações da vaidade e do medo do homem. Só os que são infelizes, os que sentem medo, adoram Deus. Os que têm riqueza, posição e autoridade, não são entes felizes. O homem ambicioso é um ente humano muito infeliz. A felicidade só vem quando estamos libertados de tudo isso; e, então, não adoramos Deus. São os infelizes, os torturados, os desesperados, que se arrastam para os templos; mas, se abandonarem essa suposta devoção e compreenderem sua confusão, eles serão então homens e mulheres felizes, porque descobrirão o que é a Verdade, o que é Deus. 

Krishnamurti - A cultura e o problema humano


domingo, 26 de maio de 2013

Você acredita em Deus?

Pergunta: Você acredita em Deus?

Krishnamurti: É fácil fazer perguntas, e é muito importante saber fazer perguntas corretas. Na pergunta em apreço, as palavras “crer” e “Deus” me parecem muito contraditórias. O homem que simplesmente crê em Deus nunca saberá o que é Deus, porque sua crença é uma forma de condicionamento — e isso é bastante óbvio. No cristianismo, vocês são ensinados desde pequeninos a crer em Deus e, portanto, vossa mente está condicionada desde o começo. Nos países comunistas, a crença em Deus é considerada puro disparate, e isso lhes causa horror. Vocês desejam convertê-los, e eles desejam lhes converter. Eles condicionaram sua mente para não crer, e vocês os chamam “os sem Deus”, enquanto vocês se consideram como tementes a Deus, etc. Não vejo, porém, muita diferença entre vocês e eles. Vocês podem frequentar a igreja, rezar, ouvir sermões, ou executar certos ritos, e aí encontrarem um certo estímulo; mas nada disso, por certo, constitui a experiência do “desconhecido”. E pode a mente experimentar o desconhecido, qualquer que seja o nome que lhe dermos — pois o nome não tem importância? Essa é que é a questão — e não a de crer ou de não crer em Deus?

Pode-se ver que nenhuma forma de condicionamento libertará a mente, em tempo algum; e que só a mente livre pode descobrir, experimentar. O experimentar é uma coisa muito estranha. No momento em que vocês sabem que estão experimentando, cessa a experiência. No momento em que sei que sou feliz, já não sou feliz. Para se experimentar aquela realidade imensurável, o “experimentador” deverá morrer. O “experimentador” é um resultado do conhecido, de muitos séculos de memória cultivada; ele é um acúmulo das coisas que experimentou. E, assim, quando diz: “Preciso experimentar a realidade”, e se torna cônscio dessa experiência, então o que ele experimentar não é a realidade, porém, uma projeção de seu próprio passado, seu próprio condicionamento.

Por isso é tão importante compreender que “pensador” e “pensamento”, ou “experimentador” e “experiência”, são uma só coisa; não são coisas diferentes. Quando existe um “experimentador” separado da “experiência”, aquele está, então, sempre buscando mais experiência; mas, cada experiência é sempre uma “projeção” dele próprio.

A realidade, pois, o estado atemporal, não pode ser encontrado pela mera verbalização ou aceitação, ou pela repetição do que se ouviu dizer — pois isso é absurdo.  Para descobrir, realmente, é necessário compreender a fundo essa questão do “experimentador”. Enquanto existir “eu” a desejar experimentar, não haverá experiência da Realidade. Eis porque o “experimentador” — a entidade que busca a Deus, que crê em Deus, que ora a Deus — deve deixar de existir, completamente. Só então surgirá aquela Realidade imensurável.

Krishnamurti — Verdade Libertadora — ICK  — 25 de junho de 1956

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A esplêndida fuga chamada “deus”

Pergunta: Precisamos saber o que é Deus, antes de podermos conhecer a Deus. Como se pode apresentar ao homem a ideia de Deus, sem trazer Deus ao nível do homem?

