Pergunta: Continuamente falais da Verdade, chegando, portanto, a
encarar naturalmente a sua realização como sendo a meta última do homem. Dizeis
que não podemos perceber a Verdade e que, portanto, não podemos tê-la como a
nossa meta. Em direção ao que, então, lutamos nós? Digo lutar, no vosso sentido, não no sentido de luta e
desejo de atingimento.
Krishnamurti:
Frequentemente tenho falado da Verdade tendo em vista transmitir a ideia de uma
infindável renovação, sem começo, nem fim. Nisto não pode haver uma meta, uma
finalidade, algo para ser atingido, buscado, tornando-se nada mais que um motivo
e tornando a vossa busca incompleta. Uma mente finita não pode perceber aquilo
que é infinito. Portanto, a vossa tentativa de verifica-lo, para alcança-lo, é fútil,
porque mais não pode ser que o perseguir de uma ideia e aquilo que como tal
conceberdes, não é a Verdade. Não tenteis imaginar o que seja, porém tornai-vos
tão apercebidos no presente, por meio da vigilância, que a mente fique livre da
limitação efetiva; pois a ação sem motivo é verdadeira percepção. Sereis capazes de perceber com justeza se a mente e o coração
estiverem despojados de todo o desejo. O verdadeiro lutar, é estar
agudamente vigilante, o penetrar as muitas camadas do desejo.
Desejais ser estimulado por uma
meta. Possuir uma meta, um motivo, nada mais é que aquisição, ao passo que a verdadeira ação é o despojar-se de todos os desejos.
Vós vos tendes deitado ao trabalho de adquirir virtude, haveis imaginado que
necessitais ser bons, que tendes de dar, que precisais partilhar — e o que
aconteceu? Haveis subido altitude após altitude, haveis progredido mentalmente,
e qual o resultado de todas as vossas conquistas, de vossos progressos, de
vosso atingimento? Poeira e confusão, perturbação ocasionada pelo desejo,
completa desgraça. A ação deve ser um contínuo desnudar, não uma série de
atingimentos, pois que aquilo que atingirdes, torna-se a vossa limitação. A
mente que é infinitamente plástica, que cede, é indestrutível. Ao passo que
esta espantosa ideia de expandir a consciência até que ela inclua tudo, nada
mais é do que a glorificação do egoísmo, o qual jamais pode entender a Verdade.
Esta Vida eterna não é um fim, porém sim um contínuo renovar e podeis
percebe-lo só quando a mente e o coração estiverem
completamente desprovidos da ideia do “eu” e sua glorificação, que nada
mais é que um sutil engano do desejo.
Krishnamurti,
Acampamento de Ojai, 7 de junho de 1932