Pergunta: Não existirá o nervosismo em virtude da falta de domínio da
mente? Podereis nos fornecer algumas indicações de como controlar a mente afim
de ser capaz de dominar os nervos?
Krishnamurti: O domínio da mente vem quando há
suficiente interesse, o êxtase do entendimento. Quando estiverdes interessados,
sereis capazes de vos concentrar. Portanto, tendes primeiro que verificar se
estais interessados pela compreensão da Vida, pela compreensão de cada
experiência, e daí provirá um natural, um gracioso domínio e fácil
contemplatividade. Ao passo que, sem exercerdes a determinação, a vontade, para
dominar a mente, isso nada mais será que um exagero de opostos e daí provirá a
expansão da eu-consciência. Observai a vós próprios no persecução do prazer.
Não fazeis um esforço especial para vos concentrar, ides na direção dele. Vossa
mente está continuamente antecipando-o, pensando a respeito, consumando-se a si
mesma repetidamente no pensamento. Isto não exige domínio porque estais
interessados. Portanto, em primeiro lugar, averiguai
na vida o que é que realmente vos interessa.
Quando vosso desejo estiver
dividido em si mesmo, então exerceis vossa vontade para dominá-lo; se, porém,
vosso desejo estiver em persecução não divisa daquilo que deseja, então não há
conflito e nenhum esforço para domínio é necessário. Conheço muitas pessoas que
dominaram suas mentes, que meditaram durante anos. Isto é, aprenderam a
suprimir a si mesmas, expeliram de suas mentes todos os pensamentos em conflito
e apegaram-se a uma ideia. Para mim, não se trata de expelir os pensamentos para fora da mente porém antes do entendimento de toda a experiência pelo
ter a mente alerta. A verdadeira concentração é compreender o pleno
significado de cada experiência, de cada pensamento e sentimento.
Então vossa mente estará desperta e será plástica.
Pergunta: Haveis com frequência falado da completude dentro de vós
próprios. A primeira vista isto parece trabalhar no sentido de uma separação
maior. Podeis nos explicar isto um pouco melhor?
Krishnamurti: Unicamente
tornando-vos apercebidos da causa da separação, que é eu-consciência, é que
realizareis a completude. Quando estais aprisionados na limitação do pensamento
e emoção, sois conscientes da separatividade. A chama da plena eu-consciência
vem quando percebemos a causa da eu-consciência, a qual brota dos sentidos, dos
pensamentos e ideias. Enquanto a eu-consciência, a “eu-dade” existir, não
haverá a plena, a permanente realização da completude, que somente pode ser
realizada por meio da dissolução do ego.
Krishnamurti, reunião de verão em Ommen, 1931