Não sei o que pensais, de que modo estais interpretando aquilo que eu vos digo. No fim de tudo —, por favor, não penseis que eu me sinta vaidoso — quero que entendais aquilo que vos falo tal como eu o entendo, e não como vós o concebeis. Qual irá ser o resultado de minhas palestras todas as manhãs; qual a maneira pela qual cada um de vós as entende? Isto é importante e isto deveremos discutir.
Aquilo de que falo é da vida em seu todo e não o podereis entender nesta meia hora em que aqui vos sentais, ocasionalmente, discutindo aquilo que eu digo. Estais muito concentrados enquanto falo, porém, durante o resto do dia, um milhar de outras coisas vos preocupam a mente. Nada chegareis a entender por esta forma. A reta compreensão não vem como um relâmpago. É o resultado de continua, incessante luta durante o dia inteiro. É pelo continuo ajustamento, pela mudança, pela destruição e pela colheita, que chegareis a adquirir a verdadeira compreensão.
Até ao ponto que me tem sido dado averiguar, vejo que apenas tomais uma parte daquilo que eu digo, que dissecais essa parte e a esta somente discutis. Porém essa pequena parte não tem valor quando destacada do todo. É o conjunto que tem importância, a completa unidade de toda a vida. E suas lutas diversas, angústias, dores, tristezas, podem somente ser entendidas quando houverdes alcançado o vislumbre do todo.
Como outro dia vos dizia a verdadeira educação do "Eu" — isto é, do indivíduo separado do todo — consiste no realizar que existe o "Eu" eterno e o "Eu" progressivo, e que este último se acha em luta constante com todas as coisas. Um elemento desse "Eu" é eterno, o outro é progressivo. Isto é: esse "Eu" que exige adestramento, educação, está continuamente progredindo para o lado do eterno. E no unificar, no unir o eterno e o progressivo, reside a liberdade e o atingir da Verdade. O "Eu" progressivo não é nem intelectual, nem emocional. A vida não é nem puramente intelectual nem puramente emocional. Vós não sois puramente intelectuais nem puramente emocionais, porém uma combinação de ambas as coisas.
O indivíduo que continuamente combate, que combate os grupos — pois que os grupos tendem sempre a oprimir, a sufocar o indivíduo — esse indivíduo, o "Eu" progressivo, deve possuir um padrão, deve ter valores que sejam inteiramente aparte, que não sejam dominados, controlados ou sufocados pelo grupo, pela massa. Não pretendo que esse padrão deva ser integralmente individualístico, pois que, dado que o vosso padrão individualista varia de tempos a tempos, não tem grande importância. Porém o padrão que o "Eu", o "Eu" progressivo estabelece por si mesmo após haver passado por um processo de eliminação, esse é eterno. Afim de descobrirdes isso por vós próprios, para poderdes vos colocar acima de todos esses grupos, acima de todos os desejos individualistas, para poderdes unir este "Eu" progressivo ao "Eu" que é eterno, vós, como "Eu" progressivo, — o "Eu" que constantemente está buscando "experiências", o "Eu" que é impelido pelos desejos, dominado pelos temores, limitado pelas circunstâncias externas, dominado pelo amor corruptível, pelo ódio, pela paixão e pelo desejo de buscar conforto, esforçando-se para se adaptar às autoridades exteriores, temeroso da solidão — precisa vencer todas essas coisas.
Não podeis chegar ao "Eu" eterno, não podeis evadir-vos desse "Eu" eterno — que é o "Eu" universal, que é o vosso e o meu, que é o "Eu" de todos no mundo, de toda a humanidade, que não é ser e nem não-ser, que não é sabedoria nem não-sabedoria, que não é nem ação nem não-ação — enquanto não houverdes compreendido o "Eu" progressivo.
Não podeis fugir à luta do "Eu" progressivo, e, por esse modo, chegar a esse "Eu" que não tem começo nem fim, que é tranquilo, que se acha à frente de todo o indivíduo que avança. No unificar, no produzir harmonia entre o "Eu" progressivo e o "Eu" eterno reside a verdadeira beatitude, a verdadeira felicidade, a cessação da luta, a destruição do tempo e do espaço, do nascimento e da morte, da existência, enfim. E no entanto, por favor, não penseis que isto seja uma condição negativa: mais uma vez vo-lo digo, que não é negativa nem positiva. Para alcançar, para possuir esta felicidade, eta Verdade, esta liberdade, a qual todo o "Eu" progressivo, limitado, está continuamente buscando, — mediante a experiência, a angústia, a tristeza, a luta, o êxtase, a dor, — necessitais estabelecer esta harmonia entre o passageiro e o eterno, entre o progressivo e o perdurável.
É nisto que consiste a grandeza do homem: a de que ninguém, exceto ele próprio, pode salvá-lo. O universo existe potencialmente no homem e seu fim é produzir essa realização. Para chegar a esse "Eu" absoluto, o "Eu" progressivo necessita, pela experiência, pela consideração, pela sensatez, pela ausência de temor, rejeitar, eliminar todas aquelas coisas que impedem a unificação. Isso não é uma filosofia para ser intelectualmente elaborada, como uma ginástica mental: É a própria Vida, o todo, que necessita ser vivido, que necessita expressar-se a si próprio fisicamente, em todas as vossas atividades.
Krishnamurti, 17 de julho de 1929, Reunião de Verão no Castelo de Eerde
Aquilo de que falo é da vida em seu todo e não o podereis entender nesta meia hora em que aqui vos sentais, ocasionalmente, discutindo aquilo que eu digo. Estais muito concentrados enquanto falo, porém, durante o resto do dia, um milhar de outras coisas vos preocupam a mente. Nada chegareis a entender por esta forma. A reta compreensão não vem como um relâmpago. É o resultado de continua, incessante luta durante o dia inteiro. É pelo continuo ajustamento, pela mudança, pela destruição e pela colheita, que chegareis a adquirir a verdadeira compreensão.
Até ao ponto que me tem sido dado averiguar, vejo que apenas tomais uma parte daquilo que eu digo, que dissecais essa parte e a esta somente discutis. Porém essa pequena parte não tem valor quando destacada do todo. É o conjunto que tem importância, a completa unidade de toda a vida. E suas lutas diversas, angústias, dores, tristezas, podem somente ser entendidas quando houverdes alcançado o vislumbre do todo.
Como outro dia vos dizia a verdadeira educação do "Eu" — isto é, do indivíduo separado do todo — consiste no realizar que existe o "Eu" eterno e o "Eu" progressivo, e que este último se acha em luta constante com todas as coisas. Um elemento desse "Eu" é eterno, o outro é progressivo. Isto é: esse "Eu" que exige adestramento, educação, está continuamente progredindo para o lado do eterno. E no unificar, no unir o eterno e o progressivo, reside a liberdade e o atingir da Verdade. O "Eu" progressivo não é nem intelectual, nem emocional. A vida não é nem puramente intelectual nem puramente emocional. Vós não sois puramente intelectuais nem puramente emocionais, porém uma combinação de ambas as coisas.
O indivíduo que continuamente combate, que combate os grupos — pois que os grupos tendem sempre a oprimir, a sufocar o indivíduo — esse indivíduo, o "Eu" progressivo, deve possuir um padrão, deve ter valores que sejam inteiramente aparte, que não sejam dominados, controlados ou sufocados pelo grupo, pela massa. Não pretendo que esse padrão deva ser integralmente individualístico, pois que, dado que o vosso padrão individualista varia de tempos a tempos, não tem grande importância. Porém o padrão que o "Eu", o "Eu" progressivo estabelece por si mesmo após haver passado por um processo de eliminação, esse é eterno. Afim de descobrirdes isso por vós próprios, para poderdes vos colocar acima de todos esses grupos, acima de todos os desejos individualistas, para poderdes unir este "Eu" progressivo ao "Eu" que é eterno, vós, como "Eu" progressivo, — o "Eu" que constantemente está buscando "experiências", o "Eu" que é impelido pelos desejos, dominado pelos temores, limitado pelas circunstâncias externas, dominado pelo amor corruptível, pelo ódio, pela paixão e pelo desejo de buscar conforto, esforçando-se para se adaptar às autoridades exteriores, temeroso da solidão — precisa vencer todas essas coisas.
Não podeis chegar ao "Eu" eterno, não podeis evadir-vos desse "Eu" eterno — que é o "Eu" universal, que é o vosso e o meu, que é o "Eu" de todos no mundo, de toda a humanidade, que não é ser e nem não-ser, que não é sabedoria nem não-sabedoria, que não é nem ação nem não-ação — enquanto não houverdes compreendido o "Eu" progressivo.
Não podeis fugir à luta do "Eu" progressivo, e, por esse modo, chegar a esse "Eu" que não tem começo nem fim, que é tranquilo, que se acha à frente de todo o indivíduo que avança. No unificar, no produzir harmonia entre o "Eu" progressivo e o "Eu" eterno reside a verdadeira beatitude, a verdadeira felicidade, a cessação da luta, a destruição do tempo e do espaço, do nascimento e da morte, da existência, enfim. E no entanto, por favor, não penseis que isto seja uma condição negativa: mais uma vez vo-lo digo, que não é negativa nem positiva. Para alcançar, para possuir esta felicidade, eta Verdade, esta liberdade, a qual todo o "Eu" progressivo, limitado, está continuamente buscando, — mediante a experiência, a angústia, a tristeza, a luta, o êxtase, a dor, — necessitais estabelecer esta harmonia entre o passageiro e o eterno, entre o progressivo e o perdurável.
É nisto que consiste a grandeza do homem: a de que ninguém, exceto ele próprio, pode salvá-lo. O universo existe potencialmente no homem e seu fim é produzir essa realização. Para chegar a esse "Eu" absoluto, o "Eu" progressivo necessita, pela experiência, pela consideração, pela sensatez, pela ausência de temor, rejeitar, eliminar todas aquelas coisas que impedem a unificação. Isso não é uma filosofia para ser intelectualmente elaborada, como uma ginástica mental: É a própria Vida, o todo, que necessita ser vivido, que necessita expressar-se a si próprio fisicamente, em todas as vossas atividades.
Krishnamurti, 17 de julho de 1929, Reunião de Verão no Castelo de Eerde