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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Não seja triste e inconsciente como seus pais

Cada criança nasce com possibilidades tão grandes, com tanto potencial que se tiver permissão e for auxiliada a desenvolver a própria individualidade sem qualquer impedimento vindo dos outros, teremos um mundo lindo, teremos muitos Budas e muitos Sócrates e muitos "Jesuses", teremos uma tremenda variedade de gênios. O gênio acontece muito raramente, não porque gênios nasçam raramente, não; o gênio acontece raramente porque é muito difícil escapar do processo de condicionamento da sociedade. Somente de vez em quando uma criança consegue, de alguma forma, escapar de suas garras.

Se você ama, você não interfere e você diz: “Sim, vá com minhas bênçãos. Procure, busque a sua verdade. Seja tudo aquilo que deseja ser. Eu não vou ficar no seu caminho. E não vou incomodá-lo com minhas experiências. Você não é eu. Você pode ter vindo através de mim, mas você não deve ser uma cópia de mim.

Você não deve me imitar. Eu vivi a minha vida – você viva a sua. Não vou sobrecarregá-lo com minhas experiências não vividas. Eu não vou sobrecarregá-lo com meus desejos não satisfeitos. Eu farei com que permaneça leve. Eu o auxiliarei – seja tudo o que quiser ser, com todas as minhas bênçãos e com toda a minha ajuda.

Os filhos vêm através de vocês, mas eles pertencem à Criação, pertencem à totalidade. Não os possua. Não comece a pensar que esses lhes pertencem. Como podem lhes pertencer? Uma vez que essa visão aflore em você, então não haverá mais crueldade. Agora seja consciente. Busque a felicidade. Descubra como ser feliz. Medite, ore, ame. Viva apaixonada e intensamente! Se você tiver conhecido a felicidade, você não será cruel com ninguém – não poderá ser. Se você tiver saboreado algo na vida, jamais será destrutivo com ninguém. Como pode ser destrutivo com seus próprios filhos? Você não pode ser destrutivo com pessoa alguma.

Assim não posso lhe dar a chave de como evitar – eu posso apenas lhe dar um “insight”.

O “insight” é: seus pais foram infelizes – por favor, você seja feliz. Seus pais foram inconscientes – você, seja consciente. E essas duas coisas – consciência e felicidade – não são realmente duas coisas, mas dois lados da mesma moeda.

Eu gostaria que vocês tivessem respeito pelas crianças. As crianças merecem todo o respeito que você for capaz de dar porque elas são tão frescas, tão inocentes, tão próximas da divindade. Está na hora de respeitá-las, e não de forçá-las a respeitar todos os tipos de corruptos – astutos, trapaceiros – simplesmente porque são velhos. Eu gostaria de inverter a coisa toda: respeito para com as crianças porque elas estão mais próximas da fonte, você está distante. Elas ainda são originais, você já é uma cópia carbono. E você é capaz de entender o que pode ocorrer se você tiver respeito pelas crianças? Através do amor e do respeito você pode protegê-las, evitando que tomem caminhos errados – não por medo, mas a partir do seu amor e respeito.

O S H O 

sábado, 6 de dezembro de 2014

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha?

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha? Testemunho é consciência sem escolha. Se você escolhe, você não está testemunhando; você gostou ou desgostou. Você escolheu, ficou identificado. 

Por exemplo, na sua mente existem alguns pensamentos se movendo. Testemunhar significa que você simplesmente fica ali percebendo que eles estão se movendo, como nuvens se movendo no céu ou o tráfego da estrada. Você não tem escolha alguma e não diz: "Isso é bom, deixe-me mantê-lo, e isso é mau, deixe que se vá."Se você falar dessa maneira, você não está testemunhando. Você está se envolvendo, se identificando, criando relacionamentos amor-ódio, e quando você se relaciona você não pode ser uma testemunha. Testemunho significa consciência sem escolha!

E o que é o estado de ser? Quando você não escolhe, as coisas são como elas são. A raiva passa por ali... então existe raiva. Há uma testemunha e a a raiva. Você não está com raiva; se escolher você está com raiva. Se você escolhe contra ela, você fica repressivo a ela. Você simplesmente observa. A raiva vem, a ambição vem, e elas passam por ali. Elas vê e vão e você observa e não escolhe. Assim, as coisas são como elas são! Você não dá valor, não diz que isso é superior e aquilo é inferior, isso é espiritual e aquilo é material, isso é pecado e aquilo é um ato muito sagrado. Você não faz qualquer avaliação; você abandona qualquer avaliação e simplesmente vê como um espelho, um espelho vazio. Seja lá o que passar, o espelho reflete. Isso é testemunhar. 

E o espelho nunca escolhe, pois ele não é uma chapa fotográfica. A chapa fotográfica simplesmente escolhe; ela é pega e capturada. O espelho permanece limpo: você passou e o espelho está novamente limpo e vazio. Na verdade, quando você estava passando, então também havia somente reflexo, mas o espelho não estava tendo nenhum conteúdo nele; era sempre um sombra, uma sombra passando. 

Quando você não escolhe, as coisas são como ela são. Esse é o estado de ser — isto é tathata

"Testemunhar" vem dos Upanixades — sakshi. Essa é a palavra usada pelos videntes dos Upanixades. "Consciência sem escolha" vem de Jiddu Krishnamurti — uma nova palavra para a mesma velha coisa. "estado de ser" é uma palavra budista, tathata; ela vem de Buda. Mas todas significam a mesma coisa! Não seja pego pelas palavras e não comece a ficar erudito através delas. 

Contudo, esses problemas surgem porque você nunca penetra em nenhuma prática, em nenhuma experiência. Tudo permanece teórico.

O S H O 


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Liberte-se da dependência parental

Minha própria observação de milhares de sannyasins é que eles ainda estão lutando com seus pais, continuamente. O problema profundo deles é: seus pais lhes disseram para não fazerem algo — se eles o fizerem, sentem-se culpados; se eles não o fizerem, sentem que não são livres. De qualquer maneira, eles estão numa armadilha e ficam lutando. 

Uma pessoa se torna livre somente quando não está mais reagindo aos pais, quando essas vozes parentais desaparecem da consciência e não têm mais impacto desta ou daquela maneira e não criam reação contrária ou a favor. Você se torna uma pessoa madura quando é incapaz de ignorá-las e de ser indiferente a elas. 

As pessoas me perguntam: "Qual a definição de uma pessoa madura?" A pessoa que é livre de seus pais é uma pessoa madura. 

Jesus está certo quando diz a seus discípulos: "A menos que você odeie seus pais, você não será capaz de me seguir." Ora, um homem que prega o amor dizendo isso parece muito absurdo — mas ele está certo

Minha impressão é que a palavra "ódio" é uma má tradução do hebraico. Eu não conheço o hebraico, mas conheço Jesus. Por isso, digo que deve ser uma má tradução. Ele deve ter dito: "Seja indiferente, ignore, não se apegue mais." Ele deve ter usado algum termo que significa "seja desapegado" de seus pais, pois a palavra "ódio" não pode ser usada por muitas razões.

Uma coisa: se você odeia seus pais, você ainda não está desapegado, não está livre. Ódio significa que você é contra, assim eles ainda o controlarão de maneiras mais sutis: você continuará a fazer coisas que eles querem que você não  faça, pois você os odeia. Seus pais dizem: "não fume", e você continua a fumar, pois você os odeia. Esta é a maneira de você mostrar o seu ódio. Contudo, você está apegado, ainda está conectado. Você não foi capaz de se desconectar e ainda está acorrentado, ainda está segurando a saia de sua mãe; você ainda é infantil. 

Nem ame nem odeie — a voz parental precisa desaparecer. Você deve simplesmente observá-la desaparecer. 

Buda vai mais longe; ele diz: "A menos que você mate seus pais..." Ele não quer dizer que você deve matá-los em realidade, mas no fundo de seu ser você deve matá-los, abandoná-los, perdoar e esquecer. Não reaja à voz de seus pais dentro de você. 

(...) Observe dentro de você mesmo: o que você tem feito? Você ainda está lutando com seus pais, indo contra eles, fazendo algo que eles nunca quiseram que você fizesse, fazendo algo que os deixa com muita raiva? Você está brigando com seus sacerdotes e políticos? Então você permanecerá sob o poder deles.

O S H O 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A morte do velho e o nascimento do novo homem

O instinto de dúvida sempre esteve comigo... A dúvida sempre esteve comigo. Por isso, nenhum fanatismo, nenhuma cegueira ou devoção a uma única religião em particular pode acontecer. O resultado final de tudo isso foi que não cheguei a nenhuma conclusão, e fiquei cheio de perguntas e dúvidas. Não havia nenhuma resposta para nada. Qualquer resposta que houvesse pertencia aos outros, e eu não podia confiar na resposta de ninguém. As respostas dos outros só provocavam uma coisa em mim: o surgimento de cada vez mais perguntas. A resposta de ninguém podia tornar-se a minha. 

Assim, desde o começo, essa condição era perigosa, porque viver sem nenhum objetivo era muito inseguro. Eu nem mesmo tinha certeza que estava um palmo adiante, porque isso eu só podia vir a saber pelos outros. A respeito do caminho já trilhado, a pessoa pode saber positivamente, mas sobre o que está à frente do caminho e a pessoa não trilhou, só se pode saber pelos outros. Por isso não havia nenhum caminho claro para mim. Era tudo escuridão. Cada passo era dado na escuridão — ambíguo e sem objetivo. 

Minha condição era cheia de tensões, insegurança e perigo. Todos os meus parentes e amigos consideravam-me rebelde e indisciplinado por causa dessa condição. Lentamente as pessoas começaram a achar que eu era louco, tal a situação. 

Por menor que fosse a questão, havia dúvidas e nada além de dúvidas. Ficavam apenas perguntas e mais perguntas sem nenhuma resposta. Na opinião dos outros, tanto eu era bom quanto louco. Eu mesmo sentia medo de enlouquecer. Não conseguia dormir a noite. 

Durante a noite e o dia inteiro, as perguntas pairavam sobre mim. Não havia resposta para nada. Eu estava em alto mar, sem nenhum barco ou praia onde quer que fosse. Se havia algum barco, eu mesmo o negava e o afundava. Havia muitos barcos e muitos marinheiros, mas eu me recusava a entrar no barco de quem quer que fosse. Sentia que era melhor afundar do que entrar no barco de outro. Se era para isso que a vida estava me levando, para afundar a mim mesmo, então sentia que esse naufrágio também deveria ser aceito. 

A minha condição era de total escuridão. Era como se eu tivesse caído no fundo de um poço escuro. Naquela época eu sonhava muitas vezes que estava caindo, caindo, e entrava cada vez mais num poço sem fundo. E muitas vezes acordei de um sonho transpirando muito, todo molhado, porque a queda era infinita, sem nenhum chão ou lugar que pudesse apoiar meus pés. 

Não havia mais nada além da escuridão e da queda, mas aos poucos fui aceitando até isso. Senti muitas vezes que precisava concordar com alguém, devia me segurar em alguma coisa ou aceitar alguma resposta. Mas isso não estava de acordo com minha natureza. Nunca fui capaz de aceitar o pensamento de ninguém. 

Inevitavelmente, aconteceu também de não haver mais lugar dentro de mim para nenhum pensamento. Agora eu percebo que todas as minhas respostas nada mais eram que pensamentos. Se existem apenas perguntas, a pessoa deixa de pensar. 

Uma conclusão é um pensamento. Se não há conclusões, automaticamente cria-se um vácuo. Eu não sabia disso nessa época, mas uma espécie de vazio, um oco, surgiu por conta própria. Muitas perguntas ficavam girando. Mas por não haver respostas, elas desapareciam por exaustão e morriam. Eu não conseguia as respostas, mas as questões eram destruídas. 

Um dia surgiu uma condição inquestionável. Não que eu tenha recebido as respostas — não! Em vez disso, todas as questões caíram por terra e criou-se um grande vazio. Essa foi a SITUAÇÃO EXPLOSIVA. Viver assim era tão bom quanto morrer. E ASSIM MORREU A PESSOA QUE FAZIA PERGUNTAS. Depois dessa experiência do vazio, não questionei mais nada. Todos os assuntos onde as perguntas pudessem ser levantadas deixavam de existir. Antes, eram só perguntas e mais perguntas. Daí em diante, não restou mais nada que se assemelhasse a uma pergunta. 

Agora não tenho perguntas e nem respostas. Se alguém levanta uma questão, a resposta é  a que vem do meu vazio interior. Não posso dizer que a resposta seja minha porque nunca tive nenhum pensamento sobre ela. Não li a resposta antes. Também estou ouvindo a resposta pela primeira vez, ao mesmo tempo que o ouvinte. Assim como ele ouve pela primeira vez, eu também ouço. Não que eu seja o orador e ele o ouvinte, não que eu esteja dando e ele recebendo. A resposta vem, e nós dois somos ouvintes, ambos a recebemos. 

Por isso, se minha resposta amanhã for diferente  da que estou dando hoje, não sou responsável por isso porque não dei resposta alguma. O mesmo vazio de onde ela veio é responsável pela mudança. Não posso fazer nada. Portanto, você pode achar que sou inconsistente. Eu só poderia ser inconsistente se "eu" estivesse respondendo. Se há alguma inconsistência, é por causa desse vazio dentro de mim. Desde aquela experiência, nem eu fiz qualquer pergunta, nem vislumbrei qualquer resposta. Nessa explosão, o velho de ontem morreu. Este homem é absolutamente novo.

(...) Aqui, muitas pessoas pedem que eu escreva minha autobiografia. É muito difícil porque aquele sobre quem eu escreveria não sou eu. Tudo o que sei agora não tem estória. Não existe estória após a explosão; não há nenhum evento. Todos os eventos são anteriores à explosão. Depois dela há apenas vazio. Tudo o que existiu não sou eu e não é meu. 

O S H O 

Níveis de transmissão da mensagem

Quanto mais sábio é o homem, mais ele vive em níveis diferentes de sabedoria simultaneamente. Ele tem de viver assim porque precisa falar de acordo com o nível das pessoas que encontra. Caso contrário, nada do que ele disser terá significado. Se Buda falar com você a partir do nível mais elevado dele, será inútil. Você o tomará por louco. Aconteceu muitas vezes de pessoas como ele serem consideradas loucas. A razão disso é que tudo o que diziam parecia ter sido dito por um louco. Portanto, se eles falarem a partir do nível deles, serão tachados de loucos. 

Se tiverem de falar no seu nível, terão de descer. Terão de descer ao nível onde você possa entendê-los. Então não parecerão loucos. Portanto, têm de falar a partir de quantos níveis existirem entre as pessoas que forem ouvi-los. 

(...) É por isso que as afirmações de pessoas como Budas são encontradas em muitos níveis diferentes. Às vezes, uma só afirmação contém muitos níveis. É porque quando alguém como Buda começa a falar, o faz a partir de seu próprio nível, e quando pára de falar, desceu ao nível em que você está. Muitas vezes, numa só frase, há uma longa jornada — porque ele começa a falar a partir do nível em que ele está. Começa com grandes expectativas em relação a você; aos poucos, vai reduzindo suas expectativas e, nas suas últimas afirmações, chega ao nível em que você está. 

O nível dele e o seu representam duas profundas divisões, mas isso não significa que estejam distantes, separados ou diferentes. São como o mar e a onda. Ás vezes o mar pode existir numa onda, mas a onda jamais poderá existir sem o mar. A Não-Forma pode existir sem forma, mas uma forma jamais existirá sem a Não-Forma. 

O S H O 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Autobiografia não é a história da alma

Por que não escrevo minha autobiografia? Pode parecer muito interessante mas, na verdade, depois do Autoconhecimento, não existe autobiografia. Todas as autobiografias são 'egobiografias'. O que chamamos de autobiografia não é a história da alma. Enquanto você não souber o que é a alma, tudo o que escrever será egobiografia. 

É interessante notar que nem Jesus, nem Krishna, nem Mahavir, nem Buda escreveram suas biografias. Escrever ou falar de si mesmo não é possível para aqueles que conheceram suas almas, porque depois de conhecê-la a pessoa se transforma em alguma coisa tão sem forma que o que chamamos de fatos da vida, tais como quando nasceu, quando aconteceu determinado evento, se dissolvem. O que acontece é que todos esses fatos deixam de ter qualquer importância. O despertar de uma alma é tão cataclísmico que depois de acontecer, quando a pessoa abre os olhos, descobre que tudo se perdeu, Nada restou; não resta ninguém para falar sobre o que aconteceu. 

Depois que a pessoa conhece a sua alma, uma autobiografia parece uma versão onírica de si mesmo. É como se alguém escrevesse  um relatório de seus sonhos: um dia sonhou este sonho, outro dia aquele, e no dia seguinte um terceiro. Uma autobiografia dessas não tem mais valor do que uma fantasia, um conto de fadas. 

É por isso que é difícil para uma pessoa acordada escrever. Acordando e conscientizando-se, ela descobre que não há nada que valha a pena escrever. Foi tudo um sonho. Permanece a importância da experiência de tornar-se consciente, mas o que se conhece através dessa experiência não pode ser descrito. Reduzir uma experiência como essa a palavras faz com que pareça insípida e absurda. Mesmo assim, tenta-se sempre falar sobre a experiência de maneiras diferentes através de métodos diferentes. 

Por toda a minha vida eu continuarei falando sobre o que aconteceu. Não há mais nada a dizer, exceto isso. Mas isso também não pode ser escrito. Logo que se escreve, sente-se que não vale a pena falar a respeito. O que há para escrever? Pode-se escrever: "Tive uma experiência da alma. Sinto-me pleno de paz e felicidade." Parece absurdo — meras palavras. 

(...) O problema é duplo: o que pode ser dito parece um sonho e só o que não pode ser dito vale a pena dizer. Permanece sempre a sensação de que é inútil contar a você o que aconteceu comigo. Meu propósito é conduzi-lo àquele caminho que o levará à experiência em si. Só então, algum dia, você poderá entender e, contar o que aconteceu comigo diretamente, não servirá para nada. Eu não acho que você vá acreditar no que eu disser. E de que servirá levantar suspeitas? Será prejudicial. A melhor maneira é levá-lo àquele caminho, àquela margem, na qual você poderá ser empurrado para o lugar onde, algum dia, você mesmo terá a experiência. Nesse dia você poderá confiar. Saberá como acontece. Caso contrário não há como confiar.

O S H O 

A arte da escuta atenta é bem melhor do que a leitura

Uma afirmação sempre tem endereço certo. Aqueles que querem se dirigir às massas escrevem. É assim que eles se dirigem à multidão anônima. Mas quanto mais anônima é a multidão, menos coisas podem ser ditas. E quanto mais próxima e mais conhecida for a pessoa endereçada, mais profundo pode ser o diálogo. 

Verdades mais profundas só podem ser ditas a pessoas particulares. A uma multidão, apenas coisas temporárias e simples podem ser ditas. Quanto maior a multidão, menor será a compreensão; e quanto mais desconhecida for a multidão, maior a suposição de que nada será compreendido. Assim, quanto mais uma literatura for dirigida às massas, mais simples e rasteira será. Voar muito alto não é possível com esse tipo de literatura. 

(...) Minha dificuldade é que é difícil expor a Verdade mesmo para os melhores entre nós. Para os que são menos que os melhores, para os homens comuns, nem mesmo surge a questão de expor a Verdade. Só aqueles que estão entre os poucos escolhidos podem entender assuntos mais profundos. Mas mesmo entre esses poucos escolhidos, noventa e nove entre cem não entenderão o que eu digo. Assim, não faz sentido dizer tais coisas a uma multidão, e escrever é dirigir-se a uma multidão. 

Existem também outras razões para não escrever. Acredito que quando se muda o veículo usado, o conteúdo também muda. Mudando o veículo, o assunto-tema também muda. Mudando o veículo, o assunto-tema não permanece o mesmo. O veículo impõe as suas próprias condições e altera o que é dito. 

Não é facilmente compreensível. Quando estou falando,  é um tipo de veículo. Toda a linha de comunicação é viva. O ouvinte está vivo e eu também estou vivo. Quando estou falando, o ouvinte não apenas ouve: ele também vê. A alteração das expressões de meu rosto, as mudanças repentinas refletidas em meus olhos, meus dedos se erguendo e abaixando, tudo isto é visto por ele. Não só ouve as minhas palavras: também vê o movimento dos meus lábios. Não são apenas as minhas palavras que falam. Meus lábios também falam. Meus olhos também dizem alguma coisa. Tudo isso é assimilado pelo ouvinte. Na mente de um ouvinte, o conteúdo do que eu disse será diferente do que a mente de um leitor, porque tudo isso irá fazer parte dele. 

Quando alguém lê um livro, no meu lugar existem apenas letras e tintas pretas; nada mais. Eu e a tinta preta não somos equivalentes. Não existe dar e receber. Na tinta preta jamais aparecem gestos ou mudanças de expressão, jamais se criam cenas e quadros. Não existe vida; é uma mensagem morta. Quando alguém lê um livro, uma parte bastante significativa da mensagem que permanece viva enquanto estou falando, se perde. Nas mãos do leitor encontram-se apenas afirmações mortas. 

É interessante notar que um leitor pode ser menos atento do que um ouvinte. Quando alguém está ouvindo, o seu grau de atenção é muito maior do que quando lê. Enquanto se ouve, é preciso toda a atenção e concentração, porque o que foi dito não será repetido. Você não pode rever as partes não entendidas ou parcialmente entendidas; elas se perderam. A cada momento que estou falando, o que é dito perde-se num abismo infinito. Se você captou, captou. Se não, aquilo vai embora e não volta mais. 

Enquanto se lê um livro essa apreensão não existe, porque você pode ler reler as mesmas páginas quantas vezes quiser. Portanto, não é necessário estar muito atento enquanto lê. É por isso que as palavras começaram a ser escritas no dia em que a atenção diminuiu. Tinha de ser assim. 

lendo um livro, se você não entendeu alguma coisa, pode voltar as páginas e reler. Mas quando falo, não é possível voltar atrás. O que se deixou passar, perdeu-se. O conhecimento daquilo que é falado  perde-se para sempre quando se deixa passar e não pode ser repetido. Isso mantém a sua atenção ao máximo. Ajuda-o a manter a sua consciência a um máximo de alerta. Quando você lê devagar, se deixa passar alguma coisa não há prejuízo; pode ler outra vez. Com um livro, a compreensão é menor e a necessidade de repetir aumenta. Conforme a atenção diminui, a compreensão também diminui. 

Por isso, não foi sem razão que Buda, Mahavir e Jesus, todos preferiram falar para transmitir suas mensagens. Poderiam ter escrito, mas preferiram este veículo. Fizeram-no por duas razões: uma, porque a palavra falada é um veículo mais abrangente; pode-se dizer mais. Existem muitas coisas ligadas às palavras que se perdem na linguagem escrita. 

(...) Até agora não fomos capazes de descobrir como dar ênfase às palavras escritas. Se eu quero enfatizar alguma coisa quando falo, posso falar um pouco mais alto. Posso alterar as nuanças da minha voz; então a ênfase é transmitida. Mas com as palavras de um livro isso não acontece. As palavras estão mortas. Num livro, a palavra 'amor' é amor, tenha ela sido escrita por alguém que esteja ou não amando, por alguém que viva o amor ou nem mesmo saiba o que é o amor. Não existem nuanças, ritmo, ondas ou vibrações. As palavras estão mortas. 

(...) Sempre que alguém fala, cria imediatamente uma espécie de afinação, um contato com o ouvinte. A alma do orador aproxima-se logo da alma do ouvinte. As portas se abrem; as defesas do ouvinte começam a se relaxar. 

Quando você está ouvindo, se estiver bastante atento, o seu pensamento terá de parar. Quanto maior for a sua atenção ao ouvir, menos você pensará. As suas portas se abrem, você se torna mais receptivo ao outro. Agora, alguma coisa poderá entrar diretamente, sem obstruções; você e o orador tornam-se conhecidos um para o outro. Num sentido mais profundo, estabelece-se um relacionamento harmônico. A voz vem de fora e, ao mesmo tempo, ecoa profundamente dentro do ouvinte. 

Tal relacionamento não pode ser estabelecido quando se está lendo, porque o escritor está ausente. Ao ler, quando você não entende automaticamente alguma coisa, tem de fazer um esforço para entender. Mas ouvindo, você compreende sem esforço. 

Quando você lê um livro baseado no que eu falei, o qual tenha sido transmitido literalmente, acaba se esquecendo de que está lendo porque me conhece. Depois de alguns momentos, sente que não está lendo — mas sim ouvindo. Mas se as palavras forem mudadas e na redação o estilo for levemente alterado, o ritmo e a harmonia se quebrarão. Quando aqueles que já me ouvirão falar uma vez lerem as minhas palavras faladas, a leitura será a mesma coisa do que me ouvir. Mas existem diferenças porque, ainda assim, a mudança de veículo altera a intenção do que foi dito.

O S H O 

A razão só pode ser um instrumento, não a meta

Não podemos chegar à verdade pelo raciocínio. O raciocínio é a tentativa de ser coerente, e a verdade, por sua própria natureza, é incoerente. Você pode, entretanto, chegar à coerência pelo raciocínio. Pode raciocinar tão bem, de maneira tão lógica, que se tornará impossível derrotá-lo por argumentos. Mas perderá a Verdade.

Não sou filósofo ou um lógico, mas uso sempre a lógica. Uso com o único propósito de conduzir seu pensamento até o ponto no qual você possa ser destacado dele. Enquanto o raciocínio não for exaustivo., não será possível superá-lo. Estou subindo uma escada, mas ela não é o meu objetivo; terei de abandoná-la. Só uso o raciocínio para conhecer o que está além dele. Não quero estabelecer nada pela razão. Em vez disso, o que eu quero é provar sua inutilidade.

Minhas afirmações, entretanto, são incoerentes e ilógicas, por favor entenda que só estou usando um sistema que as faz parecer assim. Estou preparando o terreno para o que virá a seguir. Estou afinando os instrumentos; a música ainda não começou.

Minha música original e única começa onde a linha divisória entre a razão e a não-razão desaparece. Assim que os instrumentos estiverem afinados, a música começará. Mas não interprete mal a afinação para a música; ou acabará criando dificuldades.

(...) O raciocínio é só uma preparação para o que está além. Uma das dificuldades que tenho é que aqueles que aprovam o meu raciocínio descobrirão daqui a pouco que os estou atirando numa área de escuridão. Até onde o raciocínio é visível há luz e as coisas parecem claras e brilhantes. Mas então alguém dirá que eu prometi a luz e agora estou falando em conduzi-lo para a escuridão. Essa pessoa ficará descontente comigo e dirá: "Gosto do que você disse até agora, mas não posso prosseguir com você." Ela confiou em mim por eu ter racionalizado a Verdade, mas então digo que ela tem de ir além do raciocínio para chegar à Verdade.

Os que acreditam na fé também não me aceitarão, não me seguirão, não caminharão comigo, porque querem que eu fale somente sobre mistérios incompreensíveis. Esses dois tipos de indivíduos terão problemas comigo. Os que creem na razão irão comigo até um certo ponto, enquanto aqueles que acreditam na fé, que creem no irracional, não me seguirão de modo algum, nunca compreenderão que só depois de me acompanharem até certo ponto, poderei levá-los ao não-pensamento.

Eu entendo isso. A vida é assim. A razão só pode ser um instrumento, não a meta. Eu farei sempre afirmações ilógicas depois de ter falado sobre assuntos absurdamente ilógicos. Essas afirmações parecerão incoerentes, mas foram muito bem pensadas e não são feitas sem razão. Da minha parte, existe uma razão clara.

O S H O 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Você não é uma pessoa

Deus não é uma pessoa. Mil e uma dificuldades surgiram porque o homem sempre considerou Deus como uma pessoa. Todos os problemas com os quais a teologia se preocupa são apenas exercícios fúteis — basicamente porque Deus é tomado como uma pessoa. 

Deus não é uma pessoa e não pode ser — permita que isso penetre o mais fundo possível em você, pois está será uma porta, uma abertura. É difícil principalmente para os que foram educados como judeus, cristãos e muçulmanos conceber Deus como qualquer coisa que não seja uma pessoa — isso se torna um fechamento. 

(...) Deus como pessoa é uma tolice, o conceito inteiro é tolo. E Ele não pode ser uma pessoa porque tem de ser todas as pessoas — como Ele pode ser uma pessoa? Não pode ser alguém porque é todos, e não pode estar num lugar determinado porque está em toda a parte. Não se pode defini-Lo, e a personalidade é uma definição. Não se pode limitá-Lo, e como uma pessoa Ele se torna limitado. A personalidade é como uma onda que vai e vem, e Ele é como o oceano. É imenso — Ele permanece. Personalidades vão e vêm, elas são formas; estão presentes e logo depois não estão mais. As formas mudam; as formas mudam constantemente para os opostos e Deus é a ausência de forma. Não pode ser definido, não se pode dizer quem Ele é. Ele é tudo. Mas no momento em que você diz: "Ele é tudo", cria um problema: como se comunicar? Não há necessidade; não é possível comunicar-se com Ele como pessoa. Você tem de se comunicar com Ele nua dimensão totalmente diferente — a dimensão da energia, a dimensão da consciência, não dá personalidade.

Deus é energia. É consciência absoluta. Deus é graça, é êxtase; indefinível, ilimitado; não tem começo nem fim; para todo o sempre, eterno, atemporal, além do espaço — porque Deus significa totalidade. 

(...) Por causa do conceito de Deus como pessoa, tivemos de criar um Demônio contraposto a Deus, devido a todas as negatividades! —onde você as colocaria? Você tem de criar alguém sobre quem seja possível jogar todas as negatividades. Então o seu Deus torna-se falso, e o seu Demônio também torna-se falso, pois o negativo e o positivo coexistem, não estão separados. Mas tudo o que você gosta põe do lado de Deus, e tudo o que não gosta põe do lado do Demônio. A divisão é sua. 

Deus não pode ser dividido — Ele é indivisível. 

Primeira coisa: Deus não é uma pessoa. E lembre-se: você também não é uma pessoa. Isso é ignorância, é auto-ignorância: é por isso que você parece ser uma pessoa. Se você for mais fundo, logo a personalidade começará a ficar embaraçada; chegará um momento no qual você não saberá quem é. Você já deve ter observado isso: às vezes, quando alguém o desperta subitamente, acontece de, de repente, você não saber onde está — se é de manhã ou de noite, se está em sua casa ou em algum outro lugar, que cidade é; por um momento tudo fica confuso, não tem noção de espaço, não tem noção de tempo, e você não sabe quem você é. Por que isso acontece? Porque dormindo profundamente você se move para o centro, é claro inconscientemente, mas no centro não existe personalidade — existe uma energia impessoal. E se de repente alguém o desperta, você tem de se mover do centro para a periferia tão depressa, que simplesmente não há tempo para recobrar a personalidade. Nessa pressa você simplesmente perde a identidade — e essa é a sua realidade, é isso o que de fato você é. 

Em profunda meditação, cada vez mais você se tornará consciente do indefinível, do ilimitado. No começo se parecerá com um fenômeno anuviado, e você poderá sentir medo, ficar assustado. O que está lhe acontecendo? Está perdendo a cabeça? Está ficando louco? Se você sentir medo, perderá. Não se preocupe, é natural — você está se movendo do definido ao indefinido; no meio haverá um terreno onde tudo será confuso. 

(...) Deus é energia e se você não estiver preparado ela pode ser destrutiva. Deus é uma energia tão infinita e vital que, se o seu veículo não estiver pronto, você simplesmente quebrará. Portanto, a questão não é apenas conhecer Deus. A questão mais profunda é estar pronto antes de poder dizer: "Agora venha", antes de poder convidá-Lo — pois você é tão pequeno e Ele é tão vasto. É como se uma gota de água convidasse o oceano para entrar. O oceano pode vir a qualquer momento, mas o que acontecerá à gota? Ela tem de atingir uma capacidade, uma receptividade infinita, a ponto do oceano se abandonar e desaparecer dentro da gota sem que ela seja esfacelada. Esta arte é grandiosa, esta arte é Religião, Yoga, Tantra, ou seja qual for o nome que você queira dar.

O S H O 

domingo, 30 de novembro de 2014

A busca da felicidade é uma busca do auto-esquecimento

Existem apenas dois tipos de pessoas: uma que está em busca da felicidade; é o tipo mundano. Pode ir para o mosteiro, mas o tipo não muda; lá, ele também pede pela felicidade, pelo prazer e gratificação. Agora, de maneira diferente — através da meditação, da prece, de Deus — está tentando ser feliz, cada vez mais feliz. Há, depois, o outro tipo de pessoa — e só existem dois tipos — a que está em busca da verdade. E isso é um paradoxo: aquele que busca a felicidade, nunca a encontra, pois ela não é possível a menos que você encontre a verdade. A felicidade é apenas uma sombra da verdade; em si mesma não é nada — é apenas uma harmonia. 

Quando você se sente uno com a verdade, tudo se agrega, tudo se harmoniza. Você sente um ritmo — e esse ritmo é felicidade. Não se pode buscá-la diretamente. 

A verdade tem de ser procurada. A felicidade é encontrada quando se encontra a verdade, mas a felicidade não é o objetivo. E se você buscar a felicidade diretamente, será cada vez mais infeliz. E sua felicidade será, no máximo, apenas um intoxicante para que você esqueça a infelicidade; é só o que vai acontecer. A felicidade é como uma droga — LSD, maconha, mescalina. 

Por que o Ocidente chegou às drogas? É um processo muito racional. Teve de chegar a elas porque, na sua busca de felicidade, mais cedo ou mais tarde chega-se ao LSD. O mesmo aconteceu antes na Índia. Nos Vedas, eles chegaram ao soma, ao LSD, porque estavam buscando a felicidade; não eram realmente buscadores da verdade. Buscavam a mais e mais gratificação — chegaram ao soma. Soma é a suprema droga. E Aldous Huxley, falando sobre a suprema droga, a ser encontrada em algum lugar no século vinte, chamou-a outra vez de 'soma'. 

Sempre que uma sociedade, um homem, uma civilização, buscam a felicidade, têm de chegar de alguma forma às drogas — porque a felicidade é a busca pelas drogas. A busca da felicidade é uma busca do auto-esquecimento; é isso o que a droga ajuda a fazer. Você esquece de si e assim não há mais miséria. Como pode haver miséria se você não está? Você está dormindo profundamente. 

A busca da verdade está exatamente na dimensão oposta: não é gratificação, não é prazer, não é felicidade, mas — Qual é a natureza da existência? O que é a verdade? Um homem que busca a felicidade nunca a encontrará — encontrará, no máximo, o esquecimento. Um homem que busca a verdade a encontrará, porque para buscá-la ele próprio terá de se tornar verdadeiro. Para buscar a verdade na existência, primeiro terá de buscar a verdade em seu próprio ser. Terá de se tornar cada vez mais atento em relação a si mesmo

Estes são os dois caminhos: o auto-esquecimento — o caminho do mundo; e a lembrança de si mesmo — o caminho de Deus. E o paradoxo é que aquele que busca a felicidade nunca a encontra; e aquele que busca a verdade e não se importa com a felicidade, encontra-a sempre. 

(...) O autoconhecimento tem que ser a única busca, tem que ser o único objetivo; porque se você conhecer todo o resto sem conhecer a si mesmo, isto não significará nada. Você pode chegar a conhecer tudo, exceto você mesmo, mas o que isso significa? Não pode ter nenhum significado — porque se o próprio conhecedor é ignorante, o que pode significar esse conhecimento, o que seu conhecimento pode lhe dar? Quando você mesmo permanece na escuridão, pode reunir milhões de luzes à sua volta mas elas não o preencherão de luz. Apesar delas você continuará na escuridão. Viverá e se moverá na escuridão. A ciência é esse tipo de conhecimento. Você conhece um milhão de coisas mas não conhece a si mesmo

Ciência é conhecimento de tudo menos de si mesmo, exceto do autoconhecimento; o próprio buscador permanece no escuro. Isso não adianta muito. A religião é basicamente auto-conhecimento. Você tem de estar iluminado por dentro, a escuridão deve desaparecer do seu interior, e então por onde quer que você ande, a sua luz interior incindirá sobre o caminho. Onde quer que você vá, faça o que fizer, tudo será iluminado pela sua luz interior. E esse movimento com luz lhe dá um ritmo, uma harmonia, que é a felicidade. Então você não tropeça, não esbarra, não tem mais conflitos. Você se move mais facilmente, seus passos são uma dança, e tudo é satisfação. Você não quer mais que alguma coisa extraordinária aconteça. Você é feliz. É simplesmente feliz no seu ser comum. 

E a menos que você se sinta feliz sendo comum, jamais será feliz. 

Você é feliz apenas por respirar, você é feliz por ser; é feliz apenas por comer, por dormir mais uma noite. Você é feliz. Agora a felicidade não deriva de nada — ela é você. Um homem que se conhece é feliz, não por qualquer razão, sua felicidade não tem causa. Não é uma coisa que lhe acontece, é toda sua maneira de ser. É simplesmente feliz. Para onde quer que se mova, leva consigo sua felicidade. Se você o atira no inferno, ele cria à sua volta um paraíso; com ele, um paraíso penetra no inferno. 

Como você é, ignorante de si mesmo, se pudesse ser jogado no paraíso, conseguiria criar um inferno, porque você carrega consigo o seu inferno. Vá onde for, isso não fará muita diferença, você terá à sua volta o seu próprio mundo. Esse mundo está dentro de você, é a sua escuridão. 

Essa escuridão interior precisa desaparecer — é isso o que significa autoconhecimento.

O S H O 

Autoconhecimento não é tranquilizante: é demolição


O medo existe. Tem de ser abandonado. Lembre-se: antes de alcançar a suprema graça você terá de passar por um longo sofrimento. Antes de alcançar o infinito, o eterno, você terá de passar pelo temporal, por toda a história do homem. É inerente, está em todas as células do seu corpo, em todas as células da sua mente e cérebro — e você não pode evita isso. Todo o passado está aí com você, está em você, tem de ser atravessado. É um pesadelo, e um pesadelo muito, muito longo, milhões de anos, mas é necessário passar por ele — essa é a dificuldade. 

O sofrimento tem de ser vivido; esse é o significado de Jesus na cruz. Através do sofrimento ele alcança a ressurreição; através do sofrimento você alcançará o autoconhecimento. Portanto, não tente evitá-lo — não é possível evitá-lo. Quanto mais o fizer, mais oportunidades estará perdendo. Enfrente! Não há nada a ser feito, a não ser enfrentá-lo. E quanto mais intensamente você o enfrentar, mais depressa ele desaparecerá. 

Chega um momento em que você está absolutamente pronto para enfrentá-lo, seja ele o que for — você abandona todas as imagens. Até mesmo num único momento de intenso estado de alerta, você pode chegar ao centro. Mas nesse único momento você terá de sofrer todo o passado da humanidade, toda a história; você terá de sofrer tudo o que aconteceu. 

Conta-se, você já deve ter ouvido, que se uma pessoa afunda nas águas do mar ou de um rio, numa única fração de segundos relembra todo o passado desde o nascimento, as dores do parto — num instante, num 'flash', a vida inteira passa. Isso é verdade. E o mesmo acontece quando você alcança o momento do samadhi, a morte suprema, quando o ego morre completamente. Isso acontece! Mas num único instante você sofre todo o passado da humanidade, não o seu próprio. Esta é a cruz. Você sofre todo o passado da humanidade, porque agora está transcendendo a humanidade. Tem de passar por tudo o que a humanidade já viveu. Tem de sofrer tudo isso. É imenso! A angústia é absoluta! E só então você chega ao centro e a graça torna-se possível. 

O autoconhecimento é difícil porque você não está pronto para passar por nenhum sofrimento. Você pensa no autoconhecimento em termos de tranquilizantes; pensa que o autoconhecimento é tranquilizante. As pessoas vêm a mim e pedem: "Dê-nos a paz, o silêncio." E se alguém promete o silêncio e a paz sem sofrimento, está enganando-o — e facilmente você cairá na armadilha, porque isso é o que você gostaria de ter. Esse é o apelo usado no ocidente por pessoas como Maharashi Mahesh Yogi. Eles não estão lhe dando meditação real, estão lhe dando tranquilizantes. Porque uma meditação tem de passar pelo sofrimento; não é uma brincadeira. 

Você tem de atravessar o fogo e só nesse fogo o seu ego desaparecerá. Olhando para toda a sua feiura, ela desaparece automaticamente. 

Mas Maharishi Mahesh Yogi e outros dizem que o sofrimento é desnecessário: "Eu lhe darei uma técnica — faça tal coisa durante dez minutos de manhã e à tarde e seu ser se tranquilizará. Você sentirá uma paz infinita e tudo ficará bom; em poucos dias você estará iluminado."

Não é tão fácil — é árduo. Truques não funcionarão. Não perca seu tempo com truques.Apenas repetindo um mantra durante dez minutos, como é possível tornar-se Iluminado? 

Você passou pela história e chegou a um ponto, aqui, você chegou a este momento; atravessou milhões de anos — quem vai querer voltar atrás? Porque meditar significa retornar à fonte. Você chegou a este ponto no tempo; precisa voltar, precisa regredir, precisa alcançar o ponto original onde a jornada foi iniciada. E apenas cantando um mantra durante dez minutos toda manhã você pensa que conseguirá isso?

Quem você pensa que está enganando? Você está enganando a si mesmo. Não foi cantando mantras que você chegou onde está. A humanidade viveu, e viveu de milhões de maneiras erradas — vagando, se perdendo, cometendo pecados e assassinatos; guerra, exploração, opressão, dominação. Você tem colaborado com isso, é responsável por isso. Só cantando um mantra durante dez minutos acredita que a responsabilidade desapareceu, que você transcendeu? Chama a essa cantilena de meditação transcendental? Quem você pensa que está enganando? 

A transcendência é possível, mas não através de truques tão fáceis. A transcendência só é possível através da cruz. Só é possível através do sofrimento. E se você estiver pronto, poderá sofrer todo o passado num só instante — mas será um intenso pesadelo. É por isso que um Mestre é necessário — porque você pode enlouquecer completamente. É mover-se em terreno perigoso. O autoconhecimento é a maior entre todas as coisas, mas é também a mais perigosa. Um passo em falso e você enlouquecerá. É por isso que os Budas não são ouvidos. Você também sabe que isso é perigoso. Mover-se em si mesmo é perigoso! Um Mestre é necessário para observar cada passo, senão você cairá num abismo; ficará tonto, a mente simplesmente se fragmentará e será difícil repará-la. 

São esses os problemas, e é por isso que o homem ouve Heráclito, Lao Tsé, Buda, Jesus, mas nunca tenta. Somente alguns poucos tentam. Se você está pronto para tentar, precisa ter consciência do que isto significa. Apenas o desejo de ser feliz não basta. O desejo de conhecer a verdade, sim, não o desejo de ser narcóticos. A meditação também será um narcótico para ele. Quer dormir bem, quer se desligar do que está acontecendo. Ele gostaria de ter um mundo privado de sonhos — é claro, belos sonhos e não pesadelos. Isto é só o que ele quer. Mas um homem que está em busca da verdade não pensa em termos de felicidade. Felicidade ou infelicidade não é esse o ponto. "Preciso conhecer a verdade. Mesmo que doa, mesmo que me conduza ao inferno, estou pronto para passar por ela. Onde quer que me conduza, estou pronto para ir."

O S H O

Sem passar pela periferia do ego, não chega-se ao centro do Ser

Se você quer conhecer a si mesmo tem de abandonar suas falsas imagens, tem que se ver como você é — e isso não é muito bonito, esse é o problema. Não é muito bonito, e é por isso que você criou belas imagens — para se esconder. Se você se vir na sua nudez total, não verá uma cena muito bonita: verá raiva, verá ciúme, verá ódio, verá milhões de coisas erradas ao seu redor. E você se considera um grande amante — e tem ciúme, possessividade, ódio, raiva, e todos os tipos de negatividade. Você se considera uma pessoa muito bonita — mas quando entra dentro de si mesmo, encontra a feiura... e imediatamente dá as costas.

É por isso que há milhares de anos os Budas têm ensinado: "Conhece-te a ti mesmo." Mas ninguém os ouve. Conhecer-se parece ser uma coisa tão difícil — por que? Porque você tem de enfrentar fenômenos feios. Eles existe e é preciso passar por eles. Você tem um belo ser interior, mas esse belo ser não está na periferia, está no centro. Para alcançar o centro, você tem de passar pela periferia. E você não pode fugir, não há como escapar, é preciso passar por ela. Você tem de atravessar toda a feiura, toda a negatividade, ódio, ciúme, violência, agressão, e se estiver pronto e maduro o suficiente para passar pela periferia, só então alcançará o centro. Aí a cena muda. 

No centro você é Deus; na periferia, é o mundo — e o mundo é feio. Na periferia você nada mais é que uma sociedade em miniatura, e a sociedade é feia. Na periferia você é um Napoleão, um Hitler, um Gengis Khan, um Timur Leng, todos os políticos e todos os loucos do mundo. Na periferia você é uma miniatura de tudo isso; é toda a história da agressividade, da violência, da opressão, da escravidão. Na periferia, lembre-se, você é a história que pertence a este mundo. Tudo está envolvido; tem de ser assim porque a mente não lhe pertence, é um produto social. A mente carrega todos os germes do passado, todos os males do passado, toda a feiura do passado, porque a mente pertence ao coletivo. Existem determinados momentos em que você pode ver ou observar o seu próprio Gengis Khan, o seu próprio Hitler. Existem momentos em que você pode ver que gostaria de assassinar, de matar e destruir o mundo inteiro.

Você precisa ser corajoso para passar pela periferia, para ser uma testemunha. E se você conseguir penetrar nessa periferia, nessa sociedade, na história, então você será, no centro, o próprio Deus. Há então uma beleza infinita — mas essa beleza infinita é intocável pela sociedade, não é a periferia. Então você é inocente como um recém-nascido, fresco como uma gota de orvalho pela manhã, incontaminado. Mas para chegar a isso, você tem de passar por toda a feiura. Toda a história do homem tem de ser atravessada. Você não pode simplesmente evitá-la. 

É isso que você tem feito. E é por isso que o autoconhecimento tornou-se difícil — você quer evitá-lo. A única maneira de evitá-lo é fechar os olhos, não ver. Criar como contrapartida um sonho privado. Olhar para você como você gostaria de ser — todos os ideais, utopias, belas imagens. Fazer um pequeno nicho perto da periferia — bonito, enfeitado — e não olhar para a periferia, ficar de costas para ela... Você tem medo de sair do seu lugar enfeitado, porque bem perto dele está o vulcão — entrará em erupção a qualquer momento. Assim, as pessoas falam sobre o autoconhecimento, discutem a respeito, escrevem sobre ele, criam sistemas, mas nunca o experimentam. Mesmo os que estão sempre falando em conhecer o ser, falam apenas nisso, argumentam a respeito, discutem, mas nunca o experimentam na realidade efetiva. E o autoconhecimento é uma experiência existencial, não uma teoria. Teorias não funcionarão. Teorias também serão apenas parte de sua decoração. Elas não quebrarão o gelo. Elas não romperão a periferia. Não o levarão para o centro. 

Você ouve as pessoas: se elas dizem que você é Deus, você se sente muito feliz; se dizem que você é uma alma eterna, você se sente muito feliz. Mas você pinta e enfeita essas teorias também. Elas também são um truque são fugas — não o ajudarão. Ande pela Índia. Todos sabem que o mundo todo é parte de Deus, todos são 'brahmans'. E veja como suas vidas são feias. Olhe para a vida dessas pessoas que falam sobre Deus; você não encontrará nem uma única partícula, nem mesmo uma partícula atômica daquilo que elas estão dizendo. Elas não falam para convencê-lo, mas sim para convencerem a si mesmas. Entretanto, continuam na periferia e também sentem medo de se mover.

O S H O  

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Todo desejo de pertencer é ilusório

Amado Bhagawan, às vezes vem um sentimento de não pertencer a lugar nenhum, que mesmo as roupas laranja e o mala não servem de consolos. Nós somos realmente tão sós, eu estou sendo negativa e fechada quando sinto isso?
Primeiro: você não pertence a lugar algum; isso é verdade. Todo desejo de pertencer é ilusório. A própria ideia de pertencer cria organizações, cria igrejas, pois você não pode ficar sozinho; então quer mergulhar em algum lugar, numa multidão.

Um sannyasin é aquele que aceitou a própria solidão. Isso é fundamental. Tornando-se um sannyasin, você não está se tornando parte de uma organização; isto aqui não é absolutamente uma organização. Tornando-se um sannyasin, você está se tornando suficientemente corajoso para aceitar um fato: que o homem existe na solidão. E isso é tão fundamental que não há jeito de escapar; é fundamental como a morte. Na verdade, a morte não faz mais do que avisá-lo de que você sempre esteve sozinho e que continua sozinho.

O que é a morte? Durante toda a sua vida você esteve se enganando dizendo para si mesmo que estava com alguém, que pertencia a uma família, a um clã, a uma sociedade, a uma cultura, ao Oriente, ao Ocidente, a uma organização, a um partido... a multidões e multidões. Você se sentia muito bem: "Não estou sozinho".

Então vem a morte e deixa você chocado.Você quer se apegar, começa a chorar, sente-se desamparado. Um sannyasin não se sentirá desamparado quando a morte vier, e, sim, perfeitamente feliz, pois a morte não o deixará chocado. O sannyasin sabe que está sozinho. A morte não pode lhe tirar nada; ela só tira as ilusões que você colocou em sua vida.

Tornar-se um sannyasin significa que você anulou a morte, e pode lhe dizer: "Agora pode vir, que não encontrará nada para destruir, pois eu mesmo destruí tudo." O sannyas é uma morte voluntária, é um suicídio espiritual. É uma declaração: "Estou só, e minha solidão é tão fundamental que não há jeito de perdê-la."

Por momentos você pode esquecer, pode apaixonar-se por uma mulher ou por um homem, e criar a ideia, a ilusão de que está junto. Mas ambos estão sós. Quando duas pessoas se apaixonam, casam-se e começam a viver juntas, são duas solidões vivendo juntas: só isso. Elas não estão juntas; ninguém pode estar junto. Isso não pode acontecer, e é bom que não possa acontecer, senão você perderia a sua alma e não teria mais centro.

Duas pessoas que se amam tocam o ser uma da outra, mas seus seres continuam límpidos e separados. Seus limites podem se sobrepor mas seus centros permanecem distantes. Elas não perdem suas almas; do contrário, o amor não seria belo. Dois amantes não estão juntos no sentido de estarem perdidos um no outro, mas no sentido de que duas solidões estão juntas; de mãos dadas, eles sabem perfeitamente que estão sozinhos, compartilhando a sua solidão, a sua beleza, o seu silêncio, o seu amor, mas sabendo que estão sozinhos. Esse fato é tão fundamental que não pode ser mudado.

As pessoas tentam evitar isso. Da mesma forma que tentam evitar a morte, tentam evitar a solidão.

O S H O em, A Divina Melodia

Deixe de proteger seu próprio estado de miséria

No Japão, existe uma árvore de quatrocentos anos com apenas seis polegadas de altura. A árvore foi plantada num pires quatrocentos  anos atrás, e o homem que a plantou estava sempre cortando-lhe as raízes. Nunca deixaram as raízes crescerem e o pires tinha só um pouquinho de terra. se tivesse deixado a árvore crescer naturalmente, teria alcançado as nuvens. 

A mesma cosia aconteceu com o homem; suas raízes têm sido cortadas. Não lhe é permitido tocar as nuvens, nem dançar ou cantar. Só um pouquinho é permitido, mas isso é tão controlado que é quase insignificante. 

Tantas leis e regras são impostas, que quando algo  é permitido é quase insignificante, é apenas uma gota, e não uma cascata exuberante. E você só pode ser feliz quando sua energia está transbordando, quando ela é tanta que não há mais limites. William Blake disse: "A energia é um deleite." E a energia foi reprimida; a sociedade criou o amortecedor. 

O amortecedor tem que ser quebrado, e é isso o que estou fazendo aqui. Por isso as pessoas estão bastante contra mim. Estou tentando ajudá-las a serem felizes, mas elas protegem a própria miséria; elas não querem ser felizes. Querem continuar a ser hindus, cristãs, muçulmanas; não querem ser felizes.  Querem pertencer a alguma organização, e não a Deus. E continuam fazendo algo que é basicamente contra elas próprias. Não só os outros, mas você também continua cortando suas próprias raízes. Você foi ensinado a fazer isso; suas mãos agem quase inconscientemente. 

O homem está em profundo sono; está hipnotizado. Por isso você continua a viver desse jeito: na miséria, na infelicidade, na agonia. A mesma energia pode tornar-se êxtase; libere-a! Seja você mesmo e esqueça o que os outros têm tentado fazer de você. Declare-se livre! Deixe que a liberdade seja sua primeira e última lei; que a liberdade seja a sua religião. E seja rebelde. Mas não estou dizendo para lutar contra a sociedade, pois isso é tolice; você só estaria desperdiçando a sua energia. 

Essa é a diferença que faço entre uma pessoa rebelde e uma revolucionária. O revolucionário é um reacionário; ele reage contra a sociedade, luta contra ela. Primeiro ele era infeliz porque a sociedade pesava sobre ele; agora é infeliz porque tem que lutar contra a sociedade. Primeiro ele seguia a sociedade; agora ele luta contra ela, mas continua obcecado pela sociedade. Um revolucionário não é realmente um rebelde. 

Que é rebelde? Rebelde é aquele que compreendeu todo o absurdo da sociedade e simplesmente pulou fora disso. Aparentemente, ele pode continuar fingindo que também pertence à sociedade. Ele é uma pessoa "esperta", que Gurdjieff costumava chamar de "pessoa que age em segredo". Ele é inteligente; nem ortodoxo nem revolucionário, apenas rebelde. Sua rebelião é inteligente: se a sociedade diz para andar pela direita, ele anda pela direita, pois sabe que não adianta lutar contra isso; é insignificante. 

Na superfície ele continua seguindo a sociedade, mas no fundo está fora, está vivendo sua própria vida. Ele não vai ao mercado exibir felicidade pois, se fizer isso, os outros o matarão, o crucificarão. Eles fizeram isso com Jesus, com Sócrates, com Mansur, e não deixarão você em paz também. 

(...) Não comece a lutar contra a sociedade, senão você ficará em dificuldades, e a felicidade irá novamente para longe, tão longe quanto antes. primeiro você estava seguindo a sociedade e não podia ser feliz. Agora você luta contra a sociedade, e ela o coloca na cadeia, ou tenta esmagá-lo, e você continua infeliz. 

A pessoa rebelde é muito esperta. Ela escapa de uma forma tão silenciosa que não faz nenhuma ondulação na superfície... e começa a viver sua vida provada à sua maneira. É isso que ensino a vocês; não ensino a serem revolucionários e, sim, rebeldes. Uma pessoa religiosa é uma pessoa rebelde. 

O S H O em, A Divina Melodia

sábado, 22 de novembro de 2014

Escuta atenta é ir além dos limites das palavras

O que estou dizendo não é exatamente uma doutrina. Ao contrário, não estou transmitindo nada a seu intelecto, mas estou tentando fazer alguma coisa vibrar em sua intuição. Não é uma comunicação verbal. Ao lado da comunicação verbal, algo maior e mais profundo acontece entre eu e você: O NÃO-VERBAL. O dito não é a coisa real, e sim o NÃO-DITO, as pausas, os intervalos. Se você ouvir apenas minhas palavras, também estará perdendo o significado do que digo, que está mais nas pausas, nos silêncios. Por isso, você não tem que ouvir apenas as minhas palavras, mas também o silêncio que envolve as palavras. Isso só é possível numa profunda confiança e amor. 

Apenas o silêncio também não serve. O silêncio é o primeiro requisito: ouvir meditativa e conscientemente; mas apenas isso não resolve. Você tem que ouvir com enorme confiança, amor e simpatia. Tem que participar comigo, pois o que estou dizendo não são silogismos ou afirmações lógicas. É uma canção, não um silogismo. Não é lógica, mas amor, o que estou derramando sobre vocês. Uma palavra bem ouvida, ou mesmo um momento de silêncio, pode levá-lo a um voo infinito. 

Se você ouvir bem, o que estou dizendo não é uma filosofia, nem um dogma ou doutrina. Não estou tentando convencê-lo de nada; não sou absolutamente um professor. Meu trabalho é totalmente diferente, qualitativamente diferente. Todo esforço aqui é para que eu possa entrar em contato com a essência do seu ser. As palavras são usadas como um truque, uma ponte. Mas você não deve dar muita importância às palavras. Vá mais fundo, olhe os gestos. O que eu digo tem que ser ouvido, mas o que é deixado sem dizer tem que provocar uma VIBRAÇÃO em seu ser. Falo para criar ONDAS em sua consciência. As palavras estão sendo usadas como pedrinhas jogadas num lago, provocando ondas. Sua consciência está profundamente adormecida, por isso quero criar ondas, para que a vida volte à você, para que você comece a fluir, e uma dança interior se inicie... E tudo o que digo nunca é completo; não pode ser, por sua própria natureza. 

(...) Tudo o que digo nunca está completo. É apenas uma indicação, uma empurradela, um dedo apontado para a lua. Esqueça o dedo e olhe para a lua; lá está a mensagem. Ela não está no dedo. Minhas palavra são indicadores do SILÊNCIO SEM PALAVRAS... e eu apenas começo, vocês completam. 

Por isso muitas pessoas que se acostumaram demais com a lógica se sentem um pouco atordoadas comigo, perdidas... Elas sentem que eu nunca completo nada, que as conduzo a um caminho, mas nunca chego a conclusões, que começo alguma coisa e sempre paro no meio. E isso é verdade, pois não quero destruir sua criatividade. Eu gostaria de participar com vocês, ajudá-los a serem criativos. Não posso fazer o trabalho por vocês; isso não seria amigável nem compassivo. Posso começar, cantar uma canção, e vocês continuam cantando e completam a canção. 

O S H O 

O louco está dentro de você

Você apenas ouve a sua própria mente, o seu tagarelar. É tudo bobagem. Você é quase um insano e continua escutando sua própria insanidade, continua ruminando-a sem parar. Aquilo que você chama de pensar não passa de um remoer as mesmas coisas incessantemente. Algum dia, experimente escrever num papel tudo o que lhe vem à mente. Não tente melhorar nada, nem preencher os espaços. Você ficará surpreso como a mente pula de uma coisa para outra, sem nenhum sentido; é apenas um monte de lixo. E você não terá coragem de mostrar esse papel a ninguém, pois quem o ler dirá que algum louco fez aquilo. Esse louco está dentro de você... você é um louco e, por causa dessa loucura e do constante ruído dentro de sua mente, você não pode ouvir a flauta e Deus está sempre tocando a sua flauta.

O S H O

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Deus não pode ser um objeto de curiosidade

Você tem que estar tremendamente faminto. Não pode ser apenas uma curiosidade. Deus não pode ser um objeto de curiosidade; Deus não pode ser um objeto de seu pequeno desejo. Deus não é a satisfação de uma vontade, não é um sonho seu. Deus tem que ser como uma chama em suas entranhas. Quando você começar a sentir que nada mais importa, quando Deus é a prioridade máxima e você está pronto a sacrificar tudo, quando Deus se torna um desejo tão urgente, absorvente, que até mesmo a vida não tem mais sentido sem Deus — só então você chegará a Ele. E aí, não há necessidade de ninguém que o ajude; seu desejo fará o trabalho.

Nessa sede premente, nessa intensidade, tudo o que é escuro em você desaparece. Nessa chama, tudo o que é inútil é consumido. Você se torna ouro puro.

Deus é sua realidade, assim como a minha realidade. Deus é a sua realidade assim como era a de Jesus Cristo ou de Gautama Buda. A diferença é que você AINDA não é capaz de separar o trigo do joio; o trigo está em você, mas há muito joio misturado. Num tremendo desejo de conhecer, de ser, o joio é exterminado — e não há outra maneira.

Quando você vai a um Mestre, ele, na verdade, não o ajuda a chegar a Deus: ele o ajuda a se tornar cada vez mais sedento. Ele o ajuda a se tornar cada vez mais intensamente faminto. Ele lhe dá sede e fome; ele lhe dá uma paixão louca pelo impossível.

Um homem veio até Buda e perguntou: "Se eu o seguir, serei capaz de conhecer a verdade?" Buda disse: "Isso não é certo; não posso garanti-lo. Posso garantir apenas uma coisa: eu o tornarei cada vez mais sedento. Então, tudo o mais dependerá de você. Posso transferir minha sede você, se você ESTIVER PRONTO para se permitir tamanha sede.... POIS É DOLOROSO. A jornada é dolorosa; todo crescimento é doloroso. Se você permitir que eu criei essa dor em você, a própria dor o purificará. A dor é um PROCESSO de purificação."

(...) Posso ajudá-lo a se tornar uma chama — sedenta, faminta, ardente; posso dar-lhe a dor. Então todo o resto depende de você — o quanto você entra nessa dor, nesse fogo. Você pode dar um salto, e Deus pode acontecer num momento repentino. Não há necessidade de esperar, nem de adiar. Nesse exato momento pode acontecer... Se você estiver PRONTO para entrar totalmente nessa dor.

OSHO em, A DIVINA MELODIA

Quem busca por segurança nunca torna-se religioso

A religião não é tradicional, não pode ser, por sua própria natureza. A tradição é o que está morto. A tradição já passou, já morreu, é apenas a poeira do passado, apenas a memória. A religião está sempre viva, respirando. A religião nunca pode ser tradicional. Sempre que uma religião se torna tradicional, serve mais ao Diabo do que a Deus; serve mais à morte do que à vida. Assim, ela serve aos políticos, aos padres, às organizações, às igrejas, mas não serve ao espírito do homem, e deixa de ser uma abertura para o futuro. A tradição está voltada para trás e nós temos que ir para a frente. Olhar para trás não serve para nada, e não só não serve para nada, como é prejudicial e perigoso. Não podemos ir para trás, temos que ir para a frente, e se ficarmos olhando para trás, certamente haverá problemas. 

Outra coisa: a religião não está nas escrituras, não pode estar. As escrituras são palavras mortas. Sim, houve religião um dia, vibrando naquelas palavras, ao serem pronunciadas por um Mestre vivo. Quando Krishna falou o Srimat Bhagavad Gita para arjuna, isso era vivo. Era vivo por causa de Krishna, era radiante por causa de Krishna. Quando ele desapareceu, o Bhagavad Gita tornou-se um cadáver. Palavras mortas: você pode continuar analisando aquelas palavras, interpretando de uma maneira ou de outra... Existem milhares de comentários sobre o Gita, alguns até bem famosos. Na verdade, quando alguém lê o Gita, dá sua própria interpretação. O significado dado por Krishna foi perdido; desapareceu junto com ele. A cobra já passou... Só restou o seu rastro na areia. É esse rastro que você continua cultuando como uma escritura. 

Quando Jesus andou sobre a terra e falou a seus discípulos, suas palavras eram uma verdade vibrante, palpitante de vida. A palavra não estava morta; a palavra era Deus, a palavra era a própria verdade. A palavra tinha em si um coração; era plena de amor, experiência, existência, ser. Quando Jesus se foi, a vida se foi. Depois, você pode colecionar palavras e fazer quantos evangelhos quiser, mas eles não serão de nenhuma ajuda. 

A religião real nunca está nas escrituras, e a pessoa religiosa que busca, sinceramente, não vai atrás de escrituras, e sim de um Mestre — um Mestre vivo... Se você puder entrar em contato com um Mestre vivo, então as escrituras mortas tornar-se-ão vivas novamente; elas tornam-se vivas somente através de um Mestre vivo — não há outra maneira, porque o Mestre vivo é a única escritura. Quando um Mestre vivo toca o Bhagavad Gita, este torna-se vivo; quando ele toca os Evangelhos, eles tornam-se vivos. Quando um Mestre recita o Alcorão, ele torna-se vivo novamente. O Mestre dará sua própria vida a essas palavras e elas começarão a pulsar. Mas, diretamente, você não pode encontrar religião nas escrituras. 

Assim, a religião não está na tradição, não está nas escrituras e não está nos rituais. O rituais são formalidades. A menos que você esteja em comunhão com um Mestre vivo, os rituais são apenas um peso morto. Eles oprimirão, esgotarão, matarão você, e você ficará perdido em infinitas formalidades. Com um Mestre vivo, nasce um novo ritual; que vem com o contato; existe um contexto, uma referência viva para esse ritual, que não é aprendido através de tradições mortas, transferidas de geração a geração. Você o vive — e, vivendo-o, aprende-o. 

(...) A religião não está nos rituais. Sempre que existe uma religião, existe ritual, mas isso é bem diferente. Como você pode evitar de tocar os pés de Buda, quando ele está perto de você? Impossível. Você só pode fazer duas coisas, e ambas são rituais: ou você toca seus pés, ou você lhe atira pedras. Mas ambas são rituais — uma é o do amigo e outra é o do inimigo. O ponto principal é que não se pode omitir Buda, não se pode ser indiferente. O fenômeno é tal, que não se pode ignorá-lo. Ou você se torna um amigo ou se torna um inimigo; você tem de escolher. Você tem que tomar uma atitude, e essa atitude é ritual. Mas, nesse caso, nasceu em seu coração, não foi aprendido com outra pessoa. Ela simplesmente surge em seu ser. 

(...) A religião não está na tradição, nem nos rituais e nem nas chamadas religiões: hindu, cristã, muçulmana. A religião não tem adjetivos. Religião é simplesmente religião, como amor é amor.(...) A religião não está nas religiões;está isenta de qualquer adjetivo, de qualquer definição, e cada um tem que buscá-la. Ninguém pode nascer numa religião; a religião tem que nascer em você. Você tem que abrir sua alma e receber a religião. Ela está se derramando em toda a parte... mas você está carregando brinquedos substitutos, moedas falsas, em suas mãos, pensando que tem religião. Ela não está na igreja, não está na mesquita, não está no templo. Vá onde está um mestre vivo: ela está lá. Isso também existe apenas por alguns momentos — o Mestre se vai, e a religião desaparece...

Religião é algo individual, cada um tem que buscar por si mesmo. Não é um fenômeno social, não tem nada a ver com a multidão, com o coletivo. É algo privado, tão íntimo quanto o amor. Você vem a ela sozinho, em profunda intimidade e privança... você abre seu coração. A religião é espontânea no sentido de que você não pode aprendê-la. Você pode estar nela, mas não pode aprendê-la. É tão espontânea quanto o amor. Você alguma vez aprendeu o que é o amor? No dia em que o homem tiver que aprender a amar, será o dia do Juízo Final. Esse dia parece estar cada vez mais próximo, principalmente no Ocidente, e particularmente na América. Livros estão sendo escritos: Como amar, Como fazer amigos — livros tolos, porque se o homem esqueceu como amar, nenhum livro pode ensiná-lo. Ensinar a humanidade a amar é o mesmo que querer ensinar um peixe a nadar — tolice completa. O mesmo acontece com a religião. Ela não pode ser aprendida, pode somente ser apreendida; é algo contagioso. Se você vai a algum lugar onde existe uma pessoa santa, você pode apreender, absorver a religião. 

Religião é rebelião. É rebelião contra a morte, contra tudo o que está morto; é rebelião contra o exterior: contra a política, a ganância, a sociedade, a cultura, a civilização. Religião é uma rebelião: ela diz que temos de escutar a parte mais profunda de nosso ser, e segui-la aonde quer que ela nos leve. Aonde for... sem medo das consequências, escutaremos aquela pequena voz dentro de nós e a seguiremos. Religião é um risco. As pessoas que sempre procuram a segurança nunca poderão torna-se religiosas; é muito perigoso. Se você passar através do perigo, passará através da crucificação... e somente depois da crucificação vem a ressurreição. 

OSHO em, A DIVINA MELODIA

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

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sábado, 8 de novembro de 2014

A mente é um subproduto social; não é você!

Para mim, a mente é aquilo que foi dado a você. Não é sua. Mente significa o emprestado, significa o cultivado, aquilo que a sociedade inoculou em você. Não é você. Consciência é a sua natureza; a mente é apenas o círculo criado em torno de você pela sociedade; é a cultura, a sua educação. 

Mente significa o condicionamento. Você pode ter uma mente hindu, mas não pode ter uma consciência hindu. Você pode ter uma mente cristão, mas não pode ter uma consciência cristã. A consciência é una; não é divisível. As mentes são muitas porque as sociedades são muitas, as culturas, as religiões são muitas. Cada sociedade, cada cultura cria uma mente diferente. A mente é um subproduto social. E, a menos que essa mente seja dissolvida, você não pode ir para dentro, não pode conhecer a sua natureza real, o que é autenticamente a sua existência, a sua consciência. 

O esforço em direção à meditação é um combate à mente. A mente nunca é meditativa, nunca é silenciosa. Portanto, dizer 'mente silenciosa' não tem sentido, é um absurdo. É como dizer "doença saudável!" Não faz sentido. Como pode existir uma doença saudável? Doença é doença, e saúde é ausência de doença. 

Não existe nada semelhante a uma mente silenciosa, Quando há silêncio, não há mente. Quando há mente, não há silêncio. A mente, como tal, é o distúrbio, a doença. Meditação é o estado de não-mente. Não de uma mente silenciosa, não de uma mente sã, não de uma mente concentrada, não. Meditação é o estado de não-mente: nenhuma sociedade dentro de você, nenhum condicionamento. Só você, com a sua consciência pura. 

No Zen dizem: Descubra a sua face original. A face que você usa não é original; é cultivada. Não é a sua face; é somente uma fachada, um estratagema. Você tem muitas caras, a cada momento você muda de cara. Está sempre mudando. A mudança já se tornou tão automática, que você nem nota, nem observa. 

Quando você encontra o seu empregado, você usa um rosto diferente daquele que usa quando encontra o seu patrão. Se o seu empregado está sentado à sua esquerda e o seu patrão à direita, você tem duas faces. A face esquerda é para o empregado, a face direita é para o patrão. Você é duas pessoas simultaneamente. Como poderia mostrar a mesma face para o empregado e para o patrão? Um dos seus olhos possui certa qualidade, um olhar determinado. Seu outro olho possui uma qualidade diferente, um olhar diferente. Um está dirigido para o patrão e o outro está dirigido para o empregado. Isso se tornou tão automático, tão mecânico, tão robotizado que você está sempre mudando a sua face; você tem múltiplas faces e nenhuma delas é original. 

No Zen se diz: Descubra seu rosto original, o rosto que você possuía antes de nascer, ou o rosto que terá depois de morto. Qual é esse rosto original? O rosto original é a sua consciência. Todos os outros são frutos da sua mente. 

Lembre-se bem de que você não tem apenas uma mente; você possui multimentes. Esqueça o conceito de que todo mundo possui uma única mente. Você não tem, você tem muitas: uma multidão, uma multiplicidade; você é polipsíquico. Pela manhã você tem uma mente, à tarde, outra e, à noite, ainda outra. A cada instante você tem uma mente diferente. 

A mente é um fluxo: fluvial, flutuante, cambiante. A consciência é eterna, uma. Não é diferente de manhã, não é diferente à noite. Não é uma quando você nasce e outra quando você morre. É sempre a mesma, eterna. mente é fluxo. Uma criança possui uma mente infantil, um velho possui uma mente velha; mas uma criança ou um velho possuem a mesma consciência, que não é infantil, nem velha. Ela não pode ser diferente. 

A mente se move no tempo e a consciência vive na atemporalidade. Não são uma coisa só. Mas estamos identificados com a mente. Continuamos dizendo, insistindo: "minha mente. Eu penso desse jeito. Esse é o meu pensamento. Esta é a minha ideologia." Você perde o que realmente é por causa dessa identificação com a mente. 

Dissolva esses vínculos com a mente. Lembre-se de que suas mentes não são verdadeiramente suas. Foram dadas a você por outros: seus pais, sua sociedade, sua universidade. Foram dadas a você. Jogue-as fora, fique com a consciência única que é você — pura consciência, inocência. É assim que passamos da mente para a meditação. É assim que saímos da sociedade, do exterior para o interior. É assim que se passa do mundo feito pelo homem, de maia, para a verdade universal, a existência. 

É isto que estamos fazendo aqui: jogando a mente fora. Quando insisto: "Fique louco" — estou lhe dizendo: "Jogue a mente fora". Quando digo: "Passe por uma catarse" — estou dizendo, "Jogue fora tudo o que a sociedade lhe deu e fique apenas com o que você é. Não com o que lhe tem sido dado, mas com o que você nasceu — sua natureza". 

Jogue fora as ambições, as repressões, as idéias, as atitudes, os conceitos. Seja simples, como uma criança, inocente, e então você penetrará numa dimensão diferente. Então você pode penetrar no desconhecido. Eis por que a verdade não pode ser conhecida através da mente. A mente significa o passado e a verdade significa o eterno presente; portanto, você não pode aproximar-se da verdade através da mente. A mente é a barreira, o único obstáculo. 

Osho em, A Nova Alquimia 

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill