Pergunta: Que indução real existe em trazer alguém a fazer este esforço
de honestamente observar seu próprio pensamento e sentimento? O céu, o nirvana
ou a imortalidade poderiam considerados dignos de por eles se trabalhar; vós,
porém, aparentemente, não ofereceis nenhuma destas coisas. Na maioria, as
pessoas não gostam de ver-se tais quais são e, mesmo quando alcançam um
vislumbre acidental de si mesmas, apressam-se a esconder a feiura que viram.
Conhecer-se a si próprio é, sinceramente, um assunto desagradável e o
esquecimento uma real voluptuosidade neste mundo árduo e irrequieto. Porque
fazer, então, o espantoso esforço de defrontar-se com a realidade?
Krishnamurti: Para o
homem imerso em tristeza a indução não traz a felicidade. Somente desejais a
indução quando andais em busca de satisfação e contentamento. A verdade não é
nenhuma destas coisas. Facilmente vos satisfazeis quando não possuis esse
divino descontentamento e o haveis coberto de falsos valores. Portanto, para
vos libertardes da indução, sofrei e gozai grandemente, não vos afasteis da
vida e não a repilais. Para serdes livres, jamais deveis atordoar-vos com
incentivos.
Morre alguém a quem amais e, pelo
fato de sofrerdes intensamente, ficais momentaneamente satisfeitos com a ideia
de que essa pessoa continua a viver do outro lado da morte, que com ela vos
unireis no futuro. De momento, ficais narcotizados e adormecidos. Para a mente
que se apega à ideia da união, há sempre tristeza na morte por causa do
isolamento. O que tendes que defrontar não é a morte porém sim a vossa própria
solidão, a qual haveis cuidadosamente evitado. A morte é apenas o intenso
apercebimento dessa solidão, e dela não podeis escapar por meio de crenças e
consolações.
Krishnamuri, 14 de fevereiro de
1932, Oak Grove, Ojai