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sábado, 13 de dezembro de 2014

Você só precisa de um belo chute na bunda

É exatamente isso que vocês precisam: um tremendo chute na bunda. Vocês são Budas! Vocês simplesmente se esqueceram e somente precisam de uma lembrança, não de evolução! Não é que você precisa se tornar um Buda; você é um Buda profundamente adormecido. Alguém precisa chutá-lo, gritar para você, golpeá-lo, e este é o propósito de um Mestre.

(...) Você precisa de alguém que possa possuí-lo inesperadamente, que possa despedaçar suas ideias — que possa despedaçá-lo e tirar a própria terra que há sob seus pés. Somente pessoas muito corajosas se interessam por um Mestre. É perigoso estar com um Mestre; nunca se sabe o que ele vai fazer ou dizer, ele próprio não sabe! As coisas estão acontecendo e ele está em sintonia com o todo; então, tudo que acontece, acontece.

(...) Os caminho de um sábio são estranhos, ilógicos e paradoxais. 

(...) Você tem uma mente, uma certa mente, e quando vai a um Mestre olha a partir dela. Caso se ajuste, você fica feliz; você começa a se apegar. Porém isso não vai ajudar, porque, caso se ajuste, fortalecerá a mesma mente que você já possuía. Se por acaso você se deparar com um Mestre real, nada vai se ajustar. Ele vai estilhaçar todas as suas ideias a respeito de como um Mestre deveria ser; ele vai sabotá-lo, vai tirar todas as suas expectativas. Ele existe para frustrá-lo e desapontá-lo de todas as maneiras possíveis, pois esse é o único modo que o trabalho real pode começar. E se você ainda puder ficar ao lado dele então... então você irá ser acordado. 

Dormir á fácil e barato; acordar é árduo. Você terá de renunciar seus sonhos, muito conforto, muita conveniência e muitas ideias que você sempre acreditou serem valiosas.(...) Eu realmente quero fazer algo aqui; não quero lhe dar mais brinquedos — quero destruir todos eles. Vai ser um trabalho árduo, vai ser doloroso, mas se você puder se mover comigo apenas um passo — peço somente um passo — seus sonhos e seu sono irão embora para sempre... e começará a vida real. A vida real está com o todo e a irreal está sozinha.

(...) O sono não precisa de correção. O despertar não é uma correção do sono — ele significa simplesmente abandonar o sono e penetrar num novo tipo de realidade, tendo um tipo de relacionamento com a existência totalmente diferente.(...) Despertar é necessário, não correção. (...) No sono profundo e inconsciente, como você pode se corrigir? No máximo, você pode ter sonhos um pouco melhores; talvez não em branco e preto, mas em cores, psicodélicas; contudo você só pode ter sonhos melhores no sono. Você não pode ter realidade no sono.

(...) O primeiro e único passo é saber quem é você, é ficar consciente. (...) Nenhuma correção é necessária, apenas consciência. Torne-se alerta. Nenhum caráter é necessário, pois todos os caracteres são falsos e limitações se você não estiver consciente. E todos os caracteres nada mais são do que correntes — eles não trazem liberdade. Toda moralidade é hipocrisia, se você não estiver consciente ou cônscio.

Portanto, para mim, religião significa somente uma coisa: ser mais consciente, viver mais conscientemente. 

O S H O 

Do surgimento de um estado de ausência de ego

A mente medíocre está interessada no exterior. O exterior é intrigante, maravilhoso, digno de ser explorado. Assim, o exploramos para o dinheiro, para o prestígio e outras coisas, e então um dia, quando estivermos saturados com as chamadas coisas mundanas e começarmos a procurar novamente por um Mestre, por Buda, por Cristo... ainda no exterior! Começamos a procurar pelo caminho, mas ainda fora. E o Buda e o caminho não são encontrados do lado de fora.

Procurar na parte externa é se afastar mais e mais do caminho, pois o caminho está dentro de nós, o Buda está no interior. 

(...) Se você puder descobrir somente uma coisa dentre todos os tipos de frustrações — que não há nada a ser encontrado no exterior, absolutamente nada — e ao perceber e se dar conta disso você se voltar para dentro, então sua própria mente é toda a coisa, então dentro de você está tudo: E, buscando, você entrará em sua própria mente.

Logo, à medida que você for mais fundo em sua própria mente, você penetrará da mente para a não-mente. A camada superficial é da mente, mas o conteúdo interior é da não-mente. A camada superficial é do ego, o conteúdo interior é a ausência de ego. Se você entrar, primeiro você deparará com a mente, com os pensamentos, desejos, fantasias, imaginações, memórias, sonhos e todas essas coisas. Porém, se você continuar a penetrar, logo chegará a espaços silenciosos, sem pensamento. Logo você começará a chegar mais e mais perto do âmago do seu ser, o qual é atemporal e está em lugar nenhum, o qual não tem tempo nem espaço. 

Quando você alcançar um ponto em que não se pode perceber nenhum tempo ou espaço, você chegou. Contudo esta chegada é voltar à sua própria natureza. Você não chegou a algo novo, mas àquilo que já foi dado e sempre foi seu. 

(...) E quando você atingir este ponto poderá entender que não há necessidade de fazer coisa alguma — tudo está acontecendo —, que nunca houve necessidade de fazer coisa alguma, que tudo já estava acontecendo. Você estava desnecessariamente preocupado e carregava todos aqueles pesos, porque você era ignorante. Quanto ao mais, as coisas estavam acontecendo. 

O mundo está girando muito suave, bela e perfeitamente; todavia, porque pensamos que estamos separados dele, surge o problema: "Como levar nossas vidas?" Se você sabe que é parte dele, não há necessidade de se preocupar. Este cosmo, um cosmo tão infinito, funcionando tão perfeitamente bem — você não pode permanecer nele sem nenhuma preocupação?  Porém a separação está presente.

Você tomou uma coisa como certa: que você está separado. Ao penetrar fundo no interior, essa separação desaparece. 

Este é o significado quando digo: "Surge o estado de ausência de ego". Ego significa separação, significa: "Estou separado do todo". Ego significa que a parte está reivindicando ser o todo por conta própria: "Tenho meu próprio centro e tenho de sobreviver, lutar e batalhar por mim mesmo. Se eu não lutar por mim mesmo, quem irá lutar? Se eu não tentar sobreviver, serei assassinado". 

A insegurança surge devido ao ego. Quando o ego se vai, existe simplesmente segurança. Na verdade, não existe insegurança ou segurança; todas as dualidades desaparecem. Viver nisso é viver nirvana, é viver iluminação.

(...) Olhe para dentro! Você já olhou para fora o bastante, já procurou fora o bastante. (...) é hora, é a hora certa de olhar para dentro.  Você se tornou muito artificial, muito antinatural.

Deixe-me apresentá-lo a você mesmo... torne-se novamente familiarizado com quem você é. E um único vislumbre transforma, e transforma para sempre.

E de novo eu gostaria de repetir: esta transformação não é algo especial — ela é muito normal, pois é apenas a sua natureza. Bata e a porta lhe será aberta, peça e lhe será dado, procure e encontrará...

O S H O 

A abortante zona de conforto das palavras e conceitos


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O novo Homem

Meu Deus! Não há nenhum Deus!

Entrevistador: Você se considera um Deus?

Osho: Meu Deus! Não há nenhum Deus, como posso considerar a mim mesmo um Deus? Deus é a maior mentira inventada pelo homem. 

Entrevistador: Porque?

Osho: Porque o ser humano se sente desamparado, com muito medo da morte, muito sobrecarregado com os problemas da vida. Porque ele foi criado por um pai, por uma mãe, e aqueles foram dias maravilhosos; nenhuma responsabilidade, nenhuma preocupação, alguém estava tomando conta dele. Essa infância psicológica é projetada em todas as religiões: Deus se torna o pai. E existem algumas religiões nas quais Deus se torna a mãe. Isso é uma simples projeção psicológica de uma criança, Não tem nenhuma base na realidade. E sempre que você está com medo, sempre que está com problemas, você começa a procurar por ajuda. A ajuda nunca chega. 

Mesmo Jesus na cruz esperava que a ajuda chegasse, e finalmente ficou desapontado e exclamou: "Pai, você me abandonou? Uma grande dúvida deve ter surgido nele, uma grande questão. Nada está acontecendo, e ele acreditava por todos esses anos que Deus viria salvá-lo, seu único filho amado. Ninguém apareceu. Jesus Cristo deve ter morrido completamente desiludido. 

Eu não tenho nenhuma ilusão, eu não posso ser desiludido.

O S H O 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Conformismo estagnante

Do mesmo modo que a mente adquirida, quando na horizontalidade, ao se deparar com uma zona de conforto, não quer ser incomodada por "verdades verticalizantes" que mostrem algo que torne evidente o insatisfatório do arduamente alcançado, o mesmo ocorre no que diz respeito ao seu processo de verticalização. No terreno da verticalidade do ser, muitos se vêem tentados a repetir o mesmo tipo de "tudo bem", para não entrar em contato com a realidade de seu estado de insatisfação. Algo do tipo: antes eu não tinha dinheiro; agora eu tenho dinheiro; antes eu não tinha Krishnamurti; agora tenho Krishnamurti... E assim vão acumulando "materialismo espiritual" através de uma busca frenética de guru em guru. Quando esgotam os gurus terrenos, partem para os gurus de "outras dimensões", os chamados gurus ascensionados. É assim que se mantém ascensionadas as ilusões da mente.

Outsider

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Não existem salvadores o que existe são dores que salvam


Despedace todas as ideologias tolas

Noventa e nove por cento de sua religião nada mais é do que uma estratégia para mantê-lo de algum modo são. 

