5 – Pergunta: Se a Verdade é um país sem caminho, pode
existir um caminho de discipulado que a ela conduza ou a existência de um tal
caminho tornar-se-á uma barreira?
Krishnamurti: Digo-vos
que vos não molesteis acerca destas coisas. Voltais atrás continuamente, às
velhas concepções, lançando-as à minha face para formardes vossas verdades
incertas. Digo que a Verdade é uma terra sem caminhos, que não pode ser
abordada por um caminho qualquer, por nenhuma estrada ou por intermédio de
outrem. Não podeis interpretar isto mais que de um modo. Achais tudo isto muito
difícil, porque não abandonais vossos velhos modos de pensar. Quereis que vos
deixem em paz em vossas águas tranquilas e estagnantes. Se assim for, não
venhais aqui; se, porém, quiserdes o que é novo, abandonai o antigo, não
brinqueis com as coisas. Isto não é uma luta de egoísmo. Falo acentuadamente
porque há miséria, tristeza na face de todos — por favor, não vos torneis
sentimentais — existe o caos, a luta continua, e por ela sois colhidos, e não a
abandonais porque vos atemorizais. Quereis antes morar nessa tristeza, nessa
sufocação, do que abandonar o antigo e lutar pelo novo. Assim, ao ver a
tristeza, dor, sofrimento, regozijo, prazeres que são limitados pelas lágrimas,
quero libertar o homem. Porém, como não posso libertá-lo — ele próprio tem que
se libertar — meu papel é despertá-lo, impeli-lo para essa liberdade — não por
meio do sentimentalismo, por meio do êxtase, ou por meio da autoridade, porém,
por meio de cuidadosa análise, pela sensatez, pelo apercebimento, pela autovigilância.
Não penseis que para entender-me precisais haver estudado durante trinta anos.
Outro dia narrei-vos a história do pobre da estação ferroviária, que não sabia
quem eu era ou o que quer que fosse acerca de mim, porém que compreendeu a
coisa única que podia torná-lo imenso e que, portanto, teve a coragem de pular
para a frente e deixar o antigo para traz. Assim como em cada primavera toda a árvore
emite novas folhas, assim também deve haver em vós mudança contínua — e vós vos
atemorizais de mudar. Quereis que a Verdade vos seja dada exatamente pelos
velhos métodos, afim de poderdes ficar tranquilos, felizes e por esse modo
degenerar para a estagnação. Não vos falo com rudeza, porém isto é o que está acontecendo
por todo o mundo. Para entenderdes a Verdade, precisais mergulhar. Oh, deveríeis
achar-vos tão ansiosos que quisésseis deixar tudo para um lado e pular — não
insensatamente, não sem discernimento, porém, com cuidado, com sensatez, com a
inteligência que escolhe entre as coisas essenciais e não-essenciais e
então, compreendereis.
Krishnamurti, 5 de agosto de
1929, Acampamento de Ommen