Antes de responder a estas perguntas, há um assunto ao qual me desejo referir. Tenho ouvido uma vez e outra, não somente aqui, em Ommen, durante estes Acampamentos, porém também em Ojai e na Índia, que membros da Ordem que me escutam, pensam que o Instrutor verdadeiro não pode ser tão duro como eu sou, que ele deve ser realmente compassivo, e que, pelo fato de ser eu tão rude, tão direto, não posso ser o Instrutor real. Isto é tão em absoluto infantil que nem mesmo quisera discuti-lo, porém falo-ei uma vez para tornar isto absolutamente claro. Tendes a ideia de que, para ser-se compassivo é preciso ser fraco, e atribuis tal fraqueza aqueles grandes Instrutores a quem pensais conhecer. Ouvi isto também a alguns de vossos líderes e, portanto, quero tornar isto claro. Como vos disse outro dia, se fordes a um cirurgião, pelo fato de estardes doentes, tendes que suportar a dor da operação. Dá-se exatamente a mesma coisa comigo. Não é uma questão de ser direto ou rude, porém necessitais ser sacudidos e, dado não gostardes do abalo, atribuis vossas ideias de compaixão e de amor, que são essencialmente fracas, a alguém que não é fraco e dizeis que um tal Instrutor não pode ser tão direto, forte e empático. Isto não é questão de compaixão ou falta de compaixão, é uma questão de Verdade, e tendes que fazer face a tal questão sem olhar aos vossos mesquinhos temores. Tenho uma vez ou outra repetido que vos deveis aproximar da Verdade sem entraves, sem pequenos prejuízos, sem ideias preconcebidas. Se quiserdes ser homens fortes, não atribuais vossos diversos atributos de fraqueza, de amor corruptível, de fraco pensamento, à Verdade. Não vos deixeis persuadir por ninguém — posto eu tema o façais — de que a Verdade possua qualquer das qualidades que os homens estão momentaneamente desenvolvendo em direção ao conseguimento. Tende isto em vossa mente, e agora, vou proceder à resposta das perguntas endereçadas.
Krishnamurti, 5 de agosto de 1929, Acampamento de Ommen