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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Porque razão derrama a flor o seu perfume?

O senhor refere que, no que concerne às questões espirituais, uma pessoa deve crer por si mesma. Se realmente é isso que defende, porque razão perde o seu tempo a dar conferências?

Krishnamurti- Senhor, porque razão derrama a flor o seu perfume? Ela não pode evitar de perfumar o ambiente. Quando percebe alguma coisa com clareza, não sentirá desejo de partilhar essa clareza com os demais? Eu refiro isto porque pessoalmente não posso impedir-me de o fazer. Eu não falo com a intenção de ajudar os outros; isso seria ser demasiado condescendente. Falo simplesmente porque existe uma canção no meu coração. E desejo expressar esse canto sem me preocupar em saber se alguém se esforça por escutar aquilo que digo. Uma flor desabrocha porque se regozija; trata-se da sua função, do seu dharma. A flor não se preocupa em saber se quem passa goza o seu perfume ou o ignora.

O seu ensinamento destina-se a uns quantos ou antes a todos? Acredita que a sua filosofia elitista se tornará popular junto das massas?

K- Porque se distingue das massas? Você é o mundo e este é você. Pode ser muito dotado de sorte e viver num palácio, ter uma porção de empregados etc., porém, psicologicamente, será distinto das ditas massas? Quer seja rico ou pobre, quer viva no oriente ou no ocidente, no Ceilão ou na Sibéria, será que, fundamentalmente o nosso espírito é diferente? Qualquer que seja a nossa situação na vida, onde quer que vivamos, todos nós sofremos e morremos, não é? É importante que tenhamos consciência de que a nossa mente é semelhante. O espírito é a sua consciência e nada mais. E o seu espírito, será isso alguma outra coisa além dos seus medos, das suas esperanças, das suas ambições, das suas ofensas e das suas crenças?

Perguntou se o ensinamento será susceptível de atrair as ditas pessoas vulgares. Quererá dizer que um camponês não me consegue compreender? Será o camponês psicologicamente diferente de si? A inteligência não é um talento pois todo o indivíduo possui a capacidade de compreensão.

Mas tem vindo a falar à muitos anos e no entanto o mundo ainda não mudou. Comente esta reflexão, por favor.

K- As pessoas vão junto do rio e tomam a água na quantidade que necessitam. Alguns vão lá com um jarro; outros não bebem mais do que uns goles. Por isso a questão não é realmente do quanto é oferecido mas sim tomado. O rio está cheio de água mas você só toma uma pequena quantidade, dependendo o facto da satisfação provisória das suas necessidades imediatas. Você satisfaz-se com facilidade e não sente aquele profundo descontentamento. Não tem a sede necessária para beber grandes quantidades de água pura.

Porque não reconhece discípulos à semelhança dos outros gurus?

K- Não tem conhecimento do quanto os discípulos destroem o seu guru? Os discípulos exploram o seu guru enquanto este, por seu turno, explora aqueles e as suas relações tornam-se uma exploração recíproca. Por Deus! Eu não tenho discípulos. Antes de mais descubra a razão porque deseja seguir alguém. Dessa forma descobrirá qualquer outra coisa sobre si próprio. Porque seguir alguém, ou o orador, inclusive? Desejamos seguir por vivermos na ignorância. Mas quando nos tornamos um discípulo, não estaremos ainda na ignorância? Consequentemente, não deverá tornar-se uma luz em si mesmo?

Nós encontramo-nos de tal modo desarmados que temos necessidade de guias.

K- Não será esse hábito de seguir alguém que enfraquece?

Dizem os jornais que o senhor não lê. É verdade?

K- Por vezes leio o Times para me manter ao corrente dos acontecimentos do mundo. Leio também uns romances policiais mas é tudo.

Não crê que o seu espírito puro seja condicionado pela influência corruptiva da literatura evasiva tal como a dos romances policiais?

K- Corromper o espírito? (risos) Santo Deus! Nada corrompe! O espírito permanece intacto, inocente, fresco e jovem.

E a literatura sagrada, o senhor estuda-a?

K- Acho os livros religiosos e as filosofias aborrecidas e não leio essas coisas.

Susunaga Weeraperuma - Krishnamurti tal como o conheci

Krishnamurti: um estado de ser além de toda a classificação

O meu interesse por Krishnamurti surgiu era eu ainda estudante, em 1949, altura em que o conheci pela primeira vez em Colombo, nesse mesmo ano. Lembro-me do modo surpreendente como dei por mim por entre uma multidão imensa e impaciente que aguardava a chegada de certo homem santo, de nome Krishnamurti, junto ao hotel da cidade. E assim que a viatura da prefeitura chegou deparamos com uma silhueta delgada acondicionada de modo nervoso no banco de trás, junto do prefeito da época, o Dr.Kumaram Rutmam, um bem conhecido comunista.

Krishnamurti conservava ainda uma vasta cabeleira negra com algumas manchas acinzentadas situadas á altura das têmporas, e envergava um dhoty de seda branco. Depois de sair vigorosamente da limusine encaminhou-se a passo rápido para a escadaria a fim de evitar os olhares ávidos daquelas centenas de fervorosos.

Essa primeira impressão que dele preservo nunca se apagou da minha memória, particularmente porque no decurso da minha juventude não tinha muito hábito de contemplar homens santos assim vestidos, de modo tão refinado, tendo, antes, sido condicionado por exemplos como o do Mahatma Gandhi, que vestiam uma simples tanga. Durante as reuniões públicas posteriores tive boas ocasiões de o observar de modo mais atento; mas o seu olhar aveludado e distante surpreendia-me pois estava á espera de encontrar o olhar ardente de um yogue, e por essa altura já tinha tido a oportunidade de ver vários yogues indianos notáveis, como Sivananda, que, inclusive, me tinha estendido um convite para o seu ashram em Rishikesh, nos Himalaias. O olhar luminoso normalmente está associado ao ardor intelectual, ao passo que o olhar doce significa serenidade e compaixão.

...De certa feita um monge do templo budista de Colombo procurava dissuadir-me de assistir ás conferências de Krishnamurti dizendo-me que ninguém poderia suplantar Buda, e que esse K. pregava uma espécie de budismo desvirtuado. "Porque é ele tão emotivo?" perguntava-me. "Se ele é um arhat" não deveria preservar a sua serenidade?"

Numa outra altura, aquando de uma reunião pública, encontrava-se presente um eminente político que lançou formidáveis invectivas insultuosas, chegando mesmo a detratar Krishnamurti como impostor. Este, contudo, permaneceu calmo e prosseguiu o discurso como se nada se houvesse passado. Em outra ocasião um outro homem repreendeu Krishnamurti utilizando uma linguagem ordinária, ao que K. respondeu perguntando qual era o problema que o cavalheiro tinha. Esse indivíduo acabou por se tornar alvo de riso por parte do auditório, pois tornou-se evidente que o recurso à utilização daqueles modos grosseiros e ofensivos se devia à profunda agitação em que se encontrava.

No decurso de anos subsequentes em que pude observar atentamente Krishnamurti pude constatar que ele jamais sentia lisonja pelo louvor nem mágoa pelas críticas ou insultos que lhe endereçavam mas permanecia como uma árvore plácida diante de uma trovoada, sem jamais perder a sua dignidade e comportamento, mesmo em meio ás circunstâncias mais penosas.

Numa outra altura, os estudantes da Universidade de Ceylon comportaram-se de modo hostil e escandaloso, quando Krishnamurti foi convidado a dirigir-se-lhes; nessa mesma sala, em ocasiões de lugares lotados, pude assistir frequentes vezes à troça que os estudantes usaram contra personalidades de Estado célebres e políticos eminentes, bem como para com homens de letras, suponho que utilizando esses modos para dar prova da falta de confiança na autoridade e, quiçá, dando livre curso á sua própria frustração, á sua agressividade e violência.

Ao penetrar nessa sala Krishnamurti teve que fazer face a um acolhimento inexpressivo. Uns quantos bateram palmas mas a maioria vaiou-o ruidosamente. Essa conferência teve de ser interrompida por diversas vezes, e Krishnamurti foi importunado algumas outras, até acabar por lhes perguntar porque razão se comportavam eles daquele modo já que, antes de mais ele era um orador convidado especialmente para lhes dar uma conferência, mas a despeito da desordem instalada K. continuou a falar sem mesmo evidenciar o mais pequeno traço de ressentimento na atitude que lhes evidenciou e chegou mesmo a unir-se a eles em risos, a certa altura, acabando por conseguir uma alocução eloquente e tocante.

Krishnamurti gostava particularmente de passear ao longo das margens de um lago magnífico que existe nas cercanias da Ilha do Escravo, nos arrabaldes plenos de animação de Colombo, especialmente á hora do poente quando o tempo se fazia mais fresco e agradável, mas por vezes caminhava tão apressado pelo estreito carreiro que ladeia o lago, que se chegava a temer a possibilidade de o ver tropeçar nalguma pedra e cair às águas cheias de cobras; esse temor justificou-se certa vez ao entardecer, durante uma dessas caminhadas em que, de cabeça erguida e num estado extático ele contemplava longamente o céu escarlate, parecendo esquecer-se completamente do carreiro estreito e do lago limítrofe, justo na iminência de um acidente; nessa altura um amigo comum, deu um salto e protegeu-o, mas Krishnamurti tomou-lhe a mão e disse: "Olhe que céu, senhor! Este céu expande-me a mente".

O significado daquilo que proferiu confundiu-nos; quereria ele dizer com aquilo que a contemplação atenta do céu contribuiria para a atividade da mente? Por acaso não tinha ele oposto a prática de métodos á tomada de consciência? Conquanto dissertássemos extensivamente sobre o tema nada conseguimos porém.

Certa vez o grande filósofo E W Adikaram visitou Krishnamurti quando este permanecia no quarto e foi incapaz de conter as lágrimas que lhe escorreram pelas faces, chorando por um bom período de tempo. K sentou-se junto a ele e ficou a observá-lo em silêncio sem pronunciar uma só palavra; tomando consciência de se tratar de um comportamento de algum modo infantil, Adikaram conteve então o choro, de certa forma intimidado pela circunstância.

K. tomou-lhe a mão e consolou-o dizendo que vários outros visitantes tinham passado pelo mesmo, ao fim de pouco tempo na sua presença. É uma espécie de delicadeza ou sensibilidade a que se desenvolve, como quando vemos algo extraordinariamente belo ou escutamos um canto melodioso em que somos vencidos pela comoção.

Adikaram considerava K. com o maior respeito e endereçava-se a ele com tal deferência que por vezes os lábios estremeciam de emoção e a sua voz tremia ao tentar conversar com ele. Numa outra vez, K. chamou-o á parte e questionou-o da razão da sua inquietação, ao que ele respondeu desculpando-se por o considerar pessoalmente como um Buda. Krishnamurti disse-lhe: "Senhor, eu até posso ser um Buda, mas que coisa o levará a temer-me?"

J. Krishnamurti foi uma personalidade única. Não foi um filósofo, no sentido de formular doutrinas ou crenças; isso ele não o fez. Tampouco foi poeta, se bem que tenha escrito alguma poesia refinada. Não foi um grande escritor nem fundador de uma nova religião, se bem que as religiões tenham surgido de homens semelhantes a ele. A verdade é que Krishnamurti é de tal modo universal que se situa além de toda a classificação. Que coisa é que nos subjuga nele, e nos confunde, e que estranha missão terá sida a sua, é o que não sei.

Susunaga Weeraperuma

Fala de um Outsider Contemporâneo

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Por que insistimos em simular comum unidade e afinidade?

Pode haver relações enquanto há separação, divisão? Pode haver relações com outrem, quando não há contato, não apenas físico, mas também em todos os níveis de nosso ser? Podemos estar segurando a mão de uma pessoa e dela estar a mil léguas de distância, absortos em nossos pensamentos e problemas. Podemos achar-nos num grupo e ao mesmo tempo estar dolorosamente sós. Assim perguntamos: Pode haver alguma espécie de relação com a árvore, a flor, o ente humano, ou com o céu e o belo Pôr do Sol, quando a mente, com suas atividades, está a isolar-se a si própria? E pode em algum tempo haver contato com o que quer que seja, mesmo que a mente não esteja a isolar-se?

(...) Cada um vive dentro de sua própria teia, você na sua, a outra pessoa na dela. Haverá alguma possibilidade de nos libertarmos dessa teia? Essa teia, essa mortalha, esse invólucro é a palavra? Constitui-se esse invólucro de seu interesse em si mesmo e dos interesses da outra pessoa em si própria, de seus desejos, opostos aos dela? Essa cápsula é o passado? É tudo isso junto, não acha? Não é uma só coisa que a mente está levando, porém um feixe inteiro. Você leva sua própria carga, e o outro a sua. Podemos, em algum tempo, largar essas cargas, a fim de que a mente se encontre com a mente, o coração com o coração? Eis a questão, não acha?

(...) Você pode identificar-se com aquele aldeão ou aquela chamejante buganvília — sendo isso um truque mental para simular a unidade. A identificação com alguma coisa é um dos estados mais hipócritas que há. Identificar-se com uma nação, com uma crença e, contudo, continuar só, é uma das maneiras favoritas de enganar a solidão. Ou, tão completamente você se identifica com sua crença, que é a a crença; e este é um estado neurótico. Ora, ponhamos de parte esse impulso a identificar-nos com uma pessoa, ideia ou coisa. Assim, não há harmonia, unidade, amor. A outra questão, portanto, é esta: Você pode libertar-se do invólucro, de maneira que ele deixe de existir? Só então haveria possibilidade de contato total. Como podemos libertar-nos do invólucro? Esse "como" não significa método, porém antes uma indagação que poderá abrir-nos a porta. 

(...) Rasgamos o invólucro pedaço por pedaço ou o rompemos e dele saímos imediatamente? Se o rasgamos pedaço por pedaço — como certos analistas dizem fazer — esse trabalho nunca terá fim. Não é por meio do tempo que se pode destruir essa separação. 

(...) Não é você mesmo o invólucro?

(...) O próprio movimento para você penetrar no outro invólucro, ou estender-se para fora do seu, é determinado por seu próprio invólucro: você é o invólucro. Você é, portanto, o observador do invólucro e é também o próprio invólucro. Nesse caso, você é o observador e a coisa observada; o mesmo é ele — e nisso ficamos. E você tenta alcançá-lo e ele tenta alcançar-lhe. Isso é possível? Você é a ilha cercada pelo mar, e ele também é a ilha cercada pelo mar. Veja que você é tanto a ilha como o mar; não há separação entre ambos; você é a terra inteira com o mar. Por conseguinte, não há divisão em "ilha" e "o mar". A outra pessoa não vê isso. Ele é a ilha cercada pelo mar; tenta alcançar-lhe, ou você, se é bastante desajuízado, tenta alcançá-lo. Isso é possível? Como pode haver contato entre um homem livre e outro que está aprisionado? Visto que você é o observador e a coisa observada, você é o inteiro movimento da terra e do mar. Mas, a outra pessoa, que não compreende isso, continua a ser a ilha cercada de água. Ela tenta alcançar-lhe, mas nunca o consegue, porque mantém o seu estado ilhado. Só depois de deixá-lo e, com você, estar aberto ao movimento do céu, da terra e do mar, poderá haver contato. Aquele que vê que a barreira é ele próprio, não terá mais nenhuma barreira. Por conseguinte, ele, em si próprio, não é separado. O outro não percebeu que ele próprio é a barreira e, por isso, mantém a crença na sua separação. Como pode esse homem alcançar o outro? Impossível. 

(...) Há o espaço entre isso que a mente chama o invólucro por ela criado, e ela própria. Há espaço entre o ideal e a ação. Nesses diferentes fragmentos de espaço entre o observador e a coisa observada, ou entre as diferentes coisas que ele observa, acham-se todo o conflito e luta, e todos os problemas da vida. Há a separação entre o meu invólucro e o invólucro de outrem. Nesse espaço está toda a nossa existência, todas as nossas relações e nossa luta. 

(...) Que é esse espaço? Há espaço entre você e seu invólucro, espaço entre ele (o outro) e o seu invólucro, e há espaço entre os dois invólucros. Todos esses espaços se deparam ao observador. De que eles são feitos? Como se tornam existentes? Qual a qualidade e a natureza desses espaços divididos? Se pudéssemos remover esses espaços fragmentários, que aconteceria? 

(...) Quando esse espaço desaparece de fato — não verbal ou intelectualmente, porém desaparece realmente, há completa harmonia, união entre você e o outro. Nessa harmonia, você e ele deixam de existir e há apenas aquele vasto espaço que jamais pode ser fragmentado. A limitada estrutura da mente deixa de existir, porque a mente é fragmentação.

Krishnamurti em, A Luz Que Não Se Apaga

A mente adquirida e a vigorexia


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Sem o colapsar psíquico não se vê o lado B


O homem necessita de uma nova consciência

Estou aqui para seduzi-lo a um amor pela vida; para ajudá-lo a tornar-se um pouco mais poético; para ajudá-lo a morrer para o mundano e para o ordinário, de modo que o extraordinário exploda em sua vida.

Eu não sou um lógico, sou um existencialista.

Acredito nesse belo caos da existência e estou pronto para ir aonde quer que ela vá. Não tenho uma meta, porque a existência não possui uma meta. Ela simplesmente é, florescendo, brotando, dançando - mas não pergunte porque. Apenas um transbordamento de energia, sem motivo algum. Estou com a existência. Eu não sou um messias e não sou um missionário. E não estou aqui para estabelecer uma igreja ou para dar uma doutrina para o mundo, uma nova religião, não.

Meu esforço é totalmente diferente: uma nova consciência, não uma nova religião, uma nova consciência, não uma nova doutrina. Chega de doutrinas e chega de religiões!

O homem necessita de uma nova consciência.

E a única maneira de trazer uma nova consciência é continuar martelando por todos os lados para que lenta, lentamente nacos de sua mente se desprendam. A estátua de um Buda está oculta em você. Nesse momento você é uma rocha. Se eu continuar martelando, cortando fora pedaços de você, lenta, lentamente o buda surgirá.

Osho

domingo, 21 de dezembro de 2014

O Que é Meditação?


Editada de 1998 a 2003 pela Editora Três, a Planeta Meditação era uma revista mensal de cem páginas que tratava de temas eternos e atuais ligados à espiritualidade humana, em que a jornalista Mirna Grzich entrevistou grandes representantes dos caminhos espirituais, escritores, músicos e pesquisadores.

Abrindo mão das narcoses espirituais


sábado, 20 de dezembro de 2014

Não há preço para os relacionamentos holotrópicos


A dolorosa demolição do nosso castelo de ilusões


A arte de meditar: soltar o macaco louco da mente


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Descendo das alturas do intelectual romantismo imaginativo

Pergunta: Foi sugerido que o poder que fala através de si pertence aos planos superiores, e não pode ser transmitido abaixo do intuitivo, por conseguinte temos que escutar mais com a nossa intuição se quisermos compreender a sua mensagem. Isso é correto?

Krishnamurti: O que quer dizer com intuição? O que significa para vocês todos a intuição? Dizem que é algo que sentimos instintivamente sem passar pelo processo da razão lógica; um “pressentimento” como diriam os Americanos. Ora na realidade eu questiono se a vossa intuição é real ou apenas as esperanças inconscientes glorificadas; anseios subtis, enganadores. Sabem, quando ouvem falar da reencarnação, ou quando ouvem um conferencista falar da reencarnação, ou leem um livro sobre ela, e tiram conclusões e dizem, “Sinto que é verdade, tem que ser”, chamam a isso intuição. É realmente intuição, ou é a esperança de que terão uma outra oportunidade para viver a próxima vida; por isso se ligam a ela, e lhe chamam intuição? Esperem um momento. Não estou a negar que existe intuição, mas ao que a pessoa comum chama intuição, e isso não é verdade, isso é algo sem razão, sem validade, sem compreensão por trás disso.

Ora o interlocutor diz que foi sugerido que o poder que fala através de mim pertence aos planos superiores, e não pode ser transmitido abaixo do intuitivo. Certamente compreendem aquilo de que falo, não compreendem? É bastante óbvio. Agora esperem um momento. É fácil compreender aquilo de que falo, mas se não o procurarem, se não o puserem em ação, não há compreensão; e porque não o põem em ação, transferem-no antes para o mundo intuitivo, e por esse motivo dizem que se sugere que falo de um plano superior, e por isso têm que ir ao vosso superior e tentar compreender o que isso significa. Por outras palavras, embora compreendam razoavelmente bem o que estou a tentar dizer, é difícil pô-lo em ação; por isso, vocês dizem “Vamos antes removê-lo para um plano superior, e a partir daí podemos discuti-lo”. Não é assim? Se disserem, “Não compreendo do que fala”, então há a possibilidade de mais discussão. Tentarei então explicá-lo de maneira diferente, para que o possamos discutir, aprofundar, considerar em conjunto; mas começar com a suposição de que para me compreenderem têm que ir ao plano superior – sem dúvida que há algo radicalmente errado nessa atitude. Qual é o plano mais elevado, excepto esse que é o pensamento? Porquê ir mais além? Mas não vêem que o que quero dizer é que estamos a começar com algo misterioso, algo distante, e a partir daí tentamos descobrir o óbvio, as realidades, e portanto, elas forçosamente são enormes desilusões, enormes ações hipócritas, limitadas à falsidade? Ao passo que, se começarmos com as coisas que conhecemos, que são simples de descobrir se pensarem nelas, então podem realmente ir longe, infinitamente. Mas é absurdo começar do misterioso, e depois tentar relegar a vida a esse mistério, que pode ser romanticismo, pode ser falso, imaginativo. Uma tal atitude da mente que diz, “Para compreender temos que escutar com a nossa intuição”, pode ser falsa, portanto eis porque eu disse que as vossas intuições podem ser completamente falsas. Como podem escutar com algo que pode ser falso, que pode ser as vossas esperanças, predileções, anseios ou sonhos? Porque não escutar com os vossos ouvidos, com a vossa razão? Daí, quando conhecem a limitação da razão, então podem prosseguir – isto é, para subirem alto têm que começar por baixo; mas já subiram alto, e não têm mais para onde ir. É esse o problema com todos vocês. Subiram às alturas intelectualmente; naturalmente os vossos seres estão vazios, são arrogantes. Ao passo que, se começarem de perto, então saberão como subir, como mover-se infinitamente.

Sabem, todos estes são meios e maneiras de exploração. É a maneira dos sacerdotes – complicar os assuntos, quando as coisas são infinitamente simples. Não aprofundarei o que tenho que dizer, já o expliquei vezes sem conta; mas complicá-lo, revesti-lo de todo o tipo de tradições ou preconceitos e não reconhecer os vossos preconceitos, eis onde reside a hediondez.

Krishnamurti, Auckland, Nova Zelândia, palestra com teosofistas 31 de março, 1934

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sobre a retomada da sensibilidade sutil


O entretenimento embota o poder de contemplação


Quem é o brasileiro?

O sistema quer você um zumbi distraído


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Somente uma pessoa sem alegria precisa de entretenimento

Normalmente o que consideramos como alegria não é alegria; no máximo se trata de entretenimento, e é apenas uma maneira de evitar a si mesmo, de intoxicar a si mesmo, de mergulhar em algo para que você possa se esquecer de sua infelicidade, de sua preocupação, de sua angústia, de sua ansiedade. 

Todos os tipos de entretenimento são considerados como sendo alegria, mas eles não são! Tudo o que vem de fora não é alegria, não pode ser; tudo o que depende de algo não é alegria, não pode ser. A alegria surge de sua própria essência; ela é absolutamente independente de qualquer circunstância externa. E ela não é uma fuga de si mesmo, mas realmente encontrar a si mesmo. A alegria surge apenas quando você chega em casa. 

Assim, tudo o que é conhecido como alegria é apenas o contrário, o diametralmente oposto, e não alegria. Na verdade, por não ter alegria, você procura entretenimentos. 

(...) Somente uma pessoa sem alegria precisa de entretenimento. Quanto mais o mundo ficar sem alegria, mais precisaremos de televisão, de cinema, de cidades enfeitadas e mil e uma coisas. Precisamos cada vez mais de bebidas alcoólicas, cada vez mais de novos tipos de droga, apenas para evitar a infelicidade na qual estamos, apenas para não encarar a angústia na qual estamos, apenas para, de alguma maneira, nos esquecermos de tudo. Mas, ao esquecer, nada é alcançado. 

Alegria é entrar em seu próprio ser. No começo é difícil, árduo; no começo você terá de encarar a aflição. O caminho é enorme, porém, quanto mais você penetrar nele, maior será o pagamento, maior será a recompensa. 

Quando você aprender a encarar a infelicidade, começará a ser alegre, pois, nesse próprio encarar, a felicidade começa a desaparecer e você começa a ficar cada vez mais integrado. 

Um dia a infelicidade estará presente, e você a encarará — e, de repente, a quebra: você pode perceber a infelicidade separada de você e você separado dela. Você sempre esteve separado; ela era apenas uma ilusão, uma identificação que você teve. Agora você sabe que você não é isso; então há um acesso de alegria, uma explosão de alegria. 

O S H O 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A importância do tédio, da insatisfação e da mesmice


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Viemos a comprovar o poder da observação sem escolhas

Não é possível parar o pensamento — não que ele não pare, só não é possível fazê-lo parar. Ele pára espontaneamente. É preciso entender essa diferença; do contrário você vai ficar maluco tentando perseguir a sua mente. 

A não-mente não surge quando você pára de pensar. Quando não existe mais o pensar, existe a não-mente. O próprio esforço para parar de pensar criará mais ansiedade, criará mais conflito, fará com que você fique dividido. Você viverá em constante tumulto interior. E isso não ajudará em nada. 

E, mesmo que você consiga forçá-lo a parar por alguns instantes, isso não será nenhuma conquista — pois esses instantes ficarão quase mortos, não estarão vivos. Você pode até sentir certa tranquilidade... mas não silêncio. Pois a tranquilidade forçada não é silêncio. Lá no fundo, nas profundezas do inconsciente, a mente reprimida continua em atividade. 

Portanto, não existe um meio de parar a mente. Mas a mente pára — isso é certo. Ela pára por livre e espontânea vontade. 

Então, o que fazer? — a pergunta é relevante. Observe. Não tente pará-la. Não é preciso fazer nada contra a mente. Para começar, quem iria fazer isso? Seria a mente brigando com ela mesma; você dividiria sua mente em duas: uma parte estaria tentando ser a chefe, a manda-chuva, estaria tentando matar a outra parte de si — o que é um absurdo. É um jogo idiota, pode levá-lo à loucura. Não tente deter a mente ou o pensamento. — só observe, de vazão a ele. Deixe a mente em total liberdade. Deixe-a vagar no ritmo que quiser; não tente de forma nenhuma controlá-la. Seja só uma testemunha

Ela é tão bela! A mente é um dos mecanismos mais belos que existem. A ciência ainda não foi capaz de criar nada como ela. A mente continua sendo uma obra-prima, tão complicada, com um poder tão grande, com tantas potencialidades! Observe-a! Aprecie-a! 

E não a vigie como se ela fosse um inimigo, pois, se você olhar para a mente como um inimigo, não conseguirá observá-la. Você já será preconceituoso, já estará contra ela. Já terá decidido que existe algo de errado com a mente — já terá chegado a uma conclusão. E sempre que você olha para uma pessoa como se ela fosse sua inimiga, você não olha profundamente, nunca olha dentro dos olhos; você a evita

Observar a mente significa olhar para ela com um amor profundo, com profundo respeito e reverência — ela é uma dádiva de Deus para você. Não existe nada de errado com a mente em si. Não há nada de errado com o ato de pensar. Trata-se de um lindo processo, assim como é todo processo.(...) Olhe a mente com profunda reverência. Não brigue com ela; ame-a. 

Observe as sutis nuances da mente, os volteios repentinos, os belos volteios. Os saltos e trancos, que ela dá, os jogos que continua fazendo; os sonhos que ela navega — a imaginação, a memória, as mil projeções que ela cria — observe! Ficando ali, afastado, um pouco distante, sem se envolver, paulatinamente você começa a sentir... Quanto mais atento você fica, mais profunda fica sua consciência; começa a haver lacunas, intervalos. Um pensamento vai, não vem outro, e surge uma brecha. Uma nuvem passa, outra está a caminho e surge um intervalo. 

Nesses intervalos, pela primeira vez você terá lampejos da não-mente. Você sentirá o gosto da não-mente (...) Nesses pequenos intervalos de repente o céu fica limpo e o sol brilha. De repente o mundo se enche de mistério, porque todas as barreiras vão abaixo; a tela nos seus olhos deixa de existir. Você vê com clareza, de modo penetrante. Toda existência fica transparente. 

No início, haverá apenas uns raros momentos, espaçados. Mas eles lhe proporcionarão vislumbres do que seja o samadhi. Pequenas porções de silêncio  elas virão depois irão embora, mas você saberá que está no caminho certo. Então você começa a observar novamente. Quando um pensamento cruza a sua mente, você observa; quando um intervalo, você o observa. As nuvens são bonitas; o brilho do sol também é tão belo. Agora você não faz escolhas. Agora você não tem uma mente fixa. Você não diz, "Gostaria que só houvesse intervalos". Isso é estupidez, pois, se se ficar apegado ao desejo de que só haja intervalos, você novamente terá decidido ficar contra o pensamento. E aí os intervalos desaparecerão. Eles só acontecem quando você está muito distante, afastado. Eles acontecem, não podem ser provocados. Eles acontecem, você não pode forçá-los a acontecer. São eventos espontâneos. 

Continue a observar. Deixe que os pensamentos venham e vão embora — para onde quiserem ir. Nada está errado! Não tente manipular nem dirigir nada. Deixe que os pensamentos sigam seu curso livremente. E, então, começarão a surgir intervalos cada vez maiores. Você será abençoado com pequenos satoris. Haverá ocasiões em que, por alguns minutos, não haverá pensamentos; não haverá trânsito nenhum — só um silêncio total, imperturbável. 

Quando começarem a surgir brechas maiores, começará a surgir uma nova lucidez. Você não terá somente lucidez para enxergar o mundo, você será capaz de enxergar seu mundo interior. Com os primeiros intervalos você enxergará o mundo — as árvores ficarão mais verdes do que parecem agora, você se verá cercado por uma música infinita, a música das esferas. Você subitamente estará na presença da santidade — inefável, misteriosa. Tocando você, embora você não consiga apreendê-la. Ao seu alcance e mesmo assim fora dele. Com os intervalos maiores, o mesmo acontecerá interiormente. Deus não estará apenas lá fora, de repente você ficará surpreso — ele está aqui dentro também. Ele não está apenas na coisa observada, ele está também no observador — dentro e fora. Pouco a pouco... 

Mas tampouco se apegue a isso. O apego é o alimento que faz com que a mente continue funcionando. O testemunho imparcial é o meio de detê-la sem fazer nenhum esforço. E, quando você começar a apreciar esses momentos de bem-aventurança, sua capacidade de conservá-los por períodos mais longos virá à tona. Finalmente, um dia você acaba se tornando senhor de si. A partir desse dia, quando quiser pensar, pensará; se o pensamento for necessário, você o usará. Se não for, você o deixará em repouso. Não que a mente tenha deixado de existir — ela existe, mas você tem a opção de usá-la ou não. Agora a decisão é sua, assim como a de usar as pernas; se quiser correr, você as usa; se não quiser, simplesmente fica onde está. As pernas estarão ali, à sua disposição. Da mesma forma, a mente estará ali também.

O S H O 

Pierre Weil - A Humanidade Mutante

Da impotência à potência perante o fluxo dos pensamentos

A mente é apenas um processo. Na verdade, ela nem existe — só os pensamentos existem, pensamentos passando tão rapidamente que você pensa e sente que existe alguma coisa contínua ali. Um pensamento vem, outro vai, chega mais um e assim sucessivamente... a lacuna é tão pequena que você não consegue perceber o intervalo entre um pensamento e outro. Assim, dois pensamentos se agrupam, formam uma continuidade e por causa dela você acha que a mente existe. 

(...) Os pensamentos existem — a mente não existe; ela é só aparência. E, quando você olha a mente mais de perto, ela desaparece. Ficam os pensamentos, mas, quando a "mente" desaparece e só restam os pensamentos individuais, muitas coisas se dissolvem imediatamente. Logo de início você percebe que os pensamentos são como nuvens eles vêm e vão, e você é o céu. Quando não existe mente, surge imediatamente a percepção de que você deixou de se envolver com seus pensamentos — os pensamentos estão ali, passando por você como nuvens passando no céu, ou o vento passando entre as árvores. Os pensamentos estão passando por você e podem continuar passando, porque você é um IMENSO VAZIO. Não há nenhum obstáculo, nenhum impedimento. Não há muros para barrá-los; você não é um fenômeno fortificado. Seu céu é uma imensidão infinita para onde passam os pensamentos. E, depois que você começa a sentir que os pensamentos vêm e vão, e que você é um mero observador, uma testemunha, o domínio da mente é conquistado.

A mente não pode ser controlada, no sentido comum do termo. Em primeiro lugar, porque ela não existe, como você poderia controlá-la? Em segundo lugar, quem iria controlar a mente? Porque não existe ninguém por trás da mente — e, quando eu digo que não existe ninguém, quero dizer que não há ninguém por trás dela, só um vazio. Quem a controlará? Se alguém está controlando a mente, então se trata apenas de uma parte, um fragmento da mente, controlando outro fragmento dela. É isso o que o ego é. 

A mente não pode ser controlada dessa forma. Ela não existe e não há ninguém para controlá-la. O vazio interior pode ver, mas não controlar. Ele pode olhar, mas não controlar — mas o próprio olhar é que é o controle, o próprio fenômeno da observação, do testemunho, torna-se o domínio, pois a mente desaparece. 

(...) A mente nada mais é do que a falta da sua presença. Quando você se senta em silêncio, quando olha bem dentro da mente, ela simplesmente desaparece. Os pensamentos continuarão, eles existem, mas a mente não estará mais ali. 

Porém, quando a mente desaparece, você nota que os pensamentos não são seus. É claro que eles surgem, e às vezes ficam um tempinho em você, mas depois vão embora. Você talvez seja uma área de descanso, mas não é a origem dos pensamentos. Você já reparou que nem um único pensamento parte de você? Não brota de você nem um único pensamento; eles sempre vêm de fora. Não pertencem a você — sem casa, sem raízes, eles rondam por aí. Às vezes, eles descansam em você, isso é tudo; como uma nuvem que paira sobre uma montanha. Depois eles se vão por conta própria; você não precisa fazer nada. Se você simplesmente observar, você assume o controle. 

A palavra controle não é muito boa, pois as palavras nunca são muito boas. As palavras pertencem à mente, ao mundo dos pensamentos. Elas nunca são muito perspicazes, pois lhe falta profundidade. A palavra controle não é boa porque não existe ninguém para controlar, nem ninguém para ser controlado. Mas, de uma certa forma, ela ajuda a entender uma certa coisa que acontece: Quando você olha bem fundo dentro da mente, ela é controlada — de repente você passa a ser quem manda. Os pensamentos não vão embora, mas eles deixam de dominar você. Eles não podem fazer nada com você, simplesmente vêm e vão embora; você continua intacto como uma flor de lótus em meio a um aguaceiro. Gotas de chuva caem nas pétalas, mas acabam escorrendo sem afetá-las. O lótus continua intacto(...) Seja como o lótus, só isso. Permaneça intacto e você estará no controle. Continue intacto e você será o senhor de si mesmo.

(...) Centrar-se na consciência é dominar a mente. Por isso, não tente "controlar a mente" — a linguagem pode enganar você. Ninguém pode controlar, e esses que tentam controlar ficarão loucos; eles simplesmente ficarão neuróticos, pois tentar controlar a mente nada mais é que uma parte da mente tentando controlar outra.

(...) Só os fracos se preocupam com os pensamentos. Só os fracos se preocupam com a mente. As pessoas mais fortes simplesmente absorvem o todo e se enriquecem com ele. Os mais fortes simplesmente não rejeitam nada.

O S H O 

sábado, 13 de dezembro de 2014

A meditação não é para a iluminação: é para pessoas confusas

Se você está confuso, então deverá continuar com as meditações. A confusão é a doença e a meditação é o remédio. Ambas palavras, meditação e medicina, vêm da mesma raiz. Se você está confuso deve continuar a meditar. Quando você perceber o principal sem nenhuma confusão, então não haverá necessidade. Mas a meditação o preparará, o forçará a perceber que não há necessidade de fazer coisa alguma, e somente a meditação pode fazer isso. 

Apenas me escute... Eu lhe disse que ser natural é ser iluminado. Agora você pensa: "Isso é fantástico! Posso me sentar em silêncio e não fazer nada."Mas você pode realmente se sentar em silêncio e não fazer nada? Se você realmente pudesse se sentar em silêncio e não fazer nada, então essa questão não surgiria. Você teria sentado e sabido e teria se curvado diante de mim e me agradecido. Não haveria questão alguma; você teria vindo a mim dançando, não com uma questão e com uma mente confusa. 

Se você puder se sentar em silêncio sem nada fazer, o que mais é necessário? É isso o que Buda estava fazendo sob a Árvore Bodhi — sentado em silêncio, sem nada fazer... e então aconteceu. É como aconteceu comigo! É assim que sempre acontece!

Entretanto não fazer não é tão fácil. Devido a você ter ficado tão acostumado a fazer uma coisa ou outra, mesmo sentar-se será um fazer para você. Você terá de se forçar numa postura de ioga e se sentará com tensão, quieto, sob controle, se segurando, tentando sentar em silêncio e não fazer nada... e fervendo por dentro para fazer mil e uma coisas, e milhares de pensamentos bradarão à volta e o distrairão. 

Você pode simplesmente se sentar e não fazer coisa alguma? Isso é o supremo; nirvana é isso, samadhi é isso. 

Pode acontecer; também pode acontecer apenas ao me escutar, mas então grande inteligência é necessária. Então você percebeu o principal, que ser natural é tudo. Onde está a confusão? Você percebeu ou não. Se você percebeu, toda a confusão desapareceu... e você se sentará, andará, comerá e falará silenciosamente. Você se tornará um não-agente, se tornará um ser natural. 

Contudo, se você não percebeu, então precisará de mais algumas coisas malucas; você precisará passar por elas. Essas meditações o forçarão a perceber o principal. Ou você percebe apenas ao escutar e se sentar ao meu lado, ou você terá de perceber o caminho difícil. 

(...) Assim, se você se sente confuso, então continue meditando. A meditação não é para a iluminação; ela é para pessoas confusas. A meditação não o leva à iluminação; ela simplesmente o deixa farto de sua confusão. Perceba o essencial: meditação não é um caminho para a iluminação, mas apenas um caminho para se livrar da confusão. E quando não houver confusão a iluminação vem espontaneamente. 

O trabalho da meditação é negativo. Ela tira coisas de você e não lhe dá coisa alguma; ela simplesmente fica tirando coisas de você. A raiva, a cobiça e o desejo desaparecem e você começa a perder tudo o que tinha. Você fica a cada dia mais pobre. 

É isso o que Jesus quer dizer quando fala: "Bem-aventurados são os pobres de espírito". 

A raiva, a cobiça e a ambição não estão presentes. Lentamente, pedaços de seu ser são cortados de você. E de repente, num dia, nada está presente — ou somente nada está presente. Nesse exato momento, a luz penetra. Todas aquelas coisas — cobiça, raiva, paixão, ânsia, ódio, ambição, ego — estavam atrapalhando o caminho, não permitindo que a luz penetrasse em você. Elas estavam funcionando como uma rocha entre você e Deus. Tudo isso foi removido... de repente, Deus entra em você e você entra em Deus.

Se você me compreende, não há necessidade de nenhuma meditação. Porém, se não me compreende... para me compreender a meditação será necessária. Então prossiga fazendo-a. 

(...) Meditações são catárticas. Elas jogam fora todo o lixo contido dentro de você. Elas simplesmente o limpam, abrem as portas, os olhos — o sol está presente. Uma vez que você esteja disponível, ele começa a penetrá-lo. 

Então você nunca dirá: "Tornei-me natural." Você dirá: "Eu era natural. O problema não era como me tornar natural, mas como não continuar a me tornar não-natural."

O S H O

Você só precisa de um belo chute na bunda

É exatamente isso que vocês precisam: um tremendo chute na bunda. Vocês são Budas! Vocês simplesmente se esqueceram e somente precisam de uma lembrança, não de evolução! Não é que você precisa se tornar um Buda; você é um Buda profundamente adormecido. Alguém precisa chutá-lo, gritar para você, golpeá-lo, e este é o propósito de um Mestre.

(...) Você precisa de alguém que possa possuí-lo inesperadamente, que possa despedaçar suas ideias — que possa despedaçá-lo e tirar a própria terra que há sob seus pés. Somente pessoas muito corajosas se interessam por um Mestre. É perigoso estar com um Mestre; nunca se sabe o que ele vai fazer ou dizer, ele próprio não sabe! As coisas estão acontecendo e ele está em sintonia com o todo; então, tudo que acontece, acontece.

(...) Os caminho de um sábio são estranhos, ilógicos e paradoxais. 

(...) Você tem uma mente, uma certa mente, e quando vai a um Mestre olha a partir dela. Caso se ajuste, você fica feliz; você começa a se apegar. Porém isso não vai ajudar, porque, caso se ajuste, fortalecerá a mesma mente que você já possuía. Se por acaso você se deparar com um Mestre real, nada vai se ajustar. Ele vai estilhaçar todas as suas ideias a respeito de como um Mestre deveria ser; ele vai sabotá-lo, vai tirar todas as suas expectativas. Ele existe para frustrá-lo e desapontá-lo de todas as maneiras possíveis, pois esse é o único modo que o trabalho real pode começar. E se você ainda puder ficar ao lado dele então... então você irá ser acordado. 

Dormir á fácil e barato; acordar é árduo. Você terá de renunciar seus sonhos, muito conforto, muita conveniência e muitas ideias que você sempre acreditou serem valiosas.(...) Eu realmente quero fazer algo aqui; não quero lhe dar mais brinquedos — quero destruir todos eles. Vai ser um trabalho árduo, vai ser doloroso, mas se você puder se mover comigo apenas um passo — peço somente um passo — seus sonhos e seu sono irão embora para sempre... e começará a vida real. A vida real está com o todo e a irreal está sozinha.

(...) O sono não precisa de correção. O despertar não é uma correção do sono — ele significa simplesmente abandonar o sono e penetrar num novo tipo de realidade, tendo um tipo de relacionamento com a existência totalmente diferente.(...) Despertar é necessário, não correção. (...) No sono profundo e inconsciente, como você pode se corrigir? No máximo, você pode ter sonhos um pouco melhores; talvez não em branco e preto, mas em cores, psicodélicas; contudo você só pode ter sonhos melhores no sono. Você não pode ter realidade no sono.

(...) O primeiro e único passo é saber quem é você, é ficar consciente. (...) Nenhuma correção é necessária, apenas consciência. Torne-se alerta. Nenhum caráter é necessário, pois todos os caracteres são falsos e limitações se você não estiver consciente. E todos os caracteres nada mais são do que correntes — eles não trazem liberdade. Toda moralidade é hipocrisia, se você não estiver consciente ou cônscio.

Portanto, para mim, religião significa somente uma coisa: ser mais consciente, viver mais conscientemente. 

O S H O 

Do surgimento de um estado de ausência de ego

A mente medíocre está interessada no exterior. O exterior é intrigante, maravilhoso, digno de ser explorado. Assim, o exploramos para o dinheiro, para o prestígio e outras coisas, e então um dia, quando estivermos saturados com as chamadas coisas mundanas e começarmos a procurar novamente por um Mestre, por Buda, por Cristo... ainda no exterior! Começamos a procurar pelo caminho, mas ainda fora. E o Buda e o caminho não são encontrados do lado de fora.

