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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A mente verdadeiramente religiosa é livre de todos os gurus

Enquanto somos bem jovens, a maioria de nós talvez não seja grandemente afetada pelos conflitos da vida, pelas preocupações, pelas alegrias passageiras, pelos desastres físicos, pelo medo da morte e as distorções mentais que pesam sobre a geração mais velha. Felizmente, enquanto somos jovens, a maioria de nós ainda não se encontra no campo da batalha da vida. Mas, à medida que envelhecemos, os problemas, as angústias, as dúvidas, as lutas econômicas e interiores, tudo isso começa a acumular-se em nós, e então desejamos encontrar o sentido da vida, queremos saber o que ela significa. Ficamos perplexos com os conflitos, com as dores, com a pobreza, com os desastres. Queremos saber porque algumas pessoas estão bem colocadas e outras não; porque um ser humano tem saúde, é inteligente, bem-dotado, capaz, ao passo que o outro não o é. E se somos pouco exigentes, ficamos logo presos a uma hipótese, a alguma teoria ou crença; encontramos uma resposta, mas não é nunca a verdadeira resposta. Verificamos que a vida é feia, dolorosa, triste, e começamos a inquirir; mas não tendo suficiente confiança própria, vigor, inteligência, inocência, para continuar inquirindo, somos logo colhidos nas malhas de alguma teoria ou crença, especulação ou doutrina que explique satisfatoriamente tudo isso. Aos poucos nossas crenças e dogmas se tornam profundamente enraizados e inabaláveis, porque por detrás deles está um constante medo do desconhecido. Nunca examinamos o medo; desviamo-nos dele e nos refugiamos nas crenças — a cristão, a budista, a hindu — verificamos que elas dividem as pessoas. Cada conjunto de dogmas e crenças possui uma série de rituais, uma série de compulsões que amarram a mente e separam um homem do outro. 

Então começamos a inquirir para tentar descobrir a verdade, o significado de toda essa miséria, dessa luta, dessa dor, e acabamos com um conjunto de crenças, rituais, teorias. Não temos a necessária confiança própria, nem vigor, nem inocência, para afastar a crença para um lado e inquirir; desse modo, a crença passa a atuar como um fator de deterioração em nossa vida. 

A crença é corruptora porque atrás dela e dos ideais de moralidade aninha-se o "eu", o ego — o ego que está cada vez maior e mais poderoso. Achamos que crer em Deus é religião. Consideramos que crer é ser religioso. Se vocês não creem, serão considerados ateus e condenados pela sociedade. Uma sociedade condena os que não creem em Deus, e outra condena os que nele creem. Ambas são uma só e a mesma coisa. 

Nessas condições, a religião se torna uma questão de crer, e o crer atua como uma limitação sobre a mente; então a mente nunca é livre. Mas é só em liberdade que vocês podem encontrar a verdade, Deus; não através de uma crença; porque a crença projeta o que vocês pensam que deveria ser Deus, o que vocês acreditam que deva  ser a verdade. Se vocês creem que Deus é amor, que Deus é bom, que Deus é isto ou aquilo, sua própria crença lhes impede de compreender o que seja Deus, o que seja a verdade. Mas o caso é que vocês desejam esquecer-se numa crença; querem sacrificar-se; desejam emular outrem, abandonar essa luta constante que prossegue dentro de vocês e buscar a virtude. 

Sua vida é uma luta constante em que há tristeza, sofrimento, ambição, prazeres transitórios, felicidade que vem e vai; então a mente quer algo grandioso em que se apegar, algo além de si mesma com que possa identificar-se. A isso ela chama Deus, verdade, e identifica-se com tal coisa através da crença, da convicção, da racionalização, de várias formas de disciplina e moralidade idealista. Mas essa coisa grandiosa, que cria especulação, ainda faz parte do "eu", é coisa projetada pela mente em seu desejo de escapar às tormentas da vida. 

Identificamo-nos com uma pátria — a Índia, a Inglaterra, a Alemanha, a Rússia, os Estados Unidos. Vocês pensam em si mesmos como sendo hindus. Por que? Por que se identificam com a Índia? Já examinaram isso, já foram além das palavras que lhes captaram a mente? Vivendo numa cidade ou num pequeno vilarejo, levando uma vida miserável com suas lutas e conflitos familiares, estando insatisfeitos, descontentes, infelizes, vocês se identificam com uma pátria, chamada Índia. Isto lhe dá uma sensação de grandeza, de importância, uma satisfação psicológica, então dizem: "Sou indiano"; e por isso estão dispostos a matar, a morrer ou aleijar-se. 

Da mesma forma, porque vocês são realmente insignificantes e estão em constante batalha consigo mesmos e com os outros, porque estão confusos, angustiados, incertos, porque sabem que há morte, vocês se identificam com algo mais além, algo vasto, importante, cheio de significado, a quem chamam de Deus. Essa identificação com aquilo a que chamam de Deus dá-lhes uma sensação de enorme importância, e vocês se sentem felizes. Portanto, a identificação de vocês com algo maior é um processo de auto-expansão; é, ainda, a luta do "eu", do ego. 

A religião, como geralmente a conhecemos, consiste numa série de crenças, dogmas, rituais, superstições; é a adoração de ídolos, de amuletos e de gurus, e achamos que tudo isso nos levará a alguma meta fundamental. A meta fundamental é a nossa própria projeção; é aquilo que desejamos, o que pensamos que nos tornará felizes, uma garantia de imortalidade. Presa a esse desejo de certeza, a mente cria uma religião de dogmas, de hierarquia clerical, de superstições e de adoração de ídolos; e aí ela se estagna. Será isso religião? Religião é uma questão de crença, uma questão de aceitação ou de tomada de conhecimento das experiências e afirmações de outras pessoas? É religião a mera prática da moralidade? É comparativamente fácil levar uma vida digna — fazer isto e não fazer aquilo. Vocês podem simplesmente imitar um sistema moral. Mas por trás dessa moralidade aninha-se o ego agressivo, crescendo, expandindo-se, dominando. Será isso religião? 

Vocês precisam descobrir o que é a verdade, porque isto é o que realmente importa — não o fato de vocês serem ricos ou pobres, se estão satisfatoriamente casados e têm filhos, pois todas essas coisas têm fim; e sempre há morte. Por isso, sem qualquer forma de crença, vocês precisam ter o vigor, a confiança própria, iniciativa de descobrir por si mesmos o que seja a verdade, o que é Deus. Crenças não libertarão suas mentes; a crença só corrompe, aprisiona, escurece. A mente só pode ser livre através de seu próprio vigor e confiança. 

Certamente, uma das funções da educação é criar indivíduos que não sejam prisioneiros de nenhuma força de crença, de nenhum modelo de moral ou de respeitabilidade. É o "eu" que meramente procura tornar-se moral, respeitável. O indivíduo verdadeiramente religioso é aquele que descobre, que diretamente experimenta o que é Deus, o que é a verdade. Essa experiência direta nunca é possível mediante qualquer forma de crença, ritual, seguimento ou adoração de outro. A mente verdadeiramente religiosa é livre de todos os gurus. Vocês, como indivíduos, à medida que crescem e vivem suas vidas, podem descobrir a verdade a cada momento, e portanto são capazes de ser livres. 

(...) O indivíduo precisa despertar a própria inteligência, não através de alguma forma de disciplina, resistência, compulsão, coerção, mas sim através da liberdade. É só pela inteligência nascida da liberdade que o indivíduo pode descobrir o que está por trás da mente. Essa imensidão — o inominável, o ilimitado, aquilo que não é mensurável por meio de palavras e em que há o amor que não procede da mente — precisa ser experimentado diretamente. A mente não pode concebê-lo; portanto, ela precisa estar muito quieta, extraordinariamente tranquila, sem nenhum exigência nem desejo. Só então será possível existir aquilo que pode ser chamado Deus ou de realidade. 

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O homem religioso não se interessa por reforma social

O que entendemos por um homem religioso? Por certo, o homem religioso é o que trabalha para libertar o indivíduo e a si próprio de todas as crueldades e sofrimentos da vida — o que significa que ele é livre de crenças. Esse homem não obedece nenhuma autoridade, não segue a ninguém, porque ele é a luz de si mesmo; e essa luz irradia do autoconhecimento, é a libertação que vem à existência quando o indivíduo compreende completamente a si mesmo. O homem religioso é aquele que é criador, não no sentido de pintar quadros ou escrever poesias, mas porque nele atua uma força de criação imorredoura, eterna. 

Ora, esse homem religioso que descobre sempre coisas novas, de momento a momento, esse homem irá se ocupar com reformas sociais? Ou permanecerá fora da sociedade, socorrendo o indivíduo que se debate nesta luta interminável? Certo, o homem religioso permanece fora da sociedade, porque para ele não existe autoridade. Ele não busca resultados e, por conseguinte, os resultados surgem sem que ele nada faça para consegui-los. Esse homem não se interessa por nenhuma reforma social. 

Note bem: A reforma social é necessária, mas há muita gente trabalhando pela reforma social. E qual é a razão dessa atividade? É por amor que a ela se entregam? Ou essa atividade, a que chamam reforma social, é um meio de essas pessoas se preencherem a si mesmas? Notar o mendigo na rua, ver a aterradora pobreza e a degradação existente nas aldeias, e sentir isso, ter amor, paixão, compaixão, pelo mendigo, pelo aldeão, isso não é o mesmo que nos preenchermos numa atividade de reforma social — mesmo quando exerçamos atividades dessa natureza. Mas quando a sua pessoa se torna importante, numa atividade social, isto não acontece porque você está se preenchendo com tal atividade? E quando isso acontece, você já não ama; e o amar, o ter compaixão, o ser sensível ao belo e ao feio, isso é muito mais importante do que nos preenchermos num certo trabalho ostensivo, a que chamamos reforma social. 

Assim, o homem religioso é que é o verdadeiro revolucionário, e não o que quer realizar uma revolução no sentido econômico. O homem religioso não reconhece nenhuma autoridade, não é ávido nem ambicioso, não está visando a resultados, não é político; por conseguinte só ele é capaz de realizar a reforma correta. Eis porque é importante que todos nós, não como grupos, mas como indivíduos, nos libertemos imediatamente das crenças e dogmas, da avidez e da ambição. Se assim proceder, verá como a mente se tornará cheia de vitalidade. E o homem é então um reformador num sentido completamente diferente, porque irá nos ajudar a libertar a mente, para descobrir a ser criadora. A mente que está ocupada não pode ser criadora. A mente que se ocupa em preencher a si mesma, nunca descobrirá o desconhecido. Só a mente que se acha completamente desocupada, pode descobrir e compreender o eterno, e essa mente produzirá sua ação peculiar, na sociedade.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

O homem só pode ser bom quando é livre

Nosso problema é... saber se o homem vive para o bem da sociedade ou se a sociedade existe para o bem-estar do homem. A religião e o governo existem para educar o homem, tornando-o livre para descobrir por si mesmo o que é verdadeiro, ensinando-o a ser bom, a ter visão do grandioso? Ou existem para tiranizar o homem, brutalizá-lo, liquidá-lo, só porque uns poucos têm o poder de destruir?... O que tem importância... é averiguar porque razão a sociedade compele o homem ao conformismo, e porque o indivíduo se submete a isso. Sem dúvida, só a mente livre é capaz de investigar, e não aquela que está amarrada a um livro, uma religião organizada, uma ideologia. Uma sociedade que condiciona a mente para adorar ao Estado, e uma sociedade que condiciona a mente para adorar a ideia chamada "Deus", são igualmente tirânicas. 

Mas, pode existir uma sociedade que ajude efetivamente o homem, o indivíduo, a ser bom, a não ser ávido, a ser livre da inveja, da ambição? É este naturalmente o nosso interesse. O homem só pode ser bom quando é livre — livre, não para fazer o que bem entende, mas para compreender o movimento total da vida. Para isso requer-se uma escola completamente diferente, uma educação completamente diferente; requerem-se pais e professores que compreendam tudo o que a liberdade implica. De outro modo, só teremos mais tirania, e não menos, porque o Estado só quer eficiência. Precisa-se de homens eficientes para se ter uma nação industrializada, precisa-se de homens eficientes para matar, lutar, destruir — e nisto se concentra toda a atenção dos governos atualmente existentes. E os governos se separam ainda mais dos indivíduos, pela ação das chamadas religiões. Nenhuma religião organizada ousa sacudir o jugo e dizer para o governo: "Você está errado". Ao contrário, abençoam os canhões e cruzadores de batalha. Durante a última guerra apareceu um livro intitulado "Deus foi meu co-piloto" de autoria de um homem que bombardeara cidades, assassinando milhões de pessoas. Naturalmente aqui em Madanapale, esta questão da guerra não lhes toca de perto. Mas não há dúvida de que a guerra é apenas uma expressão, uma manifestação ampliada de nossa vida de cada dia. Vivemos numa batalha sem tréguas com nós mesmos e com o nosso próximo, somos ambiciosos, queremos poder, mais prestígio, posição mais alta; e este mesmo espírito aquisitivo se manifesta no grupo e na nação. Queremos ser poderosos, para defender a nós mesmos ou para agredir a outros, assim por diante... 

Não importa, pois, o que você pensa ou o que eu penso a respeito do comunismo ou da democracia; o que importa é descobrir como se pode libertar a mente. Porque, só a mente livre é capaz de compreender a Verdade, conhecer Deus, e sem esta compreensão a vida significa muito pouco. É a compreensão da Verdade ou Deus — a real experiência dele, não a crença nele — que tem a máxima importância, principalmente nesta hora em que o mundo se encontra em tamanho caos e miséria.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

Qual é o processo mental que torna a crença necessária?

Pergunta: Se não acreditamos num Arquiteto do Universo, parece-me que a vida torna-se completamente sem significação. O que há de mau nesta crença?

Krishnamurti: Sem dúvida, por "Arquiteto do Universo", você está entendendo "Deus", só que está dando-lhe um nome diferente. Ora, o que é a crença? O que significa esta palavra — não o significado que se encontra no dicionário —, mas qual é o seu conteúdo psicológico? 

E qual é o processo mental que torna a crença necessária? O que lhe faz dizer "Creio em Deus" ou "Não creio em Deus"? Qual o impulso psicológico que impele a mente a aceitar ou rejeitar a crença em Deus, num "Arquiteto do Universo"? Enquanto não descobrirmos isso, o mero crer ou descrer significa pouquíssimo. 

É óbvio que, se desde a meninice ensinam-lhe a acreditar em Deus, você cresce acreditando, exatamente como outra criança que é ensinada a não acreditar, cresce desacreditando. Um é chamado crente e o outro ateu, mas os dois estão condicionados. Quando você acredita num "Arquiteto do Universo", o faz porque ensinaram-lhe a acreditar desde a infância e sua mente impregnou-se desta ideia; ou, ainda, você sente ser esta vida tão instável, tão fluída, que sua mente se apega a uma ideia de permanência e esta permanência você chama Deus, ou por outro nome qualquer, conferindo-lhe certos atributos. Isto não está nem certo e nem errado, pois representa o processo real da mente. Vendo-se ao redor de nós tanta miséria e tanto caos, tanta transitoriedade, tanta falta de paz interior e exterior, a mente cria e se apega a uma coisa atemporal, eterna, uma coisa perenemente bela, repleta de paz. Assim, pois, por causa da incerteza em que se vê, a mente cria a sua própria certeza. Mas a mente que acredita ou desacredita, que aceita ou rejeita, nunca descobrirá o que é Deus. Deus é para ser encontrado, descoberto, não se deve acreditar nele. Para descobri-lo, a mente tem de estar livre tanto da crença como da descrença. Positivamente, esse estado que chamamos "Deus", essa realidade atemporal, tem de ser algo totalmente novo, nunca imaginado, nunca dantes experimentado. E só uma mente livre pode descobri-lo, e não aquela que está amarrado a um dogma, uma crença. 

Afinal, se você observar, se pensar um pouco a este respeito, verá que a mente é resultado do tempo — sendo "tempo" memória, experiência, conhecimento. Isto é, a mente é resultado do conhecido, do passado, de muitos milhares de anos. Ora, com esta mente estamos procurando o Desconhecido, esta certa coisa que se pode chamar deus, a Verdade, ou como você preferir. Mas essa mente não pode encontrar o desconhecido, só pode pois "projetar" o conhecido, no futuro. Qualquer crença nutrida pela mente é resultado de seu próprio condicionamento. Toda fórmula ou conceito especulativo é resultado do conhecido. Todo movimento da mente para investigar o desconhecido, é totalmente inútil e vão, porque a mente só pode pensar em termos do conhecido. Quando compreende esse processo total e fica, portanto, livre do conhecido, a mente se torna muito serena, completamente tranquila; e só então pode existir o "desconhecido". Com efeito, isto é meditação; não a "projeção" do conhecido no futuro e a adoração desta projeção.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA


sábado, 30 de agosto de 2014

O que torna a mente verdadeiramente silenciosa?

Religião não são as crenças, os dogmas, os rituais, as seitas, a propaganda que se faz há dois mil ou dez mil anos; isso, em absoluto, não é religião. Somos escravos da propaganda — não só do comerciante, mas também do sacerdote. A religião é uma coisa de todo diferente. Para descobrir o verdadeiro, descobrir se existe isso a que o homem chama seu Deus — o Desconhecido — temos de morrer para o conhecido, pois, do contrário, não poderemos encontrar-nos com essa coisa inefável que o homem busca há milhares e milhares de anos. O homem, o pensamento inventou um conceito sobre o que Deus é ou não é. Acredita e desacredita, conforme seu condicionamento. O comunista, o autêntico comunista, não acredita. Para ele, só existe o Estado. provavelmente, com o tempo, venha a endeusar Lênine ou outro E há os que foram condicionados para acreditar. Ambos são iguais, o crente e o não-crente. A fim de descobrirmos se existe alguma coisa além daquilo que o pensamento construiu, temos de negar tudo — dogma, crença, esperanças, temores. Isso afinal não é muito difícil, porque, quando queremos aprender, colocamos de lado todos os absurdos que o homem criou com o seu medo. 

