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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Eu era um louco, sonhando ser feliz, e não sabia!

Um louco desarmado, com dois sãos armados
Havia um santo sufi, Hijira. Um anjo apareceu-lhe em sonho e disse-lhe que devia guardar tanto água de seu poço, quanto pudesse, porque na manhã seguinte a água do mundo ia ser envenenada pelo diabo e todos que a bebessem se tornariam loucos.

Assim, durante toda a noite o faquir guardou tanta água quanto possível. E o fenômeno realmente aconteceu! Todos ficaram loucos na manhã seguinte. Mas ninguém sabia que toda a cidade enlouquecera. Só o faquir não estava louco, mas toda a cidade falava como se ele tivesse enlouquecido. O faquir sabia o que acontecera, mas ninguém acreditava nele, de forma que continuou bebendo a sua água, mas ficou isolado.

Não podia, entretanto, continuar assim. Toda a cidade estava vivendo num mundo completamente diferente. Ninguém o ouvia. Por fim, correu a notícia de que ele ia ser agarrado e posto numa prisão. Diziam que ele estava louco!

Certa manhã vieram buscá-lo. Ou seria tratado como se estivesse doente, ou iria para a prisão, mas não lhe podiam permitir que vivesse em liberdade. Estava inteiramente louco! O que ele dizia não podia ser entendido; ele falava uma língua diferente.

O faquir não podia compreender aquilo. Tentava ajudar os outros a recordar seu passado, mas todos tinham esquecido tudo. Nada sabiam do passado, nada do que acontecera antes daquela manhã enlouquecedora. Não podiam compreender. O faquir se tornara incompreensível para eles.

Rodearam a casa do homem e agarraram-no. Então, o faquir disse: "Deem-me um momento mais. Eu me tratarei." Correu para o poço comum, bebeu daquela água, e ficou como eles. Agora, a cidade inteira estava feliz: o faquir agora estava bom, agora já não era louco. Na verdade, ele enlouquecera, mas agora era parte e parcela de um mundo comum.

Se todos estão adormecidos, jamais poderás ter consciência de que estás dormindo. Se todos enlouqueceram, e tu estás louco, jamais terás consciência disso.

Osho em, Meditação: a arte do êxtase

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Todo homem é neurótico, esquizofrênico

O homem é neurótico. Não apenas alguns homens são neuróticos, mas a humanidade, ela toda, é neurótica. Não se trata de cura para umas tantas pessoas, é uma questão de curar a humanidade como tal. A neurose é a condição "normal" do homem, porque cada homem passa por um treinamento, por um condicionamento. Não lhe permitem ser apenas o que é. Tem de ser moldado por um padrão particular. Esse padrão cria a neurose. 

A sociedade lhe dá um padrão, um molde. Você é cultivado dentro de certo feitio e forma. Só um fragmento de teu ser tem permissão para se expressar, enquanto a parte remanescente é represada. Isso cria uma divisão, uma esquizofrenia. E a parte que é suprimida fica lutando para se expressar. 

Assim, todo homem é esquizofrênico, dividido... dividido contra si próprio, lutando contra si próprio. O homem, como tal, é esquizofrênico. Não pode estar à vontade, não pode ser calado, nem pode ser expansivo. O inferno está sempre ali. E, a não ser que você se tornes inteiro, não pode se livrar desse inferno. 

Algo tem que ser feito para desprender essa neurose, para aproximar suas partes divididas. O que não é expresso tem de ser expresso, e essa constante repressão do inconsciente pelo consciente tem de ser eliminada.

As velhas técnicas de meditação não levam tal coisa em consideração. Por isso fracassaram. As técnicas de meditação existem há muito tempo, têm sido conhecidas através da história, mas um Buda, um Jesus, um Mahavira, todos foram fracassos. Não quero dizer que eles próprios não compreenderam. Compreenderam, alcançaram sua própria iluminação, mas não puderam auxiliar a maior parte da humanidade a alcançar a iluminação. 

Por que a religião não foi mais do que um auxílio? A razão é esta: o homem foi tomado naturalmente, e as técnicas meditativas lhes foram ensinadas tal como ele é. Essas técnicas só podem ajudar até certo ponto; podem afetar apenas a superfície. A divisão interior permanece, nada pode ser feito para dissolvê-la. 

Há por exemplo, as técnicas do Zen..., a Meditação Transcendental do iogue Mahesh... e outras técnicas mais. Elas podem ajudar até certo ponto. Podem lhe acalmar, sua superfície torna-se mais tranquila. Mas nada acontece ao seu interior. Não pode acontecer! E, de certa forma, a calma superficial é perigosa, porque, mais cedo ou mais tarde, tornará a explodir. Basicamente, nada aconteceu. Você treinou sua mente consciente para um estado mais calmo. 

Você pode facilmente acalmar sua mente através de mantras, através do constante cantarolar, através de muitas coisas. Tudo quanto criar um tédio interior lhe ajudará a obter calma. Por exemplo, se você repetir constantemente Ram-Ram-Ram, essa repetição constante cria uma sonolência, um tédio, e sua mente começa a sentir sono. Você pode sentir essa sonolência como calma, com quietude, mas não é. Na verdade, isso é uma espécie de embrutecimento. Mas, pelo menos, você pode tolerar melhor a sua vida, por causa desse embrutecimento. Pelo menos, superficialmente você estará mais satisfeito. E as forças, as forças neuróticas,continuarão fervilhando em você, por dentro. Um belo dia elas explodirão e despedaçarão a superfície. 

Tais métodos são conciliatórios. Muito poucas são as pessoas que podem ser ajudadas através deles. E as que podem ser ajudadas através deles podem ser ajudadas por quaisquer outras técnicas. Mas tais pessoas são raras exceções, são os poucos afortunados que não são neuróticos. A maioria da humanidade não tem tanta sorte.

Por isso é que minha ênfase, de início, está em dissolver sua divisão interior, fazer-lhe um — uma unidade. A não ser que você seja um, nada pode ser feito. Assim, a primeira coisa está em dissolver a sua neurose.

Minha técnica é a da Meditação Dinâmica, que aceita a sua neurose tal como ela é, e tenta liberá-la. A técnica se inicia, basicamente, com uma catarse. Tudo o que está escondido deve ser liberado. Você não deve continuar reprimindo. Antes, escolhe a expressão como caminho. Não condene a si próprio. Aceite-se tal como é, porque a condenação apenas cria divisão. Do momento em que você aceita, vai além, porque a aceitação cria uma unidade, e quando você está unido interiormente, tem energia para ir além.

Quando você está dividido interiormente, sua energia está lutando consigo mesmo. Então, ela não pode ser usada para nenhuma transformação. Assim, deixe que haja uma aceitação do que você é. Tudo que você tem estado reprimindo até agora tem que ser liberado. E se você libera sua neurose conscientemente, dia virá em você chegará ao ponto em que já não é um neurótico.

Os que reprimem as suas neuroses tornam-se cada vez mais neuróticos, enquanto os que a manifestam conscientemente, livram-se dela. Assim, a não ser que você se torne "conscientemente insano" jamais poderá tornar-se são...

Você é insano, então tem que fazer algo a esse respeito. A velha tradição diz: "Reprima a sua insanidade. Não permita que ela se manifeste ou você começará a agir de forma insana", mas eu lhe digo: "Deixe que ela venha à tona, seja consciente dela. Essa é a única via para a sanidade".

Osho em, Meditação: a arte do êxtase

A mensagem está além do simbolo fonético

Para mim, a meditação tem dois passos: primeiro, um ativo (que não é, realmente, de modo algum, meditação) e segundo, um completamente não-ativo (a consciência passiva, que é, realmente, meditação). A consciência, ou conhecimento, é sempre passiva, e, no momento em que te tornas ativo perdes teu conhecimento. É possível estar ativo e consciente apenas quando a consciência chegou a um tal ponto que agora já há, necessidade da meditação para conquistá-la, ou conhecê-la, ou senti-la. Quando a meditação se torna inútil, tu, simplesmente, pões de lado a meditação. Agora, estás consciente. Só então podes estar ao mesmo tempo consciente e ativo — de outra maneira não é possível. Enquanto a meditação ainda for necessária, não serás capaz de estar consciente durante a atividade. Mas, quando a meditação já não é necessária...

Se tu te tornaste meditação, já não precisarás dela. Então, podes ser ativo, mas mesmo nessa atividade és sempre o expectador passivo. Agora, jamais és o ator: és, sempre, uma consciência que testemunha. 

A consciência é passiva... e a meditação está fadada a ser passiva porque é apenas uma porta para a consciência — a perfeita consciência. Assim, quando as pessoas falam em meditação "ativa", estão erradas. Meditação é passividade. Podes precisar de alguma atividade, de algum "fazer" para chegar a ela — isso pode ser compreendido — mas isso não se dá porque a meditação seja, em si, ativa. Isso, antes, se dá, porque estiveste ativo em tantas e tantas vidas — a atividade tornou-se de tal forma parte e parcela de tua mente — que precisas até mesmo da atividade para alcançar a não-atividade. 

Estivestes tão envolvido em atividade que não podes abandoná-la. Assim, pessoas como Krishnamurti podem continuar a dizer: "Abandone isso", mas continuarás a perguntar como abandonar isso. Krishnamurti dirá: "Não perguntes como. Estou dizendo que abandones isso! Não há um 'como' para tanto. Não há necessidade de nenhum 'como'."

De certa forma ele está certo. Consciência passiva ou meditação passiva não têm um "como". Não podem ter, porque se houver um "como" então não pode ser passiva. Mas está certo, também, porque não leva em conta seu ouvinte. Ele está falando de si próprio. 

A meditação se faz sem "como", sem tecnologia, sem qualquer técnica. Assim, Krishnamurti está totalmente correto, mas o ouvinte não foi levado em conta. O ouvinte nada mais tem senão atividade; para ele, tudo é atividade. Assim, quando dizes "A meditação é passiva, não-ativa, sem escolha. Podes apenas estar nela. Não há necessidade de esforço, de nenhum esforço, ela é sem esforço", estás falando uma linguagem que o ouvinte é capaz de entender. Ele entende a parte linguística do que dizes — e isso é que torna tudo tão difícil. Ele diz: "Intelectualmente, compreendo tudo. Tudo o que o senhor está dizendo está sendo inteiramente compreendido", mas ele é incapaz de compreender o significado. 

Não há nada de misterioso nos ensinamentos de Krishnamurti. Ele é o menos místico dos mestres. Nada há de misterioso! Tudo é obviamente claro, exato, analisado, lógico, racional, de forma que todos podem entender. E isso tornou-se uma das grande barreiras, porque o ouvinte pensa que compreendeu. Compreendeu a parte linguística, mas não compreende a linguagem da passividade. 

Compreende o que lhe está sendo dito — as palavras. Ouve-as, compreende-as, conhece o sentido daquelas palavras. Faz correlações. Um quadro inteiramente correlato vem à sua mente. O que está sendo dito é compreendido, há uma comunicação intelectual. Mas ele não compreende a linguagem da passividade. Não pode compreender. Só pode compreender a linguagem da ação — da atividade.

Osho em, Meditação: a arte do êxtase

Usa tua mente como um meio, não faças dela um fim

Se alguma coisa é causa de alguma outra coisa, jamais é inútil, mas um velho expediente é sempre inútil. Por isso que cada novo profeta tem de lutar contra os antigos profetas. Está fazendo o mesmo trabalho que eles fizeram, mas terá que opor-se aos seus ensinamentos, porque precisa negar os velhos expedientes, já que eles se tornaram vazios e sem significação. 

Todos os grandes — Buda, Cristo, Mahavira — criaram, por compaixão, grandes mentiras, apenas para levar-te para fora da casa em chamas. Se puderes ser arrancado para fora de tua mente, através de qualquer expediente, isso é tudo quanto se faz necessário. Tua mente é o cárcere. Tua mente é fatal, é a escravidão. 

Como eu disse, esse dilema terá de acontecer. Assim é a natureza da vida. Terás que aprender a estreitar a mente. Esse estreitamento será de auxílio quando saíres para fora, mas será fatal lá dentro. Será utilitário como os outros; será suicida com a própria pessoa.

Precisas existir com os outros e contigo mesmo. Toda vida unilateral faz-se defeituosa. Precisas existir entre os outros com a mente condicionada, mas deves existir contigo mesmo com uma percepção inteiramente livre de condicionamento. A sociedade cria um estreitamento de percepção, mas a própria percepção significa expansão. É limitada. Ambas as coisas são necessárias, e ambas devem ser realizadas. 

Chamo sensata a pessoa que pode realizar ambas as necessidades. Qualquer extremo é insensato, qualquer extremo é prejudicial. Assim, vive no mundo com a mente, com o teu condicionamento, mas vive contigo mesmo sem a mente, sem treinamento. Usa tua mente como um meio, não faças dela um fim. Sai dela, no momento em que tenhas essas oportunidade. Quando estiveres sozinho, sai dela, salta fora dela. Então, festeja o momento, festeja a existência em si mesma, o Ser em si mesmo. 

O simples fato de ser é tão grande celebração, se souberes como saltar para fora do condicionamento. Esse "saltar para fora" vais aprender através da Meditação Dinâmica. Ela não será causada; virá ter contigo sem qualquer causa. A meditação criará uma situação na qual irás ter ao desconhecido. Aos poucos serás levado para fora de tua personalidade habitual, mecânica, robotizada. 

Seja corajoso. Pratica a Meditação Dinâmica vigorosamente, e tudo o mais se seguirá. Não será coisa que faças, será algo que acontece. 

Não podes trazer o divino, mas podes embaraçar a sua vinda. Não podes trazer o sol para a casa, mas podes fechar a porta. Negativamente, muita coisa a mente pode fazer: positivamente, nada. Tudo quanto é positivo é uma dádiva, é uma benção. Tudo quanto é positivo vem ter contigo, enquanto tudo quanto é negativo é trabalho teu. 

A meditação (e todos os expedientes da meditação) pode fazer uma coisa: afastar-te de todos os teus obstáculos negativos. Pode trazer-te para fora de teu cárcere, que é a mente. E, quando tiveres saído, rirás. Era tão fácil sair! Tudo estava ali mesmo! Apenas um passo se fazia necessário... mas andamos em círculos e perdemos sempre um passo, aquele passo que poderia levar-nos ao centro. 

Tu andas em círculos (pela periferia), repetindo a mesma coisa. Em algum ponto a continuidade precisa ser rompida. Isso é tudo quanto pode ser feito por qualquer método de meditação. Se a continuidade for rompida, se te tornas descontínuo com o teu trabalho, então, naquele exato momento, há explosão! Naquele exato momento estás centralizado, centralizado em teu ser. E então conhecerás tudo quanto sempre foi teu, tudo quanto estava apenas esperando por ti.

Osho em, Meditação: a arte do êxtase

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Perca o presente e você viverá no tédio

Osho, eu sinto que a vida é muito chata. O que deveria fazer?

 Brij Mohan, desse jeito você já fez o bastante: você tornou a vida chata — uma grande façanha! A vida é uma tal dança de êxtase e você a reduziu à chatice. Você fez um milagre! O que mais você quer fazer? Você não pode fazer nada maior que isto. Vida, e chata? Você deve ter uma tremenda capacidade de ignorar a vida. 

Outro dia eu estava dizendo a vocês que a ignorância significa a capacidade de ignorar. Você deve estar ignorando os pássaros, as árvores, as flores, as pessoas. De outra maneira, a vida é tão tremendamente bela, tão absurdamente bela, que se você puder vê-la como ela é, você nunca parará de rir. Você dará risadas — pelo menos internamente. 

A vida não é chata, mas a mente é chata. E nós criamos uma tal mente, tão forte, como uma Muralha da China ao nosso redor, que a vida não entra dentro de nós. A mente nos desconecta da vida. Nós nos tornamos isolados, encapsulados, sem janelas. Vivendo atrás de uma parede de prisão você não vê o sol da manhã, você não vê os passarinhos voando, você não vê o céu à noite cheio de estrelas. E, certamente, você começa a achar que a vida é chata. Sua conclusão é errada. Você  está num espaço errado, você está vivendo num contexto errado.

Você deve ser uma pessoa religiosa, Brij Mohan, porque para tornar a vida chata pessoa tem que ser religiosa; tem que ser muito erudita. A pessoa tem que conhecer o Cristianismo, o Hinduísmo, o Islamismo. A pessoa tem que aprender muito dos Vedas, do Corão e da Bíblia. Você deve ser muito bem informado. Um homem que é bem-informado demais, culto demais, cria uma parede de palavras tão grande — palavras fúteis, vazias — em volta dele que se torne incapaz de ver a vida. 

O conhecimento é uma barreira para a vida. 

Ponha de lado seu conhecimento! E então olhe com olhos vazios... e a vida é uma constante surpresa. Eu não estou falando sobre alguma vida divina —a vida ordinária é tão extraordinária. Em pequenos incidentes você vai achar a presença de Deus — uma criança rindo, um cachorro latindo, um pavão dançando. Mas você não pode ver se seus olhos estiverem cobertos de conhecimento. O homem mais pobre do mundo é o homem que vive atrás de uma cortina de conhecimento. Os mais pobres são aqueles que vivem atrás da mente. Os mais ricos são aqueles que abriram as janelas da não-mente e se aproximaram da vida com ela. 

Brij Mohan, essa não é somente sua experiência, você não está sozinho nela. De fato, a maioria das pessoas concordará com você. Eles não encontraram nenhuma surpresa em lugar algum. E em cada momentos existem surpresas e surpresas porque a vida nunca é a mesma; ela está constantemente mudando, ela toma rumos bastante imprevisíveis. Como você pode não se afetar pela sua própria maravilha? A única maneira de permanecer não afetado é se ligar ao seu passado, às suas memórias, à sua mente. Então você não pode ver o que é, você vai perdendo o presente.

Perca o presente e você viverá no tédio. Esteja no presente e você ficará surpreso por não haver nenhum tédio.

OSHO 


Todo defunto pensa que sabe o que a vida é

Os Mestres não falam a verdade. Mesmo se eles quiserem eles não podem, é impossível. Então, qual a função deles? O que eles continuam fazendo? Eles não podem dizer a verdade, mas eles podem provocar a verdade que está profundamente adormecida em você. Elas podem provocá-la, desejá-la. Eles podem lhe sacudir, eles podem lhe acordar. Eles não podem lhe dar Deus, verdade, nirvana, porque em primeiro lugar você já tem tudo isso em você. Você nasce com isto. É inato, intrínseco. É a sua própria natureza. Então qualquer pessoa que finja lhe dar a verdade está simplesmente explorando sua estupidez, sua credulidade. Ele é esperto — esperto e completamente ignorante também. Ele não sabe nada, nem mesmo um vislumbre da Verdade aconteceu a ele. Ele é um pseudoMestre. 

A verdade não pode ser dada; ela já está em você. Ela pode ser suscitada, ela pode ser provocada. Um contexto pode ser criado, um certo espaço pode ser criado no qual ela surja em você e não esteja mais adormecida, torne-se desperta. 

A função do mestre é bem mais complexa do que você pensa. Ela teria sido bem mais fácil, bem mais simples, se a verdade pudesse ser transmitida. Ela não pode ser transmitida; logo, é preciso usar meios e caminhos indiretos

No novo testamento há a bela história de Lázaro. Os cristãos perderam todo sentido dela. Jesus é tão infeliz — ele esteve na companhia de pessoas erradas. Nem mesmo um único teólogo cristão foi capaz de descobrir o significado da história de Lázaro, sua morte e sua ressurreição... Se Lázaro estava morto ou não, não é o que importa. Envolver-se nessas questões estúpidas é um absurdo. Somente eruditos podem ser tão bobos...

Vocês estão todos mortos. Vocês estão todos na mesma situação de Lázaro. Vocês estão todos em suas grutas escuras. Vocês estão todos fedendo e deteriorando... porque a morte não é uma coisa que vem um dia de repente — vocês estão morrendo todos os dias. Desde o dia de seu nascimento você está morrendo. É um longo processo; leva-se setenta, oitenta, noventa anos para completá-la. A cada momento alguma coisa de você morre, alguma coisa em você morre, mas você está absolutamente inconsciente da situação toda. Você continua como se estivesse vivo; você continua como se soubesse o que a vida é.

A função do Mestre é chamar: "Lázaro, saia da gruta! Saia do seu túmulo! Saia da morte!"

O Mestre não pode lhe dar a verdade, mas ele pode provocá-la. Ele pode mexer algo em você. Ele pode dar início a um processo em você, que vai inflamar um fogo, uma chama

A verdade já é você — simplesmente juntou muita poeira ao seu redor. A função do Mestre é negativa: ele tem que lhe dar um banho, uma chuveirada, então a poeira desaparece. 

Este é exatamente o significado do batismo cristão. Isto é o que João Batista estava fazendo no rio Jordão. Mas as pessoas continuam entendendo errado. Hoje o batismo acontece nas igrejas; ele é sem sentido. 

João Batista estava preparando as pessoas para um banho interno. Quando elas estivessem prontas ele as levaria simbolicamente para dentro do rio Jordão. Aquilo era somente simbólico... simbolizando que o Mestre pode lhe dar um banho. Ele pode tirar a poeira, a poeira de séculos para fora de você. E de repente tudo está límpido, tudo é claridade. Essa claridade é iluminação. 

(...) Os Mestres não ensinam a verdade, não há como ensiná-la. É uma transmissão além das escrituras, além das palavras. É uma transmissão. É energia provocando energia em você. É um tipo de sincronicidade... Começou um processo em você que lhe revela a verdade do seu ser. Você se vê face a face com você. Deus não está em algum outro lugar: ele está aqui, agora.

OSHO  

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Sobre os loucos

Há milhões de loucos em hospícios, em todo o mundo, que não estão realmente loucos; precisavam de um Mestre e não de um psicoterapeuta. Atingiram seu primeiro satori e todas as psicoterapias os estão forçando de volta, os estão forçando a serem normais. Estão em melhor situação do que tu; atingiram o crescimento, mas o crescimento é demorado - no início é assim mesmo, eles estão passando pelo primeiro satori - e foram tidos como culpados. Dizem-lhes: - “Tu estás louco!” - e eles tentam esconder isso, tentam agarrar-se e, quanto mais longamente se agarrarem, mais longamente a loucura perdurará.

Só recentemente alguns psicanalistas, particularmente R. D. Laing, tornaram-se conscientes do fenômeno; do fato de alguns loucos não terem descido abaixo do normal, e sim, realmente, passado para além do normal. Só algumas pessoas, no Ocidente, pessoas muito perceptivas, conscientizaram-se disso - mas no Oriente sempre houve essa consciência; o oriente jamais suprimiu os loucos. A primeira coisa que o Oriente faz é levar os loucos a uma escola onde muitas pessoas estão trabalhando e um Mestre vivo está presente. A primeira coisa é ajudá-las a atingir um satori.

No Oriente, os loucos têm sido altamente respeitados; no Ocidente, eles são simplesmente condenados, forçados a receber choques elétricos, choques de insulina, forçados de uma forma ou de outra, chegando mesmo a terem seus cérebros destruídos - porque agora existem cirurgias em ação. Seus cérebros são operados e algumas partes dele removidas.

Eles se tornam normais, naturalmente, mas apáticos, idiotizados; sua inteligência se perdeu. Já não estão loucos, não farão mal a ninguém; tornaram-se uma parte silenciosa da sociedade - mas vós os matastes, sem saber que estavam alcançando um ponto a partir do qual um homem se torna sobre-humano. Mas, naturalmente, é preciso passar pelo caos.

Osho

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Seja simplesmente uma testemunha

Quando eu digo que meditação não é nada além de ausência de pensamentos, você pode me entender erroneamente. Você não tem de fazer nada para ficar sem pensamentos, porque o que quer que você faça será novamente um pensamento.Você tem que aprender a ver a procissão de pensamentos, ficando do lado da estrada, como se não fosse do seu interesse o que está passando por ali. Simplesmente o tráfego ordinário - se você puder tomar seus pensamentos de um modo que eles não sejam de muito interesse, então, facilmente, lentamente, a caravana de pensamentos que tem existido continuamente por milhares de anos desaparece.

Você tem que compreender uma coisa simples: que dar atenção é dar nutrição. Se você não der nenhuma atenção e permanecer indiferente, os pensamentos começam a morrer por conta própria. Eles não têm nenhum outro modo para conseguir energia, nenhuma outra fonte de vida. Você é a energia que eles têm. E como você continua lhes dando atenção, seriamente, você pensa que é muito difícil se livrar dos pensamentos. É a coisa mais fácil do mundo, mas tem de ser feito da maneira certa.

A maneira certa é ficar do lado. O tráfego vai passando - deixe-o passar. Não faça nenhum julgamento de bom e mau; não aprecie, não condene. Está tudo certo.

Sem forçar... e isso é algo que tem de ser lembrado, porque nossa tendência natural é forçar - se é para ficarmos sem pensamentos, por que não forçar os pensamentos? Por que não joga-los fora? Mas através do simples ato de forçá-los, você está lhes dando energia, está lhes dando nutrição, está lhes dando atenção e os está tornando importantes - tão importantes que sem jogá-los para fora, você não pode meditar.

Tente jogar fora um pensamento, e você verá como fica difícil. Quanto mais você o empurra para fora, mais ele volta com força! Ele adorará o jogo e você será derrotado no final. Você tomou a rota errada.

(...)

Você não pode reprimir nenhum pensamento. O próprio processo repressivo dá energia, vida, força a ele. E o enfraquece, porque você se torna o parceiro derrotado no jogo. A coisa mais fácil é não forçar, mas ser simplesmente uma testemunha.

(...)

Nunca force nenhum pensamento a ir embora, senão ele voltará com uma energia muito maior. E a energia é sua! Você está numa trilha de auto-fracasso. Quanto mais você o empurra para fora, com mais força ele volta.

(…)

Apenas permaneça em silêncio observando todos os tipos de coisas e deixe-as passar. Logo você encontrará a estrada vazia. E quando você encontrar a estrada vazia, você encontrou a mente vazia - naturalmente.

(...)

Quando você está no estado de não-mente, que equivale a ausência de pensamentos ... quando não há nenhuma nuvem de pensamento passando em sua mente, você atinge à claridade do estado de não-mente.

A mente é simplesmente uma combinação de todos os pensamentos, de todas as nuvens. A mente não tem nenhuma natureza independente própria. Quando todos os pensamentos forem embora e o céu estiver limpo e claro, você verá que tudo aquilo para o qual você deu tanta atenção não é nada mais do que vazio. Seus pensamentos eram todos vazios. Eles não continham nada, eles eram vazios.

Tudo o que você pensava que eles tinham era sua própria energia. Você retirou sua energia - o casco vazio do pensamento desaparece. Você retirou a identidade que você tinha com ele e, imediatamente, o pensamento não está mais vivo. Era a sua identificação que estava dando força de vida a ele.

E estranhamente você pensava que seus pensamentos eram muito fortes e era muito difícil livrar-se deles! Você os estava lhes dando força, estava cultivando-os.

(...)

Você pode simplesmente sentar-se ou se deitar e deixar os pensamentos passarem. Eles não deixarão nenhum rastro. Simplesmente não fique interessado... nem fique desinteressado tampouco. Simplesmente fique neutro. E ficar neutro é trazer de volta a própria força de vida que você tem dado a seus pensamentos.

OSHO, The Buddha: The Emptiness of the Heart, # 1

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Os que pensam ser sãos chamam-lhe de louco

É isso o que sempre se diz de um meditador. Lembre-se, isso será dito sobre você também; já deve ter sido dito... porque todo mundo pensa que é são. Ele s não conseguem entender porque alguém deveria meditar. Para quê? Ficam perguntando constantemente à pessoa que medita ou ora: " Por que isso? Em que você está se envolvendo? Para quê? Por que está perdendo seu tempo sentado em silêncio a contemplar seu umbigo? Não perca tempo! Tempo é dinheiro! Você pode fazer muitas coisas, ter mais, possuir mais. Não perca tempo! O tempo perdido nunca é recuperado. E o que está fazendo sentado com os olhos fechados? Abra-os e vá competir no mundo! Este mundo é uma luta pela sobrevivência; aqueles que se sentam em silêncio e meditam estarão perdidos. A única maneira de atingir algo é lutando. Seja agressivo, não seja passivo!"

Lembre-se, há dois modos de vida: o da ação e o da não-ação. O da ação acredita na ação, o da não-ação acredita na receptividade. Meditação é o modo de não-ação, o que os chineses chamam wei-wu-wei, ação sem ação, ação através da não-ação, fazer sem absolutamente fazer coisa alguma. Meditação é a maneira da não-ação, e o mundo está repleto de pessoa que vivem apenas de um modo, o da ação. E a pessoa que vive dessa maneira não pode compreender o que se passa com a pessoa que entrou na maneira da não-ação. 

(...) É assim que acontece. Se você se torna meditador, nos primeiros dias as pessoas pensam que você enlouqueceu, mas depois o esquecem. Eles têm mil e uma coisas em que pensar e não podem continuar pensando em você. Já o classificaram de louco — assim, você é louco. Então, porque continuar pensando nisso? Se você renuncia, se escapa, se começa a se mover no caminho da não-ação, no começo elas pensam em você, mas logo o esquece, porque sempre há demasiados candidatos para seu lugar. 

Quando você morre, seu lugar é imediatamente preenchido. Tudo que você tem no mundo, tem em oposição aos outros. Eles estão esperando pela sua morte. Você morre — sua casa será ocupada por outra pessoa, sua conta bancária estará em nome de outra pessoa. Ele só estão esperando. Na verdade, estão ficando preocupados: "Por que você ainda está aqui? Por que não se vai?" Todos aqui estão interessados na morte do outro, pois a vida é uma competição implacável, mortal!

Assim, logo o esqueceram. 

O S H O — A Sabedoria das Areias

sábado, 2 de agosto de 2014

Observe, com distância, as manifestações da mente

Observe a ganância, observe o sexo, observe a cólera; a dominação, o ciúme. Uma coisa deve ser lembrada: não se identifique; simplesmente observe, torne-se um expectador. Geralmente, a qualidade de testemunha cresce e passa a ser capaz de notar todas as nuances da manifestação. São muito sutis. Você passa a ser capaz de ver o quanto são sutis as funções do ego, como são sutis duas formas. Não é uma coisa grosseira. É muito sutil e delicada e profundamente oculta. Quanto mais você observa, mais seus olhos se farão capazes de ver, mais perceptivos se tornarão e, quanto mais você ver, mais profundamente caminhará e maior distância se estabelecerá entre você aquilo que você faz. A distância ajuda porque, sem distância, não pode haver percepção. Como você pode distinguir uma coisa que está demasiado próxima? Se seus olhos estiverem tocando o espelho, como você poderá ver? Uma distância é necessária. E nada pode dar-lhe distância, a não ser o testemunhar. Tente e verá.

(...)A testemunha é um estranho. Por sua própria natureza, a testemunha nunca pode tornar-se alguém que está de dentro. Procure essa testemunha e, então coloque-se no topo da colina: tudo se passa no vale, sem que você tenha a menor participação. Você simplesmente vê: o que você tem com aquilo? É como se tudo tivesse se passando com outra pessoa.(...) Lembre-se, simplesmente, de uma coisa: você tem que ser um observador, porque, então, a identificação se romperá, então a raiz será cortada. E, desde que a raiz seja cortada, de vez que você descubra que você não é aquele que atua, tudo se modifica de repente. E a modificação É SÚBITA, NÃO HÁ GRADUAÇÃO NELA.

(...) No momento em que você corta a raiz da mente, a identificação, a SAMSARA, tomba com ela, todo o mundo se desmorona como um castelo de cartas. Basta uma pequena brisa de consciência, e toda a casa cai. De súbito, você está ali; não mais no mundo pois você transcendeu. Você pode viver da mesma maneira antiga, porque você já não é antigo. É um ser perfeitamente novo — isso é um renascimento. Os hindus o chamam DWIJ, duas vezes nascido. Um homem que a isso chegou é duas vezes nascido; a Iluminação é um segundo nascimento: o nascimento da alma. Isso é o que Jesus quer dizer quando fala em ressurreição. A ressurreição não é o renascimento do corpo, é um novo nascimento da consciência.

O S H O

Lidando com as "saídinhas do ser"

Transcender a dualidade é visão soberana;
dominar abstrações é prática régia.
As abstrações existem; você perderá sua consciência muitas e muitas vezes. Medita, senta-se para a meditação, um pensamento surge e, imediatamente, você se esquece de si mesmo, segue o pensamento, é envolvido por ele. O Tantra diz que há apenas uma coisa a ser dominada — a abstração. 

Como? Só de uma maneira: quando um pensamento vier, conserve-se testemunha. Encare-o, permita que ele passe pelo seu ser, mas não se prenda de forma alguma a ele, a favor ou contra. Pode ser um mau pensamento, um pensamento voltado para matar alguém — não repele-o, não diga: este é um mau pensamento. No momento em que você diz alguma coisa sobre um pensamento, você se liga a ele e cai na abstração. Aquele pensamento pode levar-lhe a muitas coisas, de um pensamento a outro. Um bom pensamento vem, um pensamento compassivo; não diga: "Oh! Que lindo! Sou um grande santo. Tão belos pensamentos estão surgindo que eu gostaria de dar a salvação ao mundo inteiro. Gostaria de libertar toda a gente." Não diga isso. Bom ou mau, conserve-se com uma testemunha.

Mesmo assim, a princípio, muitas vezes você se distrairá. Então, o que fazer? Se você está absorto, seja absorto. Não se preocupe demais com isso, quando não, essa preocupação se tornará obsessiva. Seja distraído! Por alguns minutos você permanecerá absorto e, então, subitamente, recordará: "estou distraído" e estará de volta. Não se sinta deprimido. Não diga "não está certo que me distraía", pois estará novamente criando o dualismo: mau e bom. Distraído? Pois está bem, aceite isso e volta. Mesmo com a distração, não crie um conflito

Isso é o que Krishnamurti vem dizendo sempre. Usa, para tanto, um conceito paradoxal. Diz que, se você está desatento, deve ser atentamente desatento. Isso é certo! De repente você descobre que esteve desatento, dá atenção a isso e retorna ao ponto de partida. Krishnamurti não tem sido compreendido pelo fato de seguir o Caminho Régio. Se ele fosse um iogue, seria compreendido muito facilmente. Por isso diz, constantemente, que não há método: no Caminho Régio não há método. Insiste em dizer que não há técnica. Insiste em dizer que escritura alguma lhe ajudará: no Caminho Régio não há escritura. 

Absorto? No momento em que recordar, no momento em que prestar atenção e descobrir que esteve distraído, retorne! Isso é tudo! Não crie conflito algum. Não diga que foi mau, não se sinta deprimido, frustrado, por haver novamente se distraído. Nada há de errado na distração — goze também isso. 

Se você puder gozar a abstração, ela lhe acontecerá cada vez menos. E um dia virá em que não haverá abstração — mas não será uma vitória. Você não recalcou os fios da distração da sua mente para a profundeza do inconsciente. Não. Você permitiu que eles viessem. Também eles são bons. 

Esta é a maneira de ser do Tantra, que diz que tudo é bom e sagrado. Mesmo que haja abstração, distração, de certa forma ela é necessária. Você pode não ter consciência do porque dessa necessidade, entretanto ela existe. Se você puder se sentir bem com tudo o que acontece, só então está seguindo o Caminho Régio. Se começa a combater o que quer que seja, é porque saiu do Caminho Régio e se tornou um soldado comum, um guerreiro. 
Compreender a dualidade é visão soberana;
dominar abstrações é prática régia;
a trilha da não-prática é o caminho de todos os Budas.
 
O S H O — Tantra: a Suprema Compreensão

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quem é você longe da multidão?

O primeiro ponto a perceber é que, querendo ou não, você está sozinho. A solitude é sua verdadeira natureza. Você pode tentar esquecê-la, tentar não ficar sozinho fazendo amigos, tendo amantes, misturando-se à multidão... Mas tudo o que você fizer fica apenas na superfície. No fundo de você, sua solitude é inatingível, intocável.

Um curioso fato acontece com todo ser humano: quando ele nasce, a própria situação de seu nascimento começa numa família. E não existe outra maneira, porque o recém-nascido humano é o recém-nascido mais frágil em toda a existência. Outros animais nascem completos. O cachorro vai continuar sendo um cachorro durante toda a vida; ele não vai evoluir, não vai se desenvolver. Sim, ele ficará mais velho, mas não ficará mais inteligente, mais consciente, não se tornará iluminado. Nesse sentido, todos os animais permanecem exatamente no ponto em que nasceram; nada de especial muda neles. A morte e o nascimento deles são horizontais — numa só linha.

Somente o ser humano tem a possibilidade de seguir na vertical, para cima, e não apenas na horizontal. Mas a maioria das pessoas se comporta como os outros animais: a vida é apenas um envelhecer, e não um amadurecer. Amadurecer e envelhecer são experiências totalmente diferentes.

O ser humano nasce numa família, entre seres humanos. Desde o primeiro momento, ele não está sozinho; portanto, ele adquire um certo padrão psicológico de sempre permanecer com pessoas. Em solitude, ele começa a ficar com medo... medos desconhecidos. Ele não está exatamente consciente do que está com medo, mas, quando ele se afasta da multidão, algo dentro dele fica pouco à vontade. Quando está com os outros, ele se sente aconchegado, à vontade, confortável.

Por essa razão, ele nunca vem a conhecer a beleza da solitude; o medo o impede. Por ter nascido num grupo, ele continua fazendo parte de um grupo. E, à medida que envelhece, começa a formar novos grupos, novas associações, novos amigos. As coletividades já existentes não o satisfazem — a nação, a religião, o partido político — e ele cria suas próprias novas associações, Rotary Club, Lions Club... Mas todas essas estratégias estão a serviço de um só objetivo: nunca ficar sozinho.

Toda a experiência de vida é a de conviver com outras pessoas. A solitude parece uma morte. De certa maneira, ela é uma morte, a morte da personalidade que você criou na multidão. Esse é um presente das outras pessoas para você. No momento em que você se afasta da multidão, também se afasta da sua personalidade.

Na multidão, você sabe exatamente quem você é; sabe seu nome, sua posição social, sua profissão, sabe tudo o que é necessário para seu passaporte, para sua carteira de identidade. Mas, no momento em que você se afasta da multidão, qual é a sua identidade? Quem é você? De repente, você fica consciente de que você não é seu nome — seu nome foi dado a você. Você não é sua raça — que relação tem a raça com a sua consciência? Seu coração não é hindu ou muçulmano, seu ser não está confinado à fronteira política de uma nação, sua consciência não é parte de alguma organização ou igreja. Quem é você?

De repente, sua personalidade começa a se dispersar. Este é o medo: a morte da personalidade. Agora você precisará começar a descobrir, precisará, pela primeira vez, perguntar quem você é. Você precisará começar a meditar sobre a questão, quem sou eu? — e existe o temor de que você possa não ser absolutamente nada! Talvez você não seja nada, mas uma combinação de todas as opiniões da multidão; nada, exceto sua personalidade.

Ninguém quer ser nada, ninguém quer ser ninguém e, na verdade, todo mundo é um ninguém.

[...] Assim, o primeiro problema do buscador é entender exatamente a natureza da solitude. Ela significa ser ninguém, significa abandonar sua personalidade, que é um presente a você da multidão. Quando você se afasta, quando sai da multidão, não pode levar esse presente com você em sua solitude. Em sua solitude, precisará descobrir de novo, descobrir outra vez, e ninguém pode garantir que você encontrará alguém ali dentro ou não. 

Aqueles que atingiram a solitude não encontraram ninguém lá. Realmente quero dizer ninguém — sem nome, sem forma, mas uma pura presença, uma pura vida, inominável, amorfa. Essa é exatamente a verdadeira ressurreição e ela certamente precisa de coragem. Somente pessoas muito corajosas foram capazes de aceitar com alegria o seu ser ninguém, o seu ser nada. O ser nada delas é o puro ser delas; é uma morte e uma ressurreição, as duas coisas. 

O S H O

Você vive como um leão ou como uma ovelha?

O pensar não pode decidir nada, porque algo pode ser bom em uma situação e a mesma coisa pode ser má numa situação diferente. Às vezes mesmo um veneno pode ser remédio e outras, um remédio pode ser veneno — você tem que compreender o fluxo mutável da vida.

Assim sendo, você não pode decidir pensando. Não é uma questão de decidir por meio de uma conclusão lógica; é uma questão de consciência sem escolhas. Você precisa de uma mente sem pensamentos. Em outras palavras, você precisa de uma não-mente, apenas um puro silêncio, para examinar as coisas diretamente. E dessa clareza, a escolha surgirá por si mesma; você não está escolhendo. Você agirá exatamente como um Buda age. Sua ação terá beleza, terá verdade, terá a fragância do divino. Não há necessidade de escolha. 

Você tem que procurar orientação, porque não sabe que seu guia interior está escondido dentro de você. Você tem que encontrar o guia interior, e isso é o que chamo de sua testemunha, seu dharma, seu Buda intrínseco. Você tem que despertar aquele Buda, e sua vida será uma abundância de bênçãos e graças. Sua vida ficará radiante com tanto bem e religiosidade, mais do que você possa sequer conceber. 

É quase como a luz. Seu aposento está escuro, acenda a luz. Até uma pequena vela vai funcionar e toda escuridão desaparecerá. E uma vez que você tenha uma vela, saberá onde está a porta. Você não tem que pensar: "Onde fica a porta?" Só as pessoas cegas pensam a respeito de onde fica a porta. As pessoas que têm olhos e luz disponível não pensam. Você já pensou: "Onde está a porta?" Você simplesmente se levanta e sai. Você nunca tem um único pensamento sobre onde está a porta. Você não começa a tatear procurando a porta ou vai batendo com sua cabeça contra a parede. Você simplesmente a vê, sem nem mesmo uma centelha de pensamento. Você apenas sai. 

Quando você está além da mente, a situação é exatamente a mesma. Quando não existem nuvens e o Sol brilha no céu, você não tem que pensar" Onde está o Sol?" Quando existem nuvens encobrindo o Sol, tem que pensar.

Seu próprio ser está encoberto com pensamentos, emoções, sentimentos e todos são produtos da mente. Basta colocá-los de lado e então, o que quer que você faça, será bom — não que você siga certas escrituras, mandamentos ou certos líderes espirituais. Você é, por seu próprio direito, o guia de sua vida. E essa é a dignidade do homem; ser o guia de sua própria vida. Isso transforma o homem num leão, não numa ovelha, que está sempre procurando alguém que a defenda. 

Mas esse não é um problema só seu, é o problema de quase toda a humanidade. Você tem sido programado por outros sobre o que é certo e o que é errado.

O S H O

Os alienígenas são reais e estão aqui

A questão para o meditador costumava ser: "Como estar no mundo e não ser do mundo?" Desde a minha saída da comunidade por um tempo e tendo voltado ao mundo, eu me sinto um alienígena diferente, não sendo deste mundo. 

A questão parece ser: "Como estar no mundo?"

Osho: Não, a questão ainda é estar no mundo e não ser do mundo. Estar no mundo não muda a primeira posição.

A primeira posição permite a você estar no mundo, mas não mundanamente. Está perfeitamente bem você se sentir alienígena, não há nada de errado nisso. Você deveria se sentir assim, este mundo onde você deveria estar não é o mundo onde você pode sincronizar com as pessoas, com suas ideias, com suas condutas. Este mundo não é um mundo correto — eu quero dizer um mundo humano. E eu quero que você esteja nele, seja parte dele? Então você tem que ser um cristão em uma sociedade cristã. Então, você tem que ir à igreja, então você tem que acreditar na Bíblia Sagrada. É desta maneira que você quer estar no mundo? Então tudo o que você fez antes foi pura perda de tempo. 

Estar no mundo significa somente que você estará fazendo um trabalho, que estará ganhando o seu pão, que estará vivendo com pessoas que não são a mesma mente que você, que você estará vivendo entre estrangeiros; e naturalmente você se sentirá um alienígena. Mas isso é algo para se ficar feliz. 

Eu não o mandei ao mundo para se perder. Eu o mandei ao mundo para permanecer você mesmo, apesar do mundo. 

E este foi o significado da afirmação original; estar no mundo, mas não ser do mundo. Permanece inalterado. É tão fundamental que permanecerá inalterado. 

O S H O — Além da psicologia

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O pico mais alto da consciência

O pico mais alto da consciência é quando você é apenas um ser — não fazendo nada, imóvel, profundamente silencioso, como se você não existisse mais. Subitamente toda a existência começa a derramar flores sobre você. 

O homem é treinado para realizar porque a sociedade necessita dele treinado como trabalhador em diferentes direções, para produção, para a ganância, para a esperteza, para o poder. Ele tem que ser transformado em um escravo cuja vida inteira não seja nada além de fazer desde a manhã até a noite. Ele nem mesmo está rejuvenescido pelo sono e tem que ir trabalhar nas estradas, trabalhar nos campos, trabalhar nos pomares.

A sociedade fez do realizar algo muito proeminente e respeitável. Ela esqueceu completamente que existe outra dimensão na vida. Eu não estou dizendo que você não deve fazer nada. Você tem que comer, tem que se vestir, você necessita de um teto, de modo que algum tipo de realização será necessário. Mas o realizar deve ser apenas utilitário; ele não vai lhe dar as grandes experiências para as quais a vida é uma oportunidade. O seu realizar vai lhe dar a sobrevivência. Mas sobreviver apenas não é estar vivo. Estar vivo significa ter uma dança em seu coração. Estar vivo significa ter cada fibra de seu ser cheia de música celestial. Estar vivo significa experimentar o fluxo eterno da força da vida dentro de suas veias. Isto é possível não pelo realizar; isto é possível apenas através da não-realização. Portanto, a não-realização é o derradeiro valor. Realizar é simplesmente mundano — por necessidade você tem que fazer algo.

Mas existe tempo suficiente, vinte e quatro horas por dia: você pode dedicar cinco ou seis horas para as necessidades ordinárias, e ainda sobrarão dezoito horas. Se você puder encontrar até mesmo duas para a não-realização, você ficará tão enriquecido que não pode conceber antecipadamente — porque quando você não está fazendo nada, você não existe. Então o que existe? Este imenso silêncio da existência, esta imensa beleza das flores, este infinito do céu que cerca você, tudo se torna parte de você. E o toque do eterno e o infinito e o imortal trazem tanto júbilo que mesmo quando você está fazendo, lentamente, lentamente você encontrará mesmo no seu fazer esses júbilos, esses êxtases estarão entrando em seu trabalho.

Então o trabalho não é mais trabalho. Fazer não é mais fazer; torna-se a sua criatividade. O que quer que você faça, você fará com totalidade. E toda a existência o sustentará, encherá você com tanto néctar de modo que você possa derramar esse néctar em suas ações, nos seus afazeres. Subitamente você se torna um mágico. O que quer que você toque se transformará em ouro. Para onde você for, a existência segue lhe dando as boas-vindas, e o que quer que você faça, mesmo que pequeno, se torna parte de sua meditação.

O S H O — Satyam-Shivam-Sundram

Integrando Mente, Coração, Ser

Um homem que está inconsciente de seu próprio ser não pode dizer que está realmente vivo. Ele pode ser um mecanismo útil, um robô...
 Você fala contra a mente, dizendo que nós devíamos abandoná-la, dizer a ela que se cale, que ela não é necessária na busca da verdade. Para que serve a mente? Ela é realmente danosa?

A mente é uma das coisas mais significativas da vida — mas apenas como um servo, não como um mestre. No momento que a mente se torna o mestre, então surgem os problemas; ela substitui seu coração, substitui seu ser, toma posse de você, completamente. Então, em vez de seguir as suas ordens, ela começa a dar ordens a você.

Não estou dizendo para destruir a mente — é o fenômeno mais evoluído da existência. Estou dizendo para ter cuidado para que o servo não se torne o mestre. Lembre-se, o seu ser vem primeiro, seu coração vem em segundo, sua mente vem em terceiro — esta é a personalidade equilibrada de um autêntico ser humano.

A mente é lógica... imensamente útil, e no mercado você não pode existir sem a mente. E eu nunca disse que você não deve usar sua mente no mercado — você deve usá-la. Mas você deve usá-la, não ser usado por ela. E a diferença é enorme... E a mente que lhe tem dado toda a tecnologia, toda a ciência, mas pelo fato de a mente ter lhe dado tanto, ela tem reivindicado o direito de ser o mestre do seu ser. E aqui que começa o erro; ela tem fechado as portas do seu coração, completamente.

O coração não tem utilidade, não tem nenhum propósito a cumprir. É exatamente como uma rosa. A mente pode lhe dar o seu pão, mas não pode lhe dar contentamento. Ela não pode fazer você se regozijar na vida. Ela é muito séria, não pode nem mesmo tolerar o riso. E uma vida sem riso fica abaixo dos padrões humanos, torna-se subumana, porque apenas o homem, em toda a existência, é capaz de rir. O riso indica consciência, em seu mais alto crescimento. Os animais não podem rir, as árvores não podem rir, e as pessoas que permanecem encerradas na mente, os santos, os cientistas, os pretensos grandes líderes — eles não podem rir também. São todos muito sérios, e a seriedade é uma doença, é o câncer de sua alma; é destrutiva. E por estarmos nas mãos da mente, toda sua criatividade tem estado a serviço da destruição; as pessoas estão morrendo de fome, e a mente está tentando empilhar mais armamentos atômicos. As pessoas estão famintas, e a mente está tentando alcançar a lua.

A mente não tem absolutamente nenhuma compaixão. Para a compaixão, para o amor, para o regozijo, para o riso é necessário um coração liberto do aprisionamento da mente.

O coração tem um valor superior. Não tem nenhuma utilidade no mercado, porque o mercado não é o seu templo; o mercado não é o significado de sua vida. O mercado é a mais inferior de todas as atividades dos seres humanos.

Jesus está certo quando diz: "Nem só de pão vive o homem". Mas a mente pode lhe dar apenas o pão. Você pode sobreviver, mas sobrevivência não é vida. A vida necessita de algo mais — uma dança, uma canção, diversão.

Por isso, quero que você coloque tudo no seu devido lugar: o coração deve ser ouvido primeiro, caso exista qualquer conflito entre a mente e o coração. Em qualquer conflito entre amor e lógica, a lógica não pode ser decisiva, o amor tem que ser decisivo. A lógica não pode lhe dar nenhum néctar — ela é seca. Ela é boa para cálculos, para a matemática, é boa para a tecnologia científica. Mas ela não é boa para os relacionamentos humanos, não é boa para o crescimento do seu potencial interior.

Acima do seu coração está o seu ser. Exatamente como a mente é lógica e o seu coração é amor, o ser é meditação. Ser é conhecer a si mesmo e por conhecer a si mesmo você conhece o significado da sua existência. Conhecer o ser é trazer luz para o seu mundo interior; e a não ser que você seja iluminado por dentro, todas as luzes de fora não têm utilidade. Dentro de você existe apenas escuridão, escuridão abismal, inconsciência, e todas as suas ações surgirão desta escuridão, desta cegueira.

Portanto, quando digo algo contra a mente, não me entenda mal. Eu não estou contra a mente, eu não quero que você a destrua, eu quero que você se torne uma orquestra. O mesmo instrumento pode criar um barulho infernal se você não souber criar uma sinfonia, criar uma síntese, colocar as coisas no lugar. O ser deve ser a sua meta. Não há nada além dele; é parte de Deus dentro de você. Ele lhe dará aquilo que nem a mente, nem o coração podem dar, ele lhe dará silêncio, lhe dará paz, lhe dará serenidade. Ele lhe dará um êxtase total, e finalmente um senso de ser imortal. Conhecendo o ser, a mente se torna uma ficção e a vida decola na eternidade. Um homem que está inconsciente de seu próprio ser não pode dizer que está realmente vivo. Ele pode ser um mecanismo útil, um robô...

Através da meditação, busque seu ser, seu "sendo", sua existência.

Através do amor, do seu coração, compartilhe seu êxtase, isso é o amor: compartilhar sua benção, compartilhar seu regozijo, compartilhar sua dança, compartilhar seu êxtase.

A mente tem sua própria função no mercado, mas quando você vai para casa, a sua mente não deve continuar tagarelando. Exatamente como você tira o paletó, seu chapéu, seus sapatos, você deveria dizer à mente: "Agora fique quieta, este não é seu mundo". Isto não é ser contra a mente. De fato, isto é dar descanso à mente. Em casa, com sua esposa, seu marido, com suas crianças, com seus parentes, com seus amigos não há necessidade da mente. A necessidade é de um coração transbordante. A não ser que haja amor transbordando em uma casa, ela nunca se torna um lar; ela permanece uma casa. E se no lar você pode encontrar alguns momentos para a meditação, para experienciar seu próprio ser, isto eleva o lar ao ponto mais alto de se tornar um templo.

A mesma casa... para a mente é só uma casa; para o coração ela se torna um lar; e para o seu ser ela se torna um templo. A casa permanece a mesma; você é que atravessa as mudanças, a sua visão muda, a sua dimensão muda, a sua maneira de entender e olhar para as coisas muda. E uma casa que não seja todos os três é incompleta, é pobre.

Um homem que não é todos os três em profunda harmonia, a mente servindo ao coração, o coração servindo ao ser e o ser pertencendo à inteligência espalhada por toda a existência... as pessoas têm chamado isso de Deus; gosto de chamá-lo de divindade. Não há nada além dela.

O S H O — O fio da navalha

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Fique com suas inquietações e salte através delas

[...]Como você pode alcançar o êxtase se não conhece a agonia? Se você alcançar o mundo do êxtase sem saber o que é a agonia, não será capaz de reconhecê-lo. O reconhecimento é impossível. Somente através da escuridão se pode reconhecer a luz. Você pode estar vivendo na luz mas, se não conhece a escuridão, não pode saber que está vivendo na luz. Um peixe do mar não pode saber que o mar existe. Somente se o peixe for lançado fora do mar é que poderá reconhecê-lo. Se for jogado outra vez para dentro do mar, esse peixe será totalmente diferente e o mar também será totalmente diferente. A partir de então o peixe será capaz de reconhecê-lo. Sansar, o mundo, é apenas um local de aprendizado. Você precisa entrar profundamente na matéria. Só assim poderá retornar ao outro pólo, ao pico da consciência.

[...]O silêncio real, autêntico, ocorre somente depois de você ter passado pela tormenta. Apenas quando cessa a tormenta é que o silêncio pode explodir dentro de você; nunca antes. Você pode criar uma quietude falsa, antes da tormenta; mas nesse caso estará apenas se iludindo. Você pode criar uma quietude - artificial, cultivada, imposta a partir do exterior - mas ela não será espontânea, não pertencerá ao seu ser interior.

[...]A quietude autêntica surge somente depois da tormenta.

Não force a tormenta a desaparecer. Antes, viva-a; permita que ela aconteça. Traga-a para fora, expulse-a. Permita que a tormenta o abandone, deixe que ela se dissipe. Não a reprima. Reprimida, ela permanecerá em você. Reprimida no inconsciente, ela persistirá; aguardará o momento certo para explodir. Você sempre receará sua explosão, precisará combatê-la continuamente. E você nunca sairá vitorioso, pois aquilo que é reprimido precisa ser combatido repetidas vezes, precisa ser reprimido muitas vezes. Sua quietude estará assentada sobre um vulcão e, a qualquer momento, o vulcão poderá entrar em erupção.

Então você sempre temerá a vida, porque a vida pode criar situações nas quais o vulcão poderá entrar em erupção. Você negará a vida, tentará fugir dela. Desejará ir para Himalaia, pois ali não haverá ninguém que lhe forneça uma oportunidade para que seu vulcão entre em erupção. Mas o vulcão ainda estará aí e o Himalaia não poderá ajudar, a menos que o vulcão seja expulso.

E é bom expulsá-lo. Você está perdendo uma experiência básica, a de expulsar completamente o vulcão, de liberar totalmente a loucura, de trazer para fora tudo o que se encontra ali: a tormenta interior. Deixe-a sair e não resista, não reprima. Deixe-a sair totalmente. Então chegará o momento em que a tormenta passará.

Nesse momento, a quietude real acontece em você. Real no sentido de que, agora, não é cultivada; é espontânea. O rio está fluindo. Não se trata de algo que você criou; não é algo que está acontecendo devido ao seu esforço. Pelo contrário, você não está aí. Apenas a quietude está. E essa quietude é destemida. Nada pode perturbá-la, porque aquilo que poderia ser distúrbio foi expulso. A tormenta se dissipou.

Por isso é que insisto, e insisto bastante para que você expulse a sua loucura. Dentro, ela é perigosa. Expulse-a e ela desaparece. Seu coração torna-se vazio; um certo espaço é criado. Somente nesse espaço a quietude pode acontecer. Então você tem um lugar para ela, está pronta para ela, aberto para ela.

Espere a flor desabrochar na quietude que sucede à tormenta: não se adiante. O que é a flor?

O florescimento do seu ser só ocorrerá quando a quietude real acontecer em você; nunca antes. Você não pode forçar a flor a se abrir. Ela se abre por si mesma. Você não pode forçar o seu ser a se abrir; isso é impossível. Você não pode violentá-lo, não pode ser violento com ele. Ele será simplesmente destruído.

A flor se abre por si mesma. O único solo necessário é a quietude autêntica, real e espontânea. A partir de uma quietude cultivada, a flor nunca se abrirá. Com uma quietude cultivada, você simplesmente se tornará entorpecido. Seu ser ficará menos vivo, apenas isso. Com menos vida, você estará menos inquieto. Isso parece bem, mas lembre-se de que a inquietude é um aprendizado. Você não deve tentar ter menos inquietações. Fique com as suas inquietações e mova-se através delas. Não as abandona, não fuja delas. Chegará um momento em que você terá ido além delas, mas só se atinge esse momento passando-se através delas. Passe através da tormenta e permita que surja uma verdadeira quietude. Só então seu ser florescerá, nunca antes.

[...]Não pense que a tormenta é sua inimiga. Ela não é. Essa tormenta é a sua maior amiga, pois sem ela não haverá quietude, sem ela não haverá florescimento, sem ela não haverá liberação. Assim, nunca pense em termos de inimizade. Não há nada que seja seu inimigo; a existência inteira é amiga. Até mesmo aquilo que parece estar contra você - até mesmo isso não é seu inimigo. Jesus diz: “Ame o seu inimigo.” O verdadeiro inimigo que você precisa amar não é o seu vizinho ou o inimigo do seu país. Eles não são seus verdadeiros inimigos. Seus verdadeiros inimigos são a tormenta, o mundo, o mal. A sexualidade, a raiva, a paixão, o ódio - estes são os seus verdadeiros inimigos.

Jesus diz: “Ama a teus inimigos como a ti mesmo.” Por quê? O cristianismo nunca pôde entender isso. [...] Jesus é muito esotérico. Quando diz: “Ama a teus inimigos como a ti mesmo”, quer dizer: através do pólo oposto, através do inimigo, alcança-se o amigo supremo. Viva o inimigo em sua totalidade para que possa transcendê-lo. Qualquer experiência total torna-se transcendental. Qualquer experiência, eu disse. Viva com a sua totalidade e terá ido além dela. Ela nunca ficará presa a você; você terá ido acima dela. Terá passado através dela, terá aprendido tudo a seu respeito. Esse conhecimento é revolucionário. Cria uma mutação; transforma você.

[...] Não pense que a tormenta é sua inimiga, pois enquanto ela prossegue embaixo da terra, oculta na escuridão, a flor se desenvolverá.

[...] Quando a tormenta cessar, a flor desabrochará. Mas ela já estava se preparando durante a tormenta. Através da tormenta, ela estava se preparando para desabrochar. Estava acumulando energia, vida, vitalidade. Estava se aprontando para explodir. A tormenta é o solo. Sem ela, a flor não pode desabrochar.

[...] Somente passando pela tormenta é que você poderá alcançar uma calma em seu interior, semelhante àquela que, num país tropical, sucede à chuva intensa. Lembre-se disso profundamente, pois lhe será de grande ajuda.

Com cada sofrimento, você está criando a possibilidade de algum êxtase. Após cada sofrimento, o êxtase se seguirá imediatamente. Mas se você estiver muito preso ao sofrimento, poderá perder o êxtase. Se você estiver doente, um momento de saúde, um momento de bem-estar virá a você após essa doença. Mas você pode estar tão preocupado com a doença que, quando o momento vier, poderá perdê-lo — estará muito envolvido com a doença que não existe mais. O momento é instantâneo; você pode perdê-lo facilmente. Após cada dor, o momento vem e visita você.

Após cada sofrimento, o êxtase vem bater à sua porta; mas você continua perdendo-o porque o passado é muito intenso. A doença já passou, mas você continua doente. Ela permanece na memória, cobrindo sua mente de névoas, e você perde esse momento fugaz.

Lembre-se disto: sempre que você estiver deprimido, espere pelo momento em que a depressão for embora. Nada permanece eternamente; a depressão irá embora. E quando ela o deixar, espere — fique atento e alerta — porque após a depressão, após a noite, virá a aurora e o Sol nascerá. Se você puder estar alerta nesse momento, ficará feliz por ter estado deprimido. Ficará grato por ter estado deprimido, porque somente por intermédio dessa depressão é que esse momento de felicidade tornou-se possível.

Mas o que é que fazemos? Movemo-nos numa regressão infinita. Ficamos deprimidos. Então, ficamos deprimidos por causa da depressão; segue-se uma segunda depressão. Se você está deprimido, ótimo. Não há nada de errado nisso. É bom, pois através da depressão você aprenderá e amadurecerá. Mas você se sente mal. “Por que estou deprimido? Não quero ficar deprimido.” Então começa a lutar com a depressão. A primeira depressão é boa, mas a segunda depressão é irreal. E essa depressão irreal cobrirá sua mente de névoas. Você perderá o momento que se seguiria à depressão real.

Quando estiver deprimido, continue deprimido. Simplesmente, continue deprimido. Não fique deprimido por causa da sua depressão. Não lute, não procure se desviar, não force a depressão a ir embora. Apenas permita que ela aconteça; ela irá embora por si mesma. A vida é um fluxo; nada permanece o mesmo. Você não é requisitado; o rio move-se por si mesmo, não precisa que você o empurre. Se está tentando empurrá-lo, você está sendo tolo. O rio fluir por si mesmo. Deixe-o fluir.

Quando a depressão se manifesta, permita que ela se manifeste. Não fique deprimido por causa dela. Se você quiser afastá-la cedo demais, ficará deprimido. Se lutar com ela, você criará uma depressão secundária que é perigosa. A primeira depressão é boa, uma dádiva divina. A segunda depressão é criação sua. Não é uma dádiva divina; não é mental. Então você entrará em esquemas mentais, e eles são infinitos.

Se você ficar deprimido, fique feliz por estar deprimido e permita que a depressão se manifeste. Então, de repente, a depressão desaparecerá e surgirá um espaço, uma brecha. Não haverá nuvens e o céu estará claro. Por um único momento, o céu se abrirá para você. Se você não estiver deprimido por causa de sua depressão, poderá entrar em contato, estar em comunhão, atravessar o portão celeste. E quando o conhecer, terá aprendido uma das leis supremas da vida: que a vida usa o oposto como um professor, como uma base ou trampolim.

[...] Olhe a vida deste modo, e não estará distante o momento em que o sofrimento desaparecerá completamente, em que a dor desaparecerá completamente, em que a morte desaparecerá completamente. Aquele que sabe que a agonia existe em benefício do êxtase não ficará agoniado. Aquele que sabe, sente e compreende que o sofrimento existe em benefício da felicidade, jamais sofrerá. É impossível. Ele usa o próprio sofrimento para ser mais feliz, usa a própria agonia como um degrau para o êxtase. Vai além do domínio do mundo, salta para fora da roda de sansar.

O S H O — A Nova Alquimia

domingo, 4 de maio de 2014

A meditação não pode ser feita pelo pensamento

Minha definição de meditação é esta: ela é, simplesmente, um esforço para saltar até o inconsciente. Você não pode saltar através de cálculo, porque todo o cálculo pertence ao consciente, e a mente consciente não permitiria tal coisa. Ela advertirá: "Você enlouquecerá. Não faça isso". 

A mente consciente está sempre temerosa do inconsciente porque, se o inconsciente emergir, tudo quanto é claro e calmo no consciente será varrido. Então, tudo se tornará escuro... como numa floresta. 

Um exemplo. Você fez um jardim, um jardim cercado. Limpou um pequeno espaço e plantou algumas flores. Tudo está em ordem, arranjado, limpo. Acontece, porém, que a floresta está ali sempre perto. É selvagem, descontrolada, e o jardim está sempre temeroso. A qualquer momento a floresta pode invadir e então o jardim desaparecerá. 

Da mesma maneira você cultivou uma parte da sua mente. Colocou tudo em ordem. Mas o inconsciente está sempre por perto, e a mente consciente tem medo dele. A mente consciente diz: "Não vá para o inconsciente. Não olhe para ele, não pense nele."

O caminho para o inconsciente é escuro e desconhecido. À razão ele parece irracional, à lógica parece ilógico. Assim, se você pensa, para chegar à meditação, jamais chegará — porque a parte que pensa não o permitirá.

Isso torna-se um dilema. Você nada pode fazer sem pensar, e com o pensamento você não pode entrar em meditação. Que fazer? Mesmo que você pense: "Não vou pensar", isso também é pensar. É a parte que pensa da sua mente que está dizendo: "Não permitirei a ação do pensamrnto". 

A meditação não pode ser feita pelo pensamento. Esse é o dilema — o maior dos dilemas. Cada investigador terá de enfrentar esse dilema. Em algum lugar, um dia qualquer, o dilema aparecerá. Aqueles que sabem, dizem: "Salte! Não pense!" Mas você nada pode fazer sem pensar. Por isso é que planos desnecessários foram criados — planos desnecessários, digo eu, porque, se você saltar sem pensar, nenhum plano será necessário. Mas você não pode saltar sem pensar, de forma que um plano é necessário. 

Você pode pensar sobre esse plano. Sua mente que pensa pode ficar à vontade quanto ao plano, mas não quanto à meditação. A meditação será um salto para o desconhecido. Você pode trabalhar com um plano e o plano irá atirá-lo, automaticamente, para o desconhecido. O plano é necessário apenas por causa do treinamento da mente, de outra maneira não seria necessário. 

Desde que você tenha saltado, dirá: "O plano não era necessário, eu não precisava dele." Mas esse é um conhecimento retrospectivo. Você saberá, depois, que o plano não era necessário (isso é o que diz Krishnamurti: "Plano algum é necessário, método algum é necessário." Os mestres dizem: "Esforço algum é necessário, isso vem sem esforço.") Mas isso parece absurdo para os que não cruzam a barreira. 

Por isso digo que um plano é artificial. É apenas um estratagema para deixar sua mente racional à vontade, de forma que você possa ser levado para o desconhecido. 

O S H O - Meditação: a arte do êxtase

Por que não experimentamos a Beatitude, o Êxtase da Vida?

Ensinamos uma criança a focalizar a mente — a concentrar-se — porque, sem concentração, ela não pode enfrentar a vida. A vida exige isso: a mente deve ter capacidade para concentrar-se. Mas, desde o momento em que a mente se torna capaz de concentrar-se, torna-se, também, menos perceptiva. A percepção significa mente consciente, mas não focalizada. A percepção é consciência de tudo quanto está acontecendo. 

Concentração é uma escolha. Exclui tudo, menos o objeto da concentração. Produz estreitamento. Se você está caminhando por uma rua, terá de estreitar sua consciência para poder caminhar. Habitualmente não lhe é possível estar consciente de tudo o que está acontecendo, porque se você estiver consciente de tudo o que está acontecendo, não estará focalizado. Assim, a concentração é uma necessidade. A concentração da mente é uma necessidade para que possamos viver — sobreviver, existir. Por isso é que toda cultura, a seu modo, tenta estreitar a mente da criança. 

Crianças, tais como são, jamais focalizam. Sua consciência está aberta para todas as sensações. Cada sensação penetra em sua consciência. E quanta coisa chega! Por isso é tão vacilante, tão instável. A mente não-condicionada de uma criança é um fluxo — um fluxo de sensações — mas não lhe seria possível sobreviver com este tipo de mente. Ela deve aprender como estreitar a mente, como se concentrar. 

Do momento em que você estreita sua mente torna-se particularmente consciente de uma coisa, e, simultaneamente, inconsciente de muitas outras coisas. Quanto mais estreita for a mente, mais sucesso haverá. Você se torna um especialista, você se torna um perito, mas a coisa toda consistirá em você saber mais e mais sobre menos e menos.

O estreitamente é uma necessidade existencial. Ninguém é responsável por isso. Assim como a vida existe, ele deve existir. Mas não é o bastante; só o ser utilitário não é o bastante. Por isso, quando você se torna utilitário e a consciência é estreitada, estará negando à sua mente muito daquilo de que ela é capaz. Você não está usando sua mente total. Está usando apenas uma pequena parte dela. E o remanescente — a porção maior — irá tornar-se inconsciente. 

Na verdade, não há fronteira entre o consciente e o inconsciente. Não há duas mentes. "Mente consciente" refere-se àquela porção da mente que tem sido usada no processo de estreitamento. "Mente inconsciente" refere-se àquela porção que tem sido negligenciada, ignorada, fechada. Isso cria uma divisão, uma brecha. A porção maior da sua mente torna-se alheia a você. Você se torna alienado de seu próprio eu, torna-se um estranho à sua própria totalidade. 

Uma pequena parte está sendo identificada como o seu eu, e o resto é perdido. Mas a parte inconsciente, remanescente, está sempre ali, como potencialidade sem uso, como possibilidade sem uso, como aventura não-vivida. Essa mente inconsciente (esse potencial, essa mente sem uso) estará sempre em luta contra a mente consciente. Por isso é que existe sempre um conflito interior. Todos estão em conflito por causa dessa fenda entre o inconsciente e o consciente. Mas só se o potencial, o inconsciente, estiver livre para florescer, é que você poderá sentir a beatitude da existência... Não há outra maneira. 

Se a porção maior de suas potencialidades permanecer irrealizada, sua vida será uma frustração. Por isso é que quanto mais utilitária é uma pessoa, menos realizada é, menos beatitude conhece. Quanto mais utilitária é a abordagem — quanto mais a pessoa está na vida dos negócios — menos estará vivendo, menos será tomada pelo êxtase. A parte da mente, que não pode ser útil no mundo utilitário, foi desprezada.

A vida utilitária é necessária, mas com grande custo. Você perdeu a festividade da vida. A vida torna-se uma festividade, uma celebração, se todas as suas potencialidades florescerem. Então, a vida é uma solenidade. Por isso é que eu sempre digo que religião significa vida transformada em celebração. A dimensão da religião é a dimensão do festivo, do não-utilitário. 

A mente utilitária não deve ser tomada como se fosse o todo. O remanescente... a maior parte... a mente inteira... não deveria ser sacrificada. A mente utilitária não deve se tornar um fim. Terá que permanecer ali, mas como um meio. A outra — a remanescente, a maior, a potencial — deve tornar-se o fim. Isso é o que eu chamo uma abordagem religiosa. 

Com uma abordagem não-religiosa, a mente dos negócios (a utilitária) torna-se o fim. Quando tal coisa acontece, não há possibilidade de a mente inconsciente realizar seu potencial. A mente inconsciente será desprezada. Se a utilitária se torna um fim, isso significa que o servo está representando o papel do senhor. 

A inteligência, o estreitamento da mente, é uma forma de sobrevivência, mas não de vida. Sobrevivência não é vida. Sobrevivência é uma necessidade — mas o fim terá de ser, sempre, um florescimento do potencial, de tudo quanto foi criado para você. Se você for completamente realizado, se nada permanecer sob a forma de semente, se tudo se faz realidade, se você florescer, então e só então você poderá sentir a beatitude, o êxtase da vida.

A parte de você que foi desprezada, a parte inconsciente, pode tornar-se ativa e criativa, só se você acrescentar uma nova dimensão à sua vida — a dimensão do festivo, a dimensão da jovialidade. Assim, a meditação não é um trabalho, é um divertimento. Rezar não é um negócio, é um divertimento. A meditação não é algo que se faz para chegar a atingir um alvo (paz, beatitude...) mas algo a ser gozado como um fim em si mesmo.

O S H O — Meditação: A Arte do Êxtase

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Somente quando não há desejo, abre-se a porta além-mente

Com o desejo você não pode estar silencioso. O desejo é, realmente, rumor. Mesmo que você não tenha pensamentos — se tem a mente controlada e pode parar de pensar — um desejo mais profundo continuará existindo porque você está parando de pensar apenas para obter algo. Um ruído sutil ali estará. Algures, interiormente, alguém estará olhando e perguntando se a coisa desejada foi ou não obtida. "Pensamentos foram detidos. Onde está a divina realização, onde está Deus, onde está a iluminação?" Mas o próprio desejo se tornará fútil, se você se tornar consciente disso.  

A estratégia da mente está em que sempre você se torna consciente do que certo objeto tornou-se fútil. Então, você muda o objeto, e, mudando-o, o desejo continua a apoderar-se da sua consciência... E do momento em que você se torna consciente da futilidade do objeto que está desejando, a mente vai para outro objeto. 

Quando isso acontece, o intervalo fica perdido. Quando algo se torna fútil, inútil, sem atrativo, permaneça no intervalo. Tome consciência de que se foi o objeto que se fez fútil ou se o próprio desejo é fútil. E se você pode sentir a própria futilidade do desejo, subitamente algo desaparece de você. Subitamente você está transformado para um novo nível de consciência. Isso é uma inaninadade, uma ausência, uma negatividade. Não há início de um novo circulo.... E então, que fazer?

Comece com um desejo. Esse desejo não vai lhe levar ao ponto de ocorrência, mas esse desejo pode levar-lhe à futilidade do desejo. Temos de começar com desejo; é impossível começar com "não-desejo". Se você pudesse começar com "não-desejo", então a ocorrência poderia dar-se naquele mesmo momento... Se você pudesse começar com "não-desejo", naquele mesmo momento aconteceria! Mas isso é impossível. 

Você não pode começar sem desejo. A mente faria desse não-desejo um objeto desejado, também. A mente dirá: "Está bem, tentarei não desejar." Dirá: "Realmente, parece fascinante. Tentarei fazer algo, de modo que esse desejo não apareça." Mas a mente está fadada a ter algum desejo. Só pode começar com desejo, mas não pode terminar com desejo. 

Temos de começar desejando algo que não possa ser conseguido pelo desejo. Mas, se você tem consciência desse fato — se você está consciente do fato de que está desejando algo que não pode ser desejado — isso ajuda. Essa consciência do fato ajuda. Agora, a qualquer momento, você pode dar o salto. E quando você der o salto, não haverá desejo. 

Você desejou o mundo. Agora, deseja o divino. É aí que temos de começar. O início é errado, mas você tem de começar dessa maneira por causa desse processo bloqueador da mente. Essa é a única forma de mudá-lo. 

[...] A mente é o desejo. A mente nada pode fazer sem desejo. Você não pode transcender a mente através do desejo porque a mente é o desejo. Assim, a mente tem de desejar, mesmo aquilo que é encontrado apenas quando não existe desejo. Mas começa com a parede. Conheça o desejo e você esbarrará na porta.  Mesmo Buda teve de começar com um desejo, mas ninguém lhe disse — o fato não lhe era conhecido — que a porta se abre apenas quando não há desejo.

[...] Portanto, há duas maneiras através das quais o desejo de ir além é criado. A primeira é o fato de você ter, de algum modo, sentido o sabor do além. Mas isso não pode ser planejado; ou você o tem ou não o tem. Ainda assim, desde que sentiu esse sabor, você começa a desejá-lo. O desejo pode tornar-se um obstáculo, torna-se um obstáculo — mas é assim que as coisas começam. Antes de mais nada, você tem de desejar o não-desejar.

Ou a coisa acontece da outra maneira. A outra maneira é o fato de você não ter tido nenhum sabor do além — nenhum! Não conheceu, absolutamente, o além, mas este aposento foi-se tornando uma tortura. Você não pode mais tolerá-lo. Você nada sabe sobre o além, mas, seja o que for que ele possa ser, você está pronto para escolhe-lo (embora lhe seja desconhecido), porque este aposento, tornou-se uma angústia, um inferno. Você não sabe o que há no além — se há ou não alguma coisa, se o além existe ou não; porém, você não suporta mais permanecer neste aposento. Este aposento tornou-se um sofrimento, um inferno. Então, você tenta... então começa a desejar o desconhecido, o além. Então, de novo aparece o desejo: o desejo de fugir dali. Mas você tem de começar com um desejo; desejo daquilo que não pode ser desejado, daquilo que não pode ser alcançado através do desejo.

Lembre-se, constantemente, disto: continuando a fazer o que quer que seja, recorde-se, sempre de que só fazendo, você não pode alcançar aquilo... Você não pode obter aquilo, que só Deus pode dar-te aquilo. Esta é uma forma simples de fazer-lhe consciente de que seus esforços são inúteis, que só a graça resolverá... Mas isso não significa que nada faça. Você deve fazer tudo... mas recorde-se, isso não vai acontecer simplesmente pelo que você faz. Algo acontece com você, algo desconhecido. A graça desce sobre você. Seus esforços lhe farão mais receptivo para a graça, isso é tudo. Mas não é o resultado direto de seus esforços que leva a graça a descer sobre você. 

[...] Portanto, continua desejando, fazendo algo pelo além, lembrando-se, constantemente que ele não virá através do seu esforço. Mas não cesse com esses esforços porque eles irão lhe ajudar, de certa forma. Irão fazer-lhe se sentir tão frustrado pelo próprio fato de desejar, que, subitamente, você se sentará, e estará apenas sentado — sem nada fazer. E a coisa acontece! E acontece o salto... a explosão!

O S H O — A arte do êxtase  

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill