O controle é uma obsessão da
consciência quando se identifica. A identificação com o corpo faz a consciência
sentir-se vulnerável. Ela sabe que o corpo não é permanente, que ele pode se
ferir e está sujeito à dor, à doença e ao envelhecimento; portanto, ao se
identificar com o corpo, a consciência também sente que ela pode se ferir ou
morrer. Além do mais, quando a consciência se identifica com a mente, parece
ocorrer uma transferência de responsabilidade. Tudo aquilo de que naturalmente
a consciência toma conta, por exemplo, o bem-estar do corpo, conforto, ações e
situações, agora parece ser obrigação exclusiva da mente limitada. É assim que
a consciência acaba vivenciando culpa, vergonha, remorso e ansiedade. Ela se
preocupa em não se equivocar, teme fazer uma escolha ruim ou perder algo que
apazigue essa constante e subjacente ansiedade em torno de sua vulnerabilidade,
ou cria fantasias sobre algo que a aliviará. A percepção da vida da mente gira
ao redor da batalha contra esses fatores corporais e, enquanto a consciência estiver
identificada, ela também parecerá imersa nessa luta.
Você, a consciência, precisa
desse corpo para continuar a provar e experimentar, mas não é necessário se
identificar com ele. Sem identificação, o corpo continuará aí e essa obsessão
pelo controle sumirá. O corpo é totalmente inocente em tudo isso. Por decreto
divino, ele está fazendo o seu trabalho. O corpo não sabe que é você. Algo de
lá dentro está constantemente sustentando o corpo como “eu” dando um nome a
ele.
A mente precisa ter algo para
ameaçar você e mantê-lo refém. Deve haver algo que você queira ou não queira
para que a mente consiga que você ouça seus falsos alertas, como: “Se eu não
fizer isso, algo desagradável vai acontecer”. Na maioria das vezes trata-se do
medo da mudança, porque a mente imagina que o que não conhece ou não projetou
será negativo. Haverá um tipo de perda ou uma renúncia ou um retrocesso. E isso
poderá levar à aniquilação, coisa que a mente passa todo o tempo tentando
evitar.
Seja ousado com a vida, diga: “Está
certo, me transforme em um mendigo de rua se é o que deseja, mas serei um mendigo
livre”. E então você verá de onde vem o temor. Você consegue fazer isso? Outros
já o fizeram e descobriram que, ao serem encarados, seus temores não passam de
fantasmas que evaporam na luz de sua coragem e disposição em ver
verdadeiramente.
O medo sempre é maior que a
realidade. O medo aparece por causa da falta de confiança. Você acha que pode
tomar conta de si melhor do que Deus pode. Teme que o que Deus tenha planejado
para você não seja exatamente o que você quer. Provavelmente isso é verdade,
porque os sonhos que abrigamos se limitam ao que sabemos da vida e de nós
próprios, o que é infinitesimal se comparado à vastidão do que É. Quando nos
desprendemos daquilo que achamos que nos fará felizes, deixamos a graça divina
respirar, e coisas formidáveis e belas, sequer
imaginadas, têm espaço para acontecer.
Ainda assim, essa aparente
necessidade de controlar, o medo de perder o controle e o suposto transcender o
medo também são a consciência agindo, porque não há indivíduo fora dessa consciência para decidir
ou agir contrariamente ao desejo permissivo da consciência. Tudo é consciência.
Os seres humanos e sua atividade são um efeito e não a causa da consciência.
Pondere sobre isso. Podem os personagens no primeiro capítulo de um livro
determinar como deverá ser o segundo capítulo? Eles podem obrigar o autor a
mudar situações e personagens que não são de seu agrado ou impedir que o
próximo capítulo aconteça?
Para alguns, enxergar através da
ilusão de controle é uma ideia profundamente repressiva, enquanto, para outros,
ela é totalmente libertadora. A consciência não está torcendo seu braço. Você
está convidado a ver.
Mooji
Mooji