Quando termina efetivamente o pensamento, quando morremos para o pensamento, surge então algo inteiramente diferente, uma dimensão diferente, dimensão que não pode ser explicada, colocada em palavras, que nada tem em comum com a crença, o dogma, o medo. Não é uma palavra. Aquele verbo não pode tornar-se carne e, para ser descoberto, deve deixar de existir o experimentador, o observador, o censor. Foi por isso que dissemos, no começo, que temos de compreender o conflito, e que haverá conflito enquanto existir observador e objeto observado; pois esta é a raiz do conflito. Quando digo "precisamos compreender", ou "Tenho medo", o EU julga-se separado do próprio medo. Em verdade não está separado dele. O medo é o EU; os dois são inseparáveis. Quando o observador é o objeto observado, quando o pensador, a fonte do pensamento, deixa de existir, verifica-se, então, que o medo, em qualquer forma, deixou também de existir. 

Nisso há uma concentração de energia. Essa energia explode e surge o novo — o novo irreconhecível. Quando reconhecemos uma coisa, essa coisa não é nova. É uma experiência que já tivemos. Por conseguinte, não é nova. As maravilhosas experiências e visões dos santos e das pessoas religiosas são projeções de coisas velhas, projeções de suas mentes condicionadas. O cristão vê o seu Cristo, porque foi condicionado pela sociedade em que vive, em que cresceu. 

Enquanto houver "experimentador" e a coisa que ele vai "experimentar", nesse estado não existirá nenhuma realidade, porém, somente conflito. Só quando deixa de existir o experimentador, pode surgir aquela coisa que o homem sempre buscou. Em nossa própria vida, estamos sempre a buscar — a buscar a Felicidade, a buscar Deus, a buscar a Verdade. Não podemos achá-lo por meio de busca, porém, tão-só, quando cessa a busca, quando a pessoa é a luz de si própria. Para se ser a luz de si próprio, deve haver paixão e intensidades ardentes. Essa paixão não é uma coisa mansa. Com ela nasce — de toda esta agitação, aflição, confusão e desespero — a revolução, a mutação interior. Só uma mente nova pode encontrar-se com aquilo a que se chama Deus, a Verdade, ou o nome que vocês preferirem. Mas, o conhecido não pode conhecer o desconhecido. Tudo o que o conhecido  — o pensamento — fizer afastará para mais longe ainda o desconhecido. Só quando o pensamento compreendeu a si próprio e se tornou quieto, pode haver a compreensão de todo esse processo de pensamento, prazer e medo. Isso é meditação. Não é a prática, a disciplina ou o ajustamento que torna a mente quieta. O que a torna verdadeiramente silenciosa é a compreensão de si própria, de seus pensamentos, seus desejos, suas contradições, seus prazeres, seus apegos, sua solidão, seu desespero, sua brutalidade e violência. Dessa compreensão nasce o silêncio, e só a mente silenciosa pode perceber, pode ver realmente o que é

Krishnamurti em, Encontro com o Eterno — 10 de maio de 1966

sábado, 5 de abril de 2014

O homem é um escravo desejante

O homem nasce um escravo, e permanece um escravo por toda a sua vida: um escravo dos desejos, da luxúria, um escravo do corpo, da mente — mas dá no mesmo, a escravidão continua. Desde o momento em que você nasce, até o momento em que você morre, é uma longa luta contra a escravidão. E a religião consiste em se ser livre. Religião é liberdade, liberdade de toda escravidão. Mas o homem continua brincando com ele mesmo, vai se enganando, porque assim é mais fácil. 

Ser completamente livre é muito difícil. Será necessária uma cristalização dentro de você, será necessário um centro. E neste exato momento, não há nenhum centro em você, você não é um ser cristalizado — você é apenas um caos. Você pode ser como uma assembleia, mas não é como um indivíduo. Às vezes um desejo toma conta de você e, então, ele se torna o presidente da assembleia, Apenas alguns minutos depois o presidente se vai, ou é descartado; então, um outro desejo toma conta de você. E você fica identificado com cada desejo; você diz: "Eus sou isto". 

Quando o sexo assume a presidência, você vira o sexo; quando a raiva assume a presidência, você vira a raiva; quando o amor assume a presidência, você vira o amor. E você nunca se lembra do fato de que você não pode ser isto ou aquilo — sexo, raiva, amor. Não! Você não pode ser, mas você fica identificado com a cadeira da presidência, seja o que for que tenha o poder no momento, você se identifica com aquilo. E esse presidente vai mudando, porque depois que um desejo é preenchido temporariamente, ele é expelido da cadeira. Então, um outro que esteja nas cercanias — sedento, faminto, exigente, vira o presidente. E você fica identificado com cada desejo, com cada escravidão. 

Esta identificação é a raiz casual de toda a nossa escravidão e, a menos que essa identificação desapareça, você nunca será livre. Liberdade significa o desaparecimento da identificação com o corpo, com a mente, com o coração, seja como for que você queira chamar. Esse é o fato básico a ser compreendido: que o homem é um escravo, nasce um escravo, nasce chorando e gritando pela satisfação de alguns desejos. A primeira coisa que uma criança faz quando nasce é chorar. E isso permanece por toda a vida — chorando por isto ou aquilo. A criança chora por leite; você pode estar chorando por um palácio, ou por um carro, ou por outra coisa, mas o choro continua. Ele para somente quando você está morto. 

Toda a vida é um longo choro — eis porque há tanto sofrimento. A religião lhe dás as chaves para torná-lo livre, mas se ser um escravo e sendo a vida de escravidão conveniente, confortável, você cria religiões simuladas, que não lhe darão nenhuma liberdade, que simplesmente lhe darão um novo tipo de escravidão. Cristianismo, hinduísmo, budismo ou islamismo, como são — organizados, estabelecidos —, são novas espécies de aprisionamento. 

Jesus é liberdade, Maomé é liberdade, Krishna é liberdade, Buda é liberdade, mas não o budismo, não o islamismo, não o cristianismo, não o hinduísmo — eles são simulações. Assim, uma nova escravidão nasce: você é apenas um escravo dos seus desejos, dos seus pensamentos, dos seus sentimentos, dos seus instintos, mas você se torna escravo de seus padres. Mais escravidão acontece a partir das suas religiões simuladas, e nada muda em você.

O S H O — A semente de mostarda

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O que é religião?

Religião é um sentimento oceânico, onde você fica perdido e somente a existência permanece. É uma morte e uma ressurreição. Você morre como é, e ressuscita totalmente novo. Algo absolutamente novo surge da morte, do antigo. No túmulo do antigo algo brota e se toma uma nova flor.

A religião é uma revolução interior, uma mutação interna. Ela não está nos templos, nas mesquitas ou nas igrejas. Não procure a religião aí! Se procurar aí, perderá seu tempo. Procure a religião dentro de você. E quanto mais fundo você caminhar, mais profundamente encontrará o ego presente — o qual é a barreira. Abandone essa barreira e, subitamente, você fica religioso.

Só existe uma coisa que não é religiosa, e essa coisa é o ego. E esse nunca pode ser religioso. E as seitas jamais o eliminam; pelo contrário, elas o reforçam.

Através de rituais, templos e ideologias, o ego é reforçado. Você vai à igreja e sente que se tornou religioso. Um orgulho sutil surge dentro de você. Você não se toma humilde, pelo contrário, fica mais egotista.

Você pratica um certo ritual e se sente gratificado — e começa a condenar aqueles que não praticam o ritual. Você pensa que eles são pecadores e que serão atirados ao fogo do inferno; e seu céu está garantido — apenas por praticar certos rituais? A quem você pensa que está enganando?

Alguém se senta durante uma hora repassando seu rosário e pensa que seu céu está assegurado e que os outros que não estão fazendo essa coisa estúpida irão para o inferno. E você vai à mesquita, ajoelha, curva-se e diz coisas tolas ao Divino: “Sois o maior" — e há alguma dúvida sobre isso? Por que está dizendo: “Sou pecador e sois a compaixão”? O que você está fazendo? Subornando? Você pensa que Deus é uma coisa parecida com um ego? — de maneira que você possa dizer quem você é: “Sois grande e nós somos pequenos, sois a compaixão e nós somos pecadores. Perdoai-nos!”. A quem você pensa que está enganando?

O ego está fazendo o jogo. Você pensa que Deus também é um ego que pode ser subornado? Deus não é uma pessoa, absolutamente; assim, você está falando para si mesmo. Não há ninguém ouvindo; somente as paredes, as paredes mortas da mesquita ou do templo, ou mesmo uma estátua de pedra. Ninguém está ouvindo.

Na verdade, você está fazendo algo maluco. Vá a um hospício e veja as pessoas falando com alguém que não existe. Mesmo essa gente louca não é tão louca, porque aquele alguém pode estar em algum lugar. Pode não estar ali; um louco pode estar falando com a esposa que não está ali no hospício, mas talvez noutro lugar — mas seu Deus não está em lugar algum. Sua loucura é mais profunda, maior, e perigosa.

Como você pode falar com a existência? Com a existência você precisa ficar em silêncio; toda fala deveria cessar. Você não deveria dizer coisa alguma; ao contrário, a oração é um escutar. Você precisa escutar a existência, e não dizer algo. Se falar, a quem escutará? Se você falar e estiver muito envolvido nas palavras, então a quem escutará? E a cada momento há uma mensagem.

A cada momento, de todas as partes, há uma mensagem para você. Ela está escrita em tudo; toda a existência é a escritura do Divino. E a mensagem está em todas as partes, a assinatura está em cada folha, mas quem a verá? Seus olhos e sua mente estão repletos de você mesmo. Você tem lixo, mas continua virando esse lixo na mente. Abandone-o!

Isto é algo a se compreender, porque a oração pode ser cristã, hindu, judia, mas então são orações sectárias e não são orações, de forma alguma. Uma verdadeira oração não pode ser cristã, hindu ou budista. A verdadeira oração é apenas um silêncio, uma espera. Como você pode dizer que o silêncio é hindu? Como pode dizer que o silêncio é cristão? Será que o silêncio pode ser cristão ou hindu?

O silêncio é simplesmente o silêncio! — nem hindu nem muçulmano. Quando duas pessoas estão completamente em silêncio, será que você pode dizer quem é muçulmano? No silêncio, as seitas, as sociedades e as civilizações desaparecem; no silêncio, você desaparece. Só o silêncio existe — e você não está presente. Se estiver, então o silêncio não poderá existir, porque então você fará uma coisa ou outra, pensará uma coisa ou outra, continuará tagarelando por dentro.

Quando você não está, a sociedade e as seitas também não estão; nenhuma palavra, nenhuma oração; você não está recitando o Alcorão nem os Vedas, não está fazendo Meditação Transcendental, “Ram, Ram, Ram” — tudo bobagem. Quando você está simplesmente em silêncio, acontece um encontro, uma fusão — você se dissolve! Assim como o gelo derrete e os limites se dissolvem e então você não pode descobrir para onde o gelo se foi... tomou-se um com o mar.

O sol nasce, o gelo derrete, toma-se água. O silêncio nasce, a mente, congelada como gelo, começa a derreter; o ego se dissolve. Subitamente existe só o oceano, e você não é mais. Esse é o momento da religião. Ela nasce em você.

Osho, em "Antes que Você Morra"

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Qual a relação entre o homem religioso e a sociedade?

Nossos problemas são muito mais profundos e temos necessidade de uma resposta profunda que, acho, encontraremos se examinarmos criteriosamente a questão de se a cultura que temos no presente — cultura envolvendo religião e toda a estrutura moral e social — ajuda o homem a descobrir a realidade. Se a resposta for negativa, então a mera reforma de tal cultura ou civilização não passará de uma perda de tempo; mas se ajudar o homem, no verdadeiro senso, então todos nós devemos empenhar nossos corações nessa reforma. Disso, penso eu, depende a solução do problema.

Por cultura queremos significar todo o problema do pensamento, não é? Para a maioria de nós, pensamento é o resultado de várias formas de condicionamento, de educação, de conformidade, de pressões e influências, às quais estamos sujeitos dentro do arcabouço de uma determinada civilização. Presentemente nosso pensamento é moldado pela sociedade e, a menos que ocorra uma revolução em nossa forma de pensar, a mera reforma de uma cultura ou sociedade superficial a mim parece uma loucura, um fator que apenas desencadeará maior miséria.

Afinal de contas, o que denominamos civilização constitui um processo de educar o pensamento dentro dos moldes hindus, cristãos ou comunistas, e assim por diante. Poderá uma forma de pensar tão educada criar uma revolução fundamental? Acaso qualquer tipo de pressão, de padronização de pensamento trará como consequência a descoberta ou a compreensão do que é a verdade? Claro, o pensamento precisa livrar-se de toda pressão, o que significa, realmente, livrar-se da sociedade, de todas as formas de influência e, assim, descobrir o que é verdade; então, esta mesma verdade tem poder para desenvolver uma ação sua e muito própria que dará origem a uma cultura totalmente diferente.

Isto é, a sociedade existe para descobrir a realidade ou precisamos nos livrar da sociedade para descobrir a realidade? Se a sociedade ajuda o homem a descobrir a realidade, então dado tipo de reforma dentro da sociedade é essencial; mas, se constitui um empecilho a essa descoberta, não deve o indivíduo cortar relações com a sociedade e buscar a verdade? Só a pessoa que é verdadeiramente religiosa o consegue, não o homem que celebra vários rituais ou aquele que vê a vida através de padrões teológicos. Quando o indivíduo se liberta da sociedade e busca a realidade, ele não suscita nessa mesma busca uma diferente cultura?

Acho que essa questão é muito importante porque a maioria de nós está meramente interessada em reformas. Constatamos a pobreza, a superpopulação, todas as formas de desintegração, de divisão e conflito e, vendo tudo isso, que podemos fazer? Começamos por participar de um grupo particular, ou trabalhar por uma ideologia? É essa a função do homem religioso? O homem religioso, sem dúvida, é aquele que busca a realidade e não aquele que lê ou cita a Bíblia, ou que vai todo dia ao templo. Isso, obviamente, não é religiosidade — é meramente compulsão, condicionamento do pensamento pela sociedade. Então, o que o homem justo, o homem que reconhece a necessidade e quer provocar uma imediata revolução deve fazer? Trabalhar em prol dessa reforma dentro da estrutura da sociedade? A sociedade é uma prisão e deverá ele apenas reformar a prisão, decorando suas grades e se esforçando para que as coisas sejam feitas de um modo mais bonito dentro de suas muralhas? Sem dúvida, o homem que é verdadeiramente justo, que é realmente religioso é o único revolucionário; não existe outro e esse homem é aquele que está buscando a realidade, que está tentando descobrir o que é Deus, ou a verdade.

Agora, qual deve ser a atitude desse homem? O que ele deve fazer? Deve atuar em meio à atual sociedade ou romper com ela, não se preocupar em absoluto com a sociedade? Rompimento não significa tornar-se um monge hindu, um eremita, isolando-se graças a peculiares sugestões hipnóticas. E, no entanto, ele não pode ser um reformista, porque constitui um desperdício de energia, de pensamento, de criatividade, o homem justo entregar-se a meras reformas. Então que deve o homem justo fazer? Se ele não tenciona decorar as grades da prisão, remover algumas grades, deixar entrar um pouco mais de luz, se não está absolutamente nisso, mas se também vê a importância de suscitar uma revolução de base, uma mudança radical no relacionamento de homem para homem — relacionamento que deu origem a esta apavorante sociedade em que existem pessoas imensamente ricas e aquelas que não possuem absolutamente nada, tanto interna como externamente — então, o que ele deve fazer? Acho importante fazer esta pergunta a nós mesmos.

Afinal de contas, a cultura se concretiza através da ação da verdade ou cultura é obra do homem? Se é obra do homem, obviamente não o conduzirá para a verdade. E nossa cultura é obra do homem porque se baseia em várias formas de aquisição. Não somente no que se refere a coisas mundanas, mas também às assim ditas espirituais; resulta do desejo de posição sobre todos os aspectos, de auto-engrandecimento e assim por diante. Tal cultura não pode, é claro, conduzir o homem à realização do supremo; e se compreendo isso, que posso, então fazer? O que você faria se compreendesse que a sociedade é uma barreira? Sociedade não significa apenas uma ou duas atividades, mas toda a estrutura do relacionamento humano, na qual toda a criatividade cessou, na qual existe constante imitação; consiste num arcabouço de medo em que a educação é mera conformidade e onde não existe nem um pouquinho de amor, mas simplesmente ação nos moldes de um padrão descrito como amor. Nessa sociedade os principais fatores são reconhecimento e respeitabilidade: é pelo que todos nós lutamos — para sermos reconhecidos. Nossa capacidade, nosso saber precisam ser reconhecidos pela sociedade para que sejamos ser alguém. Quando ele compreende tudo isso e vê a pobreza, a tremenda fome, a fragmentação da mente em diversas formas de crenças, o que o homem justo deve fazer?

Se realmente ouvimos o que se diz, ouvimos no sentido de querer descobrir a verdade, de forma que inexista o conflito de sua opinião contra a minha opinião ou de seu temperamento contra o meu, se podemos colocar tudo isso de lado e tentarmos descobrir o que é a verdade — o que requer amor — penso que nesse verdadeiro amor, nesse sentimento de bondade, encontramos a verdade que criará uma nova cultura. Então estaremos livres da sociedade, não mais preocupados com a reforma da sociedade. Mas a descoberta da verdade demanda amor e nossos corações estão vazios, pois estão repletos de coisas da sociedade. Estando repletos, tentamos reforma-la e nossa reforma não traz em si o perfume do amor.

Jiddu Krishnamurti — Sobre Deus

domingo, 1 de setembro de 2013

Esquecimento do Ser que somos: o pecado original

(...) Ao encontrar a si mesma, a pessoa encontra o sentido da vida, o significado da vida, a alegria da vida, o esplendor da vida. Encontrar a si mesma é o maior achado na vida de uma pessoa, e esse encontro só é possível quando você está sozinho, quando sua consciência está completamente vazia — nesse vazio, nesse nada, um milagre acontece. E esse milagre é a base de toda a religiosidade.

Eis o milagre: quando não existe nada mais para a sua consciência ficar consciente, a consciência se volta para si mesma. Ela se torna um círculo. Não encontrando obstáculo, nenhum objeto, ela volta para a fonte. E, no momento em que o círculo está completo, você não é mais apenas um ser humano comum; você se tornou parte da divindade que circunda a existência. Você não é mais você mesmo, você se tornou parte de todo o Universo — o palpitar do seu coração é agora o palpitar do coração do próprio Universo.

Essa é a experiência que os místicos têm procurado por todas as vidas, através dos tempos. Não existe outra experiência mais arrebatadora, mais bem-aventurada. Essa experiência transforma toda a sua perspectiva: onde costumava haver escuridão, agora existe luz; onde costumava haver infelicidade, existe bem-aventurança; onde costumava haver raiva, ódio, possessividade, ciúme, existe somente uma bela flor do amor. Toda a energia que era gasta em emoções negativas não é mais desperdiçada; ela passa por uma reviravolta positiva e criativa.

Por um lado, você não é mais seu antigo eu e, por outro lado, você é, pela primeira vez, seu autêntico eu. O velho se foi, o novo chegou. O velho está morto, o novo pertence ao eterno, ao imortal.

(...) A menos que você se conheça como ser eterno, como parte do todo, continuará com medo da morte. O medo da morte existe simplesmente porque você não está consciente da sua fonte eterna de vida. Uma vez constatada a eternidade de seu ser, a morte se torna a maior mentira da existência. A morte nunca aconteceu, nunca acontece, nunca acontecerá, porque aquilo que existe sempre existirá, em formas diferentes, em níveis diferentes; não existe descontinuidade. A eternidade no passado e no futuro, ambas lhe pertencem. E o momento presente se torna um ponto de encontro entre duas eternidades: uma indo em direção ao passado e outra indo em direção ao futuro.

A lembrança de sua solitude não deve ser somente mental; cada fibra de seu ser, cada célula de seu corpo deveria se lembrar, e não com uma palavra, mas como uma profunda sensação. O esquecimento de si mesmo é o único pecado que existe, e a lembrança de si mesmo, a única virtude.

(...)Você não é parte deste mundo mundano; seu lar é o lar do divino. Você está perdido no esquecimento, esqueceu-se de que dentro de você Deus está oculto. Você nunca olha para dentro — porque todo mundo olha para fora, você também insiste em olhar para fora.

Ficar sozinho é uma grande oportunidade, uma benção, porque em sua solitude fatalmente você se deparará com você mesmo e, pela primeira vez, se lembrará de quem você é.

(...)Fique mais centrado em sua profunda solitude. Meditação é isso: ficar centrado na sua própria solitude. A solitude precisa ser tão pura que nem mesmo um pensamento, nem mesmo um sentimento a perturbe. No momento em que sua solitude for completa, sua experiência dela se tornará a sua iluminação. A iluminação não é algo que vem de fora, ela é algo que cresce dentro de você.

Esquecer-se do ser ser é o único pecado. E lembrar-se do seu ser, em sua completa beleza, é a única virtude, a única religião. Você não precisa ser hindu, muçulmano, cristão — para ser religioso, tudo o que você precisa é ser você mesmo.

(...) Ao conhecer a si mesmo, uma coisa fica clara: nenhuma pessoa é uma ilha somos um continente, um vasto continente, uma infinita existência sem nenhuma fronteira. A mesma vida corre através de todos, o mesmo amor preenche cada coração, a mesma alegria dança em cada ser. Por causa do nosso mal-entendido apenas, achamos que estamos separados.

A ideia de separação é nossa ilusão. A ideia da unidade será nossa experiência da verdade suprema. É necessário apenas um pouco mais de inteligência, e você poderá sair do desalento, da infelicidade, do inferno em que toda a humanidade está vivendo. O segredo de sair desse inferno é lembrar-se de si mesmo. E essa lembrança será possível se você compreender a ideia de que você está sozinho.

(...) Você precisa perceber, não importa o quanto isso possa parecer doloroso no início, que está sozinho numa terra estranha. Na primeira vez, esse reconhecimento é doloroso. Ele elimina todas as nossas ilusões, que geram grandes consolos. Mas, quando você ousa aceitar a realidade, a dor desaparece. E, oculta atrás da dor, está a maior das bênçãos do mundo: você vem a conhecer a si mesmo.

Você é a inteligência da existência, a consciência da existência, a alma da existência. Você é parte dessa imensa divindade que se manifesta de milhares formas: nas árvores, nos pássaros, nos animais, nos seres humanos... mas é a mesma consciência em diferentes estágios de evolução. E a pessoa que reconhece a si mesma, que sente que o deus que ela buscava e procurava por todo o mundo reside em seu próprio coração, atinge o mais elevado ponto da evolução. Não existe nada superior a isso.

(...) A pessoa pouco inteligente é aquela que está correndo por todo o mundo à procura de algo, sem saber exatamente o quê. Algumas vezes achando que talvez seja o dinheiro, seja o poder, seja o prestígio, seja a respeitabilidade.

A pessoa inteligente primeiro procura seu próprio ser, antes de começar a jornada no mundo exterior. Isso parece ser simples e lógico... pelo menos, olhe primeiro em sua própria casa, antes de procurar pelo mundo inteiro. E aqueles que olharam dentro de si mesmos o encontraram, sem nenhuma exceção.

(...) O mundo precisa de uma grande revolução, na qual cada indivíduo encontre sua religião dentro de si mesmo. No momento em que as religiões se tornam organizadas, elas ficam perigosas; na realidade, elas se tornam política, com uma falsa face de religião. Por isso, todas as religiões do mundo tentam converter mais e mais pessoas à sua religião. É a política dos números; aquela que tiver um número maior será mais poderosa. Mas ninguém parece estar interessado em trazer milhões de indivíduos a seus próprios seres.

Meu esforço aqui consiste em afastá-lo de qualquer tipo de esforço organizado, porque a verdade nunca pode ser organizada. Você precisa seguir sozinho na peregrinação, porque a peregrinação será interior. Você não pode levar ninguém com você. E você precisa deixar de lado tudo o que aprendeu com os outros, porque todos esses preconceitos distorcerão sua visão e você não será capaz de perceber a realidade nua de seu ser. A realidade nua de seu ser é a única esperança de encontrar Deus.

Apenas um passo para dentro de si mesmo e você chegou.

(...) Pode levar um pouco de tempo, porque os velhos hábitos demoram para ser vencidos; mesmo que você feche os olhos, sua cabeça estará cheia de pensamentos. Esses pensamentos são de fora, e o simples método, que foi seguido por todos os grandes videntes do mundo, é simplesmente observar os pensamentos, ser uma testemunha. Não os condene, não os justifique, não os racionalize. Permaneça à parte, permanece indiferente, deixe-os passar — ele irão embora.

E, no dia em que sua mente estiver absolutamente silenciosa, sem nenhuma perturbação, você dará o primeiro passo que o leva ao templo de Deus.

O templo de Deus é feito da sua consciência. Você não pode ir lá com seus amigos, com seus filhos, com sua esposa, com seus pais.

Todos precisam ir lá sozinhos.

OSHO

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Alcançando o verdadeiro estado religioso

Conhecendo todo o conteúdo da mente — suas negações, suas resistências, suas atividades disciplinares, seus vários esforços por segurança, tudo o que condiciona e limita seu pensar — pode a mente, como um processo integrado, estar totalmente livre para descobrir o que é eterno? Porque, sem esse descobrimento, sem essa experiência dessa realidade, todos os nossos problemas com suas soluções só conduzirão a mais desastres e misérias. Isso é óbvio, vocês podem constatá-lo na vida cotidiana. Individualmente, politicamente, internacionalmente, em cada atividade, estamos criando mais e mais problemas, que são inevitáveis enquanto não tenhamos alcançado esse estado religioso que só é atingível quando a mente se encontra totalmente livre.

Após ouvirem isto, vocês podem, mesmo que por um só momento, conhecer essa liberdade? Não podem, pelo simples fato de que eu a estou sugerindo, o que então seria apenas uma ideia, uma opinião sem qualquer sentido. Mas se vocês me acompanharam seriamente, estão começando a se conscientizar do processo de seus próprios pensamentos, de suas tendências, de seus propósitos, de seus motivos e, estando conscientes, estão sujeitos a chegar a um estado no qual a mente não estará mais buscando, escolhendo, lutando por alcançar. Tendo percebido seu próprio processo total, a mente se torna extraordinariamente quieta, sem qualquer tendência, sem qualquer volição, sem qualquer ato de vontade. Vontade é ainda desejo, não é? O homem que é ambicioso, na acepção mundana, tem um forte desejo de vencer, de ser bem-sucedido, de ficar famoso e exercita a vontade para sua própria auto-importância. Da mesma forma, nós exercitamos a vontade para desenvolver a virtude, para alcançar o assim chamado estado espiritual. Mas eu estou falando de uma coisa completamente diferente, destituída totalmente de qualquer desejo, de qualquer ação voltada a uma fuga, de qualquer compulsão a ser isto ou aquilo.

Ao analisar o que estou dizendo, vocês estão exercitando a razão, não estão? Mas a razão só pode levar até aí e não além. Precisamos, obviamente, exercitar a razão, a capacidade de refletir completamente a respeito das coisas e não parar pela metade. Mas quando a razão tiver atingido os seus limites e não puder ir além, então a mente deixará de ser um instrumento da razão, da astúcia, de cálculo, de ataque e defesa porque o próprio centro de onde emana todos os nossos pensamentos, todos os nossos conflitos, terá chegado ao fim.

Desse modo, agora que vocês escutaram o que eu disse, sem dúvida estão começando a estar conscientes de si mesmos, a cada momento, durante o dia, em suas várias atividades. A mente está começando a conhecer a si mesma, com todos os seus desvios, suas resistências, suas crenças, suas buscas, suas ambições, seus temores, suas ânsias de realização. Estando consciente de tudo isso, não é possível á mente, mesmo que por um só instante, estar absolutamente quieta, conhecer um silêncio no qual existe liberdade? E quando existe essa liberdade do silêncio, não é a mente, em si, eterna?

Para experimentar o não-conhecido, a própria mente precisa ser o não-conhecido. A mente, até agora, é o resultado do conhecido. Que é você senão o acúmulo do conhecido, de todos os seus problemas, de suas vaidades, de suas ambições, de suas dores, de suas realizações e de suas frustrações? Tudo isso é o conhecido, o conhecido no tempo e no espaço, e enquanto a mente estiver trabalhando dentro do âmbito do tempo, do conhecido nunca poderá ser o não conhecido, só poderá continuar experimentando aquilo que conheceu. Por favor, isso não é algo complicado ou misterioso. Estou descrevendo fatos óbvios de nossa existência diária. Sob o peso do conhecido, a mente anseia descobrir o não-conhecido. Como pode ela? Todos falamos de Deus — em toda religião, em todos os templos e igrejas essa palavra é usada para, mas sempre dentro da imagem do conhecido. Somente poucos, os muito poucos que abandonam todas as igrejas, templos e livros, vão além e descobrem.

No momento, a mente é o resultado do tempo, do conhecido, e quando essa mente se decide a descobrir, só pode descobrir o que já experimentou, o que é o conhecido. Para descobrir o desconhecido, a mente tem que libertar-se completamente do conhecido, do passado, não através de uma análise lenta, não exumando pouco a pouco o passado, interpretando cada sonho, estudando cada reação, mas vendo a verdade de tudo isso completamente, instantaneamente, enquanto vocês estão aí sentados. Enquanto a mente for resultado do tempo, do conhecido, nunca poderá descobrir o não-conhecido, que é Deus, realidade, ou o nome que vocês lhe deem. Ver a verdade disso liberta a mente do passado. Não traduzam imediatamente libertação do passado por não saberem o caminho de casa. Isso é amnésia. Não reduzam as coisas a um pensamento infantil. Mas a mente se torna livre a partir do momento que reconhece a verdade de que ela não pode descobrir o real — esse extraordinário estado do não-conhecido — quando está arcada sobre o peso do conhecido. Conhecimento, experiência são o “eu”, o ego, a personalidade que acumulou, que reuniu; portanto, todo conhecimento precisa ser sustado, toda experiência posta de lado. E quando existe o silêncio da liberdade, não é a própria mente o eterno? Está ela, então, experimentando algo totalmente novo, que é o real; mas para experimentar o real, a mente precisa ser o real. Por favor não digam que a mente é a realidade. Não é. A mente só pode experimentar a realidade quando estiver totalmente livre do tempo.

Todo esse processo de descoberta é religião. Certamente que religião não é aquilo que vocês acreditam ser. Não tem nada a ver com o fato de vocês serem cristãos ou budistas, maometanos ou hindus. Essas coisas não têm importância; elas constituem um obstáculo e a mente que vai descobrir precisa estar completamente despida de tudo isso. Para ser nova, a mente precisa estar sozinha. Para que a eterna criação se concretize, a própria mente precisa estar nesse estado para recebe-la. Mas, enquanto ela estiver cheia de trabalhos e de lutas, enquanto estiver sobrecarregada de conhecimentos e complicada por meio de bloqueios psicológicos, a mente nunca estará livre para receber, entender, descobrir.

A pessoa verdadeiramente religiosa não é a que está mergulhada em crenças, dogmas, rituais. Ela não tem crenças; está vivendo de momento a momento, nunca acumulando nenhuma experiência e, portanto, é ele o único ser revolucionário. A verdade não é uma continuidade do tempo; ela precisa ser descoberta de novo, a cada momento. A mente que reúne, que amealha, que valoriza qualquer experiência não tem condições de viver cada momento descobrindo o que é novo.

Aqueles que estão realmente interessados, que não são amadores, que não estão apenas se divertindo com tudo isso, têm uma extraordinária importância na vida porque se tornarão uma luz para si mesmos e, talvez, para os outros. Falar de Deus sem experimentação, sem possuir a mente totalmente livre e, através disso, aberta para o não-conhecido, tem muito pouco valor. É como pessoas adultas que se divertem com brinquedos; e quando estamos nos divertindo com brinquedos; e quando estamos nos divertindo com brinquedos, chamando isso de “religião”, geramos maior confusão, mais miséria.

Somente quando entendemos nosso processo de pensar, quando não estamos mais perturbados em nossos próprios pensamentos é que é possível à mente estar quieta. E só então o eterno se concretiza.


Jiddu Krishnamurti — Ojai, 5 de julho de 1953

terça-feira, 13 de agosto de 2013

As sociedades e organizações espirituais são coisas vãs

Pergunta: Passei os dez melhores anos de minha vida na prisão, por causa de atividades políticas que me ofereciam grandes coisas. Agora, é a desilusão, e me sinto inteiramente consumido. O que devo fazer?

Krishnamurti: Outros podem não passar dez anos na prisão, mas passam um ou dois anos no encalço de esperanças enganosas, dedicados a falsas atividades, fazendo alguma coisa a que se entregaram de corpo e alma, para, no fim, verem que é tudo em vão. Assim temos procedido, não é verdade? Segue um homem um determinado caminho, um determinado plano de ação, na esperança, de que ele produza grandes coisas, na esperança de que beneficie os entes humanos, liberte os entes humanos, nas esperança de que, no final, reinará a compaixão e o amor; e a isso ele dedica a sua vida. Entretanto, um belo dia, descobre que essa coisa é inteiramente vã, isto é, que a causa para a qual viveu não tem mais significação alguma; e o homem fica, emocionalmente, consumido. Não conhecem casos assim? Não são um desses casos? Não estão na mesma situação? Não passaram por essa experiência, não sabe, que estavam seguindo o caminho do Mestre, do iniciador, político ou religioso, que lhes prometia um ideal pela revolução — ideal a que dedicaram seu zelo e energia, dedicaram suas vidas e, no final de tudo, se veem desiludidos e consumidos, emocionalmente? Trabalham por uma causa e depois a abandonam. Mas logo vem outro indivíduo, tolo e ignorante, ocupar a vaga de vocês. Continua ele a obra, alimentando aquele jogo inútil. E, se se consome, abandona-o. Mas outro virá substituí-lo. E prossegue o movimento de estultice, em nome da religião, da política, de Deus, da paz — não importa como o chamem. Surge outro problema: Como evitar que os tolos venham empenhar-se na mesma batalha vã, sem utilidade, sem significação?

As sociedades, as organizações são coisas vãs, principalmente as religiosas. Assim, que devem fazer, quando se veem consumidos? Perderam a elasticidade. Estão envelhecendo. Todas as cosias pelas quais lutaram não têm significação alguma. E, então, ou se tornam cínicos e amargurados, ou ficam como um inútil pedaço de carvão, jogado num canto, no isolamento. Isso é um fato evidente, não? Sabemos tudo isso, há centenas de exemplos; talvez sejam um deles. Que deve fazer uma pessoa que se acha nesse estado? Pode o que está morto ser ressuscitado? Pode o que é vão, que é falso, dar seu alento ao falso? Pode o que está morto voltar subitamente à vida, ver o que fez, dedicar-se ao real, e renovar-se? Tal é o problema, não é? Posso eu, que dediquei a maior parte da minha vida para uma coisa vazia de significação — significação profunda, eterna — posso eu, que perdi aquele estado, que me consumi inteiramente, encontrar de novo a vida, recuperar o meu zelo? Creio que sim.

Se quando me vejo inteiramente consumido, se quando compreendo que lutei em vão, em vez de ficar amargurado, eu perceber o significado daquilo que fiz, perceber que andei no encalço de um ideal, e que o ideal sempre destrói — porque o ideal não tem significação alguma, o ideal é sempre autoprojeção, o ideal é adiamento, o ideal me impede de compreender o que é, impede-me de compreender o todo; se eu puder estar tranquilo, sem ser traído noutra direção; se reconhecer todo o processo daquilo que fiz e perceber o que foi que me levou a esperanças falsas e despertou em mim toda a sorte de ambições; se puder perceber esse fato, sem fazer nenhum movimento noutra direção, seja de justificação, seja de condenação; se puder permanecer com "ele", viver com "ele", tenho então a possibilidade de reviver, não é verdade? Porque a mente se dedicou a uma coisa da qual esperava resultados, utopias, maravilhas. Etc. Se a mente reconhece o que fez, há renovação, não acham? Se sei que fiz uma coisa má, uma coisa falsa, se estou cônscio disso, se o compreendo, então, certamente, essa própria compreensão é luz, é o novo.

Mas a maioria de nós não têm paciência ou sabedoria, ou capacidade de reconhecer silenciosamente o que praticou, sem sentir amargura. Tudo o que sei é que gastei minha vida em vão, e agora aspiro a uma vida nova. Estou ansioso por agarrar a coisa nova. Se tenho essa ânsia de agarrar, então estou de novo perdido. Porque, então, aí está o guru, o guia político, a promessa de utopia, para novamente me arrastar. E assim vejo-me novamente envolvido no mesmo processo de antes. Mas reconhecer esse processo é ser paciente, é estar cônscio, é saber o que fiz, e não tentar mais nada. Isso exige muita sabedoria. É preciso muita afeição para saber que não vou mais participar de nenhuma dessas coisas. Não importa aonde eu seja levado, mas não quero mais fazer aquilo. Quando assim procedemos, quando nos achamos naquele estado, garanto-lhes que há então renovação, que há um novo começo. Mas preciso ter cuidado para que minha mente não crie uma nova ilusão, uma nova esperança.

Jiddu Krishnamurti — 20 de janeiro de 1952 – Quando o pensamento cessa

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A compaixão está além das regras

Agora, a história zen.
Num dia de inverno, um samurai sem mestre foi ao templo de Eisai e fez um apelo:

Sou pobre e doente - disse - e minha família está morrendo de fome. Por favor, ajude-nos, mestre.
Dependente como era de doações de viúvas, Eisai levava uma vida muito austera e nada tinha para dar.
Ia mandar o samurai embora quando se lembrou da imagem do Buda Yakushi no saguão. Subiu até ela, arrancou-lhe o halo e o deu ao samurai.
Venda isso - disse Eisai. - Deve aliviar seus problemas.
O perplexo porém desesperado samurai pegou o halo e saiu.
Mestre! - gritou um dos discípulos de Eisai. - Isso é sacrilégio! Como o senhor pôde fazer tal coisa?
Sacrilégio? Bah! Simplesmente fiz bom uso, por assim dizer, da mente do Buda, que é plena de amor e misericórdia. Na verdade, se ele próprio tivesse ouvido aquele pobre samurai, teria cortado um braço ou uma perna por ele.
Uma história muito simples, porém muito significativa. Primei­ro, mesmo que você nada tenha para dar, olhe de novo. Sempre en­contrará algo. Mesmo que nada tenha, sempre poderá encontrar algo. Se não puder dar nada, pelo menos pode sorrir; se não puder dar nada, pelo menos pode se sentar com a pessoa e segurar-lhe a mão. Não se trata de doar algo, trata-se de se doar.

Eisai era um monge pobre, como geralmente são os monges bu­distas. Sua vida era muito austera e ele não tinha nada para dar. Nor­malmente, é um absoluto sacrilégio tirar o halo da estátua do Buda e dá-lo a alguém. Nenhuma pessoa que se diz religiosa pensaria nisso. Somente alguém realmente religioso o faria — é por isso que digo que a compaixão não conhece regras, está além das regras. E selvagem. Não segue formalidades.

De repente, o mestre se lembrou da imagem do Buda no saguão. No Japão, na China, eles colocam um halo de ouro em volta da ca­beça do Buda, só para representar a aura. De repente o mestre se lem­brou - ele devia venerar a mesma estátua todos os dias.
Subiu até ela, arrancou-lhe o halo e o deu ao samurai.
Venda isso - disse Eisai. - Deve aliviar seus problemas.

O perplexo porém desesperado samurai pegou o halo e saiu.
O próprio samurai ficou surpreso. Não esperava aquilo. Até ele de­ve ter achado sacrilégio. Que tipo de homem era aquele? Era um se­guidor de Buda e destruiu a estátua. O mero toque na estátua é um sacrilégio, e ele arrancou o halo.

Essa é a diferença entre uma pessoa realmente religiosa e uma que se diz religiosa. Aquela que se diz religiosa sempre observa as regras, sempre pensa no que é apropriado e no que não é. Mas a pessoa verdadeiramente religiosa vive. Não há nada apropriado ou inapropriado para ela. A compaixão é tão infinitamente apropriada que tudo que ela fizer por compaixão se torna automaticamente apropriado.
Mestre! - gritou um dos discípulos de Eisai. - Isso é sacrilégio! Como o senhor pôde fazer tal coisa?
Até um discípulo sabe que isso não é certo. Algo impróprio foi feito. 
Sacrilégio? Bah! Simplesmente fiz bom uso, por assim dizer, da mente do Buda, que é plena de amor e misericórdia. Na verdade, se ele próprio tivesse ouvido aquele pobre samurai, teria cortado um braço ou uma perna por ele.
Compreender é diferente de apenas seguir. Quando você segue, torna-se quase cego; há regras que devem ser respeitadas. Se você com­preende, também segue, mas já não é cego. Cada momento é que de­cide; a cada momento sua consciência responde, e tudo que você fi­zer estará certo.

Osho, em "A Música Mais Antiga do Universo
Publicado no blog palavras de Osho

terça-feira, 4 de junho de 2013

O verdadeiro homem religioso é livre de crenças

Ora, o problema é este: — Quem é o homem religioso? E deve um homem religioso interessar-se por essa reforma social, em que se trata de acabar com a pobreza e possibilitar uma distribuição equitativa dos bens materiais? É evidentemente necessário extirpar a pobreza, ter boa saúde, alimentação suficiente, casas adequadas para morar, etc.; e isso haverá de realizar-se, por meio de legislação, da pressão, da produção em massa, etc. 

Mas que entendemos nós por um homem religioso? Por certo, o homem religioso é o que trabalha para libertar o indivíduo e a si próprio de todas as crueldades e sofrimentos da vida — o que significa que ele é livre de crenças. Esse homem não obedece a nenhuma autoridade, não segue a ninguém, porque ele é a luz de si mesmo; e essa luz irradia do autoconhecimento, é a libertação que vem à existência quando o indivíduo compreende a si mesmo. O homem religioso é aquele que é criador, não no sentido de pintar quadros ou escrever poesias, mas porque nele atua uma força de criação imorredoura, eterna. 

Ora, esse homem religioso que descobre sempre coisas novas, de momento a momento, esse homem ir-se-á ocupar de reformas sociais? Ou permanecerá fora da sociedade, socorrendo o indivíduo que se debate nesta luta interminável? Certo, o homem religioso permanece fora da sociedade, porque para ele não existe autoridade. Ele não busca resultados e, por conseguinte, os resultados surgem sem que ele nada faça para conseguí-los. Esse homem não se interessa por nenhuma reforma social

Notai bem: A reforma social é necessária, mas há muita gente trabalhando pela reforma social. E qual a razão dessa atividade? É por amor que a ela se entregam? Ou essa atividade, a que chamam reforma social, é um meio de essas pessoas se preencherem a si mesmas? Notar o mendigo na rua, ver a aterradora pobreza e a degradação existente nas aldeias, e sentir isso, ter amor, compaixão pelo mendigo, pelo aldeão, isso não é o mesmo que nos preenchermos numa atividade de reforma social — mesmo quando exerçamos atividades desta natureza. Mas quando a vossa pessoa se torna importante, numa atividade social, isto não acontece porque vos estais preenchendo com tal atividade? E quando isso acontece, já não amais; e o amar, o ter compaixão, o ser sensível ao belo e ao feio, isso é muito mais importante do que nos preenchermos num certo trabalho ostensivo, a que chamamos reforma social.

Assim, o homem religioso é que é o verdadeiro revolucionário, e não o que quer realizar uma revolução no sentido econômico. O homem religioso não reconhece nenhuma autoridade, não é ávido nem ambicioso, não está visando resultados, não é político; por conseguinte só ele é capaz de realizar a reforma correta. Eis porque é importante que todos nós, não como grupos, mas como indivíduos, nos libertemos imediatamente das crenças e dogmas, da avidez e da ambição. Se assim procederdes, vereis como a mente se tornará cheia de vitalidade. E o homem é então um reformador num sentido completamente diferente, porque irá ajudar-nos a libertar a mente, para descobrir e ser criadora. A mente que está ocupada, não pode ser criadora. A mente que se ocupa em preencher a si mesma, nunca descobrirá o desconhecido. Só a mente que se acha completamente desocupada, pode descobrir e compreender o eterno, e essa mente produzirá sua ação peculiar, na sociedade.

Krishnamurti — Da solidão à plenitude humana

domingo, 26 de maio de 2013

Você acredita em Deus?

Pergunta: Você acredita em Deus?

Krishnamurti: É fácil fazer perguntas, e é muito importante saber fazer perguntas corretas. Na pergunta em apreço, as palavras “crer” e “Deus” me parecem muito contraditórias. O homem que simplesmente crê em Deus nunca saberá o que é Deus, porque sua crença é uma forma de condicionamento — e isso é bastante óbvio. No cristianismo, vocês são ensinados desde pequeninos a crer em Deus e, portanto, vossa mente está condicionada desde o começo. Nos países comunistas, a crença em Deus é considerada puro disparate, e isso lhes causa horror. Vocês desejam convertê-los, e eles desejam lhes converter. Eles condicionaram sua mente para não crer, e vocês os chamam “os sem Deus”, enquanto vocês se consideram como tementes a Deus, etc. Não vejo, porém, muita diferença entre vocês e eles. Vocês podem frequentar a igreja, rezar, ouvir sermões, ou executar certos ritos, e aí encontrarem um certo estímulo; mas nada disso, por certo, constitui a experiência do “desconhecido”. E pode a mente experimentar o desconhecido, qualquer que seja o nome que lhe dermos — pois o nome não tem importância? Essa é que é a questão — e não a de crer ou de não crer em Deus?

Pode-se ver que nenhuma forma de condicionamento libertará a mente, em tempo algum; e que só a mente livre pode descobrir, experimentar. O experimentar é uma coisa muito estranha. No momento em que vocês sabem que estão experimentando, cessa a experiência. No momento em que sei que sou feliz, já não sou feliz. Para se experimentar aquela realidade imensurável, o “experimentador” deverá morrer. O “experimentador” é um resultado do conhecido, de muitos séculos de memória cultivada; ele é um acúmulo das coisas que experimentou. E, assim, quando diz: “Preciso experimentar a realidade”, e se torna cônscio dessa experiência, então o que ele experimentar não é a realidade, porém, uma projeção de seu próprio passado, seu próprio condicionamento.

Por isso é tão importante compreender que “pensador” e “pensamento”, ou “experimentador” e “experiência”, são uma só coisa; não são coisas diferentes. Quando existe um “experimentador” separado da “experiência”, aquele está, então, sempre buscando mais experiência; mas, cada experiência é sempre uma “projeção” dele próprio.

A realidade, pois, o estado atemporal, não pode ser encontrado pela mera verbalização ou aceitação, ou pela repetição do que se ouviu dizer — pois isso é absurdo.  Para descobrir, realmente, é necessário compreender a fundo essa questão do “experimentador”. Enquanto existir “eu” a desejar experimentar, não haverá experiência da Realidade. Eis porque o “experimentador” — a entidade que busca a Deus, que crê em Deus, que ora a Deus — deve deixar de existir, completamente. Só então surgirá aquela Realidade imensurável.

Krishnamurti — Verdade Libertadora — ICK  — 25 de junho de 1956

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Espiritualidade é conformidade imposta pela autoridade do medo


De acordo com o meu ponto de vista, crenças, religiões, dogmas e credos, nada têm que ver com a vida e, portanto, nada têm que ver com a verdade.
(...)
É em consequência do medo que a humanidade tem juntado a vida em códigos de moralidades e sistemas de crenças.
(...)
A maioria de vocês, que possuem tendências religiosas e que falam de Deus e de imortalidade, não acreditam fundamentalmente no preenchimento individual, pois que, na própria estrutura do pensamento religioso, em virtude do medo, vocês permitem a compulsão e a imposição. Ou tem de ocorrer o preenchimento individual ou a completa mecanização do homem.

Não pode haver transigência entre as duas coisas. Vocês não podem dizer que o homem tem de adaptar-se a um modelo, que deve concordar, seguir, obedecer, ter autoridade e, ao mesmo tempo, pensar que é uma entidade espiritual.
(...)
A causa fundamental de uma crença organizada, que controla e domina o homem, é o temor; e enquanto o homem, realmente, não estiver liberto dela, a sua ação tem de ser limitada, criando, por esse modo, outros sofrimentos.
(...)
A religião organizada tem de, inevitavelmente, criar divisões e conflitos entre os homens. Observa-se isso por todo o mundo. O hinduísmo, assim como o cristianismo, o budismo e outras religiões organizadas, têm suas peculiares crenças e dogmas, que são barreiras quase impenetráveis erigidas entre os homens que destroem o seu amor.

E que valor, que significado tem essas religiões, desde que estão, fundamentalmente, baseadas sobre o medo? Se discernirem a falsidade da crença organizada, e verificarem que por meio de qualquer crença particular não lhes é possível compreender a realidade, nem por meio de uma autoridade, seja ela qual for, pode a inteligência ser despertada, vocês, então, como indivíduos, não como grupo organizado, se libertarão dessa destruidora imposição. Isto significa que precisam se interrogar, a partir do começo, sobre esta ideia de crença, atitude que, porém, implica um grande sofrimento, pois não é um mero processo intelectual.

O homem que apenas investiga intelectualmente a questão da crença nada mais encontrará que poeira.
Se um homem que sofre, investigar profundamente essa estrutura interna, baseada no temor e na autoridade, então encontrará essas águas da vida que aplacarão a sua sede.
(...)
Somente quando vocês, como indivíduo, começam a perceber, em meio do conflito imenso, a causa e, portanto, a falsidade desse conflito, é que descobrirão o que é a Verdade.

Nisto existe felicidade eterna, inteligência; mas não nessa coisa estúpida chamada espiritualidade, que nada mais é que conformidade imposta pela autoridade através do medo. Digo que existe algo sublimemente real, infinito; porém, para descobri-lo, o homem não pode ser uma máquina imitadora, e as religiões de vocês, no mundo inteiro, separam as pessoas. Isto é, vocês, que, pelos seus particulares preconceitos, se denominam cristãos, e os indianos, que pelas suas crenças particulares se denominam hindus, jamais se encontrarão. Suas crenças lhes mantém separados. Suas religiões lhes separam.
(...)
As ideias religiosas não se limitam apenas ao além. É coisa muito mais profunda. O desejo de estar seguro dá nascimento à cogitação do além e a outras muitas sutilezas que criam o medo, e o libertar-se delas exige grande discernimento.

Só a mente que estiver insegura compreenderá a verdade; a mente não preparada, não condicionada pelo medo, estará aberta para o desconhecido. Preocupemo-nos, pois, com as limitações e as causas.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

domingo, 17 de março de 2013

Não há futuro para a religião


Legendas - saiba como acioná-las:

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Vai aparecer um menu na parte debaixo do vídeo.
Clique no botão igual ao acima e escolha a língua que você preferir.

Se o menu sumir antes de você clicar, 
passe o mouse pelo vídeo que ele reaparece.

Pare com o aborrecimento de ir para a sinagoga, ao templo, para a igreja, pois eles já lhe enganaram o suficiente.

Deixe de perguntar a essas pessoas, aos rabinos, aos monges, aos padres, porque tudo que eles sabem eles têm dado como consolações por milhares de anos e todas as suas consolações provaram ser impotentes.

Você tem que se voltar dos políticos, dos religiosos, para os cientistas.

A humanidade inteira tem que focalizar na ciência se quiser se livrar da miséria.

E minha religião chamo de a ciência da alma interior.

Não é uma religião; Ela é exatamente uma ciência.

Assim como a ciência funciona no mundo objetivo, essa ciência funciona no mundo subjetivo.

Lembre-se que a ciência exterior pode ajudar imensamente a reduzir seu sofrimento e miséria em quase noventa por cento.

E uma vez removido noventa por cento do seus sofrimentos e misérias - que são físicos, biológicos, a ciência pode removê-los muito facilmente, então os dez por cento da miséria restante ficará pela primeira vez claro para você. 

Agora mesmo está perdido na confusão desses noventa por cento de miséria.

Assim você será capaz de ver que; toda essa miséria nada era comparado a esses dez por cento, desses dez por cento é a verdadeira angústia.

E essa só pode ser transformada através do movimento interior; chame-o de meditação, consciência, observação.

Mas esses dez por cento de miséria tem um peso imenso. 

Os noventa por cento nada são, é apenas fome... a comida que você necessita, o abrigo que você necessita, o emprego que você precisa, e todas essas coisas podem ser resolvidas pela ciência.

Remova completamente o sacerdote. Ele não tem nenhuma função no futuro. Ele já causou bastante dano.

Focalize na ciência, e assim você irá imediatamente ver uma nova dimensão surgir em você, da qual você não estava ciente, ela estava aí mas um homem faminto, como ele pode pensar se a vida tem sentido ou não? Um homem com fome não pode achar se a flor é bela ou não; ele está faminto.

Você não pode conversar sobre música, poesia e pintura com ele. Isso será humilhá-lo; isso será apenas um insulto, um insulto completo. 

Mas uma vez que esses problemas desaparecem então ele começará, pela primeira vez, a investigar sobre questões existenciais reais que só podem ser respondidas pela ciência subjetiva.

Assim não há futuro para a religião. 

Há um futuro para uma ciência objetiva para lidar com assuntos objetivos, e uma ciência subjetiva para lidar com seus assuntos do interior.

Uma cuidará da sua fisiologia, biologia. A outra cuidará da sua psicologia e do seu supremo centro: a alma.

Direitos autorais© OSHO International Foundation
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill