Pergunta: Krishnaji, vós haveis atingido aquilo que denominais
libertação. É isto, agora, para vós, a morte?
Krishnamurti: Eu desejara varrer de vossa mente todas as palavras de que me
tenho servido; porém, não posso e vou tentar explicar-vos novamente.
Tendes que morrer todos os dias, não deveis dar alimento à recordação emocional
dos incidentes passados, para que a vossa mente esteja sempre alerta e
plástica.
A libertação não é uma
consecução. Usei dessa palavra e não a contradigo; não digo que não realizei
aquilo que é infinito, eterno, porém estou agora me esforçando por vos explicar
de maneira deferente. Vós pensais acerca da Verdade como sendo uma finalidade,
como sendo algo de estático, de concluso. Porém, eu vos asseguro que não é
assim. Ao contrário, aquilo que está sempre vivo, não pode ser final. O fato é
que uma mente colhida pela rede do desejo não pode compreender o infinito, não
pode compreender aquilo que não tem nem começo nem fim, que não é profundo nem
raso, e pensais por isso da Verdade como uma finalidade, como sendo uma
conclusão. Vós lhe atribuis certas qualidades e dizeis ser algo que tem de ser
alcançado. A mente que se força a si própria na direção de uma ideia, tentando moldar
a si própria em conformidade a uma imagem, jamais poderá compreender a Verdade.
A mente que não é escrava de ideias conhecerá a vivida joia da harmonia; a
mente que, porém, está limitada pelas ideias, cria resistências e é daí que
provém a desarmonia. Portanto, toda a vossa vida nada mais é do que uma luta
incessante de ajustamento, no sentido de atingir uma coisa irreal, de chegar a
uma conclusão, a uma ideia que haveis concebido como sendo a Verdade.
Quando defrontais uma crise,
pondes de lado todas as ideias e vos concentrais sem esforço, pelo fato de
terdes a mente centralizada num ponto e vos achardes intensamente preocupados.
Vossa busca é a resultante penosa da necessidade, na qual não há alegria.
Aquilo que sois forçados a fazer por meio do sofrimento, poderá ser feito
naturalmente, graciosamente. Neste esforço inteligente sobrevém o êxtase da
Verdade.
Krishnamurti, Acampamento de
Ojai, 4 de junho de 1932