Krishnamurti: Não é possível, senhor. Ora, que é que nos impele à busca de Deus, e é real esta busca? Para a maioria de nós, ela é uma fuga da realidade. Devemos, pois, fazer a maior clareza, em nós mesmos, sobre se nossa busca de Deus é uma fuga, ou se é uma busca da verdade em todas as coisas — a verdade nas nossas relações, a verdade no valor das coisas, a verdade nas ideias. Se buscamos Deus apenas porque estamos cansados do mundo e das suas misérias, em tal caso a nossa busca é uma fuga. Criamos, então, Deus, e isso não é Deus. O deus dos templos, o deus dos livros, não é Deus, evidentemente — é uma esplêndida fuga. Mas se tentamos descobrir a verdade, não num determinado conjunto de ações, mas em todas as nossas ações, ideias e relações, se buscamos uma apreciação correta do alimento, da roupa, e da moradia, então, porque as nossas mentes são capazes de percepção clara e de compreensão, quando buscarmos a realidade, a encontraremos. Isso não será, então, uma fuga. Mas se estamos confusos com relação às coisas do mundo — alimento, vestuário, moradia, relações, e ideias — como podemos achar a realidade? Só podemos inventar a “realidade”. Assim, Deus, a verdade, ou a realidade, não é cognoscível por uma mente confusa, condicionada, limitada. Como pode a mente em tais condições pensar na realidade ou em Deus? Ela precisa, em primeiro lugar, “descondicionar-se”. Precisa libertar-se de suas próprias limitações, e só então lhe será possível saber o que é Deus, e não antes, é óbvio. A realidade é o desconhecido, e o que é conhecido não é o real. Assim, a mente que deseja conhecer a realidade precisa libertar-se de seu próprio condicionamento, e esse condicionamento é imposto externamente ou internamente; e enquanto a mente criar divergência, conflito, nas relações, não pode conhecer a realidade. Se, portanto, uma pessoa quer encontrar a realidade, a sua mente precisa estar tranquila; mas se a mente é forçada, disciplinada, para ficar tranquila, essa tranquilidade, em si, é uma limitação, é mera auto-hipnose. A mente só se torna livre e tranquila ao compreender os valores que a circundam.

Nessas condições, para compreendermos aquilo que representa o mais alto, o supremo, o real, precisamos começar muito de baixo, muito perto de nós; isto é, precisamos averiguar o valor das coisas, das relações, e das ideias, com que nos ocupamos em cada dia. E sem compreendê-las, como pode a mente buscar a realidade? Pode inventar a “realidade”, pode copiar, pode imitar; tendo lido muitos livros, pode repetir a experiência alheia. Mas isso, por certo, não é o real. Para experimentar o real, a mente deve deixar de criar; porque tudo o que ela criar, seja o que for, estará sempre subordinado ao tempo. O problema não é se há ou se não há Deus, mas, sim, como pode o homem descobrir a Deus; e se, na sua busca, ele conseguir desembaraçar-se de todas as coisas, encontrará inevitavelmente aquela realidade. Mas é preciso começar com o que está perto e não com o que está longe. É bem evidente que para alcançar o que está longe precisamos começar com o que está perto de nós. Em geral, queremos especular, o que representa uma fuga muito cômoda. E é por isso que as religiões constituem um maravilhoso entorpecente para a maioria das pessoas. Assim, o desembaraçar a mente de todos os valores que ela criou é obra sobremodo difícil, e porque as nossas mentes estão fatigadas, ou porque somos indolentes, preferimos ler livros religiosos e espetacular acerca de Deus; isso, positivamente, não é a descoberta da realidade. Alcançar a realidade é experimentar, e não imitar.

Krishnamurti — Novo acesso à Vida - ICK   - 4 de julho de 1948     

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O medo cria Deus distante do homem

Eu digo que existe algo semelhante a Deus; não perguntemos o que isto é. Vocês o descobrirão, se principiarem a realmente compreender o próprio conflito, que estropia a mente e o coração.
(...)
O homem cria a Deus por causa do medo. Os Russos ou qualquer outro povo podem destruir a ideia de Deus. Se, porém, o medo permanecer, haverá criação de novos deuses; portanto, torna-se isto uma questão de medo ou o tomar objetos externos pela realidade, em vez de chegar à verificação de que a realidade reside dentro de nós próprios. A partir do momento em que objetivam a realidade, tem de dar-se a criação necessariamente de um "eu sou" maior, projetado como Deus.

Porém, na totalidade, na qual não existe nem objetivo nem subjetivo, não existe coisa que se pareça com "você" e "eu".

Quando existir "você" e "eu", há separação e daí ilusão de objeto e sujeito; e, por causa desta divisão, manifesta-se o medo e do medo deriva a busca de conforto; a esse santuário de conforto vocês dão nomes tais como o de Deus.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Onde Deus está escondido

Pergunta a Osho:
Amado Osho, o que exatamente está me impedindo de ver o óbvio? Eu simplesmente não compreendo o que fazer ou o que não fazer. Quando é que eu serei capaz de ouvir o som do silêncio?
O que exatamente está obstruindo a minha visão de ver o óbvio? O simples desejo de vê-lo. O óbvio não pode ser desejado, o óbvio é!

Quando você deseja, você se afasta: você começa a buscar o óbvio. Nesse exato momento você o tomou distante, ele não é mais o óbvio, ele não mais está próximo; você o colocou bem distante. Como pode você buscar pelo óbvio? Se você compreende que é óbvio, como pode você buscá-lo? Ele está simplesmente aqui! Qual a necessidade de buscá-lo ou desejá-lo?

O óbvio é o divino, o mundano é o sublime e o trivial é profundo. Você está encontrando Deus a cada momento, nas suas atividades simples do dia-a-dia, porque não existe mais ninguém. Você não pode encontrar ninguém mais, é sempre Deus de mil e uma formas.

Deus é bem óbvio. Apenas Deus é! Mas você busca, você deseja... e você perde. Nesta sua mera busca você coloca Deus bem longe, muito distante. Isso é uma viagem do ego.

Tente compreender... o ego não está interessado no óbvio porque com o mesmo ele não pode existir. O ego não está de forma alguma interessado no que está próximo, ele está interessado no distante, lá longe. Pense bem: o homem alcançou a lua, mas ele ainda não alcançou o seu próprio coração.

O distante... o homem inventou viagens espaciais, mas ele ainda tem que desenvolver as viagens até a alma. Ele alcançou o Everest, mas ele não se interessa em ir para dentro do seu próprio ser.

Perde-se o que está próximo e busca-se o que está bem distante. Por quê? Porque o ego sente-se bem; se a jornada é difícil o ego sente-se bem, existe algo a ser provado. Se é difícil, existe algo a se provar. O ego se sente bem em ir até a lua, mas ir para dentro do seu próprio ser? Isso não seria muito pretensioso.

Existe uma velha história:

Deus criou o mundo. E então, ele costumava viver na terra. Você já pode imaginar... ele tinha tantos problemas, todos vinham reclamar, todos batiam à sua porta nas horas vagas. À noite pessoas vinham e diziam: “Isso está errado, hoje nós precisávamos de chuva e está tão quente”. E alguém vinha logo depois e dizia: “Não traga chuvas por enquanto — eu estou fazendo algo e a chuva estragaria tudo”.

E Deus estava a ponto de ficar louco... “O que fazer? Tantas pessoas, tantos desejos, e todos esperando e todos necessitando serem atendidos, e eram desejos tão contraditórios! O fazendeiro queria chuva e o ceramista não queria chuva alguma pois ele fazia vasos e a chuva podia destruí-los; ele necessitava de sol quente por alguns dias...” E assim em diante.

Então, Deus chamou os seus conselheiros e perguntou: “O que fazer? Eles irão me enlouquecer, e eu não posso satisfazer a todos. Ou eles irão me matar um dia destes! Eu gostaria de encontrar um lugar para me esconder”.

E os conselheiros sugeriram várias coisas. Um deles disse: isso não é problema, vá para o Everest. Ele é o pico mais elevado dos Himalaias, ninguém irá alcançá-lo”.

Deus disse: “Você nem imagina! Eles o alcançariam em poucos segundos”, para Deus isso seria apenas uns poucos segundos: “Edmund Hillary iria alcançá-lo com Tensing e então os problemas começariam. E uma vez que soubessem, então eles começariam a vir em helicópteros e ônibus, e tudo seria... Não, isso eu não vou fazer. Isso resolveria as coisas só por alguns minutos”.

Lembrem-se de que o tempo para Deus tem uma dimensão diferente. Na Índia diz-se que para Deus milhões de anos é um dia, alguns segundos então...

Daí alguém mais sugeriu: “E por que não ir para a lua?”

E Deus respondeu: “Lá também não é longe o bastante; mais uns poucos segundos e alguém iria alcançá-la”.

E os conselheiros sugeriram estrelas distantes, mas Deus falou: “Isto não resolveria o problema. Seria apenas uma espécie de adiamento. Eu quero uma solução permanente”.

Então, um velho ajudante de Deus aproximou-se dele e sussurrou algo em seu ouvido. E Deus disse: “Você está certo. Vou fazer isso mesmo!”.

O velho ajudante havia dito: “Só existe um lugar onde o homem nunca irá alcançar — esconda-se nele mesmo”. E esse é o lugar onde Deus está escondido desde então: no interior do próprio homem. E esse seria o último lugar no qual o homem pensaria encontrá-lo.

Perde-se o óbvio porque o ego não se interessa por ele. O ego está interessado em coisas duras, difíceis, árduas, porque aí existe um desafio. Quando você ganha, você pode clamar por vitória. Se o óbvio está aí e você ganha, que tipo de vitória é essa? Você não terá muito de um vencedor. É por isso que o homem segue perdendo o óbvio e buscando o distante. E como pode você buscar o distante quando você não pode nem mesmo buscar o óbvio?

“O que exatamente está obstruindo a minha visão de ver o óbvio?” O mero desejo está tomando-o distante. Abandone o desejo e você verá o óbvio.

“Eu simplesmente não compreendo o que fazer ou o que não fazer.” Você não tem que fazer nada. Você tem apenas que ser um observador de tudo que está acontecendo ao seu redor. O fazer é de novo uma viagem do ego. Fazendo, o ego se sente bem — algo está aí para ser feito. O fazer é um alimento para o ego, ele fortifica o ego. Não faça nada e o ego cai por terra; ele morre, ele não é mais nutrido.

Então, simplesmente seja um não fazedor. Não faça nada que diga respeito a busca por Deus, e pela verdade. Em primeiro lugar isso não é uma busca, assim você não pode fazer nada a respeito. Simplesmente seja.

Deixe-me dizer-lhe isso de uma outra forma: se você está em um estado puro de ser, Deus vem até você. O homem nunca poderá encontrá-lo; Deus encontra o homem.

Simplesmente esteja em um espaço silencioso — não fazendo nada, não indo a lugar algum, não sonhando — e nesse espaço de silêncio repentinamente você encontrará Deus. Porque ele sempre esteve presente! Simplesmente você não estava em silêncio para que pudesse vê-lo e você não pôde ouvir a sua voz, pequenina e quieta.

“Quando serei eu capaz de ouvir o som do silêncio?” Quando? Você faz a pergunta errada. É agora ou nunca! Escute-o agora, porque ele está aqui, a sua música está tocando, a sua música está em toda a parte. Você simplesmente precisa estar em silêncio para que possa ouvi-la.

Porém, nunca diga “quando”; “quando” significa que você está colocando no futuro; “quando” significa que você começou a esperar e sonhar; “quando” significa “não agora”. E sempre é no agora, sempre é no momento presente.

Para Deus existe apenas um tempo: o agora; e apenas um lugar: o aqui. “Lá”, “então” — abandone-os.


Osho, em "A Visão Tântrica: Discursos Sobre as Canções de Saraha"

Publicado no blog palavras de Osho

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A crença não vos conduz a Deus

Pergunta: A crença em Deus se baseia sempre no medo?

Krishnamurti: Por que credes em Deus? Qual é  a necessidade? Interessa-vos a crença em Deus quando sois muito feliz ou só quando se vos apresentam tribulações? Vós credes, porque fostes condicionado para crer? Como bem sabemos, há dois mil anos que nos dizem que existe Deus; e no mundo comunista estão condicionando a mente para não crer em Deus. É a mesma coisa; tanto num como noutro caso a mente está sendo influenciada. A palavra “Deus” não é Deus; e o descobrirdes verdadeiramente, por vós mesmo, se tal coisa — Deus — existe, é muito mais significativo do que vos apegardes a uma crença ou descrença. E o descobrir por si mesmo requer enorme energia — energia para libertar-se de todas as crenças; porém isto não importa um estado de ateísmo ou de dúvida. Mas a crença é uma coisa muito confortante, e poucos estão dispostos a despedaçar-se interiormente. A crença não vos conduz a Deus. Nenhum templo, nem igreja, nem dogma, nem ritual pode conduzir-vos à Realidade. Essa Realidade existe; mas para descobri-la precisais de uma mente imensurável. A mente pequena, limitada, só pode encontrar os deuses pequeninos e limitados que ela mesma cria. Portanto, devemos estar prontos a perder toda a nossa respeitabilidade, todas as nossas crenças, para podermos descobrir o que é real.

Acho que não podeis continuar escutando.  Se estivestes escutando indolentemente, ouvindo puramente as palavras, neste caso, sem dúvida, poderíeis continuar ouvindo por mais algumas horas. Mas, se escutastes corretamente, atentamente, com o propósito de aprofundar, então dez minutos bastariam, porque neste espaço poderíeis destroçar as barreiras que a mente criou para si própria de descobrir o que é Verdade.

Krishnamurti — Paris, 7 de setembro de 1961 

sábado, 24 de novembro de 2012

A mente cheia de conhecimentos é uma mente inquieta

Interrogante: Fale-nos sobre Deus.

