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sexta-feira, 24 de junho de 2016

O preenchimento final de toda a vida

Quero falar esta manhã acerca daquilo que, para mim, é de primordial importância. Havei-vos reunido, aqui, vindos de todos os recantos do mundo, fazendo face a múltiplas dificuldades, a muitas provas, efetuando múltiplos sacrifícios, com um propósito definido em mente. Vieste aqui para averiguar o que eu penso e o que eu digo. Para isto entenderdes, tendes que vir sem ideias preconcebidas. Uma vez e outra tenho repetido isto, em todas as reuniões e em todos os Acampamentos; porém parece ter produzido apenas um efeito mínimo. Este ano vou tornar a minha posição absolutamente clara, sem possibilidade alguma de transigência, de modo que, ao fim do Acampamento, sabereis exatamente o que eu quero dizer, se o quiserdes examinar sem preconceito, com mente ansiosa, desprevenida, e com espírito aventureiro. Quero que entendais o que eu digo de modo que, pelo próprio processo de entendimento, possais começar a viver.

Viver é muito mais importante do que ter teorias inúmeras, essas com as quais todos se acham tão pesadamente sobrecarregados. Para tornar minha posição, para tornar o que digo absolutamente claro, não me preocuparei com nenhuma de vossas teorias, ou crenças, sejam elas quais forem, porém somente com aquilo que for realmente importante, realmente vital, realmente essencial e que é a própria Vida. Para compreenderdes o que eu digo em sua totalidade, necessitais primeiro examinar as várias razões que vos compeliram a vir aqui. Pela análise cuidadosa dessas razões, descerei ao fato fundamental que buscais — cada qual individualmente, não coletivamente — que é o de por vós próprios verificardes essa Verdade, essa Felicidade, essa Libertação, essa perfeição que é a consumação da vida individual. Porém, para chegardes a esse entendimento, tendes que examinar os vários estímulos, as esperanças de salvação ou encorajamento que vos impeliram a virdes a este Acampamento e aos Acampamentos anteriores.

Haveis estabelecido por vós próprios, por meio de autoridade certas crenças que eu não chamarei conhecimento, por não serem baseadas na investigação individual, no esforço individual; e tendes vindo discutir comigo uma vez e outra acerca de vossas crenças autoritativas. Foi-vos dado um computo de crenças, um sistema de pensamento, e aqui viestes para verificar o que eu digo e torce-lo afim de o adaptares às vossas teorias particulares, ao vosso particular dogma, às vossas crenças particulares. A maioria dentre vós acham-se também repletos do desejo de saber quem está falando, se Krishnamurti ou algum outro através dele. Uma vez e outra vo-lo tenho dito, como não conheceis nem a mim nem a esse outro, vosso julgamento, ou o julgamento de outrem, seja quem for, não tem valor.

E a maioria das pessoas que vêm ao Acampamento acham-se incertas em sua busca; não estão seguras de seu entendimento, e desejam ficar bem estabelecidas em suas incertezas, ser confirmadas em seu fraco entendimento. A maioria dentre vós que vindes ao Acampamento, tendes uma coleção de deuses particulares e quereis me adicionar a vossa coleção. Eu sei que isto se torna engraçado, porém de fato é ridiculamente infantil.

Uma vez mais vos digo que a maioria dentre vós acham-se por tal forma embalsamados em seus preconceitos ultimamente adquiridos, que esperam que eu me adapte confortavelmente ao seu esquema de coisas.

Estas são as razões principais que vos determinaram vir aqui.

Sinto ter que falar com franqueza, porém não há vantagem em que um vasto número de pessoas se reúnam aqui todos os anos unicamente pelo desejo de verem seus pequenos anseios satisfeitos. Estes jamais poderão ser satisfeitos por não serem essenciais, por serem vãos e inúteis. Quereis saber qual a espécie  correta de cerimônia que deveis executar, a que deuses deveis cultuar, que preces tendes de proferir, que espécie de crenças deveis sustentar; com tais coisas eu nada tenho que ver. Delas não tratarei mais, sejam quais forem. Não me irei ocupar com vossas crenças, com as exposições autoritativas, que me lançais em face a cada turno de meu discurso, por não terem elas absolutamente valor algum. Do meu ponto de vista, são absolutamente não-essenciais, nenhuma delas vos levará, a vós ou a quem quer que seja no mundo, à absoluta, à incondicionada Verdade.

Por favor, não aceiteis nada do que eu digo sem entendimento porque, se o fizerdes isto, digo-o mais uma vez, tornar-se-á crença autoritativa, a qual, em vez de vos libertar, vos encerrará em uma gaiola ainda mais estreita e vos conduzirá a um desentendimento maior e daí maiores tristezas.

Muitos membros da Ordem da Estrela, também, por todo o mundo, — felizmente a instituição a que pertencem vai ser dispersada — preocupam-se, não com as coisas essenciais da vida, porém antes com a autoridade que está por detrás de quem fala. Se não gostam do que lhes é dito, colocam-no sobre os ombros de Krishnamurti; se é do seu agrado, dizem que é o Instrutor quem fala. Não busquei a pessoa que corporifica a Verdade e sim a própria Verdade em si. Tendes profetas inumeráveis, mediadores que vos dizem quem é ele, se é dez por cento ou sessenta por cento da consciência do Instrutor que opera através de mim, ou ainda se é o próprio Instrutor. É esta uma de vossas teorias mais confortáveis que está pervertendo vosso claro julgamento que desvia a vossa clara percepção. Tendes múltiplas crenças, múltiplas teorias, múltiplas incertezas para vos suster em vossa incerteza. Um homem forte, livre, que haja atingido a meta, um homem que verdadeiramente lute pela perfeição da vida, não possui crenças, pois que as crenças atuam como muletas e encorajamentos. Por causa do medo, em virtude do medo da salvação, pela dependência das coisas ex ternas, haveis criado inúmeros deuses, inúmeros altares, templos, igrejas, e por meio destas buscais aquilo que jamais pode ser encontrado por tais processos. Pelo fato de desejardes buscar a salvação no exterior, o auxílio nas coisas externas, esperáveis que eu me adaptasse confortavelmente e vos ajudasse em vossas trivialidades, em vossas incertezas; julgáveis que me poderíeis adicionar à vossa coleção de deuses inúmeros. Isto é infantil, porque jamais podereis encontrar essa harmonia que é Libertação, vinda do exterior; ela está dentro de vós a todos os instantes.

E a maioria dentre vós acha-se por tal modo embalsamada em preconceitos, em ideias preconcebidas do que é a Verdade, do que é o céu e inferno; tudo para vós é tão claro, dentro de um âmbito estreito, que, quando a Verdade vos aparece, a rejeitais. Não aceitais a Verdade de braços abertos, não a abrigais em vosso coração, por ela não ansiais como o homem que se afoga anseia por ar.

O que vos digo, nada tem que ver com quaisquer coisas não essenciais, com vossos cultos, com as vossas preces, com os vossos ritos, com as vossas crenças, com as vossas inúmeras teorias.

Sois acaso crenças que brincam com joguetes, pondo-lhes nomes, ou buscais o verdadeiro cerne, o verdadeiro coração da Vida? Esta busca não tem valor se puderdes vir a ser encorajados ou desencorajados pelos dizeres de outrem. Digo mais uma vez, e, por favor conservai isto em mente ao passo que vos vou falando, que não deveis acrescentar nada do que eu digo por autoridade, mas, antes, examinai, analisai com inteligência e equilíbrio.

Digo que vos estou falando do todo, do incondicionado, e se vos quiserdes aproximar dessa totalidade da vida, desse preenchimento da vida, não vos deveis preocupar com a embocadura, com o instrumento, porém com o que é proferido. Pelo fato de serdes fracos quereis que vossa fraqueza seja intensificada. Porém, precisamos de criar homens fortes, que entendam o todo e por esse modo alterem as tristezas, as trivialidades que existem no mundo neste momento presente. Homens tais devem brotar destas reuniões e não seres débeis. Pessoas fracas produzem pessoas fracas, os supersticiosos anima a superstição, porém os homens que realmente houverem compreendido, que estejam lutando em prol da coisa única essencial, alterarão o semblante do seu próximo e o deles próprios.

A Verdade é uma terra para a qual não existem caminhos, e dela, não podeis aproximar-vos por uma via qualquer que ela seja. Assim, se vos achardes ansiosos por entender o que vos estou dizendo — deveras ansiosos — então deveis pôr de lado todas essas coisas, sem transigências. Eu estou certo, porém a minha certeza, não deveria determinar preconceitos ou animar à propulsão, fosse a quem fosse. Porém, pelo fato de vos encontrardes ansiosos, desejosos para verificar a Verdade, deveis examinar com inteligente cuidado o que vos vou dizendo. Falo acerca do preenchimento final de toda a vida — ao qual todo o ser humano isoladamente tem de chegar. Se vós, que vos reunis todos os anos neste Acampamento, aos milhares, vos achardes ansiosos pela Verdade, tendes de pôr de lado todos os brincos infantis. Seria muito melhor que ficásseis em vosso jardim de infância com os brinquedos ou então, destruindo todos os brinquedos, viésseis para o mundo onde não existem ilusões, onde existe a Verdade, a certeza e a perfeição que é a Libertação.

Respondereis que não podeis deixar de lado esses joguetes, que sois muito fracos, que vossa moral, vossa integridade não resistirá à tormenta, que necessitais ter todas as pequenas muletas para vos sustentarem em vossa luta. Se honestamente, reconheceis isto, tendes perfeita razão. Então, vosso lugar é no jardim de infância e ninguém vos deve impulsionar a abandoná-lo.

Se falo com veemência, por favor, não penseis que estou, de qualquer modo aborrecido, ralhando convosco ou compelindo-os. Quero que vos certifiqueis por vós mesmos e que não brinqueis com coisas acerca das quais nada sabeis. Seria muito melhor haver cinco pessoas que realmente compreendessem, neste Acampamento, que fossem um perigo para todas as coisas irreais, do que milhares que nada sabem e tem pretensões. Para saber, tendes de vir absolutamente descarregados, pondo de lado todas as coisas infantis, libertos do medo, incondicionados, com o desejo averiguar.

Ou brincai plenamente com brinquedos ou abandonai-os todos.

Sede integralmente por uma coisa ou pela outra, integralmente quentes ou frios.

Caminhe pelo país das sombras e das irrealidades ou então sede um perigo para toda irrealidade e para toda a sombra. Não vedes que não se cogita aqui de um vasto número de pessoas a compelirem-se umas às outras para cumprirem certas coisas, porém que se trata de um assunto individual? Tendes que decidir por vós próprios sobre o que haveis de fazer. Aqui vos tendes reunido durante estes últimos seis anos e ainda brincais com coisas que não tem valor.  As irrealidades rodeiam-vos cada vez mais. Não haveis tido a força para romper com toda a transigência.

Sustento eu, sem sombra de dúvida, que sou a Verdade integral, incondicionada, não a parte dela, porém o todo. E se quiserdes compreender o todo tendes que a ele vir absolutamente descarregados. Se quiserdes descobrir se estou certo ou errado, se encontrei aquilo que é eterno ou meramente o que é transitório, tendes que vir para esta descoberta com um espírito ardente e aventuroso. Como podereis assegura-vos, se vós próprios vos achais sobrecarregados com todas essas coisas infantis que não tem valor,que não podem ser confrontadas com aquilo que é eterno? Efetuais inúmeros sacrifícios com desconforto e muitas coisas que são fisicamente desagradáveis, porém mental e emocionalmente achai-vos sobrecarregados, pesados de preconceitos e, assim, sois incapazes de descobrir por vós próprios se o que estou dizendo é verdadeiro ou é falso, real ou irreal, essencial ou não essencial.

Assim, pois, se me é dado sugerir-vos algo, durante esta semana, enquanto sacrificais vossos confortos físicos, o que é muito fácil, é que deveríeis igualmente por de lado brincos infantis e esforçar-vos para realizardes a liberdade, a imensidade, a incorruptibilidade da Vida. Uma vez que tenhais visto, quando houverdes alcançado um vislumbre dessa visão, então sabereis que aquilo de que eu falo não não é destrutivo nem construtivo, que não é dinâmico nem estático, pois que eu falo acerca da Vida, que é o Todo, que é a semente de todas as coisas, e, para compreender o todo não podeis vir sobrecarregados com uma parte qualquer, porém, ao contrário, deveis achar-vos livres, ansiosos, em vosso desejo de descobrir.

Krishnamurti, 2 de agosto de 1929, Acampamento de Ommen, Discurso de Abertura   
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill