J. Krishnamurti, The Book of Life
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Uma imensidão além de qualquer medida
J. Krishnamurti, The Book of Life
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Sensações de solidão durante a emergência espiritual
O que devo fazer? Aonde devo ir?
Pela cobra da "ausência"
Para as pessoas nesse estado, até o calor humano e a segurança familiar são inacessíveis.
Um jovem professor fala sobre a solidão que viveu durante uma emergência espiritual: "Eu costumava me deitar na cama, ao lado de minha esposa, à noite, e me sentia completa e inegavelmente sozinho. Ela foi uma grande ajuda e um grande conforto para mim durante a minha crise. Mas, durante esse período, nada que ela fizesse poderia me ajudar — nenhum carinho, nenhum grau de encorajamento."
Sempre ouvimos pessoas em emergência espiritual dizerem: "Ninguém nunca passou por isso antes. Sou o único que já se sentiu desse jeito!" Essas pessoas não só sentem que o processo é único para elas, mas também estão convencidas de que ninguém na história jamais passou pelo que estão passando. Talvez porque se sintam tão especiais, acreditem também que determinado terapeuta ou professor confiável seja o único que possa conseguir compartilhar de seus sentimentos e ajudá-las. Suas fortes emoções e percepções estranhas as estão levando para tão longe de suas vivências anteriores que facilmente assumem o fato de serem anormais. Sentem que há algo de muito errado com elas e que ninguém seria capaz de compreendê-las. Se têm terapeutas que também sofrem de mistificação, suas sensações de total isolamento aumentam.
Mesmo que as pessoas nesse estado estejam conscientes da variedade de planos teóricos e sistemas espirituais que descrevem estados semelhantes, encontrarão diferença entre estudá-los e estar no meio deles. Isso é ilustrado pelo templo de Sarah, uma estudante de Antropologia.
As anotações de aula de Sarah estavam cheias de descrições da vida e do ritual xamânico indígena no México central. Quando mais tarde encontrou elementos xamânicos nítidos e reais como parte da sua emergência espiritual, não conseguiu fazer a ligação entre seus estudos e suas experiências até algum tempo depois. Na classe, seu relacionamento com o assunto em questão fora estritamente intelectual; ela supunha que o comportamento e as percepções dos índios não tinham relevância para ela. Seus estados de transformação foram tão imediatos e abrangentes que foi incapaz de reconhecê-los em sua abordagem exclusivamente erudita.
Durante a crise existencial, a pessoa se sente separada do seu eu mais profundo, do mais alto poder ou de Deus — o que quer que seja de que ele dependa além de recursos pessoais para ter forças e inspiração. O resultado é o mais devastador tipo de solidão, uma total e completa alienação existencial que penetra todo o ser. Isso foi revelado por uma mulher depois de sua emergência espiritual: "Eu estava envolvida por uma solidão enorme e permanente. Eu sentia como se cada célula minha estivesse num estado de extrema solidão. Sonhava estar num rochedo com muito vento, olhando para o céu negro e ansiando por entrar em contato com Deus; e eu só encontrava mais escuridão. Era mais do que o abandono humano; era um abandono total."
Essa profunda sensação de isolamento parece ser acessível a muitos seres humanos, independentemente de sua história e é, quase sempre, um ingrediente fundamental na transformação espiritual. Irina Tweedy, uma mulher russa que estudou com um mestre sufi na índia, escreveu em The Chasm of Fire:
A Grande Separação está aqui... uma sensação especial e estranha de solidão absoluta... não pode ser comparada a nenhum sentimento de solidão pelo qual todos tenhamos passado alguma vez na vida. Tudo parece escuro e inanimado. Não há nenhum propósito em lugar algum ou em coisa alguma. Nenhum Deus para quem rezar, nenhuma esperança. Nada, de modo algum.
Essa sensação de extremo isolamento é refletida na desolada prece de Jesus na cruz: "Meu Deus, meu Deus. Por que me abandonaste?" As pessoas que estão assim perdidas freqüentemente citam o exemplo do momento mais sombrio de Cristo, na tentativa de explicar a proporção desse sentimento monumental. Podem não encontrar nenhuma ligação com o Divino; ao contrário, têm uma sensação permanente e angustiosa de que foram abandonadas por Deus. Mesmo quando a pessoa é cercada de amor e apoio, pode imbuir-se de uma solidão profunda e dolorosa. Quando desce ao abismo da alienação existencial, nenhum calor humano pode mudar isso.
As pessoas às voltas com uma crise existencial não se sentem apenas isoladas, mas também insignificantes, como pontinhos inúteis na vastidão do cosmos. O universo parece ser absurdo e sem sentido, e nenhuma atividade humana aparenta ter importância. Essas pessoas podem ver a humanidade como que sendo envolvida por um estilo de vida em que "um quer engolir o outro", sem um objetivo que valha a pena. Por esse ângulo, não podem entender nenhum tipo de ordem cósmica e não têm contato com a força espiritual. Chegam a tornar-se extremamente depressivas, desesperadas e até suicidas. Freqüentemente, percebem que mesmo o suicídio não é a solução; parece que não há nenhuma saída para o seu sofrimento.
Comportamento isolado
Uma pessoa em emergência espiritual pode parecer "diferente" por uns tempos. Numa cultura de padrões estabelecidos e freqüentes expectativas rigorosas, alguém que comece a mudar internamente pode não parecer ajustado. Talvez um dia suba na mesa de trabalho ou na mesa de jantar e queira falar sobre novas idéias ou descobertas como, por exemplo, sentimentos sobre a morte, questões a respeito do nascimento, lembranças da velha e obscura história da família, perspectivas incomuns para os problemas mundiais ou sobre a natureza básica do universo.A estranha qualidade desses conceitos e a intensidade com que uma pessoa os apresenta pode induzir colegas, amigos e membros da família a se afastarem, e a sensação de solidão, já presente, aumenta. Seus interesses e valores podem mudar, e a pessoa talvez não queira mais participar de certas atividades. Beber com os amigos ao entardecer não é mais tão interessante quanto costumava ser; pode parecer até repugnante.
As pessoas nessa situação podem sentir-se muito diferentes por causa da natureza das experiências que estão vivendo. Elas percebem que estão crescendo e mudando — enquanto o resto do mundo continua parado — e que ninguém pode segui-las. Podem ser induzidas a atividades que as pessoas do seu convívio não entendam ou não apoiem. Seu súbito interesse por orar, cantar, meditar ou por qualquer sistema esotérico, tais como a Astrologia ou a Alquimia, parecerá estranho para a família e para os amigos, podendo aumentar sua necessidade de afastamento.
Se uma pessoa nesse estágio é classificada como um paciente psiquiátrico, os rótulos e tratamentos que lhe são dados combinarão com sua sensação de isolamento. Os sentimentos de separação são reforçados cada vez que lhe é passada a mensagem verbal ou não verbal: "Você está doente. Você é diferente."
As pessoas em processo de transformação podem mudar também sua aparência. Elas cortam ou deixam crescer os cabelos ou são atraídas por roupas que refletem um desvio do padrão. Os exemplos são encontrados na cultura psicodélica dos anos 60 e 70, quando muitas pessoas tiveram revelações espirituais e, em vez de expressá-las de modos aceitáveis pela sociedade, sentiram-se impulsionadas a transferi-las, formando uma cultura à parte ou "do contra", caracterizada pelas roupas expressivas, jóias, corte de cabelo e até mesmo carros pintados com cores brilhantes.
Outros exemplos podem ser encontrados em vários grupos espirituais. Pode-se esperar que os iniciados no zen-budismo raspem suas cabeças e tenham uma vida de simplicidade exterior. Os seguidores do guru Osho não só se vestiam com roupas de uma certa cor como também usavam uma mala, ou rosário, contendo uma imagem do mestre, e mudavam seus nomes para nomes indianos. Como parte do judaísmo ortodoxo, os homens apresentam freqüentemente yarmulkes e barbas, seguindo um severo estilo de vida religioso. Uma comunidade que acolhe pessoas que são praticantes espirituais tolerará ou até encorajará esse tipo de comportamento. No entanto, alguém que decida de repente adotar esses comportamentos que saltam aos olhos enquanto estiver vivendo fora de uma situação de apoio pode passar por um isolamento ainda maior.
Para muitas pessoas em emergência espiritual a transformação acontece sem esses tipos de manifestações de alienação exterior. Em outras palavras, porém, mais mudanças aparentes ocorrem na conduta. Para alguns, esses novos modos de comportamento são fases passageiras do desenvolvimento espiritual, enquanto que, para outros, podem tornar-se parte permanente de um novo estilo de vida.
Christina Grof e Stanislav Grof - A tempestuosa busca do ser
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Observando nossos variados meios de fuga da solidão
sexta-feira, 19 de julho de 2013
O que fazer com a dor da solidão?
segunda-feira, 27 de maio de 2013
O que buscamos nos relacionamentos?
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Compreendendo o pleno significado da solidão
Por que vocês não ousam fazer face à solidão? Não ousam se tornarem inteligentes e, por este meio, destruir a pobreza e a vacuidade.
O que é que fazemos, quando estamos isolados? Tentamos escapar da solidão, por meio da companhia, dos divertimentos, da adoração, da prece, por meio de todas essas hábeis, bem conhecidas e firmadas fugas. Por que é que fazemos isto? Pensamos poder assim disfarçar o isolamento, por meio dessas fugas, mediante esses alívios. Será possível para nós, disfarçarmos uma coisa que é visceralmente molesta? Momentaneamente, podemos, porém, o isolamento continuará, futuramente. Portanto, onde houver fuga, tem de haver continuidade do isolamento. Para o isolamento não há substituições. Se pudermos compreender isto com todo o nosso ser, completamente; se pudermos compreender que não há possibilidade de escapar da solidão, do medo, o que é que acontece então?
A maioria dentre vocês não poderá responder, porque jamais experimentaram o problema de modo completo. Não sabem o que acontecerá, quando houverem, por completo obstruído todas as vias de fuga e não houver a mínima possibilidade de fuga.
Eu lhes sugiro para que façam essa experiência. Quando estiverem isolados, tornem-se plenamente apercebidos e verificarão que a mente de vocês quer fugir, quer escapar da solidão. Quando a mente estiver apercebida de que está fugindo e, ao mesmo tempo, perceber o absurdo da fuga, nessa mesma compreensão a solidão, na verdade, desaparece.
Quando vocês de defrontarem com um problema e não houver possibilidade de uma saída, então o problema cessará, coisa que não significa a aceitação dele. Ora, vocês buscam um remédio para a solidão, uma substituição e, portanto, o problema não se relaciona com o isolamento, porém sim, com o saber qual o remédio para o isolamento, qual o melhor meio para dele escapar ou disfarçá-lo. Quando, porém, a mente não mais busca uma fuga, então o isolamento ou o medo terão um significado muitíssimo diferente.
Vocês não podem, no entanto, aceitar minhas palavras neste sentido. Tudo o que podem fazer é dizer que não sabem. Não sabem se o isolamento e o temor irão desaparecer; porém, experimentando, compreenderão o pleno significado da solidão. Se meramente buscarmos remédio para a solidão ou para o medo, nos tornaremos muito superficiais, não é assim? Para o home que tem tudo o de que precisa, como para o homem que de tudo necessita, para ambos, a vida se torna muito vazia. Na mera busca de remédios, torna-se a vida sem significado, oca; ao passo que, se realmente experimentarem o problema ardente e não houver maneira possível de fugir, então, verificarão que esse problema executa para vocês uma coisa milagrosa.
Não mais será um simples problema, o examiná-lo, o vivê-lo, o compreende-lo se tornará intensamente vital.
Só existe um movimento da verdade: é quando a mente não está mais colhida pelo medo, com todas as suas ilusões; quando não mais busca orientação, nem ser guiada. A solidão não é exclusividade; ela vem à existência, quando há o discernimento do que é falso.
Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK
sábado, 16 de fevereiro de 2013
É possível, pelo pensamento, descobrir-se uma harmônica maneira de viver?
Vós viveis fragmentariamente: no escritório sois diferentes do que sois em casa; tendes pensamentos “particulares” e pensamentos “públicos”. Assim, percebendo essa enorme separação e contradição existente entre os fragmentos, perguntamos se o pensamento pode uni-los, efetuar a integração de todos os elementos. É ele capaz de tanto?
Consequentemente, cumpre-nos investigar a natureza e estrutura do pensamento. Pode o pensamento, a atividade pensante, o processo intelectual de raciocinar, produzir uma vida harmoniosa? Para investigarmos isso, cumpre-nos investigar, examinar atentamente a natureza e estrutura da pensamento; isso significa que iremos examinar juntos o vosso pensar, não a descrição ou a explicação dada pelo orador, porquanto a descrição nunca é a coisa descrita e tampouco a explicação é a coisa explicada. Portanto, não nos deixemos enredar na explicação ou descrição, mas investiguemos juntos, verifiquemos juntos como o pensamento funciona e se ele é realmente capaz de produzir uma maneira de vida totalmente harmônica, não contraditória, completa em todas as ações. Isso é muito importante, porque, se desejamos um mundo totalmente transformado, um mundo sem corrupção, uma maneira de vida em si mesma significativa, temos de indagar se o pensamento é capaz de criar tal maneira de vida. E indagar, também, o que é o sofrimento, se ele pode findar, e o que é a dor, o medo, o amor, a morte.
(…) Cumpre, pois, investigar a sério a natureza do pensamento.
Que é pensar? Fazei a vós mesmos esta pergunta: Que é pensar? Temos de compreender o significado profundo do pensamento, porque nós vivemos pelo pensamento. Se fazemos qualquer coisa, ou a fazemos refletidamente, ou a fazemos mecanicamente, em conformidade com o padrão de ontem, a tradição. Temos, portanto, de ver claramente qual é a função do pensamento. Se vos observais mui atentamente, não descobris que o pensamento é reação da memória, sendo essa memória experiência, conhecimento? Se não tivésseis nenhum conhecimento, nenhuma experiência, nenhuma memória, não haveria pensar. Estaríeis vivendo num estado de amnésia. O pensamento, como vimos, é reação da memória, e a memória está condicionada pela cultura em que viveis, pela educação que recebestes e a propaganda religiosa que vos foi instalada; o pensamento é reação da memória, isto é, do saber e da experiência nela acumulados. Necessitamos do conhecimento, da memória, para acharmos o caminho de casa, para falarmos uns com os outros, mas o pensamento, sendo reação da memória, nunca é livre, é sempre velho.
E o pensamento — essa reação do “velho”, da memória — é capaz de descobrir uma maneira de viver totalmente harmônica e clara? Todavia, queremos descobri-la por meio do pensamento ; digo: “pensarei nisso a fundo e descobrirei a maneira de viver harmonicamente”. E, já que o pensamento é reação do passado, de nosso condicionamento, não tem nenhuma possibilidade de descobrir a maneira harmoniosa de viver. Estais entendendo? O pensamento não pode descobri-la e, entretanto, usamos o pensamento para descobri-la. Bem sabemos que o pensamento é necessário, para podermos voltar para casa, para ganharmos a vida, para fazermos qualquer coisa; num certo nível, ele é absolutamente necessário, mas, quando se trata de descobrir uma maneira de viver diferente da atual — que é de desarmonia — o pensamento se torna um empecilho.
Ao perceberdes esta verdade, que o pensamento, por mais racional e lógico, por mais são e claro que seja, é incapaz de descobrir aquela maneira de vida, qual o estado de vossa mente? Estais-me acompanhando? estais trabalhando com o orador, ou estais meramente ouvindo palavras e ideias? Compreendeis esta pergunta? espero estejais trabalhando com igual ardor e empenho, porque, do contrário, nada descobrireis. E nós, que vivemos neste mundo insano, temos de descobrir uma nova maneira de viver. Ora, se o pensamento é incapaz de descobri-la, e compreendemos isso como um fato verdadeiro e não como uma explicação verbal, qual é então o estado da mente, da vossa mente? Qual é o estado da mente quando percebe um fato verdadeiro?* Não me respondais, por favor. Nunca vos deixais entranhar de uma verdade;não “ficais com ela”, mas estais sempre prontos a saltar com palavras e explicações, sabendo muito bem que a explicação não é a coisa real.
Perguntamos, pois: Qual é o estado da mente que percebe a necessidade do pensamento e percebe também que o pensamento, por mais que se esforce, não pode de nenhum modo produzir aquela beleza de uma vida totalmente harmônica? Esta é uma das coisas mais difíceis de transmitir, um dos assuntos mais difíceis de tratar, porque até agora só temos vivido de experiências alheias, sem percepção direta; temos medo da percepção direta. E, diante deste desafio, vossa tendência é fugir, refugiar-vos em palavras e explicações; mas cumpre por de lado todas as espécies de explicação. Assim, qual o estado da mente, isto é, qual a natureza da mente que percebe a verdade? Por ora, deixemos de lado este ponto, porque não há tempo para entrarmos em pormenores e há ainda assuntos a tratar. A ele voltaremos.
(…) Ante o nosso sofrimento, tratamos de fugir, e as palavras, as teorias, as explicações e crenças nos oferecem os desejados meios de fuga. Se morre meu filho, tenho uma dúzia de explicações. Fujo, por medo à solidão. E que acontece? Torno a adormecer. Mas, o sofrimento é uma espécie de desafio. Se “ficardes” com ele, completamente, sem fugir, sem “verbalizar”, sem nenhum movimento de pensamento, descobrireis toda a sua estrutura.
E cumpre-vos, também, descobri, por vós mesmo, se o medo pode terminar — não apenas o medo físico, mas também os temores internos, psicológicos.
Que é o medo? É ele produto do pensamento? Obviamente, o medo resulta do pensamento. Pensais numa certa coisa que, ontem ou no ano passado, vos causou dor, física ou de outra espécie, e sentis medo; é desse modo que o pensamento nutre o medo e lhe dá continuidade. O pensamento projeta, também, o medo no futuro: posso perder meu emprego, minha posição, meus prestígio, minha reputação. Compreendeis? O pensar tanto no passado como no futuro gera medo. Por conseguinte, perguntamos: pode o pensamento cessar?
E note-se, ainda, que o pensamento sustenta o prazer. O pensar no prazer que ontem experimentei, contemplando o pôr do Sol — tão maravilhoso, tão belo, tão estimulante, etc. — sustenta aquele prazer.
Temos, pois, o sofrimento, o medo, o prazer e a alegria.
A alegria difere do prazer? Não sei se alguma vez a conhecestes. A alegria “acontece”, vem subitamente. Mas, não se sabe como, o pensamento dela se apodera e a reduz a prazer; e, assim, dizeis: “Quero experimentar de novo aquela alegria”. O pensamento, pois, sustenta e nutre o prazer, o medo, e dá continuidade ao sofrimento.
E, por fim, há o medo da morte, o medo fundamental do homem. Dele trataremos mais tarde.
Agora, ao perceberdes que o pensamento perpetua o prazer e o medo, e que evitar o medo, mediante diferentes formas de fuga, deforma a mente e, por conseguinte, a torna incapaz de compreender de todo o medo — qual o estado de vossa mente ao perceberdes esta verdade? E qual o estado da mente que sabe quando o pensamento é necessário, quando deve ser empregado, logicamente, objetivamente, equilibradamente, e sabe também que o pensamento, que é reação do conhecimento, ou seja, do passado, se torna um obstáculo a uma maneira de viver isenta de contradição? Qual o estado de vossa mente quando dizeis: “Compreendo”? Ela está completamente vazia e em silêncio. Não é exato isso? Só se pode ver uma coisa bem claramente quando não há escolha. Havendo escolha, há confusão. Só a mente confusa escolhe, discrimina entre o essencial e o não essencial; mas o homem que vê com clareza não faz escolha.
Há, pois, uma ação que vem quando a mente está vazia de todo o movimento de pensamento, exceto aquele movimento que é necessário quando o pensamento deve funcionar. A mente é então capaz de dar atenção aos fatos da vida diária. Mas, ela é capaz de funcionar dessa maneira se sois muçulmano, budista, hinduísta, e estais condicionado por esse fundo? Não é, evidentemente. Por conseguinte, se perceberdes esse fato, deixareis de ser muçulmano, cristão, e vos tornareis outra coisa bem diferente — não algum dia, no futuro, mas agora, neste mesmo momento. De outro modo, jamais vereis a verdade. Sobre ela podereis falar interminavelmente, ler todos os livros do mundo, mas jamais alcançareis sua beleza e vitalidade. Assim, a mente que investiga, que faz perguntas fundamentais, indaga também se a sociedade pode ser transformada radicalmente, fundamentalmente — não sua estrutura econômica, mas sim, a estrutura psicológica. Porque, se a psique não for transformada, continuareis a fazer, exteriormente, as mesmas coisas — modificadas, talvez, mas sempre segundo o velho padrão.
Cabe-vos, pois, fazer esta pergunta fundamental; a ela ninguém pode responder senão vós mesmo. Não há confiar em ninguém. Deveis, portanto, observar e, observando, aprender. Assim, pode a mente manter-se completamente desperta, observando, a fim de ver a verdade relativa a qualquer coisa e, vendo-a, atuar — assim como atuais em presença de um perigo? Ao verdes um perigo, atuais instantaneamente. Do mesmo modo, ao verdes, por inteiro, a verdade relativa a qualquer coisa, há ação imediata.
Krishnamurti — Nova Deli, 13 de dezembro de 1970
Extraído do livro: O Novo Ente Humano – Ed. ICK
(*) A mente está vazia e em silêncio, conforme Krishnamurti explica mais adiante (Nota do tradutor)
sábado, 29 de dezembro de 2012
Quando a pessoa se torna consciente, se torna só
Você não pode tornar outra pessoa responsável por sua evolução. Aceitar esta situação dá-lhe forças. Você está no seu caminho para crescer, para evoluir.
Nós criamos deuses, ou nos refugiamos nos gurus, de tal forma que não tenhamos responsabilidade por nossas próprias vidas, por nossa própria evolução. Nós tentamos colocar a responsabilidade em algum lugar distante de nós. Se nós não somos capazes de aceitar algum deus ou algum guru, nós tentamos então escapar da responsabilidade através de intixicantes, ou drogas, através de alguma coisa que nos torne inconscientes. Mas estes esforços para negar a responsabilidade são absurdos, juvenis, insfantis. Eles apenas postergam o problema; não são soluções. Você pode postergar até à morte, mas o problema ainda permanece, o seu novo nascimento continuará no mesmo caminho.
Uma vez que você começa a se tornar consciente de que somente você é responsável, não há escape através de nenhum tipo de insconsciênia. E você é tolo de tentar escapar, porque a responsabilidade é uma grande oportunidade para a evolução. Da luta que é criada, algo novo pode evoluir.
Tornar-se consciente significa saber que tudo depende de você. Mesmo seu deus depende de você, porque ele é criado por sua imaginação. Tudo no fundo é uma parte de você, e você é responsável por ela. Não há ninguém para ouvir suas desculpas, não há cortes-de-apelos. Toda responsabilidade é sua.
E você é sozinho, absolutamente sozinho. Isto precisa ser compreendido muito claramente. No momento em que uma pessoa se torna consciente, ela se torna só. Assim não fuja desse fato através da sociedade, dos amigos, das associações, das multidões. Não fuja dele! É um grande fenômeno; todo o processo da evolução trabalha em direção a isso. A consciência chega ao ponto agora onde você sabe que está só. E somente no estado de ser sozinho é que você pode atingir a iluminação.
Eu não estou falando de solidão. O sentimento de solidão é aquele que vem quando o indivíduo foge do estado de ser sozinho, quando o indivíduo não está pronto para aceitá-lo. Se você não aceitar o fato de ser sozinho, então você se sentirá solitário. Então você encontrará alguma multidão ou alguns meios de intoxicação nos quais esquecer-se a si mesmo. A solidão criará sua própria mágica do esquecimento.
Se você puder estar só, mesmo que por um momento apenas, totalmente só, o ego morrerá; o “Eu” morrerá. Você explodirá, você não será mais. O ego não pode permanecer só. Ele só pode existir em relação a outros. Sempre que você está só, um milagre acontece. O ego torna-se fraco, agora ele não pode continuar a existir por muito tempo. Assim, se você pode ser corajoso o bastante para estar só, você gradualmente tornar-se-á sem ego.
Estar só é um ato muito consciente e deliberado, mais deliberado do que o suicídio, porque o ego não pode existir sozinho; mas ele pode existir no suicídio. As pessoas egoísticas são as mais propensas ao suicídio. O suicídio está sempre em relação a alguém. nunca é um ato de isolamento. No suicídio, o ego não sofrerá. Ao contrário, tornar-se-á mais expressivo. Entrará em um novo nascimento com força maior.
Através do isolamento interior o ego se desmancha. Não há nada com o que se relacionar, desta forma não pode existir. Assim, se você está pronto para estar só, não vacilantemente — nem retrocendendo nem fugindo, apenas aceitando o fato do isolamento tal como ele é —, tornar-se-á uma grande oportunidade. Então você é como uma semente que tem muito potencial nela. Mas lembre-se, a semente deve destruir-se a si mesma para a planta crescer. O ego é uma semente, uma potencialidade. Se ele é destruído, o divino nasce. O divino não é nem o “Eu” nem o “Vós”, é o um. Através do isolamento interior você chega a esta unicidade.
Você pode criar falsos substitutos para esta unicidade. Os hindus tornam-se um, os cristãos tornam-se um, os maometanos tornam-se um; a Índia é um, a China é um. Isto são apenas substitutos para a unicidade. A unicidade vem somente através do isolamento interior total.
Uma multidão pode chamar a si mesma de um, mas a unicidade está sempre em oposião a alguma outra coisa. Já que a multidão está com você, você se sente descontraído. Agora você já não é mais o responsável. Você não destruiria um templo sozinho, você não incendiaria uma mesquita sozinho, mas como parte de uma multidão você pode fazê-lo, porque agora você não individualmente responsável. Todos os outros são responsáveis, assim ninguém em particular é responsável. Não há consciência individual, somente consciência grupal. Você regride na multidão e se torna tal como um animal.
A multidão é um falso substituto para o sentimento de unicidade. Aquele que está consciente da situação, consciente da sua responsabilidade como um ser humano, consciente da dificuldade, da tarefa árdua que vem com o ser humano, não escolhe quaisquer substitutos falsos. Ele vive com os fatos como são; ele não cria qualquer ficção. Suas religiões, suas ideologias políticas, são apenas ficções, criando um sentimento ilusório de unicidade.
A unicidade vem somente quando você se torna ausente de ego, e o ego pode morrer somente quando você está totalmente só. Quando você está completamente só, você não é. Aquele exato momento é o momento da explosão. Você explode para dentro do infinito. Isto, e somente isto, é evolução. Eu a chamo revolução, porque não é inconsciente. Você pode tornar-se sem ego ou não. Depende de você.
Estar só é a única revolução real. Muita coragem é necessária. Somente um Buda está só, somente um Jesus ou um Mahavir está só. Não que eles tenham deixado suas famílias, abandonando o mundo. parece assim, mas não é assim. Eles não estiveram abandonando coisas negativamente. O ato era positivo; era um movimento em direção ao isolamento. Eles não estavam abandonando. Eles estavam em busca de encontrarem isolamento interior.
A busca toda é por aquele momento de explosão quando o indivíduo está isolado. No isolamento há regozijo. E apenas então a iluminação é obtida.
Nós não podemos estar isolados, os outros não podem tampouco estar isolados, assim nós criamos grupos, famílias, sociedades, nações. Todas as nações, todas as famílias, todos os grupos, são feitos de covardes, daqueles que não são corajosos o suficiente para esteram sós.
Coragem real é a coragem de estar só. Significa entendimento consciente do fato de que você é sozinhoe você não pode ser diferente. Você pode ou enganar-se a si mesmo, ou viver com este fato. Você pode continuar enganando-se a si mesmo por vidas e vidas, mas continuará simplesmente num círculo vicioso. Somente se você viver com este fato do isolamento, o círculo é quebrado e você pode vir ao centro. Aquele centro é o centro da divindade, do todo, do santo.
Osho — A Psicologia do Esotérico
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Enfrentando nossa tremenda solidão e vazio
Pergunta: Que queríeis dizer ao declarardes, há dias, que devemos ser perturbados?
Krishnamurti: Peço-vos não considerar-me como uma autoridade. Isso seria uma coisa terrível. Mas podeis ver por vós mesmo que o desejo de não sermos perturbados é uma de nossas principais necessidades. E é possível que a mente, o intelecto, ao deter seu incessante “tagarelar”, descubra uma grande perturbação interior. Podeis ver por vós mesmo que vossa mente vive ocupada — com a esposa, o marido, o sexo, a nacionalidade, Deus, sobre onde obter a próxima refeição, etc. E já procurastes averiguar por que ela vive ocupada, e que aconteceria se não estivesse ocupada? Se o fizerdes, vos vereis frente a frente com algo que nunca pensastes; e esse algo pode ser um fato extremamente perturbador. E é realmente. Esta constante ocupação da mente pode ser uma simples fuga ao fato, ou seja, nossa tremenda solidão e vazio. E essa perturbação precisa ser enfrentada e profundamente examinada.
Krishnamurti — 10 de setembro de 1961
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Desaparecendo com todo sentimento de solidão e medo
Onde não existe o medo, está a beleza — não a beleza de que falam os poetas, aquela que os artistas pintam etc., porém coisa bem diferente. e para descobrir a beleza, um homem terá de conhecer esse isolamento completo — ou, melhor, não terá de conhecê-lo, pois ele já existe. Vós fugistes dele, mas ele continua existente e vos segue sempre. Ele lá está, em vosso coração e em vossa mente, nos mais profundos recessos de vosso ser. Vós o encobristes, fugistes dele; mas ele continua existente. E a mente tem de passar por ele, como quem se submete à purificação pelo fogo. Ora, pode a mente passar por ele sem reação, sem dizer que é um estado horrível? No momento em que há reação, torna-se existente o conflito. Se vós o aceitais, continuareis debaixo de seu peso; e se o rejeitais, tornareis a encontrá-lo na primeira volta do caminho. A mente, pois, tem de passar por ele. Estais-me acompanhando? A mente é aquela solidão, não precisa de passar por ela; ela é a solidão. Quando pensais em termos de “passar por uma coisa” para alcançar outra, já estais em conflito. No momento em que dizeis: “De que maneira devo passar pela solidão, de que maneira devo olhá-la?” — nesse momento já vos achais de novo em conflito.
Existe, pois, vazio, uma solidão extraordinária que nenhum Mestre, nenhum guru ou idéia, nenhuma atividade poderá afastar de vós. Já andastes “mexendo” com essas coisas, já vos entretivestes com todas elas; mas elas não podem preencher esse vazio; ele é um abismo sem fundo. Mas deixa de ser esse “abismo sem fundo” no momento em que o experimentais. Compreendeis?
Para que a mente possa ficar inteiramente livre de conflito, total e completamente livre de apreensão, medo e ansiedade, torna-se necessário o experimentar desse extraordinário sentimento de não relação com alguma coisa; daí provém o sentimento de solidão. Não imagineis que já o tendes; isso é muito difícil. Só quando temos esse sentimento de solidão em que não há medo é que existe o movimento para o imensurável; porque então não há ilusão, não há fabricante de ilusão, não há o poder de criar ilusão. Enquanto existe conflito, existe o poder de criar ilusão; e com a total cessação do conflito, o temor deixa de existir completamente, e, portanto, não há mais buscar.
Não sei se compreendestes. Afinal, todos vós estais aqui porque andais a buscar. E se examinardes isso, que é que estais buscando? Estais em busca de algo existente além de todo esse conflito, miséria, sofrimento, agonia, ansiedade. Buscais uma saída. Mas, se se compreende isso de que estivemos falando, cessa então toda a busca — e esse é um extraordinário estado mental.
Como sabeis, a vida é um processo de desafio e reação, não? Temos o desafio exterior: o desafio da guerra, da morte, de dúzias de coisas diferentes, e reagimos. O desafio é novo, mas todas as nossas reações são sempre velhas, condicionadas. Não sei se isto está claro. Para reagir ao desafio, eu preciso reconhecê-lo, não? E se o reconheço, é porque o interpreto em termos de passado; portanto, ele é “o velho”, evidentemente. Vede bem isso, por favor, porque desejo ir pouco mais longe.
Para o homem que vive muito interiormente, os desafios exteriores perderam toda a importância; mas ele continua a ter seus desafios e reações interiores. Porém, eu estou falando a respeito da mente que já não busca, e, portanto, já não tem desafio e reação. E este não é um estado de satisfação, de contentamento, um estado de placidez qual de uma vaca. Quando compreendemos o significado do desafio e da reação exteriores, e o significado do desafio interior que apresentamos a nós mesmos, e a respectiva reação, e rapidamente passamos por tudo isso — sem levarmos nisso meses e anos — a mente, então, já não está sendo moldada pelo ambiente; já não é influenciável. A mente que passou por essa extraordinária revolução pode enfrentar todo e qualquer problema, sem que nenhum problema deixe marca nem raízes. Desapareceu, então, todo sentimento de medo.
Não sei até que ponto percebestes o que estive explicando. Notai que escutar não significa apenas ouvir; escutar é uma arte. Faz parte do autoconhecimento; e se uma pessoa escutou realmente, e penetrou profundamente em si mesma, isso é uma purificação. E o que foi purificado recebe uma benção que não é a benção das igrejas.
Krishnamurti — 18 de maior de 1961
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Conhecendo as implicações da solidão
Questionador: Sinto-me muito só e anseio por um relacionamento humano íntimo. Já que não consigo arranjar companhia, o que devo fazer?
Krishnamurti: Uma das nossas dificuldades é, sem nenhuma dúvida, o fato de queremos ser felizes por meio de alguma coisa, por meio de uma pessoa, de um símbolo, de uma ideia, da virtude, por meio da ação, por meio da companhia. Pensamos que a felicidade, a realidade ou o nome que lhe quiserem dar pode ser encontrada por intermédio de alguma coisa. Logo, sentimos que, através da ação, da companhia, de certas ideias, encontraremos a felicidade.
Assim, estando só, quero encontrar alguém ou alguma ideia por meio da qual eu possa ser feliz. Mas a solidão sempre permanece; ela está sempre presente, encoberta. Mas como isso me assusta e eu não conheço a natureza interior dessa solidão, quero encontrar alguma coisa a que me apegar. Assim, penso que por meio de algo, de alguém, serei feliz. Por esse motivo, nossa mente está sempre preocupada em encontrar alguma coisa. Por intermédio dos móveis, de uma casa, de livros, de pessoas, de ideias, de rituais, de símbolos, esperamos alcançar algo, encontrar a felicidade. E eis porque as coisas, as pessoas, as ideias, se tornaram extraordinariamente importantes: porque temos a esperança de, por seu intermédio, vir a alcançar a felicidade. Desse modo, começamos a ficar dependentes delas.
Mas, apesar de tudo isso, permanece a coisa não compreendida, não resolvida; a ansiedade, o medo, ainda estão presentes. E mesmo quando me dou conta de que estão presentes, quero usá-los, transpô-los, a fim de descobrir o que há além. A minha mente usa tudo como um meio de ir além, e por isso, torna triviais todas as coisas. Se uso você para a minha realização, para a minha felicidade, você se torna bem pouco importante, visto que minha preocupação é a minha felicidade. Logo, quando minha mente está às voltas com a ideia de que pode ter felicidade por meio de alguém, de uma coisa ou de uma ideia, não torno transitórios todos esses meios? Porque minha preocupação é, nesse caso, alguma outra coisa, ir além, capturar algo que se encontra além disso tudo.
Não será muito importante que eu compreenda essa solidão, essa dor, esse sofrimento do vazio extraordinário? Porque, se eu compreender isso, talvez não empregue coisa alguma para encontrar a felicidade. Não usarei Deus como meio de atingir a paz nem um ritual para ter mais sensações, exaltações, inspirações. O que me consome o coração é essa sensação de medo, minha solidão, meu vazio. Posso compreender isso? Posso solucioná-lo? A maioria de nós se sente solitária, não? Façamos o que fizermos, o rádio, os livros, a política, a religião — nada dessas coisa pode encobrir de fato essa solidão. Posso ser socialmente ativo, posso identificar-me com certas filosofias organizadas, mas, faça o que fizer, a solidão continua presente, nas profundezas do meu inconsciente ou no mais íntimo do meu ser.
E como proceder diante disso? Como trazê-lo para o exterior e resolvê-lo por completo? Mais uma vez, toda a minha tendência é condenar, não é? Tenho medo daquilo que não conheço, e o medo é o resultado da condenação. Afinal, não conheço a qualidade da solidão, o que ela de fato é. Mas a minha mente a julgou, dizendo que ela é assustadora. A mente tem opiniões sobre o fato, tem ideias acerca da solidão. E são essas ideias e opiniões que criam o medo e me impedem de ver de fato a solidão.
Estarei me fazendo compreender com clareza? Sinto-me solitário e tenho medo disso. O que causa o medo? Não será o fato de eu não conhecer as implicações da solidão? Se conhecesse o conteúdo da solidão, eu não a temeria. Entretanto, como tenho uma ideia de como ela poderia ser, eu não a temeria. Entretanto, como tenho uma ideia de como ela poderia ser, fujo dela. O que gera o medo é a fuga, e não a observação que faço da solidão. Para observá-la, para ficar com ela, não posso condenar. E quando for capaz de encará-la, terei condições de amá-la, de observá-la.
Então, será essa solidão de que tenho medo apenas uma palavra? Não será ela, na verdade, um estado essencial, talvez a porta por meio do qual descobrirei? Essa porta pode me levar mais longe, de modo que a mente compreenda o estado no qual tem de estar só, não contaminada. Porque todos os processos que me afastam dessa solidão são desvios, fugas, distrações. Se a mente puder viver com a solidão sem condená-la, talvez isso a leve a descobrir o estar só, o estado em que a mente se encontra não apenas solitária mas completamente sozinha, independente, não desejosa de descobrir por intermédio de alguma outra coisa.
É necessário ficar só, conhecer esse estar só não induzido pelas circunstancias, esse estar só que não é isolamento, esse estar só que é criatividade, condição na qual a mente já não busca a felicidade nem a virtude, nem cria resistência. A mente que está só é a única que pode encontrar — não a mente contaminada, corrompida pelas suas próprias experiências. Assim, talvez a solidão, de que todos temos consciência, possa, se soubermos como encará-la, abrir a porta para a realidade.
Krishnamurti — Londres 7 de abril de 1963
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Estar relacionado significa não depender do outro
Não estarão vocês, nesse caso, usando-se mutuamente?
Não estamos sendo pessimistas, mas observando a realidade tal como é; isso não é pessimismo. Para descobrir o que de fato significa estar relacionado com o outro, é necessário compreender a questão da solidão, porque a maioria de nós é terrivelmente solitária; quanto mais envelhecemos, tanto mais solitários ficamos, principalmente neste país [Estados Unidos]. Vocês já observaram como são os mais velhos? Já se deram conta de suas fugas, de suas diversões? Eles trabalharam a vida inteira e querem fugir para alguma espécie de entretenimento.
Vendo isso, será possível encontrar uma maneira de viver na qual não usemos o outro psicológica nem emocionalmente, não dependamos do outro, não o façamos de válvula de escape das nossas próprias torturas, dos nossos próprios desesperos, da nossa própria solidão?
Logo, voltamos à questão de como nos observarmos a nós mesmos de modo que não haja nenhum conflito nessa observação. Porque o conflito é corrupção, perda de energia; é a batalha da nossa vida do momento em que nascemos até a hora da morte. Será possível viver sem um único instante de conflito? Para fazê-lo, para descobrir isso por nós mesmos, temos de aprender a observar todo o nosso movimento. Há uma observação verdadeira quando não há o observador, mas apenas a observação.
Quando não há relacionamento, pode haver amor? Falamos sobre isso e o amor, tal como o conhecemos, está vinculado com o sexo e o prazer, não é? Alguns de vocês dizem “não”. Se dizem não, vocês devem ser sem ambição, não havendo, assim, competição, divisão — como “você” e “eu”, “nós” e “eles”. Não pode haver divisão de nacionalidade, nem divisão causada pela crença, pelo conhecimento. Só então vocês podem dizer que amam. Porém, para a maioria das pessoas, o amor está vinculado com o sexo e com o prazer, e com toda a labuta concomitante — ciúme, inveja, antagonismo — vocês sabem o que acontece entre um homem e uma mulher. Quando esse relacionamento não é verdadeiro, real, profundo, completamente harmonioso. Como podem vocês ter paz neste mundo? Como pode a guerra ter fim?
Assim, o relacionamento é uma das coisas mais importantes — ou melhor, a coisa mais importante — da vida. Isso significa que se tem de compreender o que é o amor. Certamente deparamos com ele de uma maneira estranha, sem procura-lo. Quando descobrem por si mesmos o que o amor não é, vocês ficam sabendo o que ele é. Não de forma teórica nem verbal, mas quando se dão efetivamente conta do que ele não é: não ter uma mente competitiva, ambiciosa, uma mente que se empenha, compara, imita. É impossível uma mente assim poder amar.
E será que vocês, vivendo neste mundo podem ser completamente sem ambição, jamais se comparando com qualquer outra pessoa? Porque, no momento em que vocês se comparam com o outro, há conflito, há inveja, há o desejo de alcançar, de ir além dele.
Será que uma mente e um coração que se lembram de mágoas, dos insultos, das coisas que os tornaram insensíveis e embotados, será que uma tal mente e um tal coração podem saber o que é o amor? No entanto, o que estamos procurando, consciente ou inconscientemente? Os nossos deuses são o resultado do nosso prazer. As nossas crenças, a nossa estrutura social, a moral da sociedade — que é essencialmente imoral — são o resultado da nossa busca do prazer. E quando vocês dizem “eu amo alguém”, isso é amor? Amor significa ausência de separação, de dominação, de atividade autocentrada. Para descobrir o que ele é, é imprescindível negar tudo isso — negar no sentido de perceber a sua falsidade. Uma vez que se perceba como falsa uma coisa que se aceitava como verdadeira, natural, humana, não mais se pode voltar a ela; quando veem uma cobra ou outro animal perigoso, vocês nunca brincam com ele, vocês nunca se aproximam dele. Do mesmo modo, quando perceberem efetivamente que o amor não é nenhuma dessas coisas, quando o sentirem, o observarem, o mastigarem, viverem com ele, comprometerem-se inteiramente com ele, vocês saberão o que é o amor, o que é a compaixão — que é paixão por todos.
Não temos paixão; temos luxúria, temos prazer. O significado original da palavra paixão é sofrimento. Todos já tivemos algum tipo de sofrimento, por perder alguém, o sofrimento da autocomiseração, o sofrimento da raça humana, tanto coletivo como pessoal. Sabemos o que é o sofrimento, a morte de alguém que julgamos amar. Quando permanecemos com esse sofrimento de maneira total, sem tentar racionalizá-lo, sem tentar escapar dele de nenhuma forma — por meio de palavras ou da ação —, quando nos mantemos com ele completamente, sem nenhum movimento do pensamento, descobrimos que desse sofrimento vem a paixão. Essa paixão tem a qualidade do amor, e o amor não tem sofrimento.
Krishnamurti —Nova Iorque, 24 de abril de 1971
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Pode a mente abster-se de fugir e olhar de frente o seu vazio?
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Isolamento e solidão
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Examinando a questão do conflito.
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)