Krishnamurti: Em vez de eu lhes dizer o que é Deus, vamos ver se vocês podem conceber esse estado maravilhoso, não no amanhã ou num futuro distante, mas agora, neste momento em que estamos aqui tranquilamente reunidos. Claro que isso é mais importante. Mas, para descobrir Deus, todas as crenças devem ser abolidas. A mente que poderia descobrir, não pode acreditar na verdade, não pode formular teorias ou hipóteses a respeito de Deus. Por favor, prestem atenção. Vocês formulam hipóteses, vocês têm crenças, vocês têm dogmas, estão cheios de conjecturas. Pelo fato de terem lido este ou aquele livro a respeito do que é a verdade ou do que é Deus, suas mentes estão espantosamente inquietas. Uma mente cheia de conhecimentos é uma mente inquieta; é intranquila, está apenas sobrecarregada e carga pura e simples não é sinal de uma mente tranquila. Quando a mente está cheia de crenças, acreditando ou não que Deus existe, ela está sobrecarregada e uma mente sobrecarregada não pode jamais descobrir o que é a verdade. Para descobrir a verdade, a mente precisa estar livre, livre de rituais, de crenças, de dogmas, de conhecimentos e de experiência. Somente então ela poderá compreender o que é a verdade. Pelo fato de tal mente estar inquieta, ela não mais realiza o movimento de entrar ou o movimento de sair, que é o movimento do desejo. Ela não possui desejos reprimidos, o que é energia. Pelo contrário, para que a mente esteja quieta é preciso haver uma grande quantidade de energia; mas não pode haver pleno desenvolvimento ou abundância de energia se existir qualquer movimento para fora e, por conseguinte, de movimento para dentro. Quando tudo isso tiver serenado, a mente se quietará.

Eu não estou tentando hipnotizá-los para que vocês fiquem quietos, para que vocês se calem. Vocês mesmos precisam reconhecer a importância de abandonar, de afastar sem esforço, sem resistência, todo o acúmulo de séculos, de superstições, de conhecimentos, de crenças; precisam reconhecer que qualquer forma de carga torna a mente inquieta, dissipa energia. Para a mente estar quieta é preciso energia em abundância, e essa energia precisa estar tranquila. E se você chegarem realmente a esse estado no qual não existe esforço, então constatarão que a energia, estando imóvel, possui seu próprio movimento, o qual não resulta das pressões ou compulsões sociais. Pelo fato de a mente possuir uma energia abundante, imóvel e silenciosa, a própria mente se transforma naquilo que é sublime. Não existe experimentador do sublime: não existe alguém que diga  “eu experimentei a realidade”. Enquanto houver um experimentador, a realidade não pode existir, porque o experimentador equivale ao movimento de angariar experiência e de acabar com a experiência. De forma que é preciso que o experimentador deixe totalmente de existir.

Atente simplesmente a isto. Não façam nenhum esforço, apenas compreendam que o experimentador tem que chegar ao fim. É preciso que ocorra a cessação total  de todo movimento e isso demanda, não a supressão de energia, mas uma energia espantosa. Quando a mente estiver completamente quieta, calada, isto é, quando a energia não estiver sendo nem dissipada nem distorcida por obra da disciplina, essa energia se transformará em amor e o real não estará apartado da própria energia.

Krishnamurti — Sobre Deus — Ed. Cultrix

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Como encontrastes Deus? "Krishnamurti não nega a existência de Deus"

Pergunta: Como encontrastes Deus?

Krishnamurti: Como sabeis, senhor, que eu encontrei Deus? Não riais, senhores. Esta pergunta é muito séria. Senhor, Deus pode ser conhecido? Deus pode ser achado? Prestai atenção, por favor. Deus é uma coisa que anda perdida e que temos de achar? Pode-se reconhecer aquela Realidade, aquele Deus? Se podeis reconhecê-la, então já tendes conhecimento dela; e se já tendes conhecimento dela, não é coisa nova. Se sois capaz de conhecer (experience) Deus, a Verdade, essa experiência é gerada pelo passado, e por conseguinte já não é a verdade e, sim, meramente, uma “projeção” da memória. A mente é produto do passado, do conhecimento, da experiência, do tempo; a mente pode criar Deus; ela pode dizer: “sei que isto é Deus”, “sei que tive a experiência de Deus”, “sei que há Deus, a voz de Deus me fala”. Mas isso é só memória, - a antiga reação do vosso condicionamento. A mente pode inventar Deus e pode experimentar Deus. A mente que é resultado do conhecido pode “projetar-se” e criar toda a sorte de imagens e visões; tudo isso, porém, se acha na esfera do conhecido. Deus não pode ser conhecido. Ele é totalmente desconhecido. Não pode ser “experimentado”. Se quando não há “experimentador” e não há “experiência”, só então pode a Realidade aparecer. É só quando a mente se acha no “estado do desconhecido” que pode surgir o desconhecido. Só depois de se apagar toda experiência, todo conhecimento, está a mente verdadeiramente tranqüila, silenciosa, e nessa tranqüilidade, que é imensurável, nessa tranqüilidade, nasce Aquilo que não tem nome.
J. Krishnamurti - AS ILUSÕES DA MENTE (páginas 55, 56) 14 de fevereiro de 1954

__________________________

Pergunta: Acreditar em Deus tem sido um poderoso incentivo para melhorar a vida. O senhor rejeita Deus, porquê? Por que não tenta restabelecer a fé do homem na ideia em Deus?

K. – Olhemos para o problema de um modo aberto e inteligente. Eu não rejeito Deus – isso seria demasiado estúpido. Só o homem que não conhece a realidade utiliza palavras sem significado). Aquele que diz que sabe, não sabe; o que experiencia a Realidade a todo o momento não tem os meios para comunicar essa realidade.A crença é a negação da Verdade; a crença impede a Verdade; acreditar em deus é não encontrar Deus. Nem o crente nem o não-crente encontram Deus; porque a Verdade é Desconhecido, e acreditar ou não no desconhecido é uma projeção pessoal e portanto não é Real. Sei que você é crente, e sei também que isso tem pouco significado na sua vida. Há muita gente crente; milhões acreditam em Deus e nisso obtêm consolo. Primeiro que tudo, porque é crente? É crente porque isso lhe dá satisfação, conforto, esperança e, como você afirma, dá significado à vida. De fato, o seu acreditar tem muito pouco significado, porque acredita e explora os outros, acredita e mata, acredita num Deus universal e aceita que os homens se matem uns aos outros. O homem rico também acredita em Deus, ele explora sem piedade, acumula riqueza, e depois constrói um templo ou torna-se filantropo. Os homens que largaram a bomba atômica em Hiroshima disseram que Deus estava com eles; aqueles que voaram de Inglaterra para destruir a Alemanha afirmavam que Deus era o seu co-piloto. Os ditadores, os primeiros ministros, os generais, os presidentes, todos eles falam de Deus, têm imensa fé em Deus. E estão eles a fazer o que devem fazer, construindo uma vida melhor para os seres humanos? As pessoas que afirmam acreditar em Deus já destruíram metade do mundo, e este planeta está uma completa desgraça. Através da intolerância religiosa criam-se divisões entre os povos, os que acreditam, os que acreditam e os que não acreditam, o que conduz a guerras religiosas. Isso demonstra como as nossas mentes estão extraordinariamente politizadas. Será que acreditar em Deus é «um poderoso incentivo para uma vida melhor»? Por que queremos nós um incentivo para viver melhor? Claro que esse incentivo dever ser o nosso próprio desejo de viver com higiene e com simplicidade, não é assim? Se procuramos um incentivo, é porque não estamos interessados em tornar a vida melhor para todos, estamos apenas interessados no nosso incentivo, que é diferente do de outra pessoa – e acabaremos por lutar por causa de um incentivo! Se vivemos em paz uns com os outros, não porque acreditamos mas porque somos seres humanos, então partilhamos todos os meios de produção com o objetivo de produzir coisas para toda a gente. Devido à falta de inteligência, aceitamos a ideia de uma superinteligência a que chamamos «Deus»; mas esse «Deus» não nos vai proporcionar uma vida melhor. O que conduz a uma vida melhor é a Inteligência; e não pode existir inteligência-Deus, se houver crença, se houver divisões sociais, se os meios de produção estiverem nas mãos de poucos indivíduos, se existirem nações isoladas e governos soberanos. Tudo isto indica falta de inteligência e é a falta de inteligência que está a impedir uma vida melhor, e não a descrença em Deus.Todos nós acreditamos de modos diferentes, mas a crença não tem qualquer realidade. A realidade é aquilo que cada um é, o que cada um faz, pensa, e acreditar em Deus é um mero escape para a nossa monótona, estúpida e cruel existência. Mais, a crença invariavelmente divide as pessoas: há o hindu, o budista, o cristão, o comunista, o socialista, o capitalista, e tudo o resto. A crença e a ideia dividem; nunca levam as pessoas a estarem unidas. Algumas pessoas podem juntar-se e formar um grupo; mas esse grupo acaba por se opor a outro grupo. Ideias e crenças nunca são unificadoras; pelo contrário, elas são separativas, desintegradoras e destrutivas. Portanto, a crença em Deus está de fato a espalhar a infelicidade no mundo; embora essa crença nos traga consolo momentâneo, ela na realidade traz mais sofrimento e destruição na forma de guerras, fome, divisão de classes e a impiedosa ação de indivíduos que se põem à parte. Assim, a crença não tem validade alguma. Se acreditamos realmente em Deus, se isso é uma experiência real para nós, então há um sorriso na nossa face; e não destruímos os outros seres humanos. O que é a Realidade? O que é Deus? Deus não é a palavra, a palavra não é a realidade. Para conhecer isso que é imensurável, que não está no tempo, a mente tem de estar liberta do tempo, quer dizer, a mente tem de se libertar de todo o pensamento, de todas as ideias acerca de Deus. O que sabemos nós sobre Deus ou a Verdade? Não sabemos realmente nada sobre essa Realidade. Tudo o que conhecemos são palavras, são experiências de outros ou alguns momentos de experiências pessoais. Claro que isso não nos dá a conhecer Deus, não é a Verdade, isso não está para além do tempo, temos de compreender o processo do tempo, tempo sendo pensamento, sendo o processo de «vir a ser», sendo acumulação de conhecimentos. Isso é tudo o que está por detrás da mente; a mente, em si, é esse fundo, é o consciente e o inconsciente, é o coletivo e o individual. Assim, a mente tem de estar livre do conhecido, isto é, ela tem de estar completamente em silêncio, não FORÇADA ao silêncio. A mente que é forçada, controlada, moldada, posta dentro de limites e mantida quieta, não é uma mente em paz. Podemos ter sucesso por algum tempo em forçar a mente a ser superficialmente silenciosa, mas tal mente não é uma mente serena. A serenidade só acontece quando compreendemos todo o processo do pensamento, porque compreender esse processo é acabar com ele, e na cessação do processo do pensamento está o começo do silêncio.Só quando a mente está completamente em silêncio, não apenas a um nível superficial mas a um nível profundo da consciência – só então o desconhecido pode manifestar-se. O Desconhecido não é algo para ser experimentado pela mente; apenas o silêncio e só o silêncio pode ser experienciado. Se a mente experimenta o que quer que seja que não o silêncio, é porque está simplesmente a projetar os seus próprios desejos, e uma tal mente não está em silêncio. Silêncio é a libertação do passado, dos conhecimentos, de memórias conscientes e inconscientes; quando a mente está em completo silêncio, em não funcionamento, quando há silêncio que não é produto do esforço, então o Intemporal, o Eterno dá-se a mostrar. Esse estado não é um estado para lembrar – não há qualquer entidade a recordá-lo, a experimentá-lo.Portanto, Deus, a Verdade, chamemos-lhe o que quisermos, é algo que se manifesta a todo o momento, e isso só acontece num estado de liberdade e de espontaneidade, não quando a mente é disciplinada de acordo com um padrão. Deus não é uma coisa da mente, não vem através da autoprojeção; só acontece quando há virtude, que é liberdade. Virtude é enfrentar o fato de que O QUE É, e enfrentar o FATO gera um estado de BÊNÇÃO. Quando a mente está nesse estado de profunda alegria, em paz, sem qualquer movimento, sem a projeção consciente ou inconsciente do pensamento – só então o ETERNO se manifesta.”

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A Busca do homem

Através das idades veio o homem buscando uma certa coisa além de si próprio, além do bem-estar material — uma coisa que se pode chamar verdade, Deus ou realidade, um estado atemporal — algo que não possa ser perturbado pelas circunstâncias, pelo pensamento ou pela corrupção humana. O homem sempre indagou: Qual a finalidade de tudo isto? Tem a vida alguma significação? Vendo a enorme confusão reinante na vida, as brutalidades, as revoltas, as guerras, as intermináveis divisões dá religião, da ideologia, da nacionalidade, pergunta o homem, com um profundo sentimento de frustração, o que se deve fazer, o que é isso que se chama viver e se alguma coisa existe além de seus limites.
E, não podendo encontrar essa coisa sem nome e de mil nomes que sempre buscou, o homem cultivou a fé — fé num salvador ou num ideal, a fé que invariavelmente gera a violência.
Nesta batalha constante que chamamos "viver", procuramos estabelecer um código de conduta, conforme a sociedade em que somos criados, quer seja uma sociedade comunista, quer uma pretensa sociedade livre; aceitamos um padrão de comportamento como parte de nossa tradição hinduísta, muçulmana, cristã ou outra. Esperamos que alguém nos diga o que é conduta justa ou injusta, pensamento correto ou incorreto e, pela observância desse padrão, nossa conduta e nosso pensar se tornam mecânicos, nossas reações, automáticas. Pode-se observar isso muito facilmente em nós mesmos.
Durante séculos fomos amparados por nossos instrutores, nossas autoridades, nossos livros, nossos santos. Pedimos: "Dizei-me tudo; mostrai-me o que existe além dos montes, das montanhas e da Terra" — e satisfazemo-nos com suas descrições, quer dizer, vivemos de palavras, e nossas vidas são superficiais e vazias. Não somos originais. Temos vivido das coisas que nos tem dito, ou guiados por nossas inclinações, nossas tendências, ou impelidos a aceitar pelas circunstâncias e o ambiente. Somos o resultado de toda espécie de influências e em nós nada existe de novo, nada descoberto por nós mesmos, nada original, inédito, claro.
Consoante a história teológica garantem-nos os guias religiosos que, se observarmos determinados rituais, recitarmos certas preces e versos sagrados, obedecermos a alguns padrões, refrearmos nossos desejos, controlarmos nossos pensamentos, sublimarmos nossas paixões, se nos abstivermos dos prazeres sexuais, então, após torturar suficientemente o corpo e o espírito, encontraremos uma certa coisa além desta vida desprezível. É isso o que tem feito, no decurso das idades, milhões de indivíduos ditos religiosos, quer pelo isolamento, nos desertos, nas montanhas, numa caverna, quer peregrinando de aldeia em aldeia a esmolar, quer em grupos, ingressando em mosteiros e forçando a mente a ajustar-se a padrões estabelecidos. Mas, a mente que foi torturada, subjugada, a mente que deseja fugir a toda agitação, que renunciou ao mundo exterior e se tornou embotada pela disciplina e o ajustamento — essa mente, por mais longamente que busque, o que achar será em conformidade com sua própria deformação.
Assim, para descobrir se de fato existe ou não alguma coisa além desta existência ansiosa, culpada, temerosa, competidora, parece-me necessário tomarmos um caminho completamente diferente. O caminho tradicional parte da periferia para dentro, para, através do tempo, da prática e da renúncia, atingir gradualmente aquela flor interior, aquela íntima beleza e amor — enfim, tudo fazer para nos tornarmos estreitos, vulgares e falsos; retirar as camadas uma a uma; precisar do tempo: amanhã ou na próxima vida chegaremos — e quando, afinal, atingimos o centro, não encontramos nada, porque nossa mente se tornou incapaz, embotada, insensível.
Após observar esse processo, perguntamos a nós mesmos se não haverá outro caminho totalmente diferente, isto é, se não teremos possibilidade de "explodir" do centro.
O mundo aceita e segue o caminho tradicional. A causa primária da desordem em nós existente é estarmos buscando a realidade prometida por outrem; mecanicamente seguimos todo aquele que nos garante uma vida espiritual confortável. É um fato verdadeiramente singular esse, que, embora em maioria sejamos contrários à tirania política e à ditadura, interiormente aceitamos a autoridade, a tirania de outrem, permitindo-lhe deformar a nossa mente e a nossa vida. Assim, se de todo rejeitarmos, não intelectual, porém realmente, a autoridade dita espiritual, as cerimônias, rituais e dogmas, isso significará que estamos sozinhos, em conflito com a sociedade; deixaremos de ser entes humanos respeitáveis. Ora, um ente humano respeitável nenhuma possibilidade tem de aproximar-se daquela infinita, imensurável realidade.
Começais agora por rejeitar uma coisa que é totalmente falsa — o caminho tradicional — mas, se o rejeitardes como reação, tereis criado outro padrão no qual vos vereis aprisionado como numa armadilha; se intelectualmente dizeis a vós mesmo que essa rejeição é uma idéia importante, e nada fazeis, não ireis mais longe. Se entretanto a rejeitardes por terdes compreendido quanto é estúpida "e imatura, se a rejeitais com alta inteligência, porque sois livre e sem medo, criareis muita perturbação dentro e ao redor de vós, mas vos livrareis da armadilha da respeitabilidade. Vereis então que cessou o vosso buscar. Esta é a primeira coisa que temos de aprender: não buscar. Quando buscais, agis, com efeito, como se estivésseis apenas a olhar vitrinas.
Krishnamurti
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill