Pergunta: Ontem, falando de individualismo, dissestes que o homem pode
encontrar a Verdade, que está dentro dele próprio, somente pelo seu próprio
esforço. Se isto é a verdade, então, ninguém pode ajudar a outrem, no sentido
real do termo, e todos os esforços tendentes ao bem da raça são inúteis. Os
males do mundo, reais e terríveis, jamais podem, de acordo com o que dizeis,
ser remediados pelos esforços coletivos no sentido da reforma. Será verdadeiro
individualismo, quando estendemos a mão ao nosso próximo, o jamais nos
preocupar com a sua alma? Não verterá isto um sopro gelado sobre todos os
instrutores religiosos e todos os reformadores — incluindo vós próprio?
Krishnamurti: Se estais
procurando aquilo de que não podeis fazer ideia, então precisais de ficar
inteiramente sós. Somente por meio da alegria proveniente da solidão podeis
chegar à flor do entendimento. A Verdade, que é a própria Vida, acha-se em
todas as coisas. Ela está em vós próprios e somente podeis realiza-la, desembaraçando-vos
das camadas da eu-consciência. Ninguém pode efetuar isto por vós, a não ser vós
próprios. Só vós podeis saber se a vossa mente está alerta, se não é vagarosa.
Assim, pois, somente por intermédio da chama da vossa própria eu-consciência é
que podereis chegar à realização da Verdade. Isto não é individualismo. Estou falando
de coisa muito maior do que o individualismo, porém, para chegar a perceber o
valor supremo de tudo, tendes que ser individualidade consumada.
Ora, vosso pensamento é feito de
reações coletivas e individuais. Vossa determinação nasce da reação e, para
averiguar o que vós próprios pensais, tendes que conhecer a solidão, tendes que vos
tornar a vossa própria luz. Seguramente isto não quer dizer que vos deveis
tornar arrogantemente egoístas. Se entenderdes mal isto, é porque não tendes
acompanhado o que vos tenho estado a dizer. Precisais descarregar vossa mente
de toda a superstição, egoísmo, proveito, opiniões, e, então, conhecereis o
isolamento. Nessa alegria da solidão manifesta-se a realização da Verdade.
Precisais trabalhar
coletivamente, e pelo fato de o não haverdes feito até agora, existe o caos no
mundo, há esse rude, esse esmagador egoísmo em virtude do qual o homem se
insurge contra o homem. Precisais trabalhar coletivamente, porém não podeis
pensar coletivamente, porque não podeis realizar esse êxtase da Vida de que
falo, por intermédio de outrem. Por medo, haveis estabelecido salvadores,
mestres, professores e, desse modo, fechado a porta ao pensamento individual,
através do qual, somente, a Verdade se realiza. Havendo fechado a porta ao
pensamento individual, vós vos tornais rudemente individuais neste mundo de
ação. Espiritualmente, a mente se torna como um cordeiro; é, porém, no mundo
das ações, um terrível animal.
Ora, o que estou dizendo é que
deveis inverter esse processo. Deveis trabalhar juntos para o bem de todos,
porém deveis permanecer integralmente sós para descobrir a Verdade. Então
podereis, como diz o interrogante, destruir as religiões, destruir a minha
autoridade, essa mesma que estais criando. Estou vos relatando qual é o
processo da Vida, como deveis viver no êxtase da solidão e, no processo de sua
realização, ajudareis a destruir os falsos valores criados pelo desejo.
Krishnamurti, Acampamento de
Ojai, 3 de julho de 1932