Procurar na parte externa é se afastar mais e mais do caminho, pois o caminho está dentro de nós, o Buda está no interior. 

(...) Se você puder descobrir somente uma coisa dentre todos os tipos de frustrações — que não há nada a ser encontrado no exterior, absolutamente nada — e ao perceber e se dar conta disso você se voltar para dentro, então sua própria mente é toda a coisa, então dentro de você está tudo: E, buscando, você entrará em sua própria mente.

Logo, à medida que você for mais fundo em sua própria mente, você penetrará da mente para a não-mente. A camada superficial é da mente, mas o conteúdo interior é da não-mente. A camada superficial é do ego, o conteúdo interior é a ausência de ego. Se você entrar, primeiro você deparará com a mente, com os pensamentos, desejos, fantasias, imaginações, memórias, sonhos e todas essas coisas. Porém, se você continuar a penetrar, logo chegará a espaços silenciosos, sem pensamento. Logo você começará a chegar mais e mais perto do âmago do seu ser, o qual é atemporal e está em lugar nenhum, o qual não tem tempo nem espaço. 

Quando você alcançar um ponto em que não se pode perceber nenhum tempo ou espaço, você chegou. Contudo esta chegada é voltar à sua própria natureza. Você não chegou a algo novo, mas àquilo que já foi dado e sempre foi seu. 

(...) E quando você atingir este ponto poderá entender que não há necessidade de fazer coisa alguma — tudo está acontecendo —, que nunca houve necessidade de fazer coisa alguma, que tudo já estava acontecendo. Você estava desnecessariamente preocupado e carregava todos aqueles pesos, porque você era ignorante. Quanto ao mais, as coisas estavam acontecendo. 

O mundo está girando muito suave, bela e perfeitamente; todavia, porque pensamos que estamos separados dele, surge o problema: "Como levar nossas vidas?" Se você sabe que é parte dele, não há necessidade de se preocupar. Este cosmo, um cosmo tão infinito, funcionando tão perfeitamente bem — você não pode permanecer nele sem nenhuma preocupação?  Porém a separação está presente.

Você tomou uma coisa como certa: que você está separado. Ao penetrar fundo no interior, essa separação desaparece. 

Este é o significado quando digo: "Surge o estado de ausência de ego". Ego significa separação, significa: "Estou separado do todo". Ego significa que a parte está reivindicando ser o todo por conta própria: "Tenho meu próprio centro e tenho de sobreviver, lutar e batalhar por mim mesmo. Se eu não lutar por mim mesmo, quem irá lutar? Se eu não tentar sobreviver, serei assassinado". 

A insegurança surge devido ao ego. Quando o ego se vai, existe simplesmente segurança. Na verdade, não existe insegurança ou segurança; todas as dualidades desaparecem. Viver nisso é viver nirvana, é viver iluminação.

(...) Olhe para dentro! Você já olhou para fora o bastante, já procurou fora o bastante. (...) é hora, é a hora certa de olhar para dentro.  Você se tornou muito artificial, muito antinatural.

Deixe-me apresentá-lo a você mesmo... torne-se novamente familiarizado com quem você é. E um único vislumbre transforma, e transforma para sempre.

E de novo eu gostaria de repetir: esta transformação não é algo especial — ela é muito normal, pois é apenas a sua natureza. Bata e a porta lhe será aberta, peça e lhe será dado, procure e encontrará...

O S H O 

A abortante zona de conforto das palavras e conceitos


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O novo Homem

Meu Deus! Não há nenhum Deus!

Entrevistador: Você se considera um Deus?

Osho: Meu Deus! Não há nenhum Deus, como posso considerar a mim mesmo um Deus? Deus é a maior mentira inventada pelo homem. 

Entrevistador: Porque?

Osho: Porque o ser humano se sente desamparado, com muito medo da morte, muito sobrecarregado com os problemas da vida. Porque ele foi criado por um pai, por uma mãe, e aqueles foram dias maravilhosos; nenhuma responsabilidade, nenhuma preocupação, alguém estava tomando conta dele. Essa infância psicológica é projetada em todas as religiões: Deus se torna o pai. E existem algumas religiões nas quais Deus se torna a mãe. Isso é uma simples projeção psicológica de uma criança, Não tem nenhuma base na realidade. E sempre que você está com medo, sempre que está com problemas, você começa a procurar por ajuda. A ajuda nunca chega. 

Mesmo Jesus na cruz esperava que a ajuda chegasse, e finalmente ficou desapontado e exclamou: "Pai, você me abandonou? Uma grande dúvida deve ter surgido nele, uma grande questão. Nada está acontecendo, e ele acreditava por todos esses anos que Deus viria salvá-lo, seu único filho amado. Ninguém apareceu. Jesus Cristo deve ter morrido completamente desiludido. 

Eu não tenho nenhuma ilusão, eu não posso ser desiludido.

O S H O 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Conformismo estagnante

Do mesmo modo que a mente adquirida, quando na horizontalidade, ao se deparar com uma zona de conforto, não quer ser incomodada por "verdades verticalizantes" que mostrem algo que torne evidente o insatisfatório do arduamente alcançado, o mesmo ocorre no que diz respeito ao seu processo de verticalização. No terreno da verticalidade do ser, muitos se vêem tentados a repetir o mesmo tipo de "tudo bem", para não entrar em contato com a realidade de seu estado de insatisfação. Algo do tipo: antes eu não tinha dinheiro; agora eu tenho dinheiro; antes eu não tinha Krishnamurti; agora tenho Krishnamurti... E assim vão acumulando "materialismo espiritual" através de uma busca frenética de guru em guru. Quando esgotam os gurus terrenos, partem para os gurus de "outras dimensões", os chamados gurus ascensionados. É assim que se mantém ascensionadas as ilusões da mente.

Outsider

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Não existem salvadores o que existe são dores que salvam


Despedace todas as ideologias tolas

Noventa e nove por cento de sua religião nada mais é do que uma estratégia para mantê-lo de algum modo são. 

Buda é um tipo de pessoa totalmente diferente. Ele é o arqui-inimigo da indústria de entretenimento; ele é alguém que deseja dizer a verdade, e deseja expô-la como ela é. Ele despedaça todas as ideologias tolas, ele simplesmente o choca desde as raízes. E, se você ficar disponível a ele, ele pode se tornar uma porta — uma porta de volta ao lar; uma porta, uma soleira, que pode tornar você capaz de retroceder à natureza. 

Em todas as culturas e civilizações complicadas existem mentirosos profissionais e contadores profissionais da verdade, mas eles não são muito diferentes; eles são a mesma pessoa. Os mentirosos profissionais são chamados de advogados e os contadores profissionais a verdade são chamados de sacerdotes; eles simplesmente repetem as escrituras. 

Buda não é nem mentiroso nem contador profissional da verdade. Ele simplesmente deixa seu coração disponível a você; ele deseja compartilhar. Portanto, todo sacerdócio indiano ficou contra ele. Ele foi expulso de seu próprio país, seus templos foram queimados e suas estátuas, destruídas. Muitas escrituras budistas estão disponíveis agora somente em traduções chinesas ou tibetanas, pois seus originais foram perdidos; eles devem ter sido queimados. 

Milhares de budistas foram assassinados neste país não-violento. Eles foram queimados vivos. Buda chocou profundamente os contadores profissionais da verdade; ele estava resolvido a destruir todo o negócio deles. Ele simplesmente o tornou um segredo aberto.

O S H O 

O orgulho é a trave que impede o exercício da escuta atenta


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Documentário "I AM"



I AM é a história de Tom Shadyac, um diretor de sucesso em Hollywood, que após um perigoso ferimento na cabeça e experimenta uma jornada para tentar descobrir e responder duas questões bem básicas: "O que está errado no mundo?" e "Que podemos fazer sobre isso?" Com uma equipe de quatro pessoas, Tom visita algumas das grandes mentes dos dias de hoje, incluindo escritores, poetas, professores líderes religiosos e cientistas (Howard Zinn, Lynn McTaggart, Desmond Tutu, Thom Harmann, Coleman Barks), buscando descobrir o fundamental problema endêmico que causa todos os outros problemas, refletindo simultaneamente em suas próprias escolhas de excesso, ambição e possível cura. E se a solução para os problemas do mundo estivesse bem na nossa frente o tempo todo?

Contradições - Uma Entrada Criativa

Pergunta: Suas contradições, suas mentiras, e sua insistência em que nós não temos que acreditar em você, fez minha mente inoperante. Tudo o que posso dizer, certamente, é: "Eu não sei." Eu costumava ser bastante orgulhosa da minha mente, mas agora isto simplesmente parece estúpido. 

Osho: Minhas contradições estão destinadas a fazer exatamente o que está acontecendo com você. Eu não quero a sua mente sendo convencida por mim. Eu quero me relacionar com o seu coração, porque esta é a única comunhão verdadeira. Mente à mente é sempre superficial. 

Eu posso ser consistente, mas, então, estarei convencendo a sua mente e esta é a última coisa que quero fazer. Eu não sou um missionário e eu não tenho nenhuma mensagem para vocês. Só tenho experiência e o caminho que transmite a experiência para vocês, não é por meio de palavras, teorias, filosofias. O argumento não é a resposta. 

Portanto, primeiro, eu tenho que desmantelar sua mente, e a melhor maneira de desmantelar sua mente é contradizer-me tanto quanto eu puder. Ou você escapará, sentindo medo de que você possa ir à loucura ou, se você tiver coragem, você permanecerá aqui e irá realmente à loucura!

Quando a mente se torna inoperável é o momento quando o coração começa a funcionar. Você está em um bom espaço. Se a mente está dizendo: "Eu não sei", a mente está fechando a loja. E aqui, quando a mente fecha a loja, imediatamente as portas do seu coração começam a se abrir. São dois lados da mesma moeda: e é por isso que quando você me escuta me contradizendo, você tem que dar uma boa gargalhada. Esta é a resposta certa à minhas contradições.

Sim, isto ainda não é um estado de não-mente. Isto ainda é a mente que está dizendo: "Eu não sei." Quando a mente se for completamente, em um estado de não-mente, não haverá ninguém para dizer: "Eu não sei." Isto é o último saber. Isto é saber: "Eu não sei." - ao menos este tanto você sabe. Esta e a última barreira. Isto também se solta: então, não existe nenhum questão de saber ou não saber. Pela primeira vez você sente, e sentir é o caminho do experienciar. 

Quando você está na sua cabeça você está milhões de milhas distante de mim. Quando você está no seu coração você está no meu coração também, porque corações não conhecem separação. O coração é um. Ele bate em muitas pessoas e todo meu trabalho existe para que ele bata no mesmo ritmo em todos vocês. Então vocês se tornam uma orquestra. Há ainda muito mais do que o coração em você, mas sem coração você não pode alcançar seu tesouro mais interno: o Ser.

Portanto, estas são as três palavras: pensar, sentir, ser. Partindo do pensar, ninguém tem sido capaz de alcançar o Ser. Ninguém pode pular o sentir: o sentir é a ponte. O primeiro passo é ir do pensar ao sentir, e o segundo passo é, do sentir ao Ser. E em dois passos, toda a jornada está completa. Então lembre-se: o sentir será tremendamente lindo, mas não pare aí. Isto é só uma parada na viagem: você pode descansar aí por um pouco, desfrutar do mundo do coração, mas lembre-se que há um passo a mais.

Por meio de contradições eu destruo sua ligação com a mente e o pensar.  Através do silêncio eu destruo o mundo do seu sentimento. E, quando ambas estas camadas se forem, você é como a Existência queria que você fosse... na sua pureza, na sua individualidade. Você voltou para casa.

Portanto não se preocupe, a jornada começou. Não pare até que você volte para casa: onde não existe nenhum pensar, nenhum sentir, mas apenas um sentir a Existência. Nesta experiência, eu serei capaz de transmitir a você aquilo que é intransmissível por qualquer outro modo.

Então, eu não sou o mestre e você não é o discípulo. Na mente: eu sou o professor, você é a estudante. No sentir: eu sou o mestre, você é a discípula. No Ser, eu não sou, você não é: a Existência é.

O S H O

Viva a vida: não fique simplesmente observando-a na TV

Um homem está sentado num cinema, e a esposa fica continuamente lembrando a ele como o herói está demonstrando profundamente seu amor pela sua esposa. Finalmente, o marido diz: "Pare com toda essa bobagem! Você não sabe quanto ele está sendo pago por isso? E além do mais, isso é só representação; não é uma realidade. Eu vou certamente dizer que ele é um bom ator." A esposa disse: "Talvez você não esteja ciente que na vida real eles também são marido e mulher." Ele disse: "Meu Deus! Se isso for verdade, então ele é o maior ator que eu já vi; do contrário, mesmo no palco, mostrar tanto amor para com sua própria esposa está simplesmente além da capacidade humana. Ele é quase um gênio no que se refere a representação." 

As pessoas acham que amor é somente para atores. Tem sido notado pelos psicanalistas que as pessoas ficam sentadas diante da TV por horas. Um Americano assiste TV seis horas por dia em média, essa é a média. Deve haver alguns maníacos assistindo por nove, dez, doze horas. 

Pouco a pouco, assistindo filmes, assistindo Televisão, assistindo um jogo de futebol, assistindo uma competição, as pessoas simplesmente se tornaram observadores; eles não amam. Algum ator ama - eles simplesmente observam. Eles não jogam, algum profissional joga - eles observam. Eles não fazem nada; eles estão grudados em suas cadeiras e ficam apenas observando tudo. Mas observar e fazer são totalmente diferentes. Eles se sentem completamente satisfeitos por ver um belo filme de amor. Eles ficam completamente satisfeitos ao ver um grande torneio de boxe. E eles mesmos são apenas espectadores. 

Isso é algo de uma grande calamidade que reduziu milhões de pessoas a espectadores. E as pessoas que estão sendo observadas são atores. Eles não estão realmente amando, estão sendo pagos para isso. Eles são peritos em enganar as pessoas, fingindo que o que eles estão fazendo é real. Suas lágrimas são falsas, seus sorrisos são falsos, seu amor é falso, sua raiva é falsa.

Que espécie de mundo nós criamos? Os que praticam estão todos representando pois são pagos para isso, e o restante do mundo dos não-fazedores ficam simplesmente observando.

Vocês estão aqui para viver. Estão aqui para dançar. Vocês estão aqui para experienciar a vida. Outros estão fazendo isso por você. Em seu nome as pessoas estão amando, estão jogando, as pessoas estão fazendo todo tipo de coisas. E o que sobra para vocês? apenas olhar.  A morte não será capaz de tirar muito de você - somente sua televisão, porque você não tem nada mais.

Esse é o falso ego que criou um padrão e estilo de vida falsos. Abandone tudo que seja falso. Seja autêntico e verdadeiro; esse é o primeiro passo. E uma vez você é autêntico e verdadeiro, você verá quão bonito isso é. E isto irá criar o desejo para ir além, na busca da derradeira verdade, a declaração final e a última experiência, além da qual nada mais existe.

O S H O 

Ciência e Jornada Interior

Pergunta: Um dos problemas básicos da ciência é a linguagem. A ciência está crescendo porque nós temos uma definição clara sobre o que estamos falando. Um dos problemas básicos para os cientistas, quando eles estão tentando compreender o que significa a jornada interior, é definir claramente, por exemplo, o que significa consciência. Eu lhe dou, como... A maioria dos cientistas não fazem qualquer diferença entre consciência (estar desperto), consciência (estar ciente) ou mente consciente. Eles estão usando este termo de uma mesma maneira. Assim, eu gostaria de lhe pedir, se for possível, que tenha uma compreensão a respeito desses termos.

Osho: Sim, não há dificuldade alguma. As palavras podem ser definidas claramente. A dificuldade não é por causa das palavras, a dificuldade básica está vindo de um outro lugar. É que o cientista, no fundo, não acredita que exista alguma coisa no interior. Ele pode dizer assim, ou pode não dizer assim, mas toda a sua formação, toda a sua educação faz com que ele confie somente nos objetos - os quais ele pode dissecar, os quais ele pode observar, ele pode analisar, ele pode compor, criar, desfazer a criação, descobrir seus básicos componentes. Toda a sua mente é orientada para o objeto e a subjetividade não é um objeto. Assim, se ele quiser colocar a subjetividade diante dele sobre uma mesa isso não será possível. Isso não é da natureza da subjetividade. Assim, o cientista segue descobrindo tudo no mundo, exceto a si próprio. Uma grande barreira existe, e a barreira é que nada existe no interior.

Quando você corta uma pedra em pedaços, o que você encontra? - mais pedras. Você continua cortando em pedaços menores, pedaços menores. Você chega às moléculas, você chega aos átomos, você chega aos elétrons, mas, ainda assim, você não chega a coisa alguma mais interna. Eles todos são objetos. 

Ele também gostaria que a vida fosse descoberta dessa mesma maneira, e porque ele não consegue descobrir a vida dessa mesma maneira, ele começa a negá-la. E a consciência é ainda um problema mais difícil. Por ele não conseguir tocá-la, dissecá-la, descobrir seus componentes, ele simplesmente a rejeita - ela não existe.

Assim, este é o seu preconceito. Por causa desse preconceito ele fica confuso. E esse preconceito pode desaparecer muito facilmente, se ele, hipoteticamente aceitar - eu não estou dizendo que ele tem que acreditar, apenas aceitar hipoteticamente - que se existem coisas do lado de fora, então é muito científico que devem existir coisas que estão no interior porque na existência tudo está polarizado pelo seu oposto. O externo somente pode existir se existir um interno. O inconsciente somente pode existir se existir consciência. Isso é uma dialética simples da vida - e ele conhece isso - na existência, em todo lugar, ele encontrará a mesma dialética. Tudo está em oposição ao seu oposto. E ambos são, de alguma maneira estranha, complementares um ao outro - se opondo e ainda assim complementares um ao outro. Negar o interior é uma atitude muito não-científica. Assim, primeiro tem que se aceitar hipoteticamente que o interior existe.

Em segundo lugar, tem que se entender, que a metodologia que funciona para o exterior não pode funcionar para o interior. Simplesmente porque o interior é a dimensão oposta ao exterior o mesmo método não será aplicável. Você terá que encontrar uma nova metodologia para o interior. E isto é o que eu chamo meditação isto é a nova metodologia para o interior.

O S H O - Trecho de uma entrevista à edição italiana de 'Science 85 Monthly'


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Estamos fechados por todos os lados

Conhecer-se a si próprio é a coisa mais difícil. Não deveria ser assim. Deveria ser exatamente o oposto, a coisa mais simples. Mas não é assim — e por muitas razões. Tornou-se tão complicado, e investimos tanto na nossa própria ignorância que parece ser quase impossível voltar atrás, retornar para a fonte, ao encontro de nós próprios.

Toda a tua Vida, tal e qual, tal como é aprovada pela Sociedade, pelo Estado, pela Igreja, é baseada na auto-ignorância. A tua Vida sem te conheceres a ti próprio, porque a Sociedade não quer que te conheças a ti próprio. É perigoso para a Sociedade. Um Homem que se conheça a si próprio tende a ser rebelde.

O Conhecimento é a grande rebelião — auto-conhecimento digo, não conhecimento através das escrituras, não o conhecimento encontrado nas Universidades, mas sim o Conhecimento encontrado quando tu se encontras o teu próprio Ser, quando te encontras contigo próprio totalmente nu; quando te vês a ti próprio tal como Deus te vê, não como a Sociedade gostaria de te ver; quando vês o teu Ser natural no seu completo florescer selvagem e natural — não um fenômeno civilizado, condicionado, culto, polido.

A Sociedade está preocupada em fazer de ti um robô, não um revolucionário, porque é útil. É fácil dominar um robô; é quase impossível dominar um Homem que tenha Consciência de si próprio. Como é que se pode dominar um Jesus? Como é que se pode dominar um Buda ou um Heraclitus? Ele não se irá vergar, ele não seguirá prescritos. Ele seguirá em frente guiado pelo seu próprio Ser. Ele será como o vento, como as nuvens; ele mover-se-á como os rios. Ele será selvagem — e é claro, Bonito, Natural, mas perigoso para a falsa Sociedade. Ele não se encaixará. A não ser que criemos uma Sociedade Natural no Mundo, um Budha ficará sempre desenquadrado, um Jesus está destinado a ser crucificado.

A Sociedade quer ser dominadora; as classes privilegiadas querem dominar, oprimir, explorar. Eles querem que tu permaneças sem ter consciência de ti próprio. Esta é a primeira dificuldade. E cada um tem de nascer dentro de uma Sociedade. Os Pais são parte da Sociedade, os Professores são parte da Sociedade, os Padres são parte da Sociedade.
valei

A Sociedade está em todo o sítio, em toda a tua volta. Parece que é realmente impossível — como é que se pode escapar? Como é que se encontra uma porta para voltarmos à Natureza? Estamos fechados por todos os lados.

O S H O 

Toda a humanidade foi castrada de maneiras diferentes

Toda a programação de nossa mente está errada. Nós fomos programados para sermos ambiciosos. E é aí que entra a política. Ela tem poluído a sua vida normal e não apenas o mundo habitual dos políticos.

Mesmo uma pequena criança já sabe sorrir para a mãe e para o pai com um sorriso falso, sem qualquer autenticidade. Ela sabe que sempre que sorri, ela é recompensada. Ela aprendeu a primeira regra para ser um político. Ela ainda está no berço e você já lhe ensinou política.

Nos relacionamentos humanos existe política em todo lugar.

O homem incapacitou a mulher. Isso é política.

Metade da humanidade é constituída por mulheres. O homem não tem direito algum de incapacitá-la, mas por séculos ele a tem incapacitado completamente. Ele não permitiu que ela tivesse acesso à educação. Ele não lhe permitiu sequer que ouvisse as escrituras sagradas. Em muitas religiões eles não permitiram que elas entrassem nos templos. Ou, se permitiram, elas tinham uma seção separada, elas não podiam ficar ao lado dos homens como iguais, mesmo perante Deus. (...)

O homem tem tentado de todas as maneiras cortar a liberdade da mulher.

Isto é política; isto não é amor.

Você ama uma mulher, mas não lhe dá liberdade. Que tipo de amor é este, que tem medo de dar liberdade?

Você a coloca numa gaiola como um papagaio. Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não entende que o está matando.Você tirou todo o céu do papagaio e deu-lhe apenas uma gaiola. A gaiola pode ser feita de ouro, mas ela nada significa ao ser comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de uma árvore a outra, cantando suas canções – não aquela que você forçou-o aprender a cantar, mas aquela que lhe é natural, que lhe é autêntica.

A mulher continua fazendo as coisas que o homem quer. Pouco a pouco, ela vai esquecendo que ela também é um ser humano.

Na China, por milhares de anos, o marido podia matar a esposa. Somente em 1951 uma nova lei surgiu proibindo isto. Até 1951 o marido estava autorizado, caso ele quisesse, matar sua esposa, era uma questão que dizia respeito a ele. Ela era a sua mulher, uma posse. O sistema de leis não tinha interesse algum em interferir nas suas posses. E, além disto, na China pensava-se que a mulher não tinha alma; somente o homem tinha.

É por isto que na história da China você não encontra uma única mulher com a importância de um Lao Tzu, Chuang Tzu, Lieh Tzu, Confúcio, Mencius. Se você não tem alma, você é apenas uma coisa, não consegue competir com o homem.

Metade da humanidade, em todos os países, em toda civilização, foi destruída pela política de família. Você pode não chamar isto de política, mas é política. Sempre que existe um desejo de ter poder sobre outras pessoas, isto é política. O poder é sempre político, mesmo quando se trata de pequenas crianças. Os pais pensam que as amam, mas apenas em suas mentes, porque o que eles querem são crianças obedientes. E o que significa obediência? Significa que todo o poder fica nas mãos dos pais.
Se a obediência é uma grande qualidade, por que os pais não devem ser obedientes para com os filhos? Se essa é uma questão religiosa, por que os pais não devem obedecer aos filhos? Mas isto nada tem a ver com religião. Tudo isto é política escondida atrás de belas palavras.

O homem precisa ser exposto em todos os pontos em que a política entra, e ela entra em todo lugar, em todos os relacionamentos. Ela contaminou toda a vida do homem e continua contaminando.
Em suas escolas vocês ensinam as crianças a serem os primeiros da sala. Por que? Você já pensou na psicologia disto? A pessoa que chega primeiro começa a se tornar um egoísta: ela é a primeira. E a pessoa que chega por último começa a se sentir inferior. Qual a necessidade de se fazer isto? Os exames deveriam simplesmente ser abolidos.

Não há necessidade alguma de exames. Os professores podem simplesmente dar notas todos os dias da mesma maneira como eles controlam a freqüência. Eles podem dar notas todos os dias a todas as crianças e no final aquele que demonstrar maior aproveitamento passa mais cedo para uma classe mais elevada.

Aquele que for um pouco mais preguiçoso, passará um pouco depois. Mas sem qualquer exame e sem a classificação de ‘primeira classe, segunda classe, terceira classe’. Isto se torna um estigma.

Se uma pessoa em todo o seu currículo escolar, no nível básico, médio e universidade, tiver sido sempre classificada como terceira classe, terá um reduzido senso de auto-respeito. O seu auto-respeito terá sido morto. Ela sabe que não tem valor. Todo mundo poderá exercer poder sobre ela.
Essa expressão ‘terceira classe’ tornou-se tão feia na Índia que se você perguntar a alguém, ‘com que classificação você passou?’ e se ele tiver passado como terceira classe, ele responderá, ‘classe Mahatma Gandhi’ porque Gandhi nunca obteve outra classificação. Ele sempre passou classificado como terceira classe e daí, por toda a sua vida ele viajava de trem de terceira classe. Assim, na Índia, ninguém fala que passou em terceira classe, mas na ‘classe Mahatma Ghandi’. É uma maneira de ocultar aquela classificação, de tapear a si mesmo.

É criada em você a ambição de que tem que ser alguém no mundo. Você tem que provar que não é uma pessoa comum, você é extraordinário. Mas, para que? A que propósito isto serve? Isto serve a um único propósito: se você se torna poderoso, os outros se tornam subservientes a você. Você é uma pessoa extraordinária. Eles são os pobres companheiros, eles são da classe Mahatma Ghandi. Eles, no máximo, conseguem ser balconistas e nada mais. Eles não têm coragem. Toda a humanidade foi castrada de maneiras diferentes, e esta castração é política."

O S H O 

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill