Pensais por meio do raciocínio
alcançar a intuição. Pelo processo do raciocínio não podeis chegar à intuição.
O raciocínio baseia-se principalmente no centro do eu, por consequência não
liberta o pensamento, ao contrário, fortifica a consciência do eu. Ele conduz a
ilusões lógicas, porque esse centro do eu é criado por meio de falsos valores
do transitório. A intuição é sempre constante no homem e pode ser plenamente
realizada quando o centro do eu é completamente dissolvido. Então, em lugar de
fortificar o eu e por esse modo abafar a intuição, o raciocínio torna-se um
instrumento da intuição. Não se atinge a intuição por meio do raciocínio mas
pelo libertar a causa da limitação.
Se uma ideia achar resposta em
vós, se vos satisfizer, se vos consolar, vós a aceitais e lhe chamais intuição.
Tome por exemplo a ideia da reencarnação. Ouvis falar a respeito, e porque ela
vos afeta, a ela vos apegais pensando que é intuição. Por esse modo ela se
torna real para vós e baseais as vossas ações e vossa vida inteira sobre ela.
Para mim, este apelo que dá satisfação não é intuição. Nada mais é que atração.
É o prolongamento, pelo tempo, desse centro do eu, com mais oportunidades e
maior expansão. Esta “intuição” é pessoal, gratificante e vós a perseguis e
denominais lei da natureza ou plano divino. Por favor, não interpreteis isto
para significar que eu seja a favor ou contra a reencarnação. Falo da Verdade
que é isento de tempo.
Assim, por meio desta pretendida
intuição, dividis a vida em dois mundos, este e o outro, em consciência universal
e consciência individual, baseando o vosso raciocínio nesta suposta realidade.
A intuição nada tem que ver com o que é particular e não pode ser limitada para
o uso do indivíduo. No processo de libertar a eu-consciência, desenvolveis o
verdadeiro raciocínio que, então, se torna instrumento de intuição. O raciocínio
somente existe para expressar a intuição, não para realiza-la.
O amor não tem incentivos. Posto
que implicitamente seja a resultante do motivo, a ação não possui motivo se for
nascida do amor. Quando, porém, este amor está confinado pela individualidade,
então é necessário um incentivo para estimular a eu-consciência a fazer um esforço
em direção à Verdade, a qual se torna nada mais que a glória da
individualidade.
Enquanto existir o centro do eu
criais a consciência universal que nada mais é que uma divisão desse centro. A
eu-consciência cria a dualidade e, assim, tendes consciência individual e
cósmica, sendo ambas concepções falsas
que surgem dentro da limitação da individualidade. Daí manifesta-se uma
constante luta entre as duas partes do mesmo centro. A parte pessoal pergunta à
parte universal porque ela cria desgraça, injustiça e sofrimento? Daí provém uma especulação infindável quanto
ao de onde, como e para onde, que jamais pode ser respondida por partir de um
falso raciocínio. Somente quando o centro se dissolve, há paz e a beatitude do
entendimento. A ignorância existe enquanto há individualidade e da ignorância
nasce o caos. Assim, não pergunteis porque, porém libertai-vos da
eu-consciência e sabereis.
Krishnamurti, verão de 1931