Pergunta: Qual o real objetivo e a necessidade de penosamente
edificarmos este sentimento de separatividade, de “eu-dade”, visto que, logo ao
focar bem firmado, precisamos começar a desfazê-lo?
Krishnamurti: Não existe para tal, necessidade
alguma, porém vós o fazeis. Vossa ideia de espiritualidade, de progresso, de consecução,
baseia-se na cobiça e por isso começais a adquirir qualidades, a fazer
distinções que criam a ideia do “teu” e do “meu”. Tendes vosso padrão especial,
vossos particulares desejos; vossa mente está limitada, cercada por barreiras
que são a resultante da sensação e da percepção. Assim, pois, mediante um
penoso processo de aquisição, criais um erro, a que chamais ego, e prosseguis
nesse erro durante muito tempo, até que conheçais, pela Vida, que é uma ilusão,
que em si ele não tem realidade alguma, e começais, então, não a despedaça-lo,
mas a fugir dele.
Dizeis que ides em busca da
Verdade, porém a Verdade está onde estiver o pensamento, não está longe do
pensamento e da emoção; está no próprio homem e somente podereis desfazer o ego
por meio do entendimento da causa dele. Precisais vos tornar apercebidos da
causa de vossas próprias criações, de vossas ilusões; pois, sem conhecimento da
causa, jamais vos podereis libertar do efeito. Karma não é senão eu-consciência incompleta. A verdadeira
libertação do karma é a verificação
da causa da tristeza e, quando estiverdes integralmente livres dessa causa,
estareis libertos de todos os efeitos.
Krishnamurti, perguntas e respostas em 6 de junho de 1932