Pergunta: Quando penso no Cristo, sinto um amor intenso em meu coração.
Quando me encontro em vossa presença, sinto-me mentalmente estimulado. Sei ser
esta também a experiência de outros. Como é que sentimos esta diferença se,
como dizeis, pensamento e amor são o mesmo?
Krishnamurti: Porque
dividis a Vida em pensamento e emoção. Se buscardes conforto, tê-lo-eis; se
buscardes estímulo, sereis estimulados. A plenitude da Vida não é nem conforto
nem estímulo, porém sim, a perfeita harmonia do pensamento e da emoção.
Quando vos dirijo a palavra,
sinto com intensidade. Pensamento e sentimento são, para mim, o mesmo, pois que
perdi de vista a distinção do que chamais pensamento e emoção. Para perderdes
esta distinção, necessitais em primeiro lugar, tornar-vos apercebidos disso em
vós próprios, precisais saber que pensais em separado de vosso sentimento; isto
é, necessitais ser plenamente autoconscientes. Nessa flama da autoconsciência
existe completa solidão, e, quando conhecerdes essa solidão, a qual é um
êxtase, então pensamento e sentimento começarão a perder sua distinção. Ainda
que reflitais, essa reflexão é um apercebimento emocional; embora sintais, é
isso um apercebimento mental. Então, o pensamento será, sempre, um
acautelamento.
O homem, em si mesmo, é Vida, e ele
não a pode encontrar por meio de outrem. Ele só pode realiza-la penetrando as
múltiplas camadas de sua autoconsciência. Toda a sequência e contemplação de
outrem é fora do natural. Necessitais penetrar vossa própria mente e coração
para realizardes a êxtase da Vida e não vos é possível, se em último turno,
escapar a esse esforço. Sempre há evasivas enquanto não estiverdes livres do
desejo, e ninguém dele vos pode livrar a não ser vós próprios, pelo vosso
próprio deleite, pela vossa própria busca. Quando todo o desejo houver cessado,
então sentir é pensar, não há distinção entre mente e coração. Há então, um
intenso apercebimento, uma concentração que perde toda a distinção. É a
concentração de uma flor. Esta concentração é infinita; porém, o que chamais
amor e pensamento está contaminado de resistência, cativeiro de mente e
coração, portanto, de corrupção.
Krishnamurti,
Acampamento de Ojai, 8 de junho de 1932