Pergunta: Compreendo que haveis sido ajudado na direção da realização
da Verdade pela experiência da morte. Haveis dito que morte, amor e nascimento
são essencialmente os mesmos. Como podeis sustentar que não existe distinção
entre o choque e a tristeza da morte e a beatitude do amor? Poder-se-ia chegar
à realização da Verdade somente pela experiência do amor? Se assim fosse,
certamente haveria uma diferença na expressão dessa realização. É a tristeza um
caminho mais seguro para a realização da Verdade do que o caminho do amor?
Krishnamurti: Só existe
morte quando existe continuação da memória, e a memória nada mais é do que o
resultado do desejo, da querência. Para o homem liberto de desejo não existe
morte, nem começo, nem fim, nem caminho do amor, nem caminho da tristeza. Na
persecução de um oposto criais resistência. Se fordes temerosos, buscareis
coragem, porém, o medo vos perseguirá ainda, pois que somente estareis
escapando de um para o outro. Ao passo que, se vos libertardes da causa do
temor, que é o desejo, então não conhecereis, quer a coragem quer o temor; e
digo eu que a maneira de operar isto é tornar-se acautelado, vigilante, não buscar
alcançar coragem, porém libertar-se dos motivos na ação.
Se compreenderdes isto,
verificareis que o tempo, tomado como futuro e passado, terá cessado de existir
e que a tristeza da morte terá cedido ao presente sempre renovado. Quando
alguém a quem amais morre, sentis uma grande solidão e, colhidos por ela,
desejais assegurar-vos de que a vida continua do outro lado da morte, ou
buscais a união com o todo. Estas coisas mais não são que a persecução de um
oposto e, portanto, reservam-nos sempre a solidão. Ao passo que, no fazer face
à solidão e no descobrir a sua causa por meio da vigilância desperta,
liberta-se a mente da distinção em cujo processo a solidão é completamente
destruída. Todas as coisas têm que fenecer. A mente, porém, que estiver liberta
da distinção, da resistência e da causa correspondente que é o desejo,
conhecerá a imortalidade. Isto não é a perpetuação da individualidade, as
muitas camadas de pensamento e sentimento pessoal. A imortalidade é a harmonia
da percepção completa.
Krishnamurti,
Acampamento de Ojai, 8 de junho de 1932