Presentemente estais colhidos
dentro de muros de uma prisão por vós mesmos confeccionadas e buscais auxílio
no exterior; porém ninguém vos pode ajudar, ninguém, a não ser vós próprios,
pode derrubar as paredes que vos fecham. Prisioneiros da ânsia e do desejo,
perpetuamente vos preocupais com o que seja a verdade, Deus ou a luz. Só
podereis saber isto quando estiverdes fora da prisão. No entanto, em vossa
intensidade de sofrimento, não despedaçais as paredes que vós próprios haveis
criado, permaneceis na prisão e esforçai-vos por imaginar a natureza da
liberdade. Por esse modo, apenas trazeis uma ideia para a vossa prisão, e não
rompeis as paredes. É somente derrubando as ilusões criadas por meio do desejo,
da ânsia, que libertais a mente da ideia das distinções, de modo a não mais
haver luta.
Portanto, eu vos digo, não
presumais coisa alguma. Não luteis para imaginar o que seja uma vida perfeita
ou o que deva ser a verdade, porém tornai-vos apercebidos do fato de serdes o
criador de vossa própria prisão. No fazer frente a este fato, no reconhecer que
esta limitação vem do vosso próprio anseio de acumular haveres ou conhecimento,
começais a derrubar a prisão que vos encerra. Onde houver anseio tem que haver
luta para consecução e a consecução sempre fenece em vossa mão; pois que, no
próprio momento do preenchimento, ela já perdeu seu significado e é deixado de
lado. Por esse modo continua uma incessante luta.
Portanto, afim de poderdes
compreender verdadeiramente esta luta constante, seu significado e dela
libertar-vos, tornai-vos conscientes de que sois prisioneiros e então, como
indivíduos que sois, pulareis fora da prisão que é esta pretensa civilização
baseada no egoísmo, esta estrutura monstruosa que foi erguida através dos
séculos.
É somente tornando-vos
apercebidos de que sois vós próprios os únicos criadores das paredes da prisão
que vos encerra e tornando-vos plenamente conscientes de vossas ações, que são
o resultado de vossos pensamentos e sentimentos, que podeis destruir a prisão.
Quando a mente está livre e não mais se encontra limitada por ideias pessoais
ou pela limitação do afeto pessoal, advém a harmonia, a quietude da intensidade
viva. Somente então conhecereis aquilo que é eterno. Portanto, não busqueis o
eterno, porém tornai-vos apercebidos no presente quanto a causa do sofrimento,
e, nessa chama de apercebimento, conhecereis a liberdade da harmonia, que é
verdade.
Krishnamurti, palestra pelo rádio em 1932