A relação com outro ser humano é das coisas mais importantes da vida. Em geral, não somos muito sérios nas nossas relações, porque estamos preocupados conosco em primeiro lugar, e só depois com o outro, quando nisso temos conveniência, quando nos dá satisfação ou gratifica os sentidos. Tratamos o relacionamento à distância, por assim dizer, e não como uma coisa em que estamos totalmente implicados.
Quase nunca nos abrimos realmente ao outro, pois não estamos atentos a nós mesmos, e assim na nossa relação mostramos possessividade, domínio, ou então subserviência. Há “o outro” e “eu”, duas entidades separadas sustentando uma divisão que dura até à morte. O outro está preocupado consigo próprio, e assim essa divisão mantém-se durante toda a vida. É certo que se demonstra simpatia, afeição, apoio, em várias circunstâncias, mas este processo separativo continua. E daí surgem as incompatibilidades, o conflito dos temperamentos e dos desejos, e tudo isso gera medo e acomodação. No aspecto sexual, poderá haver entendimento, mas essa relação peculiar, quase estática, do você e do eu permanece, com os conflitos, as feridas psicológicas, os ciúmes e todo o seu tormento. É porém o que geralmente se considera uma boa relação.
Poderá a bondade desabrochar no meio de tudo isto? E contudo a relação é vida, e não se pode existir sem alguma espécie de relação. O eremita, o monge, por muito que se afastem do mundo, levam o mundo consigo. Podem recusá-lo, podem reprimir-se, torturar-se, mas ficam ainda numa certa relação com o mundo, porque aquilo que são é resultado de milhares de anos de tradição, de superstição, e de todo o conhecimento que o homem tem acumulado ao longo de milênios. Não é possível, portanto, fugir de tudo isso.
Vejamos agora a relação entre o educador e o educando. Será que o professor, consciente ou inconscientemente, mantém um sentimento de superioridade, colocando-se num pedestal e fazendo o aluno sentir-se inferior, como alguém que tem de ser ensinado? Neste caso, evidentemente, não há relacionamento. E daí nasce o medo, um sentimento de constrangimento e de tensão por parte do estudante, que assim aprende desde a juventude essa atitude de superioridade; é levado a sentir-se inferior, e portanto ao longo da vida, ou se torna agressivo ou está continuamente a submeter-se e a ser subserviente.
[...] O relacionamento requer muita inteligência. Não é aprendido nos livros, nem pode ser ensinado. Também não é resultado de muita experiência acumulada.
Conhecimento não é inteligência. A inteligência pode utilizar o conhecimento. Este pode ter um valor utilitário, pode ser brilhante, arguto, mas nada disso é inteligência. A inteligência surge natural e facilmente quando se vê toda a natureza e estrutura do relacionamento. É por isso que é importante ter tempo disponível, para que o homem e a mulher, o professor e o aluno possam conversar tranquila e seriamente acerca da sua relação, para que nela as suas verdadeiras reações, susceptibilidades e barreiras sejam vistas, e não imaginadas, não deformadas para agradar ao outro, ou reprimidas para o satisfazer.
A função de uma escola é seguramente a de ajudar o estudante a despertar a sua inteligência e a aprender a extrema importância de uma verdadeira relação.
Krishnamurti
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