Buda é um tipo de pessoa totalmente diferente. Ele é o arqui-inimigo da indústria de entretenimento; ele é alguém que deseja dizer a verdade, e deseja expô-la como ela é. Ele despedaça todas as ideologias tolas, ele simplesmente o choca desde as raízes. E, se você ficar disponível a ele, ele pode se tornar uma porta — uma porta de volta ao lar; uma porta, uma soleira, que pode tornar você capaz de retroceder à natureza. 

Em todas as culturas e civilizações complicadas existem mentirosos profissionais e contadores profissionais da verdade, mas eles não são muito diferentes; eles são a mesma pessoa. Os mentirosos profissionais são chamados de advogados e os contadores profissionais a verdade são chamados de sacerdotes; eles simplesmente repetem as escrituras. 

Buda não é nem mentiroso nem contador profissional da verdade. Ele simplesmente deixa seu coração disponível a você; ele deseja compartilhar. Portanto, todo sacerdócio indiano ficou contra ele. Ele foi expulso de seu próprio país, seus templos foram queimados e suas estátuas, destruídas. Muitas escrituras budistas estão disponíveis agora somente em traduções chinesas ou tibetanas, pois seus originais foram perdidos; eles devem ter sido queimados. 

Milhares de budistas foram assassinados neste país não-violento. Eles foram queimados vivos. Buda chocou profundamente os contadores profissionais da verdade; ele estava resolvido a destruir todo o negócio deles. Ele simplesmente o tornou um segredo aberto.

O S H O 

O orgulho é a trave que impede o exercício da escuta atenta


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Documentário "I AM"



I AM é a história de Tom Shadyac, um diretor de sucesso em Hollywood, que após um perigoso ferimento na cabeça e experimenta uma jornada para tentar descobrir e responder duas questões bem básicas: "O que está errado no mundo?" e "Que podemos fazer sobre isso?" Com uma equipe de quatro pessoas, Tom visita algumas das grandes mentes dos dias de hoje, incluindo escritores, poetas, professores líderes religiosos e cientistas (Howard Zinn, Lynn McTaggart, Desmond Tutu, Thom Harmann, Coleman Barks), buscando descobrir o fundamental problema endêmico que causa todos os outros problemas, refletindo simultaneamente em suas próprias escolhas de excesso, ambição e possível cura. E se a solução para os problemas do mundo estivesse bem na nossa frente o tempo todo?

Contradições - Uma Entrada Criativa

Pergunta: Suas contradições, suas mentiras, e sua insistência em que nós não temos que acreditar em você, fez minha mente inoperante. Tudo o que posso dizer, certamente, é: "Eu não sei." Eu costumava ser bastante orgulhosa da minha mente, mas agora isto simplesmente parece estúpido. 

Osho: Minhas contradições estão destinadas a fazer exatamente o que está acontecendo com você. Eu não quero a sua mente sendo convencida por mim. Eu quero me relacionar com o seu coração, porque esta é a única comunhão verdadeira. Mente à mente é sempre superficial. 

Eu posso ser consistente, mas, então, estarei convencendo a sua mente e esta é a última coisa que quero fazer. Eu não sou um missionário e eu não tenho nenhuma mensagem para vocês. Só tenho experiência e o caminho que transmite a experiência para vocês, não é por meio de palavras, teorias, filosofias. O argumento não é a resposta. 

Portanto, primeiro, eu tenho que desmantelar sua mente, e a melhor maneira de desmantelar sua mente é contradizer-me tanto quanto eu puder. Ou você escapará, sentindo medo de que você possa ir à loucura ou, se você tiver coragem, você permanecerá aqui e irá realmente à loucura!

Quando a mente se torna inoperável é o momento quando o coração começa a funcionar. Você está em um bom espaço. Se a mente está dizendo: "Eu não sei", a mente está fechando a loja. E aqui, quando a mente fecha a loja, imediatamente as portas do seu coração começam a se abrir. São dois lados da mesma moeda: e é por isso que quando você me escuta me contradizendo, você tem que dar uma boa gargalhada. Esta é a resposta certa à minhas contradições.

Sim, isto ainda não é um estado de não-mente. Isto ainda é a mente que está dizendo: "Eu não sei." Quando a mente se for completamente, em um estado de não-mente, não haverá ninguém para dizer: "Eu não sei." Isto é o último saber. Isto é saber: "Eu não sei." - ao menos este tanto você sabe. Esta e a última barreira. Isto também se solta: então, não existe nenhum questão de saber ou não saber. Pela primeira vez você sente, e sentir é o caminho do experienciar. 

Quando você está na sua cabeça você está milhões de milhas distante de mim. Quando você está no seu coração você está no meu coração também, porque corações não conhecem separação. O coração é um. Ele bate em muitas pessoas e todo meu trabalho existe para que ele bata no mesmo ritmo em todos vocês. Então vocês se tornam uma orquestra. Há ainda muito mais do que o coração em você, mas sem coração você não pode alcançar seu tesouro mais interno: o Ser.

Portanto, estas são as três palavras: pensar, sentir, ser. Partindo do pensar, ninguém tem sido capaz de alcançar o Ser. Ninguém pode pular o sentir: o sentir é a ponte. O primeiro passo é ir do pensar ao sentir, e o segundo passo é, do sentir ao Ser. E em dois passos, toda a jornada está completa. Então lembre-se: o sentir será tremendamente lindo, mas não pare aí. Isto é só uma parada na viagem: você pode descansar aí por um pouco, desfrutar do mundo do coração, mas lembre-se que há um passo a mais.

Por meio de contradições eu destruo sua ligação com a mente e o pensar.  Através do silêncio eu destruo o mundo do seu sentimento. E, quando ambas estas camadas se forem, você é como a Existência queria que você fosse... na sua pureza, na sua individualidade. Você voltou para casa.

Portanto não se preocupe, a jornada começou. Não pare até que você volte para casa: onde não existe nenhum pensar, nenhum sentir, mas apenas um sentir a Existência. Nesta experiência, eu serei capaz de transmitir a você aquilo que é intransmissível por qualquer outro modo.

Então, eu não sou o mestre e você não é o discípulo. Na mente: eu sou o professor, você é a estudante. No sentir: eu sou o mestre, você é a discípula. No Ser, eu não sou, você não é: a Existência é.

O S H O

Viva a vida: não fique simplesmente observando-a na TV

Um homem está sentado num cinema, e a esposa fica continuamente lembrando a ele como o herói está demonstrando profundamente seu amor pela sua esposa. Finalmente, o marido diz: "Pare com toda essa bobagem! Você não sabe quanto ele está sendo pago por isso? E além do mais, isso é só representação; não é uma realidade. Eu vou certamente dizer que ele é um bom ator." A esposa disse: "Talvez você não esteja ciente que na vida real eles também são marido e mulher." Ele disse: "Meu Deus! Se isso for verdade, então ele é o maior ator que eu já vi; do contrário, mesmo no palco, mostrar tanto amor para com sua própria esposa está simplesmente além da capacidade humana. Ele é quase um gênio no que se refere a representação." 

As pessoas acham que amor é somente para atores. Tem sido notado pelos psicanalistas que as pessoas ficam sentadas diante da TV por horas. Um Americano assiste TV seis horas por dia em média, essa é a média. Deve haver alguns maníacos assistindo por nove, dez, doze horas. 

Pouco a pouco, assistindo filmes, assistindo Televisão, assistindo um jogo de futebol, assistindo uma competição, as pessoas simplesmente se tornaram observadores; eles não amam. Algum ator ama - eles simplesmente observam. Eles não jogam, algum profissional joga - eles observam. Eles não fazem nada; eles estão grudados em suas cadeiras e ficam apenas observando tudo. Mas observar e fazer são totalmente diferentes. Eles se sentem completamente satisfeitos por ver um belo filme de amor. Eles ficam completamente satisfeitos ao ver um grande torneio de boxe. E eles mesmos são apenas espectadores. 

Isso é algo de uma grande calamidade que reduziu milhões de pessoas a espectadores. E as pessoas que estão sendo observadas são atores. Eles não estão realmente amando, estão sendo pagos para isso. Eles são peritos em enganar as pessoas, fingindo que o que eles estão fazendo é real. Suas lágrimas são falsas, seus sorrisos são falsos, seu amor é falso, sua raiva é falsa.

Que espécie de mundo nós criamos? Os que praticam estão todos representando pois são pagos para isso, e o restante do mundo dos não-fazedores ficam simplesmente observando.

Vocês estão aqui para viver. Estão aqui para dançar. Vocês estão aqui para experienciar a vida. Outros estão fazendo isso por você. Em seu nome as pessoas estão amando, estão jogando, as pessoas estão fazendo todo tipo de coisas. E o que sobra para vocês? apenas olhar.  A morte não será capaz de tirar muito de você - somente sua televisão, porque você não tem nada mais.

Esse é o falso ego que criou um padrão e estilo de vida falsos. Abandone tudo que seja falso. Seja autêntico e verdadeiro; esse é o primeiro passo. E uma vez você é autêntico e verdadeiro, você verá quão bonito isso é. E isto irá criar o desejo para ir além, na busca da derradeira verdade, a declaração final e a última experiência, além da qual nada mais existe.

O S H O 

Ciência e Jornada Interior

Pergunta: Um dos problemas básicos da ciência é a linguagem. A ciência está crescendo porque nós temos uma definição clara sobre o que estamos falando. Um dos problemas básicos para os cientistas, quando eles estão tentando compreender o que significa a jornada interior, é definir claramente, por exemplo, o que significa consciência. Eu lhe dou, como... A maioria dos cientistas não fazem qualquer diferença entre consciência (estar desperto), consciência (estar ciente) ou mente consciente. Eles estão usando este termo de uma mesma maneira. Assim, eu gostaria de lhe pedir, se for possível, que tenha uma compreensão a respeito desses termos.

Osho: Sim, não há dificuldade alguma. As palavras podem ser definidas claramente. A dificuldade não é por causa das palavras, a dificuldade básica está vindo de um outro lugar. É que o cientista, no fundo, não acredita que exista alguma coisa no interior. Ele pode dizer assim, ou pode não dizer assim, mas toda a sua formação, toda a sua educação faz com que ele confie somente nos objetos - os quais ele pode dissecar, os quais ele pode observar, ele pode analisar, ele pode compor, criar, desfazer a criação, descobrir seus básicos componentes. Toda a sua mente é orientada para o objeto e a subjetividade não é um objeto. Assim, se ele quiser colocar a subjetividade diante dele sobre uma mesa isso não será possível. Isso não é da natureza da subjetividade. Assim, o cientista segue descobrindo tudo no mundo, exceto a si próprio. Uma grande barreira existe, e a barreira é que nada existe no interior.

Quando você corta uma pedra em pedaços, o que você encontra? - mais pedras. Você continua cortando em pedaços menores, pedaços menores. Você chega às moléculas, você chega aos átomos, você chega aos elétrons, mas, ainda assim, você não chega a coisa alguma mais interna. Eles todos são objetos. 

Ele também gostaria que a vida fosse descoberta dessa mesma maneira, e porque ele não consegue descobrir a vida dessa mesma maneira, ele começa a negá-la. E a consciência é ainda um problema mais difícil. Por ele não conseguir tocá-la, dissecá-la, descobrir seus componentes, ele simplesmente a rejeita - ela não existe.

Assim, este é o seu preconceito. Por causa desse preconceito ele fica confuso. E esse preconceito pode desaparecer muito facilmente, se ele, hipoteticamente aceitar - eu não estou dizendo que ele tem que acreditar, apenas aceitar hipoteticamente - que se existem coisas do lado de fora, então é muito científico que devem existir coisas que estão no interior porque na existência tudo está polarizado pelo seu oposto. O externo somente pode existir se existir um interno. O inconsciente somente pode existir se existir consciência. Isso é uma dialética simples da vida - e ele conhece isso - na existência, em todo lugar, ele encontrará a mesma dialética. Tudo está em oposição ao seu oposto. E ambos são, de alguma maneira estranha, complementares um ao outro - se opondo e ainda assim complementares um ao outro. Negar o interior é uma atitude muito não-científica. Assim, primeiro tem que se aceitar hipoteticamente que o interior existe.

Em segundo lugar, tem que se entender, que a metodologia que funciona para o exterior não pode funcionar para o interior. Simplesmente porque o interior é a dimensão oposta ao exterior o mesmo método não será aplicável. Você terá que encontrar uma nova metodologia para o interior. E isto é o que eu chamo meditação isto é a nova metodologia para o interior.

O S H O - Trecho de uma entrevista à edição italiana de 'Science 85 Monthly'


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Estamos fechados por todos os lados

Conhecer-se a si próprio é a coisa mais difícil. Não deveria ser assim. Deveria ser exatamente o oposto, a coisa mais simples. Mas não é assim — e por muitas razões. Tornou-se tão complicado, e investimos tanto na nossa própria ignorância que parece ser quase impossível voltar atrás, retornar para a fonte, ao encontro de nós próprios.

Toda a tua Vida, tal e qual, tal como é aprovada pela Sociedade, pelo Estado, pela Igreja, é baseada na auto-ignorância. A tua Vida sem te conheceres a ti próprio, porque a Sociedade não quer que te conheças a ti próprio. É perigoso para a Sociedade. Um Homem que se conheça a si próprio tende a ser rebelde.

O Conhecimento é a grande rebelião — auto-conhecimento digo, não conhecimento através das escrituras, não o conhecimento encontrado nas Universidades, mas sim o Conhecimento encontrado quando tu se encontras o teu próprio Ser, quando te encontras contigo próprio totalmente nu; quando te vês a ti próprio tal como Deus te vê, não como a Sociedade gostaria de te ver; quando vês o teu Ser natural no seu completo florescer selvagem e natural — não um fenômeno civilizado, condicionado, culto, polido.

A Sociedade está preocupada em fazer de ti um robô, não um revolucionário, porque é útil. É fácil dominar um robô; é quase impossível dominar um Homem que tenha Consciência de si próprio. Como é que se pode dominar um Jesus? Como é que se pode dominar um Buda ou um Heraclitus? Ele não se irá vergar, ele não seguirá prescritos. Ele seguirá em frente guiado pelo seu próprio Ser. Ele será como o vento, como as nuvens; ele mover-se-á como os rios. Ele será selvagem — e é claro, Bonito, Natural, mas perigoso para a falsa Sociedade. Ele não se encaixará. A não ser que criemos uma Sociedade Natural no Mundo, um Budha ficará sempre desenquadrado, um Jesus está destinado a ser crucificado.

A Sociedade quer ser dominadora; as classes privilegiadas querem dominar, oprimir, explorar. Eles querem que tu permaneças sem ter consciência de ti próprio. Esta é a primeira dificuldade. E cada um tem de nascer dentro de uma Sociedade. Os Pais são parte da Sociedade, os Professores são parte da Sociedade, os Padres são parte da Sociedade.
valei

A Sociedade está em todo o sítio, em toda a tua volta. Parece que é realmente impossível — como é que se pode escapar? Como é que se encontra uma porta para voltarmos à Natureza? Estamos fechados por todos os lados.

O S H O 

Toda a humanidade foi castrada de maneiras diferentes

Toda a programação de nossa mente está errada. Nós fomos programados para sermos ambiciosos. E é aí que entra a política. Ela tem poluído a sua vida normal e não apenas o mundo habitual dos políticos.

Mesmo uma pequena criança já sabe sorrir para a mãe e para o pai com um sorriso falso, sem qualquer autenticidade. Ela sabe que sempre que sorri, ela é recompensada. Ela aprendeu a primeira regra para ser um político. Ela ainda está no berço e você já lhe ensinou política.

Nos relacionamentos humanos existe política em todo lugar.

O homem incapacitou a mulher. Isso é política.

Metade da humanidade é constituída por mulheres. O homem não tem direito algum de incapacitá-la, mas por séculos ele a tem incapacitado completamente. Ele não permitiu que ela tivesse acesso à educação. Ele não lhe permitiu sequer que ouvisse as escrituras sagradas. Em muitas religiões eles não permitiram que elas entrassem nos templos. Ou, se permitiram, elas tinham uma seção separada, elas não podiam ficar ao lado dos homens como iguais, mesmo perante Deus. (...)

O homem tem tentado de todas as maneiras cortar a liberdade da mulher.

Isto é política; isto não é amor.

Você ama uma mulher, mas não lhe dá liberdade. Que tipo de amor é este, que tem medo de dar liberdade?

Você a coloca numa gaiola como um papagaio. Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não entende que o está matando.Você tirou todo o céu do papagaio e deu-lhe apenas uma gaiola. A gaiola pode ser feita de ouro, mas ela nada significa ao ser comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de uma árvore a outra, cantando suas canções – não aquela que você forçou-o aprender a cantar, mas aquela que lhe é natural, que lhe é autêntica.

A mulher continua fazendo as coisas que o homem quer. Pouco a pouco, ela vai esquecendo que ela também é um ser humano.

Na China, por milhares de anos, o marido podia matar a esposa. Somente em 1951 uma nova lei surgiu proibindo isto. Até 1951 o marido estava autorizado, caso ele quisesse, matar sua esposa, era uma questão que dizia respeito a ele. Ela era a sua mulher, uma posse. O sistema de leis não tinha interesse algum em interferir nas suas posses. E, além disto, na China pensava-se que a mulher não tinha alma; somente o homem tinha.

É por isto que na história da China você não encontra uma única mulher com a importância de um Lao Tzu, Chuang Tzu, Lieh Tzu, Confúcio, Mencius. Se você não tem alma, você é apenas uma coisa, não consegue competir com o homem.

Metade da humanidade, em todos os países, em toda civilização, foi destruída pela política de família. Você pode não chamar isto de política, mas é política. Sempre que existe um desejo de ter poder sobre outras pessoas, isto é política. O poder é sempre político, mesmo quando se trata de pequenas crianças. Os pais pensam que as amam, mas apenas em suas mentes, porque o que eles querem são crianças obedientes. E o que significa obediência? Significa que todo o poder fica nas mãos dos pais.
Se a obediência é uma grande qualidade, por que os pais não devem ser obedientes para com os filhos? Se essa é uma questão religiosa, por que os pais não devem obedecer aos filhos? Mas isto nada tem a ver com religião. Tudo isto é política escondida atrás de belas palavras.

O homem precisa ser exposto em todos os pontos em que a política entra, e ela entra em todo lugar, em todos os relacionamentos. Ela contaminou toda a vida do homem e continua contaminando.
Em suas escolas vocês ensinam as crianças a serem os primeiros da sala. Por que? Você já pensou na psicologia disto? A pessoa que chega primeiro começa a se tornar um egoísta: ela é a primeira. E a pessoa que chega por último começa a se sentir inferior. Qual a necessidade de se fazer isto? Os exames deveriam simplesmente ser abolidos.

Não há necessidade alguma de exames. Os professores podem simplesmente dar notas todos os dias da mesma maneira como eles controlam a freqüência. Eles podem dar notas todos os dias a todas as crianças e no final aquele que demonstrar maior aproveitamento passa mais cedo para uma classe mais elevada.

Aquele que for um pouco mais preguiçoso, passará um pouco depois. Mas sem qualquer exame e sem a classificação de ‘primeira classe, segunda classe, terceira classe’. Isto se torna um estigma.

Se uma pessoa em todo o seu currículo escolar, no nível básico, médio e universidade, tiver sido sempre classificada como terceira classe, terá um reduzido senso de auto-respeito. O seu auto-respeito terá sido morto. Ela sabe que não tem valor. Todo mundo poderá exercer poder sobre ela.
Essa expressão ‘terceira classe’ tornou-se tão feia na Índia que se você perguntar a alguém, ‘com que classificação você passou?’ e se ele tiver passado como terceira classe, ele responderá, ‘classe Mahatma Gandhi’ porque Gandhi nunca obteve outra classificação. Ele sempre passou classificado como terceira classe e daí, por toda a sua vida ele viajava de trem de terceira classe. Assim, na Índia, ninguém fala que passou em terceira classe, mas na ‘classe Mahatma Ghandi’. É uma maneira de ocultar aquela classificação, de tapear a si mesmo.

É criada em você a ambição de que tem que ser alguém no mundo. Você tem que provar que não é uma pessoa comum, você é extraordinário. Mas, para que? A que propósito isto serve? Isto serve a um único propósito: se você se torna poderoso, os outros se tornam subservientes a você. Você é uma pessoa extraordinária. Eles são os pobres companheiros, eles são da classe Mahatma Ghandi. Eles, no máximo, conseguem ser balconistas e nada mais. Eles não têm coragem. Toda a humanidade foi castrada de maneiras diferentes, e esta castração é política."

O S H O 

Não seja triste e inconsciente como seus pais

Cada criança nasce com possibilidades tão grandes, com tanto potencial que se tiver permissão e for auxiliada a desenvolver a própria individualidade sem qualquer impedimento vindo dos outros, teremos um mundo lindo, teremos muitos Budas e muitos Sócrates e muitos "Jesuses", teremos uma tremenda variedade de gênios. O gênio acontece muito raramente, não porque gênios nasçam raramente, não; o gênio acontece raramente porque é muito difícil escapar do processo de condicionamento da sociedade. Somente de vez em quando uma criança consegue, de alguma forma, escapar de suas garras.

Se você ama, você não interfere e você diz: “Sim, vá com minhas bênçãos. Procure, busque a sua verdade. Seja tudo aquilo que deseja ser. Eu não vou ficar no seu caminho. E não vou incomodá-lo com minhas experiências. Você não é eu. Você pode ter vindo através de mim, mas você não deve ser uma cópia de mim.

Você não deve me imitar. Eu vivi a minha vida – você viva a sua. Não vou sobrecarregá-lo com minhas experiências não vividas. Eu não vou sobrecarregá-lo com meus desejos não satisfeitos. Eu farei com que permaneça leve. Eu o auxiliarei – seja tudo o que quiser ser, com todas as minhas bênçãos e com toda a minha ajuda.

Os filhos vêm através de vocês, mas eles pertencem à Criação, pertencem à totalidade. Não os possua. Não comece a pensar que esses lhes pertencem. Como podem lhes pertencer? Uma vez que essa visão aflore em você, então não haverá mais crueldade. Agora seja consciente. Busque a felicidade. Descubra como ser feliz. Medite, ore, ame. Viva apaixonada e intensamente! Se você tiver conhecido a felicidade, você não será cruel com ninguém – não poderá ser. Se você tiver saboreado algo na vida, jamais será destrutivo com ninguém. Como pode ser destrutivo com seus próprios filhos? Você não pode ser destrutivo com pessoa alguma.

Assim não posso lhe dar a chave de como evitar – eu posso apenas lhe dar um “insight”.

O “insight” é: seus pais foram infelizes – por favor, você seja feliz. Seus pais foram inconscientes – você, seja consciente. E essas duas coisas – consciência e felicidade – não são realmente duas coisas, mas dois lados da mesma moeda.

Eu gostaria que vocês tivessem respeito pelas crianças. As crianças merecem todo o respeito que você for capaz de dar porque elas são tão frescas, tão inocentes, tão próximas da divindade. Está na hora de respeitá-las, e não de forçá-las a respeitar todos os tipos de corruptos – astutos, trapaceiros – simplesmente porque são velhos. Eu gostaria de inverter a coisa toda: respeito para com as crianças porque elas estão mais próximas da fonte, você está distante. Elas ainda são originais, você já é uma cópia carbono. E você é capaz de entender o que pode ocorrer se você tiver respeito pelas crianças? Através do amor e do respeito você pode protegê-las, evitando que tomem caminhos errados – não por medo, mas a partir do seu amor e respeito.

O S H O 

domingo, 7 de dezembro de 2014

Espaço para receber

Para a maioria de nós, conhecimento ou aprendizagem tornou-se um vício, e pensamos que através do saber seríamos criativos. Uma mente que está repleta de fatos, de conhecimento - é ela capaz de receber algo novo, repentino, espontâneo? Se a sua mente está abarrotada com o conhecido, existe nela algum espaço para receber algo que venha do desconhecido?

Certamente, o conhecimento vem sempre do conhecido, e com o conhecido estamos tentando entender o desconhecido, entender alguma coisa que está além da medida.

Tome, por exemplo, uma coisa bem ordinária que acontece com a maioria de nós: aqueles que são religiosos - seja lá o quê, no momento, essa palavra possa significar - tentam imaginar o que é Deus, ou tentam pensar sobre o que é Deus. Eles leram inúmeros livros, leram sobre as experiências dos vários santos, dos Mestres, dos Mahatmas, e tudo o mais, e eles tentam imaginar , ou tentam sentir o que é a experiência de outra pessoa. Ou seja, com o conhecido, tenta-se abordar o desconhecido. Pode-se fazer isso? Pode-se pensar em algo que não é conhecível? Só se pode pensar em algo que você conhece. Mas existe essa perversão extraordinária acontecendo no mundo nos tempos atuais: pensamos que entenderemos se tivermos mais informação, mais livros, mais fatos, mais publicações.

Certamente, para se dar conta de algo que não é a projeção do conhecido, deve haver a eliminação, através do entendimento do processo do conhecido. Por que é que a mente sempre se agarra ao conhecido? Não é porque a mente está constantemente buscando certeza, segurança? A sua própria natureza é fixada no conhecido, no tempo; e como pode essa mente, cuja própria fundação está baseada no passado, no tempo, experimentar o que não é do tempo? Ela pode conceber, formular, imaginar o desconhecido, mas isso é absurdo total. O desconhecido pode aparecer somente quando o conhecido é entendido, dissolvido, colocado de lado. E isso é extremamente difícil, porque no momento que você tem uma experiência de qualquer coisa, a mente a traduz em termos do conhecido e a reduz ao passado.

Não sei se vocês notaram que cada experiência é imediatamente traduzida dentro do conhecido, é nomeada, tabulada, e registrada. Assim, o movimento do conhecido é conhecimento. E, obviamente, esse conhecimento, aprendizado, é um impedimento.

Suponha que você nunca tenha lido um livro - religioso ou de psicologia -, e que você teria que encontrar o sentido, o significado da vida. Como você começaria? Suponha que não houvesse Mestres, organizações religiosas, nem Buda, nem Cristo, e você tivesse que começar do início. Como você começaria? Primeiro, você teria que entender o seu próprio processo de pensar, não teria? - e não projetar você mesmo, os seus pensamentos, no futuro, e criar um Deus que lhe agrade; isso seria muito infantil. Assim, primeiro você teria que entender o processo do seu próprio pensar. Certamente, esse é o único jeito de descobrir qualquer coisa nova, não é?

Quando dizemos que a aprendizagem ou o conhecimento é um impedimento, é uma barreira, certamente não estamos incluindo o conhecimento técnico - como dirigir um carro, como operar uma máquina, ou a eficiência que esse conhecimento traz. Temos em mente uma coisa bem diferente: esse senso de felicidade criativa que nenhuma quantidade de conhecimento ou aprendizagem trará. E, ser criativo no sentido mais verdadeiro dessa palavra, é estar livre do passado a cada momento. Porque é o passado que está continuamente lançando sombra no presente. Simplesmente se apegar às informações, às experiências dos outros, àquilo que outra pessoa disse, ainda que importante, e tentar aproximar a sua ação àquilo - tudo isso é conhecimento, não é? Mas, para descobrir algo novo, você deve começar por você mesmo; você deve começar uma viagem completamente desnudado, especialmente de conhecimento. Porque é muito fácil, através de conhecimento e crença, ter experiência; mas aquelas experiências são meramente produtos da auto-projeção, e portanto totalmente falsas, não reais.

E se você vai descobrir por você mesmo o que é novo, não é bom carregar o peso do velho, especialmente o conhecimento - o conhecimento de outra pessoa, por maior que seja. Agora, você usa o conhecimento como um meio de auto-proteção, segurança, e você quer estar bem certo que você tem a mesma experiência de Buda, ou de Cristo, ou de X. Mas o homem que está se protegendo constantemente através do conhecimento, não é obviamente um verdadeiro buscador da verdade.

Para o descobrimento da verdade, não existe caminho. Você precisa entrar no mar sem mapas - o que não é deprimente, o que não é ser aventureiro. Certamente, quando você quer encontrar algo novo, quando você está experimentando com qualquer coisa, sua mente tem que estar muito quieta, não tem? Mas se a sua mente estiver abarrotada, preenchida com fatos, conhecimento, eles agem como um impedimento ao novo; e, para a maioria de nós, a dificuldade é que a mente se tornou tão importante, tão predominantemente significativa, que ela interfere constantemente com qualquer coisa que possa ser nova, com qualquer coisa que possa existir simultaneamente com o conhecido. Assim, o conhecimento e o aprendizado são impedimentos àqueles que buscam, que tentam entender aquilo que não é do tempo.

Krishnamurti, Ojai, Califórnia, 17 Julho de 1949

sábado, 6 de dezembro de 2014

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha?

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha? Testemunho é consciência sem escolha. Se você escolhe, você não está testemunhando; você gostou ou desgostou. Você escolheu, ficou identificado. 

Por exemplo, na sua mente existem alguns pensamentos se movendo. Testemunhar significa que você simplesmente fica ali percebendo que eles estão se movendo, como nuvens se movendo no céu ou o tráfego da estrada. Você não tem escolha alguma e não diz: "Isso é bom, deixe-me mantê-lo, e isso é mau, deixe que se vá."Se você falar dessa maneira, você não está testemunhando. Você está se envolvendo, se identificando, criando relacionamentos amor-ódio, e quando você se relaciona você não pode ser uma testemunha. Testemunho significa consciência sem escolha!

E o que é o estado de ser? Quando você não escolhe, as coisas são como elas são. A raiva passa por ali... então existe raiva. Há uma testemunha e a a raiva. Você não está com raiva; se escolher você está com raiva. Se você escolhe contra ela, você fica repressivo a ela. Você simplesmente observa. A raiva vem, a ambição vem, e elas passam por ali. Elas vê e vão e você observa e não escolhe. Assim, as coisas são como elas são! Você não dá valor, não diz que isso é superior e aquilo é inferior, isso é espiritual e aquilo é material, isso é pecado e aquilo é um ato muito sagrado. Você não faz qualquer avaliação; você abandona qualquer avaliação e simplesmente vê como um espelho, um espelho vazio. Seja lá o que passar, o espelho reflete. Isso é testemunhar. 

E o espelho nunca escolhe, pois ele não é uma chapa fotográfica. A chapa fotográfica simplesmente escolhe; ela é pega e capturada. O espelho permanece limpo: você passou e o espelho está novamente limpo e vazio. Na verdade, quando você estava passando, então também havia somente reflexo, mas o espelho não estava tendo nenhum conteúdo nele; era sempre um sombra, uma sombra passando. 

Quando você não escolhe, as coisas são como ela são. Esse é o estado de ser — isto é tathata

"Testemunhar" vem dos Upanixades — sakshi. Essa é a palavra usada pelos videntes dos Upanixades. "Consciência sem escolha" vem de Jiddu Krishnamurti — uma nova palavra para a mesma velha coisa. "estado de ser" é uma palavra budista, tathata; ela vem de Buda. Mas todas significam a mesma coisa! Não seja pego pelas palavras e não comece a ficar erudito através delas. 

Contudo, esses problemas surgem porque você nunca penetra em nenhuma prática, em nenhuma experiência. Tudo permanece teórico.

O S H O 


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Liberte-se da dependência parental

Minha própria observação de milhares de sannyasins é que eles ainda estão lutando com seus pais, continuamente. O problema profundo deles é: seus pais lhes disseram para não fazerem algo — se eles o fizerem, sentem-se culpados; se eles não o fizerem, sentem que não são livres. De qualquer maneira, eles estão numa armadilha e ficam lutando. 

Uma pessoa se torna livre somente quando não está mais reagindo aos pais, quando essas vozes parentais desaparecem da consciência e não têm mais impacto desta ou daquela maneira e não criam reação contrária ou a favor. Você se torna uma pessoa madura quando é incapaz de ignorá-las e de ser indiferente a elas. 

As pessoas me perguntam: "Qual a definição de uma pessoa madura?" A pessoa que é livre de seus pais é uma pessoa madura. 

Jesus está certo quando diz a seus discípulos: "A menos que você odeie seus pais, você não será capaz de me seguir." Ora, um homem que prega o amor dizendo isso parece muito absurdo — mas ele está certo

Minha impressão é que a palavra "ódio" é uma má tradução do hebraico. Eu não conheço o hebraico, mas conheço Jesus. Por isso, digo que deve ser uma má tradução. Ele deve ter dito: "Seja indiferente, ignore, não se apegue mais." Ele deve ter usado algum termo que significa "seja desapegado" de seus pais, pois a palavra "ódio" não pode ser usada por muitas razões.

Uma coisa: se você odeia seus pais, você ainda não está desapegado, não está livre. Ódio significa que você é contra, assim eles ainda o controlarão de maneiras mais sutis: você continuará a fazer coisas que eles querem que você não  faça, pois você os odeia. Seus pais dizem: "não fume", e você continua a fumar, pois você os odeia. Esta é a maneira de você mostrar o seu ódio. Contudo, você está apegado, ainda está conectado. Você não foi capaz de se desconectar e ainda está acorrentado, ainda está segurando a saia de sua mãe; você ainda é infantil. 

Nem ame nem odeie — a voz parental precisa desaparecer. Você deve simplesmente observá-la desaparecer. 

Buda vai mais longe; ele diz: "A menos que você mate seus pais..." Ele não quer dizer que você deve matá-los em realidade, mas no fundo de seu ser você deve matá-los, abandoná-los, perdoar e esquecer. Não reaja à voz de seus pais dentro de você. 

(...) Observe dentro de você mesmo: o que você tem feito? Você ainda está lutando com seus pais, indo contra eles, fazendo algo que eles nunca quiseram que você fizesse, fazendo algo que os deixa com muita raiva? Você está brigando com seus sacerdotes e políticos? Então você permanecerá sob o poder deles.

O S H O 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A morte do velho e o nascimento do novo homem

O instinto de dúvida sempre esteve comigo... A dúvida sempre esteve comigo. Por isso, nenhum fanatismo, nenhuma cegueira ou devoção a uma única religião em particular pode acontecer. O resultado final de tudo isso foi que não cheguei a nenhuma conclusão, e fiquei cheio de perguntas e dúvidas. Não havia nenhuma resposta para nada. Qualquer resposta que houvesse pertencia aos outros, e eu não podia confiar na resposta de ninguém. As respostas dos outros só provocavam uma coisa em mim: o surgimento de cada vez mais perguntas. A resposta de ninguém podia tornar-se a minha. 

Assim, desde o começo, essa condição era perigosa, porque viver sem nenhum objetivo era muito inseguro. Eu nem mesmo tinha certeza que estava um palmo adiante, porque isso eu só podia vir a saber pelos outros. A respeito do caminho já trilhado, a pessoa pode saber positivamente, mas sobre o que está à frente do caminho e a pessoa não trilhou, só se pode saber pelos outros. Por isso não havia nenhum caminho claro para mim. Era tudo escuridão. Cada passo era dado na escuridão — ambíguo e sem objetivo. 

Minha condição era cheia de tensões, insegurança e perigo. Todos os meus parentes e amigos consideravam-me rebelde e indisciplinado por causa dessa condição. Lentamente as pessoas começaram a achar que eu era louco, tal a situação. 

Por menor que fosse a questão, havia dúvidas e nada além de dúvidas. Ficavam apenas perguntas e mais perguntas sem nenhuma resposta. Na opinião dos outros, tanto eu era bom quanto louco. Eu mesmo sentia medo de enlouquecer. Não conseguia dormir a noite. 

Durante a noite e o dia inteiro, as perguntas pairavam sobre mim. Não havia resposta para nada. Eu estava em alto mar, sem nenhum barco ou praia onde quer que fosse. Se havia algum barco, eu mesmo o negava e o afundava. Havia muitos barcos e muitos marinheiros, mas eu me recusava a entrar no barco de quem quer que fosse. Sentia que era melhor afundar do que entrar no barco de outro. Se era para isso que a vida estava me levando, para afundar a mim mesmo, então sentia que esse naufrágio também deveria ser aceito. 

A minha condição era de total escuridão. Era como se eu tivesse caído no fundo de um poço escuro. Naquela época eu sonhava muitas vezes que estava caindo, caindo, e entrava cada vez mais num poço sem fundo. E muitas vezes acordei de um sonho transpirando muito, todo molhado, porque a queda era infinita, sem nenhum chão ou lugar que pudesse apoiar meus pés. 

Não havia mais nada além da escuridão e da queda, mas aos poucos fui aceitando até isso. Senti muitas vezes que precisava concordar com alguém, devia me segurar em alguma coisa ou aceitar alguma resposta. Mas isso não estava de acordo com minha natureza. Nunca fui capaz de aceitar o pensamento de ninguém. 

Inevitavelmente, aconteceu também de não haver mais lugar dentro de mim para nenhum pensamento. Agora eu percebo que todas as minhas respostas nada mais eram que pensamentos. Se existem apenas perguntas, a pessoa deixa de pensar. 

Uma conclusão é um pensamento. Se não há conclusões, automaticamente cria-se um vácuo. Eu não sabia disso nessa época, mas uma espécie de vazio, um oco, surgiu por conta própria. Muitas perguntas ficavam girando. Mas por não haver respostas, elas desapareciam por exaustão e morriam. Eu não conseguia as respostas, mas as questões eram destruídas. 

Um dia surgiu uma condição inquestionável. Não que eu tenha recebido as respostas — não! Em vez disso, todas as questões caíram por terra e criou-se um grande vazio. Essa foi a SITUAÇÃO EXPLOSIVA. Viver assim era tão bom quanto morrer. E ASSIM MORREU A PESSOA QUE FAZIA PERGUNTAS. Depois dessa experiência do vazio, não questionei mais nada. Todos os assuntos onde as perguntas pudessem ser levantadas deixavam de existir. Antes, eram só perguntas e mais perguntas. Daí em diante, não restou mais nada que se assemelhasse a uma pergunta. 

Agora não tenho perguntas e nem respostas. Se alguém levanta uma questão, a resposta é  a que vem do meu vazio interior. Não posso dizer que a resposta seja minha porque nunca tive nenhum pensamento sobre ela. Não li a resposta antes. Também estou ouvindo a resposta pela primeira vez, ao mesmo tempo que o ouvinte. Assim como ele ouve pela primeira vez, eu também ouço. Não que eu seja o orador e ele o ouvinte, não que eu esteja dando e ele recebendo. A resposta vem, e nós dois somos ouvintes, ambos a recebemos. 

Por isso, se minha resposta amanhã for diferente  da que estou dando hoje, não sou responsável por isso porque não dei resposta alguma. O mesmo vazio de onde ela veio é responsável pela mudança. Não posso fazer nada. Portanto, você pode achar que sou inconsistente. Eu só poderia ser inconsistente se "eu" estivesse respondendo. Se há alguma inconsistência, é por causa desse vazio dentro de mim. Desde aquela experiência, nem eu fiz qualquer pergunta, nem vislumbrei qualquer resposta. Nessa explosão, o velho de ontem morreu. Este homem é absolutamente novo.

(...) Aqui, muitas pessoas pedem que eu escreva minha autobiografia. É muito difícil porque aquele sobre quem eu escreveria não sou eu. Tudo o que sei agora não tem estória. Não existe estória após a explosão; não há nenhum evento. Todos os eventos são anteriores à explosão. Depois dela há apenas vazio. Tudo o que existiu não sou eu e não é meu. 

O S H O 

Níveis de transmissão da mensagem

Quanto mais sábio é o homem, mais ele vive em níveis diferentes de sabedoria simultaneamente. Ele tem de viver assim porque precisa falar de acordo com o nível das pessoas que encontra. Caso contrário, nada do que ele disser terá significado. Se Buda falar com você a partir do nível mais elevado dele, será inútil. Você o tomará por louco. Aconteceu muitas vezes de pessoas como ele serem consideradas loucas. A razão disso é que tudo o que diziam parecia ter sido dito por um louco. Portanto, se eles falarem a partir do nível deles, serão tachados de loucos. 

Se tiverem de falar no seu nível, terão de descer. Terão de descer ao nível onde você possa entendê-los. Então não parecerão loucos. Portanto, têm de falar a partir de quantos níveis existirem entre as pessoas que forem ouvi-los. 

(...) É por isso que as afirmações de pessoas como Budas são encontradas em muitos níveis diferentes. Às vezes, uma só afirmação contém muitos níveis. É porque quando alguém como Buda começa a falar, o faz a partir de seu próprio nível, e quando pára de falar, desceu ao nível em que você está. Muitas vezes, numa só frase, há uma longa jornada — porque ele começa a falar a partir do nível em que ele está. Começa com grandes expectativas em relação a você; aos poucos, vai reduzindo suas expectativas e, nas suas últimas afirmações, chega ao nível em que você está. 

O nível dele e o seu representam duas profundas divisões, mas isso não significa que estejam distantes, separados ou diferentes. São como o mar e a onda. Ás vezes o mar pode existir numa onda, mas a onda jamais poderá existir sem o mar. A Não-Forma pode existir sem forma, mas uma forma jamais existirá sem a Não-Forma. 

O S H O 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Autobiografia não é a história da alma

Por que não escrevo minha autobiografia? Pode parecer muito interessante mas, na verdade, depois do Autoconhecimento, não existe autobiografia. Todas as autobiografias são 'egobiografias'. O que chamamos de autobiografia não é a história da alma. Enquanto você não souber o que é a alma, tudo o que escrever será egobiografia. 

É interessante notar que nem Jesus, nem Krishna, nem Mahavir, nem Buda escreveram suas biografias. Escrever ou falar de si mesmo não é possível para aqueles que conheceram suas almas, porque depois de conhecê-la a pessoa se transforma em alguma coisa tão sem forma que o que chamamos de fatos da vida, tais como quando nasceu, quando aconteceu determinado evento, se dissolvem. O que acontece é que todos esses fatos deixam de ter qualquer importância. O despertar de uma alma é tão cataclísmico que depois de acontecer, quando a pessoa abre os olhos, descobre que tudo se perdeu, Nada restou; não resta ninguém para falar sobre o que aconteceu. 

Depois que a pessoa conhece a sua alma, uma autobiografia parece uma versão onírica de si mesmo. É como se alguém escrevesse  um relatório de seus sonhos: um dia sonhou este sonho, outro dia aquele, e no dia seguinte um terceiro. Uma autobiografia dessas não tem mais valor do que uma fantasia, um conto de fadas. 

É por isso que é difícil para uma pessoa acordada escrever. Acordando e conscientizando-se, ela descobre que não há nada que valha a pena escrever. Foi tudo um sonho. Permanece a importância da experiência de tornar-se consciente, mas o que se conhece através dessa experiência não pode ser descrito. Reduzir uma experiência como essa a palavras faz com que pareça insípida e absurda. Mesmo assim, tenta-se sempre falar sobre a experiência de maneiras diferentes através de métodos diferentes. 

Por toda a minha vida eu continuarei falando sobre o que aconteceu. Não há mais nada a dizer, exceto isso. Mas isso também não pode ser escrito. Logo que se escreve, sente-se que não vale a pena falar a respeito. O que há para escrever? Pode-se escrever: "Tive uma experiência da alma. Sinto-me pleno de paz e felicidade." Parece absurdo — meras palavras. 

(...) O problema é duplo: o que pode ser dito parece um sonho e só o que não pode ser dito vale a pena dizer. Permanece sempre a sensação de que é inútil contar a você o que aconteceu comigo. Meu propósito é conduzi-lo àquele caminho que o levará à experiência em si. Só então, algum dia, você poderá entender e, contar o que aconteceu comigo diretamente, não servirá para nada. Eu não acho que você vá acreditar no que eu disser. E de que servirá levantar suspeitas? Será prejudicial. A melhor maneira é levá-lo àquele caminho, àquela margem, na qual você poderá ser empurrado para o lugar onde, algum dia, você mesmo terá a experiência. Nesse dia você poderá confiar. Saberá como acontece. Caso contrário não há como confiar.

O S H O 

A arte da escuta atenta é bem melhor do que a leitura

Uma afirmação sempre tem endereço certo. Aqueles que querem se dirigir às massas escrevem. É assim que eles se dirigem à multidão anônima. Mas quanto mais anônima é a multidão, menos coisas podem ser ditas. E quanto mais próxima e mais conhecida for a pessoa endereçada, mais profundo pode ser o diálogo. 

Verdades mais profundas só podem ser ditas a pessoas particulares. A uma multidão, apenas coisas temporárias e simples podem ser ditas. Quanto maior a multidão, menor será a compreensão; e quanto mais desconhecida for a multidão, maior a suposição de que nada será compreendido. Assim, quanto mais uma literatura for dirigida às massas, mais simples e rasteira será. Voar muito alto não é possível com esse tipo de literatura. 

(...) Minha dificuldade é que é difícil expor a Verdade mesmo para os melhores entre nós. Para os que são menos que os melhores, para os homens comuns, nem mesmo surge a questão de expor a Verdade. Só aqueles que estão entre os poucos escolhidos podem entender assuntos mais profundos. Mas mesmo entre esses poucos escolhidos, noventa e nove entre cem não entenderão o que eu digo. Assim, não faz sentido dizer tais coisas a uma multidão, e escrever é dirigir-se a uma multidão. 

Existem também outras razões para não escrever. Acredito que quando se muda o veículo usado, o conteúdo também muda. Mudando o veículo, o assunto-tema também muda. Mudando o veículo, o assunto-tema não permanece o mesmo. O veículo impõe as suas próprias condições e altera o que é dito. 

Não é facilmente compreensível. Quando estou falando,  é um tipo de veículo. Toda a linha de comunicação é viva. O ouvinte está vivo e eu também estou vivo. Quando estou falando, o ouvinte não apenas ouve: ele também vê. A alteração das expressões de meu rosto, as mudanças repentinas refletidas em meus olhos, meus dedos se erguendo e abaixando, tudo isto é visto por ele. Não só ouve as minhas palavras: também vê o movimento dos meus lábios. Não são apenas as minhas palavras que falam. Meus lábios também falam. Meus olhos também dizem alguma coisa. Tudo isso é assimilado pelo ouvinte. Na mente de um ouvinte, o conteúdo do que eu disse será diferente do que a mente de um leitor, porque tudo isso irá fazer parte dele. 

Quando alguém lê um livro, no meu lugar existem apenas letras e tintas pretas; nada mais. Eu e a tinta preta não somos equivalentes. Não existe dar e receber. Na tinta preta jamais aparecem gestos ou mudanças de expressão, jamais se criam cenas e quadros. Não existe vida; é uma mensagem morta. Quando alguém lê um livro, uma parte bastante significativa da mensagem que permanece viva enquanto estou falando, se perde. Nas mãos do leitor encontram-se apenas afirmações mortas. 

É interessante notar que um leitor pode ser menos atento do que um ouvinte. Quando alguém está ouvindo, o seu grau de atenção é muito maior do que quando lê. Enquanto se ouve, é preciso toda a atenção e concentração, porque o que foi dito não será repetido. Você não pode rever as partes não entendidas ou parcialmente entendidas; elas se perderam. A cada momento que estou falando, o que é dito perde-se num abismo infinito. Se você captou, captou. Se não, aquilo vai embora e não volta mais. 

Enquanto se lê um livro essa apreensão não existe, porque você pode ler reler as mesmas páginas quantas vezes quiser. Portanto, não é necessário estar muito atento enquanto lê. É por isso que as palavras começaram a ser escritas no dia em que a atenção diminuiu. Tinha de ser assim. 

lendo um livro, se você não entendeu alguma coisa, pode voltar as páginas e reler. Mas quando falo, não é possível voltar atrás. O que se deixou passar, perdeu-se. O conhecimento daquilo que é falado  perde-se para sempre quando se deixa passar e não pode ser repetido. Isso mantém a sua atenção ao máximo. Ajuda-o a manter a sua consciência a um máximo de alerta. Quando você lê devagar, se deixa passar alguma coisa não há prejuízo; pode ler outra vez. Com um livro, a compreensão é menor e a necessidade de repetir aumenta. Conforme a atenção diminui, a compreensão também diminui. 

Por isso, não foi sem razão que Buda, Mahavir e Jesus, todos preferiram falar para transmitir suas mensagens. Poderiam ter escrito, mas preferiram este veículo. Fizeram-no por duas razões: uma, porque a palavra falada é um veículo mais abrangente; pode-se dizer mais. Existem muitas coisas ligadas às palavras que se perdem na linguagem escrita. 

(...) Até agora não fomos capazes de descobrir como dar ênfase às palavras escritas. Se eu quero enfatizar alguma coisa quando falo, posso falar um pouco mais alto. Posso alterar as nuanças da minha voz; então a ênfase é transmitida. Mas com as palavras de um livro isso não acontece. As palavras estão mortas. Num livro, a palavra 'amor' é amor, tenha ela sido escrita por alguém que esteja ou não amando, por alguém que viva o amor ou nem mesmo saiba o que é o amor. Não existem nuanças, ritmo, ondas ou vibrações. As palavras estão mortas. 

(...) Sempre que alguém fala, cria imediatamente uma espécie de afinação, um contato com o ouvinte. A alma do orador aproxima-se logo da alma do ouvinte. As portas se abrem; as defesas do ouvinte começam a se relaxar. 

Quando você está ouvindo, se estiver bastante atento, o seu pensamento terá de parar. Quanto maior for a sua atenção ao ouvir, menos você pensará. As suas portas se abrem, você se torna mais receptivo ao outro. Agora, alguma coisa poderá entrar diretamente, sem obstruções; você e o orador tornam-se conhecidos um para o outro. Num sentido mais profundo, estabelece-se um relacionamento harmônico. A voz vem de fora e, ao mesmo tempo, ecoa profundamente dentro do ouvinte. 

Tal relacionamento não pode ser estabelecido quando se está lendo, porque o escritor está ausente. Ao ler, quando você não entende automaticamente alguma coisa, tem de fazer um esforço para entender. Mas ouvindo, você compreende sem esforço. 

Quando você lê um livro baseado no que eu falei, o qual tenha sido transmitido literalmente, acaba se esquecendo de que está lendo porque me conhece. Depois de alguns momentos, sente que não está lendo — mas sim ouvindo. Mas se as palavras forem mudadas e na redação o estilo for levemente alterado, o ritmo e a harmonia se quebrarão. Quando aqueles que já me ouvirão falar uma vez lerem as minhas palavras faladas, a leitura será a mesma coisa do que me ouvir. Mas existem diferenças porque, ainda assim, a mudança de veículo altera a intenção do que foi dito.

O S H O 

A dificuldade de levar alguém além das palavras

Embora eu fale, através de palavras, continuo sustentando que nada pode ser transmitido através delas. Para aqueles que querem falar, não há nenhum outro jeito que não seja usar as palavras. Geralmente, posso expressar-me apenas por palavras, mas também é verdade que o que precisa ser dito não pode ser transmitido por palavras. As duas coisas estão certas. Nossa situação é tal que só falamos com palavras. Não existe outra maneira de dialogar. 

Deveríamos tentar mudar de situação. Para aqueles que podem entrar em profunda meditação, o diálogo é possível mesmo sem palavras. Mas para levá-los à meditação profunda, primeiro terei de usar as palavras. Chegará a hora, após um longo e contínuo esforço, em que a comunicação será possível sem palavras. Mas até que essa hora chegue, terei de me expressar através delas. 

Para levá-lo ao mundo silencioso terei de usar as palavras: a situação é esta. Mas é perigosa. Eu terei de usar as palavras, sabendo perfeitamente que se você se prender a elas, se acreditar nelas COMO ELAS SÃO, então todo o esforço será inútil. Estamos tentando chegar ao silêncio, mas temos de falar com as palavras. A impossibilidade é absoluta; não há outra alternativa. Se você se prender a elas, todo o esforço se tornará inútil porque o propósito é levá-lo ao silêncio. Enquanto estivermos falando apenas através de palavras, teremos de falar contra elas, e para "falar contra" teremos de usar palavras também. Não há outro jeito. 

Uma pessoa pode tornar-se silenciosa; não é difícil. Existem aqueles que se tornaram silenciosos devido a este difícil conjunto de circunstâncias. Eles evitarão complicações, pois sabiam que o que tinham para dizer não poderia ser comunicado. 

Não tenho nenhuma dificuldade em tornar-me silencioso. Posso ficar em silêncio e não seria surpreendente se você também ficasse, porque o que estou tentando fazer parece ser um esforço quase impossível. Estou tentando tornar possível o impossível. Mas por tornar-me silencioso nada se alcançará, nada será comunicado a você. O perigo é o mesmo. 

Se eu falo, você se prende às palavras. O perigo é que se você se prender a elas, o que quero comunicar e conseguir não se realizará. Mas, se eu não falar, a questão de comunicar seja o que for não existirá. Em primeiro lugar, se eu falar, existe a possibilidade de que aquilo que estou dizendo alcance as pessoas. Se falo a cem pessoas, haverá pelo menos uma que talvez possa receber o que eu disse, sem se prender às palavras. Para as outras noventa e nove, o esforço terá sido inútil. Que assim seja! Pelo menos alguma coisa poderá ser comunicada a uma pessoa, mas se eu ficar em silêncio, nem mesmo essa única possibilidade existirá. Por isso, meu esforço continua. 

É interessante notar que quem acredita que as coisas possam ser comunicadas por palavras não fala muito. Fala pouco, e assim tudo está dito. Mas quem acredita que as coisas não podem ser expressas por palavras, fala muito, porque, por mais que fale, sabe que o que tem a dizer ainda não foi comunicado. Então continua falando mais e mais. 

(...) Para levar alguém além das palavras, as palavras terão de ser usadas; não há outro jeito.

(...) Não importa quantas palavras sejam ditas, elas movem-se sempre em círculo. As palavras dão voltas; não podem andar em  linha reta. Se você andar em linha reta, sairá delas e entrará nas não-palavras. Mas por vivermos nas palavras, se eu tenho de dizer alguma coisa contra elas, tenho de usá-las para isso. É um tipo de loucura, mas eu não tenho culpa. Falo sabendo que sem palavras você não poderá entender, e depois falo contra as palavras na esperança de que você não se prenda a elas. Se isso acontecer, só então conseguirei convencê-lo do que quero.

Se você entender apenas as minhas palavras, perderá o que eu digo. Terá de entender as palavras mas, ao mesmo tempo, tudo o que é indicado através delas sobre o mundo das palavras também precisará ser entendido.

O S H O

A razão só pode ser um instrumento, não a meta

Não podemos chegar à verdade pelo raciocínio. O raciocínio é a tentativa de ser coerente, e a verdade, por sua própria natureza, é incoerente. Você pode, entretanto, chegar à coerência pelo raciocínio. Pode raciocinar tão bem, de maneira tão lógica, que se tornará impossível derrotá-lo por argumentos. Mas perderá a Verdade.

Não sou filósofo ou um lógico, mas uso sempre a lógica. Uso com o único propósito de conduzir seu pensamento até o ponto no qual você possa ser destacado dele. Enquanto o raciocínio não for exaustivo., não será possível superá-lo. Estou subindo uma escada, mas ela não é o meu objetivo; terei de abandoná-la. Só uso o raciocínio para conhecer o que está além dele. Não quero estabelecer nada pela razão. Em vez disso, o que eu quero é provar sua inutilidade.

Minhas afirmações, entretanto, são incoerentes e ilógicas, por favor entenda que só estou usando um sistema que as faz parecer assim. Estou preparando o terreno para o que virá a seguir. Estou afinando os instrumentos; a música ainda não começou.

Minha música original e única começa onde a linha divisória entre a razão e a não-razão desaparece. Assim que os instrumentos estiverem afinados, a música começará. Mas não interprete mal a afinação para a música; ou acabará criando dificuldades.

(...) O raciocínio é só uma preparação para o que está além. Uma das dificuldades que tenho é que aqueles que aprovam o meu raciocínio descobrirão daqui a pouco que os estou atirando numa área de escuridão. Até onde o raciocínio é visível há luz e as coisas parecem claras e brilhantes. Mas então alguém dirá que eu prometi a luz e agora estou falando em conduzi-lo para a escuridão. Essa pessoa ficará descontente comigo e dirá: "Gosto do que você disse até agora, mas não posso prosseguir com você." Ela confiou em mim por eu ter racionalizado a Verdade, mas então digo que ela tem de ir além do raciocínio para chegar à Verdade.

Os que acreditam na fé também não me aceitarão, não me seguirão, não caminharão comigo, porque querem que eu fale somente sobre mistérios incompreensíveis. Esses dois tipos de indivíduos terão problemas comigo. Os que creem na razão irão comigo até um certo ponto, enquanto aqueles que acreditam na fé, que creem no irracional, não me seguirão de modo algum, nunca compreenderão que só depois de me acompanharem até certo ponto, poderei levá-los ao não-pensamento.

Eu entendo isso. A vida é assim. A razão só pode ser um instrumento, não a meta. Eu farei sempre afirmações ilógicas depois de ter falado sobre assuntos absurdamente ilógicos. Essas afirmações parecerão incoerentes, mas foram muito bem pensadas e não são feitas sem razão. Da minha parte, existe uma razão clara.

O S H O 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A última fronteira

Você não é uma pessoa

Deus não é uma pessoa. Mil e uma dificuldades surgiram porque o homem sempre considerou Deus como uma pessoa. Todos os problemas com os quais a teologia se preocupa são apenas exercícios fúteis — basicamente porque Deus é tomado como uma pessoa. 

Deus não é uma pessoa e não pode ser — permita que isso penetre o mais fundo possível em você, pois está será uma porta, uma abertura. É difícil principalmente para os que foram educados como judeus, cristãos e muçulmanos conceber Deus como qualquer coisa que não seja uma pessoa — isso se torna um fechamento. 

(...) Deus como pessoa é uma tolice, o conceito inteiro é tolo. E Ele não pode ser uma pessoa porque tem de ser todas as pessoas — como Ele pode ser uma pessoa? Não pode ser alguém porque é todos, e não pode estar num lugar determinado porque está em toda a parte. Não se pode defini-Lo, e a personalidade é uma definição. Não se pode limitá-Lo, e como uma pessoa Ele se torna limitado. A personalidade é como uma onda que vai e vem, e Ele é como o oceano. É imenso — Ele permanece. Personalidades vão e vêm, elas são formas; estão presentes e logo depois não estão mais. As formas mudam; as formas mudam constantemente para os opostos e Deus é a ausência de forma. Não pode ser definido, não se pode dizer quem Ele é. Ele é tudo. Mas no momento em que você diz: "Ele é tudo", cria um problema: como se comunicar? Não há necessidade; não é possível comunicar-se com Ele como pessoa. Você tem de se comunicar com Ele nua dimensão totalmente diferente — a dimensão da energia, a dimensão da consciência, não dá personalidade.

Deus é energia. É consciência absoluta. Deus é graça, é êxtase; indefinível, ilimitado; não tem começo nem fim; para todo o sempre, eterno, atemporal, além do espaço — porque Deus significa totalidade. 

(...) Por causa do conceito de Deus como pessoa, tivemos de criar um Demônio contraposto a Deus, devido a todas as negatividades! —onde você as colocaria? Você tem de criar alguém sobre quem seja possível jogar todas as negatividades. Então o seu Deus torna-se falso, e o seu Demônio também torna-se falso, pois o negativo e o positivo coexistem, não estão separados. Mas tudo o que você gosta põe do lado de Deus, e tudo o que não gosta põe do lado do Demônio. A divisão é sua. 

Deus não pode ser dividido — Ele é indivisível. 

Primeira coisa: Deus não é uma pessoa. E lembre-se: você também não é uma pessoa. Isso é ignorância, é auto-ignorância: é por isso que você parece ser uma pessoa. Se você for mais fundo, logo a personalidade começará a ficar embaraçada; chegará um momento no qual você não saberá quem é. Você já deve ter observado isso: às vezes, quando alguém o desperta subitamente, acontece de, de repente, você não saber onde está — se é de manhã ou de noite, se está em sua casa ou em algum outro lugar, que cidade é; por um momento tudo fica confuso, não tem noção de espaço, não tem noção de tempo, e você não sabe quem você é. Por que isso acontece? Porque dormindo profundamente você se move para o centro, é claro inconscientemente, mas no centro não existe personalidade — existe uma energia impessoal. E se de repente alguém o desperta, você tem de se mover do centro para a periferia tão depressa, que simplesmente não há tempo para recobrar a personalidade. Nessa pressa você simplesmente perde a identidade — e essa é a sua realidade, é isso o que de fato você é. 

Em profunda meditação, cada vez mais você se tornará consciente do indefinível, do ilimitado. No começo se parecerá com um fenômeno anuviado, e você poderá sentir medo, ficar assustado. O que está lhe acontecendo? Está perdendo a cabeça? Está ficando louco? Se você sentir medo, perderá. Não se preocupe, é natural — você está se movendo do definido ao indefinido; no meio haverá um terreno onde tudo será confuso. 

(...) Deus é energia e se você não estiver preparado ela pode ser destrutiva. Deus é uma energia tão infinita e vital que, se o seu veículo não estiver pronto, você simplesmente quebrará. Portanto, a questão não é apenas conhecer Deus. A questão mais profunda é estar pronto antes de poder dizer: "Agora venha", antes de poder convidá-Lo — pois você é tão pequeno e Ele é tão vasto. É como se uma gota de água convidasse o oceano para entrar. O oceano pode vir a qualquer momento, mas o que acontecerá à gota? Ela tem de atingir uma capacidade, uma receptividade infinita, a ponto do oceano se abandonar e desaparecer dentro da gota sem que ela seja esfacelada. Esta arte é grandiosa, esta arte é Religião, Yoga, Tantra, ou seja qual for o nome que você queira dar.

O S H O 

domingo, 30 de novembro de 2014

A busca da felicidade é uma busca do auto-esquecimento

Existem apenas dois tipos de pessoas: uma que está em busca da felicidade; é o tipo mundano. Pode ir para o mosteiro, mas o tipo não muda; lá, ele também pede pela felicidade, pelo prazer e gratificação. Agora, de maneira diferente — através da meditação, da prece, de Deus — está tentando ser feliz, cada vez mais feliz. Há, depois, o outro tipo de pessoa — e só existem dois tipos — a que está em busca da verdade. E isso é um paradoxo: aquele que busca a felicidade, nunca a encontra, pois ela não é possível a menos que você encontre a verdade. A felicidade é apenas uma sombra da verdade; em si mesma não é nada — é apenas uma harmonia. 

Quando você se sente uno com a verdade, tudo se agrega, tudo se harmoniza. Você sente um ritmo — e esse ritmo é felicidade. Não se pode buscá-la diretamente. 

A verdade tem de ser procurada. A felicidade é encontrada quando se encontra a verdade, mas a felicidade não é o objetivo. E se você buscar a felicidade diretamente, será cada vez mais infeliz. E sua felicidade será, no máximo, apenas um intoxicante para que você esqueça a infelicidade; é só o que vai acontecer. A felicidade é como uma droga — LSD, maconha, mescalina. 

Por que o Ocidente chegou às drogas? É um processo muito racional. Teve de chegar a elas porque, na sua busca de felicidade, mais cedo ou mais tarde chega-se ao LSD. O mesmo aconteceu antes na Índia. Nos Vedas, eles chegaram ao soma, ao LSD, porque estavam buscando a felicidade; não eram realmente buscadores da verdade. Buscavam a mais e mais gratificação — chegaram ao soma. Soma é a suprema droga. E Aldous Huxley, falando sobre a suprema droga, a ser encontrada em algum lugar no século vinte, chamou-a outra vez de 'soma'. 

Sempre que uma sociedade, um homem, uma civilização, buscam a felicidade, têm de chegar de alguma forma às drogas — porque a felicidade é a busca pelas drogas. A busca da felicidade é uma busca do auto-esquecimento; é isso o que a droga ajuda a fazer. Você esquece de si e assim não há mais miséria. Como pode haver miséria se você não está? Você está dormindo profundamente. 

A busca da verdade está exatamente na dimensão oposta: não é gratificação, não é prazer, não é felicidade, mas — Qual é a natureza da existência? O que é a verdade? Um homem que busca a felicidade nunca a encontrará — encontrará, no máximo, o esquecimento. Um homem que busca a verdade a encontrará, porque para buscá-la ele próprio terá de se tornar verdadeiro. Para buscar a verdade na existência, primeiro terá de buscar a verdade em seu próprio ser. Terá de se tornar cada vez mais atento em relação a si mesmo

Estes são os dois caminhos: o auto-esquecimento — o caminho do mundo; e a lembrança de si mesmo — o caminho de Deus. E o paradoxo é que aquele que busca a felicidade nunca a encontra; e aquele que busca a verdade e não se importa com a felicidade, encontra-a sempre. 

(...) O autoconhecimento tem que ser a única busca, tem que ser o único objetivo; porque se você conhecer todo o resto sem conhecer a si mesmo, isto não significará nada. Você pode chegar a conhecer tudo, exceto você mesmo, mas o que isso significa? Não pode ter nenhum significado — porque se o próprio conhecedor é ignorante, o que pode significar esse conhecimento, o que seu conhecimento pode lhe dar? Quando você mesmo permanece na escuridão, pode reunir milhões de luzes à sua volta mas elas não o preencherão de luz. Apesar delas você continuará na escuridão. Viverá e se moverá na escuridão. A ciência é esse tipo de conhecimento. Você conhece um milhão de coisas mas não conhece a si mesmo

Ciência é conhecimento de tudo menos de si mesmo, exceto do autoconhecimento; o próprio buscador permanece no escuro. Isso não adianta muito. A religião é basicamente auto-conhecimento. Você tem de estar iluminado por dentro, a escuridão deve desaparecer do seu interior, e então por onde quer que você ande, a sua luz interior incindirá sobre o caminho. Onde quer que você vá, faça o que fizer, tudo será iluminado pela sua luz interior. E esse movimento com luz lhe dá um ritmo, uma harmonia, que é a felicidade. Então você não tropeça, não esbarra, não tem mais conflitos. Você se move mais facilmente, seus passos são uma dança, e tudo é satisfação. Você não quer mais que alguma coisa extraordinária aconteça. Você é feliz. É simplesmente feliz no seu ser comum. 

E a menos que você se sinta feliz sendo comum, jamais será feliz. 

Você é feliz apenas por respirar, você é feliz por ser; é feliz apenas por comer, por dormir mais uma noite. Você é feliz. Agora a felicidade não deriva de nada — ela é você. Um homem que se conhece é feliz, não por qualquer razão, sua felicidade não tem causa. Não é uma coisa que lhe acontece, é toda sua maneira de ser. É simplesmente feliz. Para onde quer que se mova, leva consigo sua felicidade. Se você o atira no inferno, ele cria à sua volta um paraíso; com ele, um paraíso penetra no inferno. 

Como você é, ignorante de si mesmo, se pudesse ser jogado no paraíso, conseguiria criar um inferno, porque você carrega consigo o seu inferno. Vá onde for, isso não fará muita diferença, você terá à sua volta o seu próprio mundo. Esse mundo está dentro de você, é a sua escuridão. 

Essa escuridão interior precisa desaparecer — é isso o que significa autoconhecimento.

O S H O 

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill