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sábado, 8 de novembro de 2014

A mente é um subproduto social; não é você!

Para mim, a mente é aquilo que foi dado a você. Não é sua. Mente significa o emprestado, significa o cultivado, aquilo que a sociedade inoculou em você. Não é você. Consciência é a sua natureza; a mente é apenas o círculo criado em torno de você pela sociedade; é a cultura, a sua educação. 

Mente significa o condicionamento. Você pode ter uma mente hindu, mas não pode ter uma consciência hindu. Você pode ter uma mente cristão, mas não pode ter uma consciência cristã. A consciência é una; não é divisível. As mentes são muitas porque as sociedades são muitas, as culturas, as religiões são muitas. Cada sociedade, cada cultura cria uma mente diferente. A mente é um subproduto social. E, a menos que essa mente seja dissolvida, você não pode ir para dentro, não pode conhecer a sua natureza real, o que é autenticamente a sua existência, a sua consciência. 

O esforço em direção à meditação é um combate à mente. A mente nunca é meditativa, nunca é silenciosa. Portanto, dizer 'mente silenciosa' não tem sentido, é um absurdo. É como dizer "doença saudável!" Não faz sentido. Como pode existir uma doença saudável? Doença é doença, e saúde é ausência de doença. 

Não existe nada semelhante a uma mente silenciosa, Quando há silêncio, não há mente. Quando há mente, não há silêncio. A mente, como tal, é o distúrbio, a doença. Meditação é o estado de não-mente. Não de uma mente silenciosa, não de uma mente sã, não de uma mente concentrada, não. Meditação é o estado de não-mente: nenhuma sociedade dentro de você, nenhum condicionamento. Só você, com a sua consciência pura. 

No Zen dizem: Descubra a sua face original. A face que você usa não é original; é cultivada. Não é a sua face; é somente uma fachada, um estratagema. Você tem muitas caras, a cada momento você muda de cara. Está sempre mudando. A mudança já se tornou tão automática, que você nem nota, nem observa. 

Quando você encontra o seu empregado, você usa um rosto diferente daquele que usa quando encontra o seu patrão. Se o seu empregado está sentado à sua esquerda e o seu patrão à direita, você tem duas faces. A face esquerda é para o empregado, a face direita é para o patrão. Você é duas pessoas simultaneamente. Como poderia mostrar a mesma face para o empregado e para o patrão? Um dos seus olhos possui certa qualidade, um olhar determinado. Seu outro olho possui uma qualidade diferente, um olhar diferente. Um está dirigido para o patrão e o outro está dirigido para o empregado. Isso se tornou tão automático, tão mecânico, tão robotizado que você está sempre mudando a sua face; você tem múltiplas faces e nenhuma delas é original. 

No Zen se diz: Descubra seu rosto original, o rosto que você possuía antes de nascer, ou o rosto que terá depois de morto. Qual é esse rosto original? O rosto original é a sua consciência. Todos os outros são frutos da sua mente. 

Lembre-se bem de que você não tem apenas uma mente; você possui multimentes. Esqueça o conceito de que todo mundo possui uma única mente. Você não tem, você tem muitas: uma multidão, uma multiplicidade; você é polipsíquico. Pela manhã você tem uma mente, à tarde, outra e, à noite, ainda outra. A cada instante você tem uma mente diferente. 

A mente é um fluxo: fluvial, flutuante, cambiante. A consciência é eterna, uma. Não é diferente de manhã, não é diferente à noite. Não é uma quando você nasce e outra quando você morre. É sempre a mesma, eterna. mente é fluxo. Uma criança possui uma mente infantil, um velho possui uma mente velha; mas uma criança ou um velho possuem a mesma consciência, que não é infantil, nem velha. Ela não pode ser diferente. 

A mente se move no tempo e a consciência vive na atemporalidade. Não são uma coisa só. Mas estamos identificados com a mente. Continuamos dizendo, insistindo: "minha mente. Eu penso desse jeito. Esse é o meu pensamento. Esta é a minha ideologia." Você perde o que realmente é por causa dessa identificação com a mente. 

Dissolva esses vínculos com a mente. Lembre-se de que suas mentes não são verdadeiramente suas. Foram dadas a você por outros: seus pais, sua sociedade, sua universidade. Foram dadas a você. Jogue-as fora, fique com a consciência única que é você — pura consciência, inocência. É assim que passamos da mente para a meditação. É assim que saímos da sociedade, do exterior para o interior. É assim que se passa do mundo feito pelo homem, de maia, para a verdade universal, a existência. 

É isto que estamos fazendo aqui: jogando a mente fora. Quando insisto: "Fique louco" — estou lhe dizendo: "Jogue a mente fora". Quando digo: "Passe por uma catarse" — estou dizendo, "Jogue fora tudo o que a sociedade lhe deu e fique apenas com o que você é. Não com o que lhe tem sido dado, mas com o que você nasceu — sua natureza". 

Jogue fora as ambições, as repressões, as idéias, as atitudes, os conceitos. Seja simples, como uma criança, inocente, e então você penetrará numa dimensão diferente. Então você pode penetrar no desconhecido. Eis por que a verdade não pode ser conhecida através da mente. A mente significa o passado e a verdade significa o eterno presente; portanto, você não pode aproximar-se da verdade através da mente. A mente é a barreira, o único obstáculo. 

Osho em, A Nova Alquimia 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sobre o processo de automatização de seres humanos

Que unidade de infecção mental principal do ambiente é absorvida e internalizada? Uma sociedade, geralmente, dá aos seus membros, além de linguagem e rótulos comuns, um conjunto de articulações e justificações oferecendo as razões pelas quais se espera que os membros SE AJUSTEM ao código, preconceitos e cerimonias daquela sociedade. Tensão social, coerção e COMPULSÃO DE CONFORMAR-SE apelam mais a mente imaturas, especialmente quando reforçadas por satisfações substitutas, como expectativas utópicas, auto-adulação ou ódio internalizado sob a forma de preconceito e bode-expiatório. Em outras palavras, o contágio mental comum de agressão, excitação e depreciação dos de fora é com frequência muito eficaz para ajudar pessoas A SE DESABAFAREM. Em todo esse atoleiro, onde fica o núcleo infeccioso?

(...) Estrategistas tirânicos, quando recrutam dóceis seguidores, fazem pleno uso dessa tendência passiva que as pessoas têm para REGREDIR sob terror e tensão. A Alemanha nazista deu origem ao "perfeito robô humano" — aquele que podia matar a uma ordem, sem o menor sentimento de responsabilidade moral pessoal por seus atos. O homem em regressão torna-se uma coisa em lugar de um "ser". NÃO É MAIS CAPAZ DE OBSERVAR E EXAMINAR.

(...) A automatização de seres humanos, o impulso para o robotismo e instituições computadorizadas, promove o contagioso HÁBITO de difundir desconfiança, mútua no mundo. Porque desconfiança é tão contagiosa? Na patologia estamos muito familiarizados com este conceito de fácil contaminação de pessoas por sentimentos de desconfiança e perseguição. Nesse sentido pequenos grupos fechados podem de repente comportar-se de maneira quase psicótica. Desconfiança profunda leva pessoas a voltarem involuntariamente a um estado INFANTIL INSTÁVEL sem fronteiras protetoras do ego e SEM NOÇÃO da diferença entre qual sentimento é PROVOCADO DE FORA e qual é PROVOCADO DE DENTRO. Delírios paranoicos de GRANDEZA e delírios de perseguição são muito semelhantes. Parece plausível explicá-los com base na falta de capacidade do homem para diferenciar entre seu mundo interior e exterior.

(...) Ser um robô, ser um dente da engrenagem, dá ao homem o sentimento de ser novamente um bebê indefeso e vulnerável. Desconfiança e prevenção, inveja e rivalidade tornam-se então as amargas unidades infecciosas que prendem o homem a suas reações à insegurança e ao desconhecimento, e a seus sentimentos de fraqueza. Contudo, ao culpar os outros, ele se torna vulnerável, e ainda mais, suspeito.

Paranoização coletiva e regressão infecciosa de massa são quase sinônimos. Se o mundo chegar um dia a um holocausto nuclear, será porque a nossa civilização não foi capaz de controlar a necessidade que o homem tem de regressão e ódio irracional. Não podemos negar que vive em todos nós a reação potencial de desconfiança paranoide. Felizmente, para nós, ela geralmente é manifestada apenas por pequena minoria da população. No entanto, o terror instilado por minorias e extremistas é capaz de dar início ao caos e a revolução. De fato, o cruzamento consanguíneo de desconfiança e ressentimento pode levar a comunidade a um furo suicida e homicida.

(...) As pessoas estão mergulhadas em um mar de engenhos tecnológicos. Não podem mais compreender para que são todas essas coisas. Só sabem que os multiformes engenhos de comunicação estão enfiando seu nariz na vida privada dos indivíduos. A televisão hipnotiza o microcosmo da sala de estar, o telefone espanta com toques de campainha os últimos vestígios de silêncio e a publicidade seduz-nos hora após hora. A espada recém-eletrificada de Dámocles pende sobre o homem moderno.

(...)Desde o início de nossos dias recebemos de nossos pais e do ambiente grandes pedaços e peças de informação que se combinam para formar nossa experiência, que por sua vez condiciona nosso comportamento... Geralmente não temos consciência dessa sutil modelagem de nossos sentimentos e pensamentos pelo ambiente, por todos os amigos e parentes que nele existem. Quanto a controle psicológico remoto, o fato é que ele pode ser fortalecido quando é dada forte ênfase social à intrusão na vida privada. Modernos aparelhos eletrônicos de espionagem e sistemas de telegravação são apregoados vigorosamente a fim de seduzir pessoas a tornarem-se bisbilhoteiros eletrônicos — indivíduos que desejam saber o que está se passando nas fendas da mente alheia.

Joost A.M. Merloo

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Por que mantêm-se um padrão idiota, irracional de encarar as coisas?

K: ...Estávamos falando outro dia a respeito da eliminação do tempo. Os cientistas, através da investigação da matéria, querem descobrir esse ponto. As chamadas pessoas religiosas têm se empenhado em descobrir — não apenas verbalmente — se o tempo pode parar. Nós entramos um pouco nisso, e chegamos à conclusão de que é possível que um ser humano que escute, consiga encontrar, através da visão intuitiva, o final do tempo. Pois a visão intuitiva não é memória. Memória é tempo, memória é experiência, conhecimento, armazenados no cérebro, e assim por diante. Enquanto ela estiver funcionando, não existirá qualquer possibilidade de termos qualquer visão intuitiva com relação a alguma coisa. Estou me referindo à visão intuitiva total e não à parcial. O artista, o cientista, o músico, todos eles têm visões intuitivas parciais e portanto ainda estão vinculados ao tempo.

É possível termos uma visão intuitiva total, o que representa o fim do "mim", porque o "mim" é o tempo? O "mim", meu ego, minha resistência, minhas mágoas, tudo isso. Esse "mim" pode acabar? É somente quando ele acaba que ocorre a visão intuitiva total; foi isso que descobrimos.

Depois abordamos a pergunta: é possível a um ser humano eliminar completamente toda essa estrutura do "mim"? Respondemos que sim e nos aprofundamos mais no assunto. Muito poucas pessoas prestarão atenção a isso porque é por demais aterrorizante. Surge então a pergunta: se o "mim" terminar, o que encontraremos? Apenas o vazio? Não há interesse nisso; mas se estivermos investigando sem qualquer sentimento de recompensa ou de punição, então existirá alguma coisa. Dizemos que tal coisa é o vazio total, que é energia e silêncio. Bem, isso soa bonito, mas não tem qualquer significado para um homem comum que seja sério e que queira ir além disso, além de si mesmo. Fomos ainda mais adiante e perguntamos: existe alguma coisa além disso tudo? E dissemos que há.

DB: A base.

K: A base. Será que o começo dessa investigação é escutar? Será que eu, como um ser humano, abandonarei completamente minha atividade egocêntrica? O que fará com que eu me afaste dela? O que fará com que um ser humano se afaste dessa atividade destrutiva e autocentrada? Se ele se afastar devido à recompensa ou ao castigo, isso representará apenas outro pensamento, outro motivo. Portanto, descartemos isso. O que fará, então, com que os seres humanos renunciem — se eu puder usar essa palavra — renunciem completamente a ela sem qualquer motivo?

Veja, o homem tentou tudo com esse objetivo — o jejum, a tortura de si mesmo sob diversas formas, a auto-abnegação através da crença e a negação de si próprio por meio da identificação com algo superior. Todas as pessoas religiosas tentaram, mas o "mim" ainda está presente.

DB: Sim. Toda a atividade não tem significado, mas de algum modo isso não se torna evidente. As pessoas se afastarão de algo que não tenha significado, e que não faça sentido, corriqueiramente falando. Parece, contudo, que a percepção desse fato é rejeitada pela mente. A mente resiste a isso.

K: A mente resiste a esse conflito permanente, e se afasta dele. 

DB: Ela se afasta do fato de que o conflito não tem significado. 

K: As pessoas não percebem isso.

DB: A mente também está organizada deliberadamente para não percebê-lo. Ela o evita quase que deliberadamente, mas não propriamente de modo consciente, como o fazem as pessoas na Índia que dizem que vão se retirar para as montanhas do Himalaia porque não há nada a ser feito.

K: Mas isso é inútil. Você quer dizer que a mente, por ter vivido tanto tempo no conflito, recusa-se a se afastar dele?

DB: Não está claro porque ela se recusa a abandoná-lo; porque a mente não quer enxergar que o conflito não tem qualquer sentido. A mente está enganando a si própria, está querendo se proteger.

K: Os filósofos e as chamadas pessoas religiosas enfatizaram a luta, enfatizaram a importância do esforço e do controle. Será esse um dos motivos pelo qual os seres humanos se recusam a abandonar o seu modo de viver?

DB: Possivelmente. Eles acham que através da luta ou do esforço alcançarão um melhor resultado. Eles não querem desistir do que possuem, e sim melhorá-lo através de intenso esforço.

K: O homem já viveu dois milhões de anos; o que ele conseguiu? Mais guerras, mais destruição.

DB: O que estou tentando dizer é que as pessoas tendem a não querer ver isso, mas também se inclinam a voltar atrás com a esperança de que a luta produza algo melhor.

K: Não estou bem certo se esclarecemos esse ponto, ou seja, que os intelectuais — estou empregando essa palavra respeitosamente — os intelectuais do mundo tenham enfatizado esse fator de luta.

DB: Creio que muitos deles o fizeram.

K: A maioria deles.

DB: Karl Marx
.
K: Marx e até Bronowski, que falam de mais e mais luta, e da aquisição de mais e mais conhecimento. Será que os intelectuais têm uma influência tão extraordinária nas nossas mentes?

DB: Acho que as pessoas fazem isso sem qualquer estímulo por parte dos intelectuais. Veja bem, a luta tem sido enfatizada por toda parte.

K: É isso que eu quis dizer. Por toda parte. Por quê?

DB: Bem, no início as pessoas pensaram que ela seria necessária porque tinham de lutar contra a natureza para poderem sobreviver.

K: Então a luta contra a natureza foi transferida para as outras pessoas?

DB: Sim, uma parte dela. Entenda, temos que ser bravos caçadores, e temos de lutar contra nossas próprias fraquezas para nos tornarmos corajosos, caso contrário não podemos fazê-lo.

K: Sim, exatamente. Será então que as nossas mentes estão condicionadas, moldadas e sustentadas por esse padrão?

DB: Bem, isso é certamente verdadeiro, mas não explica porque é tão excessivamente difícil mudá-lo.

K: Porque estamos acostumados a ele. Estamos numa prisão, mas estamos acostumados com ela.

DB: Mas acho que existe uma tremenda resistência a nos afastarmos dela.

K: Por que um ser humano resiste a isso, quando nos aproximamos e mostramos a falácia e a irracionalidade de tudo isso, apontamos toda a causa e o efeito, damos exemplos, apresentamos dados, e tudo o mais? Por quê?

DB: É isso que eu disse: se as pessoas fossem capazes de ser completamente racionais, elas abandonariam tudo isso; mas penso que existe algo mais com relação ao problema. Veja, podemos expor sua irracionalidade, mas existe alguma coisa mais, no sentido de que as pessoas não estão completamente conscientes de todo esse padrão de pensamento. Depois de ser revelado em determinado nível, ele ainda continua presente em níveis dos quais a pessoa não tem consciência.

K: E o que os tornaria conscientes?

DB: E isso que temos que descobrir. Acho que as pessoas têm que se tornar conscientes de que possuem essa tendência de prosseguir com o condicionamento. Pode ser um simples hábito, ou pode ser o resultado de muitas conclusões passadas que estão todas operando agora sem as pessoas saberem. Existem muitas coisas diferentes que mantêm as pessoas nesse padrão. Poderemos convencer alguém de que o padrão não faz sentido, mas quando se trata dos assuntos objetivos da vida, essa pessoa procederá de mil maneiras diferentes que implicam esse padrão.

K: Realmente. E depois?

DB: Bem, acho que uma pessoa teria que estar extremamente interessada nisso para destruí-lo completamente.

K: O que levará, então, os seres humanos a esse estado de extremo interesse? Veja bem, já lhes ofereceram o céu como recompensa se fizessem isso. Várias religiões tiveram essa atitude, embora isso se torne excessivamente infantil.

DB: A recompensa representa parte do padrão. Normalmente, a regra é que eu siga o padrão auto-envolvente a não ser que surja algo realmente importante.

K: Uma crise.

DB: Ou quando esperamos obter uma recompensa.

K: Naturalmente.

DB: Esse é um padrão de pensamento. As pessoas devem de algum modo acreditar que ele tem valor. Se todo mundo fosse capaz de trabalhar em conjunto e de repente pudéssemos criar a harmonia, todo mundo diria: está bem, eu também renunciarei. Na ausência disso, porém, as pessoas preferem se agarrar ao que possuem! Esse é o tipo de pensamento.

K: Agarrar-se ao que é conhecido.

DB: Eu não tenho muito, mas é melhor que eu me prenda a isso.

K: Sim. Está dizendo, então, que se todo mundo fizer isso, eu também o farei?

DB: Essa é a forma comum de pensamento. Porque tão logo as pessoas começam a cooperar numa emergência, um grande número começa a aderir.

K: Então elas formam comunas. Mas todas elas falharam.

DB: Porque depois de algum tempo essa coisa especial desaparece e as pessoas caem no antigo padrão.

K: O antigo padrão. Então eu pergunto: o que fará com que um ser humano rompa esse padrão?

(...)

I: Você está colocando a pergunta em termos de uma ação, de um rompimento, de uma renúncia. Isso não é uma questão de percepção?

K: Sim. Mostre-me, ajude-me a perceber, porque eu estou resistindo a você. Meu padrão, que está tão arraigado em mim, está me segurando — correto? Quero provas, quero ser convencido.

I: Temos de voltar à pergunta: por que eu quero ter provas? Por que desejo me convencer?

K: Porque alguém afirma que temos um modo idiota, irracional de encarar as coisas; e essa pessoa nos mostra todos os efeitos disso, a sua causa, e nós dizemos: sim, mas não podemos deixá-lo!

DB: Podemos dizer que essa é a própria natureza do "mim", que temos que atender às nossas necessidades, não importa quão irracionais elas sejam.

K: É isso que estou dizendo.

DB: Primeiramente, devo cuidar das minhas necessidades, e depois posso tentar ser racional.

K: Então, quais são as nossas necessidades?

DB: Algumas são reais e algumas são imaginárias, mas...

K: Sim, é isso. As necessidades imaginárias, ilusórias, dominam as outras necessidades.


Krishnamurti em, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Por que somos condicionados?

K: ...Por que ficamos condicionados assim?

DB: Por exemplo, dissemos outro dia que talvez o homem tenha dado um passo errado, tenha estabelecido um condicionamento errado.

K: O condicionamento errado desde o início; ou talvez a procura pela segurança — a segurança pessoal, para a família, para o grupo, para a tribo — tenha acarretado essa divisão.

DB: Mesmo nesse caso temos que perguntar porque o homem procurou essa segurança da forma errada. Veja, se tivesse havido qualquer inteligência, teria ficado claro que tudo isso não tinha significado.

K: Naturalmente, você está voltando ao passo errado. Como pretende me mostrar que demos um passo na direção errada?

DB: Está dizendo que queremos demonstrar isso cientificamente?

K: Sim. Acho que o passo errado foi dado quando o pensamento se tornou extremamente importante.

DB: O que fez com que ele se tornasse muito importante?

K: Bem, vamos chegar a uma conclusão. O que fez com que os seres humanos endeusassem o pensamento como o único meio de atuação?

DB: Também devemos tornar claro o motivo pelo qual, se o pensamento é tão importante, ele causa todas as dificuldades. Essas são as duas perguntas.

K: Isso é bastante simples. O pensamento se tornou rei, supremo; e esse pode ser o passo errado dos seres humanos.

DB: Veja, acho que o pensamento se transformou no equivalente da verdade. As pessoas consideraram que o pensamento fornece a verdade, fornece o que é sempre verdadeiro. Existe a noção de que temos conhecimento — que pode se manter em alguns casos por certo tempo — mas os homens generalizam, porque o conhecimento está sempre se generalizando. Quando as pessoas alcançaram a noção de que seria sempre assim, isso cristalizou o pensamento do que é verdadeiro. Isso deu ao pensamento uma importância suprema.

K: Você está perguntando, não está, por que o homem deu tanta importância ao pensamento?

DB: Acho que ele resvalou.

K: Porquê?

DB: Porque ele não percebeu o que estava fazendo. Veja, no início ele não viu o perigo...

I: Há pouco tempo atrás, você disse que a base comum para o homem é a razão...

K: Os cientistas dizem isso.

I: Se pudermos mostrar a uma pessoa que algo é verdadeiro. ..

K: Mostre-me isso. É verdade que sou irracional. Isso é um fato, isso é verdadeiro.

I: Você não precisa de razão para isso. A observação é suficiente.

K: Não. As pessoas brigam. As pessoas falam sobre a paz. As pessoas são irracionais. O Dr. Bohm assinalou que os cientistas dizem que o homem é racional, mas o fato é que a vida do dia-a-dia é irracional. Agora, estamos pedindo: mostre-nos cientificamente por que isso é irracional; isto é, mostre de que maneira o homem resvalou nessa irracionalidade; por que os seres humanos aceitaram isso. Podemos dizer que é hábito, tradição, religião. Além disso, os cientistas também são muito racionais no seu campo específico, mas irracionais nas suas vidas.

I: Você afirma, então, que a principal irracionalidade foi ter tornado rei o pensamento?

K: Isso mesmo. Chegamos aonde queríamos.

DB: Mas como resvalamos no sentido de fazer o pensamento tão importante?

K: Por que o homem considerou o pensamento como sendo a coisa mais importante? Acho que isso é muito fácil de responder. Porque isso é a única coisa que ele conhece.

DB: Isso não implica que o homem lhe dê uma importância tão grande.

K: Porque as coisas que conheço — as coisas que o pensamento criou, as imagens, e todo o resto — são mais importantes do que as coisas que não conheço.

DB: Mas veja, se a inteligência estivesse atuando, ele não teria chegado a essa conclusão. Não é racional dizer que tudo o que sei é importante.

K: Concordo, mas o homem é irracional.

DB: Ele escorregou na irracionalidade e disse: tudo o que sei é importante. Mas por que teria o homem feito isso?

K: Você diria que o erro foi cometido porque ele se agarra ao conhecido e rejeita qualquer coisa desconhecida?

DB: Isso é um fato, mas não está claro porque ele o faz.

K: Porque é a única coisa que ele tem.

DB: Estou perguntando, porém, por que ele não foi inteligente o suficiente para perceber isso?

K: Porque ele é irracional.

DB: Bem, estamos dando voltas!

K: Não acho.

DB: Veja bem, cada uma das razões que apresentou são apenas um outro exemplo da irracionalidade do homem.

K: Isso é tudo que estou dizendo. Somos basicamente irracionais, porque demos ao pensamento uma importância suprema.

Krishnamurti em, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Pode a mente experimentar o desconhecido?

Por que é que as pessoas, tendo uma certa renda e podendo retirar-se do trabalho de responsabilidade, tanta vezes se deterioram e se desintegram psicologicamente?

Krishnamurti: A deterioração é mera resultante da renda certa? A renda certa talvez apenas exagere a deterioração já existente. Não, meus senhores, não foi riam disso, como se nada fosse. Interessa-nos saber por que a mente se deteriora numa determinada fase, ou por que razão ela se deteriora

Um homem que está trabalhando, ganhando dinheiro, frequentando regularmente um escritório, não está se deteriorando, aparentemente, pois está em atividade; ao cessar, porém, essa atividade, torna-se perceptível a deterioração. 

A mente sujeita a uma rotina, seja a rotina de um escritório, de um rito, ou a rotina de um certo dogma, já está se deteriorando, não é verdade?

Por certo, vale muito mais a pena descobrir as causas determinantes da deterioração da mente, do que inquirir por que razão o seu vizinho se desintegra, quando se retira das atividades. Se pudermos realmente compreender só esta questão, talvez venhamos a conhecer a eternidade da mente.

Por que se deteriora a mente — não apenas a sua mente, mas a mente do homem? Pode-se ver que o fator da deterioração surge quando a mente se transforma em máquina de hábito, quando a sua educação é mero exercício de memória, e quando se acha numa luta incessante, procurando ajustar-se a um padrão imposto de fora ou criado por ela própria. 

Há medo, deterioração, destruição da mente, quando ela está constantemente em busca de segurança, ou quando sujeita do desejo de preenchimento.  

E tal é o nosso estado, não é verdade? Ou estamos na sujeição do hábito, da rotina, fazendo a mesma coisa sempre e sempre, exercitando-nos na virtude, ajustando-nos ao padrão de uma disciplina, para chegarmos a um certo resultado, para encontrarmos segurança psicológica ou material; ou, ainda, estamos a competir, a fazer esforços inauditos, na nossa ambição de sucesso mundano. 

Certo, é isso que cada um de nós está fazendo, e, por conseguinte, já pusemos em funcionamento o mecanismo da deterioração. Se qualquer dessas reações existe em nós, em qualquer nível que seja, estamos nos deteriorando. 

Pois bem. Pode a mente renovar-se com frequência? Pode a mente ser criadora momento por momento? 

Não me refiro à criação compreendida como mera atividade de planejar e expressar, compreendida como capacidade ou aplicação de uma técnica. Não estou me referindo à criação sob nenhum desses aspectos. Mas pode a mente experimentar o desconhecido? Sem dúvida, só no estado de não-conhecimento não há deterioração.

Qualquer outro estado acarretará, por força, o envelhecer da mente. Como qualquer mecanismo posto a funcionar seguidamente durante dias, semanas, meses e anos, a mente, sempre em atividade, se deteriora, inevitavelmente. 

Enquanto você fizer uso da sua mente como se fosse máquina, para realizar, produzir, ganhar, tem em si as sementes da deterioração, da velhice e da decrepitude. E quer se trate de um menino de dezesseis anos ou de um velho de sessenta, o "processo" é o mesmo. 

Nós, porém, em geral, não estamos cônscios desse processo de deterioração. Estamos cônscios, apenas, de nos acharmos entre as rodagens da máquina de prazeres e dores e sofrimentos, e da nossa luta para sairmos dela. 

A mente, pois, nunca está quieta, despreocupada; sempre se acha envolvida com alguma coisa: com Deus, com o comunismo, com o capitalismo, com o enriquecer, com a opinião dos outros ou... com a cozinha. Com quantas coisas ela anda preocupada! Como está constantemente ocupada, nunca é livre, jamais tranquila. 

Só a mente que está tranquila — não por estar insensibilizada, mas por encontrar-se naquele estado de silêncio que é criador — só essa mente pode sustar a deterioração. 

A imunidade à deterioração não é possível à mente que se preenche pelo exercício de capacidades. À medida que nos tornamos mais idosos, a capacidade se embota. Você pode ser um exímio pianista; como o envelhecer, porém, vem o reumatismo, vêm os achaques, vem a cegueira, ou você pode ser vitima de um acidente. 

A mente que anda à procura de preenchimento, em qualquer sentido, em qualquer nível, já contém em si a semente da destruição. É o "eu" que quer preencher-se, quer tornar-se alguma coisa; vendo-se vazio, frustrado, busca o "eu" preenchimento em minha família, meu filho, minha propriedade, minha ideia, minha experiência. 

Quando reconhecemos tudo isso e lhe percebemos os perigos, só então a mente pode estar vazia momento por momento, dia por dia, não embargada pela carga do passado ou pelo temor do futuro. 

O viver naquele momento não é nenhuma coisa fantástica, só concedida a uns poucos.

Afinal de contas, como disse, cada um de nós vive num mundo de sofrimento, luta, dor, efêmera alegria, e cada um de nós deve encontrar aquela coisa desconhecida; ela não foi reservada só para um e negada aos demais. É justo que podemos criar um mundo novo; mas este mundo novo não pode nascer da revolução exterior, que produz decomposição. 

A mente se deteriora quando busca um fim, quando se submete à autoridade, nascida do temor. Há um definhar-se da mente, quando não há autoconhecimento, e o autoconhecimento não é uma coisa que se possa aprender de um livro. Ele tem de ser descoberto a cada momento, o que requer uma mente vigilante ao extremo; e a mente não está vigilante quando achou um fim. 

Assim, o fator que acarreta a deterioração se encontra em nossas próprias mãos. A mente, presa à experiência, vivendo da experiência, nunca encontrará o incognoscível. O incognoscível só pode manifestar-se quando o passado já não existe; e só não há passado, quando a mente está tranquila.

Krishnamurti em, Percepção Criadora

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Qual é o processo mental que torna a crença necessária?

Pergunta: Se não acreditamos num Arquiteto do Universo, parece-me que a vida torna-se completamente sem significação. O que há de mau nesta crença?

Krishnamurti: Sem dúvida, por "Arquiteto do Universo", você está entendendo "Deus", só que está dando-lhe um nome diferente. Ora, o que é a crença? O que significa esta palavra — não o significado que se encontra no dicionário —, mas qual é o seu conteúdo psicológico? 

E qual é o processo mental que torna a crença necessária? O que lhe faz dizer "Creio em Deus" ou "Não creio em Deus"? Qual o impulso psicológico que impele a mente a aceitar ou rejeitar a crença em Deus, num "Arquiteto do Universo"? Enquanto não descobrirmos isso, o mero crer ou descrer significa pouquíssimo. 

É óbvio que, se desde a meninice ensinam-lhe a acreditar em Deus, você cresce acreditando, exatamente como outra criança que é ensinada a não acreditar, cresce desacreditando. Um é chamado crente e o outro ateu, mas os dois estão condicionados. Quando você acredita num "Arquiteto do Universo", o faz porque ensinaram-lhe a acreditar desde a infância e sua mente impregnou-se desta ideia; ou, ainda, você sente ser esta vida tão instável, tão fluída, que sua mente se apega a uma ideia de permanência e esta permanência você chama Deus, ou por outro nome qualquer, conferindo-lhe certos atributos. Isto não está nem certo e nem errado, pois representa o processo real da mente. Vendo-se ao redor de nós tanta miséria e tanto caos, tanta transitoriedade, tanta falta de paz interior e exterior, a mente cria e se apega a uma coisa atemporal, eterna, uma coisa perenemente bela, repleta de paz. Assim, pois, por causa da incerteza em que se vê, a mente cria a sua própria certeza. Mas a mente que acredita ou desacredita, que aceita ou rejeita, nunca descobrirá o que é Deus. Deus é para ser encontrado, descoberto, não se deve acreditar nele. Para descobri-lo, a mente tem de estar livre tanto da crença como da descrença. Positivamente, esse estado que chamamos "Deus", essa realidade atemporal, tem de ser algo totalmente novo, nunca imaginado, nunca dantes experimentado. E só uma mente livre pode descobri-lo, e não aquela que está amarrado a um dogma, uma crença. 

Afinal, se você observar, se pensar um pouco a este respeito, verá que a mente é resultado do tempo — sendo "tempo" memória, experiência, conhecimento. Isto é, a mente é resultado do conhecido, do passado, de muitos milhares de anos. Ora, com esta mente estamos procurando o Desconhecido, esta certa coisa que se pode chamar deus, a Verdade, ou como você preferir. Mas essa mente não pode encontrar o desconhecido, só pode pois "projetar" o conhecido, no futuro. Qualquer crença nutrida pela mente é resultado de seu próprio condicionamento. Toda fórmula ou conceito especulativo é resultado do conhecido. Todo movimento da mente para investigar o desconhecido, é totalmente inútil e vão, porque a mente só pode pensar em termos do conhecido. Quando compreende esse processo total e fica, portanto, livre do conhecido, a mente se torna muito serena, completamente tranquila; e só então pode existir o "desconhecido". Com efeito, isto é meditação; não a "projeção" do conhecido no futuro e a adoração desta projeção.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

É preciso transcender os estreitos limites da tradição

Pergunta: Você diz que seguir a tradição invariavelmente gera mediocridade. Mas sem nenhuma tradição, não nos sentiremos desorientados?

Krishnamurti: O que você entende por "tradição"? A transmissão, de pais para filhos, por escrito ou oralmente, de uma crença, um costume, de experiência, conhecimento científico, musical, artístico, religioso, ou moral. Por certo, é isso que entendemos por "tradição". E, quando,  de forma vã, estou repetindo as tradições que me foram transmitidas, essa repetição torna minha mente embotada, medíocre. O conhecimento é necessário para o exercício de certas profissões. Para construir uma ponte, dividir o átomo, operar um motor, produzir as muitas coisas que nos são necessárias na vida moderna, é imprescindível o conhecimento; mas o conhecimento se torna tradicional, a mente deixa de criar e fica funcionando, apenas, de maneira mecânica. Há máquinas que calculam muito mais rapidamente do que homem;e se, religiosamente ou por outras maneiras, nos limitamos a aceitar a tradição, não há dúvida que ficaremos funcionando exatamente como máquinas. A tradição nos oferece uma certa segurança, na sociedade, e temos medo de sair dessa trilha. Temos medo do que os vizinhos digam de nós; temos uma filha para casar e, portanto, precisamos ter cuidado. Nossa mente, como é fácil observar, funciona de maneira tradicional e por essa razão nos tornamos medíocres e perpetuamos os nossos sofrimentos. 

Verbalmente, reconhecemos esse fato, mas interiormente e em nossa ação, não o reconhecemos, porque todos desejamos segurança. E a segurança é uma coisa muito estranha. No momento em que a buscamos, criamos invariavelmente circunstâncias e valores produtores de insegurança — como se vê acontecer no mundo, hoje em dia. Todos estamos em busca de segurança, em todos os sentidos — segurança econômica, social, nacional — e no entanto esse próprio desejo de segurança está produzindo mais caos e aumentando a insegurança. 

A mente, pois, funciona dentro da rotina da tradição, porque aí espera encontrar segurança; e uma mente em segurança não é livre para descobrir. Não se pode repudiar a tradição, mas se se compreender o seu processo total, as suas consequências psicológicas, veremos que a segurança já não terá significação nenhuma e não será mais necessário "repudiá-la", porque ela cai por si mesma, qual uma folha seca.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O que é a nossa mente?

Sua mente é o resultado de numerosas influências, tanto coletivas como individuais, não é exato? Sua mente é produto da educação, da alimentação, do clima, de muitos séculos de tradição; ela é constituída de suas crenças, desejos, lembranças, das coisas que você leu, etc. Isso é a mente, não é, senhor? A mente consciente que funciona todo dia, e a mente que se acha num nível profundo, oculto — todas duas são resultado do passado. Até onde é possível enxergar, todo o território da mente é resultado do passado. Você pode acreditar ou não em Deus, pode pensar que existe um "eu superior" e um "eu inferior", etc.; mas tudo isso é resultado de sua educação, seu condicionamento, o que significa que sua mente é resultado do passado, não acha? E essa mente quer encontrar algo que seja novo. Diz ela: "Tenho de saber o que é Deus, o que é a Verdade". Não é isto que estamos fazendo? Eu digo que isso é impossível, é uma contradição. 

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O que interromperá nosso vicio na formação de padrões?

KRISHNAMURTI: Gostaria de conversar com você, e talvez também com Narayan sobre o que está ocorrendo com o cérebro humano. Temos uma civilização que é altamente refinada mas, ainda assim, ao mesmo tempo bárbara, onde o egoísmo se veste com todos os tipos de roupagens espirituais. Bem no fundo, contudo, há um egoísmo aterrorizante. O cérebro do homem vem evoluindo por milênios e milênios; no entanto, atinge esse ponto divisório e destrutivo que todos conhecemos. Pergunto-me então se o cérebro humano — não um cérebro específico, mas o cérebro humano — está se deteriorando. Será que está realmente num declínio lento e constante? Ou será que é possível a alguém, durante a vida, realizar no cérebro uma total renovação frente a tudo isso; uma renovação que seja prístina, original e impoluta? Estive pensando sobre isso, e gostaria de discutir o assunto.

Penso que o cérebro humano não é um cérebro particular; não pertence a mim, nem a ninguém. Foi o próprio cérebro humano que evoluiu em milhões de anos e, nessa evolução, acumulou uma quantidade extraordinária de experiências, conhecimentos, e todas as crueldades, vulgaridades e brutalidades do egoísmo. Existe alguma possibilidade de que ele se descarte disso tudo e se transforme em outra coisa? Porque, aparentemente, o cérebro funciona através de padrões. Seja ele um padrão religioso, científico, comercial ou familiar, está sempre operando, funcionando em pequenos círculos estreitos. Esses círculos chocam-se uns com os outros, e não parece haver um fim para isso. O que, então, interromperá essa formação de padrões, de modo que não se volte a cair em padrões novos, e que, em vez disso, todo o sistema de padrões, seja ele agradável ou desagradável, seja demolido? Afinal de contas, o cérebro sofreu muitos choques, desafios, e pressões, e se ele não for capaz de se renovar ou de rejuvenescer, há muito pouca esperança. Você entende?

DAVID BOHM: Veja bem, pode ocorrer uma dificuldade. Se você está pensando na estrutura cerebral, não podemos penetrar, fisicamente, nessa estrutura.

K: Fisicamente não podemos. Sei disso, nós já discutimos o assunto. Então, o que o cérebro deve fazer? Os especialistas podem observá-lo, podem examinar o cérebro de um cadáver, mas isso não resolve o problema. Certo?

DB: Não.

K: Então o que deve um ser humano fazer, se ele sabe que não pode se transformar a partir de fora? O cientista, o especialista em cérebros e o neurologista explicam muitas coisas, mas suas explicações e investigações não solucionarão o problema.

DB: Bem, não há qualquer evidência de que possam fazê-lo.

K: Nenhuma evidência.

DB: Algumas pessoas que fazem bio-feedback acham que podem influenciar o cérebro, ligando um instrumento aos potenciais elétricos no crânio, o que lhes permite visualizá-los; pode-se também alterar o ritmo cardíaco, a pressão sanguínea, e outras coisas. Essas pessoas criaram a esperança de que algo podia ser feito.

K: Porém, não estão tendo sucesso.

DB: Não estão indo muito longe.

K: E não podemos esperar por esses cientistas e bio-feedbackers — desculpe! — para resolver o problema. O que faremos então?

DB: A próxima pergunta é se o cérebro pode ter consciência de sua própria estrutura.

K: Pode o cérebro ter consciência de seu próprio movimento? E pode ele, além de estar consciente de seu próprio movimento, ter energia suficiente para romper todos os padrões e afastar-se deles?

DB: Você tem de perguntar até que ponto o cérebro é livre para romper os padrões.

K: O que você quer dizer com isso?

DB: Bem, veja, se você começa afirmando que o cérebro está preso a um padrão, ele também poderia não estar.

K: Mas aparentemente está.

DB: Até onde podemos perceber. Ele pode não estar livre para escapar. Pode não ter o poder.

K: É isso o que eu disse: energia insuficiente, poder insuficiente.

DB: Sim, ele pode não ser capaz de empreender a ação necessária para sair.

K: Desse modo, ele se tornou seu próprio prisioneiro. E então? 

DB: Então, é o fim.

K: É isso o fim?

DB: Se isso for verdade, então isso é o fim. Se o cérebro não puder escapar, talvez as pessoas escolham alguma outra maneira de resolver o problema.

(...)

K: Quero discutir isso. O cérebro está constantemente ocupado com vários problemas, com a permanência, com o apego, e assim por diante. Ele está constantemente num estado de preocupação. Isso pode ser o fator central; e se ele não estiver ocupado, tornar-se-á preguiçoso? Se não estiver ocupado, poderá manter a energia necessária para romper os padrões?

DB: O que interessa em primeiro lugar é que se o cérebro não estiver ocupado, alguém poderá pensar que ele ficará indolente.

K: Ficar preguiçoso e tudo o mais! Não quero dizer isso.

DB: Se você quer dizer não ocupado, mas ainda assim ativo... 

K: Naturalmente. É isso o que eu quero dizer.

DB: Temos então de penetrar no que é a natureza da atividade.

K: Sim. Esse cérebro está muito ocupado com conflitos, esforços, apegos, temores e prazeres. E essa ocupação dá ao cérebro sua própria energia. Se ele não estiver ocupado, tornar-se-á preguiçoso, drogado, e perderá por assim dizer, sua elasticidade? Ou poderia esse estado desocupado fornecer ao cérebro a energia necessária para romper os padrões?

DB: O que o faz dizer que isso poderia acontecer? Estivemos discutindo, em outro dia, que quando mantemos o cérebro ocupado com a atividade intelectual e o pensamento, ele não se deteriora nem encolhe.

K: Desde que esteja pensando, movendo-se, vivendo.

DB: Pensando de maneira racional; nesse caso, ele permanece forte.

K: Sim. Também é aí que eu quero chegar. Ou seja, que enquanto ele estiver funcionando, movendo-se, pensando de modo racional...

DB: ... ele permanecerá forte. Se ele começar o movimento irracional, ele colapsará. E também, se ficar preso numa rotina, ele começará a morrer.

K: Exatamente. Isso ocorrerá se o cérebro ficar preso a qualquer rotina - à rotina da meditação, ou à rotina dos padres.

DB: Ou ao dia-a-dia da vida do fazendeiro ...

K: ... do fazendeiro, etc., ele gradualmente se tornará entorpecido.

DB: Não apenas isso, mas ele também parece encolher.

K: Encolher fisicamente.

DB: Será que algumas células morrem?

K: Encolher fisicamente; e o oposto disso é a eterna ocupação com tarefas — por alguém que executa um trabalho de rotina... pensando, pensando, pensando! E acreditamos que isso também evita o encolhimento.

DB: Certamente a experiência parece comprovar isso, a partir de medições realizadas.

K: Sim, isso de fato ocorre. Exatamente.

DB: O cérebro começa a encolher numa certa idade. Isso é o que eles descobriram, assim como os músculos começam a perder sua flexibilidade quando o corpo não é usado...

K: Então, façamos bastante exercício!

DB: Bem, eles dizem para exercitarmos tanto o corpo como o cérebro. 

K: Sim. Se ele ficar preso a qualquer padrão, qualquer rotina, qualquer diretriz, ele encolherá.

DB: Vamos estudar o que o faz encolher.

K: Isso é razoavelmente simples. É a repetição.

DB: A repetição é mecânica, e de fato não usa toda a capacidade do cérebro.

K: Já se observou que as pessoas que passaram anos e anos meditando são as mais apáticas sobre a Terra. Isso, através de ampla evidência, também se aplica aos juristas e aos professores.

N: Sugeriu-se que o pensamento racional adia a senilidade. Mas o próprio pensamento racional pode, às vezes, se tornar um padrão.

DB: Talvez. O pensamento racional exercido numa área estreita poderá se tomar também uma parte do padrão.

K: Claro, claro.

DB: Mas há alguma outra maneira?

K: Podemos abordar isso.

DB: Vamos, porém, esclarecer primeiro as coisas a respeito do corpo. Veja, se alguém exercita bastante o corpo, este permanece forte, mas isso pode se tomar mecânico.

K: Sim.

DB: E conseqüentemente teria um efeito negativo.

N: E a respeito dos diversos instrumentos religiosos tradicionais — ioga, tantra, kundalini, etc.?

K: Sei. Oh, eles devem causar o encolhimento! Por causa do que está acontecendo. Tome o ioga, como exemplo. Ele não era vulgarizado, se é que posso usar essa palavra. Mantinha-se estritamente entre poucas pessoas que não estavam preocupadas com kundalini e todo o resto, estavam, isto sim, interessadas em levar uma vida moral, ética, supostamente espiritual. Veja, quero chegar à raiz disso.

DB: Penso que há algo relacionado com isso. Parece que antes o homem estava organizado em comunidades, vivia perto da natureza, e não era possível viver numa rotina.

K: Não, não era.

DB: Mas isso era completamente inseguro.

K: Estamos dizendo, então, que o próprio cérebro se torna extraordinariamente vigoroso — não ficando preso a um padrão — se ele viver num estado de incerteza? Sem se tornar neurótico!

DB: Penso que fica mais claro quando você diz sem se tornar neurótico— a certeza se transforma então numa forma de neurose. Mas preferiria que o cérebro vivesse sem ter certeza, sem exigi-la, sem reclamar um determinado conhecimento.

K: Estamos dizendo então que o conhecimento também debilita o cérebro?

DB: Sim, quando é repetitivo e se torna mecânico.

K: Mas e o conhecimento em si?

DB: Bem, temos que tomar muito cuidado com isso. Penso que o conhecimento tem uma tendência a se tornar mecânico, quer dizer, ele se torna estável, mas nós podemos estar sempre aprendendo, entende?

K: Mas aprendendo a partir de um centro, aprendendo através de um processo acumulativo!

DB: Aprendendo com algo fixo. Veja, aprendemos alguma coisa como sendo permanente, e então aprendemos a partir daí. Se nós estivéssemos aprendendo sem manter qualquer coisa permanentemente estável...

K: Aprendendo e não acrescentando. Podemos fazer isso?

DB: Sim, acho que numa certa medida temos que nos desfazer do nosso conhecimento. Veja, o conhecimento poderá ser válido até certo ponto, e então deixa de ser válido. Passa a atrapalhar. Poderíamos dizer que a nossa civilização está desmoronando por causa de excesso de conhecimento.

K: Naturalmente.
(...)

Trecho de Diálogo entre J. Krishnamurti e David Bohm, extraído do livro:
A Eliminação do Tempo Psicológico


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Só a meditação pode matar a mente

Lembre-se disto: a mente é velha, não pode nunca ser nova. Portanto, não pense nunca que a sua mente é original. Nenhuma mente pode ser original. Todas as mentes são velhas, repetitivas. É por isso que ela gosta tanto das repetições e está sempre contra o novo. Por ter sido criada pela mente, a sociedade também está sempre contra o novo. Por terem sido criados pela mente, o estado, a civilização, a moral estão sempre contra o novo. Nada pode ser mais ortodoxo do que a mente.

Com a mente, nenhuma revolução é possível. Se você é um revolucionário através da mente, pare de enganar a si mesmo. Um comunista não pode ser revolucionário porque nunca meditou. Seu comunismo é mental. Apenas trocou de Bíblia: não acredita mais em Jesus, acredita em Marx ou em Mao, a última edição de Marx. O comunista é tão ortodoxo quanto qualquer católico, hindu ou maometano. Seu ortodoxismo é o mesmo porque a ortodoxia não depende do que é acreditado. A ortodoxia depende de se acreditar através da mente. E a mente é o elemento mais ortodoxo, mais conformista do mundo.

Qualquer coisa que a mente crie, nunca será nova, será sempre anti-revolucionária. É por isso que a única revolução possível no mundo é a religiosa, não pode haver outra. Apenas a religião pode ser revolucionária porque só ela chega à própria fonte. Só ela abandona a mente, o velho. Assim, de repente, tudo é novo, porque era a mente que estava tornando tudo velho através de suas interpretações.

De repente, você volta a ser criança. Seus olhos são jovens, inocentes. Você olha sem informações, sem ensinamentos. De repente, as árvores têm um novo frescor, o verde mudou — já não é mais opaco; é vivo, brilhante. De repente, o canto dos pássaros é totalmente diferente.

Isso é o que tem acontecido a muitas pessoas pelas drogas. Aldous Huxley ficou intensamente fascinado pelas drogas por causa disso. Em todo o mundo, a nova geração sente-se atraída pelas drogas. A razão disso é que a droga, por um momento, por algum tempo, coloca sua mente de lado quimicamente. Você olha para o mundo e, então, as cores ao seu redor são simplesmente miraculosas. Você nunca viu algo assim! Uma flor comum transforma-se em toda a existência, traz consigo toda a glória do Divino. Uma folha comum adquire tanta profundidade que é como se estivesse revelando toda a Verdade. Todas as coisas imediatamente mudam. A droga não pode mudar o mundo; o que ela faz é colocar sua mente de lado por um processo químico.

Mas a pessoa pode tornar-se viciada; então, a mente terá absorvido a droga também. Apenas no começo, nas primeiras duas ou três vezes, é que a mente pode ser enganada quimicamente. Depois, pouco a pouco, a mente entra num acordo com a droga e novamente toma as rédeas. O choque original é perdido. Torna-se viciado pela droga. O comando volta a pertencer à mente. Pouco a pouco, mesmo quimicamente, torna-se impossível colocar a mente de lado. Ela continua presente. Então, você está viciado. As árvores voltam a ser velhas, as cores já não são tão radiantes, tudo está novamente opaco. A droga o matou, mas não a sua mente.

A droga pode dar apenas um tratamento de choque. Ela é um choque químico para todo o corpo. Nesse choque, o velho ajustamento é quebrado. As brechas aparecem e, através delas, você pode olhar. Mas isso não pode se tornar um hábito. É impossível fazer da droga uma prática. Cedo ou tarde, ela fará parte da mente, a mente assumirá a direção. E tudo voltará a ser velho.

Só a meditação pode matar a mente — nada mais. A meditação é o suicídio da mente, é a mente cometendo suicídio. Sem qualquer química, sem qualquer meio físico, você põe sua mente de lado. Torna-se o mestre. E quando você é o mestre, tudo é novo. Desde a própria origem até o derradeiro final, tudo é novo, jovem, inocente. A morte não existe, nunca ocorreu neste mundo. A vida é eterna.

Osho, em "Nem Água, Nem Lua"



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Aquele que vê nunca pode ser o visto

A mente nunca entende. Com a mente não há compreensão. O entendimento é um fenômeno totalmente diferente em você: ele acontece somente na não-mente. A mente finge entender e nada entende. Ela é uma grande enganadora. Você somente pode entender quando puder começar a perceber e a sentir; você somente pode entender quando se der conta de algo. A mente terá de ser colocada de lado. Este é o significado de ser um sannyasin: você coloca sua mente de lado e lentamente começa a se mover em direção de algo que de modo nenhum é a mente. 

O que é a mente? O passado, o apreendido, o conhecimento que foi entulhado em você. A mente é um computador. A sociedade, os pais, os políticos e os sacerdotes a usaram; eles colocaram mil e uma coisa em você — essa é a sua mente, mas não é você! E essa mente pode ser colocada de lado, porque ela não é você! Você é a testemunha. Você não é o pensamento, mas aquele que percebe o pensamento passar rapidamente. Observe... quando um pensamento surge em você, você é o pensamento? 

Você está sentindo raiva, amor ou compaixão e pensamentos estão surgindo em você — pensamentos de raiva, amor ou compaixão, e há uma multidão deles passando, o tráfego de pensamentos. Você é esse tráfego? Então, quem é aquele que percebe? Então, quem está olhando para esse tráfego? O espectador não pode ser parte do tráfego, ele precisa ser transcendental ao tráfego. Você não pode ser a coisa que você está vendo. Aquele que vê nunca pode ser o visto. O meditador nunca pode ser aquilo sobre o quer se medita. Quando você começa a observar sua mente e seus pensamentos, surge em você uma consciência totalmente nova: você se torna uma testemunha, um espelho. Esse espelho compreende. A compreensão é parte desse espelho. 

A mente é uma simuladora, ela é hipócrita, enganadora, uma farsa. Sem compreender coisa alguma ela insiste em lhe dizer: "Eu compreendo. Olhe, sei isso, li aquilo, pensei a respeito". 

Você diz: "...portanto tenho dificuldade para entender".

Você sempre terá, se você não abandonar a mente. A mente precisa cessar para a compreensão existir.

O S H O — A Sabedoria das Areias


terça-feira, 29 de julho de 2014

A mente é a raiz de todos os problemas - parte 2

Observe as nuvens: as nuvens movem-se e podem ser tão densas que você não consegue ver o céu através delas. A vasta extensão azul do céu está perdida e você está coberto pelas nuvens. Então, você continua a observar: uma nuvem se move e outra ainda não chegou ao seu campo de visão — subitamente, há um ponto na vastidão do céu. 

O mesmo acontece interiormente: você é a vastidão azulada do céu, e os pensamentos são nuvens pairando em torno de você, entrando em você. Mas os intervalos existem, o céu existe. Ter um vislumbre do céu é satori; tornar-se o céu é samadhi. De satori a samadhi, todo o processo é uma profunda visão interior para a mente; nada mais. 

Em primeiro lugar: a mente não existe como uma entidade; apenas os pensamentos existem. 

Em segundo lugar: os pensamentos existem separados de você; não são ligados à sua natureza. Eles vêm e vão — você permanece, você persiste. Você é como o céu: nunca vem, nunca vai, está sempre ali. As nuvens podem ir e vir, são fenômenos momentâneos, não são eternas. Mesmo que você tentasse se agarrar a um pensamento, não poderia retê-lo por muito tempo. Ele tem de ir, tem seu próprio nascimento e morte. Os pensamentos não são seus, não lhe pertencem. Chegam como visitantes, hóspedes, mas não são o hospedeiro. 

Observe profundamente e se tornará o hospedeiro e terá os pensamentos como hóspedes. Como hóspedes, eles são belos; mas se você esquece completamente de que é o hospedeiro, eles se tornam os hospedeiros e você fica em confusão. Isso é o inferno. Você é o dono da casa, a casa lhe pertence, mas os hóspedes se tornam donos. Receba-os, cuide deles, mas não se identifique com eles; de outra maneira, eles se farão senhores. 

A mente torna-se problema porque você tomou os pensamentos tão profundamente, dentro de você, que se esqueceu por completo a distância, o fato deles serem visitantes, de irem e virem. Lembre-se, sempre, do que é duradouro: o que é a sua natureza, seu Tao. Fique sempre atento ao que nunca vem e nunca se vai, tal como o céu. Muda o gestalt: não faça dos visitantes o seu foco; permanece enraizado no hospedeiro. Os visitantes vêm e vão. 

Há, naturalmente, bons e maus visitantes, mas você não precisa se preocupar com eles. Um bom hospedeiro trata todos os hóspedes da mesma maneira, sem fazer distinções. Um bom hospedeiro é apenas um bom hospedeiro: quando um mau pensamento surge, ele trata o mau pensamento da mesma forma como trataria um bom pensamento. Não é de sua competência julgar o pensamento bom o mau. 

O que você está fazendo quando distingue este pensamento como bom e aquele como mau? Você está trazendo o bom pensamento para para mais junto de você, e empurrando para longe o mau pensamento. Mais cedo ou mais tarde, você estará identificado com o bom pensamento, que passará a ser o hospedeiro. E qualquer pensamento, quando se torna o hospedeiro, cria sofrimento — porque não é a verdade. O pensamento é um simulador, e você se identifica com ele. A identificação é a doença. 

Gurdjieff costumava dizer que só uma coisa é necessária: não se identificar com o que vem e vai. A manhã vem, depois dela o meio-dia, vem a tarde, e todos eles se vão. Chega a noite e, novamente, a manhã. Você permanece — não como você, porque isso também é um pensamento, mas como pura percepção. Não o seu nome, porque isso também é um pensamento; não sua forma, porque isso também é um pensamento; não o seu corpo, porque um dia você compreenderá que também ele é um pensamento. Apenas pura percepção sem nome, sem forma: somente a pureza, somente o que não tem forma nem nome, somente o próprio fenômeno de estar consciente — só isso é duradouro. 

Se você se torna identificado, torna-se mente. Se você se torna identificado, torna-se corpo. Se você se torna identificado, torna-se um nome e uma forma e, então, o hospedeiro está perdido. Você esquece o eterno e o momentâneo torna-se importante. O momentâneo é o mundo, o eterno é Divino. 

Esta é a segunda visão interior a ser obtida; a de que você é o hospedeiro e os pensamentos são os hóspedes.

O S H O - Tantra — A Suprema Compreensão

A mente é a raiz de todos os problemas - parte 1

O problema-raiz de todos os problemas é a própria mente.

Assim, a primeira coisa a ser compreendida é o que vem a ser a mente, de que matéria é feita, se é uma entidade ou apenas um processo, se é substancial ou apenas ideal. A não ser que você conheça a natureza da mente, não poderá resolver nenhum dos problemas da sua vida. 

Você pode tentar duramente, mas, se você tentar resolver problemas isolados, individuais, estará voltado ao fracasso —  isso é absolutamente certo. Porque, na realidade, não existe problema individual: a mente é o problema. Resolver este ou aquele problema de nada adiantará porque a raiz deles permanece intocada. 

É tal como cortar os galhos de uma árvore, podando as folhas, sem desenraizá-la. Novas folhas virão, novos galhos brotarão — até mais do que antes. A poda ajuda a árvore a se tornar mais espessa. A menos que você saiba como arrancá-la pela raiz, sua luta será injustificada, tola. Destruirá a si mesmo, não a árvore. 

Lutando, você desperdiçará sua energia, seu tempo, sua vida, e a árvore continuará tornando-se cada vez mais forte, mais espessa, mais densa. E você fica surpreendido com o que vai acontecendo. Você trabalha tão duramente, tentando resolver este e aquele problema, e eles continuam crescendo, aumentando. E mesmo quando você consegue que um problema seja resolvido, dez outros, subitamente, ocupam seu lugar.

Não tente resolver problemas individuais, isolados — eles não existem: a própria mente é o problema. A mente, porém, está oculta subterraneamente; por isso eu a chamo raiz, ela não é aparente.  Em qualquer ocasião em que se depare com um problema, ele está acima do solo; você pode vê-lo, por isso é iludido por ele. 

Lembre-se sempre: o visível jamais é a raiz. A raiz sempre permanece invisível, a raiz sempre está oculta. Nunca lute contra o visível, pois você estará lutando contra sombras. Será em vão, não poderá haver nenhuma transformação em sua vida. Os mesmos problemas aflorarão novamente, novamente e novamente. Observe sua própria vida e você verá o que eu quero dizer. Não estou falando de teoria alguma sobre a mente, mas sobre a "artificialidade" da mente. 

As pessoas vêm a mim e perguntam: "Como obter uma mente pacífica?" E eu lhes respondo: "Não existe tal coisa, mente pacífica. Jamais ouvi falar disso."

A mente nunca é pacífica. A "não-mente" é paz. A mente, em si mesma, nunca pode ser pacífica, silente. A própria natureza da mente é estar tensa, confusa. A mente nunca pode ser clara, nem ter clareza , porque a mente é, por natureza, confusão, nevoeiro. A clareza é possível sem a mente, a paz é possível sem a mente, o silêncio é possível sem a mente — portanto, nunca tente obter uma mente silenciosa. Se você o fizer, desde início você estará se movendo num plano impossível. 

Assim, a primeira coisa a compreender é a natureza da mente; e, só então, algo poderá ser feito. 

Se você observar, jamais encontrará uma outra entidade parecida com a mente. Ela não é uma coisa, é apenas um processo; não é uma coisa, é como uma multidão. Pensamentos individuais existem, mas seu movimento é tão rápido que você não pode ver as brechas entre eles. Os intervalos não podem ser vistos porque você não está consciente e alerta; você precisa de uma visão interior mais profunda. Quando seus olhos puderem ver profundamente, você verá, subitamente, um pensamento, outro pensamento e ainda outro pensamento — mas não verá a mente

Pensamentos reunidos, milhões de pensamentos, dão-lhe a ilusão de que a mente existe: como uma multidão, milhões de pessoas em pé, em multidão; há tal coisa, multidão? Você pode encontrar a multidão separada dos indivíduos que estão ali? Mas estão reunidos e a reunião faz com que você sinta que existe algo que é multidão — mas só indivíduos existem. 

Este é o primeiro olhar interior para a mente. Observe e você encontrará pensamentos, mas nunca se deparará com a mente. E, se isso se tornar uma experiência sua... se isso se tornar a sua própria experiência, se isso se tornar um fato de seu próprio conhecimento, então, subitamente, muitas coisas começarão a se modificar. Porque você terá compreendido algo tão profundo sobre a sua mente, que muitas coisas podem seguir-se a isso. 

Observe a mente e veja onde ela está, o que é. Você sentirá pensamentos flutuando e intervalos. E, se você observar por bastante tempo, verá que os intervalos existem em maior número do que os pensamentos, porque cada pensamento precisa estar separado de outro pensamento. De fato, cada palavra precisa estar separada de outra palavra. Quanto mais profundamente você for, mais e maiores brechas encontrará. Um pensamento flutua e, então, surge uma brecha onde não existe pensamento. Então surge outro pensamento e outra brecha se segue. 

Se você estiver inconsciente, não poderá ver os intervalos, as brechas. Você saltará de um pensamento a outro e nunca verá a brecha. Se você se tornar consciente, então, milhares de intervalos lhe serão revelados. 

E nesses intervalos, acontece o satori
Nesses intervalos, a Verdade bate à sua porta. 
Nesses intervalos, Deus é compreendido, 
ou outra forma, seja lá o que for, em que você expresse tal coisa. 
Então, a percepção é absoluta, 
então, haverá apenas um vago intervalo de inanidade. 


O S H O - Tantra — A Suprema Compreensão

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A mente da maioria das pessoas é vulgar

Se minha mente é incapaz de resolver um problema, e eu atuo, o problema se multiplica, não é verdade? Este é um fato óbvio. E, ao ver que tudo quanto faça em relação ao problema só tem o efeito de multiplicá-lo, o que deve a mente fazer? Você compreende a questão? O problema — seja o problema de Deus, seja o da fome, o problema da tirania coletiva em nome do governo, etc. — existe em diferentes níveis de nosso ser, e a ele nos aplicamos esperando resolvê-lo; mas eu acho que esta é uma maneira de proceder completamente errônea, porquanto estamos assim atribuindo a principal importância ao problema. Parece-me que o problema real é a própria mente, e não o problema que ela mesma criou e estou tentando resolver. Se a mente é mesquinha, pequena, estreita, limitada, ela se aplica ao problema — por maior e mais complexo que seja — com suas próprias e pequeninas medidas. Se tenho uma mente pequenina e penso em Deus, o Deus de meu pensar será um Deus pequenino, ainda que eu o revista de grandeza, beleza, sabedoria, etc. 

O mesmo acontece com o problema da existência, do sustento, do amor, do sexo, das relações, o problema da morte. Todos estes problemas são enormes, e a eles nos aplicamos com uma mente pequena, tentamos resolvê-lo com uma mente muito limitada. Ainda que tenha capacidades extraordinárias e seja capaz de invenção, de pensamentos sutis e sagazes, a mente continua pequena; e uma mente pequena, ao enfrentar um problema complexo, só poderá traduzi-lo em seus próprios termos e, por conseguinte, o problema cresce e crescem os novo conflitos. A questão, por conseguinte, é esta: Pode a mente pequena, vulgar, ser transformada em algo não restrito pelas suas próprias limitações? 

(...) Considere, por exemplo, o complexo problema do amor. Ainda que eu seja casado e tenha filhos, a menos que exista aquele senso de beleza, a profundeza e a claridade do amor, a vida é superficial, sem significação; e eu me aproximo da questão do amor com uma mente bem limitada. Desejo saber o que ele é, mas tenho suposições de toda espécie a seu respeito, já lhe vesti as roupagens de minha mente pequenina. O problema, pois, não é de como compreender o amor, porém de libertar de sua própria vulgaridade a mente que se aproxima do problema; e a mente da maioria das pessoas é vulgar. 

Por "mente vulgar" entendo a mente que está sempre ocupada. Você compreende? A mente ocupada com Deus, com planos, com a virtude, ou sobre como colocar em prática o que certas autoridades dizem a respeito de finanças ou de religião; uma mente que se ocupa consigo, com seu próprio desenvolvimento, com a cultura, com o seguir um certo modo de existência; a mente que está ocupada com uma identidade, uma nação, crença ou ideologia — essa é a mente vulgar.(...) A pessoa que tenta aprimorar-se pela aquisição de conhecimento, que procura tornar-se mais inteligente, mais poderosa, obter um emprego melhor — tal pessoa é vulgar. Ela pode ocupar-se com Deus, com a Verdade, com o Atman, ou com o desejo de sentar-se entre os poderosos — mas é sempre uma pessoa vulgar.

Assim, o que acontece? Sua mente vulgar e ocupada começa com certas conclusões, suposições, emite certas ideias — e é com essa mente ocupada que você tenta resolver o problema. Quando uma mente vulgar se encontra com um problema descomunal, ela age, evidentemente, e esta ação produz um resultado: o crescimento do problema. Se você observar, poderá ver que é isso exatamente o que está acontecendo no mundo. Os que estão nos altos postos ocupam-se consigo, em nome da nação; como eu e você, querem posição, poder, prestígio. Estamos todos navegando no mesmo barco e, com nossas mentes pequeninas, tentamos resolver os extraordinários problemas do viver, problemas que exigem uma mente não ocupada. A vida é algo fundamental e sempre em movimento, não é? Por conseguinte, temos de chegar-nos a ela com vigor, com uma mente que não esteja inteiramente ocupada, que contenha um certo espaço, um certo vazio. 

Ora, qual é o estado da mente que sabe que está ocupada e percebe que essa ocupação é vulgar? Isto é, ao perceber que minha mente está ocupada e que mente ocupada é mente vulgar, o que acontece?

Parece que não percebemos com suficiente clareza que uma mente ocupada é vulgar. Quer a mente esteja ocupada com o melhoramento de si própria, quer com Deus, com bebidas, com a paixão sexual ou o desejo de poder, tudo isso é essencialmente a mesma coisa, embora sociologicamente essas ocupações possam ter uma diferença. Ocupação é ocupação, e a mente ocupada é vulgar porque se acha interessada em si mesma. Se você vê, se realmente experimenta a verdade desse fato, então, certamente, sua mente já não se preocupa consigo mesma, com seu próprio melhoramento; existe, pois, para a mente que está aprisionada, a possibilidade de eliminar sua clausura. 

Como simples experiência, observe por si mesmo como sua vida está baseada em alguma suposição: que há Deus ou que não há Deus, que um certo padrão de vida é melhor do que outro padrão, etc. A mente ocupada começa sempre com uma suposição, abeira-se da vida com uma ideia, uma conclusão. Pode a mente acercar-se de um problema de maneira total, afastando as suas conclusões, suas prévias experiências que são também formas de conclusão? Afinal de contas, um desafio é sempre novo, não é verdade? Se a mente é incapaz de compreender adequadamente ao desafio, , há deterioração, retrocesso; e a mente não pode corresponder adequadamente se, consciente ou inconscientemente, está ocupada — sendo que toda ocupação se baseia em alguma ideologia ou conclusão. Se você perceber a verdade a este respeito, descobrirá que a mente já não será vulgar, porque se achará num estado de investigação, num estado de sadio ceticismo — que não significa ter dúvidas a respeito de alguma coisa, porque isso também se torna uma ocupação. A mente que investiga de verdade não acumula. Vulgar é a mente que acumula, quer esteja acumulando conhecimentos, quer dinheiro, poder, posição. Com o total percebimento desta verdade, verifica-se a real transformação da mente, e essa é que é a mente capaz de atender aos nossos numerosos problemas.

Krishnamurti — Nova Deli, 31 de outubro de 1956

domingo, 4 de maio de 2014

Por que não experimentamos a Beatitude, o Êxtase da Vida?

Ensinamos uma criança a focalizar a mente — a concentrar-se — porque, sem concentração, ela não pode enfrentar a vida. A vida exige isso: a mente deve ter capacidade para concentrar-se. Mas, desde o momento em que a mente se torna capaz de concentrar-se, torna-se, também, menos perceptiva. A percepção significa mente consciente, mas não focalizada. A percepção é consciência de tudo quanto está acontecendo. 

Concentração é uma escolha. Exclui tudo, menos o objeto da concentração. Produz estreitamento. Se você está caminhando por uma rua, terá de estreitar sua consciência para poder caminhar. Habitualmente não lhe é possível estar consciente de tudo o que está acontecendo, porque se você estiver consciente de tudo o que está acontecendo, não estará focalizado. Assim, a concentração é uma necessidade. A concentração da mente é uma necessidade para que possamos viver — sobreviver, existir. Por isso é que toda cultura, a seu modo, tenta estreitar a mente da criança. 

Crianças, tais como são, jamais focalizam. Sua consciência está aberta para todas as sensações. Cada sensação penetra em sua consciência. E quanta coisa chega! Por isso é tão vacilante, tão instável. A mente não-condicionada de uma criança é um fluxo — um fluxo de sensações — mas não lhe seria possível sobreviver com este tipo de mente. Ela deve aprender como estreitar a mente, como se concentrar. 

Do momento em que você estreita sua mente torna-se particularmente consciente de uma coisa, e, simultaneamente, inconsciente de muitas outras coisas. Quanto mais estreita for a mente, mais sucesso haverá. Você se torna um especialista, você se torna um perito, mas a coisa toda consistirá em você saber mais e mais sobre menos e menos.

O estreitamente é uma necessidade existencial. Ninguém é responsável por isso. Assim como a vida existe, ele deve existir. Mas não é o bastante; só o ser utilitário não é o bastante. Por isso, quando você se torna utilitário e a consciência é estreitada, estará negando à sua mente muito daquilo de que ela é capaz. Você não está usando sua mente total. Está usando apenas uma pequena parte dela. E o remanescente — a porção maior — irá tornar-se inconsciente. 

Na verdade, não há fronteira entre o consciente e o inconsciente. Não há duas mentes. "Mente consciente" refere-se àquela porção da mente que tem sido usada no processo de estreitamento. "Mente inconsciente" refere-se àquela porção que tem sido negligenciada, ignorada, fechada. Isso cria uma divisão, uma brecha. A porção maior da sua mente torna-se alheia a você. Você se torna alienado de seu próprio eu, torna-se um estranho à sua própria totalidade. 

Uma pequena parte está sendo identificada como o seu eu, e o resto é perdido. Mas a parte inconsciente, remanescente, está sempre ali, como potencialidade sem uso, como possibilidade sem uso, como aventura não-vivida. Essa mente inconsciente (esse potencial, essa mente sem uso) estará sempre em luta contra a mente consciente. Por isso é que existe sempre um conflito interior. Todos estão em conflito por causa dessa fenda entre o inconsciente e o consciente. Mas só se o potencial, o inconsciente, estiver livre para florescer, é que você poderá sentir a beatitude da existência... Não há outra maneira. 

Se a porção maior de suas potencialidades permanecer irrealizada, sua vida será uma frustração. Por isso é que quanto mais utilitária é uma pessoa, menos realizada é, menos beatitude conhece. Quanto mais utilitária é a abordagem — quanto mais a pessoa está na vida dos negócios — menos estará vivendo, menos será tomada pelo êxtase. A parte da mente, que não pode ser útil no mundo utilitário, foi desprezada.

A vida utilitária é necessária, mas com grande custo. Você perdeu a festividade da vida. A vida torna-se uma festividade, uma celebração, se todas as suas potencialidades florescerem. Então, a vida é uma solenidade. Por isso é que eu sempre digo que religião significa vida transformada em celebração. A dimensão da religião é a dimensão do festivo, do não-utilitário. 

A mente utilitária não deve ser tomada como se fosse o todo. O remanescente... a maior parte... a mente inteira... não deveria ser sacrificada. A mente utilitária não deve se tornar um fim. Terá que permanecer ali, mas como um meio. A outra — a remanescente, a maior, a potencial — deve tornar-se o fim. Isso é o que eu chamo uma abordagem religiosa. 

Com uma abordagem não-religiosa, a mente dos negócios (a utilitária) torna-se o fim. Quando tal coisa acontece, não há possibilidade de a mente inconsciente realizar seu potencial. A mente inconsciente será desprezada. Se a utilitária se torna um fim, isso significa que o servo está representando o papel do senhor. 

A inteligência, o estreitamento da mente, é uma forma de sobrevivência, mas não de vida. Sobrevivência não é vida. Sobrevivência é uma necessidade — mas o fim terá de ser, sempre, um florescimento do potencial, de tudo quanto foi criado para você. Se você for completamente realizado, se nada permanecer sob a forma de semente, se tudo se faz realidade, se você florescer, então e só então você poderá sentir a beatitude, o êxtase da vida.

A parte de você que foi desprezada, a parte inconsciente, pode tornar-se ativa e criativa, só se você acrescentar uma nova dimensão à sua vida — a dimensão do festivo, a dimensão da jovialidade. Assim, a meditação não é um trabalho, é um divertimento. Rezar não é um negócio, é um divertimento. A meditação não é algo que se faz para chegar a atingir um alvo (paz, beatitude...) mas algo a ser gozado como um fim em si mesmo.

O S H O — Meditação: A Arte do Êxtase

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill