Pergunta: Se nada existe para além do homem nem fora dele, que é que
nele faz desenvolver-se o intenso cultuar? Se o homem não se reunir aos seus
semelhantes para um ato de adoração em conjunto, que haverá para estimular ou
determinar um foco que sirva de expressão à unidade e à fraternidade?
Krishnamurti: Quando
cultuais, quando vos apegais a outrem fora de vós, isto conduz à ignorância. O
adorar a outrem não conduz à fraternidade, pois que a própria ideia de outrem
nada mais é que divisão. Somente quando compreendeis que tendes de confiar
inteiramente em vós próprios, que pelo vosso próprio esforço tendes de realizar
a completude, é que podeis criar o verdadeiro significado para a fraternidade.
Então, abolireis as divisões de religiões, de crenças, de dogmas, de sociedades
e instituições. Como diz o inquiridor, ele deseja ser estimulado afim de ser
fraternal. Uma tal fraternidade é falsa. Retirai o estímulo e permanecereis
cruéis e egoístas; isto é, retornais aos vossos desejos naturais. Pelo medo,
pela pressão externa, disciplinais a vós próprios; e, quando removeis esse
medo, esse controle exterior, continuais rudes e cruéis e toda a vossa
disciplina resulta sem valor. Esta espécie de disciplina não cria a
fraternidade; ao contrário, cria a hipocrisia, a divisão, o institucionalismo.
Porém, a disciplina animada pelo desejo interno de compreender a experiência,
de a vós próprios ajustar, conduz ao verdadeiro entendimento, à tolerância. Não
é pela força externa que a fraternidade se realiza.
Krishnamurti, reunião de verão em Ommen, 1931